A IMPORTÂNCIA DO DESENHO NA CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM INFANTIL THE IMPORTANCE OF DESIGN IN CONSTRUCTION LEARNING CHILD João Clineu Serra Portugal Lilian Sipoli Carneiro Cañete Wany de Sousa e Silva Campos Orientadoras Pós – Graduação: Supervisão Escolar, Orientação Educacional e Inspeção Escolar R. Cleber Pereira Sales Nº36- Pirineus Leopoldina – MG [email protected] RESUMO Este artigo emerge da necessidade em entender a importância do desenho na construção da aprendizagem infantil. O desenho e a escrita muitas vezes se misturam dentro das representações infantis, a criança cria sua própria forma de representação e diferenciação entre o desenho e a escrita. A cada representação que a criança realiza, o jogo simbólico e o desenho passam a ser uma necessidade, e é assim que elas vão se descobrindo dentro do processo de aprendizagem e desenvolvimento e consequentemente na aquisição da escrita, dessa forma a escrita deixa de ser uma representação mental e passa a ser uma representação gráfica, carregada de sentidos, assim como o desenho que, primeiramente passa pelo plano da representação mental e só depois a criança passa à representação gráfica. Assim o desenho infantil pode ser considerado precursor da escrita, estando diretamente relacionado ao processo de construção da escrita. Os estudos sobre desenhos infantis interessam as diversas areas que pretendem proceder um estudo sobre infância e desenvolvimento infantil, principalmente a psicologia que reconhece as intenções da criança quando a mesma representa a sua realidade através de seus desenhos, bem como os profissionais de educação que conseguem perceber nos desenhos pistas sobre a realidade na qual a criança está situada, podendo auxiliar nas intervenções pedagógicas a serem propostas. Para a criança o ato de desenhar representa a exteriorização de uma ação pensada, que por sua vez representa certa etapa da contrução de seu pensamento. Ao refletirmos sobre o desenho infantil observamos uma pluralidade de possibilidades que se caracteriza como um modo alternativo da criança de se colocar no mundo. Este artigo cita os principais teóricos que discutem essa temática e suas contribuições em relação destacar a importância do desenho no desenvolvimento da aprendizagem infantil. Os resultados mostram que o desenho tem a capacidade de revelar a evolução do pensamento da criança. Palavras – Chave: Desenho, Pensamento, Aprendizagem ABSTRACT This article arises from the need to understand the importance of design in building their children's learning Drawing and writing often blend into representations of children, the child creates his own form of representation and differentiation between drawing and writing. Every representation that the child performs, symbolism and design become a necessity, and that is how they will be discovering in the process of alfabetizatório thus writing ceases to be a mental representation and becomes a graphical representation, loaded with meanings, as well as the design, primarily through the plane of the mental representation and then the child is represented graphically. Thus the drawing can be considered a precursor of writing, is directly related to the construction process of writing. Studies of children's drawings the various interest the various areas wishing a study on childhood and child development, especially psychology recognizes that the intentions of the child when it is their reality through their drawings, as well as education professionals who to realize the drawings clues about the reality in which the child is located and can assist in pedagogical interventions to be proposed. The act of drawing to children is the externalization of action is thought that certain stage of construction of your pensamento. Reflecting on the drawing we see a plurality of possibilities characterized as an alternative way of putting the child in the world. This article cites the major theorists and their contributions to the importance of design in the development of early learning. The results show that the drawing has the ability to reveal changes in the child's mind. Keywords - Keywords: Drawing, Thinking, Learning INTRODUÇÃO “O ato de desenhar envolve a atividade criadora; é através de atividades criadoras que a criança desenvolve sua própria liberdade e iniciativa e outros o que permitirá” (Lowernfeld, 1970 p.16) Este artigo foi motivado pelo desejo de identificar as contribuições do desenho infantil no desenvolvimento da aprendizagem. Buscou-se reunir e revisar a bibliografia sobre estudos de alguns teóricos, dentre eles: Luquet(1969), Piaget (1948), Méredieu (1995) Derdyk (2004), Vygotsky (1987).Traçando um breve panorama sobre o assunto. São objetivos desse trabalho: analisar os estágios de evolução do desenho infantil; revisar bibliografia sobre o tema e compreender como o desenho infantil influencia no processo de aprendizagem da criança. O desenvolvimento do pensamento da criança está ligado á capacidade representativa, para que o pensamento aconteça é necessário que haja a capacidade de tornar presente, isto é, de substituir coisas ausentes por meio de palavras e imagens. A cada representação que a criança faz, o jogo simbólico e o desenho passam a ser uma necessidade, e é assim que elas vão se inserindo no processo de aprendizagem, desde o estágio pré-operatório, onde se inicia o processo de representação, interagindo com a escrita como se a mesma fosse um jogo que contém regras e, também o imaginário. Dessa forma a escrita deixa de ser uma representação mental e passa a ser uma representação gráfica, carregada de sentidos, assim como o desenho que, primeiro passa pelo plano da representação mental e só depois a criança passa a representá-lo graficamente. Desta forma o desenho infantil pode ser considerado precursor da escrita, estando diretamente relacionado ao processo de aquisição de novas aprendizagens. 1. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS Os primeiros estudos sobre desenhos das crianças datam do final do século XIX onde o interesse pelos desenhos infantis começou a ser fonte de observação e pesquisa. Inicialmente as crianças desenhavam no chão e nas paredes tendo como materiais gravetos ou pedaços de carvão. O acesso ao papel e ao lápis eram difíceis por ser um material muito caro e de uso restrito. O artista italiano Conrrado Rizzi, demonstrou interesse ao ver desenhos feitos por crianças em uma parede o que despertou nele várias reflexões sobre as diferenças da arte entre adultos e crianças e em 1887, Rizzi publicou “A arte das crianças pequenas” livro onde registrou seus estudos sobre o tema. Pillar (2006) afirma que a criança não nasce sabendo desenhar, que este conhecimento é construído a partir da sua relação direta com o objeto, assim são suas estruturas mentais que definem as suas possibilidades quanto a representação e interpretação do objeto. Desta forma a criança é o sujeito de seu processo, ela aprende a desenhar a partir de sua interação com o desenho. Vários teóricos seguem essa linha de pensamento quanto ao desenho infantil, dentre eles Luquet(1969), Piaget (1948), Méredieu (1995) dentre outros. Contudo, o reconhecimento da contribuição psíquica começou somente no inicio de século XX, com trabalhos realizados por Luquet (Mialaret,1969) Luquet (1979, p. 213-214), ressalta que “o desenho infantil, enquanto manifestação da atividade da criança permite penetrar na sua psicologia e, portanto, determinar em que ponto ela se parece ou não com a do adulto”. Isto porque, ao desenhar a criança inspira-se não só em modelos que se apresentam diante dos olhos, mas, sim, na imagem que tem em seu interior no momento em que desenha. Assim, o desenho é uma forma de representação que pode revelar o conteúdo da imagem mental da criança. Ainda conforme Luquet (1912), essa forma expressiva tem duas fases. A primeira – fase dos rabiscos e garatujas é caracterizada por uma série de traçados, à medida que os rabiscos vão sendo produzidos a criança começa compreender que aquilo que observa é produto de sua atividade. Os traçados começam a receber significação, e se tem início ao desenho propriamente dito. Luquet distingue quatro estágios do desenho infantil: o Realismo fortuito: começa por volta dos dois anos e põe fim ao período chamado rabisco. A criança que começou por