NÚMERO DE PASSOS POR DIA E COLESTEROL TOTAL: ESTUDO ASSOCIATIVO
EM ADOLESCENTES DE URUGUAIANA/RS
Autores: Mauren Lúcia de Araújo Bergmann(1) & Gabriel Gustavo Bergmann(1).
Instituição: (1)Universidade Federal do Pampa.
Email: [email protected]
Tema: Outros
Palavras-Chave: Colesterol; Atividade Motora; Estudantes.
Resumo
O objetivo deste estudo foi verificar se existe associação entre o número de passos/dia e o
colesterol total (CT) aumentado em adolescentes de Uruguaiana/RS. Participaram deste estudo
1.045 escolares de 11 a 17 anos. O número de passos/dia foi medido com a utilização de
pedômetros e o CT com monitor portátil. Os resultados indicaram que o número de passos/dia
está inversamente associado a maior probabilidade dos adolescentes apresentarem CT
aumentado.
Palavras-chave: colesterol, atividade motora, estudantes.
Introdução
O aumento na prevalência da obesidade em crianças e adolescentes permite estimar que
anormalidades metabólicas isoladas sejam cada vez mais prevalentes nesta faixa etária1. Em via
oposta, a atividade física (AF) regular é fortemente correlacionada com efeitos benéficos para a
saúde cardiovascular, metabólica, musculoesquelética e, notadamente, representa um importante
caminho para a prevenção da obesidade nestas etapas da vida2. Assim, atender às
recomendações de prática de AF na adolescência pode representar um fator de proteção por toda
a vida, visto que este comportamento apresenta certa estabilidade dos anos da infância e
adolescência para a idade adulta3. O número de passos diários, coletados através do uso do
pedômetro tornou-se uma maneira objetiva de medir a AF, uma vez que este instrumento
apresenta validade e reprodutibilidade aceitáveis para a essa quantificação, principalmente entre
os jovens4.
O conhecimento de fatores associados à inatividade física implica no trato das
consequências à saúde a curto, médio e longo prazo. Desta forma, o objetivo deste estudo foi
verificar se existe associação entre o número de passos/dia e colesterol total (CT) aumentado em
adolescentes de Uruguaiana/RS.
Métodos
A amostra do estudo foi composta por escolares de 11 a 17 anos das redes de ensino
privada e pública do município de Uruguaiana/RS. O cálculo do tamanho da amostra envolveu
os seguintes critérios: a) população estimada de 15.913 escolares desta faixa etária de acordo
com informações censo escolar 20115 e dos representantes das direções das escolas privadas do
município; b) prevalência média de 50% por se tratar de um projeto com múltiplos desfechos; c)
intervalo de confiança de 95% (IC95%); d) erro amostral de 3 pontos percentuais; e) acréscimo
de mais 15% para suprir possíveis perdas e recusas. Estes critérios indicaram a necessidade de
avaliar 1.151 escolares.
Cinco escolas foram selecionadas. Quatro urbanas, sendo três públicas e uma privada, e
uma rural (pública). Todos os alunos das turmas do sexto ano do ensino fundamental ao terceiro
ano do ensino médio foram convidados a participar do estudo. A referida pesquisa teve seu
projeto analisado e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa com seres humanos da
Universidade Federal do Pampa (registro CEP: 176.951).
As variáveis utilizadas para a realização deste estudo foram o sexo (masculino e
feminino), a idade, nível socioeconômico e o número de passos/dia e o CT. O nível
socioeconômico foi medido utilizando o Critério de Classificação Econômica Brasil6. O escore
disponibilizado pelo instrumento foi dividido em tercis. O número de passos/dia foi medido
com a utilização de pedômetros (Yamax Digi-Walker CW 700). Cada indivíduo utilizou um
pedômetro durante três dias consecutivos da semana. Os escolares foram instrumentalizados em
relação ao adequado procedimento de uso do equipamento. O número de passos/dia foi
considerado a partir da média do número de passos do segundo e do terceiro dia. Para a análise
dos dados os resultados, considerando sexo, foram divididos em tercis.
O CT foi obtido mediante utilização de monitor portátil (Accutrend Plus, Roche
Diagnostics). Não foi exigido que os escolares estivessem em jejum já que o CT não apresenta
variação significativa com o indivíduo estando ou não em jejum7. A utilização desta forma de
medida do colesterol total (monitor portátil) e deste procedimento (não jejum) foi utilizada em
campanha no Brasil, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia em mais de 81 mil indivíduos 8.
Foi considerado CT “desejável” valores menores que 150 mg/dl, CT “limítrofe” valores entre
150 e 170 mg/dl e CT “aumentado” valores iguais ou maiores que 170 mg/dl, de acordo com a
V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose7. Para as análises, as
categorias “limítrofe” e “aumentado” foram agrupadas e consideradas “aumentado”.
Para o tratamento dos dados, primeiramente foram utilizadas estatísticas descritivas
referentes às frequências absolutas e relativas à classificação do CT. Para identificar a
associação entre os tercis do número de passos/dia e a classificação do CT foi utilizado o teste
Qui-quadrado para tendência. Para testar as associações entre as duas variáveis ajustadas para o
sexo, idade e nível socioeconômico foi utilizada a regressão logística binária. Para todas as
análises foi considerado um nível de significância de 5%. Os procedimentos estatísticos foram
realizados no programa SPSS versão 20.0.
Resultados e Discussão
Um total de 1.045 adolescentes compôs a amostra (51,7% do sexo feminino). A
prevalência de CT aumentado foi de 8,2% (IC95%: 6,5-9,9). A frequência de adolescentes com
CT aumentado diminui à medida que o tercil relativo ao número de passos/dia aumenta
(p<0,05). Quando estratificados por sexo, esta associação perde significância para os rapazes,
mas se mantém para as moças (Tabela 1).
