O CIRCO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: SUA APLICAÇÃO EM UMA
ESCOLA PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO
Janaina de Freitas Munhoz1
Glauco Nunes Souto Ramos (O)2
RESUMO:
O circo faz parte do imaginário de muitas pessoas até hoje. É parte da cultura popular e por ter
características nômades, deixou vestígios por toda parte, chegando até mesmo em lugares de
difícil acesso, e ficou mundialmente conhecido. Antes mesmo da globalização o circo já era
internacional e os movimentos corporais utilizados nos espetáculos também auxiliaram no
surgimento do Movimento Ginástico Europeu, no entanto, na busca de moldar o corpo para o
trabalho acabou-se afastando de suas origens populares. A Educação Física no Brasil adotou o
método Frances de Ginástica, posteriormente ocorreu a esportivização, em que o esporte era
exaltado e a Educação Física tinha o objetivo de descobrir novos atletas. Mais recentemente
está se adotando o conceito de cultura corporal, em que todo o acervo cultural produzido pela
humanidade e que tenha significado e relevância na comunidade em que se está trabalhando,
tenha espaço nas aulas de Educação Física. No entanto, mesmo com a diversidade deste
acervo, a prática esportiva ainda está mais presente no ambiente escolar, do que a dança, a
luta, o circo e até mesmo a ginástica. Isso porque as pessoas normalmente tiveram mais
contato com o esporte e não foram preparadas na graduação para trabalhar conteúdos
diferenciados privilegiando o fazer e o entender sobre o que se está fazendo. Esta pesquisa
tem como objetivo auxiliar o professor de Educação Física que deseja trabalhar o circo em
suas aulas e não tem idéia do que pode fazer e quais os limites e as possibilidades de se
trabalhar com este conteúdo. Essa foi realizada numa escola estadual no centro de Bonfim
Paulista, distrito de Ribeirão Preto, que fica aproximadamente 300 km da Capital Paulista, e
utilizou a metodologia de diário de aula, pois esse, além de ser uma ferramenta importante
para entender a realidade do professor e assim entender as situações dialéticas em que está
inserido, auxilia também para a formação continuada do mesmo. Com os diários de aula é
possível observar algumas formas de se trabalhar com o circo nas aulas de Educação Física,
destacando alguns limites e algumas possibilidades. Assim deseja-se dar subsídios reais para a
reflexão sobre a inserção deste conteúdo nos planejamentos e não dar receitas de como se
deve agir, pois cada realidade é diferente e muitas outras situações serão encontradas pelo
professor.
Palavras chave: Circo; Educação Física Escolar; Ginástica; Cultura Corporal; Diário de
Aula.
INTRODUÇÃO
Quem nunca foi ao circo e viu as apresentações dos palhaços, malabaristas,
trapezistas, acrobatas de solo, domadores de feras, entre outros artistas circenses?
1
Professora de Educação Física da Rede Estadual de Ensino de São Paulo, Diretoria Regional de Ensino de
Ribeirão Preto e aluna da II Turma do Curso de Especialização em Educação Física Escolar (lato sensu) do
DEFMH/UFSCar.
2
Professor Adjunto do DEFMH/UFSCar e Coordenador do Curso de Especialização em Educação Física
Escolar.
256
Normalmente as pessoas tiveram suas experiências relacionadas ao assistir o espetáculo, mas
recentemente muitos estão tendo a chance de vivenciar a arte circense. Já existem escolas de
circo em diversas cidades e qualquer pessoa que desejar pode experimentar muitas das
modalidades circenses, com exceção das atividades desenvolvidas com os animais.
As modalidades circenses são parte do acervo cultural da humanidade e como
tal podem ser incluídas nos conteúdos da escola. Esta manifestação cultural tem encontrado
um espaço nas aulas de Educação Física em alguns países da Europa, no Brasil ainda são
poucos os trabalhos encontrados com este tema, mas tem aumentado esta ocurrência
(BORTOLETO; MACHADO,2003). Apesar de atualmente ter várias escolas de circo
espalhadas pelo Brasil, muitos professores de Educação Física não tiveram contato com este
conteúdo durante sua vida escolar e quando se faz a escolha do conteúdo a ser trabalhado, ter
a vivência deste conteúdo conta muito para que este seja escolhido e inserido nas aulas.
Enquanto aluna, tive a oportunidade de vivenciar estas modalidades durante
dois anos na escola de circo de Ribeirão Preto e senti que é possível levá-las para a escola.
Durante o ano de 2006 já as inseri nas minhas aulas de Educação Física e as crianças
adoraram e pretendo sistematizar e avaliar melhor este conteúdo na escola.
Desta forma este trabalho tem o objetivo de analisar as atividades circenses
enquanto conteúdo da Educação Física no Ciclo I do Ensino Fundamental, destacando suas
possibilidades e suas limitações no contexto real de um programa de aulas. Fornecendo assim
um material de reflexão dos dilemas que foram encontrados durante a prática docente.
Os conteúdos foram ministrados durante as aulas de Educação Física na Escola
Estadual “Dr. Francisco da Cunha Junqueira”, em Bonfim Paulista, distrito de Ribeirão Preto,
estado de São Paulo. Esta escola foi escolhida porque sou professora efetiva, possibilitando
que analisasse minhas próprias aulas. Foram escolhidas as duas turmas de segunda série do
período da manhã.
As aulas ocorreram nos meses de maio e junho de 2007 e no mesmo dia em
que a aula era ministrada, era feito um diário de aula que descreve o que era destacável
naquele contexto. Esse instrumento metodológico foi muito importante para o professorpesquisador ter uma outra perspectiva de sua prática e auxiliar sua reflexão sobre suas aulas.
Exemplos como esses, sistematizados e aplicados na escola, podem ser um
incentivo para motivar os professores a pensarem sobre como podem incluir o circo em seu
planejamento e incentivar que busquem mais conhecimento sobre o tema.
257
1.
A GINÁSTICA COMO PRECEDENTE DA EDUCAÇÃO FÍSICA
A primeira forma de sistematização das atividades corporais no ocidente nos
tempos modernos ocorreu com o Movimento Ginástico Europeu, em que expressões da
cultura da época, século XIX, baseados em movimentos construídos “a partir das relações
cotidianas, dos divertimentos e festas populares, dos espetáculos de rua, do circo, dos
exercícios militares, bem como dos passatempos da aristocracia” (SOARES, 1998, p. 18) e
com princípios de ordem e disciplina, deram origem à Ginástica.
Abarcando uma enorme gama de práticas corporais, o termo
Ginástica, pertencente ao gênero feminino, de designação feminina e
que historicamente se constrói a partir de atributos culturalmente
definidos como masculinos: força, agilidade, virilidade,
energia/têmpera de caráter, entre outros, passa a compreender
diferentes práticas corporais. São exercícios militares de preparação
para a guerra, são jogos populares e da nobreza, acrobacias, saltos,
corridas, equitação, esgrima, danças e canto. (SOARES, 1998, p. 18)
O objetivo era, através da ciência, reunir todas as práticas corporais feitas fora
do ambiente de trabalho e transformá-las em atividades físicas que servissem aos ideais de
saúde, vigor, energia e moral. E foi daí que partiram as teorias de hoje denominada Educação
Física do ocidente (SOARES, 1998)
Era preciso no século XIX
(...) regenerar a raça e promover a saúde em uma sociedade marcada
pelo alto índice de mortalidade e de doenças, sem contudo alterar as
condições de vida e de trabalho. Em outro plano, as finalidades se
completavam pelo desejo de desenvolver a vontade, a coragem, a
força, a energia de viver para servir à pátria nas guerras e na indústria.
Mas a finalidade maior foi, sobretudo, moralizar os indivíduos e a
sociedade, intervindo radicalmente em modos de ser e de viver
(SOARES, 1998, p. 20).
Desta forma, a Ginástica se distancia das expressões populares que outrora
deram origem a mesma e muitas vezes a nega para tentar encontrar sua nova identidade. “A
Ginástica científica se apresentava como contraponto aos usos do corpo como entretenimento,
como simples espetáculo, pois trazia como princípio a utilidade de gestos e a economia de
energia” (SOARES, 1998, p. 23).
258
Para a autora, o circo, que era muito popular no século XIX por despertar
diversos sentimentos em seu público, tais como medo, alegria e encantamento, e também por
seus movimentos serem vistos como inúteis ao trabalho, pois o artista circense fazia uso
excessivo de força e gastava demasiadamente sua energia, passa, então, a ser observado de
perto pelas autoridades.
As exibições de rua, os circos, libertavam o espontâneo que fora
aprisionado pelo saber científico, faziam renascer formas esquecidas
da inteireza humana. Exibiam o que se desejava ocultar e despertavam
imagens adormecidas no coração dos homens. Eram dissonantes à
sociedade que se afirmava no século XIX. (SOARES, 1998, p. 28)
A Ginástica se torna então uma forma de moldar o corpo e a vontade das
pessoas da época e parece “ser mais uma receita e remédio para os males que afligiam uma
sociedade ainda perplexa com suas próprias criações e assombrada com os rumos do seu
destino” (p. 29).
Em outro estudo realizado pela mesma autora, temos que a
Ginástica, no século XIX, deseja construir um corpo revestido
milimetricamente, cujo porte deve exibir simetrias nunca vistas. A
nova roupagem deste corpo deve ocultar qualquer vestígio de exibição
do orgânico, qualquer perda de fixidez, qualquer sinal de mutação
(SOARES, 2000, p. 48-49).
E para se firmar na sociedade, a ginástica se aproxima cada vez mais da ciência
e da técnica, para ser reconhecida como o que é racional, experimentado e explicado. Com a
cientificidade dessa,
(...) a burguesia, no século XIX, inicia um lento processo de tentativa
de diferenciar sua aplicação entre os militares e a população civil.
Solicitava-se da ciência, então, o estabelecimento de diferenças, não
de oposições, e pensava-se, sobretudo, na preservação da disciplina e
da ordem, tão caras à instituição militar. A Ginástica deveria
transformar-se em objeto de investigação científica e, desse modo,
apartar-se definitivamente de seus vínculos populares (SOARES,
2000, p. 50).
Firmada a importância da Ginástica na sociedade da época, surge a
necessidade de se formar o profissional que iria ensinar a ginástica. Para Amoros, fundador do
chamado Método Francês de Ginástica, esse profissional deveria ter conhecimento de: canto,
259
expressão musical, anatomia, fisiologia, cálculo, geometria e conhecer profundamente os
objetivos do método Amoros, que eram: desenvolver as capacidades físicas e morais do
indivíduo (SOARES, 2000).
A Ginástica se desenvolve de formas diferentes em diversos países Europeus,
surgindo assim os métodos. Os mais conhecidos são o Alemão, o Dinamarquês, o Sueco e o
Francês. Ao mesmo tempo que a ginástica se desenvolvia nesses países, na Inglaterra os jogos
esportivos eram difundidos (VENÂNCIO; CARREIRO, 2005)
Cada método teve suas próprias características e a ginástica que foi adotada no
Brasil posteriormente foi a Francesa (BETTI, 1991).
2.
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO BRASIL
Na época do Brasil Colônia (período que vai de 1530, quando o Brasil passou
a ser povoado a 1822, com o advento da independência), nas famílias da elite, já era possível
encontrar algumas questões relativas á saúde, à higiene e ao corpo do indivíduo. Mas somente
com o advento da República que a Educação Física higiênica, eugênica e moral se instalou
(SOARES, 1994).
A Educação Física, com a denominação de ginástica, começou a ser parte do
currículo de algumas escolas no Rio de Janeiro em 1830, que era o município da corte
imperial e capital da república. No entanto, foi somente em 1851 que se integrou oficialmente
à escola (BETTI, 1991).
Essa Educação Física foi importada da Europa, ou seja, eram os sistemas
ginásticos europeus se instalando no Brasil. E os argumentos utilizados para sua instalação
foram semelhantes ao que se apoiou o início do Movimento Ginástico Europeu. As pessoas
viviam em condições precárias de saúde e com alto índice de mortalidade infantil. Sabendo
desses dados, sentiu-se a necessidade de moldar um homem de elite branco mais saudável e
resistente, forjando assim sua “superioridade” frente aos negros, pobres e mulheres
(SOARES, 1994).
Nos anos de 1930 a 1945, durante o Governo de Getúlio Vargas, toda a
educação é reformulada e com ela a Educação Física. Essa foi uma época decisiva para a
Educação Física, que na Constituição de 1937 se tornou obrigatória na escola primária,
normal ou secundária. No entanto, essa não era considerada uma disciplina como todas as
outras, era vista como um complemento (BETTI, 1991).
260
Nessa época a Educação Física se firmava nas bases do higienismo, da eugenia
e do militarismo. A aula era exclusivamente fazer exercícios físicos, baseados no método
Francês de ginástica (BETTI, 1991).
O conhecimento prático era o suficiente para essas aulas, portanto, para
ministrar aulas era preciso somente ser um ex-praticante, e não tinha necessidade de dominar
esse conhecimento (DARIDO; NETO, 2005).
No período de 1946 a 1968 começou a ascensão do movimento esportivo, que
posteriormente levou “à formulação de um novo modelo para a Educação Física no Brasil”
(BETTI, 1991, p.89).
