MULHERES, BOLSA FAMÍLIA E MIGRAÇÃO: A REALIDADE DE CAXIAS DO SUL Vania Herédia1 Bruna Pandolfi2 Resumo: O Programa Bolsa Família é considerado um programa de transferência de renda, que atende indivíduos e famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade social, com foco na extrema pobreza. Nesse programa, as mulheres têm um papel central, pois elas são responsáveis pela titularidade do benefício. Diante disso, o trabalho objetiva conhecer o perfil das migrantes mulheres, que recebem o benefício do Programa Bolsa Família, no Município de Caxias do Sul-RS. O estudo, de natureza exploratória, utiliza os dados do Censo Demográfico do IBGE (2010) e os dados do Cadastro Único dos Programas Sociais do Governo Brasileiro da última década. Os dados apontam que trata-se de mulheres com baixa escolaridade, solteiras, em idade economicamente ativa e que não trabalham. Quanto à migração, 80,24% são naturais do Estado do Rio Grande do Sul. Quanto à migração interestadual corresponde a 12,78%, com destaque para os estados de Santa Catarina, do Paraná, de São Paulo e da Bahia. Esse programa representa um avanço na área social, principalmente ao conceder a titularidade às mulheres. Porém, é necessário ampliar os programas e serviços das políticas sociais para que seja possível atender as necessidades humanas básicas e não só as necessidades mais imediatas das pessoas em situação de pobreza. Palavras-chave: Migração. Mulheres. Bolsa Família. 1 Introdução Há alguns anos, o Núcleo de Pesquisa do Trabalho e Políticas Sociais da Universidade de Caxias do Sul (UCS), em parceria com o Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), vem debruçando-se a estudar as migrações contemporâneas. Diante disso, o presente estudo nasce da identificação da presença de mulheres migrantes no programa Bolsa Família, no Município de Caxias do Sul. O Programa Bolsa Família é um programa social vinculado à política social pública de Assistência Social, cujo órgão gestor, em nível nacional, é o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Esse programa, apesar dos benefícios que traz para a população vulnerável, recebe muitas críticas por parte da sociedade pelo desconhecimento das condicionalidades que o mesmo impõe e também pelos equívocos que parcelas da população têm frente às finalidades desse programa. O estudo desse fenômeno em Caxias do Sul deriva de outros estudos realizados anteriormente, e que mostram que o crescimento demográfico de Caxias atribui-se em grande parte ao fenômeno migratório que, historicamente, tem contribuído para a constituição da força de 1 Professora titular no curso de Sociologia da Universidade de Caxias do Sul. E-mail: [email protected] Acadêmica do curso de Serviço Social da Universidade de Caxias do Sul. Bolsista de Iniciação Científica do CNPq. Email: [email protected] 2 1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X trabalho desse município. Nesses estudos, identificou-se que a população que migra é dotada de uma série de vulnerabilidades, que não consegue atender no seu lugar de origem. Diante dessa constatação, pensou-se em realizar um estudo, a fim de conhecer as características dos usuários do programa Bolsa Família, para verificar se parte dos mesmos eram migrantes. A presença migratória faz parte da formação histórica de Caxias do Sul, que é considerada uma cidade média, localizada na Região Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul. Conforme dados do último Censo Demográfico, a cidade possuía 435.564 habitantes, e cresceu 20,85% entre 2000 e 2010, um percentual significativo, que demonstra a presença constante de migrações na cidade. Os dados do resultado geral da amostra do Censo de 2010 também apontam que 41,91% (182.523) dos habitantes não são naturais de Caxias do Sul. A economia caxiense centra-se na indústria de transformação, que gera 48,59% dos empregos formais. 