XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 AVALIAÇÃO ELETROQUÍMICA DA INIBIÇÃO DE CORROSÃO EM AÇOCARBONO POR A. canelilla EM MEIO ÁCIDO Iuri Bezerra de Barros – [email protected] Hugo Zippinotti de Lima Moscoso – [email protected] Ivan Napoleão Bastos – [email protected] Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto Politécnico, 28.625-570 – Nova Friburgo, RJ, Brasil Valdir Florêncio da Veiga Junior – [email protected] Universidade Federal do Amazonas, Departamento de Química, 69077-000 – Manaus, AM, Brasil Resumo. Os produtos naturais têm se destacado como fontes promissoras de inibidores de corrosão. A eficiência de inibição por substâncias orgânicas está associada à presença de heteroátomos como oxigênio, nitrogênio, enxofre e fósforo, além da presença de elétrons . A espécie Aniba canelilla, pertencente à família Lauraceae, apresenta alcaloides dentre seus produtos metabólicos. Os alcaloides são potenciais inibidores de corrosão devido à presença de um átomo de nitrogênio em sua cadeia. Foi avaliado o poder de extratos de A. canelilla inibidor a corrosão de aço-carbono (UNS G10200) em ácido sulfúrico. Para atingir esse objetivo, foi monitorado o potencial de circuito aberto, seguido de espectroscopia de impedância eletroquímica e curvas de polarização anódica e catódica em soluções de ácido sulfúrico (1,0 mol L-1) com diferentes concentrações do extrato. Foi possível observar uma redução máxima na densidade de corrente de corrosão de 86,9% e um aumento na resistência a transferência de carga indicando uma inibição de corrosão de 76,0% para a concentração de 300 mg L-1. Palavras- chave: Inibidor verde, ácido sulfúrico, Lauraceae, corrosão 1. INTRODUÇÃO O uso de extratos vegetais como inibidores de corrosão ambientalmente amigáveis tem sido avaliado para diversos metais e ligas metálicas, expostos a diferentes meios corrosivos de interesse industrial. A eficiência de inibição está associada à presença de heteroátomos como oxigênio, nitrogênio, enxofre e fósforo e à estrutura eletrônica da molécula (de Barros et al., 2014, Gece, 2011, Pereira et al., 2012, Rani e Basu, 2012, Roberge, 1999). A família botânica Lauraceae é conhecida por apresentar entre seus metabólitos diversos alcaloides, classe de produtos naturais que tem como característica a presença de pelo menos um átomo nitrogênio em anel heterocíclico (Custódio e Veiga Junior, 2014). O efeito inibidor de corrosão por alcaloides já é bem documentado para alguns alcaloides isolados como a cafeína. Especificamente na família Lauraceae, extratos de Aniba rosaeodora foram avaliados quanto à sua capacidade de inibir a corrosão de aço-carbono em ácido clorídrico 1,0 M, permitindo atribuir a atividade protetora observada à presença do alcaloide anibina (Chevalier et al., 2014). A espécie Aniba canelilla (H.B.K.) Mez, popularmente conhecida como casca preciosa, apresenta ampla distribuição na região amazônica. Suas folhas, cascas e galhos finos são utilizados como tempero e para diversas finalidades na medicina popular. Seu odor XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 característico de canela é atribuído ao principal constituído de seu óleo essencial, o 1-nitro-2feniletano (Gottlieb e Magalhães, 1959, Gottlieb e Magalhães, 1960). Além deste composto nitrogenado presente em sua fração volátil, diversos alcaloides são relatados entre seus metabólitos (Oger et al., 1993). O presente trabalho visa avaliar a eficiência de inibição de corrosão em aço-carbono por extratos etanólico do caule de A. canelilla por meio de técnicas eletroquímicas em meio ácido sulfúrico 1,0 mol L-1 a 25 oC. 2. MATERIAL E MÉTODOS O caule de Aniba canelilla, seco à sombra, foi extraído em etanol empregando aparelho tipo Soxhlet. O solvente foi posteriormente concentrado em evaporador rotatório a pressão reduzida e armazenado em freezer (-4 °C) até a realização dos ensaios de inibição de corrosão. Na avaliação da inibição da corrosão por extratos etanólicos de A. canelilla foram empregados corpos de prova de aço-carbono UNS G10200 cilíndricos com área exposta de 0,32 cm2. Os corpos de prova utilizados foram previamente polidos com lixas d’água de granulometria 600. Os ensaios foram realizados em célula eletrolítica com capacidade de 200 mL contendo a