Na ocasião o Método Ginástico Francês passa a ser questionado e o esporte é
adotado intensamente na Educação Física. Primeiramente foi adotado o Método Desportivo
Generalizado3 e gradativamente é introduzido do Método Esportivo4. Esta fase pode ser
chamada de Esportivização. O esporte era mais motivador e fácil de mensurar e seus
resultados se firmavam no ganhar ou perder (BETTI, 1991).
A competição, que estava relacionada ao esporte, era valorizada por cumprir
um papel importante na sociedade da época, pois se acreditava que esta estimulava a união
dos participantes, desenvolvia a solidariedade, a camaradagem e a lealdade (COLOMBO
citado por BETTI, 1991).
O discurso dessa fase vai advogar em prol da educação do movimento
como única forma capaz de promover a chamada educação integral.
Essas mudanças ocorrem principalmente no discurso, porque a prática
higienista e militarista permanece essencialmente inalterada
(DARIDO; NETO, 2005, p. 3)
Aos poucos, por causa da visibilidade que o esporte tinha mundialmente e ser
festejado com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, este passa a ser adotado como o conteúdo
principal da Educação Física. Com o terceiro título da Copa Mundial de Futebol em 1970, o
esporte passa a ser utilizado na perspectiva da política do “pão e circo” (DARIDO; NETO,
2005).
3
Surgiu em 1950. “Procura incorporar o conteúdo esportivo aos métodos da Educação Física, com ênfase no
aspecto lúdico” (BETTI, 1991, p. 97).
4
Surgiu em 1970 e sufocou o Método Desportivo Generalizado. Tem como conteúdo o esporte na perspectiva da
técnica, da busca do alto rendimento e dos mais habilidosos, aproximando-se assim do trabalho.
261
O esporte foi inserido nas aulas de Educação Física mantendo suas
características de competição e alto rendimento na busca do aluno-atleta. E se firmou por sua
característica lúdica que motiva os alunos a jogarem (BETTI, 1991; RANGEL-BETTI, 1999).
Dessa forma a Educação Física manteve uma busca pelo corpo padronizado,
que sabe executar as técnicas esportivas de uma forma “correta”. O diferente é visto como a
pessoa que não se enquadra no programa proposto e que deve ser moldada para ser inserida
no contexto, mas muitas vezes acabava sendo excluída das aulas (DAOLIO, 1995).
No início de sua implantação os professores de Educação Física tinham uma
meta clara: ganhar as competições colegiais e encontrar novos talentos esportivos. E com o
passar do tempo o discurso na área da Educação Física começa a mudar e algumas
competições deixam de existir e o objetivo da Educação Física Escolar deixa de ser conquistar
medalhas. Mesmo assim, por não se firmar referências claras de uma outra forma de se
trabalhar, tanto com o esporte, quanto com outros conteúdos possíveis na Educação Física, os
professores continuam empregando quase exclusivamente os esportes, em sua forma mais
competitiva, não privilegia de seu caráter lúdico em prol de buscar resultados padronizados,
em suas aulas (RANGEL-BETTI, 1999).
Portanto, ainda hoje é possível encontrar aulas de Educação Física que exclui
os menos habilidosos e que não utiliza de métodos que privilegiem diferentes formas de
ocorrer o processo de ensino e de aprendizagem com conteúdos variados.
Uma Educação Física escolar que considere o princípio da alteridade
saberá reconhecer as diferenças – não só físicas, mas também culturais
– expressas pelos alunos, garantindo assim o direito de todos à sua
prática. A diferença deixará de ser critério para justificar preconceitos,
que causam constrangimentos e levam à subjugação dos alunos, para
se tornar condição de sua igualdade, garantindo, assim, a afirmação do
direito à diferença, condição de pleno exercício da cidadania. Porque
os homens são iguais justamente pela expressão de suas diferenças
(DAOLIO, 1995, p. 100).
3.
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO CICLO I DO ENSINO FUNDAMENTAL
Este trabalho toma como referência a divisão que o estado de São Paulo faz
dos ciclos. Portanto, é Ciclo I para este trabalho, da 1ª a 4ª séries do ensino fundamental.
Até 2003 as aulas de Educação Física eram ministradas pelos professores
generalistas. “Em 2003, por meio da Resolução 184/02, a SEE5 implantou as aulas de
5
Secretaria do Estado da Educação.
262
Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental, desenvolvidas pelo professor
especialista da área” (SILVEIRA, 2008).
Atualmente, são conteúdos da Educação Física Escolar, segundo os Parâmetros
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), os esportes, os jogos, as lutas, as danças e as
ginásticas.
Para Silveira (2008), cabe à Educação Física tratar da cultura do movimento,
ou seja,
O esporte, o jogo, a ginástica, o exercício e a dança são categorias de
movimento que se caracterizam como fenômenos socioculturais e
constituem parte importante do acervo cultural da humanidade.
Para Gallardo (2006) a Educação Física é
...responsável pala socialização de todo o conhecimento
universalmente produzido pela cultura corporal, tais como jogos,
brincadeiras, esportes, danças, lutas, elementos das artes cênicas,
elementos das artes musicais, elementos das artes plásticas e de todo
o conhecimento por ela produzido, denominado ginásticas.
No entanto, alguns professores insistem em trabalhar somente com os esportes,
por conta da influência histórica que a esportivização exerceu e exerce sobre os conteúdos das
aulas de Educação Física. Se pelo menos englobasse uma variabilidade de esportes de uma
forma lúdica, mas o que se encontra são: o handebol, o basquetebol, o futebol e o voleibol,
isso quando não dão somente a bola de futebol para os meninos e a bola de voleibol ou
handebol para as meninas, como em minha experiência como aluna de Educação Física no II
Ciclo do ensino fundamental.
O esporte é tão importante para a Educação Física quanto os outros conteúdos
da cultura corporal. Por este motivo, esse deve continuar a ser trabalhado nas aulas deste
componente curricular. No entanto, assim como os outros conteúdos, esse deve ser adaptado
para a escola. Quando inserido no contexto educacional, o esporte tem o objetivo de formar a
personalidade da pessoa, dar a oportunidade da pessoa vivenciá-lo e conhecer sobre suas
especificidades de uma forma lúdica. E é dessa mesma forma que os outros conteúdos (jogos,
dança, brincadeiras, lutas, ginásticas, elementos das artes cênicas, elementos das artes
musicais, elementos das artes plásticas e o circo) da cultura corporal devem ser trabalhados na
Educação Física.
263
Nesta, perspectiva, a Educação Física passa a ter função pedagógica
de integrar e introduzir o aluno de 1º e 2º graus no mundo da cultura
física, formando o cidadão que vai usufruir, partilhar, produzir,
reproduzir e transformar as formas culturais da atividade física
(BETTI, 1992, p. 285).
A Educação Física tem uma vasta possibilidade de conteúdos para serem
trabalhados. Alguns são desprivilegiados porque o professor não teve a oportunidade de
vivenciar estas práticas em nenhum momento nem na universidade ou mesmo na sua vida.
Muitas vezes essa é uma procura solitária do professor para melhorar sua aula e aumentar seu
repertório.
Segundo Lavega (citado por BORTOLETO e MACHADO, 2003), “os
conteúdos legítimos da Educação Física se dividem em 4 grandes grupos: ‘jogos’, ‘esportes’,
‘atividades físicas em geral’ e ‘atividades físicas expressivas ou artísticas’”. Conforme
Parlebas (citado por BORTOLETO e MACHADO, 2003), as atividades circenses se situam
nesta última, mesmo podendo surgir jogos e/ou esportes a partir destas modalidades.
4.
A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO CIRCO
A estrutura do circo moderno como conhecemos hoje, tem sua origem no
século XVIII, em que o Cavalheiro inglês Philip Astley montou a primeira estrutura de circo
picadeiro. Inicialmente apenas para apresentações eqüestres, e para essas apresentações era
necessário uma pista circular, pois ficava mais fácil se equilibrar nos cavalos e até hoje o
picadeiro mantém este formato; posteriormente introduziu os saltimbancos6 e os clowns7, os
quais faziam cenas cômicas em alguns momentos da apresentação (SILVA, 1996; VIVEIRO
DE CASTRO apud BORTOLETO, 2003).
Charles Hughes foi o criador, em 1782, do Royal Circus, em que pela primeira
vez se usou o termo “Circus”. Posteriormente a este ano, o fenômeno circense se espalhou em
grande velocidade para muitos outros lugares, principalmente na Europa Central e nos
Estados Unidos (SILVA, 1996; VIVEIRO DE CASTRO apud BORTOLETO; MACHADO,
2003).
Este circo difundido era o circo tradicional,
6
Pessoas que viviam de fazer malabarismo, contorcionismo e acrobacias em lugares públicos de
diversas cidades. Os seus conhecimentos eram passados oralmente de pai para filho. Também podem
ser chamados de “os que saltam sobre bancos” (SILVA, 1996, p. 1).
7
Números cômicos semelhantes com o que conhecemos hoje como palhaços.
264
(...) onde homens e animais compartilham o cenário demonstrando
suas habilidades, seja numa rua, num teatro, numa feira, num
hipódromo, numa praça de touros, ou em seu ambiente mais
característico, “na lona” (BORTOLETO; MACHADO, 2003, p. 46).
No início as maiores atrações estavam ligadas aos animais selvagens tais como
leões, ursos e serpentes. Para um público que muitas vezes nunca tinha visto aqueles animais,
bastava somente sua exibição (HENRIQUES, 2006).
Villarín García (citado por BORTOLETO e MACHADO, 2003) “relata a
presença dos animais no Circo como um espécie de Zoológico Ambulante” (p. 46). As
pessoas, movidas por suas curiosidades, iam ao circo para ver animais exóticos, que eram
típicos de outras regiões e países.
Os circos mais famosos da atualidade já não usam mais animais e o foco está
no corpo do artista que demonstra suas incríveis habilidades, tais como força, equilíbrio,
flexibilidade, coragem, etc. A tecnologia ressalta ainda mais estas habilidades, o picadeiro
toma nova forma e até possibilita realizar apresentações em teatros.
Este é chamado de “Novo Circo” ou “Circo Contemporâneo” (Viveiro de
Castro citado por BORTOLETO; MACHADO, 2003) “e também pode ser chamado de Circo
do Homem, por envolver somente o homem nas performances, excluindo a participação dos
animais” (BORTOLETO; MACHADO, 2003, p. 51, 2003).
Uma outra característica que mudou é que o circo na sua origem era formado
por famílias nômades que ensinavam suas habilidades oralmente de pai para filho. Agora
existem espalhados por todo o mundo os centros especializados de ensino, que quebram uma
das grandes tradições, a transmissão de conhecimento de geração para geração. Estas escolas
estão sendo as responsáveis por difundir os saberes do circo com maior velocidade, tornando
o circo acessível a um maior número de pessoas, resignificando a idéia do “super humano” –
aquele que não tem limitações e faz o que mais ninguém pode fazer – para “artista humano” –
que apesar das limitações consegue, através de muito treino e esforço, executar movimentos
bonitos e difíceis (BORTOLETO; MACHADO, 2003).
5.
CIRCO NA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Conforme vimos nos capítulos anteriores, o circo é anterior à Educação Física,
inclusive, em suas origens é possível observar claramente a influência do primeiro no
segundo. No entanto, são poucas as publicações sobre a arte circense. Como conteúdo da
265
Educação Física Escolar, tem um menor número de pesquisa ainda, no entanto tem tido um
crescimento significativo atualmente (BORTOLETO; DUPRAT, 2007).
Alguns autores já têm abordado o assunto. Bortoleto (2003) sistematiza o
ensino da perna de pau no contexto do circo e descreve as vantagens de se trabalhar este
conteúdo na aula de Educação Física. Freire (2005) propõe brincar de circo com as crianças,
como um tema que excita a imaginação e pode ser usado para trabalhar as capacidades e
habilidades durante a aula. Gallardo (2006) coloca este como conteúdo da Educação Física,
mais especificamente como elemento das artes cênicas que devem ser ensinados nas aulas.
Da mesma forma que os outros conteúdos, devemos trabalhar o circo adaptado
para a escola, com o objetivo de “promover o contato dos alunos com a arte circense, visando
a compreensão e a valorização desta manifestação da cultura corporal” (CLARO;
PRODÓCIMO, 2008) além de auxiliar na formação da personalidade.
O problema de trabalhar o tema circo na aula de Educação Física no Brasil é
que dificilmente se encontra um professor que arrisque a ministrar este conteúdo, isso porque
não teve nenhum conhecimento na universidade, e nem ao menos tem uma idéia de se
trabalhar de uma forma simplificada.
Na escola formal, tem ocorrido iniciativa de incluir o circo como uma
disciplina desde a pré-escola na França e na Bélgica e como conteúdo das aulas de Educação
Física em Portugal, Alemanha, Espanha e Itália. No Brasil também tem tido a inclusão das
atividades circenses em escolas públicas e privadas em alguns estados (São Paulo, Bahia, Rio
de Janeiro, etc) nos diversos níveis, da educação básica à universidade (BORTOLET;
MACHADO, 2003).