traçar signos sem desejo de representação descobre por acaso uma analogia com um objeto e o seu traçado passa a nomear seu desenho; Realismo fracassado: por volta dos 3 a 4 anos tendo descoberto a identidade forma-objeto, a criança procura reproduzir esta forma. Surge então uma fase de aprendizagem pontuada de fracassos e de sucessos parciais; Realismo intelectual: estendendo-se dos 4 aos 10 anos, é o principal estágio e caracteriza-se pelo fato que a criança desenha do objeto não aquilo que vê, mas aquilo que sabe, essa forma expressiva. Segundo Piaget (1976) a capacidade de criação e inovação supõe construções efetivas e não simples representações fieis da realidade e classifica as etapas do desenho como: I) Garatuja: Pertence á fase sensório motora (0 a 2 anos) e parte da fase préoperatória (2 a 7 anos). A criança apresenta extremo prazer nesta fase. A figura humana ainda não existe concretamente, mas pode aparecer da maneira imaginária. Á cor não é dada tanta importância. A fase da garatuja pode ser dividida em outras duas partes: A) desordenada: Apresentam movimentos amplos e desordenados. Simples riscos ainda sem muito controle motor, a criança ignora os limites do papel e se movimenta o tempo todo para desenhar. No final dessa fase, é possível que surjam os primeiros indícios de figuras humanas, como cabeças e olhos. B) ordenada: movimentos longitudinais e circulares; a figura humana pode surgir de maneira imaginária, pois já existe a exploração do traçado e interesse pelas formas. Nessa fase inicia-se o jogo simbólico: "eu represento sozinho". A criança atribui nomes a seus desenhos, conta histórias. Dentro da fase pré-operatória, aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos são aleatórios, inicialmente, não relaciona entre si. Então aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo devido a vínculos emocionais. A figura humana torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo, inicia a mudança de símbolos. Quanto à utilização das cores, pode- se usá-las, mas não há relação ainda com a realidade, dependendo do interesse emocional. A criança também começa a respeitar melhor os limites do papel. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com pernas, braços, pescoço e tronco. II) Pré-Esquematismo: (estágio Pré-Operacional) com três anos de idade a criança já atribui significado ao que desenha fazendo riscos na horizontal, vertical, espiral e círculos apesar de não nominar o que faz. Com relação ao uso das cores em suas produções, ela às vezes pode usar, mas não há uma relação forte com a realidade, pois depende do interesse emocional já que os elementos são dispersos e não relacionados entre si. Como aos quatro anos ela já é capaz de projetar no papel o que ela sente mesmo sendo incapaz de aceitar o ponto de vista de outra pessoa diferente do dela, até os seis anos o grafismo irá representar uma fase mais criativa e diversificada nas produções proporcionando uma descoberta maior nas relações entre desenho, pensamento e realidade. III) Esquematismo: (estágio Operações Concretas) a partir dos sete anos de idade as operações mentais da criança ocorrem em resposta a objetos e situações reais e com isso ela compreende termos de relações como: maior, menor, direita, esquerda, mais alto, mais largo, etc. Apesar de apresentar dificuldade com os problemas verbais, ela ainda traça a chamada “linha de base” como aos seis anos apesar de representar a figura humana com alguns desvios como: exageros, negligências e omissão ou mudança de símbolos. Nessa fase a criança descobre as relações de cor, cor-objeto e progressivamente começa a desenvolver a capacidade de se colocar no ponto de vista do outro. Ao final do estágio das Operações Concretas, o desenho infantil apresenta a fase do Realismo onde a criança utiliza bastante as formas geométricas em seus desenhos com maior rigidez e formalismo e acentuam-se os usos das representações de roupas para distinguir os sexos. IV) Pseudo Naturalismo: (estágio Operações Formais e/ou Abstratas) a partir dos doze anos de idade o pensamento formal da criança é hipotético-dedutivo, isto é, ela é capaz de deduzir as conclusões de puras hipóteses