O CIRCO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: SUA APLICAÇÃO EM UMA ESCOLA PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO Janaina de Freitas Munhoz1 Glauco Nunes Souto Ramos (O)2 RESUMO: O circo faz parte do imaginário de muitas pessoas até hoje. É parte da cultura popular e por ter características nômades, deixou vestígios por toda parte, chegando até mesmo em lugares de difícil acesso, e ficou mundialmente conhecido. Antes mesmo da globalização o circo já era internacional e os movimentos corporais utilizados nos espetáculos também auxiliaram no surgimento do Movimento Ginástico Europeu, no entanto, na busca de moldar o corpo para o trabalho acabou-se afastando de suas origens populares. A Educação Física no Brasil adotou o método Frances de Ginástica, posteriormente ocorreu a esportivização, em que o esporte era exaltado e a Educação Física tinha o objetivo de descobrir novos atletas. Mais recentemente está se adotando o conceito de cultura corporal, em que todo o acervo cultural produzido pela humanidade e que tenha significado e relevância na comunidade em que se está trabalhando, tenha espaço nas aulas de Educação Física. No entanto, mesmo com a diversidade deste acervo, a prática esportiva ainda está mais presente no ambiente escolar, do que a dança, a luta, o circo e até mesmo a ginástica. Isso porque as pessoas normalmente tiveram mais contato com o esporte e não foram preparadas na graduação para trabalhar conteúdos diferenciados privilegiando o fazer e o entender sobre o que se está fazendo. Esta pesquisa tem como objetivo auxiliar o professor de Educação Física que deseja trabalhar o circo em suas aulas e não tem idéia do que pode fazer e quais os limites e as possibilidades de se trabalhar com este conteúdo. Essa foi realizada numa escola estadual no centro de Bonfim Paulista, distrito de Ribeirão Preto, que fica aproximadamente 300 km da Capital Paulista, e utilizou a metodologia de diário de aula, pois esse, além de ser uma ferramenta importante para entender a realidade do professor e assim entender as situações dialéticas em que está inserido, auxilia também para a formação continuada do mesmo. Com os diários de aula é possível observar algumas formas de se trabalhar com o circo nas aulas de Educação Física, destacando alguns limites e algumas possibilidades. Assim deseja-se dar subsídios reais para a reflexão sobre a inserção deste conteúdo nos planejamentos e não dar receitas de como se deve agir, pois cada realidade é diferente e muitas outras situações serão encontradas pelo professor. Palavras chave: Circo; Educação Física Escolar; Ginástica; Cultura Corporal; Diário de Aula. INTRODUÇÃO Quem nunca foi ao circo e viu as apresentações dos palhaços, malabaristas, trapezistas, acrobatas de solo, domadores de feras, entre outros artistas circenses? 1 Professora de Educação Física da Rede Estadual de Ensino de São Paulo, Diretoria Regional de Ensino de Ribeirão Preto e aluna da II Turma do Curso de Especialização em Educação Física Escolar (lato sensu) do DEFMH/UFSCar. 2 Professor Adjunto do DEFMH/UFSCar e Coordenador do Curso de Especialização em Educação Física Escolar. 256 Normalmente as pessoas tiveram suas experiências relacionadas ao assistir o espetáculo, mas recentemente muitos estão tendo a chance de vivenciar a arte circense. Já existem escolas de circo em diversas cidades e qualquer pessoa que desejar pode experimentar muitas das modalidades circenses, com exceção das atividades desenvolvidas com os animais. As modalidades circenses são parte do acervo cultural da humanidade e como tal podem ser incluídas nos conteúdos da escola. Esta manifestação cultural tem encontrado um espaço nas aulas de Educação Física em alguns países da Europa, no Brasil ainda são poucos os trabalhos encontrados com este tema, mas tem aumentado esta ocurrência (BORTOLETO; MACHADO,2003). Apesar de atualmente ter várias escolas de circo espalhadas pelo Brasil, muitos professores de Educação Física não tiveram contato com este conteúdo durante sua vida escolar e quando se faz a escolha do conteúdo a ser trabalhado, ter a vivência deste conteúdo conta muito para que este seja escolhido e inserido nas aulas. Enquanto aluna, tive a oportunidade de vivenciar estas modalidades