solução de teste em banho termostatizado na temperatura de 25,0 ± 0,2 ⁰C em equipamento Tecnal TE-2005. Um eletrodo de platina foi utilizado como contra eletrodo, e como eletrodo de referência foi utilizado eletrodo de calomelano saturado (ECS). Um potenciostato Gamry ESA 410 foi empregado para monitorar o potencial de circuito aberto por 3.600 s, após esta estabilização a impedância eletroquímica (EIE) foi medida no potencial de corrosão, com varredura em frequência de 20 kHz a 5 mHz, com uma amostragem de 10 pontos por década, e amplitude do sinal de excitação de 8 mVrms. Logo após este ensaio, foi realizada a varredura de potencial com registro da corrente, com varredura ± 300 mV em torno do potencial de corrosão aplicando uma taxa de varredura de 1,0 mV s-1. Todos os ensaios foram realizados em triplicata. A técnica de polarização permite o cálculo da eficiência de inibição foi calculada a partir da equação: (1) onde é a densidade de corrente de corrosão na ausência do inibidor, e é a densidade de corrente de corrosão na presença do inibidor. A técnica de impedância eletroquímica possibilita o calculo da eficiência de inibição em função da resistência da troca de carga empregando a seguinte equação: (2) onde é a resistência de transferência de carga na ausência do inibidor, e resistência de transferência de carga na presença do inibidor. é a XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 apresenta as curvas de polarização mais representativas obtidas para o açocarbono em ácido sulfúrico, 1,0 mol L-1, com as diferentes concentrações de extrato etanólico do caule de A. canelilla a 25 °C. O potencial de circuito aberto foi medido após 3.600 s de exposição ao meio e os parâmetros eletroquímicos como potencial de corrosão ( Ecorr ), densidade de corrosão jcorr e as constantes anódicas (βa) e catódicas (βc) obtidas pela extrapolação da equação de Tafel encontram-se na Tabela 1. Figura 1: Curvas de polarização mais representativas obtidas para aço-carbono em ácido sulfúrico 1,0 mol L-1 na ausência e presença de extrato etanólico de Aniba canelilla nas concentrações 50, 100, 200 e 300 mgL-1 a 25 °C. Tabela 1: Parâmetros eletroquímicos obtidos pela extrapolação da equação de Tafel para açocarbono em ácido sulfúrico 1,0 mol L-1 na ausência e presença de extrato etanólico de Aniba canelilla nas concentrações 50, 100, 200 e 300 mg L-1. jcorr Ecorr βa Inibidor OCP Βc -1 -2 (mg L ) (mV/ECS) (mV/dec) (mV/dec) (mv/ECS) (µA cm ) 0 -538,1±3,6 -539,0±2,8 680,7±26,4 140,3±5,9 92,3±0,4 — 50 -511,2±2,7 -508,0±7,2 427,8±52,5 67,7±14,3 117,8±24,9 37,2±7,7 100 -523,32±1,2 -510,0±1,0 257,0±33,9 47,9±0,9 132,6±22,6 62,2±5,0 200 -520,7±1,5 -508,7±2,1 160,7±12,7 39,8±1,1 131,1±10,4 76,4±1,9 300 -533,43±8,3 -511,0±19,1 89,4±1,8 30,9±1,3 104,6±11,1 86,9±0,3 XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 Observando os dados expostos na Tabela 1 notamos uma diminuição na densidade de corrente de corrosão com o aumento da concentração do extrato de A. canelilla, indicando a presença de atividade inibidora neste extrato. Com o uso da Equação 1 foi possível determinar a eficiência de inibição de corrosão de 86,9 ± 0,3% para a concentração de 300 mg L-1 de extrato de a A. canelilla em meio de ácido sulfúrico 1,0 mol L-1. A Figura 2 apresenta o diagrama de Nyquist para o aço-carbono em ácido sulfúrico 1,0 mol L-1 na presença e na ausência do extrato etanólico do caule de A. canelilla a 25 °C. Nota-se que o poder de inibição só ocorre de modo relevante acima de 50 mg L-1, conforme se observa na Figura 2 Figura 2: Diagramas de Nyquist mais representativos obtidos no potencial de circuito aberto para aço-carbono em 1,0 mol L-1 na presença e na ausência do extrato de Aniba canelilla nas concentrações 50, 100, 200 e 300 mg L-1. Os espectros de impedância eletroquímicos obtidos foram analisados empregando circuito equivalente (Figura 3), no qual representa a resistência ôhmica da solução e representa a resistência à transferência de carga cujo valor é inversamente proporcional à taxa de corrosão (Gabrielli, 1998). O elemento de fase constante (CPE) é empregado no circuito em vez de um capacitor ideal para possibilitar um ajuste mais preciso dos dados experimentais (Orazem e Tribollet, 2008), haja vista que os dois parâmetros e podem ser ajustados para modelar com maior liberdade os espectros. XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 Figura 3: Circuito equivalente empregado ajustar os dados de espectroscopia de impedância eletroquímica de aço-carbono em ácido sulfúrico na presença e ausência do extrato etanólico de caule de Aniba canelilla. A capacitância da dupla camada, para um circuito incluindo um CPE é calculada pela seguinte equação: (3) onde é a frequência em que a parte imaginária da impedância é máxima. Os parâmetros obtidos pela análise dos espectros de impedância eletroquímica, incluindo , , e , estão listados na Tabela 2. Tabela 2: Parâmetros eletroquímicos obtidos pela EIE para aço-carbono em ácido sulfúrico 1 mol L-1 na ausência e presença de extrato etanólico do caule de Aniba canelilla nas concentrações de 50, 100, 200 e 300 mg L-1. Concentração Rct Q fmax Cdl α -1 2 -2 (mg L ) (Ohm.cm ) (µMhocm ) (Hz) (µF cm-2) 0 50 100 200 300 36,2±0,6 36,9±0,9 70,9±13,6 110,2±1,0 150,6±4,0 0,891±0,004 0,893±0,004 0,845±0,015 0,861±0,004 0,838±0,027 543,9±12,6 409,5±18,2 275,7±14,2 144,3±3,5 141,7±39,1 12,40 15,81 12,40 15,81 15,81 338,4±14,0 253,5±2,3 140,4±6,1 76,1±3,1 66,4±1,1 — 2,04±2,27 47,99±10,01 67,19±0,31 76,0±0,6 Foi observada uma relação direta entre a concentração do extrato de A. canelilla com a resistência de transferência de carga. Desta forma, observou-se uma eficiência de inibição, determinada empregando a equação 2, de 76,0 ± 0,6% para a concentração de 300 mg L-1 do extrato avaliado. Não foram realizados ensaios para identificar as substâncias responsáveis pela inibição observado no extrato de A. canelilla, entretanto esta atividade provavelmente está relacionada com os alcaloides produzidos por esta espécie(Oger et al., 1959; Custódio e Veiga Junior, 2014), como está amplamente documentado na literatura (Chevalier et al., 2014). Atualmente estão em curso ensaios de perda de massa para avaliar, além da eficiência de inibição, a estabilidade do inibidor com o tempo e a influência da temperatura na inibição. XVII Encontro de Modelagem Computacional V Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Petrópolis/RJ, Brasil. 15-17 out. 2014 4. CONCLUSÃO Nas curvas de polarização foi possível observar uma redução na densidade de corrente de corrosão com o aumento da concentração do extrato chegando a 86,9% na concentração máxima avaliada (300 mg L-1). Com o ensaio de impedância eletroquímica foi possível observar que a resistência de transferência de carga com o aumento da concentração do extrato indicou uma inibição de corrosão de 76,0%. Agradecimentos À CAPES, à FAPERJ e ao CNPq pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS Chevalier, M., Robert, F., Amusant, N., Traisnel, M., Roos, C., Lebrini, M. (2014) Enhanced corrosion resistance of mild steel in 1 m hydrochloric acid solution by alkaloids extract from Aniba rosaeodora plant: Electrochemical, phytochemical and XPS. Electrochemica Acta, 131, 96-105. Custódio, D. L., Veiga Junior, V. F. (2014) Lauraceae alkaloids. RCS Advances, 4, 21864-21890. de Barros, I. B., dos Santos, P. M., Veiga Junior, V. F., D'Elia, E., Bastos, I. N.The inhibitory action of Bauhinia purpurea extracts on the corrosion of carbon steel in sulfuric acid medium, submetido à Corrosion Science, 2014. Gabrielli, C. (1998) Identification of electrochemical processes by frequency response analysis. 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The Aniba canelilla species, belonging to the Lauraceae family, shows alkaloids among its metabolic products. The alkaloids are potential corrosion inhibitors due to the presence of a nitrogen atom in its chain. The mild steel (UNS G10200) corrosion inhibition of A. canelilla extracts in sulfuric acid was evaluated. To achieve this aim, open circuit potential was monitored, followed by electrochemical impedance spectroscopy and anodic curves and cathodic polarization in sulfuric acid solutions (1.0 mol L-1) with different concentrations of the extract. It was possible to observe a maximum reduction in the corrosion current density of 86.9% and an increase in resistance to charge transfer indicating corrosion inhibition of 76.0% at the concentration of 300 mg L-1. Keywords: Green inhibitor, sulfuric acid, Lauraceae, corrosion