O NASCIMENTO DE UMA NOVA CIVILIZAÇÃO Queda do muro de Berlim, fracasso do socialismo real, fundamentalismo islâmico, AIDS, neonazismo, intolerância étnica, implosão dos grandes sistemas, dos modelos, dos blocos, terroristas que amarram bombas na cintura e se explodem implodindo inocentes, famílias desagregam e passam a viver sobre uma nova ordem, ainda não estabelecida, seqüestros, crises políticas, fragmentação do saber, ciência em crise.... Os acontecimentos se precipitam e as nossas categorias se tornam pobres para entendê-las. A impressão geral é pessimista. O quadro do tempo que vivemos é desolador, estamos no limite do desmantelamento, da banalização da cultura, da invasão da tecnociência, da escola em incessante degradação. Os modelos estão caindo. São estes os sinais da crise? Que crise? Quem está em crise? São as coisas ou a nossa maneira de apreciá-las? Uma nova civilização esta emergindo em nossas vidas, e os cegos – que existem por toda parte – estão tentando suprimi-la. Esta nova civilização traz consigo novos estilos de família, maneiras diferentes de trabalhar, amar e viver, uma nova economia, novos conflitos políticos. Estamos diante da mais profunda convulsão social e reestruturação criativa de todos os tempos. Sem que a reconheçamos, estamos engajados na construção desta nova e extraordinária civilização. COMO TUDO OCORREU: ONDAS (8000 a.C até 1650-1750 d.C) Antes da primeira onda de mudança, a maioria dos seres humanos vivia em pequenos grupos migratórios, se alimentavam saqueando, pescando, caçando ou cirando rebanhos. A uma certa altura, aproximadamente a 10 dez milênios, começou a revolução agrícola, que se alastrou lentamente no planeta, semeando aldeias, povoados, terras cultivas e uma nova maneira de vida. (1650 -1750 d.C até 1955 – EUA) No final do Século XVII, quando a revolução industrial eclodiu na Europa e desencadeou a segunda onda de mudança planetária. Esse novo processo começou expandindose muito rapidamente através de nações e continentes. A Primeira e a Segunda onda, apesar do tempo, tendo revolucionado a vida na Europa e América do Norte e em outras partes do mundo, continua se expandindo, enquanto muitos países ainda – basicamente agrícolas – agitam-se para construir fábricas, siderúrgicas, ferrovias, etc... O impulso da industrialização ainda se faz sentir. Essa segunda onda ainda não esgotou a sua força. Muitos países ainda sentem, simultaneamente, a força das duas, outros até mesmo das três. A terceira onda começou a ganhar força nos EUA. Hoje a maioria das nações de alta tecnologia sofrem as conseqüências da colisão entre a terceira onda e as economias e instituições obsoletas, que vivem na segunda onda. Compreender isso é o segredo para deslinhar grande parte do conflito político e social que vemos à nossa volta. O FUTURO Sempre que uma única onda de mudança predomina em uma determinada sociedade, o padrão de desenvolvimento futuro é relativamente fácil de discernir. Assim, na Europa do século XIX, muitos pensadores, políticos e até gente comum tinham uma imagem clara, basicamente correta do futuro. Eles pressentiram que a história estava caminhando para o triunfo do industrialismo sobre a agricultura e previam muitas mudanças que a segunda onda trariam com ela: tecnologias mais poderosas, maiores cidades, transporte mais rápido, educação em massa e assim por diante. Por outro lado, quando uma sociedade é atingida por uma ou mais gigantescas ondas de mudanças, e nenhuma ainda é claramente dominante, a imagem do futuro se estilhaça. Torna-se extremamente difícil perceber o significado das mudanças e conflitos que surgem. Mas essas tendências que se entrecruzam, criadas por essas ondas de mudanças, refletem-se em nosso trabalho, vida familiar, atitudes sexuais e moralidade pessoal. Elas despontam em diferentes estilos de vida e comportamento coletivo. Somente contra este largo pano de fundo é que poderemos começar a perceber o sentido das manchetes, a determinar as nossas prioridades, a estruturar estratégias sensíveis para o controle da mudança em nossas vidas. UM CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES As pessoas começaram a compreender, um tanto tardiamente, que a civilização industrial esta chegando ao seu fim. Que a crise geral