inovação Lauro Vianna* 82 82 Revista Linha Direta Revista - Especial Linha Direta 15 anos - Especial 15 anos © Only67 / Photoxpress Os novos desafios e oportunidades da computação na área da educação E m que a perspectiva de uma desenvolvedora de tecnologia e fabricante de computadores poderia contribuir para as discussões de educadores, mais especificamente sobre o uso da tecnologia no ambiente escolar e no processo pedagógico? Quando a editora da Linha Direta convidou a Itautec a participar desta edição com um artigo, o convite nos pareceu um desafio. Mas, sim, podemos dar uma contribuição significativa a este debate, até porque temos contato intenso com clientes na área da educação. Ao prover a eles produtos e serviços, temos acesso às suas necessidades e percebemos os caminhos presentes envolvendo o tema. O que vemos é que o assunto se aproxima muito das discussões sobre inovação. Quando é que algo passa a ser considerado inovador? Seguramente, não é no momento da criação de uma invenção, mas quando ela alcança qualidade, escala e custos compatíveis para sua massificação. Vamos usar uma analogia: quando Santos Dumont provou, em 1907, que um veículo mais pesado que o ar podia voar, não estava preocupado com a massificação de seu invento. Sua geração de pesquisadores da aviação estava mais preocupada em promover avanços técnicos do que em criar novas formas de transporte. Curioso imaginar que Dumont foi pioneiro ainda na adoção do desenho típico de aeroplano (duas asas maiores à frente, duas menores atrás, os estabilizadores), também em 1907, ao criar o Demoiselle. Tamanho era o desprendimento do brasileiro que ele disponibilizava os planos do avião a quem quisesse fabricá-lo, o que levou à fabricação de pelo menos 40 unidades do aeroplano por diferentes oficinas, que Dumont, aliás, usava em passeios e visitas aos amigos nas imediações de Paris. Os anos seguintes viram a evolução progressiva da aviação, que já transportava passageiros, mas que era considerada por muitos uma verdadeira aventura. No entanto, podemos afirmar, sem grandes riscos, que a aviação comercial só começou para valer a partir da década de 1930, mais especificamente com o modelo de avião Douglas DC-3, um bimotor de uso civil que adotou melhorias em design e motores que deram a ele confiabilidade e custos operacionais que contribuíram para a disseminação do voo. Trazendo o mesmo raciocínio para a computação, é correto dizer que os primeiros computadores existem há mais de 50 anos, evoluindo num processo contínuo de melhorias. Mas o computador, como o conhecemos, com uma plataforma de hardware com progressos constantes (mas que compartilha uma arquitetura comum), amparado por um sistema operacional que utiliza interfaces gráficas, remonta aos anos de 1990, ou seja, uma invenção com cerca de 20 anos. Revista Linha Direta - Especial 15 anos 83 As incontáveis iterações sobre os computadores, associadas ao leque infinito de possibilidades criado pela internet e pela digitalização dos conteúdos, tudo isso, combinado com custos mais acessíveis, permitiu criar novas perspectivas pedagógicas que exploram a interação. E é esta a grande oportunidade que se coloca diante dos educadores: aproveitar a disponibilidade dos conteúdos, a agilidade e a interação para aproximar o processo de aprendizado da realidade dos estudantes. O computador na sala de aula é uma solução mágica? Claro que não. Mas, pensando na melhor apreensão dos conteúdos em aula, nas possibilidades de reforço escolar ou consulta a materiais de referência, na criação de modelos colaborativos, no trabalho em grupo, trazendo para a sala de aula a dinâmica das redes sociais, há muito por que se investigar sua adoção. É muito mais fácil entender conceitos abstratos de Matemática e Física com modelos computacionais, que melhoram de forma substancial a demonstração de conceitos ou cálculos complexos, usando elementos prosaicos, como a trajetória da bola após um chute, ou ainda as análises estatísticas que indicam no que um jogador ou time são melhores do que outros. Tudo bem que essas sedutoras possibilidades trazem consigo novos desafios. Como é que o educador, tendo de se preocupar com o desenvolvimento da aula, poderá evitar a dispersão? Existem formas, tecnicamente falando, de limitar as funcionalidades dos computadores em um ambiente (conexão à internet, e-mails ou mensagens instantâneas podem ser desabilitados para concentrar a atenção na aula), minimizando os problemas. Até aqui, falamos do que pode ser, nas condições ideais, a adoção do computador em sala de aula. Só que essa transformação também deve se estender ao educador. O professor já conseguiu incorporar a computação em seus próprios processos na sua totalidade? Um de nossos clientes relatou um caso curioso: um professor de uma grande rede de ensino paulista estava enfrentando problemas nos trabalhos escolares impres- 84 Revista Linha Direta - Especial 15 anos sos entregues por alunos. Notava o fenômeno do copy/paste a partir de fontes em geral ou da boa (já podemos dizer boa e velha?) Wikipédia. Pensou nos caminhos que teria pela frente. Pedir para que entregassem os trabalhos manuscritos, o que obrigaria os alunos pelo menos a ler o que copiavam? Optou por pedir que os alunos enviassem trabalhos digitalizados. Usando um aplicativo de comparação (que analisa