Parábola da Candeia Introdução No relato de Mateus a parábola da Candeia está inserida no Sermão do Montanha (Mateus 5, 1-48). Embora tenha sido dirigido inicialmente aos discípulos, esse sermão foi acompanhado por uma enorme multidão que tinha vindo “da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia e de além do Jordão” (Mateus 4, 25), procurando conhecer Jesus e ouvir o seu verbo iluminado. Muitos consideram o Sermão do Monte o principal discurso de Jesus, aquele em que teria exposto pela primeira vez as propostas moralizadoras e regeneradoras da Boa Nova, utilizando-se de linguagem simples e de fácil entendimento. Introdução O Sermão da Montanha inicia-se com as 7 Bem-Aventuranças (Mateus 5, 1-12) que relacionam as disposições íntimas e as virtudes necessárias à todo aquele que deseja “entrar no Reino dos Céus” e tornar-se um bem-aventurado (feliz). Logo em seguida, Jesus exorta os discípulos e todos aqueles que “têm ouvidos de ouvir”, que empreguem as suas conquistas interiores em benefício dos semelhantes, sem se deixarem corromper (Vós sois o sal da terra) e sem ocultarem os benefícios que a prática do conhecimento da Verdade já lhes despertava (Vós sois a luz do mundo). Introdução Mais adiante (Mateus 6, 19-24), Jesus alerta para a necessidade de colocarmos os valores espirituais acima dos valores materiais temporais ( Não ajunteis tesouros na Terra... mas ajuntai tesouros no céu). E sugere que vigiemos a nossa forma de ver e analisar as coisas, para que tiremos melhor proveito do conhecimento da Verdade para o nosso progresso espiritual (A candeia do corpo é o olho). Parábola da Candeia “Vós sois o sal da Terra; se o sal se tiver tornado insípido, como se poderá salgar com ele? Para nada mais presta senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo: não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no candeeiro, para que ilumine a todos que estão na casa. Assim, resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”. (Mateus 5, 12-16) Alqueire: Recipiente com capacidade de um alqueire para medição de quantidade de grãos de cereais equivalente a 36,27 litros. Dic. Aurélio Parábola da Candeia “Ninguém há que, depois de ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso, ou a ponha debaixo da cama; põe-na sobre o candeeiro, a fim de que os que entrem na casa vejam a luz; pois nada há de secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente”. Lucas 8, 16-17 Reflexões “Não se deve pôr a candeia debaixo do alqueire, mas sobre o candeeiro, a fim de que todos os que entrem na casa a possam ser iluminados”. Tal sentença não significa que se deva revelar inconsideradamente todas as coisas. Todo ensinamento deve ser proporcionado à inteligência daquele a quem se queira instruir, porquanto há pessoas a quem uma luz por demais viva ofuscaria, sem as esclarecer. Cada coisa tem de vir na época própria; a semente lançada à terra, fora da estação, não germina. Mas, o que a prudência manda calar momentaneamente, cedo ou tarde será descoberto, porque, chegados a certo grau de desenvolvimento, os homens procuram por si mesmos a luz viva. O Evangelho Segundo o Espiritismo Medida de meio alqueire – D. João VI - 1819 Reflexões A Providência só gradualmente revela as verdades, é claro que as desvenda à proporção que a Humanidade se vai se mostrando amadurecida para as receber. Ela as mantém de reserva e não sob o alqueire. Os homens, porém, que as possuem, quase sempre as ocultam do vulgo com a intenção de o dominarem. São esses os que, verdadeiramente, colocam a luz debaixo do alqueire. É por isso que todas as religiões têm tido seus mistérios, cujo exame proíbem. Não podem existir mistérios absolutos e Jesus está com a razão quando diz que nada há de secreto que não venha a ser conhecido. Tudo o que se acha oculto será descoberto um dia e, o que o homem ainda não pode compreender lhe será sucessivamente desvendado. O Evangelho Segundo o Espiritismo Reflexões É de notar-se que Jesus somente se exprimiu por parábolas sobre as partes de certo modo abstratas da sua doutrina. Mas, tendo feito da caridade para com o próximo e da humildade condições básicas da salvação, tudo o que disse a esse respeito é inteiramente claro. Sobre as outras partes, apenas aos discípulos desenvolvia o seu pensamento. Por serem eles mais adiantados, moral e intelectualmente, Jesus pôde iniciá-los no conhecimento de verdades mais abstratas. Daí o haver dito: Aos que já têm, ainda mais lhes será dado. Com admirável prudência se conduzem os Espíritos, ao darem suas instruções. Só gradual e sucessivamente consideraram as diversas partes já conhecidas da Doutrina, deixando as outras partes para serem reveladas à medida que se for tornando oportuno fazê-las sair da obscuridade. O Evangelho Segundo o Espiritismo Reflexões Se a houvessem apresentado completa desde o primeiro momento, somente a reduzido número de pessoas se teria ela mostrado acessível; teria mesmo assustado as que não se achassem preparadas para recebê-la. Se, pois, os Espíritos ainda não dizem tudo ostensivamente, não é porque haja na Doutrina mistérios em que só alguns privilegiados possam penetrar, nem porque eles coloquem a lâmpada debaixo do alqueire; é porque cada coisa tem de vir no momento oportuno. O Evangelho Segundo o Espiritismo Reflexões A Luz é indispensável à vida material e à vida espiritual. Sem