No livro “Circo y educación física: otra forma de aprender” de Josep CURÓS
(2003) mostra que em outros lugares do mundo a discussão sobre o circo como conteúdo da
Educação Física já está bem mais avançada do que se pode encontrar no Brasil. O autor relata
que já trabalha com este conteúdo em uma escola pública da Espanha há doze anos e em seu
livro é possível encontrar uma sistematização de algumas modalidades circenses.
O circo compreende uma diversidade de modalidades que são práticas
corporais que desenvolvem a motricidade da pessoa, e apesar deste estar presente oficialmente
na história da humanidade desde o século XVIII, somente ao final do século XX e início do
século XXI é que tem tido uma preocupação de inserir este conteúdo nas aulas de Educação
Física (BORTOLETO; MACHADO, 2003).
6.
MODALIDADES CIRCENSES
266
Este trabalho pretende tratar de algumas modalidades da arte circense que
foram vivenciadas na escola (acrobacias de solo, malabarismo, acrobacias no tecido, figuras
de equilíbrio ou portagem, pé de lata e barangandam), e para tanto é necessário que os leitores
conheçam um pouco dessas. Utilizo esse termo
...porque uma modalidade significa um tipo de prática dentro de um
âmbito mais geral, neste caso o Circo, que apresenta características
técnicas distintas em virtude das particularidades dos objetos
materiais, do espaço, do tempo e dos protagonistas (BORTOLETO;
MACHADO, 2003, p. 126)
Para prosseguir é importante esclarecer quais são essas modalidades.
Acrobacias de solo: seriam os rolamentos, estrelinhas e todo tipo de exercício
de destreza realizada no solo. O material utilizado durante as aulas era os colchonetes por
motivos de segurança.
Acrobacias no tecido: são as figuras e quedas que a pessoa faz no tecido que
está amarrado em algum lugar alto, como por exemplo, lá na escola esse é amarrado na viga
que sustenta o telhado do pátio. Também é importante ter colchonetes no chão para o caso de
alguma eventualidade. É possível realizar portagens nesta modalidade, a pessoa se posiciona
de cabeça para baixo e segura uma outra (volante), que faz figuras ou quedas.
Barangandam (no circo o termo utilizado é Swing): para fazer o barangandam
foi utilizado materiais alternativos (ver figura 1).
Uma outra nomenclatura que encontrei foi o balangandã, que é um “brinquedo
popular utilizado como réu na brincadeira de pipa” e o nome do brinquedo “vem de
‘balangar’, ou seja, balançar” (VENÂNCIO; CARREIRO, 2005, p. 238) .
Para fazer o barangandam: precisamos de duas folhas de jornal, um metro de
barbante, 3 fitas de Tecido Não Tecido (TNT) de cores diferentes e fita adesiva transparente.
Primeiro fazemos uma bolinha com duas folhas de jornal e passamos fita adesiva para ficar
mais firme, em seguida amarra uma ponta do barbante em volta da bolinha deixando uma boa
parte do barbante livre, que é onde a pessoa segura, e para ficar mais firme passa a fita
adesiva em cima do barbante. Por fim, amarra as 3 fitas de TNT no barbante na extremidade
oposta de onde se segura. Está pronto.
Os movimentos são, normalmente, circulares e as próprias crianças podem
criar diferentes formas de manipulá-lo: frente, atrás, direita, esquerda, em cima, em baixo,
com diferentes partes do corpo, jogando, equilibrando, trocando de mão etc.
267
Fig. 1: Alunos(as) da 2ª série A brincando com o barangandam
Figuras de equilíbrio: esses são conhecidos no circo como portagem de solo.
As pessoas desafiam as leis da gravidade formando figuras de uma pessoa sobre a outra, como
a pirâmide.
Malabarismo ou malabares: essa é a arte de manipular objetos (jogando,
deslizando, chutando, assoprando, etc) com diversas partes do corpo.
Constitui uma atividade de manipulação que se baseia no controle de
objetos no ar. Por definição, é a operação de recolher de forma
contínua, segundo uma trajetória similar, uma série de objetos em
número sempre superior ao de mãos (BORTOLETO; DUPRAT,
2007, p. 179).
Pé de lata: esse é uma preparação para a perna de pau. Para realizar essa
atividade é preciso duas latas resistentes que serão amarradas por barbante ou outro tipo de
corda, uma ponta desse barbante é amarrada na lata e a outra fica na mão. Cada pé ficará em
cima de uma lata e a mão correspondente vai segurar o barbante e manter a cordinha sempre
tensa enquanto a pessoa se locomove pelo espaço.
A “perna de pau é uma modalidade circense onde os praticantes alteram sua
estatura normal utilizando basicamente um aparelho também conhecido como perna de pau”
(BORTOLETO, 2003). Mas esse aparelho não tem que ser necessariamente feito de madeira,
como insinua o nome e pode ser adaptado como é o caso do pé de lata.
Tambor (ver figura 2): esse é o ato de utilizar um grande tambor deitado no
chão, ou no caso, nos colchonetes. Esse tambor deve estar posicionado para que a pessoa
possa se locomover para frente e para trás, podendo também executar saltos, giros, figuras de
equilíbrio, malabarismo, etc.
268
Fig. 2: Aluno da 1ª série A andando no tambor.
7.
PROCESSO METODOLÓGICO
Este trabalho é de corte qualitativo e não tem o objetivo de produzir
generalizações. A base deste tipo de investigação está na “descrição, análise e interpretação
das informações recolhidas durante o processo investigatório, procurando entendê-las de
forma contextualizada” (NEGRINE, 1999, p.61).
São muitos os instrumentos de pesquisa no corte qualitativo e foi preciso
identificar algum que pudesse satisfazer melhor os objetivos deste trabalho e a viabilidade de
se aplicar este instrumento. A ferramenta de coleta de informação escolhida foi o diário de
aula (ZABALZA, 2004), já que analisei as aulas específicas do professor-pesquisador. “Os
diários de aula (...) são os documentos em que professores e professoras anotam suas
impressões sobre o que vai acontecendo em suas aulas” (ZABALZA, 2004, p. 13).
Para se fazer os diários o professor-pesquisador tem liberdade de como redigirá
as informações sobre sua aula e não precisa fazer isso todo dia; pode fazer isso duas vezes por
semana, por exemplo. É importante também que o que for escrito no diário seja destacável do
contexto da aula na opinião de quem o escreve (ZABALZA, 2004).
Neste trabalho foi feito um planejamento prévio das aulas inserindo algumas
modalidades das artes circenses e no final do dia era feito um diário de aula. As turmas
escolhidas foram duas 2as séries do período da manhã da Escola Estadual “Dr. Francisco da
Cunha Junqueira”, localizada em Bonfim Paulista, no distrito de Ribeirão Preto, estado de São
Paulo.
O diário, além de ter a finalidade investigadora, também auxilia o
desenvolvimento pessoal e profissional dos professores, ou seja, esse pode propiciar o
conhecimento melhor da realidade e o autoconhecimento (ZABALZA, 2004).
269
Escrever sobre si mesmo traz consigo a realização dos processos a que
antes referimos: racionaliza-se a vivência ao escrevê-la (o que tinha
uma natureza emocional ou afetiva passa a ter, além disso, natureza
cognitiva, tornando-se assim mais manejável), reconstrói a
experiência, com isso dando a possibilidade de distanciamento e de
análise e, no caso de desejá-lo, se facilita a possibilidade de socializar
a experiência, compartilhando-a com um assessor pessoal ou com o
grupo de colegas (ZABALZA, 2004, p. 18).
Quando comecei a escrever o diário, foi difícil saber o que era mais
“destacável”. Tudo parece importante e relevante e depois de alguns diários, se não conseguir
motivação para continuar, esses vão ficando pobres de informação. Escrever é trabalhoso e
requer um certo esforço e um objetivo para continuar. Mas quando se lê o que foi escrito,
começamos a olhar de uma forma diferente para a aula.
Isso porque “tanto escrever sobre o que fazemos como ler sobre o que fizemos
nos permite alcançar certa distância da ação e ver as coisas e a nós mesmos em perspectiva”
(ZABALZA, 2004, p. 136).
Após escrever o diário é preciso destacar no texto os dilemas que o professor
tem com relação à própria atuação profissional. Entendo dilema neste trabalho como:
(...) todo o conjunto de situações bipolares ou multipolares que se
oferecem ao professor no desenvolvimento de sua atividade
profissional. É um dilema, por exemplo, como ajustar as exigências de
programas oficiais com as necessidades específicas de nossos alunos;
e o é também como desenvolver a evolução de uma aluna específica,
que não queremos que fique com uma impressão negativa de seus
resultados apesar de estes serem claramente insuficientes.
Em cada uma dessas situações problemáticas (que podem ser pontuais
ou gerais) o professor tem de optar, e realmente o faz, em um sentido
ou em outro (na direção de um ou outro dos pólos do dilema). Nem
sempre o professor é consciente do processo de identificação ou do de
resolução de dilemas. (...) Lendo os diários, às vezes percebe-se com
clareza, entre uma linha e outra, quais são os dilemas que mais
preocupam esse professor, em torno de quais situações dilemáticas do
ensino desenvolve seu processamento da informação e suas decisões
(ZABALZA, 2004, p. 18).
Através desses dilemas é possível verificar as contradições em que o professor
vive. A todo o momento é preciso adaptar o que ele aprendeu, com o auxilio de sua vivência
de mundo, para resolver os diversos problemas encontrados na prática docente.
270
8.
CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA E DAS TURMAS
A Escola Estadual “Dr. Francisco da Cunha Junqueira”, é localizada no estado
de São Paulo, na cidade de Ribeirão Preto, no centro do distrito de Bonfim Paulista.
O importante para este trabalho, não é situar Bonfim Paulista no mapa ou
resgatar sua história e sim, caracterizar a escola estudada. Apesar da escola se situar no centro
de Bonfim Paulista, esta recebe tanto alunos que moram na zona urbana da cidade quanto os
moradores rurais. Só existem duas escolas estaduais no distrito e esta é a maior e, portanto, a
que tem o maior número de alunos.
A escola tem o ensino fundamental e médio e funciona no período da manhã,
tarde e noite. Esta tem duas professoras efetivas de Educação Física, sendo uma com
aproximadamente dez anos de serviços na escola e eu, há dois anos. Na escola o professor
com mais tempo de casa tem o privilégio de escolher as turmas que quer dar aula e, no caso,
deu muito certo porque a outra professora prefere os alunos mais velhos e eu os mais novos.
Sendo assim, eu fiquei com as turmas do primeiro ciclo do ensino fundamental.
Para as aulas de Educação Física dispõe-se de uma quadra coberta e outra
descoberta, a sala de aula, a sala de vídeo, um hall coberto que liga as salas do bloco 2 com as
quadras, o pátio e o refeitório; 3 pátios e algumas áreas verdes que quando o mato está
cortado é possível utilizar. Temos que dividir estes espaços e como trabalho com o Ciclo I e
os conteúdos trabalhados não necessitam muito de uma quadra, escolhi utilizar os pátios, o
hall e a sala de aula e, quando necessário, utilizo as outras localidades.
Como a escola tem alunos mais velhos e mais novos num mesmo espaço, a
direção optou por modificar alguns horários (de recreio e saída) para separar os alunos do
Ciclo I dos demais. Por causa dessa mudança de horário do recreio, a terceira aula é dividida
em duas. Para a professora de sala não tem tanta diferença, mas para as aulas específicas,
como Educação Física e Educação Artística, essa aula é problemática, pois temos que
começar a aula e parar para o recreio, então quando as outras turmas estão no recreio
utilizando o pátio, temos que terminar a aula.
Em uma das turmas da segunda série que realizei a pesquisa tinha uma aula
nesse horário dividido pelo recreio. Foram duas turmas escolhidas para a pesquisa. Eram
alunos das segundas séries A (DIÁRIO I) e B (DIÁRIO II), que tinham mais ou menos vinte e
dois alunos cada, com idades entre sete e nove anos. São duas aulas semanais de Educação
Física de cinqüenta minutos.
271
Essa não era a primeira vez que eles tinham contato com elementos da arte
circense, no ano de 2006 trabalhei o pé de lata, barangandam, acrobacia de solo e
manipulação e equilíbrio de bolinhas, o que muitas vezes se aproximava do malabarismo.
Além das aulas de Educação Física, a escola ainda dispõe de Atividades
Curriculares Desportivas (ACD) em horário contrário das aulas. Desde antes de 2006, que foi
o ano que ingressei como professora efetiva, já tem as turmas de Voleibol Infantil, Futsal
Mirim e Futsal Infantil. No ano em que entrei na escola comecei a fazer um trabalho
voluntário de circo no horário de almoço e muitas crianças começaram a fazer parte desse
projeto. Em Julho de 2007 foi aprovada a turma de Ginástica Geral para todas as idades e
nessa turma de ACD é trabalhado o conteúdo circo. Os alunos, que querem saber mais sobre o
circo e se aprofundar mais nas técnicas, têm a oportunidade de participar desse grupo.
9.