e não somente através de observação real. Diante disso, essa fase do desenho infantil é marcada pelo fim da arte como atividade espontânea e passa a ser uma investigação de sua própria personalidade buscando profundidade e uso consciente da cor. Na figura humana as características sexuais são exageradas existindo a presença detalhada das articulações e das proporções. Segundo Vygotsky (1987; 2007), o desenvolvimento do desenho requer duas condições, primeiramente o domínio motor. Assim a criança começa a perceber que pode representar graficamente um objeto e a relação desenvolvida com a fala existente ao desenhar. Vygotsky afirma que a linguagem verbal é a base da linguagem gráfica. (989, p.141) e classifica o desenvolvimento da expressão a qual dá o nome de gráfico-plástica nas seguintes etapas: I) Etapa simbólica - É a fase dos conhecidos bonecos que representam, de modo resumido, a figura humana. Esta etapa é descrita por Vygotsky como o momento em que as crianças desenham os objetos "de memória" sem aparente preocupação com fidelidade à coisa representada. II) Etapa simbólico-formalista - É a etapa na qual já se percebe maior elaboração dos traços e formas do grafismo infantil. É o período em que a criança começa a sentir necessidade de não se limitar apenas à enumeração dos aspectos concretos do objeto que representa, buscando estabelecer maior relação entre o todo representado e suas partes, já se pode perceber o início de uma representação mais próxima da realidade. III) Etapa formalista veraz - Nesta fase, as representações gráficas são fiéis ao aspecto observável dos objetos representados, acabando os aspectos mais simbólicos, presentes nas etapas anteriores. IV) Etapa formalista plástica – Identifica-se uma nova forma, um novo modo de desenhar, pois como um desenvolvimento das habilidades motoras, o grafismo deixa de ser uma atividade com fim em si mesma e converte-se em trabalho criador. No entanto, há uma diminuição do ritmo dos desenhos que permanecem mais entre aqueles que realmente desenham porque sentem prazer neste ato criador. Ao descrever as etapas de desenvolvimento do grafismo infantil, o autor não se preocupa em detalhar o período da aquisição do sistema de representação do desenho. 2. EVOLUÇÃO DO DESENHO INFANTIL Ao longo da história, o desenho tem adquirido diferentes sentidos e sendo executado com os mais diferentes propósitos, adquirindo um sentido social, uma vez que tudo possui uma forma gráfica. A arte de desenhar desperta nos seres humanos a sensibilidade, pois para que a imagem apareça no papel, ou em qualquer outro material, vários sentidos perceptíveis do nosso corpo trabalham: a visão, o pensamento criativo, o gosto sensitivo pela forma, cor e até a percepção de outros saberes. É comum a visão de que o desenho é apenas uma atividade prática, em que só se trabalha a mão, dissociando-o do pensar. Contudo, há uma estreita relação entre “pensar e fazer, teoria e prática, conceito e ação”. De acordo com as ideias sugeridas pelo Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (Brasil, 1998), o desenho como linguagem indica signos históricos e sociais que possibilitam ao homem significar o mundo. Portanto evidenciamos a Educação Infantil, como sendo a primeira etapa da Educação Básica como espaço de promoção e apropriação das diversas formas de linguagens e expressões, sendo o desenho dotado de significados. 2.1- RABISCOS A criança rabisca pelo prazer de rabiscar, de gesticular, de se aprimorar. O grafismo que daí surge é essencialmente motor, orgânico, biológico, rítmico. Quando o lápis escorrega pelo papel, as linhas surgem. Quando a mão para, as linhas não acontecem. Aparecem, desaparecem. A permanência da linha no papel se investe de magia e esta estimula sensorialmente a vontade de prolongar este prazer (DERDYK, 2004, p.56). O desenho parece surgir de forma espontânea e evoluir junto ao processo de desenvolvimento global da criança. Também é uma tentativa de comunicação formal e um meio de representação e simbolização. A criança expressa em seu grafismo aquilo que ainda não consegue com outras linguagens, por exemplo, a fala ou a escrita. Do ponto de vista