luz não há vida; a vida é luz quer na esfera física, quer na esfera espiritual. Apague-se o Sol, fonte das luzes materiais e o mundo deixará de existir. Esconda-se a luz da sabedoria e da Religião e a Humanidade não dará mais um passo, ficará debatendo-se em trevas. Assim, pois, tão ridículo é acender uma candeia e colocá-la debaixo da cama, como receber um novo conhecimento e ocultá-los aos nossos semelhantes. A recomendação feita na parábola é que a luz deve ser posta no velador a fim de que todos a vejam e por ela se iluminem, ou, então, para que essa luz seja julgada de acordo com a sua claridade. Parábolas e Ensinos de Jesus, Cairbair Schutel Reflexões Julga-se a árvore pelos frutos e o combustível pela claridade; pela pureza da luz que proporciona. Ter luz e não fazê-la iluminar, é o mesmo que não a ter; A finalidade da luz é iluminar e o do sal é conservar e dar sabor. Sendo os discípulos de Jesus luz e sal, necessário se faz que ensinem, esclareçam e iluminem. Assim como a luz que não ilumina e o sal que não conserva, para nada prestam, assim, também, os que se dizem discípulos do Cristo e não cumprem os seus preceitos nem desempenham a tarefa que lhes está confiada, só servem para serem lançados fora da comunhão espiritual e serem pisados pelos homens. Parábolas e Ensinos de Jesus, Cairbair Schutel Reflexões O indiferente, o fanático, o supersticioso, o negativista o maldizente, o hipócrita, o que se não esforça pelo seu aperfeiçoamento e não trabalha pelo bem dos semelhantes, é sal insípido, é luz mortiça, que para nada mais presta! Os discípulos de Jesus são a luz do mundo e o sal da terra; a sua tarefa é esclarecer seus semelhantes e ao mesmo tempo procurar conservá-los fiéis aos ditames cristãos, proporcionando-lhes consolações. O sal insípido não condimenta; a luz mortiça não ilumina! “De tal modo brilhe a vossa luz, que os homens, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus.” Parábolas e Ensinos de Jesus, Cairbair Schutel A Luz 625. Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e modelo? — Jesus. “Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida”. João 8, 12 “Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”. João 9, 5 “Eu, que sou a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”. João 12, 46 Cada coisa tem seu tempo 801. Por que os Espíritos não ensinaram, em todos os tempos, o que ensinam hoje? — Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos e não dais ao recém-nascido um alimento que ele não possa digerir. Cada coisa tem seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam ou adulteraram, mas que podem compreender agora. Com seus ensinos, embora incompletos, prepararam o terreno para receber a semente que vai frutificar. 628. Por que a verdade não esteve sempre ao alcance de todos? — É necessário que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: é preciso que nos habituemos a ela pouco a pouco, pois de outra maneira nos ofuscaria. Progresso 779. A força para progredir, o homem encontra em si mesmo, ou o progresso é apenas fruto de um ensinamento? — O homem se desenvolve naturalmente por si mesmo. Mas, nem todos progridem simultaneamente e do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contato social. 780. O progresso moral acompanha sempre o progresso intelectual? — O progresso moral decorre do progresso intelectual, mas nem sempre o segue imediatamente. 780a. Como pode o progresso intelectual levar ao progresso moral? — Possibilitando a compreensão do bem e do mal. O homem então, pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos. Conclusões As candeias são os instrumentos que produzem a luz. A luz se produz no interior da candeia como resultado da combustão do óleo, assim como a luz dos discípulos do Cristo deve se desenvolver primeiramente em seu íntimo, como resultado de sua capacidade de interpretar a verdade e apropriar-se dela para a sua transformação moral. Mas, a qualidade da luz depende da qualidade do combustível que produz a luz. Assim é que, mais adiante no Sermão do Monte, Jesus volta a se utilizar da figura da candeia: “A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mateus 6, 22 e 23). Conclusões Esta parábola é uma advertência para que os discípulos vigiassem a forma como viam e interpretavam os acontecimentos à sua volta, porque disso dependeria a qualidade da luz que produziriam. Basta que recuemos na história para que encontremos diversas épocas em que as trevas se disseminaram pelo mundo porque aqueles que detinham a verdade e que deveriam ser as candeias da humanidade optaram por ocultar ou adulterar a luz, deixando-se guiar pelo personalismo e o preconceito ou corrompendo-se pela ambição de poder e pela riqueza. Kardec 03/Out/1804 – 31/Mar/1869 Outubro é o mês em que se comemora o nascimento de Allan Kardec, não poderíamos deixar de lembrar que ele foi uma verdadeira “candeia”, um discípulo do Cristo, que trabalhou até o sacrifício de si mesmo para a codificação da Doutrina Espírita, o Consolador prometido por Jesus, lançando luz sobre o nosso entendimento e ampliando a compreensão de nossa origem, nosso destino e a finalidade de nossa existência. Os espíritas conscientes da missão do Espiritismo e que se disponibilizam como instrumentos da Espiritualidade na propagação da Doutrina Espírita são as candeias da atualidade. Jesus nos abençoe!