III Congresso Consad de Gestão Pública
PROGRAMA SELO: UMA ESTRATÉGIA DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA CONSOLIDAR
ALIANÇAS INTERSETORIAIS
Flávia Miranda
Giovani Souza Guedes
Ronan Ramos de Oliveira Júnior
Painel 29/113
A governança social e a intersetorialidade: formação de redes em torno de
políticas públicas
PROGRAMA SELO: UMA ESTRATÉGIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA
CONSOLIDAR ALIANÇAS INTERSETORIAIS
Flávia Miranda
Giovani Souza Guedes
Ronan Ramos de Oliveira Júnior
RESUMO
Neste artigo o leitor será apresentado ao Programa Selo de Responsabilidade
Empresarial, uma iniciativa do governo de Minas que identifica e reconhece
iniciativas empresariais que contribuem para o desenvolvimento das regiões norte e
nordeste do estado. O texto se divide em noções sobre o tema da Responsabilidade
Social Empresarial (RSE); atualidade das alianças intersetoriais; descrição das
ações desenvolvidas no Programa Selo de Responsabilidade Empresarial;
demonstração de alguns números do Programa Selo; apontamentos finais e
referências bibliográficas. Deste modo, passa-se a expor as ideias fundamentais
contidas em cada parte do artigo. A partir da confrontação de diversos conceitos
sobre Responsabilidade Social Empresarial, o artigo aponta um parâmetro
conceitual sobre o tema e traça o paralelo existente com os objetivos do programa
governamental. Um dos escopos do Programa Selo de Responsabilidade
Empresarial e do referido artigo é alinhar ações advindas da seara “RSE” com a
própria missão do governo. Essa estratégia se faz pertinente porque a colaboração
intersetorial deixa de ser uma opção para se tornar uma real necessidade de ganho
de eficiência no desenvolvimento econômico, na atualidade. O Estado conquista
aliados (as empresas) na execução de ações comprometidas com a sustentabilidade
e comunidades, enquanto as empresas são diferenciadas de forma positiva, pelo
próprio governo, ao realizar ações de valorização de seus públicos interno e externo.
A sociedade civil, por outro lado, também participa do Programa, pois tem a
oportunidade de sugerir, criticar, elogiar e acompanhar as ações empresariais por
meio da página eletrônica do Programa Selo que, além de expor as iniciativas de
RSE das empresas participantes, também prevê um canal público aberto a todo tipo
de discussão sobre as iniciativas e as empresas. Acerca da noção de
intersetorialidade, insta afirmar que, além da proposta do Programa Selo se voltar a
este princípio, agregando e convergindo esforços dos 1o, 2o e 3o setores, as
iniciativas de responsabilidade empresarial das empresas participantes denotam a
assimilação da ideia, pois elas passam a envolver o governo e as organizações da
sociedade civil na execução de suas iniciativas, além de iniciarem a formação de
uma cultura organizacional mais preocupada com as questões relacionadas ao tema
da responsabilidade social. Ao agregar o conceito de Responsabilidade Social
Empresarial (RSE) e intersetorialidade, formaram-se os elementos necessários para
a formulação do Programa em questão. A Secretaria (Sedvan) age para reverter o
quadro de baixos índices econômicos regionais por meio de uma série de ações,
sendo uma delas o Programa Selo de Responsabilidade Empresarial. Entre outros
programas desenvolvidos pela Sedvan e pelo Instituto de Desenvolvimento do Norte
e Nordeste de Minas (Idene – instância executiva da Secretaria Extraordinária de
Estado) destacam-se: Turismo Solidário; Cidadão Nota Dez; Sorriso no Campo;
Projeto de Combate à Pobreza Rural e Cisternas no semiárido mineiro. Ressalta-se
que todas as empresas que tenham atuação no norte e/ou nordeste de Minas Gerais
podem se inscrever no Programa Selo. Na primeira edição, 50 empresas foram
convidadas a participar. A segunda e demais edições, diferentemente da 1a, contam
com a publicação de editais abordando as diretrizes e critérios estabelecidos para a
participação das empresas interessadas. A primeira etapa do Programa se configura
com o recebimento, pela equipe gestora do Selo, dos termos de adesão assinados
pelas empresas. Resumo da 1a etapa – a equipe do Programa: (1) divulga o edital;
(2) recebe, por meio eletrônico, as fichas de inscrição preenchidas; (3) tira dúvidas e
esclarece os critérios, o objetivo e o procedimento do Programa; (4) recebe o termo
de adesão das empresas – documento que confirma o comprometimento da
empresa em participar do Programa. Feita a adesão, inicia-se o período de inscrição
das iniciativas (segunda etapa). Cada participante deve enviar à equipe gestora do
Programa o planejamento das ações a serem desenvolvidas e/ou destacar as já
existentes. A empresa deve evidenciar práticas que contemplem os cinco eixos do
Programa. São eles: (I) Investir nas regiões norte e/ou nordeste de MG ou ampliar
as operações nesta área; (II) Realizar ações para a melhoria da qualidade de vida e
o desenvolvimento da região envolvendo seus habitantes, funcionários da empresa,
sindicatos afins, fornecedores, clientes, empresas terceirizadas ou organizações da
sociedade civil; (III) Incentivar a formação escolar ou profissional de seus
funcionários; (IV) Apoiar os micronegócios regionais, dando prioridade à contratação
de serviços e produtos locais e (V) Preservar o meio ambiente. O desenvolvimento
das iniciativas é a terceira etapa do Programa. Durante esse período, a equipe
gestora do Programa visita as empresas e recebe relatórios mensais das empresas
em relação ao andamento das ações de RSE. A quarta etapa se concretiza com a
realização de uma oficina para troca de experiências empresariais no âmbito da
responsabilidade social. Esse evento é denominado workshop e conta com uma
palestra (no primeiro evento, a profa. Carmem Migueles, da Fundação Dom Cabral,
discorreu sobre o tema da responsabilidade social e fez uma interessante retomada
histórica e evolução das práticas de RSE) e um trabalho em grupo. A última etapa
do Programa é a concessão do uso do Selo para as empresas que cumprirem os
requisitos. São eles: estar em situação fiscal regular; respeitar a legislação
ambiental; seguir as normas trabalhistas; atender as normas dos órgãos
fiscalizadores competentes; desenvolver ações conforme os cinco eixos elencados
acima (I a V) e enviar relatórios mensais, que, após analisados, são publicados no
site do programa de modo a dar visibilidade ao público em geral. Cumprido os
requisitos e realizada a cerimônia, a empresa recebe um manual de uso da marca
(Selo) e passa a utilizá-la em seus produtos, campanhas de mídia etc. Durante os
