Marta Morais da Costa
Doutora em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo
(USP). Licenciada em Letras Português-Francês pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR).
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22/10/2012 15:11:13
A linguagem poética:
o ritmo e a rima
De sua origem, a poesia lírica traz a ligação com a música, que permanece no verso atual sob as
formas do ritmo do verso e todos os efeitos estilísticos e estéticos nascidos das combinações sonoras de
sílabas e letras, como a rima.
Ao passar da forma somente cantada para a escrita, nesta se conservariam recursos que aproximariam música e
palavra: as repetições de estrofes, de ritmos, de versos (refrão), de palavras, de sílabas, de fonemas, responsáveis não
só pela criação das rimas, mas de todas as imagens que põem em tensão o som e o sentido das palavras. (SOARES,
2000, p. 24)
Mesmo a mudança histórica do suporte poético, que passou do canto à folha impressa, não repudiou a ligação entre elementos tão significativos como o ritmo do verso ou a sonoridade significativa
das palavras, registrados na sua versão escrita.
Palavra poética e música
Em um primeiro olhar, a palavra escrita se apresenta como desenho sobre a folha de papel. Se
o leitor abstrair o significado e fixar os olhos apenas sobre as marcas pretas na página, verá que a distribuição das palavras realmente desenha formas, com canais, espaços em branco, geometrias, ritmos
visuais.
O leitor da palavra escrita também forma mentalmente uma imagem sonora da palavra, ao evocar o modo como ela se pronuncia, mesmo que leia silenciosamente o texto escrito. Essa é uma segunda
camada de apreensão física do texto, que é sonora e compõe, por força de nossa memória auditiva, sons
encadeados em frases melódicas, em ritmo variado: é a denominada musicalidade.
Essa apreensão de palavras e frases não impede que os significados sejam acoplados à experiência
sensorial. O texto vai produzindo seu sentido no leitor com a contribuição dos aspectos fônicos e sonoros.
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
Há, portanto, na ação de ler, a mescla de atividades do ver, do ouvir e do pensar. Para que a poesia se torne significativa para o leitor, essas atividades precisam se conjugar e construir relações mais ou
menos coerentes, mais ou menos eficazes, mais ou menos compreensíveis para o leitor. Segundo Angélica Soares (2000, p. 26), “no texto lírico, os recursos sonoros e de significação se aliam de tal forma, que
se cria uma unidade”. Essa unidade justifica o fato de que é possível analisar os recursos sonoros para
melhor compreensão do poema e para melhor compreensão da técnica e do talento do poeta.
O mesmo entendimento do papel representado pelo ritmo e pelo significado é apontado por Norma Goldstein, acentuando a atuação do leitor, nele distinguindo diferentes qualidades de acordo com
sua capacidade de trabalhar isolada ou conjuntamente com os elementos sonoros e de significação:
“O leitor comum perceberá o ritmo poético isolado do significado, enquanto o leitor atento, treinado
a ouvir, poderá captar no poema o ritmo e o significado como uma unidade indissolúvel.” (GOLDSTEIN,
2006, p. 12). Na medida em que observamos, analisamos e relacionamos os diferentes usos dos recursos
sonoros e procuramos descobrir qual é a unidade que formam com o significado, o estudo desses recursos ganha importância e relevo para a compreensão e a avaliação da musicalidade de um poema.
Versos e ritmos
Etimologicamente a palavra verso deriva do latim versu[m], com o significado de virado, voltado
e, por extensão, o movimento de retorno para a linha seguinte depois que a anterior se concluiu. Habitualmente, associamos o verso a uma linha manuscrita ou impressa interrompida. Mas há versos que se
prolongam na linha seguinte, em um encadeamento de versos denominado enjambement ou encadeamento. Observemos um fragmento de poema de Rainer Maria Rilke (2002, p. 31):
IX
Só quem ousou tocar a lira,
mesmo na escuridão,
sente o quanto inspira
infinda louvação.
[...]
Somente no reino vago
as vozes são curvas
eternas e puras.
Descobrimos que o primeiro verso/linha tem uma subunidade de sentido − “Só quem ousou tocar a lira” −, assim como o verso/linha seguinte. Mas o terceiro não se completa nele mesmo − “sente o
quanto inspira” − e precisa encadear-se com o seguinte. Temos um caso de encadeamento que se justifica pela semântica. Mais claramente se verifica essa incompletude do verso e a necessidade de encadear-se com os seguintes na segunda estrofe citada: o segundo e o terceiro versos – “as vozes são curvas/
eternas e puras” − estão em uma relação de completa dependência. Há gradação nessa dependência: o
terceiro verso da estrofe está mais ligado ao segundo do que este ao primeiro. A diferença de grau não
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
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interfere na denominação de encadeamento para os dois versos em relação ao primeiro − “Somente no
reino vago” − dessa segunda estrofe.
O verso segue algumas regras e normas relativas ao modo como se organiza e como é medida sua
extensão, bem como a relação que mantém na estrofe e no poema. As regras e normas que medem
sua extensão e sua organização se denominam métrica (do grego métron = “medida”).