ANÁLISE DO DIÁRIO DE AULA
Foram ministradas 15 aulas tratando do conteúdo circo na Educação Física da
2ª série B do ensino fundamental. As 1ª, 2ª e 3ª aulas trataram das a acrobacias de solo
(rolamento, parada de mão, e “estrelinha”), a 4ª e 5ª eles vivenciaram o malabarismo com
bolinhas de bexiga com areia; na 6ª aula assistimos ao vídeo do Cirque Du Soleil (Dralion);
na 7ª aula tivemos malabarismo com bastão; na 8ª aula foi figuras de equilíbrio no chão; na 9ª,
10ª e 11ª aulas confeccionamos e manipulamos o barangandam; na 12ª aula eles andaram de
pé de lata; na 13 aula eles andaram em cima do tambor e, por fim, as duas últimas aulas eles
aprenderam a subir e fazer figuras no tecido (ver figura 3).
Fig. 3: Aluna da 2ª série B fazendo a figura sereia no tecido.
272
Já a turma B teve 13 aulas, pois tiveram a interferência de feriados. Desta
forma, eles tiveram uma aula a menos de acrobacia de solo e não fizeram o pé de lata. As
outras aulas seguiram a mesma seqüência da turma A.
Analisando os diários de aula foi possível destacar alguns dilemas que vamos
discutir em seguida.
9.1. ATENÇÃO
No diário apareceu muitas vezes o tema atenção, que pode ser entendido de
diferentes formas. Primeiramente pode ser entendido como a atenção que os alunos
conseguiam manter sobre a atividade que estava sendo realizada. E também pode ser
interpretada como a atenção do professor sobre o que os alunos estavam fazendo.
As duas têm muita relação. Quando era proposto um desafio para as crianças,
como jogar de diferentes formas a bolinha no malabares, a maioria dos alunos queria mostrar
o que estava fazendo para mim. E normalmente vinham quase todos ao mesmo tempo. Alguns
não exigiam tanto a minha atenção, então, quando conseguiam ou não conseguiam resolver o
problema de jeito algum, eles começavam a fazer outras coisas. Por exemplo: dois alunos da
2ª B “ficaram jogando a bolinha para todo lado, eles não conseguiam se concentrar no que
estavam fazendo” (DIÁRIO II, 10/05/2007). No caso desses alunos, eles não tentavam fazer o
que era proposto durante muito tempo.
Outro problema encontrado com relação à atenção foi que “Eles logo queriam
tentar outra coisa sem ao menos conseguir fazer o que foi proposto anteriormente” (DIÁRIO
II, 10/05/2007). Para tentar mantê-los motivados, tive que propor desafios o tempo todo e
prestar atenção tanto nos que queriam a atenção o tempo todo para si, quanto os que se
desviavam completamente da proposta.
Em alguns momentos eles podiam criar e criavam mais que em outros. Por
exemplo, na aula que tínhamos que fazer figura de equilíbrio e portagem no chão eu nem
precisava propor um desafio que logo eles faziam uma nova figura e exigiam menos a minha
atenção. No entanto, a 2ª A teve maior dificuldade de pensar em uma nova figura, o que
exigiu que eu mostrasse algumas possibilidades, enquanto a turma B apresentou mais
facilidade.
Uma outra aula que foi possível observar que eles se entregaram mais à
atividade, mas ainda tiveram necessidade de me mostrar o que estavam fazendo foi o
barangandam.
273
A idéia era de fazer o brinquedo em sala de aula, pois é simples de fazer e seu
material é barato e fácil de encontrar. Alguns alunos levaram o material necessário e eu levei
alguns materiais também e todos tiveram a oportunidade de confeccionar seu próprio
brinquedo, mas só pôde levar para casa quem tinha levado o material, enquanto os outros
barangandans ficavam na escola para as próximas aulas.
Nessa atividade eles não precisavam de atenção o tempo todo, só quando
queriam mostrar algum movimento diferente que eles estavam executando.
Na aula de manipulação de bastão, no entanto, os alunos exigiam muito a
minha atenção.
“As crianças até têm facilidade para fazer o que é proposto como
desafio e logo inventam outra forma de fazer e um novo desafio surge,
o problema é que querem atenção o tempo todo e ficam me chamando
para ver o que estão fazendo. Enquanto isso tem as crianças que não
querem fazer nada que é proposto e tenho que ficar atenta para ver se o
que estão fazendo não é perigoso” (DIÁRIO II, 22/05/2007).
Já o “pé de lata” que fiz somente com a 2ª A exigiu menos a minha atenção em
relação ao que eles estavam fazendo, em parte porque eles já tinham experiência anterior com
a atividade e também porque estavam em duplas. Entretanto, passei a maior parte da aula
concertando os barbantes que arrebentavam ou embaraçavam.
Com dois barangandans ao mesmo tempo foi ainda pior. As duas turmas
tiveram a oportunidade de experimentar, mas poucos alunos conseguiram manipular os dois
ao mesmo tempo. Eles embaraçavam os dois barangandans que estavam com eles e também
com os colegas. E eu fiquei a aula quase que inteira desembaraçando os barbantes. Isso
quando eles não deixavam o barangandam cair no telhado. O problema de cair no telhado
aconteceu bastante com as bolinhas também.
Outras modalidades circenses exigiam minha atenção de uma forma diferente,
pois era somente um aluno de cada vez. Esse foi o caso do tecido, do tambor e, em alguns
momentos, a acrobacia de solo.
A espera os deixava inquietos e nem sempre eles esperavam sentados e
prestando atenção ao que eles iriam fazer.
Além da espera, essas três modalidades envolvem um risco maior de se
machucar. Isso fez com que eu me preocupasse o tempo todo com a segurança deles. Para isso
tínhamos colchonetes no chão e minha atenção redobrada.
274
Outro empecilho para esses elementos circenses era a obesidade, que dificulta a
execução desses e acaba desmotivando. Além disso, um outro problema era o mau cheiro do
pé ao tirar o tênis, como é o caso do tambor e principalmente do tecido. Quando isso
acontecia os outros alunos ficavam caçoando do colega que tinha tal cheiro. Em alguns casos
o aluno não queria tirar o tênis e no tambor, acrobacia e em alguns exercícios do tecido eu os
deixava fazer de tênis e tentava conversar com ele sobre a importância do banho e de
participar. Em nenhum momento eles eram obrigados a fazer a aula e quando surgia a chacota
eu conversava sobre isso com a sala. Também aconteceram chacotas quando alguns, ao subir
no tecido, tinham suas roupas íntimas expostas. E também conversávamos sobre o que
aconteceu, se eles iriam gostar se acontecesse com eles e se eles nunca tinham visto uma
calcinha ou cueca antes.
Apesar de algumas barreiras serem visíveis, a maioria tentou participar de tudo
que era proposto.
No tecido ainda teve alguns casos de alunos que não se destacam muito nas
aulas de Educação Física quando os jogos necessitavam de uma coordenação mais apurada ou
quando era uma atividade nova para o grupo, entretanto, conseguiram subir no tecido com
muita facilidade, o que impressionou toda a turma, a professora de sala e eu. Desta forma é
possível visualizar mais claramente a importância de ter uma variedade dos conteúdos nas
aulas de Educação Física, assim os alunos terão várias chances de se destacarem em algum
momento e isso é importante para mantê-los motivados.
Manter a motivação de um grupo não é uma tarefa fácil, pois “para cada aluno
existe um tipo de motivação, que o professor tem que descobrir” (RANGEL-BETTI;
MIZUKAMI, 1997, p. 112).
Isso também nos remete ao que foi discutido anteriormente com relação às
diferenças. Trabalhando um conteúdo variado utilizando vários métodos temos maiores
chances de atender as necessidades de vários alunos, conseqüentemente, evitamos que os
alunos sejam excluídos de nossas aulas e possibilitando que todos tenham uma oportunidade
de se destacar em algum momento das aulas.
9.2. MATERIAL
Cada modalidade circense requer um tipo de material. No caso, faço duas
distinções nos materiais. Os materiais de segurança e os materiais específicos da atividade. Os
de segurança utilizados foram os colchonetes. Os materiais específicos eram: bolinhas de
jornal amassado e de bexiga com areia dentro, barangandam, bastão, cabo de vassoura
275
revestido de plástico, latas com barbante, tambor (que eu consegui através de uma doação de
uma empresa) e o tecido.
Bortoleto e Machado (2003), ao fazerem uma classificação das modalidades
circenses pelo tipo de material que utiliza recomenda se utilizar nas aulas de Educação Física
as modalidades que necessitam de materiais de pequeno porte ou nenhum material, como é o
caso dos malabares, acrobacias de solo e figuras de equilíbrio.
Evidentemente que, considerando que o objetivo da Educação Física
escolar não é a maestria motriz (desenvolvimento técnico e físico),
mas ter contato com esta “parte” da cultura corporal que o Circo
representa, qualquer atividade que se proponha deve ser executada
num nível elementar (iniciação) de exigência técnico-física,
potencializando a importância dos elementos lúdico, expressivo e
criativo, que correspondem a essas práticas (BORTOLETO;
MACHADO, p.62).
O autor também declara que as modalidades que utilizam materiais de médio
porte, como é o caso do tecido, “são pouco apropriadas às condições e objetivos escolares” e
para as “escolas que dispõem de recursos materiais e pessoais adequados, estas modalidades
poderiam ser trabalhadas em horários extra-escolares, como conteúdo complementar”
(BORTOLETO; MACHADO, p. 62).
No caso deste trabalho, as modalidades utilizadas durante as aulas foram as que
utilizavam pouco ou nenhum material. A única exceção foi o tecido, que apesar de ser
classificado inadequado para as aulas regulares de Educação Física, sua vivência nas aulas foi
muito importante na motivação dos alunos.
O tecido é da própria escola e também não é tão caro, esse tem mais ou menos
o preço de três bolas de futebol e é muito durável. Foi comprado em 2006 e é utilizado em
algumas aulas regulares de Educação Física e também na turma de ginástica geral da escola,
que o utiliza pelo menos duas vezes por semana. O material não apresenta perda de
elasticidade ou qualquer dano mais sério. Certamente ainda será bastante utilizado em 2008.
Desde o ano de 2006 utilizo o tecido nas aulas de Educação Física no Ciclo I e
este tem sido a modalidade que mais os alunos pedem para fazer de novo. Reconheço que tem
o problema da fila, mas essa não é exclusiva do tecido, em muitos momentos foi preciso fazer
fila para a acrobacia de solo e o tambor, e por sua singularidade e por requerer diferentes
habilidades dos alunos, essa se fez necessária no planejamento.
276
No entanto, somente os materiais não são suficientes para controlar os riscos
inerentes a essas modalidades, é necessário que o professor tenha um conhecimento específico
de como fazer a segurança e o que fazer caso aconteça imprevistos.
9.3. SEGURANÇA
Em qualquer aula de Educação Física pode ocorrer acidentes, indiferente do
conteúdo a ser trabalhado. Em algumas modalidades do circo há mais chance de ocorrer
acidentes do que em outras.
A melhor forma de se evitar um acidente, e conseqüentemente, aumentar a
segurança é fazer um bom planejamento do que será executado e ter um bom conhecimento
dos materiais e das técnicas que serão empregadas (MUNHOZ, 2006).
Mesmo assim não é possível se prever tudo que pode ocorrer, então, um bom
preparo do profissional e a utilização adequada dos materiais de segurança são essenciais para
se evitar maiores danos físicos.
Nas aulas ministradas com as 2ª séries não tive nenhum acidente sério. O que
ocorreu foi na aula de acrobacia de solo em que um aluno queria mostrar para os colegas que
sabia fazer o rolamento e ao invés de fazer nos colchonetes como os outros, ele foi fazer no
chão duro e bateu a cabeça. Não foi nada sério com ele, mas esse incidente teve boas
conseqüências, pois os outros alunos não tentaram fazer o rolamento fora do colchonete e ele
parou de chamar atenção dos colegas desta forma.
Outro acidente foi no tecido. Depois que o menino conseguiu subir até o topo
eu falei para ele que já podia descer e ao invés de descer como eu havia explicado no início da
aula, ele simplesmente se soltou e os colchonetes e eu amortecemos a queda. Não aconteceu
nada com ele, nem dor ele sentiu, mas passei um grande susto. Possivelmente ele não prestou
atenção quando eu estava explicando como subia e descia do tecido no início da aula.
9.4. INTERFERÊNCIAS NA AULA
O local de trabalho da Educação Física é uma “vidraça”.
(...) a quadra ou o pátio, ou um gramado onde o professor realiza suas
aulas difere muito da sala de aula convencional que é um local de
quatro paredes onde, fechando-se a porta, ninguém sabe o que está
acontecendo. Com as aulas de Educação Física isto não acontece. Não
há como fechar a porta e qualquer um que quiser saber o que está se
passando pode se aproximar e descobrir.
277
Essa exposição deixa a aula de Educação Física sujeita a várias interferências.
Uma muito comum era alunos de outras séries que ficavam fora das salas observando, e
muitas vezes tentando participar da aula. Em alguns momentos essa interferência era positiva
e em outras, negativa. Em alguns casos os alunos da minha turma de circo não estavam em
aula e eu aproveitava a ajuda deles.
“Teve um momento que um menino, que treina circo comigo em outro
horário veio me trazer a autorização para participar da turma de
Atividades Curriculares Desportivas de Ginástica Geral, que no caso
temos aula de circo. Aproveitei a presença dele para fazer figuras
diferentes com as crianças, pois ele conseguia segurar as crianças
enquanto eu fazia a segurança deles” (Aula de portagem e figuras de
equilíbrio no solo) (DIÁRIO I, 24/05/2007).
