tecnologia Cavitação em bombas centrífugas A transferência de energia mecânica por parte da bomba, resulta no aumento da pressão do fluido e tem como causa inevitável a queda de pressão localizada, no interior do impulsor. Imediatamente após a entrada do impulsor, a pressão do fluido cai abaixo da pressão Po (pressão à entrada do impulsor), até atingir um valor mínimo (Pmin.). João Leite (Engº Mecânico, IST) KSB, Bombas e Válvulas, SA. Figura 1. Vistas em corte e de topo do impulsor Figura 3. Evolução das pressões numa pá, para diferentes pressões à entrada Com base em estudos já realizados, é possível fazer uma representação gráfica da evolução das pressões ao longo da pá do impulsor, mais concretamente do lado de aspiração (SS) e do lado de compressão (DS), da pá do impulsor (ver fig. 2). Se a pressão na entrada do impulsor for ainda mais baixa, a zona ocupada por bolhas irá aumentar (fig.3c). Como a pressão não pode baixar mais que a pressão de vaporização, o volume de bolhas aumenta, aumentando a distribuição das mesmas ao longo do lado de aspiração das pás do impulsor. De notar que existem dois tipos de cavitação: o fenómeno de que temos vindo a falar, conhecido como “cavitação por vapor” e outro, diferente, chamado “cavitação por gás”. Na “cavitação por gás”, a origem das bolhas está dentro do próprio fluido, pois este terá uma mistura de gases e vapor. Figura 2. Representação gráfica da evolução das pressões numa pá do impulsor Se a pressão mínima (Pmin) ocorrida no interior do impulsor, tiver um valor superior à pressão de vaporização do fluido (PD) à temperatura a que este se encontra, não haverá formação de bolhas de vapor (fig.3a). Se noutra situação, Pmin for igual a PD, iremos ter o desenvolvimento de bolhas de vapor a partir do ponto em que a pressão do fluido igualar a pressão de vaporização. As bolhas voltam a desaparecer quando o escoamento atingir uma zona de pressão mais elevada. Este fenómeno de formação de bolhas de vapor numa área onde a pressão do fluido desce até à pressão de vaporização e o subsequente desaparecimento das mesmas numa zona de pressões mais elevadas, é chamado cavitação. Ao processo, tal como podemos ver na fig. 3b, em que Pmin= PD num único ponto, chamamos “cavitação incipiente” e corresponde ao início da cavitação. 36 INDÚSTRIA E AMBIENTE 73 MARÇO/ABRIL 2012 A influência do caudal Nas bombas centrífugas existem impulsores de diferentes tipos e tamanhos. Para cada impulsor existe um valor de caudal ótimo (Qopt): o caudal para o qual o impulsor foi desenhado, o caudal para o qual o seu rendimento é máximo. Variações deste caudal, tanto para valores mais altos como para mais baixos, alteram a direção de entrada do escoamento no impulsor (fig.4), influenciando a evolução da distribuição de pressões ao longo das pás do impulsor. Figura 4. Entrada do escoamento no impulsor, em função do caudal, face ao caudal óptimo Para uma pressão constante à entrada do impulsor (P 0=const.), a pressão mínima (Pmin) e/ou a queda de Pressão (P 0 –Pmin) no interior do impulsor, são dependentes do ponto de funcionamento. A queda de pressão (P 0 –Pmin), é inferior na gama de funcionamento do caudal ótimo (Qopt). tecnologia Para valores de caudal superiores ao caudal ótimo, os pontos de menor pressão passam do lado da descarga para o lado da aspiração (fig.5). Mas a pressão mais baixa (Pmin) ocorre no lado da descarga. da pressão de vaporização é atingido no ponto de pressão mais baixa (Pmin) e que marca o início de cavitação, é a referência a considerar. Como tal, normalmente, as curvas de NPSH, marcam o início de cavitação, dando o valor do NPSHreq em função do caudal. Como margem de segurança, a este valor devemos adicionar 0,5 m, salvo