o grau de similaridade de textos, de forma associada a ferramentas de busca), conseguiu mostrar aos alunos o quanto de texto era copiado de determinadas origens. Quando é que algo passa a ser considerado inovador? (...) não é no momento da criação de uma invenção, mas quando ela alcança qualidade, escala e custos compatíveis para sua massificação. Ao denunciar aos alunos o “copismo” desenfreado, fez a eles um novo desafio, passando a reestruturar os trabalhos escolares para que fossem mais expositivos. Para falar sobre os assuntos, os alunos precisavam dominá-lo melhor. Isso exigiu mais tempo de aula, mas os resultados foram melhores na apreensão dos conteúdos. Aqui, estamos falando de engajamento. Outro caso curioso, e recente, é o do professor Marcelo Coutinho, do curso de Relações Internacionais da UFRJ, que usou o Twitter para aplicar uma prova como forma de contornar a greve dos servidores, uma vez que ele não podia entrar nos prédios da faculdade por conta da paralisação. E nós, na Itautec, o que temos feito? Temos trabalhado na adequação de nossas linhas de produtos em computação, com a expansão na oferta de modelos de notebooks, netbooks, desktops (incluindo aí os chamados All-in-One, micros em que a CPU é integrada a uma tela sensível ao toque) e servidores. Esses últimos não são menos importantes dentro do ambiente educacional, pois fortalecem a retaguarda das escolas que precisam de robustez, performance e confiabilidade no armazenamento de seus dados e aplicações. Também temos trabalhado com a oferta de serviços de reparo e implementação de projetos, auxiliando as organizações educacionais na implantação e disponibilidade dessas tecnologias. Também dispomos de uma solução de gerenciamento de configuração que, associada a computadores desktop, facilita a vida de laboratórios de informática. Com esta tecnologia, todas as alterações feitas pelos alunos nos computadores (em aulas de programação ou outras atividades), dados baixados ou modificações nas configurações são zeradas com grande agilidade, facilitando a vida dos administradores dos laboratórios, que não precisam mais gastar um longo e precioso tempo reconfigurando os micros para uso por outra turma. Mas o que tem demandado especial cuidado é a oferta de modelos de notebooks que combinam a confiabilidade da marca Itautec aos benefícios da mobilidade, tudo isso com custos mais acessíveis. São produtos também direcionados a atender aos consumidores da classe C, que, num movimento extraordinário, ganham poder de compra e, ao consumir, investem em produtos que vão trazer a eles possibilidades de educação, entretenimento e trabalho, além, claro, de melhorar o desempenho escolar. E o que embutimos de diferente nesses computadores, além da qualidade inerente ao produto? Adaptações criadas pela equipe de desenvolvedores da Itautec junto com parceiros, as quais, em breve, vão incorporar conteúdos educacionais gratuitos em nossos computadores, e que serão estendidos aos poucos a toda a nossa linha de computação pessoal, permitindo fortalecer o preparo de estudantes de vários anos letivos. Por enquanto, é prematuro detalhar este importante projeto, que está em fase final de desenvolvimento, mas devemos ter novidades interessantes para os leitores da Linha Direta em breve. Por fim, não poderia falar de Itautec sem falar da nossa atuação, que combina tecnologia com sustentabilidade. Fomos pioneiros na fabricação, no Brasil, de computadores isentos de substâncias tóxicas ao meio ambiente e à saúde humana, entre os quais metais pesados, como o chumbo e o cádmio. Esse processo exigiu ampla mudança em nosso maquinário na fábrica da Itautec (não terceirizamos nossa produção), além de alterações na cadeia de fornecedores de componentes. Tivemos de, inclusive, elaborar uma nova liga de solda à base de cobre, estanho e prata, para substituir a liga anterior, que usava o chumbo, tudo isso para adequar nossos computadores a rigorosos requisitos ambientais. Além disso, a Itautec mantém parcerias com os principais desenvolvedores de tecnologias de computação, como Microsoft, Intel, AMD e Landesk, apenas para citar alguns, sempre no sentido de prover aos nossos clientes finais a melhor tecnologia. E, ao empregar brasileiros no desenvolvimento de inovações, na fabricação de produtos e na prestação de serviços, podemos dizer que a Itautec, no processo de procurar fazer o melhor computador do Brasil, acaba trabalhando também para fazer o melhor computador para o Brasil: feito por brasileiros e para brasileiros. Para finalizar, gostaria de dar uma dica aos professores para acabar com uma artimanha usada pelos estudantes. Muitas vezes, ao entregar trabalhos digitalizados com prazos restritos, pegam um arquivo genérico, digamos, uma foto, e alteram sua extensão de .jpg para .doc. Ao tentar abrir este arquivo como texto, o computador pode lê-lo como arquivo corrompido. Isso implica que o professor teria de avisar que o arquivo estava com problema, o que daria ao aluno um dia ou mais para entregar o trabalho real. Quer acabar com essa farra? Exija que o aluno envie sempre o trabalho no corpo do texto de um e-mail. Aí ele não terá como escapar... A todos os leitores da Linha Direta, boas aulas! *Diretor comercial de Computação Corporativa da Itautec www.itautec.com.br Revista Linha Direta - Especial 15 anos 85