3 O Pib per capita da cidade é de R$ 36.034. (FEE, 2010). Neste estudo, utiliza-se o conceito de migração, de Becker, que diz que “a migração pode ser definida como mobilidade espacial da população. Sendo um mecanismo de deslocamento populacional, reflete mudanças nas relações entre as pessoas (relações de produção) e entre essas e o seu ambiente físico”. (1997, p. 323). Este conceito está baseado na abordagem crítica que apresenta o enfoque histórico-estrutural das migrações. Esse enfoque surge a partir da década de 70, segundo Becker (1997), quando se passa a identificar a migração como mobilidade forçada pela necessidade de valorização do capital, resultado de um processo global de mudanças, na qual classes sociais se põem em movimento. O trabalhador é constantemente submetido ao capital e, para que isso seja possível, sua força de trabalho precisa ser “livre” e “móvel”, para tornar-se uma mercadoria. Os principais motivos para os deslocamentos populacionais são de origem socioeconômica, determinada pelo processo de acumulação. Dessa forma, este estudo de natureza exploratória utiliza os dados do Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e dos dados do Cadastro Único dos Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), para pesquisa realizada anteriormente. Os dados do Programa Bolsa Família são acessados através do CadÚnico. Para a realização da análise, foram selecionados responsáveis legais beneficiários do programa, que fossem do sexo feminino. O programa Bolsa Família concede à mulher à titularidade do benefício; por isso, sua presença é significativa no programa. No caso do Município de Caxias do Sul, dos dados fornecidos pelo 3 Dado de 1º de janeiro de 2013, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego. 2 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X MDS, com extração em agosto de 2010, o total de responsáveis legais pelo benefício era de 8.052 pessoas, sendo 94,91% (7.642) do sexo feminino e 5,09% (410) do sexo masculino. 2 O programa bolsa família O Programa Bolsa Família está vinculado à política social pública de Assistência Social. Até a Constituição Federal de 1988, a Assistência Social não era considerada política pública. É justamente com a promulgação da chamada Constituição Cidadã, que ela ganha importância e passa a integrar o tripé da Seguridade Social ao lado da Saúde e da Previdência Social. Na sequência, foram promulgadas normativas que garantem em lei a constituição da política pública de Assistência Social, tais como a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS-1993) e a Política Nacional de Assistência Social (PNAS-2004). Isso significa que essa política apresenta um passado recente de constituição. Além disso, a política de Assistência Social não pode ser dissociada do atual contexto social, regido pelo modelo neoliberal que prevê a redução de direitos e um Estado mínimo. O Programa Bolsa Família foi criado em outubro de 2003, mas é regulamentado pela Lei 10.836, de 9 de janeiro de 2004. Sua criação tem por finalidade unificar os programas sociais já existentes, como o Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio-Gás, entre outros. É considerado um programa de transferência de renda com condicionalidades, o qual atende indivíduos e famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade social, com foco na extrema pobreza. Os benefícios podem ser básicos ou variáveis, que se alteram conforme a situação de pobreza e o número de filhos (tanto crianças quanto adolescentes), com um repasse mensal de um valor em dinheiro. No caso do Município de Caxias do Sul, o valor médio recebido pelas famílias é de R$122,76 reais, correspondente ao pagamento do mês de março de 2013. Nesse mesmo período, o número de famílias beneficiadas era de 8.341. As condicionalidades têm um papel central dentro do Programa Bolsa Família, pois é o seu cumprimento que garante o recebimento do valor mensal. Estão relacionadas aos compromissos que as famílias beneficiárias assumem, ao aderirem ao programa. As condicionalidades exigidas são: de Educação, de Saúde e de Assistência Social. Na questão da educação, é necessário que as crianças e os adolescentes estejam devidamente matriculados e cumpram a frequência escolar estabelecida. Quanto à saúde, é necessário cumprir o cartão de vacinação, realizar o pré-natal em caso de gravidez e o acompanhamento da saúde da mãe e do bebê. Já as condicionalidades da assistência 3 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X social correspondem ao acompanhamento da frequência em serviços de convivência e fortalecimento de vínculos para crianças e jovens com histórico ou risco de trabalho infantil. A titularidade do benefício é concedida à mulher,4 que passa a ser a responsável legal pelo programa. Dentro dessa orientação, os programas brasileiros de transferência condicionada de renda veem as mulheres como foco prioritário, e até objeto, de suas intervenções com vistas ao combate à pobreza. A mulher, a partir de seus papéis na esfera doméstica ou de reprodução, tem sido, portanto, a interlocutora principal dessas ações, tanto como titular do benefício quanto no cumprimento das condicionalidades impostas. (MARIANO; CARLOTO, 2009, p. 901). Ao receber o cartão