Sistema quantitativo
Na Antiguidade clássica, o verso era medido pelo número de pés, e esses pés obedeciam ao critério quantitativo de tempo despendido na enunciação das sílabas. As línguas clássicas (grego antigo e
latim) possuíam palavras que alternavam sílabas longas e sílabas breves, isto é, sua enunciação levava
mais ou menos tempo. A indicação desse tempo era dada por sinais gráficos: sílaba longa, pelo sinal / − /
e sílaba breve, pelo sinal /∪/. Os pés eram, portanto, medidas que identificavam na palavra e no grupo
de palavras as sequências de tempo da enunciação. Os principais pés métricos do sistema quantitativo
eram conforme o quadro abaixo:
Uma breve e uma longa
/∪−/
Pé jâmbico
Uma longa e uma breve
/−∪/
Pé trocaico ou troqueu
Duas longas
/−−/
Pé espondeu
Uma longa e duas breves
/−∪∪/
Pé dátilo
Duas breves e uma longa
/∪∪−/
Pé anapesto ou anapéstico
Esse modo de distribuir o tempo da elocução das palavras desapareceu na passagem para as
línguas modernas, mas não desapareceu, porém, da crítica literária e da análise de poemas – que, com
frequência, costumam qualificar o ritmo de alguns versos como jâmbicos, ou trocaicos, ou espondaicos
e por aí afora.
Sistema de intensidade
As línguas modernas não têm mais esse sistema quantitativo (longas e breves) para medir os versos: elas usam o sistema de intensidade, isto é, o de acentuação tônica, alternando sílabas átonas e
tônicas. Por isso se diz que nosso sistema é silábico-acentual.
Na verdade, um sistema influencia o outro. Certas épocas são rígidas, impondo regras de composição aos escritores.
Outras são menos rigorosas, permitindo ao escritor a liberdade de compor independentemente de regras. Encontramos grandes poetas tanto entre os que seguiram, quanto entre os que aboliram as regras. (GOLDSTEIN, 2006, p. 19)
Para conhecer como funciona esse sistema em língua portuguesa, convém esclarecer algumas
pequenas regras da escansão1. As sílabas métricas não correspondem exatamente à divisão das sílabas
gramaticais. Por exemplo, ao final de cada verso, a última palavra terá contadas as suas sílabas somente
até a sílaba tônica. No verso “Minha terra tem palmeiras” conta-se até “-mei-” (o que dará mi/nha/terr/a/
1 Escansão é a técnica de decompor o verso em seus elementos fundamentais (MOISÉS, 1997, p. 196).
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
tem/pal/mei- 7 sílabas métricas). Outra alteração das sílabas gramaticais se dá quando ocorre ou uma
elisão ou sinérese ou diérese ou hiato.2
O verso é formado por sílabas métricas, que formam o ritmo. O número dessas sílabas totais varia
de 1 a 12. Os versos que ultrapassam esse número são compostos pelos anteriores, por exemplo, um
verso de 17 sílabas métricas seria composto de 10 e 7 ou de 9 e 8. Os versos até 12 sílabas são considerados regulares.
O esquema rítmico (ER) contém acentuação variada a partir dos versos com três sílabas. Essa variação estará de acordo com as tendências da versificação em língua portuguesa e atende a critérios
de ordem semântica: para acentuar tal ou qual ideia, muda-se a acentuação do ER para fins de efeito
enfático, de intensificação do sentido. Antonio Candido esclarece (2004, p. 82):
Ao número de sílabas poéticas de um verso chama-se metro; ao número de segmentos rítmicos, chama-se ritmo. [...]
A alternância das sílabas em si nada significa, mas sim a alternância de tonicidade e atonicidade dentro de grupos
silábicos que formam unidades rítmicas. A constatação importante que devemos fazer agora é que cada metro ou
esquema silábico obtido pela reunião de sílabas poéticas pode ter vários correspondentes rítmicos. Assim, um verso
de dez sílabas pode ter as suas sílabas tônicas distribuídas de modo diverso, resultando em várias combinações de
ritmo. Por outras palavras, a um esquema silábico ou métrico constante – ES ou EM – correspondem esquemas rítmicos
variáveis – ER.
Em língua portuguesa, Norma Goldstein (2006, p. 35-36) aponta um quadro de esquemas silábicos (ES) e correspondentes esquemas rítmicos (ER), com acréscimos nossos.
Número de sílabas
poéticas ES
Sílabas acentuadas
ER
1
1
monossílabo
2
2
dissílabo
3
3
1e3
trissílabo
4
1e4
2e4
tetrassílabo
5
2e5
3e5
1, 3 e 5
pentassílabo ou
redondilha menor
6
3e6
2e6
2, 4 e 6
1, 4 e 6
hexassílabo
7
Qualquer sílaba e a última
Nome do verso
heptassílabo ou
redondilha maior
2 A elisão resulta da fusão de vogais no encontro de duas palavras (a expressão “do interior” passa a ser contado “do+ in/te/rior”, 3 sílabas).
A sinérese é a junção de vogais no interior de uma palavra (“saudade” passa a ser sau/da/de).
A diérese é a separação de vogais juntas no interior de uma palavra (“branquear” é lida como branque +ar).
O hiato é a separação de vogais em palavras lado a lado: no verso da poeta Florbela Espanca: “Ó Anto! Eu adoro os teus estranhos versos” temos
a métrica “Ó+An/ to!+eu/ a/do/ro+os/teus/es/tra/nhos/ver...” , temos um verso de 10 sílabas métricas (MOISÉS, 1997, p. 198-199).
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
Número de sílabas
poéticas ES
Sílabas acentuadas
ER
8
4e8
2, 6 e 8
3, 5 e 8
2, 5 e 8
4e9
9
3, 6 e 9
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Nome do verso
octossílabo
eneassílabo
10
6 e 10
4, 8 e 10
11
5 e 11
2, 5, 8 e 11
2, 4, 6 e 11
endecassílabo
12
6 e 12
4, 8 e 12
4, 6, 8 e 12
dodecassílabo ou
alexandrino
decassílabo
Como se verifica a funcionalidade desse quadro? Pelos efeitos rítmicos, semânticos e estilísticos
resultantes da escolha por um ou outro desses metros. As épocas históricas, a preferência por determinadas formas fixas e as intenções dos poetas dão unidade ao poema e o valorizam formal e esteticamente.