durante dois anos na escola de circo de Ribeirão Preto e senti que é possível levá-las para a escola. Durante o ano de 2006 já as inseri nas minhas aulas de Educação Física e as crianças adoraram e pretendo sistematizar e avaliar melhor este conteúdo na escola. Desta forma este trabalho tem o objetivo de analisar as atividades circenses enquanto conteúdo da Educação Física no Ciclo I do Ensino Fundamental, destacando suas possibilidades e suas limitações no contexto real de um programa de aulas. Fornecendo assim um material de reflexão dos dilemas que foram encontrados durante a prática docente. Os conteúdos foram ministrados durante as aulas de Educação Física na Escola Estadual “Dr. Francisco da Cunha Junqueira”, em Bonfim Paulista, distrito de Ribeirão Preto, estado de São Paulo. Esta escola foi escolhida porque sou professora efetiva, possibilitando que analisasse minhas próprias aulas. Foram escolhidas as duas turmas de segunda série do período da manhã. As aulas ocorreram nos meses de maio e junho de 2007 e no mesmo dia em que a aula era ministrada, era feito um diário de aula que descreve o que era destacável naquele contexto. Esse instrumento metodológico foi muito importante para o professorpesquisador ter uma outra perspectiva de sua prática e auxiliar sua reflexão sobre suas aulas. Exemplos como esses, sistematizados e aplicados na escola, podem ser um incentivo para motivar os professores a pensarem sobre como podem incluir o circo em seu planejamento e incentivar que busquem mais conhecimento sobre o tema. 257 1. A GINÁSTICA COMO PRECEDENTE DA EDUCAÇÃO FÍSICA A primeira forma de sistematização das atividades corporais no ocidente nos tempos modernos ocorreu com o Movimento Ginástico Europeu, em que expressões da cultura da época, século XIX, baseados em movimentos construídos “a partir das relações cotidianas, dos divertimentos e festas populares, dos espetáculos de rua, do circo, dos exercícios militares, bem como dos passatempos da aristocracia” (SOARES, 1998, p. 18) e com princípios de ordem e disciplina, deram origem à Ginástica. Abarcando uma enorme gama de práticas corporais, o termo Ginástica, pertencente ao gênero feminino, de designação feminina e que historicamente se constrói a partir de atributos culturalmente definidos como masculinos: força, agilidade, virilidade, energia/têmpera de caráter, entre outros, passa a compreender diferentes práticas corporais. São exercícios militares de preparação para a guerra, são jogos populares e da nobreza, acrobacias, saltos, corridas, equitação, esgrima, danças e canto. (SOARES, 1998, p. 18) O objetivo era, através da ciência, reunir todas as práticas corporais feitas fora do ambiente de trabalho e transformá-las em atividades físicas que servissem aos ideais de saúde, vigor, energia e moral. E foi daí que partiram as teorias de hoje denominada Educação Física do ocidente (SOARES, 1998) Era preciso no século XIX (...) regenerar a raça e promover a saúde em uma sociedade marcada pelo alto índice de mortalidade e de doenças, sem contudo alterar as condições de vida e de trabalho. Em outro plano, as finalidades se completavam pelo desejo de desenvolver a vontade, a coragem, a força, a energia de viver para servir à pátria nas guerras e na indústria. Mas a finalidade maior foi, sobretudo, moralizar os indivíduos e a sociedade, intervindo radicalmente em modos de ser e de viver (SOARES, 1998, p. 20). Desta forma, a Ginástica se distancia das expressões populares que outrora deram origem a mesma e muitas vezes a nega para tentar encontrar sua nova identidade. “A Ginástica científica se apresentava como contraponto aos usos do corpo como entretenimento, como simples espetáculo, pois trazia como princípio a utilidade de gestos e a economia de energia” (SOARES, 1998, p. 23). 