outra indicação do construtor. Outro tipo de critério, é a determinação do valor de NPSH onde ocorre o colapso total do fluxo NPSHtot, ou seja, a cavitação atinge um ponto tal que a altura manométrica é nula. Existem ainda outros critérios em função da forma como os valores de NPSH intermédios influenciam as condições de funcionamento. Os diferentes tipos de critérios de determinação do NPSH podem então, ser listados do seguinte modo: Figura 5. Distribuição das pressões numa pá do impulsor, em função do caudal, face ao caudal óptimo NPSH (Altura de Aspiração Positiva – Net Positive Suction Head) O NPSH é um importante conceito que permite avaliar as condições de aspiração de uma bomba centrífuga e fazer uma previsão da margem de segurança contra os efeitos da cavitação, durante o funcionamento da bomba. Até agora temos escolhido como pressão de referência, a pressão à entrada do impulsor (P 0). No entanto, e de um modo geral, não é financeiramente viável fazer a leitura desta pressão na secção critica (à entrada do impulsor). Assim, a leitura na tubagem de aspiração da bomba, de acordo com as especificações das normas, torna-se mais fácil. Visto que a secção de medição varia de sistema para sistema e que regra geral difere da secção critica, existe a necessidade de definir uma variável de referência: o NPSH, ou seja, a diferença entre a energia total da secção (Ps,Tot), incluindo a energia cinética, e a pressão de vaporização do fluido (PD). NPSH = (Ps,Tot - PD) / (r . g) NPSH requerido (NPSHreq): Uma bomba centrífuga só irá trabalhar satisfatoriamente se não existir formação de vapor no seu interior. Para tal, a pressão do fluido deverá ser sempre superior a sua pressão de vaporização. Então, o NPSHreq é o valor mínimo requerido pela bomba para que não ocorra cavitação. NPSH disponível (NPSHav): Corresponde ao valor de NPSH disponível na instalação, na zona da aspiração da bomba. Este valor deverá ser sempre superior ao NPSHreq, por forma a assegurar a inexistência de cavitação na bomba. O valor do NPSHreq determina-se através da equação: NPSHreq = (P – PD)/(r.g) + v2/(2.g) + Hp ± Hgeo No entanto, o valor de NPSH de uma bomba não tem qualquer significado se não definirmos o critério com que foi determinado. Critérios de determinação do NPSH O estado de cavitação incipiente, denominado por NPSHi, onde o valor - Cavitação incipiente, inicio da cavitação è NPSHi - Decréscimo da altura manométrica, numa certa percentagem è 0%NPSH0 1%NPSH1 2%NPSH2 --- ------ x%NPSHx - Decréscimo do rendimento, num certo valor è NPSHDh - Evolução da cavitação ao longo das pás do impulsor, num determinado comprimento Dx (mm): è x1 = 5 mm èNPSHx1 è x2 = 10 mm èNPSHx2 è x1 = 15 mm èNPSHx3 por exemplo Dx = 5 mm - Destruir uma quantidade especifica de material, numa unidade de tempo: NPSHDm - Exceder um determinado nível de ruído: NPSHPhon - Exceder um determinado nível de vibração: NPSHVibr. - Cavitação total, colapso do fluxo: NPSHTot. Consequências da cavitação Queda da pressão e aumento da área exposta à cavitação O NPSH disponível (NPSHav) numa instalação é o fator que mais diretamente influência a ocorrência, ou não, da cavitação. Assim, podemos ver a evolução da altura manométrica (fig. 6) e do comprimento da zona ocupada por bolhas, em função do NPSHav. Quando o NPSH disponível começa a descer, as primeiras bolhas de vapor desenvolvem-se quando é atingido o valor de NPSHi, ou seja o valor de NPSH para que se dê a cavitação incipiente. No entanto para estes valores de NPSH, a altura manométrica ainda não sofre alterações. A medida que o NPSH continua a baixar, aumenta o comprimento da zona ocupada por bolhas e, ao atingir um determinado valor (NPSH0), o escoamento nas pás é afetado