Exemplo de poema com verso de uma sílaba:
É um metro raro para compor todo um poema. Aparece mais na literatura moderna e atual em
estrofes com metros variados, provocando sempre um efeito surpreendente pela saliência que dá ao
significado.
Norma Goldstein encontrou um belo exemplo em Cassiano Ricardo:
Rua
torta.
Lua
morta.
Tua
porta.
(RICARDO apud GOLDSTEIN, 2006, p. 20)
Exemplo de poema com versos de duas sílabas:
amor
humor
(ANDRADE, 1972, p. 95)
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
Esse poema de Oswald de Andrade representa muito bem duas fases de sua poesia: a síntese e o
humor. É um poema-piada que, no entanto, trata das possíveis faces do amor. O trocadilho criado pela
rima aproxima as duas palavras e as faz equivalerem em uma unidade de sentido: a de que o amor é alegre, mas por vezes ridículo. Essa significação nasce rapidamente, assim como é rápido todo o poema, inclusive sua métrica. Há total semelhança entre o número de sílabas gramaticais e o de sílabas métricas.
Exemplo de poema com versos de três sílabas:
Rosalina
(BANDEIRA, 1970, p. 309)
Rosalina.
Rosa ou Lina?
Lina ou Linda?
Flor ainda!
Flor purpúrea,
Mais singela
Que Adozinda:
Rosalina!
Rosalinda!
Além do belo jogo de palavras, com trocas sonoras bastante chamativas pelo uso constante da
vogal aguda -i-, percebemos a leveza do jogo do nome da mulher, acentuada sobretudo pela leveza do
ritmo rápido de versos em três sílabas métricas (Ro/sa /li.., Ro /sa+ou / Lin..., Li/ na+ou/ Lin..., Flor/a/ in...
etc.).
Exemplo de poema com versos de quatro sílabas:
Elisa
(ABREU, 1961, p. 293)
O rouxinol
que na balseira
do rio à beira,
canção fagueira
que tão bem soa,
cadente entoa
ao por do sol
e no arrebol
duma manhã
fresca e louçã; [...]
O movimento conferido pelo ritmo rápido e a regularidade do metro conferem ao texto ligeireza
e alegria (“fagueira”), cadência (“cadente”) e musicalidade (“que tão bem soa”). Ao esquema silábico
(ES 4) correspondem dois esquemas rítmicos (ER): 1-4 e 2-4.
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Exemplo de poema com versos de cinco sílabas:
Piscina
(BANDEIRA, 1970, p.175)
Que silêncio enorme!
Na piscina verde
Gorgoleja trépida
A água da carranca.
(ER 3,5)
(ER 3,5)
(ER 3,5)
(ER 1,5)
Só a lua se banha
– Lua gorda e branca – Na piscina verde.
Como a lua é branca!
(ER 3,5)
(ER 3,5)
(ER 3,5)
(ER 1,3,5)
Para o mesmo ES 5, temos três diferentes ritmos que indicam três alvos do olhar do poeta: a piscina, a carranca e a lua. O movimento do olhar que percebe a paisagem é o movimento do verso que se
altera para acompanhar esse olhar.
Exemplo de poema com versos de seis sílabas:
Isto
(PESSOA, 1965, p. 165)
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
(ER 1,4,6)
(ER 1,4,6)
(ER 1,4,6)
(ER 2,4,6)
(ER 2,4,6)
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda. [...]
(ER 1,4,6)
(ER 1,4,6)
(ER 1,4,6)
(ER 1,4,6)
(ER 1,4,6)
É possível verificar que em ES 6 a variação corresponde a alterações de sentido: ER 2, 4, 6 estão em
versos com a afirmação do imaginário e do inconsciente sobre o sentimento, negando uma poesia que
fosse exclusivamente sentimental ou fingidamente sentimental.
Exemplo de poema com versos de sete sílabas:
Lembrança
(ABREU, 1961, p. 203)
NUM ÁLBUM
Como o triste marinheiro
(ER 4, 7)
Deixa em terra uma lembrança, (ER 3, 7)
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
Levando n’alma a esperança
E a saudade que consome,
Assim nas folhas do álbum
Eu deixo meu pobre nome.
(ER 2, 4, 7)
(ER 3, 7)
(ER 2, 4, 7)
(ER 2, 5, 7)
E, se nas ondas da vida
Minha barca for fendida
E meu corpo espedaçado,
Ao ler o canto sentido
Do pobre nauta perdido
Teus lábios dirão – coitado!
(ER 2 ,4, 7)
(ER 3, 7)
(ER 3, 7)
(ER 2, 4, 7)
(ER 2, 4, 7)
(ER 2, 5, 7)
O verso de sete sílabas é o metro mais popular da língua portuguesa. Nele estão os versos da literatura de cordel, das quadrinhas, das cantigas, dos poemas sentimentais, das canções. A riqueza rítmica,
como se pode observar no exemplo acima, confere grande dinamicidade e variedade de efeitos.
Esse poema de Casimiro de Abreu foi escrito em junho de 1858, em um álbum de moça, tipo de
exercício poético até descompromissado e que atesta a popularidade desse ritmo.
Manuel Bandeira (1970, p. 193) tira um excelente efeito ao usar a redondilha maior, quebrando-a
em ER 3 em alguns versos do poema Belo belo:
Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto
Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida [...]
A quebra em quero quero intensifica não apenas a mudança de ritmo mas sobretudo a mudança
de sentido: do negativo para o desejo mais explícito. Isso mais uma vez comprova a função expressiva
que o poeta retira do uso da métrica.
Exemplo de poema com versos de oito sílabas:
Madrigal para as debutantes de 1946
(BANDEIRA, 1970, p. 333)
Outro, não eu, ó debutantes!