258 Para a autora, o circo, que era muito popular no século XIX por despertar diversos sentimentos em seu público, tais como medo, alegria e encantamento, e também por seus movimentos serem vistos como inúteis ao trabalho, pois o artista circense fazia uso excessivo de força e gastava demasiadamente sua energia, passa, então, a ser observado de perto pelas autoridades. As exibições de rua, os circos, libertavam o espontâneo que fora aprisionado pelo saber científico, faziam renascer formas esquecidas da inteireza humana. Exibiam o que se desejava ocultar e despertavam imagens adormecidas no coração dos homens. Eram dissonantes à sociedade que se afirmava no século XIX. (SOARES, 1998, p. 28) A Ginástica se torna então uma forma de moldar o corpo e a vontade das pessoas da época e parece “ser mais uma receita e remédio para os males que afligiam uma sociedade ainda perplexa com suas próprias criações e assombrada com os rumos do seu destino” (p. 29). Em outro estudo realizado pela mesma autora, temos que a Ginástica, no século XIX, deseja construir um corpo revestido milimetricamente, cujo porte deve exibir simetrias nunca vistas. A nova roupagem deste corpo deve ocultar qualquer vestígio de exibição do orgânico, qualquer perda de fixidez, qualquer sinal de mutação (SOARES, 2000, p. 48-49). E para se firmar na sociedade, a ginástica se aproxima cada vez mais da ciência e da técnica, para ser reconhecida como o que é racional, experimentado e explicado. Com a cientificidade dessa, (...) a burguesia, no século XIX, inicia um lento processo de tentativa de diferenciar sua aplicação entre os militares e a população civil. Solicitava-se da ciência, então, o estabelecimento de diferenças, não de oposições, e pensava-se, sobretudo, na preservação da disciplina e da ordem, tão caras à instituição militar. A Ginástica deveria transformar-se em objeto de investigação científica e, desse modo, apartar-se definitivamente de seus vínculos populares (SOARES, 2000, p. 50). Firmada a importância da Ginástica na sociedade da época, surge a necessidade de se formar o profissional que iria ensinar a ginástica. Para Amoros, fundador do chamado Método Francês de Ginástica, esse profissional deveria ter conhecimento de: canto, 259 expressão musical, anatomia, fisiologia, cálculo, geometria e conhecer profundamente os objetivos do método Amoros, que eram: desenvolver as capacidades físicas e morais do indivíduo (SOARES, 2000). A Ginástica se desenvolve de formas diferentes em diversos países Europeus, surgindo assim os métodos. Os mais conhecidos são o Alemão, o Dinamarquês, o Sueco e o Francês. Ao mesmo tempo que a ginástica se desenvolvia nesses países, na Inglaterra os jogos esportivos eram difundidos (VENÂNCIO; CARREIRO, 2005) Cada método teve suas próprias características e a ginástica que foi adotada no Brasil posteriormente foi a Francesa (BETTI, 1991). 2. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO BRASIL Na época do Brasil Colônia (período que vai de 1530, quando o Brasil passou a ser povoado a 1822, com o advento da independência), nas famílias da elite, já era possível encontrar algumas questões relativas á saúde, à higiene e ao corpo do indivíduo. Mas somente com o advento da República que a Educação Física higiênica, eugênica e moral se instalou (SOARES, 1994). A Educação Física, com a denominação de ginástica, começou a ser parte do currículo de algumas escolas no Rio de Janeiro em 1830, que era o município da corte imperial e capital da república. No entanto, foi somente em 1851 que se integrou oficialmente à escola (BETTI, 1991). Essa Educação Física foi importada da Europa, ou seja, eram os sistemas ginásticos europeus se instalando no Brasil. E os argumentos utilizados para sua instalação foram semelhantes ao que se apoiou o início do Movimento Ginástico Europeu. As pessoas viviam em condições precárias de saúde e com alto índice de mortalidade infantil. Sabendo desses dados, sentiu-se a necessidade de moldar um homem de elite branco mais saudável e resistente, forjando assim sua “superioridade” frente aos negros, pobres e mulheres (SOARES, 1994). Nos anos de 1930 a 1945, durante o Governo de Getúlio Vargas, toda a educação é reformulada e com ela a Educação Física. Essa foi uma época decisiva para a Educação Física, que na Constituição de 1937 se tornou obrigatória na escola primária, normal ou secundária. No entanto, essa não era considerada uma disciplina como todas as outras, era vista como um complemento (BETTI, 1991). 