Também aconteceu quando estávamos tendo aula de tecido e o local onde era
montado o tecido era perto das salas de Ensino Médio.
Desta vez a proximidade com o ensino médio me ajudou, pois os meus
alunos do circo foram lá e me ajudaram para mostrar alguma figura e
tirar fotos da turma (DIÁRIO I, 28/06/07).
Mas nem sempre eles ajudavam. Na aula de barangandam tivemos um fato que
atrapalhou o andamento da aula.
(...) foram os alunos de outras séries que viam eles manipulando o
barangandam e queriam tentar também. Alguns desses alunos mais
velhos até tentavam persuadir os mais novos para eles emprestarem o
barangandam para eles brincarem (estes eram alunos do ensino médio).
Eu tentava evitar que eles ficassem atrapalhando, pois os mais novos se
sentiam obrigados a emprestar seus barangandans para eles e eu tinha que
interferir para que isso não acontecesse (DIÁRIO I, 06/06/2007)
Eram muitas as interferências nas aulas e eu tinha sempre que ficar atenta para
tudo que acontecia. Tinha que ver se eles estavam fazendo o que foi proposto, se aquilo que
foi proposto estava motivando eles a participarem, se tinha alunos de outras séries
atrapalhando o andamento da aula, se tinha algum aluno de outra série que podia ajudar na
aula, se os alunos estavam brigando, se o material que eles estavam utilizando estava em
condições de ser utilizado, se tinha algum risco a atividade que estávamos fazendo.
278
Fora esses imprevistos, ainda tinha o problema de quando a professora chegava
atrasada e eu tinha que adiantar a aula ou o fato de ser professora substituta que a turma ficava
totalmente diferente e mudava de comportamento.
Outro fator que interferiu nas aulas foi o ensaio para a festa junina, que mudou
nossos horários e fez com que eu convencesse as professoras que eu precisava de mais tempo
com os alunos dela fora do ensaio para terminar o que havia sido planejado, que foi no caso
do tecido.
Ainda teve a aula de barangandam em que os alunos não levaram o material
para confeccionar o brinquedo e tivemos que adiantar uma aula. Na outra aula não contei
tanto com eles e levei eu mesma o material para que todos pudessem vivenciar a confecção do
brinquedo.
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando a Educação Física ainda nem existia muitas pessoas já conheciam os
artistas de rua que faziam o “impossível” manipulando diversos materiais, fazendo acrobacias,
se equilibrando em corda bamba, fazendo rir com a expressividade de seus gestos, etc.
Esse conhecimento da rua foi para debaixo de uma lona e assim surgiu o circo,
que ficou popular por encantar tantas pessoas, sejam elas ricas ou pobres. Esse mesmo circo
inspirou o surgimento da Ginástica, e este último forneceu bases para a Educação Física que
conhecemos hoje.
Na segunda metade do Século XX, no Brasil, a ginástica começou a perder espaço
para o esporte que se instalou como conteúdo da Educação Física escolar e o objetivo desta na escola
era formar atletas e buscar bons resultados em competições. Atualmente, essa não tem mais o objetivo
de formar alunos-atletas e sim cidadãos, que é a meta geral da educação. Propõe-se o desenvolvimento
de seus conteúdos de forma contextualizada e mais diversificados (ginásticas, jogos, esportes,
brincadeiras, danças, lutas, circo, ou seja, a cultura corporal). No entanto, muitos professores ainda
utilizam somente o esporte, por não terem tido contato em sua formação com outros conteúdos. As
modalidades circenses são ainda mais raras e só recentemente estão fazendo parte da educação formal
(ensino fundamental e médio).
Este trabalho buscou, através da análise dos diários de aula (ZABALZA, 2004) de
Educação Física, explicitar o conteúdo circo no contexto real de uma escola pública. Os resultados
apresentados apontaram para temas, como: ATENÇÃO, MATERIAIS, SEGURANÇA e INTERFERÊNCIAS
NAS AULAS.
O primeiro tema (ATENÇÃO) foi interpretado de duas formas: a atenção da professora
de Educação Física com relação ao que os alunos estavam fazendo e a atenção dos alunos com o que
279
eles próprios estavam fazendo. Por questão de segurança, em muitos casos eu tinha que focalizar meu
olhar para quem estava fazendo a atividade, enquanto os outros alunos esperavam. O tempo todo eu
tinha que estar atenta para saber se eles estavam fazendo o que foi proposto, se ninguém estava
brigando, se não estava tendo uma interferência de alunos de outras salas, se o material utilizado na
aula estava em boas condições e se algum aluno descobrira uma forma diferente de fazer a atividade
(neste caso pedia para que todos tentassem fazer igual). Em algumas modalidades circenses, como é o
caso do malabares, os alunos pediam muito a minha atenção, fazendo muitas vezes só para me mostrar
que conseguiam e acabavam não se entregando inteiramente à atividade.
Já os MATERIAIS, diferentemente do que pode parecer ou mesmo alegado por alguns
professores, não são de difícil acesso e não são caros, podendo ser solicitados para aquisição pela
própria escola. Quando estes são mais caros, temos que considerar que duram mais e vale a pena o
investimento – como é o caso do tecido. No malabarismo, no barangandam e no pé de lata foram
utilizados materiais alternativos que os próprios alunos podem levar para fazer a confecção na própria
sala de aula.
A SEGURANÇA é uma preocupação constante em toda aula de Educação Física, já que
trabalhamos com crianças em movimento na maior parte das aulas. Entretanto, não foi encontrado
muito material na literatura que trate do assunto. Devemos considerar que durante as aulas de
acrobacias aéreas e de solo, por exemplo, há maior probabilidade de acontecer acidentes e o professor
deve estar atento e preparado para isto. Como foi verificado neste trabalho, alguns “pequenos
acidentes” aconteceram e a atenção da professora e dos próprios alunos têm que ser redobrada, mesmo
que não tenham sido graves.
Já o último tema, INTERFERÊNCIAS NAS AULAS, está relacionado com a estrutura e
com o espaço físico das aulas de Educação Física na escola que, comumente, acontecem em lugares
abertos onde várias pessoas têm acesso: quadra ou pátio. Conforme relatado nos diários de aula, as
minhas aulas aconteceram muitas vezes no pátio e quando alunos de outras turmas e/ou séries ficavam
sem professor ou fora da sala por qualquer outro motivo, acabavam interferindo no andamento da aula,
seja de forma positiva ou negativa. Em algumas situações, os alunos mais velhos persuadiam os mais
novos para deixarem manipular as bolinhas ou o barangandam e, com isso, atrapalhavam o desenrolar
da aula. Entretanto, quando os alunos que já possuíam alguma vivência do circo se aproximavam,
estes vinham ajudar na aula, sendo perceptível a colaboração e o envolvimento destes com os que
estavam aprendendo.
Vale destacar o caso dos alunos que, ao conseguirem fazer a atividade com muita
desenvoltura, foram, pela primeira vez, os protagonistas da aula e impressionaram tanto os demais
colegas quanto as professoras. Essa é uma das principais vantagens de se trabalhar um conteúdo
diversificado e pouco comum, pois outras habilidades são privilegiadas e alguns alunos podem se
sentir protagonistas de, pelo menos, algumas aulas – situações estas que vêm ao encontro da
perspectiva de uma educação física inclusiva preocupada com a formação do cidadão.
280
Em todas as aulas o professor de Educação Física vai enfrentar situações dilemáticas e
terá que decidir o que fazer naquele momento. Normalmente se busca na experiência pessoal o que
deve ser feito. Saber o que outros professores já fizeram também pode ajudar a ampliar esse
conhecimento e melhorar ainda mais a prática docente.
Apesar de “novos” e “diferentes”, esses conteúdos não podem ser trabalhados de
qualquer forma, é necessário que o professor de Educação Física busque informações que envolvam o
conteúdo específico e o próprio processo pedagógico do que já foi realizado. Esta pesquisa buscou
explicitar esta necessidade e mostrar algumas situações reais que o professor de Educação Física pode
enfrentar durante suas aulas, o que o aproxima da realidade vivida e o auxilia num planejamento mais
preciso.
REFERÊNCIAS
BETTI, Mauro. Educação física e sociedade. São Paulo: Ed. Movimento, 1991, 184 p.
_____. Ensino de primeiro e segundo graus: educação física para quê? Revista Brasileira de
Ciências do Esporte, 13 (2), p. 282 – 287, 1992.
BORTOLETO, Marco. A perna de pau circense: o mundo sob outra perspectiva. Motriz, Rio
Claro, v. 9, n. 3, p. 125-133, 2003.
BORTOLETO, Marco; MACHADO, Gustavo. Reflexões sobre o circo e a educação física.
Corpoconsciência, Santo André, n. 12, p. 39-69, 2003.
BORTOLETO, Marco; DUPRAT, Rodrigo Mallet. Educação Física Escolar: pedagogia e
didática das atividades circenses. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.
28, n. 2, p. 171-189, 2007.
CLARO, Thiago Sales; PRODÓCIMO, Elaine. A Arte circense como conteúdo da educação
física
escolar.
Disponível
em:
<http://www.prp.rei.unicamp.br/pibic/congressos/xiiicongresso/
paineis/025289.pdf>. Acesso em: 22 Jan. 2008.
DAOLIO, Jocimar. Da cultura do corpo. Campinas: Papirus, 1995. 105p.
DARIDO, Suraya; NETO, Luiz Snachez. O contexto da educação física na escola. In:
DARIDO, Suraya; RANGEL, Irene org. Educação física na escola: implicações para a
prática pedagógica. Col. Educação Física no Ensino Superior. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan S. A., 2005. p. 1-24.
FREIRE, João B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física. 4ª ed. São
Paulo: Ed. Scipione, 2005. 224 p.
GALLARDO, Jorge P. Delimitando os conteúdos da cultura corporal que correspondem
à área da educação física. Disponível em: <http://www.unicamp.br/fef/publicacoes/
conexoes/v1n1/4delimitando.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2006.
281
HENRIQUES, Claudia. Picadeiro, palco, escola: a evolução do circo na Europa e no Brasil.
Efdeportes, Buenos Aires, ano 11, n. 101, 2006. 6p. Disponível em:
<http://www.efdeportes.com/ edf101/circo.htm>. Acesso em 14 dez. 2006.
MUNHOZ, Janaina de Freitas. Aspectos organizacionais e as atividades físicas de aventura na
natureza. In: SCHWARTZ, Gisele Maria org. Aventuras na natureza: consolidando
significados. Jundiaí: Fontoura, 2006. p. 197-208.
RANGEL-BETTI, Irene; MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. História de vida: trajetória
de uma professora de educação física. Motriz, v. 3, n. 2, p. 108-115, Dez. 1997. Disponível
em: <http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/motriz/03n2/3n2_ART07.pdf>. Acesso
em 08 jan. 2008.
RANGEL-BETTI, Irene. Educação física escolar: olhares sobre o tempo. Motriz, v. 5, n. 1, p.
37-39, Junho 1999. Disponível em: <http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/motriz/05n1/
5n1_ART10.pdf>. Acesso em 31 de Janeiro de 2008.
SILVA, Erminia. O circo: sua arte e seus saberes: o circo no Brasil do final do século XIX a
meados do XX. 1996. 151 f. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1996.
SILVEIRA, Sérgio Roberto. Proposta curricular de educação física: versão preliminar.
Disponível em: <http://cenp.edunet.sp.gov.br/index.htm>. Acesso em 7 de Fevereiro de 2008.
SOARES, Carmem Lúcia. Educação física: raízes européias e Brasil. Campinas: Autores
Associados, 1994. 143p.
_____. Educação Física Escolar: conhecimento e especificidade. Revista Paulista de
Educação Física, São Paulo, supl. 2, 1996. p. 6-12. Disponível em: <http://www.usp.br/eef/
rpef/supl2/supln2p6.pdf>. Acesso em: 2 de maio de 2007.
_____. Imagens da educação no corpo: estudo a partir da ginástica francesa no século XIX.
Campinas: Autores Associados, 1998. 145 p
_____. Notas sobre a educação no corpo. Educar. Ed da UFPR: Curitiba, n. 16, p. 43-60,
2000. Disponível em: <http://www.educaremrevista.ufpr.br/arquivos_16/lucia_soares.pdf>.
Acesso em: 22 de Janeiro de 2008
VENÂNCIO, Luciana; CARREIRO, Eduardo Augusto. Ginástica. In: DARIDO, Suraya;
RANGEL, Irene org. Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Col.
Educação Física no Ensino Superior. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S. A., 2005. p. 227243.
ZABALZA, Miguel. Diários de aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento
profissional. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2004. 160p.
282
ANEXOS
DIARIO DE AULA
DIÁRIO I
2007
2ª A
Horário:
Período da Manhã
Quarta – 7:50 as 8:40
Quinta – 8:40 as 9:00/ 9:20 as 9:50
02/05/2007 – Quarta
Expliquei para eles que íamos estar aprendendo elementos do circo à partir de hoje. Fui
falando algumas modalidade que íamos ver: tecido, corda bamba, malabaris, acrobacias de
solo. Muitos queriam falar junto.