magnético com senha pessoal, as mulheres podem sacar o dinheiro. Com isso elas possuem autonomia de decisão sobre como empregar o valor. Mariano e Carloto também ressaltam que as mulheres têm autonomia para decidir sobre o uso do benefício, que, neste caso, marido/companheiro não interfere, e, como já relatado em outras pesquisas, o recurso é usado em gastos com melhoria das condições de alimentação, vestuário, lazer e material escolar dos filhos e melhorias para a casa: mobiliário, pequenas reformas, eletrodomésticos, etc. (CARLOTO; MARIANO, 2012, p. 269). A construção de autonomia na decisão sobre o destino do recurso é um ponto significativo para as mulheres, porém recai sobre elas também a responsabilidade de cumprimento das condicionalidades, já que quando não cumpridas acarretam no bloqueio e até cancelamento do recebimento do benefício. Essa imposição de condicionalidades nas áreas de Educação, Saúde e Assistência Social pode gerar, para as mulheres em situação de extrema pobreza, responsabilidades ou sobrecarga de obrigações relacionadas à reprodução social, impactando o tempo e o trabalho das mulheres, além de reforçar papéis tradicionais na esfera dos cuidados.(CARLOTO; MARIANO, 2012, p. 259). Ao reforçar esse papel de cuidado, as autoras apontam que o Programa Bolsa Família “desenvolve mecanismos que reforçam a tradicional associação da mulher com a maternidade e as tarefas pertencentes à clássica esfera reprodutiva”. (MARIANO; CARLOTO, 2009, p. 902). Isso contribui para reforçar um papel de gênero, que reitera a subalternidade. Como contraponto, as autoras trazem que o programa “teria mais contribuições a oferecer na luta pela redução das desigualdades se viesse a incorporar concepções mais críticas acerca dos papéis de gênero”. (MARIANO; CARLOTO, 2009, p. 907). Assim, por um lado, o Programa Bolsa Família dá autonomia às mulheres ao possibilitar a elas a decisão sobre como utilizar o benefício. Por outro lado, ainda está muito presente o reforço de papéis tradicionais destinados às mulheres, como o cuidado com a casa e com os filhos. 4 Em caso de sua ausência, os homens assumem essa função. 4 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X O Programa Bolsa Família também está relacionado a situações de vulnerabilidade. As vulnerabilidades sociais consistem numa expressão nova, que vem ganhando ênfase nos últimos anos para as políticas sociais. A Política Nacional de Assistência Social de 2004 (BRASIL, 2004) estabelece como seu público usuário as pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade social e risco, porém não traz o conceito que explicita essa expressão. Na literatura estrangeira, Busso (2001) aponta que a vulnerabilidade social estaria relacionada aos ativos físicos, financeiros, humanos e sociais que os indivíduos e os lugares possuem, assim como as estratégias de uso e o conjunto de oportunidades. Esse autor também afirma que a vulnerabilidade social é um processo multidimensional, que está relacionado ao risco ou à probabilidade. Nessa linha, os usuários do Programa Bolsa Família são pessoas em situação de vulnerabilidade pela condição de pobreza em que se encontram, ou seja, os ativos que possuem não são suficientes para garantir a sua sobrevivência. 3 Mulheres e migrações Das mulheres beneficiadas pelo Programa Bolsa Família, 88,35% estão na faixa etária dos 20 aos 50 anos. Mesmo estando na idade economicamente ativa, 45,01% não trabalham. Normalmente, por essas mulheres serem responsáveis pelo cuidado dos filhos e da casa, isso as impossibilita de exercerem atividade no mercado de trabalho. Além disso, elas possuem escolaridade baixa, sendo que apenas 7,04% possuem Ensino Médio completo e apenas 10,04% possuem o Ensino Fundamental completo. Isso agrava a situação da maioria das mulheres que buscam vagas de emprego, pois a escolaridade é uma exigência mínima em vagas de trabalho. Quanto ao estado civil, chama a atenção o elevado número de mulheres solteiras 49,94%. Esse dado pode indicar que elas assumem, como chefes de família, a responsabilidade dos filhos, sem a presença do pai das crianças. No domicílio dessas mulheres, 87,96% residem com até cinco pessoas. Isso se contrapõe à concepção do senso comum, que caracteriza essas famílias como “numerosas”, com muitos filhos. No que se refere às características gerais dos domicílios, 95,16% estão localizados na zona urbana. Esse dado está em consonância com os dados do IBGE, que apontam que a população do Município está concentrada na cidade, ou seja, segundo o último censo do IBGE, o município