evolutivo, foram propostas duas grandes etapas. A primeira quando as marcas deixadas pelas crianças no papel resultam apenas no prazer de rabiscar; a etapa seguinte é a do desenho propriamente dito, ou seja, uma manifestação representativa, caracterizada pela intenção de reproduzir algo. Embora as crianças manifestem possibilidades representativas no jogo de fazde- conta, na linguagem e nas condutas imitativas, elas ainda não atribuem significado aos traçados. Apesar disso, essa etapa é muito importante para o desenvolvimento posterior, pois é no seu decorrer que as possíveis relações entre o lápis e o papel vão sendo gradativamente compreendidas. Aos poucos as crianças vão conquistando o controle motor. Os rabiscos conforme Derdyk (1989) não são apenas atividades sensóriomotoras. Os traços confusos no papel podem conter evidências do estado de desenvolvimento da criança como também estarem ali pelo simples prazer da ação. Edith Derdyk (2003) enfatiza um entendimento do ato de desenhar como atividade inteligente, sensível, reclama a sua autonomia e sua capacidade de abrangência como meio de comunicação, expressão e conhecimento, possui natureza aberta e processual. Pouco a pouco esses primeiros movimentos rítmicos sobre o papel vão sendo realizados com mais precisão, mas estas não são conquistas isoladas elas aparecem juntamente com o desejo de representar algo. Quando observamos desenhos feitos por crianças pequenas, não conseguimos perceber o carro, o avião ou o balão. Do ponto de vista da materialidade dos traçados, ainda não há qualquer semelhança com o que vez ou outra eles afirmam ter feito. No entanto, o que importa é a intenção de representar uma ideia. Ao mesmo tempo em que os traçados vão sendo mais e mais interpretados, crianças começam a anunciar o que pretendem fazer antes da execução. Desta forma, o desenho constitui uma expressão da visão de mundo que cada criança possui, pois através do desenho a criança desenvolve suas potencialidades manifestando suas reflexões. Sendo assim, analisar a arte infantil nos possibilita a descoberta da construção espacial e das relações formais em elementos que a criança destaca e reorganiza segundo um critério próprio e individual. 2.2- DESENHOS Neste momento de transição a criança se dá conta de que é capaz de criar graficamente uma ideia mediante marcas deixadas no papel ou num suporte qualquer, aos poucos a criança introduz modificações no desenho em razão do domínio crescente dos movimentos, mas principalmente dos progressos representativos. À medida que o pensamento evolui, os traçados gráficos se transformam. Com os progressos das capacidades representativas a criança fará os desenhos de forma mais detalhada de acordo com os avanços ligados ao seu pensamento e com essa evolução de pensamento, elas começam a manifestar o desejo de serem fiéis à realidade, assim como as compreendem. O ato de desenhar é atividade lúdica, reunindo como em todo o jogo, o aspecto operacional e o imaginário. Todo o ato de brincar reúne esses dois aspectos que sadiamente se correspondem e envolvem o funcionamento físico, temporal, espacial, as regras; o imaginário envolve o projetar, o pensar, o idealizar, o imaginar situações. É importante ressaltar que o pensamento da criança só evolui se a ela for dada a oportunidade de desenhar, brincar, modelar, enfim agir sobre as coisas extraindo experiências sobre as mesmas. O dinamismo do conjunto destes processos implica em interesse, motivação, afetividade e organização interna, possibilitando a evolução das aprendizagens. 