Quando eles deram uma pausa eu falei para eles o que íamos fazer hoje, que era a acrobacia
de solo (estrelinha, rolamento, parada de mão e outros). Fizemos então uma fila de silêncio,
em que os mais quietos vão sendo chamados para irem na frente. Paramos na sala de
Educação Física para pegar os colchonetes e uma lona e seguimos para o pátio. Começamos
com uma roda no pátio e fizemos alguns alongamentos e aquecimentos. Depois fizemos uma
fila de meninos e outra de meninas. Coloquei os colchonetes no chão e cobri com a lona.
Começamos com estrelinha para saber se eles sabiam, pois no ano anterior já tínhamos
trabalhado acrobacias de solo. As meninas estavam inseguras e não conseguiam executar o
movimento no chão. Eu estava pedindo para fazerem algo parecido com a estrela aos que não
sabiam e como elas não conseguiam, fomos até a muretinha em volta do pátio e a usamos de
apoio para fazer alguns fundamentos. Elas colocaram as mãos, uma de cada lado da mureta e
tentavam pular com uma perna seguida da outra. Duas meninas mais gordinhas não
conseguiram mesmo assim, mas as outras fizeram.
Enquanto isso, os meninos esboçavam seus saltos nos colchonetes. Eles pegavam espaço e
faziam algo parecido com a estrelinha, mas, como eles não estavam com medo e estavam
exagerando nos saltos, tive que intervir e pedir para eles não tomarem espaço. Depois que
todos fizeram pelo menos três tentativas, chamei as meninas de volta e pedi para que todos
(meninos e meninas) fizessem rolamento no colchão. Um dos meninos fez o movimento para
eles verem. Falei dos cuidados que eles tinham que tomar e que as costas é que deveriam
tocar o chão, e não a cabeça. Algumas meninas tiveram mais dificuldade. Quando vi que já
estavam fazendo sozinhos, peguei a filmadora para filmar e eles se esforçaram bem mais. Foi
indo um atrás do outro e quando chegava a vez de algum aluno com mais dificuldade, eu ia
ajudar e parava de filmar. Por fim, fizemos parada de mão, mas antes, na fila mesmo, pedi
para eles estenderem seus braços para cima e duro. Então mostrei para eles como tinham que
deixar o braço (estendido e tampando a orelha) na parada de mão. Testei se todos tinham
entendido, se estavam com os braços firmes e então fomos fazer a parada de mão. Muitas
vezes eles colocavam a mão no chão, como se fossem fazer flexão de braço no chão e ficavam
esperando eu puxar seus pés para cima. Alguns entenderam que eles é que tinham que jogar as
pernas, mas a maioria não. Como eu queria que eles vivenciassem aquela posição invertida,
eu cheguei a levantar as pernas deles, mas só quando eles tentavam jogar, nem que fosse
muito pouco, as pernas. Deu tempo só de duas tentativas para cada um e o sinal tocou. Alguns
não queriam sair de lá, mas eles tinham outra aula e eu também.
03/05/2007 – Quinta
283
Relembramos o que foi feito na última aula e logo fui chamando um por um para saírem da
sala e irem para onde ia ser a aula (é um local de passagem para ir para a quadra e fica bem
perto da sala de Educação Física, consequentemente, fica mais fácil de levar os colchonetes).
Orientei para que eles chegassem lá e fizessem a roda para começar a aula.
Quando cheguei lá a roda ainda não estava pronta, mas logo terminamos de fazer a roda e
começamos a fazer um alongamento e um aquecimento. Não deu tempo de fazer muita coisa,
pois tinha o intervalo no meio da aula e tive que dispensa-los.
Depois do intervalo coloquei os colchonetes no chão e fui chamando um menino e uma
menina de cada vez. Começamos com rolamento simples e em seguida duplo. Depois fizemos
rolamento saindo em pé e por fim parada de mão com queda de costas nos colchonetes.
Todos os alunos participaram e tentaram fazer o que era proposto.
09/05/2007 – Quarta
Depois que fizemos a chamada relembramos o que foi feito na última aula e falei para eles o
que íamos fazer hoje, estrelinha. Ao chegarmos no pátio, dividi o grupo em três filas de frete
para uma muretinha que tem no pátio de mais ou menos 50cm. O desafio era pular a
muretinha colocando as mãos na mureta e jogando os pés para o outro lado. Uma menina
estava com dor de cabeça e não participou da aula. Em seguida expliquei como era a estrela
no chão e pedi para que eles tentassem seguir a risca do chão para não saírem muito tortos. Só
deu tempo de fazer uma estrela cada antes de bater o sinal e irem para a próxima aula. Hoje
não utilizei cholchonete na aula, fizemos tudo no chão liso do pátio.
10/05/2007 – Quinta
Hoje nós trabalhamos com malabarismo de bolinhas. Expliquei em sala mesmo o que nós
íamos fazer e as regras para não estragar as bolinhas (não jogar com força no chão, nem no
amigo). Fizemos a aula no pátio. Começamos jogando a bolinha com uma mão, depois com a
outra, de uma para a outra livre e batendo palma na cocha com a mão que ia receber a bolinha.
Assim que eles iam conseguindo eu ia passando outro desafio. Tentamos passar a bolinha para
a outra mão de várias formas, cruzando as mãos, por debaixo da perna, nas costa, girando. Só
foi possível vivenciar o manuseio das bolinhas. No ano passado trabalhamos muito com
bolinhas de papel, equilibrando ela em algumas partes do corpo e jogando de diversas formas.
Hoje usamos umas bolinhas de bexiga com areia. Alguns deles levaram bem a sério a
atividade, mas eles não conseguiam se concentrar muito em tentar dominar um desafio. Eles
logo queriam tentar outra coisa sem ao menos conseguir fazer o que foi proposto
anteriormente. Como eles estavam vivenciando, foquei que eles tentassem e conseguissem
alguma coisa, então, assim que eles conseguiam fazer algo parecido do proposto eu propunha
outros desafios para tentar mantê-los motivados. Alguns conseguiram fazer quase tudo que foi
proposto (na maioria os meninos) e outros tiveram muita dificuldade (tanto menino quanto
menina). Os primeiros até tentaram fazer com duas bolinhas. Eles estavam ansiosos e deixei
para eles verem que não é tão simples quanto parecia, nem tão difícil quanto muitas pessoas
falam.
16/05/2007 – Quarta
Começamos a aula na sala, onde falei para eles que íamos fazer malabarismo com duas
bolinhas. Alguns não tinham vindo na aula passada, então passei o que iam fazer com uma
bolinha. Em seguida fomos para o pátio eles tentaram fazer malabarismo com duas bolinhas.
Um dos meninos treinou em casa com as bolinhas dele e fez com facilidade com duas
bolinhas, depois ele tentou com três bolinhas e, com dificuldade, conseguiu jogar. Hoje eles
estavam bem mais dispersos que na aula passada.
284
17/05/2007 – Quinta
Hoje assistimos (2ª A; 2ª B e 3ª A) o vídeo do Cirque du Soleil (Dralion); Cidade do Circo e
as fotos dos eventos que eles participaram no ano de 2006. No começo eles prestaram
bastante atenção e até batiam palmas quando terminava o número na televisão. Depois de 1h
ficaram entediados e ansiosos. Quando coloquei o vídeo que eles estavam, não paravam de
gritar de euforia de se verem na TV. Ficamos 1h e 30min na sala e só saímos na hora de irem
embora.
23/05/2007 – Quarta
Hoje fizemos uma aula de manipulação de bastão. Tinha um bastão, no caso um cabo de
vassoura, para cada criança. Pedi para que eles tentassem equilibrar na mão, depois pedi para
eles colocarem na outra mão e então perguntei onde mais podíamos equilibrar. Eles
começaram a tentar equilibrar em diversas partes do corpo. Essa turma se empenhou mais no
que foi proposto, mas eles tiveram dificuldade de criar novas formas de explorar o bastão.
Tive que sugerir mais do que tinha planejado, pois eles não se aventuravam a tentar
movimentos muito diferentes. Um menino tinha levado três argolas e vez ou outra ele estava
jogando a argola, e algumas vezes ele tentava unir o bastão e as argolas. O mais difícil era que
eles ficavam querendo a minha atenção para cada movimento que eles conseguiam executar.
Como hoje choveu o dia todo, muitas crianças faltaram e isso facilitou a aula.
24/05/2007 – Quinta
Hoje estava muito frio de manhã e algumas crianças faltaram. Na minha programação
pretendia fazer o barangandam com as crianças para continuar trabalhando manipulação e
malabarismo. No entanto, eles não trouxeram os materiais, mesmo que sejam simples e
barato. Então deixei para fazer a aula na semana que vem, o que vai me dar tempo de comprar
o material e deixar os barangandam comigo. As crianças que trouxerem o material vão ficar
com os brinquedos com eles, os outros vão ter que me devolver. Como eu já imaginava que
isso podia acontecer, me preparei para fazer figuras de equilíbrio e portagens no chão. E
como estava frio decidi ficarmos na sala mesmo, só afastamos as carteiras para ter mais
espaço. Comecei propondo que eles fizessem o aviãozinho com um pé e com o outro. Depois
pedi que eles sugerissem outras figuras e surgiu a ponte e a parada de mão, mas eles não
conseguiam sair dessas figuras. Então falei para que eles tentassem fazer alguma coisa em
dupla ou trio, então uma das crianças tentou fazer a cadeirinha. Teve um momento que um
menino que treina circo comigo em outro horário, veio me trazer a autorização para participar
da turma de atividades curriculares desportivas de ginástica geral, que no caso temos aula de
circo. Aproveitei a presença dele para fazer figuras diferentes com as crianças, pois ele
conseguia segurar as crianças enquanto eu fazia a segurança deles. Eles ficaram a aula toda
envolvidos na atividade e tentavam sempre melhorar o que estavam fazendo. A maior
dificuldade deles era criar uma nova figura, mas assim que eu fui mostrando outras
possibilidades, eles tentavam fazer igual. Mesmo assim, a cadeirinha foi a que eles mais
ficaram fazendo.
30/05/2007 – Quarta
Hoje combinamos de fazer o barangandam ou Swing e eles tinham que levar o material. Eu
já estava com alguns barangandans que fiz com a 4ª série e a outra 2ª série para o caso deles
não terem lembrado de levar material. Metade da turma lembrou de levar material, dois
levaram o barangandam do ano passado e os outros não levaram nada. Felizmente o material
que foi levado foi o suficiente para fazer o barangandam para todos, mas somente os alunos
que levaram material puderam levar o brinquedo para casa. Além deles não levarem material
285
para fazer o brinquedo, eles também tinham muita dificuldade para fazê-lo e só tinha eu para
ajudá-los. Demorou a aula toda para terminarmos de fazer o barangandam e somente amanha
vamos ter a oportunidade de brincar com ele. O que facilitou a aula foi que alguns alunos
ajudaram a fazer o barangandam. O que dificultou foi que um menino levou uma fita que não
funcionava direito, ela só quebrava. Se eu não tivesse levado uma fita que uma menina da 2ª
B trouxe, seria muito difícil deles me ajudarem.
31/05/2007 – Quinta
Hoje tínhamos combinado de brincar com o barangandam e como a aula é interrompida no
meio pelo recreio, eu já fui logo explicando algumas regras para eles não ficarem se batendo
com o brinquedo. Em seguida entreguei um barangandam para cada e já iam para a fila. Da
sala até o pátio eles já foram rodando o brinquedo e chegando lá eles só puderam ficar alguns
minutos manipulando o objeto com movimentos circulares. Então já tive que pegar o
brinquedo novamente para guardar para depois do recreio eles explorarem outros
movimentos.
Depois do recreio eu entreguei um barangandam para cada novamente e fui dando umas dicas
de movimento. Sempre que vi que surgia um outro movimento, chamava a atenção dos outros
para quem estava fazendo e eles tentavam fazer igual ou um outro diferente de todos que
fizemos. Nesta atividade eles também tinham muita necessidade de me mostrar o que estavam
fazendo, mas muito menos do que as outras atividades de manipulação de objetos. Com o
barangandam eles brincavam sem precisar muito da minha atenção para eles se entregarem ao
que estavam fazendo. No final da aula todos me ajudaram a enrolar o material para guardar,
somente um menino não conseguiu enrolar nem com ajuda e eu tive que enrolar para ele.
06/06/2007 – Quarta
Já fui para a sala deles com a sacola de barangandam e logo que terminei a chamada nós
fomos para o pátio. Desta vez pedi para que todos ficassem no mesmo pátio e pedi para que
eles dessem um espaço de um para o outro para não embaraçar o barangandam. Distribui dois
barangandam para cada aluno e eles começaram a tentar manipulá-lo. Eles tiveram bastante
dificuldade de fazer os movimentos com os dois ao mesmo tempo e alguns devolveram o
outro e preferiram ficar com um só. Os que conseguiam manipular os dois tinham um outro
problema, desembaraçar os dois quando estes se entrelaçavam. Desta forma, fiquei uma boa
parte do tempo desembaraçando barangandam e não consegui prestar muita atenção no que
eles estavam fazendo. Isso quando não embaraçavam com os colegas. Outro fator que
atrapalhou o andamento da aula foram os alunos de outras séries que viam eles manipulando o
barangandam e queriam tentar também. Alguns desses alunos mais velhos até tentavam
persuadir os mais novos para eles emprestarem o barangandam para eles brincarem (estes
eram alunos do ensino médio). Eu tentava evitar que eles ficassem atrapalhando, pois os mais
novos se sentiam obrigados a emprestar seus barangandam para eles e eu tinha que interferir
para que isso não acontecesse. Assim que terminou a aula eles enrolaram o barangandam para
mim e guardaram no saco.