dois anos de validade do Selo a empresa deve se comprometer a enviar
mensalmente os relatórios sobre o desenvolvimento das iniciativas. A equipe gestora
do Programa se reserva o direito de suspender ou cancelar o uso do Selo no caso
de alguma empresa atuar em desconformidade com as diretrizes do Programa. Em
relação aos números do Programa Selo (1a edição), pode-se dizer que em 2009
aproximadamente 69 mil pessoas foram impactadas/beneficiadas pelas ações
desenvolvidas pelas empresas participantes – em conformidade com os eixos do
Programa e de acordo com os relatórios enviados e publicados no site
(www.projetoigs.org.br/selo). Percebe-se que em um ano de duração do Programa
há um evidente movimento institucional das empresas participantes no sentido de
fazer valer e tornar permanente, imiscuindo na cultura organizacional suas ações de
RSE. Progressivamente as iniciativas deixam de ser encaradas de forma isolada e
passam a integrar um modo de gestão das empresas. Tendo em vista que o
Programa é uma ação governamental, forçosa é a demonstração do atendimento
aos vários âmbitos destacados pelo governo como sendo estratégicos para o melhor
desenvolvimento regional (os cinco eixos do Programa). Vale destacar que os
objetivos do Programa de difundir o conceito e a prática da responsabilidade social
empresarial vêm sendo cumpridos. As referências utilizadas no artigo são uma
mostra de um extenso campo do saber, que, de certa maneira, foram adaptadas
para atender a exigência de uma aliança intersetorial liderada pelo primeiro setor,
transformando o termo RSE apenas em Responsabilidade Empresarial, de modo a
diferenciar a liberdade existente na vasta área já estabelecida e voluntária da RSE,
dos necessários requisitos elencados como sendo o elo dessa aliança intersetorial.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 05
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL: UM CONCEITO
EM CONSTRUÇÃO................................................................................................... 06
ALIANÇAS INTERSETORIAIS.................................................................................. 09
O PROGRAMA SELO DE RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL.......................... 10
METODOLOGIA, OBJETIVOS E DESCRIÇÃO DAS AÇÕES REALIZADAS........... 11
APONTAMENTOS FINAIS........................................................................................ 23
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 25
5
INTRODUÇÃO
A responsabilidade social empresarial (RSE) é um tema bastante
discutido na contemporaneidade. No Brasil, o debate e as práticas de RSE
ganharam contornos mais nítidos a partir da década de 1980, período no qual
estudiosos do assunto e empresários começaram a perceber que o papel das
organizações poderia ir além da disponibilização de produtos e serviços no mercado
e contribuir para o estabelecimento e fortalecimento de vínculos com a comunidade.
O Governo do Estado de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado
Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do
Norte de Minas (Sedvan), percebeu que a responsabilidade social empresarial
poderia ser uma interessante maneira de estimular o crescimento das regiões norte
e nordeste do estado, historicamente conhecidas como as que apresentam índices
de desenvolvimento socioeconômico menores em comparação com outras áreas
mineiras. Por isso, criou o Programa Selo de Responsabilidade Empresarial, objeto
deste artigo. Além de estimular a RSE, a iniciativa destaca as relações intersetoriais,
uma vez que articula governo (1o setor), empresas (2o setor) e sociedade civil
organizada (3o setor), representada pela Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público (Oscip) Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (CeMAIS),
responsável pela execução do Programa, além da sociedade em geral, que participa
e acompanha o desenvolvimento das ações pelos vários canais de comunicação
disponibilizados pelo Programa.
O objetivo deste artigo é relatar a experiência do primeiro ano do
Programa Selo de Responsabilidade Empresarial, articulando-o aos conceitos de
responsabilidade social empresarial (RSE) e intersetorialidade.
6
RESPONSABILIDADE
CONSTRUÇÃO
SOCIAL
EMPRESARIAL:
UM
CONCEITO
EM
Obrigação legal, ação de caridade, marketing, comprometimento com a
comunidade. São variados os significados assumidos pelo termo responsabilidade
social empresarial (RSE), bastante debatido nas duas últimas décadas no Brasil,
período em que ganhou notoriedade e atenção por parte de pesquisadores e
empresas. De acordo com Melo Netto e Brennand (2004), o conceito começou a ser
discutido nos Estados Unidos e na Europa no princípio dos anos 1960. No Brasil, a
noção remonta o fim da década de 1970 e início de 1980 e, segundo Ferrel,
Fraederich & Ferrel (2000), é classificada em quatro tipos:
1) Responsabilidade econômica: se relaciona à produção de bens e
serviços dos quais a sociedade precisa, comercializando-os a um preço
que garanta sua manutenção no mercado e a satisfação da expectativa
dos investidores;
2) Responsabilidade legal: significa cumprir as leis concernentes ao
funcionamento do negócio;
3) Responsabilidade filantrópica: ações realizadas pela empresa que
coincidem com o que a sociedade espera de seu comportamento;
4) Responsabilidade ética: se configura como o conjunto de valores que
orienta a conduta da empresa em relação a outros atores sociais
Para o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, criado em
São Paulo em 1995, o termo é tratado como sendo
a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa
com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento
de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da
sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações
futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das
desigualdades sociais. (INSTITUTO ETHOS, s/d)
A concepção de RSE do Instituto se alinha à de Ferrel, Fraederich &
Ferrel na medida em que cita como elemento importante as relações éticas.
Contudo, a ideia se distancia dos tipos propostos pelos autores citados, uma vez
que não são mencionados os aspectos legal, econômico e filantrópico. O Instituto
Ethos destaca a relevância da relação das empresas com os públicos e o caráter de
preservação ambiental e cultural das ações desenvolvidas pelas empresas além da
7
manutenção do negócio. Essa noção de RSE propõe, ainda, que haja um
engajamento da empresa na comunidade, visto que estimula a participação na
minimização de assimetrias sociais.