Cante as galas primaveris.
Que o meu estro de relutantes
Octossílabos já senis
Mais imagina do que diz
(ER 4, 8)
(ER 3, 8)
(ER 3, 8)
(ER 3, 8)
(ER 4, 8)
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O que nos primeiros instantes (ER 2, 5, 8)
Do amor e do sonho sentis. [...] (ER 2, 5, 8)
O poeta ironiza a si mesmo e a seu poema ao qualificar seus octossílabos já senis, mas tira poderosos efeitos da comparação entre sua idade e a juventude das debutantes. Além desse comentário de
ordem semântica, podemos verificar que a mudança rítmica acentua ao final os valores da juventude:
primeiros instantes, amor, sonho.
Exemplo de poema com versos de nove sílabas:
A tempestade
(GONÇALVES DIAS, 1988, p. 108)
[...]
E no túrgido ocaso se avista
(ER 3 ,6, 9)
Entre a cinza que o céu apolvilha
(ER 3, 6, 9)
Um clarão momentâneo que brilha, (ER 3, 6, 9)
Sem das nuvens o seio rasgar;
(ER 3, 6, 9)
Logo um raio cintila e mais outro,
(ER 3, 6, 9)
Ainda outro veloz, fascinante,
(ER 3, 6, 9)
Qual centelha que em rápido instante (ER 3, 6, 9)
Se converte d’incêndios em mar. [...] (ER 3, 6, 9)
Nesse poema, Gonçalves Dias exibe um belo trabalho com a diferente metrificação e seus efeitos.
O longo poema descreve uma tempestade, desde os primeiros sinais no céu até a devastação que causa
e o rastro de destruição que deixa. E, à medida que a tempestade se aproxima, o poema, que começa
com versos dissílabos, vai crescendo metricamente de estrofe a estrofe, atinge o grau máximo no endecassílabo, e finaliza no verso de duas sílabas, como começou. Esse movimento rítmico, que se amplia
de estrofe a estrofe, é um exemplo de virtuosismo poético, de grande efeito estético, fundindo sentido,
imagem e música.
Não se pode minimizar a extraordinária regularidade rítmica. Gonçalves Dias é um dos maiores
poetas brasileiros – pela emoção e pela musicalidade de seus versos.
Exemplo de poema com versos de dez sílabas:
É assim que vens
(JUNQUEIRA, 2005, p. 151)
É assim que vens, amor, surdo e traiçoeiro,
(ER 4, 6, 10)
Dizer-me a mim o que sequer me atrevo,
(ER 4, 6, 10)
Pois que ardem as palavras se as escrevo
(ER 2, 6, 10)
E logo se dissolvem no nevoeiro?
(ER 2, 6, 10)
É assim que vens, pé ante pé, no enlevo
(ER 4, 6, 10)
De quem flutua e corre mais ligeiro
(ER 4, 6, 10)
Que o vento nos beirais de algum mosteiro
(ER 2, 6, 10)
Em cujo claustro a prece é um travo e um trevo? [...] (ER 4, 8, 10)
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
O verso decassilábico foi o preferido dos poetas épicos e dos grandes sonetistas das línguas europeias. Muito maleável e rico em recursos métricos na divisão do verso, o decassílabo permite tanto o
transbordamento sentimental quanto a lógica dos pensamentos elevados e também argumentações
sobre a natureza do mundo e da humanidade. A alteração isolada do último verso citado expõe o núcleo
da reflexão do poeta: o amor é travo e trevo. O jogo de palavras tem a ver com as contradições do sentimento amoroso (“travo” e “trevo”). O claustro amoroso é lugar de prece e adoração, tal como o poeta se
comporta diante da ausência da amada, e para dizer dessa situação o ritmo se altera, diferenciando-se
este verso dos demais versos da estrofe citada.
Exemplo de poema com versos de 11 sílabas:
A tempestade
(GONÇALVES DIAS, 1988, p. 108)
[...]
Remexe-se a copa dos troncos altivos,
Transtorna-se, toda, baqueia também;
E o vento, que as rochas abala no cerro.
Os troncos enlaça nas asas de fero,
E atira-os raivoso dos montes além.
(RE 2, 5, 8, 11)
(RE 2, 5, 8, 11)
(RE 2, 5, 8, 11)
(RE 2, 5, 8, 11)
(RE 2, 5, 8, 11)
Novamente, podemos observar a regularidade rítmica dos versos de Gonçalves Dias. A presença
da tempestade é inexorável. A natureza é destruída de forma implacável: a tempestade mantém sua
regularidade e poder de destruição. Os versos mantêm a cadência.
Exemplo de poema com versos de 12 sílabas:
O anel de vidro
(BANDEIRA, 1970, p. 45)
Aquele pequenino anel que tu me deste,
(ER 6, 12)
– Ai de mim – era vidro e logo se quebrou...
(ER 6, 12)
Assim também o eterno amor que prometeste (ER 6, 8, 12)
– Eterno! Era bem pouco e cedo se acabou.
(ER 6, 12)
Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou – Aquele pequenino anel que tu me deste,
– Ai de mim – era vidro e logo se quebrou...[...]
(ER 4, 8, 12)
(ER 6, 12)
(ER 6, 12)
(ER 6, 12)
O verso dodecassílabo ou alexandrino3 era o preferido dos poetas clássicos e parnasianos. Sua
extensão casava com os assuntos sérios e épicos tratados nos poemas. Manuel Bandeira, no exemplo
citado, buscou opor-se aos parnasianos, dentro da linha de atuação do Modernismo brasileiro de 1922.