260 Nessa época a Educação Física se firmava nas bases do higienismo, da eugenia e do militarismo. A aula era exclusivamente fazer exercícios físicos, baseados no método Francês de ginástica (BETTI, 1991). O conhecimento prático era o suficiente para essas aulas, portanto, para ministrar aulas era preciso somente ser um ex-praticante, e não tinha necessidade de dominar esse conhecimento (DARIDO; NETO, 2005). No período de 1946 a 1968 começou a ascensão do movimento esportivo, que posteriormente levou “à formulação de um novo modelo para a Educação Física no Brasil” (BETTI, 1991, p.89). Na ocasião o Método Ginástico Francês passa a ser questionado e o esporte é adotado intensamente na Educação Física. Primeiramente foi adotado o Método Desportivo Generalizado3 e gradativamente é introduzido do Método Esportivo4. Esta fase pode ser chamada de Esportivização. O esporte era mais motivador e fácil de mensurar e seus resultados se firmavam no ganhar ou perder (BETTI, 1991). A competição, que estava relacionada ao esporte, era valorizada por cumprir um papel importante na sociedade da época, pois se acreditava que esta estimulava a união dos participantes, desenvolvia a solidariedade, a camaradagem e a lealdade (COLOMBO citado por BETTI, 1991). O discurso dessa fase vai advogar em prol da educação do movimento como única forma capaz de promover a chamada educação integral. Essas mudanças ocorrem principalmente no discurso, porque a prática higienista e militarista permanece essencialmente inalterada (DARIDO; NETO, 2005, p. 3) Aos poucos, por causa da visibilidade que o esporte tinha mundialmente e ser festejado com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, este passa a ser adotado como o conteúdo principal da Educação Física. Com o terceiro título da Copa Mundial de Futebol em 1970, o esporte passa a ser utilizado na perspectiva da política do “pão e circo” (DARIDO; NETO, 2005). 3 Surgiu em 1950. “Procura incorporar o conteúdo esportivo aos métodos da Educação Física, com ênfase no aspecto lúdico” (BETTI, 1991, p. 97). 4 Surgiu em 1970 e sufocou o Método Desportivo Generalizado. Tem como conteúdo o esporte na perspectiva da técnica, da busca do alto rendimento e dos mais habilidosos, aproximando-se assim do trabalho. 261 O esporte foi inserido nas aulas de Educação Física mantendo suas características de competição e alto rendimento na busca do aluno-atleta. E se firmou por sua característica lúdica que motiva os alunos a jogarem (BETTI, 1991; RANGEL-BETTI, 1999). Dessa forma a Educação Física manteve uma busca pelo corpo padronizado, que sabe executar as técnicas esportivas de uma forma “correta”. O diferente é visto como a pessoa que não se enquadra no programa proposto e que deve ser moldada para ser inserida no contexto, mas muitas vezes acabava sendo excluída das aulas (DAOLIO, 1995). No início de sua implantação os professores de Educação Física tinham uma meta clara: ganhar as competições colegiais e encontrar novos talentos esportivos. E com o passar do tempo o discurso na área da Educação Física começa a mudar e algumas competições deixam de existir e o objetivo da Educação Física Escolar deixa de ser conquistar medalhas. Mesmo assim, por não se firmar referências claras de uma outra forma de se trabalhar, tanto com o esporte, quanto com outros conteúdos possíveis na Educação Física, os professores continuam empregando quase exclusivamente os esportes, em sua forma mais competitiva, não privilegia de seu caráter lúdico em prol de buscar resultados padronizados, em suas aulas (RANGEL-BETTI, 1999). Portanto, ainda hoje é possível encontrar aulas de Educação Física que exclui os menos habilidosos e que não utiliza de métodos que privilegiem diferentes formas de ocorrer o processo de ensino e de aprendizagem com conteúdos variados. Uma Educação Física escolar que considere o princípio da alteridade saberá reconhecer as diferenças – não só físicas, mas também culturais – expressas pelos alunos, garantindo assim o direito de todos à sua prática. A diferença deixará de ser critério para justificar preconceitos, que causam constrangimentos e levam à subjugação dos alunos, para se tornar condição de sua igualdade, garantindo, assim, a afirmação do direito à diferença, condição de pleno exercício da cidadania. Porque os homens são iguais justamente pela expressão de suas diferenças (DAOLIO, 1995, p. 100). 3. A EDUCAÇÃO FÍSICA NO CICLO I DO ENSINO FUNDAMENTAL Este trabalho toma como referência a divisão que o estado de São Paulo faz dos ciclos. Portanto, é Ciclo I para este trabalho, da 1ª a 4ª séries do ensino fundamental. Até 2003 as aulas de Educação Física eram ministradas pelos professores generalistas. “Em 2003, por meio da Resolução 184/02, a SEE5 implantou as aulas de 5 Secretaria do Estado da Educação. 262 Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental, desenvolvidas pelo professor especialista da área” (SILVEIRA, 2008). Atualmente, são conteúdos da Educação Física Escolar, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), os esportes, os jogos, as lutas, as danças e as ginásticas. Para Silveira (2008), cabe à Educação Física tratar da cultura do movimento, ou seja, O esporte, o jogo, a ginástica, o exercício e a dança são categorias de movimento que se caracterizam como fenômenos socioculturais e constituem parte importante do acervo cultural da humanidade. Para Gallardo (2006) a Educação Física é ...responsável pala socialização de todo o conhecimento universalmente produzido pela cultura corporal, tais como jogos, brincadeiras, esportes, danças, lutas, elementos das artes cênicas, elementos das artes musicais, elementos das artes plásticas e de todo o conhecimento por ela produzido, denominado ginásticas. No entanto, alguns professores insistem em trabalhar somente com os esportes, por conta da influência histórica que a esportivização exerceu e exerce sobre os conteúdos das aulas de Educação Física. Se pelo menos englobasse uma variabilidade de esportes de uma forma lúdica, mas o que se encontra são: o handebol, o basquetebol, o futebol e o voleibol, isso quando não dão somente a bola de futebol para os meninos e a bola de voleibol ou handebol para as meninas, como em minha experiência como aluna de Educação Física no II Ciclo do ensino fundamental. O esporte é tão importante para a Educação Física quanto os outros conteúdos da cultura corporal. Por este motivo, esse deve continuar a ser trabalhado nas aulas deste componente curricular. No entanto, assim como os outros conteúdos, esse deve ser adaptado para a escola. Quando inserido no contexto educacional, o esporte tem o objetivo de formar a personalidade da pessoa, dar a oportunidade da pessoa vivenciá-lo e conhecer sobre suas especificidades de uma forma lúdica. E é dessa mesma forma que os outros conteúdos (jogos, dança, brincadeiras, lutas, ginásticas, elementos das artes cênicas, elementos das artes musicais, elementos das artes plásticas e o circo) da cultura corporal devem ser trabalhados na Educação Física. 263 Nesta, perspectiva, a Educação Física passa a ter função pedagógica de integrar e introduzir o aluno de 1º e 2º graus no mundo da cultura física, formando o cidadão que vai usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade física (BETTI, 1992, p. 285). A Educação Física tem uma vasta possibilidade de conteúdos para serem trabalhados. Alguns são desprivilegiados porque o professor não teve a oportunidade de vivenciar estas práticas em nenhum momento nem na universidade ou mesmo na sua vida. Muitas vezes essa é uma procura solitária do professor para melhorar sua aula e aumentar seu repertório. Segundo Lavega (citado por BORTOLETO e MACHADO, 2003), “os conteúdos legítimos da Educação Física se dividem em 4 grandes grupos: ‘jogos’, ‘esportes’, ‘atividades físicas em geral’ e ‘atividades físicas expressivas ou artísticas’”. Conforme Parlebas (citado por BORTOLETO e MACHADO, 2003), as atividades circenses se situam nesta última, mesmo podendo surgir jogos e/ou esportes a partir destas modalidades. 4. A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO CIRCO A estrutura do circo moderno como conhecemos hoje, tem sua origem no século XVIII, em que o Cavalheiro inglês Philip Astley montou a primeira estrutura de circo picadeiro. Inicialmente apenas para apresentações eqüestres, e para essas apresentações era necessário uma pista circular, pois ficava mais fácil se equilibrar nos cavalos e até hoje o picadeiro mantém este formato; posteriormente introduziu os saltimbancos6 e os clowns7, os quais faziam cenas cômicas em alguns momentos da apresentação (SILVA, 1996; VIVEIRO DE CASTRO apud BORTOLETO, 2003). Charles Hughes foi o criador, em 1782, do Royal Circus, em que pela primeira vez se usou o termo “Circus”. Posteriormente a este ano, o fenômeno circense se espalhou em grande velocidade para muitos outros lugares, principalmente na Europa Central e nos Estados Unidos (SILVA, 1996; VIVEIRO DE CASTRO apud BORTOLETO; MACHADO, 2003). Este circo difundido era o circo tradicional, 6 Pessoas que viviam de fazer malabarismo, contorcionismo e acrobacias em lugares públicos de diversas cidades. Os seus conhecimentos eram passados oralmente de pai para filho. Também podem ser chamados de “os que saltam sobre bancos” (SILVA, 1996, p. 1). 7 Números cômicos semelhantes com o que conhecemos hoje como palhaços. 264 (...) onde homens e animais compartilham o cenário demonstrando suas habilidades, seja numa rua, num teatro, numa feira, num hipódromo, numa praça de touros, ou em seu ambiente mais característico, “na lona” (BORTOLETO; MACHADO, 2003, p. 46). No início as maiores atrações estavam ligadas aos animais selvagens tais como leões, ursos e serpentes. Para um público que muitas vezes nunca tinha visto aqueles animais, bastava somente sua exibição (HENRIQUES, 2006). Villarín García (citado por BORTOLETO e MACHADO, 2003) “relata a presença dos animais no Circo como um espécie de Zoológico Ambulante” (p. 46). As pessoas, movidas por suas curiosidades, iam ao circo para ver animais exóticos, que eram típicos de outras regiões e países. Os circos mais famosos da atualidade já não usam mais animais e o foco está no corpo do artista que demonstra suas incríveis habilidades, tais como força, equilíbrio, flexibilidade, coragem, etc. A tecnologia ressalta ainda mais estas habilidades, o picadeiro toma nova forma e até possibilita realizar apresentações em teatros. Este é chamado de “Novo Circo” ou “Circo Contemporâneo” (Viveiro de Castro citado por BORTOLETO; MACHADO, 2003) “e também pode ser chamado de Circo do Homem, por envolver somente o homem nas performances, excluindo a participação dos animais” (BORTOLETO; MACHADO, 2003, p. 51, 2003). Uma outra característica que mudou é que o circo na sua origem era formado por famílias nômades que ensinavam suas habilidades oralmente de pai para filho. Agora existem espalhados por todo o mundo os centros especializados de ensino, que quebram uma das grandes tradições, a transmissão de conhecimento de geração para geração. Estas escolas estão sendo as responsáveis por difundir os saberes do circo com maior velocidade, tornando o circo acessível a um maior número de pessoas, resignificando a idéia do “super humano” – aquele que não tem limitações e faz o que mais ninguém pode fazer – para “artista humano” – que apesar das limitações consegue, através de muito treino e esforço, executar movimentos bonitos e difíceis (BORTOLETO; MACHADO, 2003). 5. CIRCO NA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA Conforme vimos nos capítulos anteriores, o circo é anterior à Educação Física, inclusive, em suas origens é possível observar claramente a influência do primeiro no segundo. No entanto, são poucas as publicações sobre a arte circense. Como conteúdo da 265 Educação Física Escolar, tem um menor número de pesquisa ainda, no entanto tem tido um crescimento significativo atualmente (BORTOLETO; DUPRAT, 2007). Alguns autores já têm abordado o assunto. Bortoleto (2003) sistematiza o ensino da perna de pau no contexto do circo e descreve as vantagens de se trabalhar este conteúdo na aula de Educação Física. Freire (2005) propõe brincar de circo com as crianças, como um tema que excita a imaginação e pode ser usado para trabalhar as capacidades e habilidades durante a aula. Gallardo (2006) coloca este como conteúdo da Educação Física, mais especificamente como elemento das artes cênicas que devem ser ensinados nas aulas. Da mesma forma que os outros conteúdos, devemos trabalhar o circo adaptado para a escola, com o objetivo de “promover o contato dos alunos com a arte circense, visando a compreensão e a valorização desta manifestação da cultura corporal” (CLARO; PRODÓCIMO, 2008) além de auxiliar na formação da personalidade. O problema de trabalhar o tema circo na aula de Educação Física no Brasil é que dificilmente se encontra um professor que arrisque a ministrar este conteúdo, isso porque não teve nenhum conhecimento na universidade, e nem ao menos tem uma