do industrialismo, traz consigo a ameaça de mais guerras, guerras de uma outra natureza. Que as mudanças na sociedade não podem ocorrer sem conflito. A teoria da onda de conflito mostranos que o principal conflito com que nos confrontamos não é entre muçulmanos e o ocidente, ou o “resto” contra o ocidente. A mudança econômica e estratégica mais profunda de todas é a próxima divisão do mundo em três civilizações distintas e, potencialmente conflitantes. Neste mundo tripartido, o setor da Primeira Onda fornece recursos agrícolas e minerais, o setor da segunda onda supre a mão-de-obra barata e responde pela produção de massa, e o setor em rápida expansão da Terceira Onda avança para a supremacia baseado em novos métodos com os quais cria e explora conhecimento. As nações da Terceira onda vendem ao mundo informação e inovação, administração, cultura e cultura popular, tecnologia avançada, software, educação, treinamento, assistência médica e financeira e outros serviços. Um desses serviços pode muito bem assumir a forma de proteção militar apoiada em seu domínio das forças superiores da Terceira Onda ( exatamente como fizeram com o Kwait e a Arábia Saudita, por ocasião da guerra do golfo). Se a divisão do mundo de hoje de duas ou três partes ainda parece menos óbvia, é simplesmente porque a transição da economia da força bruta da segunda onda para economia cerebral da terceira onda esta longe de ser completada. Entrementes, a mudança história de um mundo bipartido para outro tripartido poderá detonar as mais cruentas disputas pelo poder quando cada país tentar se posicionar na estrutura emergente de poder distribuído em três camadas. Por detrás dessa monumental realocação de poder reside uma mudança, na significação e na natureza do conhecimento. O fato de estarmos lendo esta página nos coloca entre aqueles que tem a extraordinária capacidade chamada alfabetização. Mas tivemos antepassados analfabetos. Não eram apenas analfabetos, também eram “anuméricos”, na medida que eram incapazes de fazer a mais elementar operação aritmética. Os poucos que possuíam esta noção eram considerados perigosos. Santo Agostinho, advertia aos cristão a manter distância das pessoas que sabiam somar ou subtrair, pois tinham um “pacto com o diabo”. Somente mil anos mais tarde é que vamos encontrar “ mestres do raciocínio” ensinando alunos destinados a carreiras comercias. O que significa isso, é que muitas das qualificações mais simples, tidas como certas no mundo dos negócios de hoje, são produtos de séculos e milênios de desenvolvimento cultural acumulado. Conhecimentos oriundos da China, Índia, dos Árabes, dos mercados fenícios, bem como o ocidente. Gerações sucessivas aprenderam essas habilidades, adaptando-as, transmitindo-as e depois as desenvolveram em cima dos resultados. Todos esses sistemas assentam-se sobre uma “base de conhecimento”. Todos dependem desse recurso socialmente construído, mas geralmente negligenciado. No entanto este recurso é agora o mais importante de todos. Ao mesmo tempo em que estamos reestruturando companhias e economias, estamos reorganizando totalmente a produção e distribuição do conhecimento e os símbolos usados para comunicá-los. Isto significa que estamos criando novas redes de conhecimentos, gerando novas teorias, hipóteses e imagens, baseadas em novas suposições, novas linguagens, códigos e lógicas. A força muscular braçal é essencialmente fungível. Assim, um trabalhador de qualificações limitadas, que se despede ou é despedido, pode ser rapidamente substituído a baixo custo. Em contrapartida, o trabalhador de qualificações adequadas, especializado, exigido pela terceira onda, se torna mais difícil e mais oneroso. À medida que as economias avançam, registra-se mais uma mudança na relação de “trabalho direto” com o “trabalho indireto”. Em termos tradicionais,trabalhadores diretos ou “produtivos” são aqueles que fazem de fato o produto no chão da fábrica. Os demais são aqueles descritos como contribuição indireta. Hoje, as distinções ficaram difusas em face do declínio da relação entre operários de produção da fábrica e colarinhos brancos e trabalhadores especializados, mesmo no chão da fábrica. A mão-de-obra “indireta” produz pelo menos o mesmo valor do que a “direta”, se não mais.