e a altura manométrica começa a descer. INDÚSTRIA E AMBIENTE 73 MARÇO/ABRIL 2012 37 tecnologia O nível de ruído aumenta à medida que o NPSHav baixa, baixando novamente na situação de cavitação total, porque o impulsor está totalmente preenchido com vapor (ver figura 8). Figura 8. nível de ruído à medida que o NPSH disponível dminui Figura 6. evolução da altura manométrica e do comprimento da zona afectada por bolhas, em função do NPSH disponível Tal como vimos para os critérios de determinação do NPSH, a uma queda da altura manométrica de 0% (DH = 0%) corresponde a designação NPSH0; assim como para DH = 3% corresponde NPSH3. Erosão Uma das consequências mais indesejáveis da cavitação, tem a ver com a situação que ocorre quando as bolhas de vapor voltam a entrar numa zona de pressão superior à pressão de vapor. Ao contrário do que se poderia supor, o tamanho das bolhas não diminui até ao seu total desaparecimento. As bolhas assumem uma forma de rim, acabando por implodir violentamente de encontra às pás do impulsor, sob a forma de jatos microscópicos (ver figura 7). Os jatos microscópicos vão gradualmente causar fadiga na superfície do material e, como consequência, a matéria começa a desagregar-se devido às pressões pontuais, da ordem dos 10 5 bar !! Figura 7. evolução das bolhas de vapor à medida que a pressão aumenta Os danos causados pela erosão devido à cavitação, tal como a profundidade da erosão ou a perda de massa, estão diretamente relacionados com, pelo menos, quatro fatores: – tempo de exposição à cavitação; – intensidade da cavitação; – propriedades do fluido; – resistência do material à erosão por cavitação. Ruído O ruído típico que se ouve quando as bolhas se desintegram durante a bombagem, assemelha-se à bombagem de cascalho, com mudança dos níveis de pressão sonora, de algumas centenas de Hz para níveis ultrasónicos (100kHz). 38 INDÚSTRIA E AMBIENTE 73 MARÇO/ABRIL 2012 Vibração A vibração resultante da cavitação, é devida à combinação de três fatores: - Como a região preenchida com bolhas varia de pá para pá, num mesmo impulsor, a passagem do escoamento em redor dessas regiões também varia, afetando o equilíbrio desse impulsor; - Cada região preenchida com bolhas também sofre variações de dimensão, podendo daí resultar vibrações com frequências não constantes; - Se as regiões ocupadas por bolhas forem muito extensas, causam uma queda de pressão a jusante do impulsor, resultando na saída separada e irregular do escoamento de cada canal, desequilibrando o impulsor. Quebra de rendimento De um modo geral, a curva de quebra de rendimento em função do NPSH, é similar à da altura manométrica, com a particularidade de, por vezes, o rendimento aumentar significativamente, antes do colapso total. Soluções para a cavitação Sem duvida que a melhor solução para evitar os efeitos da cavitação, começa pela sua prevenção desde o início do projeto da instalação. Uma instalação adequada às características da bomba e do fluido evitará a ocorrência deste fenómeno e as suas consequências. Podemos então sugerir algumas soluções para evitar, ou minimizar, os efeitos da cavitação: – Correto desenho da instalação, tendo em conta o NPSHreq, o NPSHav e as características do fluido; – Montagem de uma bomba pressurizadora a montante do grupo sob efeito de cavitação, de modo a aumentar a pressão na aspiração desse grupo; – Montagem de um impulsor adicional na aspiração da bomba, para que os valores da pressão à entrada do impulsor principal sejam mais elevados; – Utilização de materiais com boas características mecânicas, nomeadamente com boa resistência à erosão: não evita a cavitação, mas reduz drasticamente a erosão do impulsor, evitando os problemas dai resultantes.