3. PAPEL DO PROFESSOR Aprender a questionar os desenhos infantis é essencial para o acompanhamento dos avanços em relação à construção do pensamento infantil. É mediante os questionamentos que aprendemos a compreender muitas coisas que as crianças representam através de seus desenhos e que, muitas vezes, podem ser interpretadas erroneamente. O desenho permite ao professor uma série de pistas sobre a criança que encontra no mesmo a sua maneira de ler o mundo. Os professores, muitas das vezes, não acreditam que o desenho desempenha um papel tão importante na construção do pensamento da criança não dispensando a ele a sua devida importância em sala de aula. Mas o que foi observado durante o estudo sobre o desenho infantil e suas contribuições no processo da aprendizagem é que o conhecimento das etapas evolutivas do desenho infantil fornece ao professor mais um instrumento para compreender as crianças. Somando esse conhecimento à análise constante dos seus trabalhos e considerando sempre o significado mais profundo do ato de desenhar como expressão de ideias e sentimentos, o professor poderá orientar suas ações pedagógicas. Segundo Pillar (1996), ao observar o desenho de uma criança, podemos aprender muito sobre o seu modo de pensar e sobre as habilidades que possui. Quando, em um desenho, os braços de uma figura humana saem da cabeça e não do tronco, por exemplo, significa que a criança ainda não tem construído interiormente, em seu pensamento, o esquema corporal de uma figura humana. Isso nada tem a ver com o fato de ela não estar enxergando direito, de estar com problemas de motricidade fina, ou ainda, de não estar apta a desenhar com destreza. Desenhar figuras humanas possibilita à criança estruturar suas ideias sobre as mesmas. É importante que a criança tenha oportunidade de desenhar livremente, em papéis e em tamanhos e texturas diferentes, em posições variadas, com materiais diversos. Quando a criança vai dominando seus movimentos e gestos, as propostas devem ser diferentes: desenhar em vários tempos e ritmos, fazer passeios e expressar o que observou no papel, incentivar o desenho coletivo, desenhar as etapas percorridas após uma brincadeira ou jogo e muitas outras podem ser feitas com a criança para ajudá-la a aprimorar suas capacidades de desenhar. Os educadores que vivem diariamente com essas crianças devem também respeitar o ritmo de cada criança, a maneira como sua obra está evoluindo, porque cada criança tem um tempo e uma maneira de internalizar suas experiências. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com as referidas abordagens embora variem, não existem divergências entre os autores no que diz respeito à importância do desenho infantil, composto por fases, etapas, estágios, movimentos, dentro do seu processo de desenvolvimento como ser humano. Ou seja, as garatujas ou os rabiscos aparecem na fase sensório-motora, etapa da teoria do desenvolvimento humano desenvolvida pelo estudioso Jean Piaget, onde a criança explora materiais concretos e os movimentos, na fase pré-operatória, onde a criança começa a construir e a representar. O desenho infantil é base de análise importante do progresso da criança. O seu desenvolvimento contribui para a representação simbólica, para o desenvolvimento motor, emocional e consequentemente para a aprendizagem como um todo. Diante da bibliografia utilizada para realização deste artigo é possível dizer que o desenho é precedente a escrita, mas que os dois possuem uma relação de interdependência, pois quanto mais oportunidades as crianças tiverem de representar no papel toda a sua impressão sobre o mundo que a rodeia, seus sentimentos e emoções, mais ela estará preparada para se apropriar do sistema de escrita, visto que também é uma forma de representação. Pais e educadores devem estimular as crianças e oportunizarem momentos significativos de interação, dentre os quais as atividades lúdicas têm um papel importante. O desenho, como uma atividade lúdica, é um forte aliado na construção do pensamento. Permitir que a criança desenhe, não só como atividade artística, ou como um passa tempo, é proporcionar-lhe expressar suas ideias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil: conhecimento de mundo. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil . São Paulo : Scipione,1989. FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 1985. LUQUET, G. H. Arte Infantil. Lisboa: Companhia Editora do Minho, 1969. MERÉDIEU, Florende de. O desenho infantil. São Paulo: Cultrix, 1974. MOREIRA, Ana Angélica Albano. O espaço do desenho: a educação do educador. São Paulo: Loyila, 1993. PIAGET, J. A formação dos símbolos na criança. PUF, 1948. PILLAR, Analice Dutra. Desenho & escrita como sistema de representação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.