de Caxias possui 96% de população urbana e 4% rural. A situação do domicílio é própria em 40,91% dos casos. Porém, cabe uma ressalva, que também é feita por Costanzi e Fagundes (2010), de que esses domicílios próprios, em muitos dos casos, são precários, não garantindo condições adequadas 5 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X de moradia. As residências são construídas com tijolo/alvenaria em 49,44% ou em madeira em 49,09% dos casos. Por ser uma região com um inverno muito rigoroso, as casas construídas com madeira acabam por proteger menos do vento e do frio essas famílias. São residências em que também não há tratamento de água em 69,80% dos casos. No que se refere à naturalidade das mulheres titulares do Programa Bolsa Família em Caxias do Sul, identifica-se que 80,24% (6.132 mulheres) são naturais de municípios do próprio Rio Grande do Sul. Desse total, 46,89% não eram naturais de Caxias do Sul, o que pode indicar a presença de um processo migratório para a cidade. Os principais municípios de naturalidades dessas mulheres são: Vacaria, Bom Jesus, São Francisco de Paula, Lagoa Vermelha e Porto Alegre. Em relação aos outros estados brasileiros, como se pode observar no mapa 1, percebe-se que a naturalidade concentra-se principalmente nos estados vizinhos (Santa Catarina e Paraná), mas há também a presença cada vez mais frequente de pessoas provenientes de estados do Nordeste brasileiro, que, em períodos anteriores, não era tão comum devido, entre outros fatores, ao clima frio da região e às dificuldades de inserção no mercado de trabalho. 6 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X Constata-se que, de todas as regiões, há um predomínio da Região Sul, o que se justifica pelo número de migrantes do próprio estado. De Santa Catarina, os municípios destaques são: Lages, Anita Garibaldi e São Joaquim. Do Paraná são: Curitiba, Barracão e Dois Vizinhos. Das demais regiões destaca-se a presença de migrantes provenientes dos seguintes estados: São Paulo, Bahia, Ceará, Pará e Minas Gerais. Quanto à presença de estrangeiros, neste recorte consta no CadÚnico a presença de seis (0,08%) mulheres que recebem o benefício do Programa Bolsa Família. Esse baixo número deve-se, entre outros motivos, pela dificuldade que os estrangeiros têm de acessar a proteção social pública fora de seu país de origem, cabendo à sociedade civil e à Igreja, na maior parte dos casos, realizarem ações deste tipo. Esse é um dos aspectos ainda polêmicos, que precisam ser melhor discutidos, principalmente no caso de Caxias do Sul, que tem recebido desde 2010 um volume constante de migrantes internacionais (estrangeiros). 4 Considerações finais O estudo contribui para discutir o perfil dos usuários do Programa Bolsa Família e, ao mesmo tempo, esclarecer que um número considerável de beneficiários é natural do município e que a maioria dos que recebem o benefício é de origem gaúcha, o que permite desmitificar a visão de que todos os vulneráveis do município são migrantes. Essa primeira constatação aponta para entender que, independentemente do local de origem, o programa ajuda a minimizar a situação de extrema pobreza, sem resolver de fato as vulnerabilidades que essa população enfrenta para viver. Tem-se ciência de que o programa já é um passo para a superação da pobreza, mesmo que não consiga enfrentá-la nas suas causas. As vulnerabilidades da população que participa do Programa Bolsa Família são muitas para serem resolvidas apenas com a transferência de renda, mesmo que seja garantido o mínimo para sobreviver. Constata-se, portanto, a necessidade de ampliar as políticas sociais para atender essas demandas básicas da população em situação de pobreza, diminuindo as contradições provocadas pelo modelo econômico. Entretanto, é comum a explicação de que os problemas que o município possui são causados pelos migrantes. O estudo mostra o contrário: o acesso aos benefícios é feita por naturais; a população que se encontra em situação de pobreza se beneficia do programa e as vulnerabilidades atingem naturais e não naturais. O estudo contribui ainda para discutir o perfil das mulheres responsáveis legais pelo benefício do Programa Bolsa Família. Com a constituição desse perfil, é possível subsidiar os programas e as políticas que atendem essa população no Município de Caxias 7 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X do Sul, principalmente através da identificação das vulnerabilidades sociais apresentadas, tais como: baixa escolaridade, sem renda ou baixa renda e precariedade habitacional. Por