13/06/2007 – Quarta
Na aula de hoje levei os pés de lata para eles andarem. Como eles já tiveram aula de pé de lata
ano passado, este ano tentei incentiva-los a fazer coisas diferentes. Eles começaram em dupla
e depois eu fui desmanchando algumas duplas, pois algumas latas estavam sem barbante e
mesmo contando todas, eu não tinha um para cada um. Eles tentaram subir e descer escadas
com a ajuda do amigo e alguns até sozinhos, pois algumas duplas não entenderam o papel do
parceiro. Nós andamos no pátio e em volta do pátio tem um murinho de mais ou menos 40
centímetros e os meninos ficaram andando com pé de lata em cima deste murinho. Nenhuma
286
menina subiu no murinho. Eles também tentaram andar em cima da grama. No final da aula
alguns meninos já não se sentiam mais desafiados, enquanto alguns meninos e meninas
tinham muita dificuldade até mesmo em andar com o pé de lata. Já antecipando isso eu
distribuí os pés de lata que tinha a mais para os alunos que tinham mais dificuldade enquanto
os outros estavam em dupla. Eu também tinha umas latas mais altas e finas, que no ano
passado eles não conseguiam andar e desta vez eles até estavam usando para subir escada.
14/06/2007 – Quinta
A aula de hoje era a aula que pega parte do recreio e como tinha planejado de levá-los para
andar em cima do tambor, na primeira aula falei um pouco de como surgiu o circo. Depois do
recreio coloquei os colchonetes no chão do corredor que liga as salas de aula, ao pátio e à
quadra. Em cima dos colchonetes coloquei uma lona para os colchonetes não escorregarem e
em cima de tudo coloquei um tambor. O desafio era andar em cima do tambor de frente, de
costas e de lado, mas a maioria só conseguiu andar um pouco de frente e alguns poucos
também de costas. Eu tive que ajudá-los a andar. Todos participaram da aula e tentaram andar
no tambor. O problema é que por causa do recreio eles não tiveram muito tempo para andar
no tambor. Como só dava para andar um de cada vez, eles tiveram que esperar a vez. Por ser
uma atividade de algum risco, tive que ficar a tenta o tempo todo e mesmo assim alguns deles
caíram sentados no tambor. Se eu conseguisse achar um tambor menor seria melhor, mas não
foi possível.
Na semana do dia 20 e 21 foi semana de prova e não podia dar aula.
Dia 27/06/07 – Quarta
Antes do recreio tivemos ensaio da quadrilha para a festa junina.
Depois do recreio eu fiz a aula de tecido com as crianças. Já estava tudo arrumado da outra
segunda série que tinha acabado de sair. Pedi para que todas as crianças sentassem na lona
estendida no chão e fizemos o alongamento e aquecimento ali no lugar mesmo. Como essa
turma não tem aluno do circo, eu mesma tive que demonstrar. Fui chamando os mais
quietinhos primeiro. Segui a mesma seqüência da outra segunda. 1º eles deitavam no chão e
iam se erguendo com a ajuda do tecido; 2º eles fizeram um giro completo para trás que eu
chamo de mortalzinho; 3º Eles tentavam se equilibrar todo grupado de cabeça para baixo; 4º
eles tentavam subir até o final e numa turma de 22, 4 conseguiram subir. Com essa turma não
tive problema com as crianças mais velhas por que não era horário de recreio, mas a espera
deixava eles muito impacientes e logo estavam correndo um atrás do outro e fazendo bagunça.
Reconheço que esta atividade é muito parada para a maioria das crianças, pois elas passam a
maior parte do tempo sentadas. No entanto, acho que vale a pena eles vivenciarem as técnicas
do tecido. Nesta turma também tive algumas surpresas com relação aos alunos. A primeira é
que todos participaram e a segunda é que alguns alunos que não costumam se destacar em
outras aulas conseguiram fazer tudo que foi proposto e até melhor que a maioria. A professora
de sala até ficou impressionada com o desempenho destes alunos. Nessa aula ocorreu um
pequeno incidente também. Quando um dos meninos conseguiu subir até no final do tecido (5
metros), eu falei para ele descer e eu já tinha explicado como era pra fazer, no entanto, ele
simplesmente soltou a mão para escorregar e se não fosse o colchão e eu ali por perto para
amortecer a queda ele talvez tivesse se machucado. O problema de obesidade e mau cheiro do
pé também ocorreram nesta turma, mas isso não impediu que todos participassem. Até teve
um menino que não queria ir, mas depois de tentar ficou muito animado e quis tentar mais
vezes.
287
28/06/07 – Quinta
Desta vez levei eles para o pátio que fica perto das salas do ensino médio. Foram chegando
aos poucos, pois eles só puderam sair depois que terminaram a lição de sala. Assim que todos
chegaram fomos fazendo o alongamento e aquecimento. A primeira figura foi fazer cazulinho
e prancha, mais da metade conseguiu fazer, e somente 2 dessa turma fez sem minha ajuda. Em
seguida fizemos a sereia e metade da turma fez e os mesmos dois fizeram sem minha ajuda.
Desta vez a proximidade com o ensino médio me ajudou, pois os meus alunos do circo foram
lá e me ajudaram para mostrar alguma figura e tirar fotos da turma. A outra figura que fizeram
foi o cristo no chão e todos conseguiram fazer. Por fim eles tentaram subir o máximo que
conseguiam. Hoje eles também ficaram impacientes com a espera da vez deles, mas por ser
um espaço maior e longe da passagem de outras salas, eles conseguiram manter mais a
atenção.
DIÁRIO II
2007
2ª B
Horário:
Período da Manhã
Terça – 10:40 as 11:30
Quinta – 9:50 as 10:40
03/05/2007 – Quinta
Foi a primeira aula de circo deste ano e comecei falando para eles o que iríamos ter nas aulas
de circo. Eles falaram o que eles achavam que ia ter e eu ajudava falando o que eles não
lembravam.
Falei para eles que íamos começar com acrobacias de solo e dei exemplos do que isso seria e
logo eles já sabiam o que ia ser e queriam demonstrar ali na sala mesmo, mas pedi para que
eles fizessem somente quando estivéssemos lá fora da sala, de preferência nos colchonetes por
causa da segurança.
Fui falando o nome de cada um deles e pedi para que fossem fazer a roda na passagem para
subir para a quadra e quando cheguei lá estava cada um em um lugar, mas não tinha roda.
Chamei 3 deles para me ajudar a pegar os colchonetes e quando fui até eles com os
colchonetes, tinha criança correndo para todo lado. Pedi, então, para que os meninos
sentassem de um lado e as meninas do outro e disse que ia chamar quem estivesse se
comportando e mesmo assim continuaram fazendo bagunça. Dois meninos não paravam de
gritar e pular até que um deles foi tentar fazer um rolamento no chão e bateu a cabeça (nada
grave), só então ele começou a respeitar um pouco mais e parou de ficar tentando fazer o
rolamento fora do colchonete.
Quando consegui que eles me ouvissem, expliquei como se fazia o rolamento e todos
tentaram fazer. Alguns riam quando o outro fazia errado. Depois eles tentaram dois
rolamentos seguidos, mas não todos, porque tinha alguns que não estavam conseguindo fazer
sozinhos. Ao tentarem fazer o segundo rolamento, eles faziam sozinhos e acertavam mais no
segundo se a ajuda. Eles ficam esperando que eu ajude e acabam não tentando, mas quando
estão sozinhos, eles tentam o melhor e fazem com facilidade.
Por fim fizemos parada de mão com queda de costas nos colchonetes, com o corpo reto.
O que achei interessante é que as meninas que no começo não queriam fazer o rolamento, no
final estavam fazendo sozinhas e não queriam mais parar de fazer.
O difícil é que eles estavam muito inquietos e não conseguiam se concentrar no que eles iam
fazer, só sabiam mesmo o que ia ser feito quando era a vez deles e o que o colega fazia só
chamava a atenção deles quando eles caiam de uma forma diferente, daí eles começavam a rir.
288
Todos tentaram fazer o rolamento e conseguiram. Na parada de mão todos tentaram, porém
nem todos conseguiram.
08/05/2007 – terça-feira
Depois da chamada fomos para o pátio e começamos fazendo uma roda. Expliquei que íamos
fazer estrelinha e fiz uma fila de menina e outra de menino. Primeiro fomos saltar na
muretinha que dever ter aproximadamente 40cm de altura. Pedi que colocassem a mão e
pulassem com as duas pernas, uma na seqüência da outra e uma chegando antes da outra no
solo. Demonstrei e elas fizeram. Uma menina que no ano passado não se aventurava a tentar
nada de acrobacia, tentou fazer tudo que foi proposto e esta atividade realizou sem problemas.
No entanto, um menino, que normalmente se destaca nas outras aulas de Educação Física,
demonstrou uma dificuldade que eu desconhecia. Ele não conseguia nem fazer a da mureta
direito. Já um outro menino que é o mais velho da turma esta com dificuldade de fazer a
estrela com a cabeça para dentro, mas ele tem facilidade em quase todas as brincadeiras e sabe
fazer escorpião sozinho.Outro menino fez a estrela caindo com os dois pés no chão ao mesmo
tempo e se esforçou bastante para tentar cair com as pernas estendida, mas ainda não
conseguiu.
Em seguida fizemos parada de mão na parede com a minha ajuda. Três meninos e uma
menina não precisaram da minha ajuda. Os outros precisaram da minha ajuda, uns mais do
que outros. Depois que o sinal bateu, dois meninos continuaram tentando, estrelinha e
rondado, respectivamente.
10/05/2007 – Quinta
Hoje nós trabalhamos com malabarismo de bolinhas. Expliquei em sala mesmo o que nós
íamos fazer e as regras para não estragar as bolinhas (não jogar com força no chão, nem no
amigo). Fizemos a aula no pátio. Começamos jogando a bolinha com uma mão, depois com a
outra, de uma para a outra livre e batendo palma na cocha com a mão que ia receber a bolinha.
Assim que eles iam conseguindo eu ia passando outro desafio. Tentamos passar a bolinha para
a outra mão de várias formas, cruzando as mãos, por debaixo da perna, nas costa, girando. Só
foi possível vivenciar o manuseio das bolinhas. No ano passado trabalhamos muito com
bolinhas de papel, equilibrando ela em algumas partes do corpo e jogando de diversas formas.
Hoje usamos umas bolinhas de bexiga com areia. Alguns deles levaram bem a sério a
atividade, mas eles não conseguiam se concentrar muito em tentar dominar um desafio. Eles
logo queriam tentar outra coisa sem ao menos conseguir fazer o que foi proposto
anteriormente. Como eles estavam vivenciando, foquei que eles tentassem e conseguissem
alguma coisa, então, assim que eles conseguiam fazer algo parecido do proposto eu propunha
outros desafios para tentar mantê-los motivados. Alguns conseguiram fazer quase tudo que foi
proposto e outros tiveram muita dificuldade. Os primeiros até tentaram fazer com duas
bolinhas. Eles estavam ansiosos e deixei para eles verem que não é tão simples quanto
parecia, nem tão difícil quanto muitas pessoas falam. Com essa turma eu tive uns problemas
de comportamento, dois alunos ficavam jogando a bolinha para todo lado, eles não
conseguiam se concentrar no que estavam fazendo. Eles fazem isso toda aula, então não dá
para concluir que é por causa desta atividade.
15/05/2007 – Quarta
Hoje fizemos malabarismo novamente, mas quem veio na aula anterior fez com duas
bolinhas. Primeiro jogando uma bolinha com uma mão e pegando com a mesma e em seguida
jogava com a outra e pegava com ela. Só depois pedi para que tentasse jogar de uma mão para
a outra. Dois meninos e uma menina já estavam conseguindo jogar de uma mão para a outra.
289
Hoje eles estavam muito ansiosos e muitos deles já estavam tentando jogar a bolinha no
telhado e nos colegas, enquanto outros estavam levando a atividade a sério.
17/05/2007 – Quinta
Hoje assistimos (2ª A; 2ª B e 3ª A) o vídeo do Cirque du Soleil (Dralion); Cidade do Circo e
as fotos dos eventos que eles participaram no ano de 2006. No começo eles prestaram
bastante atenção e até batiam palmas quando terminava o número na televisão. Depois de 1h
ficaram entediados e ansiosos. Quando coloquei o vídeo que eles estavam, não paravam de
gritar de euforia de se verem na TV. Ficamos 1h e 30min na sala e só saímos na hora de irem
embora.
Uma menina, que está fazendo aula de circo no período da tarde comigo, vinha me falar de
alguma coisa que achou interessante no vídeo. Ela até veio me falar que aprendeu uma
portagem de um ficar de pé no ombro do outro, que ela estava tentando fazer e quando viu no
vídeo, ficou eufórica e veio me falar que tinha entendido.