Tabela 1. Frequência de adolescentes com colesterol total aumentado segundo o número de
passos por dia. Uruguaiana/RS, 2012.
Tercil
Toda amostra
Sexo masculino
Sexo feminino
CT aumentado
CT aumentado
CT aumentado
Passos /dia
1º.
<9305
2º.
9305-13827
3º.
>13827
% (IC95%)
Passos /dia
% (IC95%)
Passos /dia
% (IC95%)
11,9 (8,3-15,5)
<10547
5,8 (1,9-9,7)
<8523
17,0 (11,3-22,7)
6,9 (4,0-9,8)
10547-15467
4,9 (1,4-8,4)
8523-12495
8,8 (4,4-13,2)
5,6 (2,9-8,3)
>15467
2,3 (0,0-4,9)
>12495
8,4 (4,0-12,8)
P = 0,005
P = 0,154
P = 0,016
p: valor de p; %: valor amostral proporcional; Passos/dia: número médio de passos por dia;
IC95%: intervalo de confiança de 95%.
Na análise ajustada para sexo, idade e nível socioeconômico, a associação entre o
número de passos/dia e CT aumentado se mantém. Adolescentes situados no tercil mais baixo
têm duas vezes mais chance de apresentar CT aumentado quando comparados aos situados no
tercil mais alto (Tabela 2).
Andaki e colaboradores2 encontraram resultados semelhantes, onde crianças com
maiores tempos de envolvimento em AF de moderada a vigorosa intensidade tiveram proteção
cardiovascular. Da mesma forma, Suskind e colaboradores9 verificaram redução
estatisticamente significativa para CT e LDL após dez semanas de programa de AF em
indivíduos com idade entre 7 e 17 anos de ambos os sexos. Avaliando estudantes de 6 a 18
anos, Ribeiro e colaboradores10, inferiram que estudantes menos ativos apresentaram 3,8 vezes
mais risco de terem CT aumentado comparados aos mais ativos.
Tabela 2. Regressão logística binária para estimativa de associação entre o número de passos
por dia e o colesterol total aumentado em adolescentes de 11 a 17 anos. Uruguaiana/RS, 2012.
OR
Bruta
Número
passos/dia
p
IC95%
OR
Ajustada*
P
IC95%
de
(1,240,008
2,008
(1,00-4,08)
4,22)
1,252
(0,640,511
1,188
Tercil 2
(0,56-2,52)
2,46)
Tercil 3 (mais alto)
1
1
OR: odds ratio; p: valor de p; *Ajustada para sexo, idade e nível socioeconômico.
Tercil 1 (mais baixo)
2,284
0,050
0,655
-
Conclusões
Com base nos resultados apresentados, conclui-se que o número de passos/dia está
inversamente associado ao aumento do colesterol total (CT) em adolescentes. Portanto, a adoção
de medidas que fomentem o aumento dos níveis de AF pode ser efetiva na tarefa de promover
um estilo de vida mais saudável desde cedo, especialmente para o sistema cardiovascular.
Referências
1. Steinberger J, Daniels SR, Eckel RH, Hayman L, Lustig RH, Mccrindle B, MietusSnyder M.L. Progress and challenges in metabolic syndrome in children and
adolescents.
A
scientific
statement
from
the
American
Heart
Association
Atherosclerosis, Hypertension, and Obesity in the Young Committee of the Council on
Cardiovascular Disease in the Young; Council on Cardiovascular Nursing; and Council
on Nutrition, Physical Activity, and Metabolism. Circulation. 2009;119(4):628-647.
2. Andaki ACR, Tinoco ALA, Andaki Júnior R, Santos A, Brito CJ, Mendes EL.
Nível de atividade física como preditor de fatores de risco cardiovasculares em
crianças. Motriz. 2013;19(3):S8-S15.
3. Azevedo MR, Araújo CL, Silva MCD, Hallal PC. Tracking of physical activity
from adolescence to adulthood: a population-based study. Rev saúde pública.
2007; 41:69-75.
4. Tudor-Locke C, Williams JE, Reis JP, Pluto D. Utility of Pedometers for Assessing
Physical Activity. Sports Medicine. 2002; 32(12):795-808.
5. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Censo
Escolar da Educação Básica. Disponível em http://portal.inep.gov.br/basica-censo.
6. Associação Nacional de Empresas de Pesquisa. Critério de classificação econômica
Brasil. São Paulo: Associação Nacional de Empresas de Pesquisa (dados com base no
levantamento sócio econômico 2009); 2011.
7.
Sociedade Brasileira de Cardiologia. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção
da Aterosclerose. Arq Bras Cardiol. 2013;101(4Supl.1): 1-22.
8. Martinez TLR, Santos RD, Armaganijan D, Torres KP, Loures-Vale A, Magalhães ME,
Ortiz J. National alert campaign about increased cholesterol: determination of
cholesterol levels in 81,262 Brazilians. Arq Bras Cardiol. 2003;80:635-638.
9. Suskind RM, Sothern MS, Farris RP et al. Recent advances in the treatment of
childhood obesity. Ann NY Acad Sci. 1993; 699:181–199.
10. Ribeiro RQC, Lotufo PA, Lamounier JA, Oliveira RG, Soares, JF, Botter DA.
Fatores Adicionais de Risco Cardiovascular Associados ao Excesso de Peso em
Crianças e Adolescentes. O Estudo do Coração de Belo Horizonte. Arq Bras
Cardiol.. 2006; 86(6):408-418.
Download

Baixar Trabalho para impressão - GPES