A marca dessa oposição pode ser verificada: o verso é o clássico, inclusive respeitando os ritmos clássicos para esse tamanho de verso, e, no entanto, a forma do poema e o tom de seu discurso partem de
uma cantiga infantil, para contradizer, pela intertextualidade, o verso solene parnasiano. Os versos que
apresentam ritmo diferenciado tratam intensivamente dessa fragilidade do anel e do amor.
3 O verso alexandrino, muito difundido na Idade Média, assim se denomina, provavelmente, porque procede do Romance de Alexandre, de
Lambert le Tort, Alexandre de Bernay e Pierre de Saint-Clouds.
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
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Cremos que se possa dizer, após a apresentação dos exemplos, que realmente o ritmo tem a
ver com a significação da palavra e do verso. Pode-se por vezes apenas metrificar, isto é, identificar as
sílabas e seus acentos, sem interpretar semanticamente. Mas para interpretar um poema será sempre
necessário associar a análise da métrica à relação que as palavras têm com significados e sentidos.
Os exemplos até aqui apresentados pertencem à categoria dos versos regulares, porque apresentam
identidade de esquema silábico – entre eles. Também são exemplos que se referem à poesia lógico-discursiva, que não busca se utilizar de recursos gráfico-visuais para a expressão das ideias.
No caso da poesia nãoverbal e da poesia visual, não se aplicam os esquemas aqui apresentados,
de vez que os textos têm a proposta de uma sintaxe e fraseologia específicas.
Versos e estrofes
A estrofe pode ser entendida como
cada uma das seções que constituem um poema, ou seja, cada agrupamento de versos, rimados ou não, com unidade
de conteúdo e de ritmo. [...] Pouco importa que o número e extensão dos versos variem totalmente: a estrofe instaura-se como uma soma de versos com sentido e melodia próprios, repetidos ou não ao longo do poema. (MOISÉS, 1997,
p. 207)
Número de versos
Nome da estrofe
um verso
monóstico
dois versos
dístico, parelha ou pareado
três versos
terceto ou trístico
quatro versos
quarteto, quadra ou tetrástico
cinco versos
quinteto, quintilha ou pentástico
seis versos
sexteto, sextilha ou hexástico
sete versos
sétima, septilha, septena, hepteto ou heptástico
oito versos
oitava ou octástico
nove versos
nona ou eneagésima
dez versos
décima, década ou decástico
(MOISÉS, 1997, p. 209-210; GOLDSTEIN, 2006, p. 39)
De acordo com o número de versos, as estrofes podem ser conforme o quadro a seguir:
O agrupamento dos versos em estrofes pode apresentar formato regular, o que significa que todas as estrofes de um poema têm o mesmo número de versos, ou pode ser constituído por um texto
que esteja construído com diferentes números de verso em cada estrofe. Essa distinção visa, ela também, a acompanhar a significação do texto ou o formato fixo determinado pela tradição. Neste último
caso, temos, por exemplo, o soneto, composto por duas quadras e dois tercetos. Também o numero de
estrofes varia de poema para poema.
Observemos o poema “XXXIII”, da obra Losango Cáqui, de Mário de Andrade (1987, p. 146):
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
Meu gozo profundo ante a manhã Sol
a vida carnaval...
Amigos
Amores
Risadas
Os piás imigrantes me rodeiam pedindo retratinhos
de artistas de cinema, desses que vêm nos maços de cigarros
Me sinto a Assunção, de Murillo!
Já estou livre da dor...
Mas todo vibro da alegria de viver.
Eis porque minha alma inda é impura.
A combinação de estrofes (uma oitava, um dístico e um verso isolado) dão ao poema uma dinamicidade própria: da autenticação do fato exterior, passando pela constatação da paz interior. Chegando à
conclusão metafísica do último verso, o poema se constrói em um movimento em direção ao abstrato.
A combinação de estrofes diferentes auxilia, portanto, na compreensão das ideias e do conceito de arte
expressos pelo poema.
Rimas e figuras de efeito sonoro
Segundo Norma Goldstein (2006, p. 44), “rima é o nome que se dá à repetição de sons semelhantes, ora no final de versos diferentes, ora no interior do mesmo verso, ora em posições variadas, criando
um parentesco fônico entre palavras presentes em dois ou mais versos”. Para Antonio Candido (2004,
p. 62), “a função principal da rima é criar a recorrência do som de modo marcante, estabelecendo uma
sonoridade contínua e nitidamente perceptível no poema”. E também sabemos sobre a rima, que ela é
um poderoso recurso mnemônico, isto é, serve de marca para facilitar a memorização.
Trata-se de recurso formal de amplas possibilidades expressivas, não apenas pelas diferentes
combinações, mas também pela utilização constante ao longo da história. Antonio Candido (2004,
p. 61-62) se refere rapidamente a essa importância histórica ao informar que
Toda a história do verso português se fez sob a égide da rima, embora desde o Renascimento haja voltado a prática
do verso branco dos clássicos latinos. [...] A rima apareceu nas literaturas latinas como consequência da decadência
da métrica quantitativa [...] O afrouxamento da métrica quantitativa deu lugar ao aparecimento de métrica rímica [da
rima], baseada na sucessão das sílabas, com acentos tônicos distribuídos em algumas delas. Não é necessário buscar a
sua origem em outros fatores, embora eles possam ter interferido, como a alegada influência da poesia árabe depois
da conquista da Península Ibérica. O fato é que desde o século IV e V da nossa era já se notava sua ocorrência no próprio latim. O fato acentuou-se à medida que decaiu a língua latina e se formaram as neolatinas. Tanto numa quanto
nas outras, ela foi usada na Idade Média. Já nos séculos XI e XII o seu uso era geral e desenvolvido nas românicas, e os
trovadores provençais foram os que a aperfeiçoaram e de certo modo a estabeleceram como recurso sine qua da poesia
em idioma vulgar.