22/05/2007 - terça-feira
Hoje tivemos aula de manipulação de bastão. Utilizamos cabos de vassoura e bastões de
ginástica que era da escola da família que foi desativada na escola. As crianças me ajudaram a
levar os bastões até o pátio e quando chegamos lá, demorou para eles fazerem a roda. Sempre
que é possível começamos a aula com roda para ficar mais fácil de explicar a atividade, mas
eles sempre demoram para se organizar e hoje eles também demoraram para fazer a roda. O
pátio fica perto das salas de aula e semana passada um professor reclamou do barulho que as
crianças fazem, então, hoje fiquei muito tensa quando eles gritavam, e o bastão tem outro
problema, pois faz bastante barulho quando cai no chão. O mais difícil nessa atividade é dar
atenção especial para a segurança, pois se eles ficaram brigando com o bastão, eles podem se
machucar bastante. Tentamos equilibrar o bastão na mão, no braço, no pé e em diversas partes
do corpo. Jogamos o bastão de uma mão para a outra e giramos este com as duas mãos e uma
só. Somente um bastão quebrou quando caiu no chão. As crianças até têm facilidade para
fazer o que é proposto como desafio e logo inventam outra forma de fazer e um novo desafio
surge, o problema é que querem atenção o tempo todo e ficam me chamando para ver o que
estão fazendo. Enquanto isso tem as crianças que não querem fazer nada que é proposto e
tenho que ficar atenta para ver se o que estão fazendo não é perigoso. No meio da brincadeira
surgiu várias propostas, numa delas o bastão virou um cavalo e eles cavalgaram no pátio,
virou também um cabo girador para pular. Durante a aula tive um acidente, nada muito sério,
mas um menino deixou cair o bastão e pegou no rosto do colega, bem perto do olho. Um
menino ficou equilibrando muitos bastões no pé e ficou contente quando equilibrou 8 bastões
ao mesmo tempo. Já uma outra menina explorava equilibrar o bastão no pé quando fazia vela,
e na barriga quando fazia ponte. Dois meninos só ficavam jogando o bastão para cima e
brincando de cavalinho. A principio fiquei brava por eles estarem fazendo algo que não tinha
a ver com o que eu tinha proposto, mas depois aquietei minha ansiedade e tentei ver que
aquela era a forma como eles encontraram de se envolver com o que foi pedido para eles.
24/05/2007 – Quinta
No horário era para nos encontrarmos às 9:50, no entanto, como a professora faltou e a
substituta ainda não tinha chegado, adiantei a aula para a primeira e como estava frio e eles
nem começaram a trazer o material para fazer o barangandam, fizemos a aula na sala.
Adiantei uma aula e fizemos figuram de equilíbrio e portagens no chão. Comecei propondo
que eles fizessem o aviãozinho com um pé e em seguida com o outro. Antes que eu pedisse
que eles fizessem outra coisa, foi surgindo outras figuram e logo eu chamava a atenção dos
outros para o que surgia de novo e todos tentavam fazer. A cada momento surgia uma figura
290
nova. Cadeirinha, pirâmide, cavalinho, parada de mão e muitas outras que nem sei qual seria o
melhor nome. Eu também propus figuras que entre eles não teriam condição de fazer ainda,
mas comigo era possível. Esta turma é bem agitada e em muitos momentos eles estavam
correndo atrás do outro. Dois meninos, que normalmente ficam correndo na aula, ficaram
tentando diversas figuras e preferiram fazer cadeirinha e cavalinho. Eles foram muito criativos
e muitas vezes não faziam uma figura de equilíbrio, mas uma figura que tinha uma estética
diferente e chamava muita atenção. Diferente da aula de bastão, eles exigiram menos a minha
atenção. Na aula do bastão era como se eles fizessem a aula para mim, para eu ver o que eles
conseguiam fazer. Nesta aula também tinha isso, mas bem menos que a aula passada. Eles
faziam as figuras para ver se conseguiam fazer e muitas vezes, se eu não prestasse bastante
atenção, podia deixar de ver o que estavam fazendo. No final da aula eles colocaram as
carteiras no lugar e foram beber água, ir no banheiro e lavar as mão para voltar para a aula.
29/05/2007 – Terça
Eu tinha pedido na semana passada para eles trazerem material para fazermos o barangandam
ou Swing. Eles tinham que levar fita adesiva, jornal, barbante e 3 cores de TNT, no entanto,
somente uns 3 alunos levaram algum material. Eu já esperava que eles não levassem material
e como fiz o barangandam com a turma da 4ª série, que são alunos com melhores condições
financeiras e já têm maior responsabilidade para se lembrarem de levar os materiais, e alguns
materiais que sobrou eles me deram para fazer a aula com as outras classes. Além da ajuda
deles, eu também levei 3 cores de TNT. Os alunos que não levaram material tiveram a
oportunidade de fazer o barangandam, mas o brinquedo iria ficar comigo. Já os que trouxeram
material, puderam levar o brinquedo para casa. Ficamos a aula toda confeccionando o
barangandam, todos tiveram a oportunidade de confeccionar e na quinta vamos brincar com
este. O material é bem barato e a escola tem condições de comprar o material para fazer o
brinquedo e deixa-lo para os alunos aprenderem a manipulá-lo.
31/05/2007 – Quinta
Hoje fizemos a manipulação do barangandam. Fui busca-los na sala e levei eles até o pátio e
somente lá entreguei um brinquedo para cada um. O primeiro desafio eu que sugeri, mas eles
já estavam rodando o barangandam cada um de um jeito. Eles tentaram rodar o
barangandam de diversas formas e com várias partes do corpo. Como das vezes anteriores,
eles sentiam necessidade de me mostrar o que estavam fazendo, mas desta vez eles
conseguiram, muitas vezes, se entregar ao movimento sem precisar da minha atenção. Eles
também conseguiram desenvolver movimentos diferentes sem que eu precisasse pedir para
que eles fizessem, então aproveitava aquele que estava fazendo um movimento diferente e
chamava a atenção de todos para ver e tentar fazer igual. A todo tempo eles inventavam um
jeito diferente de brincar e ao final da aula eles já estavam manipulando com as duas mãos em
diversas posições. Assim que bateu o sinal eles me ajudaram a enrolar o barangandam e todos
conseguiram guardar sem minha ajuda.
06/06/2007 – Quarta
Hoje foi um dia bem incomum. A nossa aula seria ontem, mas precisei de mudar para hoje.
Até ai tudo bem, mas ao chegar dentro da sala, descobri que os alunos teriam que descer ao
pátio, pois daquele dia em diante teria, todas as quarta-feira antes de começar a aula, os alunos
teriam que ir ao pátio para cantar o hino nacional. Com isso perdemos 30min de nossa aula.
Assim que terminaram de cantar o hino eu peguei o material, o barangandam, e distribui
dois para cada um. Propus que eles tivessem que manipular os dois ao mesmo tempo e deixei
que eles ficassem em dois pátios. Eu fiquei no pátio central olhando o que eles estavam
fazendo. No início estavam tentando manipular os dois com movimentos circulares. Depois os
meninos que estavam no outro pátio começaram a brigar, então chamei eles de volta para o
291
mesmo pátio que eu e os envolvidos na briga eu tirei o barangandam. Combinei desde o
começo do ano, que quem brigasse sairia da brincadeira imediatamente. Tentei continuar a
aula, mas o tempo já tinha acabado e pedi que eles enrolassem o barangandam e me
devolvesse. Outro fator que interferiu foi que eles estavam agitados por causa do hino.
14/06/2007 – Quinta
Hoje fizemos aula de andar no tambor. Quando eles chegaram já estava tudo arrumado.
Coloquei 8 colchonetes no chão e uma lona por cima para ficar mais fácil de andar no tambor.
Os colchonetes e a lona são da escola e o tambor fui eu que levei para a escola. O lugar onde
coloquei o tambor é um local de passagem, o que fazia sempre ter alguém que não era da
turma olhando a aula. Essa atividade só possibilita que uma criança vá de uma vez, portanto
elas tinham que esperar para irem. Só não tiveram que esperar muito porque eles ainda não
tinham muita habilidade, consequentemente não demoravam muito para ir. No começo as
meninas falaram que não iam, mas logo aceitaram tentar e não pararam mais de ir. Todos
tiveram a oportunidade de tentar pelo menos cinco vezes cada, sendo que alguns foram mais.
Algumas crianças fazem aula de circo comigo num outro horário e tiveram muita facilidade
para andar, as outras tiveram dificuldade. Uma menina tem problema de obesidade, mas nem
por isso deixou de tentar andar. Por eles serem novos e não tão grandes foi fácil eu manter a
segurança deles e mesmo assim alguns deles caíram em cima do tambor. Eles não caiam com
muita força e eu amortecia a queda, então nenhum deles se machucou.
Na semana do dia 21 de Junho foi semana de férias na minha escola e não teve aula.
27/06/07 – Quarta
Antes do recreio tivemos ensaio da quadrilha para a festa junina.
Depois do recreio eu fiz a aula de tecido com as crianças. Coloquei o tecido num lugar baixo
com dois colchonetes em baixo. Estendi uma lona no chão e pedi para as crianças ficarem na
lona. Antes de subirem no tecido fizemos um alongamento e aquecimento, principalmente
nos braços. Em seguida todos sentaram e disse para eles que eu ia chamando quem não fizesse
bagunça. O meu maior problema é que estava acontecendo o recreio dos mais velhos, então
muitos deles fizeram roda na nossa aula para ficar olhando. Foi difícil trabalhar com barulho
das outras crianças, mas deu para eles entenderem o que estava sendo proposto. 1º eles
deitavam no chão e iam se erguendo com a ajuda do tecido (essa eu demonstrei); 2º eles
fizeram um giro completo para trás que eu chamo de mortalzinho (essa uma menina que faz
circo comigo em outro horário demonstrou); 3º Eles tentavam se equilibrar todo grupado de
cabeça para baixo (a aluna demonstrou); 4º eles tentavam subir até o final e numa turma de
22, 5 conseguiram subir; 5º subir e abrir o tecido para colocar o braço no meio do tecido.
Muitas crianças apresentaram dificuldade e nesta turma duas crianças não quiseram tentar
subir. O problema de trabalhar tecido numa turma deste tamanho é que enquanto eu estou
com um subindo no tecido eu não posso ficar de olho nos outros. É muito ruim eles ficarem a
maior parte da aula sentados, mas vale a pena eles vivenciarem o tecido. Essa turma esta
esperando desde o ano passado para ter aula de tecido. Um ponto positivo é que quando eles
aprendem o básico do tecido no horário de aula, eles passam a ter mais facilidade nas
atividades fora do ensino formal. As crianças que também fazem aula de circo de tarde
ficaram mais motivadas na aula de circo para tentarem fazer tecido, o que normalmente eles
não tentavam na aula. Um fato que me marcou foi que algumas crianças que apresentam
dificuldade em outros conteúdos se destacaram no tecido. A maior dificuldade é com crianças
obesas, mas isso não impediu que estes participassem. Um outro problema é o cheiro, pois ao
tirarem o tênis elas se expõe e muitas vezes eles têm chulé. Desconfio que um dos meninos
que não tentou subir foi por esse motivo. Outra coisa que aconteceu na aula foi que alguns
292
alunos estavam com short largo e no mortal acabaram ficando de cueca ou aparecendo boa
parte da calcinha e as crianças ficavam tirando sarro do colega.
28/06/07 – Quinta
Hoje levei as crianças para terem aula de tecido no pátio, pois a estrutura para amarrar o
tecido é mais alta. No pátio eles fizeram menos bagunça do que ontem, pois este não era
passagem para nenhum outro lugar como ontem. Primeiro fizemos um alongamento e um
aquecimento e novamente todos esperaram sua vez para subir no tecido. Em seguida chamei
as crianças que tinham conseguido subir até no alto ontem e pedi que eles tentassem subir ali.
Depois pedi que todos fizessem cazulinho (eles ficam pendurados pela mão de cabeça para
baixo e todo encolhido, é difícil eles começarem a equilibrar nessa posição, mas muitos
conseguiram) e prancha (aproveita a posição anterior e estende as pernas para cima e ficam
com o corpo todo estendido de cabeça para baixo). Eles têm bastante dificuldade de encontrar
o equilíbrio e costumam ficar na posição carpada e não estendida. No começo da aula também
tivemos a presença dos alunos mais velhos observando nossa aula, mas bem menos do que
ontem por que o local que fizemos a aula era perto das aulas do ensino médio. A próxima
figura foi a sereia (ainda de cabeça para baixo, tecido aberto em duas partes e o corpo fazendo
uma grande curva com os pés apoiados no tecido e a cabeça tentando alcançar os pés). Eles
tiveram bem mais dificuldade nesta figura do que nas anteriores, mas pelo menos uns 8 alunos
conseguiram fazer. Em seguida ensinei a eles a trava do tecido saindo do chão. As crianças
que já estavam conseguindo subir, eu pedi para subirem, abrindo o tecido depois de saírem
um pouco do chão e fazendo a trava no tecido. Essa todos conseguiram fazer. Por fim, alguns
alunos queriam tentar subir novamente e os que já iam terminando iam colocando os calçados
para irem para a sala de aula.
Download

O CIRCO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA