Autor Autor: Walter Salles e Daniela Thomas
Dois filmes de Walter Salles e Daniela Thomas nunca estreados em Portugal: TERRA ESTRANGEIRA
e O PRIMEIRO DIA
O PRIMEIRO DIA de Walter Salles e Daniela Thomas _ 22 de Outubro de 2014
Um filme colectivo
Rodado em três semanas, O Primeiro Dia é o resultado de uma forma colectiva de se fazer cinema,
além de dois realizadores e quatro argumentistas, grande parte da equipa teve participação autoral no
projecto. Os diálogos finais, por exemplo, são fruto de improvisação e ensaios com actores.
Há no filme um sentido de urgência que move os personagens e que de certa forma ecoa o seu
processo de realização. Equipa pequena, filmagens em tempo real, equipamento leve, sem gruas, uso
particamente exclusivo de câmara na mão e o ensaio prévio das cenas trouxeram uma grande agilidade
às filmagens.
O filme dá continuidade a uma forma de realização cinematográfica iniciada com Terra Estrangeira,
primeira parceria de Walter Salles e Daniela Thomas, de 1995, que teve como característica esse
mesmo dinamismo e um enorme prazer da pequena equipa de filmar.
Titulo Original: O Primeiro Dia (Brasil, 1999, 76 min);
Realização: Walter Salles, Daniela Thomas;
Interpretação: Fernanda Torres, Luiz Carlos Vasconcelos, Matheus Nachtergaele;
Produção: Videofilmes, Riofilme, Haut et Court;
Argumento: Walter Salles, Daniela Thomas, João Emanuel Carvalho, José Carvalho;
Fotografia: Walter Carvalho;
Montagem: Felipe Lacerda, Isabelle Ratherry;
Música: António Pinto, Eduardo Bid, Naná Vasconcelos;
Distribuição: Nitrato
sinopse As vésperas do ano 2000, o Rio de Janeiro é uma cidade dividida. Mesmo morando lado a
lado, as pessoas que moram nos prédios e as que moram nas favelas vivem apartadas. É nessa
geografia fraturada que habitam Maria e João, vidas distintas a apenas alguns metros de distância.
João, morador da favela, assassino condenado a 30 anos de reclusão, consegue escapar da prisão e
logo percebe que a sua liberdade é ilusória – perseguido, só lhe resta a fuga. Maria, uma jovem
professora, passa por uma profunda crise existencial e amorosa. Sem motivação para viver, ela resolve
desistir de tudo. Desesperados, João e Maria encontram-se no tecto de um prédio em Copacabana,
poucos minutos antes da passagem de ano. É nesse lugar entre o céu e a terra que a cidade partida
finalmente se encontra, que o milagre se produz, ainda que só por um breve instante.
Prémio de melhor filme ibero-americano da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (México,
2000);
Prémio de Melhor Actriz (Fernanda Torres) da Associação Paulista de Críticos de Arte.
Cineclube de Joane
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TERRA ESTRANGEIRA de Walter Salles e Daniela Thomas _ 23 de Outubro de 2014
Desejo de Cinema
No início havia apenas uma imagem: a de um casal à deriva, imobilizado numa praia deserta, com um navio
emborcado na areia. Essa imagem se materializou logo, na capa do livro do fotógrafo Jean Pierre Favreau. O
filme começa a se delinear.
A imagem era um emblema de exilio: não mais o político, dos anos da ditadura, mas um novo, económico,
que transformara o Brasil dos anos 90 num país de emigração pela primeira vez em quinhentos anos. A terra
estrangeira surgia aí como uma solução idealizada para a ausência de perspectiva, auto-imagem, de
identidade.
A geografia desse exilio em terra estrangeira foi Portugal: não mais o país/pai próximo, possível e
complacente, mas uma terra também em crise de identidade, que recusava seus filhos, brasileiros,
angolanos, moçambicanos, cabo-verdianos – refletindo a forma como os próprios portugueses eram tratados
pelo resto da Europa.
Foi com grande fascínio que, numa viagem de pesquiza de locações, descobrimos e incorporamos a Lisboa
africana, sua surpreendente língua “pretoguesa”, seus filhos vivendo em cortiços à beira do cais, órfãos
ainda mais perdidos em terra estrangeira que nós.
Daí surgiu um outro desejo: de fazer um filme de geração, sobre jovens desesperançados e sem alternativas
em sua própria terra, que são incapazes de se aceitar, de tomar posse de um novo país, condenados a um
eterno estado de deslocamento.
O filme nasceu assim, urgente, em preto-e-branco, que, como dizia Robert Frank, é ao mesmo tempo a cor
da esperança e da desesperança. E, o mais importante, foi um filme “bué da fixe”. Realizado por uma equipe
muito pequena e com um sentido de colaboração fortíssimo, ele marcou a estreia em longas de grande parte
da turma. A mistura de profissionalismo e experiência de um lado e de entusiasmo e desejo de cinema do
outro, fez das filmagens momentos extremamente prazerosos.
Terra Estrangeira foi, parafraseando Caetano, uma experiência feliz de cinema.
Walter Salles e Daniela Thomas
Titulo Original: Terra Estrangeira (Brasil / Portugal, 1995, 110 min);
Realização: Walter Salles, Daniela Thomas;
Interpretação: Fernanda Torres, Fernando Alves Pinto, João Lagarto;
Produtor Executivo: Flavio Tambellini; co-Produção (Portugal): António da Cunha Telles;
Fotografia: Walter Carvalho;
Argumento: Walter Salles, Daniela Thomas, Marcos Bernstein;
Música: José Miguel Wisnik;
Direcção de Arte: Daniela Thomas;
Montagem: Walter Salles, Felipe Lacerda;
Som: Geraldo Ribeiro, Carlos Alberto Lopes;
Distribuição: Nitrato
sinopse Após a morte da sua mãe, morta por um ataque cardíaco logo após o anúncio do confisco do
presidente Fernando Collor de Melo, Paco decide deixar o Brasil e ir para a terras dos seus antepassados,
assim como sonhava a falecida, uma imigrante espanhola. Para custear a viagem, o rapaz envolve-se com
contrabandistas europeus e, já em Portugal, encontra o amor em Alex, uma brasileira que namora um
músico que presta serviços aos contrabandistas.
Misturando o thriller, o road movie e um romantismo à flor da pele, Terra Estrangeira tornou-se num
filme de culto pela liberdade da sua narrativa e originalidade das suas imagens. Um filme lírico e
poético, com actores luminosos, que marcou profundamente o Cinema Brasileiro dos anos 90.
Grande Prémio do Público dos Encontros Internacionais de Paris / Paris Film Forum (1995);
Prémio de Melhor Filme do Ano (critica) do SESI (Brasil, 1996).
Cineclube de Joane
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