Assim como o Instituto Ethos, a responsabilidade social empresarial é
entendida por muitos autores como articulada à relação das instituições com seus
públicos interno e externo. Para Melo Neto e Fróes (2001, apud Melo Neto e
Brennand, 2004), a valorização do público interno (funcionários e seus dependentes)
tem o objetivo de estimulá-lo a aumentar seu desempenho e construir um ambiente
de trabalho agradável e que possibilite o bem-estar. A relação com o público
externo, por sua vez, intenciona desenvolver ações que colaborem para modificar a
comunidade na qual a empresa se insere. Ressalta-se que a participação dos
públicos de interesse na discussão dos aspectos organizacionais, políticas e
diretrizes empresariais condiz com os princípios da RSE. Esse tipo de
relacionamento pode gerar reconhecimento da instituição pela sociedade e aumento
de credibilidade, visto que conota comprometimento e ampliação do papel da
instituição no entorno.
Na perspectiva de Melo Neto e Brennand (2004), considerar apenas os
projetos sociais das empresas é limitar o conceito de RSE. É importante que a
instituição tenha ações orientadas para a comunidade, mas também é necessário
desenvolver ações junto aos investidores, fornecedores e governo, de maneira a se
aproximar daqueles que se relacionam com o cotidiano de funcionamento da
organização. “Responsabilidade social é uma atitude empresarial que se reflete na
prática de gestão socialmente responsável e na adoção de um modelo de gestão
social” (MELO NETO; BRENNAND, 2004: 11). Dessa maneira, os investimentos da
organização para melhoria de suas relações com os públicos interno e externo não
se tratam de uma resolução repentina e instantânea, mas uma ação que passa
pelos valores, pela cultura da instituição.
Os
autores
marcam
também
a
diferença
entre
iniciativas
sem
periodicidade e RSE:
Empresas que desenvolvem ações sociais esporádicas, sem nenhum foco e
cujas ações são simplesmente filantrópicas ou assistencialistas, não são
“socialmente responsáveis”. Quando muito podemos denominá-las de
“empresas com vocação para o social” (MELO NETO; BRENNAND, 2004: 13)
8
A distinção é realizada porque a concepção tradicional do que seria
responsabilidade das empresas se limita a reconhecer que o compromisso dessas
instituições é gerar emprego e dinamizar a economia da região onde estão inseridas.
Assim, ações além desse caráter são realizadas apenas se há tempo para pensar
nelas e, geralmente, seguem uma orientação não- periódica e de cunho
assistencialista.
Para Borger (2007), nas ações de responsabilidade social empresarial
Devem ser consideradas as conseqüências das relações com clientes e
fornecedores, da produção com qualidade e de sua adequação à satisfação
dos usuários, as contribuições para o desenvolvimento da comunidade, os
investimentos em pesquisa tecnológica, a conservação do meio ambiente
mediante intervenções não-predatórias, a participação dos trabalhadores
nos resultados e nas decisões das empresas, o respeito ao direito dos
cidadãos, a não-discriminação de gêneros, raças, idades, etnias, religiões,
ocupações e preferências sexuais, e o investimento em segurança do
trabalho e no desenvolvimento profissional (BORGER, 2007: 200)
As práticas de RSE podem contribuir para o fortalecimento das regiões
onde as ações são desenvolvidas, uma vez que intensificam o trabalho colaborativo
entre empresas, comunidade e, no caso da experiência do Programa Selo de
Responsabilidade Empresarial, o governo e o terceiro setor também se configuram
como elementos importantes nessa relação. Dessa forma, as ações de engajamento
e valorização dos públicos interno e externo por parte das empresas contribuem
para a formação de alianças inter ou trissetoriais em Minas Gerais.
9
ALIANÇAS INTERSETORIAIS
As relações entre Estado, sociedade civil e iniciativa privada passam por
contínuas remodelações, considerando-se que os padrões de interação se
diferenciam conforme o período sócio-histórico. De acordo com Teodósio (2009),
“No passado, as dinâmicas de relacionamento entre atores do Estado, movimentos
sociais e corporações caracterizava-se pela dominância de uma lógica de embate,
conflito, controle recíproco e busca de responsabilização pelos problemas sociais”
(TEODÓSIO, 2009: 23). Embora ainda haja conflito nas relações (visto que ele é
importante para indicar onde e como é necessário investir tempo e recursos),
atualmente, estudiosos e gestores públicos identificam que existe uma forma de
relação entre governo e sociedade que não se circunscreve a criar e ditar maneiras
de agir e participar, mas pressupõe um maior grau de colaboração entre os atores
sociais. Essa maneira de agir é conhecida como intersetorialidade ou parcerias
trissetoriais, que convocam uma atuação mais articulada entre poder público,
empresas e sociedade civil, especialmente na implementação de programas e
projetos sociais.
Não é o foco de interesse discorrer longamente a respeito de modelos de
Estado e as diferentes conotações que o termo intersetorialidade ou parcerias
trissetoriais assume. A intenção é evidenciar o investimento do Governo de Minas
Gerais na construção de alianças entre os 1o, 2o e 3o setores, de maneira a tornar
possíveis e viáveis alguns de seus projetos e programas sociais. O Programa Selo
de Responsabilidade Empresarial é uma forma de articular os setores e tentar
contribuir para o desenvolvimento socioeconômico das regiões norte e nordeste de
Minas. Essa proposta se configurou porque o Executivo mineiro acredita que as
empresas e atores da sociedade civil organizada podem contribuir para modificar as
comunidades, a médio e longo prazo.
A participação das empresas na melhoria dos índices das áreas de
atuação da Secretaria de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales
do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas (Sedvan) foi concretizada pela
criação do Programa Selo de Responsabilidade Empresarial.
10
O PROGRAMA SELO DE RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL
O Programa Selo de Reponsabilidade Empresarial foi criado pelo sistema
Sedvan/Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas (Idene). Para
sua execução, foi assinado um termo de convênio com o Centro Mineiro de Alianças
Intersetoriais (CeMAIS), que começou a delimitar como seria o Programa em
dezembro de 2008.
11
METODOLOGIA, OBJETIVOS E DESCRIÇÃO DAS AÇÕES REALIZADAS
A metodologia foi desenvolvida pelo Instituto Publix, de Brasília, e
adaptada para o contexto das regiões norte e nordeste de Minas pela equipe do
Programa no CeMAIS. O conjunto de métodos adotados pela equipe do Programa
para desenvolver as ações do Selo pode ser mais facilmente entendido se analisado
conforme as cinco grandes etapas do Programa:
I – Adesão das empresas ao Programa Selo. A divulgação da primeira
edição do Selo foi restrita e teve como ponto de partida as empresas que
mantinham, de alguma forma, relacionamento com o sistema Sedvan/Idene. Por
exemplo, diversos laticínios que participavam do Programa Leite pela Vida,
desenvolvido pelo sistema, foram convidados a participar.
II – Inscrição das iniciativas de RSE na página eletrônica do Programa.
Após o contato com as empresas e a confirmação da adesão ao Programa, iniciouse o período de descrição das iniciativas. Nessa etapa, as empresas divulgaram
aquelas ações que desenvolviam ou iriam começar a executar para atender os
requisitos de concessão do Selo.
III – Desenvolvimento das iniciativas. Durante o ano de 2009 aquelas
empresas que tinham prática de gestão socialmente responsável mantiveram as
ações e destacaram as iniciativas, de modo a serem analisadas pela equipe do
Programa. As empresas que ainda não tinham a RSE como referência, começaram
a desenvolver iniciativas e a evidenciar essas práticas. As empresas participantes
foram visitadas pela equipe do Programa e, mensalmente, enviavam relatórios para
o suporte e acompanhamento da equipe, que fazia adequações, prestava
orientações e publicava os relatos no site.
IV – Workshop para troca de experiências em responsabilidade
empresarial entre os participantes. Acredita-se que o intercâmbio de práticas de
gestão, projetos e ações referentes ao universo de RSE pode ser intensificado por
meio do diálogo entre os empresários, que compartilham as dificuldades
burocráticas de implementação de ideias inovadoras, descobrem procedimentos
sem custo, voluntários, alguns que se tornam investimentos estratégicos etc. Assim,
o evento de workshop configura-se como um espaço-momento de construção e
compartilhamento de saber. De modo a agregar e nortear possibilidades aproveita-
12
se a ocasião para a apresentação de palestras temáticas, com estudiosos e
pesquisadores do tema.
V – Concessão do uso do Selo
Antes de adentrar no detalhamento da fase de concessão do Selo,
forçoso é destacar os meios de comunicação disponibilizados pelo Programa:
telefone, carta, mensagem eletrônica, contato pessoal da equipe do Programa Selo
nos municípios-sede das empresas participantes. Por meio desses canais de
comunicação a equipe gestora do Selo mantém contato com as empresas, com o
governo, com os funcionários das empresas, clientes e pessoas interessadas. A
estratégia adotada permite certo “controle social” antes da concessão do Selo e
também após essa ocasião.
Durante todo o Programa as iniciativas empresariais são publicadas no
site, sujeitas ao crivo de qualquer pessoa. Assim, permite-se o conhecimento público
das ações que serão premiadas. Há também a oportunidade da manifestação
contrária a certa atitude das empresas participantes, o que pode acarretar no
cancelamento ou suspensão de uso do Selo no caso de desconformidade
empresarial em relação às diretrizes do Programa.
A concessão do uso do Selo ocorre por meio de uma cerimônia onde as
empresas que cumpriram todos os requisitos recebem uma placa (simbólica) e o
manual de uso do Selo para utilizar em produtos, campanhas etc. Adquirido o Selo
ele tem a validade de dois anos e pode ser renovado, bastando a empresa
manifestar o interesse de continuas. A obrigatoriedade que existe após a concessão
é que a empresa continue enviando os relatórios mensais das atividades
desenvolvidas.
Para participar da primeira edição foram convidadas 50 empresas que
tinham alguma relação com o sistema Sedvan/Idene, tendo em vista que a ideia era
nova e contar com os parceiros da instituição facilitaria a realização do Programa.
Os interessados assinaram um termo de adesão, sem custo, para formalizar o
engajamento.
Após a consolidação do grupo de empresas participantes, iniciaram-se as
visitas técnicas, realizadas pela equipe gestora do Programa, com o intuito de
conhecer as iniciativas de responsabilidade social já desenvolvidas pelas empresas
e refletir sobre possíveis novas ações. Nesta fase de visita técnica, 40 empresas
13
participavam do Programa. Questões como ‘disponibilizar a vocação empresarial a
serviço da comunidade’ foram tratadas e sublinhadas como sendo possíveis
caminhos a serem percorridos pelas empresas que não desenvolviam ações no
âmbito da responsabilidade empresarial ou ainda não internalizavam ações neste
sentido. Ressalta-se que este primeiro contato da equipe do Programa Selo nas
empresas serviu também para evidenciar que a RSE pode ser implementada a
baixíssimo custo e, quando há despesas, o recurso utilizado frequentemente tornase investimento, com a sustentabilidade alcançada e a redução de gastos nos
âmbitos sociais e empresariais.
O Selo tem validade de dois anos (2010 e 2011) e pode ser aplicado
pelas empresas aprovadas em seus produtos e peças de comunicação.
O objetivo do Programa Selo é identificar e reconhecer empresas que
investem no desenvolvimento das regiões dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e
Norte de Minas. Com isto, espera-se dinamizar a economia regional e incentivar
empresas a adotarem posturas de sustentabilidade.
As referidas áreas são conhecidas por terem baixo Índice de
Desenvolvimento Humano por Município (IDH-M) em comparação com outras
regiões de Minas. O índice leva em consideração os números em relação à
educação, longevidade e renda e varia entre 0 (nenhum desenvolvimento humano) e
1 (desenvolvimento humano total). A escala varia da seguinte maneira:
até 0,499 = IDH-M baixo
de 0,500 a 0,649 = IDH-M médio baixo
de 0,650 a 0,799 = IDH-M médio alto
acima de 0,800 = IDH-M alto
O Norte e os Vales do Jequitinhonha e Mucuri apresentavam, em 2000,
índices de desenvolvimento médio baixo. Segundo o estudo “Diferenças
socioeconômicas das regiões de Minas Gerais”, elaborado pela consultora da
Assembleia Legislativa do Estado, Juliana Franca Scavazza, com base nos dados
do Anuário Estatístico de Minas Gerais, 2000/2001, da Fundação João Pinheiro,
numa classificação de dez regiões, o Norte e os Vales do Jequitinhonha e Mucuri
estão na 9a e 10a posições, respectivamente, em relação ao Produto Interno Bruto
(PIB) por habitante. A média no Norte do estado é de R$ 2.773,15. Já nos Vales do
14
Jequitinhonha e Mucuri, o valor fica em R$ 1.735,73. O primeiro lugar do ranking é
da região Central de Minas, com PIB por habitante de R$ 6.408,49.
O Programa Selo de Responsabilidade Empresarial foi pensado para
melhorar os indicadores socioeconômicos das regiões, em médio e longo prazo.
Para isso, foram construídos eixos baseados no Plano Mineiro de Desenvolvimento
Integrado (PMDI), nos quais as instituições devem elaborar e desenvolver ações de
responsabilidade social. Os eixos são:
I) Investir nas regiões norte e/ou nordeste de Minas Gerais;
II) Contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população;
III) Incentivar a formação escolar e/ou profissional dos funcionários;
IV) Apoiar os micronegócios e serviços regionais e;
V) Preservar o meio ambiente
Embora o Programa continue em 2010 nos mesmos moldes do ano
anterior, este relato circunscreve à primeira edição, em 2009. Na ocasião, era
necessário desenvolver, no mínimo, uma ação em cada eixo; ou um projeto que
incluísse os cinco eixos; ou ter iniciativas que, em seu conjunto, contemplasse os
cinco temas.
Para orientar os empresários em relação a prazos, procedimentos e
exemplos de iniciativas que poderiam ser desenvolvidas, elaborou-se um manual,
entregue com um kit de comunicação composto por folder, panfleto, display e
banner. O objetivo do material era possibilitar que as empresas divulgassem sua
participação no Programa.
Além de desenvolver ações nos cinco eixos do Programa, as empresas
deveriam enviar relatórios mensais para atualizar a sociedade civil em relação aos
projetos e estar em regularidade junto à União, ao Estado, ao município e aos
órgãos fiscalizadores pertinentes a cada ramo de negócio.
Para
dar
visibilidade
às
ações,
foi
construído
um
site
(www.projetoigs.org.br/selo), no qual foram publicadas notícias, iniciativas e
relatórios mensais das empresas. Para inserir os dois últimos elementos, cada
instituição recebeu um login e uma senha. Antes de irem ao ar, as informações
foram lidas pela equipe do Programa, que as publicou à medida que foram
registradas no sistema administrativo do site.
15
Paralelamente, o trabalho de divulgação do Programa Selo de
Responsabilidade Empresarial visou a aproximação com os escritórios regionais do
Idene, autarquia vinculada à Sedvan, e entidades atuantes nas regiões de atuação
do programa: associações comerciais, entidades relacionadas ao agronegócio,
veículos de comunicação regionais, instituições públicas voltadas para o
empreendedor. O reconhecimento do Programa Selo por parte destes parceiros
fortaleceu a representatividade das empresas participantes e das iniciativas em
desenvolvimento. A proximidade com a equipe do sistema Sedvan/Idene em
importantes cidades da região de atuação (Montes Claros, Januária, Janaúba,
Salinas, Diamantina, Araçuaí, Jequitinhonha, Teófilo Otoni) criou perspectivas para
novos participantes do Programa, evidenciando, nesse sentido, esforços da equipe
Sedvan/Idene em promover o desenvolvimento inclusivo das regiões.
O material produzido para divulgar o Programa Selo também foi
encaminhado aos escritórios da Sedvan/Idene; em Belo Horizonte e no interior do
estado foram distribuídos folder e banner para conhecimento das equipes e
informação a todos os interessados que os visitassem com demandas sobre o
Programa Selo de Responsabilidade Empresarial. Além do canal aberto por meio de
encontros presenciais e atendimento via telefone e e-mail, houve apresentação do
Programa Selo pelos representantes do CeMAIS durante a reunião de planejamento
estratégico do Sistema Sedvan/Idene, em fevereiro de 2009, e eventos nas
Diretorias Regionais – Montes Claros, Diamantina e Teófilo Otoni, em março, com
explanação sobre o Programa e solução das dúvidas dos presentes.
Na segunda quinzena de junho e durante o mês de julho foram realizadas
visitas às quarenta empresas que aderiram ao Programa, com o objetivo de
acompanhar presencialmente o que estava sendo desenvolvido. Em cada visita,
foram produzidos relatórios para registrar as ações e em que etapa estavam.
A abertura do Edital 2010 (2a edição) do Programa Selo, em 18 de agosto,
demandou eventos regionais para apresentação do Programa a toda sociedade –
empresários e representantes de entidades voltadas para o empresariado,
estudantes, mídia regional e comunidade em geral. Houve mobilização da equipe
CeMAIS e do Sistema Sedvan/Idene para convidar as lideranças regionais
interessadas no tema responsabilidade empresarial e no Programa Selo de
Responsabilidade
Empresarial,
além
dos
representantes
das
empresas
já
16
participantes. Outra ação também ocorrida em agosto foi a promoção de um
workshop com os representantes das empresas participantes do Programa no
período, com o propósito de fomentar a troca de experiências, incentivar parcerias e
debater sobre os princípios da responsabilidade social empresarial. A escolha de
Montes Claros como sede deste encontro foi devido à facilidade de deslocamento
para número considerável dos representantes de empresa. O workshop contou com
a palestra da professora Carmen Migueles, da Fundação Dom Cabral.
Em setembro de 2009, a equipe definiu as empresas que ganhariam o
Selo do biênio 2010/2011. Dezenove cumpriram os requisitos e teriam o direito ao
uso da marca, entregue em cerimônia realizada no dia 15 de outubro.
Na maior parte dos casos das que conquistaram o Selo, as ações de
responsabilidade já existiam e estavam estabilizadas; ou foram registradas/melhor
estruturadas para atender ao Programa. A existência dessas iniciativas e a
disposição para verificar o que se encaixava no Programa e o que ainda precisava
ser desenvolvido foram aspectos que possibilitaram que as 19 empresas
conquistassem o Selo de Responsabilidade Empresarial.
O perfil dos que não levaram o Programa adiante era de empresas que 1)
não tinham ações de responsabilidade empresarial e precisariam criar para
participar do Programa; 2) tinham ações de responsabilidade empresarial, mas não
tinham como cuidar do envio dos relatórios mensais por falta de pessoal ou porque
passavam por transformações que não comportavam a dedicação ao Programa; 3)
não apresentavam conformidade com as exigências legais; 4) tinham ações de
responsabilidade empresarial, mas consideravam que não deveriam ser divulgadas
por não ser uma política internalizada ou não serem reconhecidas pelos empresários
como sendo de responsabilidade social. Muitas delas não acessaram o site do
Programa para inserir as iniciativas e enviar os relatórios. Algumas empresas
começaram a desenvolver algo após receberem a visita da equipe, mas apenas três
conseguiram organizar ações que se encaixavam no Programa e foram identificadas
nos momentos de encontro presencial: Fábrica de Móveis Santos Rocha, Fadenor e
Triama Norte.
17
A seguir, apresentamos as 19 ganhadoras do Selo, o município onde se
localizam e suas iniciativas:
Circuito Turístico dos Diamantes (Diamantina): Evento itinerante; Vale
Circuito; Formação e organização de condutores ambientais em seis
comunidades do Alto Jequitinhonha; Cursos de capacitação de
funcionários e Aquisição de produtos e serviços.
Cooperativa Dedo de Gente (Curvelo): Projeto Fabriquetas da
Cidadania, que objetiva capacitar 56 jovens artesãos (homens e
mulheres),
visando
compromisso
o
ambiental,
desenvolvimento
promovendo
da
uma
consciência
maior
e
do
qualificação
profissional e inserção no mercado de trabalho.
Cooperjap (Japonvar): Aproveitamento sustentável do cerrado; Mudas
para
repovoar
Processamento
o
de
cerrado;
resíduos
Capacitação
e
dos
Utilização
de
agroextrativistas;
unidades
de
processamento de comunidades rurais.
Coteminas (Montes Claros): Projeto de modernização da fiação anel;
Projeto de ampliação da tecelagem da matriz; Unidade Montes Claros;
Ginástica laboral; Escola em ação; Manutenção de convênios; Visitas
de familiares; Visitas de alunos de escolas públicas; Dia V; Parceria
com o Corpo de Bombeiros; Programa Cozinha Brasil; Manutenção de
uma escola (Centro Educacional); Programa de suplência; Bolsas de
estudo;
Convênios
educacionais;
Parceria
com
microempresas;
Contratação de serviços; Estação de tratamento de efluentes, viveiro
de mudas e valorização do cerrado e Programa Sua Conta, Nossa
Conta.
Drogaria Minas-Brasil (Montes Claros): Dê um troco no câncer; Creche
Branca de Neve – Irmãs Dominicanas do Anunciata; Copa Drogaria
Minas-Brasil; Instituto Ivan Guedes; Preservar o meio ambiente;
Incentivo à formação escolar dos funcionários e Incentivo ao comércio
da região.
Fábrica de Móveis Santos Rocha (Turmalina): Movale; Estudar é
preciso; Preservação do meio ambiente: dever de todos e Produtos
regionais.
18
Fadenor (Montes Claros): Aproveitamento de papel; Projetos Fadenor;
Capacitação profissional de jovens; Educação na empresa; Natal
solidário e Valorização das empresas da região.
Faculdade Vale do Gorutuba – Favag (Nova Porteirinha): Projeto de
conscientização e preservação do meio ambiente no Gorutuba;
Avaliação da qualidade do atendimento da PM em Janaúba; Tambores
do Gorutuba; Estampando qualidade de vida; Incentivo profissional aos
docentes e ao corpo técnico-administrativo e Rede de formação
profissional orientada para o mercado.
HM Lubriscap (Montes Claros): Adoção de uma praça; Denuncie crime
de pedofilia; Aperfeiçoamento profissional e Formação em informática
para os funcionários; Participação na coleta seletiva de lixo e Apoio aos
micronegócios regionais, dando prioridade à contratação de empresas
locais.
Laticínio IKe (Diamantina): Projeto Enchendo a Leiteira. Tem como
objetivo capacitar os produtores rurais, parceiros do Laticínio, em
relação a temas como melhoramento do manejo de pastagens, ensino
de práticas de higiene na ordenha do leite, saúde do rebanho e
formação profissional dos funcionários da empresa.
Laticínio Saboroso (São Francisco): Investir no norte de Minas; Coleta
seletiva; Cursos profissionalizantes; Iniciativa II e Desenvolvimento
Rural Sustentável (DRS).
Laticínio Vista Alegre (Manga): Apoio aos micronegócios regionais;
Capacitação de funcionários; Ajuda à Associação Manguense de Apoio
ao Menor (Amam); Cursos de capacitação para os funcionários; Apoio
à Pastoral da Criança e Ações de preservação ambiental.
Mineração
Pedra
Menina
(Senador
Modestino
Gonçalves):
Investimento na implantação de uma unidade de recuperação de finos
de minério; Recuperação de nascentes de cursos d’água degradados;
Difundir na zona rural a substituição de fossas negras por fossas
sépticas; Qualificação e treinamento nas funções que a empresa
necessita; Contratação de serviços locais e Humanização do asilo
municipal.
19
Natura Milk (Turmalina): Assessoria ao crédito rural; Programa de
erradicação do trabalho infantil na cadeia produtiva de leite; Programa
de cooperativas e associação de produtores de leite; Assessoria ao
licenciamento ambiental; Melhoramento do manejo de pastagens e
Melhoramento genético do leite.
Nutrivale (Belo Oriente): Assessoria ao crédito rural; Programa de
erradicação do trabalho infantil na cadeia produtiva de leite; Programa
de cooperativas e associação de produtores de leite; Assessoria ao
licenciamento ambiental; Melhoramento do manejo de pastagens e
Melhoramento genético do leite. As iniciativas foram criadas para que a
empresa
participasse
do
Programa
Selo
de
Responsabilidade
Empresarial e são feitas semelhantemente no Laticínio Natura Milk,
tendo em vista que as ações são executadas em ambos por uma
empresa de consultoria ambiental.