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
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O funcionamento das rimas pode ser descrito por meio de sua classificação, que expomos
na sequência.4
Quanto à posição no verso
A rima pode ser interna quando o final de um verso rima com o interior do verso seguinte (alguns estudiosos chamam-na de rima encadeada); ou externa, que é a mais conhecida, a rima ao final
de cada verso.
Exemplo de rima interna: em Manuel Bandeira, no poema A dama branca, encontramos os versos
“Essa constância de anos a fio/ Sutil, captara-me” (BANDEIRA, 1970, p. 68). A rima fio/sutil se realiza, apesar das letras diferenciadas, porque o som é semelhante. O som final de um verso – fio – é retomado no
início do verso seguinte – sutil.
Exemplo de rima externa:
Madrigal
(BANDEIRA, 1970, p. 72)
A luz do sol bate na lua...
Bate na lua, cai no mar...
Do mar ascende à face tua...
Vem reluzir em teu olhar...
É a posição em que habitualmente lemos a rima: ao final do verso, com sonoridade semelhante
apenas a partir da vogal tônica da última palavra.
Quanto à semelhança de letras
A rima pode ser consoante quando apresenta semelhança de consoantes e vogais; e toante quando a semelhança é apenas entre vogais.
Exemplo de rima consoante:
Soneto italiano
(BANDEIRA, 1970, p. 160)
Frescura das sereias e do orvalho,
Graça dos brancos pés dos pequeninos,
Voz das manhãs cantando pelos sinos,
Rosa mais alta no mais alto galho.
4 Adotaremos nos exemplos, preferencialmente, a obra de um só poeta para demonstrar a riqueza de recursos que um artista do verso
mobiliza para construir seus textos. Escolhemos Manuel Bandeira por várias razões, e uma delas foi a profunda ligação de sua poesia com a
música e os efeitos que essa relação pode trazer para o enriquecimento dos poemas e o surgimento de muitos efeitos poéticos.
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
Exemplo de rimas toantes:
Maçã
(BANDEIRA, 1970, p. 157)
[...]
És vermelha como o amor divino
Dentro de ti em pequenas pevides
Palpita a vida prodigiosa
Infinitamente
E quedas tão simples
Ao lado de um talher
Num quarto pobre de hotel.
Vemos nesses versos um extraordinário trabalho de repetição sonora com rimas toantes, em que
as vogais - i -, - e - aparecem em variações sutis, criando sonoridades recorrentes e que estabelecem alto
grau de unidade sonora no poema.
Quanto à distribuição ao longo do poema
As rimas podem ser:
::: cruzadas ou alternadas, no esquema ABABAB;
::: emparelhadas ou geminadas, no esquema AA BB CC;
::: interpoladas ou intercaladas, no esquema ABBA ABBA;
::: misturadas.
Exemplo de rima cruzada ou alternada:
Poema de uma quarta-feira de cinzas
(BANDEIRA, 1970, p. 76)
Entre a turba grosseira e fútil
Um Pierrô doloroso passa.
Veste-o uma túnica inconsútil
Feita de sonho e de desgraça.
Exemplo de rima emparelhada ou geminada:
Pavilhão
(BANDEIRA, 1970, p. 461)
Muros altos de teu corpo.
Não havia entrada em teu horto.
(Que onda de asas ascendia!
Oh o que ali se passaria!)
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
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[...]
Tornaste a ficar fechada.
Não havia em tua alma entrada!
Exemplo de rima interpolada ou intercalada:
Epílogo
(BANDEIRA, 1970, p. 76)
Eu quis um dia, como Schumann, compor
Um Carnaval todo subjetivo:
Um carnaval em que o só motivo
Fosse o meu próprio ser interior...
Exemplo de rima misturada:
A menina idílio
(BANDEIRA, 1970, p. 460)
A verde terra em flor
Do cemitério novo
Te acolheu de manhã
Em seu coração fresco.
Quanto à categoria gramatical
Neste caso, as rimas podem ser pobres, quando rimam palavras da mesma categoria gramatical; e
ricas, quando a categoria gramatical é diferente.
Exemplo de rima rica e pobre:
Poema de uma quarta-feira de cinzas
(BANDEIRA, 1970, p. 76)
Entre a turba grosseira e fútil
Um Pierrô doloroso passa.
Veste-o uma túnica inconsútil
Feita de sonho e de desgraça.
Temos na rima fútil/ inconsútil dois adjetivos – é, portanto, rima pobre. Temos em passa um verbo
e em desgraça um substantivo – é, portanto, uma rima rica.
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
Quanto à extensão dos sons que rimam
Quando há identidade da vogal tônica em diante, denomina-se rima pobre. Quando há identidade
desde antes da vogal tônica, denomina-se rima rica.
Soneto inglês n.º 2
(BANDEIRA, 1970, p. 161-162)
Aceitar o castigo imerecido,
Não por fraqueza, mas por altivez.
No tormento mais fundo o teu gemido
Trocar num grito de ódio a quem o fez.
As delícias da carne e pensamento
Com que instinto da espécie nos engana
Sobpor ao generoso sentimento
De uma afeição mais simplesmente humana.
Não tremer de esperança nem de espanto.
Nada pedir nem desejar senão
A coragem de ser um novo santo
Sem fé num mundo além do mundo. E então,
Morrer sem uma lágrima, que a vida
Não vale a pena e a dor de ser vivida.
Podemos verificar nas rimas desse soneto a coincidência de letras/sons a partir da última vogal
tônica em altivez/fez, imerecido/gemido, engana/humana, espanto/santo, senão/então: são todas elas
rimas pobres, dada a semelhança integral entre elas. Já nos pares pensamento/sentimento e vida/vivida,
vemos que há coincidência nas letras/sons que antecedem a vogal tônica. Estas são rimas ricas.
Quanto à acentuação tônica
A rima pode ser aguda ou oxítona, quando a palavra final do verso é oxítona. A rima pode ser
grave ou paroxítona, quando a palavra final do verso é paroxítona. A rima pode ser esdrúxula ou proparoxítona, quando a palavra final é proparoxítona.
Exemplo de rima aguda ou oxítona:
Madrigal
(BANDEIRA, 1970, p. 72)
A luz do sol bate na lua...
Bate na lua, cai no mar...
Do mar ascende à face tua...
Vem reluzir em teu olhar...
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
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Exemplo de rima grave ou paroxítona:
Soneto italiano
(BANDEIRA, 1970, p. 160)
Frescura das sereias e do orvalho,
Graça dos brancos pés dos pequeninos,
Voz das manhãs cantando pelos sinos,
Rosa mais alta no mais alto galho.
Exemplo de rima esdrúxula ou proparoxítona:
O descante do arlequim
(BANDEIRA, 1970, p. 67)
[...]
E eu, vagabundo sem idade,
Contra a moral e contra os códigos,
Dar-te-ei entre os meus braços pródigos
Um momento de eternidade...
Além da rima, também podem ser apontados entre recursos sonoros alguns outros, conforme
a seguir.
Aliteração
Consiste na repetição de consoantes com finalidade expressiva.
Na messe que enloirece estremece a quermesse,
O sol, o celestial girassol, esmorece,
E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo a fina flor dos fenos.
(EUGÊNIO DE CASTRO apud CANDIDO, 2004, p. 41)
Os sons fricativos e sibilantes visam a um efeito de reprodução de sons e cores de um amarelo
competitivo entre o sol e as plantas.
Assonância
Consiste na repetição de vogais com finalidade expressiva.
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
Oração para aviadores
(BANDEIRA, 1970, p. 223)
Santa Clara , clareai
Estes ares.
Dai-nos ventos regulares,
De feição.
Estes mares, estes ares,
Clareai.
O significado de claridade é associado às vogais abertas, em especial a vogal a, em suas combinações ai e ão.
Repetição de palavras
A repetição de palavras não significa falta de vocabulário do poeta, mas o desejo de enfatizar
com nuances o que ele pensa expressar no poema. Há um acréscimo de significação a cada palavra
repetida.
Brisa
(BANDEIRA, 1970, p. 183)
Vamos viver no nordeste, Anarina.
[...] Aqui faz muito calor
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:
Vamos viver de brisa, Anarina.
Onomatopeia
Essa figura de linguagem visa reproduzir sonoridades do real, aproveitando-as para, em conjunto
com as demais palavras do verso, reforçar a expressão da ideia do poeta.
Os sinos
(BANDEIRA, 1970, p. 88)
[...]
Sino de Belém, pelos que ainda vêm!
Sino de Belém bate bem-bem-bem.
Sino da Paixão, pelos que lá vão!
Sino da Paixão bate bão-bão-bão.
Cremos que a exemplificação e as marcas de relevo adotadas mostraram, com minúcias, os recursos
e efeitos de sentido obtidos na construção de poemas que devem ser considerados pelo leitor para que
ele apreenda a riqueza estética de um texto poético.
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
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Texto complementar
O ritmo
(CANDIDO, 2004, p. 70-72)
Os elementos que compõem o verso são indissolúveis, e não podemos imaginar um sem o outro. Mas se tentássemos, por um esforço de abstração, imaginar quais os que funcionam com maior
importância na caracterização de um verso, chegaríamos provavelmente à conclusão de que é o
ritmo. Ele é a alma, a razão de ser do movimento sonoro, o esqueleto que ampara todo o significado.
Considerando isto, muitos chegaram à conclusão de que o ritmo seria uma espécie de manifestação, na arte, de realidades elementares da vida. A tradução de ritmos orgânicos, por exemplo; uma
vez que também a vida se manifesta basicamente por meio de ritmos: a pulsação cardíaca, o movimento respiratório, a marcha, o gesto. Sendo assim, o ritmo teria um fundamento biológico e estaria
ancorado na própria natureza. O verso corresponde, de fato, a uma certa realidade respiratória, que
se define antes de mais nada pela possibilidade de emitir a sucessão de sons em certas unidades de
emissão respiratória.
Para outros, o ritmo possuiria uma realidade marcada pela atividade social do homem. Teria,
por exemplo, nascido do trabalho – pois como todos sabem, o gesto produtivo é mais rápido, mais
duradouro e mais eficiente se for regular. Há uma acentuada economia de esforço e um aumento
de produtividade no gesto regular: o da enxada caindo em cadência, o do martelo batendo em
cadência. Do ângulo coletivo, é sabido que a regularidade do gesto não só permite mais eficácia,
mas é frequentemente condição para que o ato se realize. Assim, um grupo de homens levantando
um peso só o pode fazer se houver coordenação dos movimentos. O ritmo dá unidade ao grupo,
tornando eficiente o seu esforço e reforçando o sentimento de participação, de interdependência,
como requisito para as realizações. Inclusive o cansaço físico é diminuído, aumentando-se a capacidade de resistência.
Estes pontos de vista levam a duas atitudes opostas quanto à origem do ritmo: ou ele preexiste
à consciência do homem, pois já existe na própria natureza, inclusive nos movimentos fisiológicos;
ou ele é uma criação do homem, derivando das atividades sociais. No primeiro caso, o homem traduz pelos seus meios de expressão um fenômeno que é anterior e superior a ele. No segundo caso,
o homem cria um meio próprio de expressão, que é subordinado inteiramente a ele. Mais ainda: no
primeiro caso, o ritmo seria um fenômeno natural, embora esteticamente disciplinado; no segundo,
seria um fenômeno puramente estético, embora de ordem social.
Colocadas assim, de maneira extremada, as duas posições ficam insatisfatórias; mas se fosse
preciso decidir esquematicamente por uma ou outra, parece que a primeira teria mais razão de ser.
Com efeito, é inegável que, como realidade objetiva, o movimento rítmico preexiste a qualquer
sistematização. Mesmo o canto de certos pássaros ou o grito de certos animais se ordena numa
modulação rítmica – mostrando que antes do trabalho humano e sua influência como organizador
do gesto, a natureza conhecia o ritmo, e que o homem poderia tê-lo aprendido nessa fonte.
[...]
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
Com isso, ficamos de posse de algumas noções importantes: o ritmo é uma realidade profunda
da vida e da sociedade; quando o homem imprime ritmo à sua palavra, para obter efeito estético,
está criando um elemento que liga essa palavra ao mundo natural e social; está criando para esta
palavra uma eficácia equivalente à eficácia que o ritmo pode trazer ao gesto humano produtivo.
Ritmo é, portanto, elemento essencial à expressão estética nas artes da palavra, quando se trata
de versos, isto é, um tipo altamente concentrado e atuante da palavra. Ele permite criar a unidade
sonora na diversidade dos sons. [...]
Precisando a definição esboçada, digamos que:
O ritmo do verso nas línguas neolatinas é a sua divisão em partes mais acentuadas e partes menos
acentuadas que se sucedem, e a integração dessas partes numa unidade expressiva.
Atividades
1.
Leia a letra da canção Construção, de Chico Buarque (reproduzida seguir) e nela analise a
organização das rimas e os efeitos obtidos com o trabalho sobre as palavras. Escreva um pequeno
texto com seus comentários.
Construção
Chico Buarque
Amou daquela vez
Como se fosse a última
Beijou sua mulher
Como se fosse a última
E cada filho seu
Como se fosse o único
E atravessou a rua
Com seu passo tímido
Subiu a construção
Como se fosse máquina
Ergueu no patamar
Quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo
Num desenho mágico
Seus olhos embotados
De cimento e lágrima
Sentou pra descansar
Como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz
Como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou
Como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou
Como se ouvisse música
E tropeçou no céu
Como se fosse um bêbado
E flutuou no ar
Como se fosse um pássaro
E se acabou no chão
Feito um pacote flácido
Agonizou no meio
Do passeio público
Morreu na contramão
Atrapalhando o tráfego...
[...]
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
Amou daquela vez
Como se fosse máquina
Beijou sua mulher
Como se fosse lógico
Ergueu no patamar
Quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar
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Como se fosse um pássaro
E flutuou no ar
Como se fosse um príncipe
E se acabou no chão
Feito um pacote bêbado
Morreu na contramão
Atrapalhando o sábado...
(Disponível em: <www.letrasdemusica.com.br>. Acesso em: 30 out. 2007.)
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2.
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
Pesquise cantigas de roda, parlendas e cantos folclóricos (de ninar, de trabalho etc.) em sua
comunidade. Registre esses textos. Analise sua composição rítmica e rímica.
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
3.
| 139
Analise o soneto Língua Portuguesa, de Olavo Bilac, aplicando cada um dos recursos sonoros
tratados nesta aula. Redija um documento e discuta com seus colegas as ideias sobre língua
portuguesa e os recursos sonoros para a afirmação dessa ideias.
Língua portuguesa
Olavo Bilac
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
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140
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A linguagem poética: o ritmo e a rima
Gabarito
1.
::: A
canção de Chico Buarque está apoiada na maioria de rimas esdrúxulas e oxítonas. O aluno
deve apontar esse fato.
::: A
s rimas esdrúxulas são intercambiáveis e é possível obter mais de uma letra com a troca delas.
Cabe ao aluno apontar e valorizar esse jogo de substituição como traço inovador.
::: A
sonoridade dos versos é profundamente motivada. Há exemplos de assonância e aliteração.
O aluno deve apontar e dizer que efeitos são obtidos.
::: O
aluno deve levantar os esquemas rítmicos ER dos versos e verificar regularidade ou não deles, explicando-os.
2.
::: O
aluno irá pesquisar em sua comunidade o repertório cultural, realizando portanto um trabalho de integração sociocultural e histórica.
::: D
everá levantar o máximo de textos que puder e analisar apenas uma parcela deles – digamos
30 a 50% do material coletado.
::: D
eve analisar os textos. Vai descobrir a permanência dos mesmos procedimentos de ritmo
(versos de cinco e sete sílabas) e textos rimados em diferentes esquemas.
::: S e puder, deve registrar inclusive o modo como são cantados ou declamados por meio de
gravação em fita cassete, CD etc.
::: C
oncluirá pela absoluta convencionalidade dos textos e pode comparar com a cultura escrita,
mais erudita.
::: Pode organizar uma exposição ou trocar informações pela internet com seus colegas.
3.
::: O
aluno deve tratar do tipo de rimas e de ritmos, verso a verso, dos efeitos sonoros de aliteração e assonância, do formato do soneto e concluir pelo atendimento às normas de metrificação e de rima.
::: Verá que o que se diz sobre a língua portuguesa (“esplendor e sepultura”) se pratica no texto.
::: Pode comentar, expandindo a questão de ritmo e rima, o valor e o uso da língua nos dias atuais.
::: D
eve debater, trocando argumentos com os colegas, sobre a importância de falar, escrever e
poetar na língua portuguesa.
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Referências
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Marta Morais da Costa