meio do presente estudo, também foi possível apontar que, ao conceder às mulheres a titularidade do benefício, o Programa Bolsa Família promove a autonomia delas quanto à decisão de como empregar o dinheiro, mas também reforça sobre elas os papéis tradicionais de reprodução social, maternidade e cuidado em relação aos filhos. Assim, elas são as responsáveis pela garantia do cumprimento das condicionalidades, caso contrário, o benefício pode ser bloqueado ou até cancelado. O Programa Bolsa Família representa um avanço social dos últimos anos. Porém, contribui para minimizar a situação de extrema pobreza, sem resolver de fato as vulnerabilidades que essa população possui e sem promover a superação dessa situação, pois os valores repassados são mínimos. Tem-se clareza de que o programa já é um passo para a superação da pobreza, mesmo que não consiga enfrentá-la nas suas causas e só a longo prazo será possível identificar com mais clareza seus resultados, principalmente em relação às crianças e aos adolescentes. Assim, diante de um contexto neoliberal, em que os programas sociais são focalizados na extrema pobreza, reforçase a necessidade de mais estudos sobre essa temática, a fim de que as discussões tenham mais força teórica e possam contribuir para subsidiar políticas sociais que contribuam para a superação da pobreza e não só a extrema pobreza. Referências BECKER, Olga Maria Schild. Mobilidade espacial da população: conceitos, tipologia, contextos. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.). Explorações geográficas: percursos no fim do século. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. BRASIL. Política Nacional de Assistência Social. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2004. BUSSO, G. Vulnerabilidad social: nociones e implicancias de políticas para Latinoamérica a inicio Del siglo XXI. In: CEPAL. Seminario de las diferentes expresiones de la vulnerabilidad social en América Latina y el Caribe. Santiago de Chile: Cepal, 2001. CARLOTO, Cássia Maria; MARIANO, Silvana Aparecida. Empoderamento, trabalho e cuidados: mulheres no programa bolsa família. Textos & Contextos, Porto Alegre, v. 11, n. 2, p. 258-272, ago./dez. 2012. CENSO DEMOGRÁFICO 2010. Características gerais da população. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. 8 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X COSTANZI, Rogério Nagamine; FAGUNDES, Flávio. Perfil dos beneficiários do programa Bolsa Família. In: CASTRO, Jorge Abrahão de; MODESTO, Lúcia (Org.). Bolsa família 2003-2010: avanços e desafios. Brasília: Ipea, 2010. p. 249-268. FEE. Pib per capita de Caxias do Sul (2010). Disponível em:<http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/resumo/pg_municipios_detalhe.php?municipio=Caxi as+do+Sul>. Acesso em: 24 jun. 2013. MARIANO, Silvana Aparecida; CARLOTO, Cássia Maria. Gênero e combate à pobreza: Programa Bolsa Família. Revista de Estudos Feministas, Florianópolis, v. 17, n. 3, p. 901-908, 2009. PEREIRA, Potyara A. P. Necessidades humanas: subsídios à crítica dos mínimos sociais. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2011. Women, “Bolsa Família” grant and migration: the scenario in Caxias do Sul Abstract: Bolsa Família grant is an income transfer program which serves individuals and their families who are in a situation of social vulnerability, specially focusing on extreme poverty. In this program women have a central role, because they are the holders of the benefaction. In view of that, this paper aims at getting to know the profile of women migrants who receive the Bolsa Família grant in the municipality of Caxias do Sul. The study, of an exploratory nature, uses data from the Demographic Center of the IBGE (2010) and the data of the Single Registry of Social Programs of the Brazilian Federal Government for the last decade. Data shows that these women are single, have low levels of education, in an economically active age group, and do not work. As for migration, 80.24% are from the state of Rio Grande do Sul. As for interstate migration, it makes up for 12.78% concerning the states of Santa Catarina, Paraná, São Paulo, and Bahia. This program consists of a major improvement in the social area, mainly because it allows women to be the holders. However, it is necessary to enlarge social policies programs and services so that it is possible to meet basic human needs and not only the most immediate needs of persons in a situation of poverty. Keywords: Migration. Women. Bolsa Família. 9 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X