Plantar (Belo Horizonte/Curvelo): Projeto ação; Apicultura; Horta
coletiva; Criança e adolescente; Educação ambiental; Coleta seletiva;
Projeto microbacia; Aluno nota 10; Programa de formação escolar dos
funcionários e Incentivo aos micronegócios regionais.
Rima (Belo Horizonte/Bocaiúva): Abertura de filiais na região norte de
Minas; Fomentar a agricultura familiar; Disponibilização de know-how
da empresa; Doação de computadores; Ações voltadas para o
desenvolvimento da região; Saúde da gestante e do bebê; Viva a vida;
Auxílio a outras entidades e instituições; Projeto sorrindo; Cursos de
aperfeiçoamento profissional; Complementação da formação escolar
dos
colaboradores;
Aperfeiçoamento
em
informática;
Projeto
socioambiental; Projeto barraginhas; Coleta seletiva de lixo; Criação da
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Alessandra Bello
Vicintin e Apoio aos micronegócios regionais.
Triama (Montes Claros): Compromisso com o meio ambiente; Natal das
crianças; Faça uma criança feliz! e Universidade Triama.
Tempero Arruda: Ações para melhoria da qualidade de vida na região;
Apoio à formação escolar dos funcionários; Priorização das parcerias
regionais; Preservação do meio ambiente e Investimentos na região.
20
Pela observação das ações, percebe-se que algumas delas ainda se
enquadram no que é conhecido como filantropia ou assistencialismo, como o caso
de doações e ações pontuais em datas festivas. Esse caráter não é o ideal se
considerado for o conceito de responsabilidade empresarial, que se preocupa com
as relações desenvolvidas pelas empresas para valorizar públicos interno e externo
e que têm periodicidade e ligação com o desenvolvimento sustentável da
comunidade na qual as instituições se inserem. Entretanto, é importante considerar
que o tema responsabilidade empresarial ainda é novo e pouco conhecido entre os
municípios das regiões norte e nordeste de Minas Gerais. Dessa maneira, é
necessário um trabalho de difusão da ideia e de formas de mostrar às empresas que
algumas das ações desenvolvidas por elas se relacionam com a RSE. O Programa
desenvolve estratégias nesse sentido, pois se dispõe a apoiar os empresários nas
dúvidas que surgem, e sugerir formas de aproveitar o que é feito na instituição.
Ações que envolvem doação de bens materiais foram aceitas pelo
Programa, pois foi reconhecida a dificuldade de algumas empresas, inicialmente,
lidarem com o tema e incorporar, em pouco tempo, os princípios da RSE,
especialmente aquelas que não tinham a responsabilidade empresarial como
referência (viável em se tratando de tempo) para a cultura institucional. Assim,
aceitou-se a prática da doação de bens materiais como estratégia para o ingresso
da cultura RSE no cotidiano das empresas, tendo como ponto de partida um olhar
apreciativo desse tipo de ação, que em certo sentido, se aproxima minimamente dos
conceitos da RSE e pode ser encarado como um primeiro passo empresarial rumo
ao desenvolvimento sustentável e à preocupação com os públicos interno e externo,
de modo permanente.
Com base nos dados disponíveis na página eletrônica do Programa
Selo, elaborou-se um quadro indicativo da abrangência das iniciativas das
dezenove empresas que conquistaram o Selo em 2009, tendo como referência o
número de pessoas beneficiadas. Ressalta-se que há algumas iniciativas que não
entraram na contagem por não ser possível mensurar o número de pessoas
afetadas diretamente.
21
Tabela 1: Pessoas beneficiadas pelas iniciativas divulgadas pelo Programa Selo
o
Empresa
N de pessoas beneficiadas pelas
iniciativas
Circuito Turístico dos Diamantes
6.615
Coteminas
11.834
Dedo de Gente
56
Drogaria Minas-Brasil
360
Fábrica de Móveis Santos Rocha
40
Fadenor
231
Favag
11.060
HM Lubriscap
16
Japonvar Alimentos
1.029
Laticínio Ike
60
Laticínio Saboroso
501
Laticínios Vista Alegre
792
Mineração Pedra Menina
59
Natura Milk
186
Nutrivale
186
Plantar
2.874
Rima
26.222
Tempero Arruda
7.150
Triama Norte
110
Total
69.381
Média de pessoas impactadas
iniciativas, por empresa
pelas
3.651
*Dados obtidos em 2009, segundo informações de cada empresa
22
Apresenta-se um quadro-síntese referente ao Programa Selo em 2009:
Tabela 2: – Números do Programa Selo 2009*
o
o
N de
N de
Total de
Média de
empresas
empresas
iniciativas
relatórios
inscritas
com termo
inscritas
publicados/
de adesão
mês
53
40
164
69
o
Empresas que
conquistaram
o Selo
N de
municípios
visitados
Eventos
realizados
19
23
12
*Dados obtidos em 2009, segundo informações de cada empresa
Os dados indicam que 47,5% das empresas que aderiram ao Programa
conquistaram o Selo. Esse universo é significativo, considerando-se que o tema é
ainda pouco difundido e discutido no interior de Minas. Tendo em vista todos os
requisitos1 para a concessão do Selo percebe-se também o início de uma exitosa
taxa de comprometimento com o tema RSE pelas empresas envolvidas com o
Programa, além do cumprimento das inúmeras normas vigentes.
É importante destacar que a realização de eventos para divulgar o
Programa e os pressupostos da responsabilidade empresarial configura-se como
uma estratégia interessante tanto para tornar o projeto do governo de Minas
conhecido, quanto para estimular que o tema seja pensado e praticado pelas
organizações das regiões norte e nordeste de Minas.
1
Pré-requisitos: empresas devem estar em situação fiscal regular, respeitar a legislação ambiental,
seguir as normas trabalhistas e atender as normas dos órgãos fiscalizadores competentes.
Requisitos: desenvolver iniciativas que contribuam para melhorar a realidade socioeconômica das
regiões norte e nordeste conforme os cinco eixos temáticos propostos.
23
APONTAMENTOS FINAIS
A responsabilidade empresarial se configura como uma atitude que busca
fazer com que as organizações invistam em suas relações com os públicos externo
e interno por meio de ações que os valorizem e demonstrem o engajamento da
instituição nas questões da comunidade. Para orientar as corporações, o Programa
Selo elaborou cinco eixos nos quais elas deveriam desenvolver ações, que se
articulam com o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI). O Programa
foi criado para contribuir para o desenvolvimento das regiões norte e nordeste de
Minas por meio de parcerias entre os setores. Dessa maneira, governo de Minas,
empresas e sociedade civil organizada, representada pela Oscip CeMAIS, trabalham
juntos para melhorar os indicadores sociais e econômicos das áreas de atuação da
Secretaria de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas (Sedvan).
As iniciativas que as empresas são convidadas a desenvolver e divulgar
se referem às relações com o público interno (incentivo à formação escolar ou
profissional dos funcionários) e com o público externo (investimento na região,
incentivo aos micronegocios ou serviços locais, colaboração na melhoria da
qualidade de vida da comunidade e preservação ambiental).
O Programa ainda carece de mecanismos apurados para avaliação das
ações, visto que essa não é a intenção para despender esforços, embora
reconheçamos que essa ação seria relevante. Considera-se que as iniciativas são
válidas e se configuram como uma das formas de contribuir para a melhoria dos
indicadores das regiões. Nesse sentido, há o reconhecimento da dificuldade de
separar o que foi melhorado em função do Programa e o que não foi, visto que não é
propósito do Programa Selo mensurar como estavam as comunidades antes e
depois da realização do projeto da Sedvan, apesar da possibilidade de verificação
de dados oficiais. A segunda edição do Programa está em curso em 2010 e
pretende-se que ela reúna mais atividades e discussões acerca da RSE para que o
tema ganhe mais consistência e visibilidade nas regiões onde a Sedvan atua e se
torne um caso de referência para iniciativas semelhantes em outras regiões do
Estado ou do país.
24
A apresentação do Programa Selo de Responsabilidade Empresarial a
empresas de micro, pequeno e grande porte, com ampla diversidade em atitudes
gerenciais, nichos de mercado e recursos a serem investidos, propiciou experiência
singular em lidar com diferentes perspectivas da responsabilidade empresarial.
25
REFERÊNCIAS
BORGER, Fernanda Gabriela. Pressupostos teóricos e aplicados da
responsabilidade social corporativa. In: KUNSCH, Margarida M. Krohling; KUNSCH,
Waldemar Luiz (orgs). Relações públicas comunitárias. A comunicação em uma
perspectiva dialógica e transformadora. São Paulo: Summus, 2007.
INSTITUTO ETHOS. O que é RSE. Disponível em: <http://www1.ethos.org.br/
EthosWeb/pt/29/o_que_e_rse/o_que_e_rse.aspx>. Acesso em: 06 jan. 2010.
LOURES, Rodrigo C. da Rocha. Educar e inovar na sustentabilidade. Curitiba:
Unindus, 2008.
MELO NETO, Francisco Paulo de; BRENNAND, Jorgiana Melo. Empresas
socialmente responsáveis: o novo desafio da gestão moderna. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2004.
MIGUELES, Carmen. Responsabilidade social X responsabilidade cultural:
buscando soluções que funcionem em nosso contexto. Livro em versão eletrônica,
disponível sob solicitação à autora ([email protected]).
SCAVAZZA, Juliana Franca. Diferenças socioeconômicas das regiões de Minas
Gerais. Relatório. Disponível em: <www.almg.gov.br/bancoconhecimento/tematico/
DifReg.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2010.
TEODÓSIO, A. Parceriais Tri-Setoriais: Para Além de Simplismos e Dualidades
sobre as Interações entre Atores do Estado, Sociedade Civil e Mercado. In: XXXI
Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em
Administração, 2009.
26
___________________________________________________________________
AUTORIA
Flávia Miranda – Mestre e bacharel em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Atuou como educadora de oficinas de rádio da ONG Oficina de Imagens, de Belo Horizonte,
no projeto IrRadiando, que trabalhava a divulgação e defesa dos direitos da criança e do adolescente
em municípios do norte e nordeste de Minas Gerais. Atualmente, é analista de comunicação do
Programa Selo de Responsabilidade Empresarial, executado pelo Centro Mineiro de Alianças
Intersetoriais (CeMAIS), de Belo Horizonte, em parceria com a Secretaria de Estado Extraordinária
para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas (Sedvan) e
Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene). Centro Mineiro de
Alianças Intersetoriais (CeMAIS).
Endereço eletrônico: [email protected]
Giovani Souza Guedes – Pós graduado em Comunicação e Gestão Empresarial pela PUCMINAS.
Bacharel em Comunicação Social – Relações Públicas pela Universidade Federal de Minas Gerais –
UFMG. Trabalhou como professor do curso de Comunicação Social: na Universidade Federal do
Tocantins (Jornalismo), em Palmas – TO; no Centro Universitário Luterano de Palmas –
CEULP/ULBRA (Jornalismo / Publicidade e Propaganda), na Instituição de Ensino Juscelino
Kubitschek – Faculdades JK (Relações Públicas / Publicidade), em Brasília – DF; no Instituto de
Educação Superior de Brasília – IESB (Relações Públicas / Publicidade e Propaganda / Cinema e
Mídias Digitais). Foi Coordenador do Núcleo de Comunicação da Inglês & Cia Escola de Idiomas,
Belo Horizonte – MG. Atuou como Relações Públicas na Diretoria de Comunicação da Universidade
Federal do Tocantins, com planejamento em comunicação e estratégias de marketing, em assessoria
de comunicação, eventos e atendimento à comunidade acadêmica. Atualmente atua como analista de
comunicação do Programa Selo de Responsabilidade Empresarial no IGS/CeMAIS. Analista de
comunicação do Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (CeMAIS)
Endereço eletrônico: [email protected]
Ronan Ramos de Oliveira Júnior – Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (CeMAIS)
Endereço eletrônico: [email protected]
Download

programa selo: uma estratégia da administração pública