idéia de se trabalhar de uma forma simplificada. Na escola formal, tem ocorrido iniciativa de incluir o circo como uma disciplina desde a pré-escola na França e na Bélgica e como conteúdo das aulas de Educação Física em Portugal, Alemanha, Espanha e Itália. No Brasil também tem tido a inclusão das atividades circenses em escolas públicas e privadas em alguns estados (São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, etc) nos diversos níveis, da educação básica à universidade (BORTOLET; MACHADO, 2003). No livro “Circo y educación física: otra forma de aprender” de Josep CURÓS (2003) mostra que em outros lugares do mundo a discussão sobre o circo como conteúdo da Educação Física já está bem mais avançada do que se pode encontrar no Brasil. O autor relata que já trabalha com este conteúdo em uma escola pública da Espanha há doze anos e em seu livro é possível encontrar uma sistematização de algumas modalidades circenses. O circo compreende uma diversidade de modalidades que são práticas corporais que desenvolvem a motricidade da pessoa, e apesar deste estar presente oficialmente na história da humanidade desde o século XVIII, somente ao final do século XX e início do século XXI é que tem tido uma preocupação de inserir este conteúdo nas aulas de Educação Física (BORTOLETO; MACHADO, 2003). 6. MODALIDADES CIRCENSES 266 Este trabalho pretende tratar de algumas modalidades da arte circense que foram vivenciadas na escola (acrobacias de solo, malabarismo, acrobacias no tecido, figuras de equilíbrio ou portagem, pé de lata e barangandam), e para tanto é necessário que os leitores conheçam um pouco dessas. Utilizo esse termo ...porque uma modalidade significa um tipo de prática dentro de um âmbito mais geral, neste caso o Circo, que apresenta características técnicas distintas em virtude das particularidades dos objetos materiais, do espaço, do tempo e dos protagonistas (BORTOLETO; MACHADO, 2003, p. 126) Para prosseguir é importante esclarecer quais são essas modalidades. Acrobacias de solo: seriam os rolamentos, estrelinhas e todo tipo de exercício de destreza realizada no solo. O material utilizado durante as aulas era os colchonetes por motivos de segurança. Acrobacias no tecido: são as figuras e quedas que a pessoa faz no tecido que está amarrado em algum lugar alto, como por exemplo, lá na escola esse é amarrado na viga que sustenta o telhado do pátio. Também é importante ter colchonetes no chão para o caso de alguma eventualidade. É possível realizar portagens nesta modalidade, a pessoa se posiciona de cabeça para baixo e segura uma outra (volante), que faz figuras ou quedas. Barangandam (no circo o termo utilizado é Swing): para fazer o barangandam foi utilizado materiais alternativos (ver figura 1). Uma outra nomenclatura que encontrei foi o balangandã, que é um “brinquedo popular utilizado como réu na brincadeira de pipa” e o nome do brinquedo “vem de ‘balangar’, ou seja, balançar” (VENÂNCIO; CARREIRO, 2005, p. 238) . Para fazer o barangandam: precisamos de duas folhas de jornal, um metro de barbante, 3 fitas de Tecido Não Tecido (TNT) de cores diferentes e fita adesiva transparente. Primeiro fazemos uma bolinha com duas folhas de jornal e passamos fita adesiva para ficar mais firme, em seguida amarra uma ponta do barbante em volta da bolinha deixando uma boa parte do barbante livre, que é onde a pessoa segura, e para ficar mais firme passa a fita adesiva em cima do barbante. Por fim, amarra as 3 fitas de TNT no barbante na extremidade oposta de onde se segura. Está pronto. Os movimentos são, normalmente, circulares e as próprias crianças podem criar diferentes formas de manipulá-lo: frente, atrás, direita, esquerda, em cima, em baixo, com diferentes partes do corpo, jogando, equilibrando, trocando de mão etc. 267 Fig. 1: Alunos(as) da 2ª série A brincando com o barangandam Figuras de equilíbrio: esses são conhecidos no circo como portagem de solo. As pessoas desafiam as leis da gravidade formando figuras de uma pessoa sobre a outra, como a pirâmide. Malabarismo ou malabares: essa é a arte de manipular objetos (jogando, deslizando, chutando, assoprando, etc) com diversas partes do corpo. Constitui uma atividade de manipulação que se baseia no controle de objetos no ar. Por definição, é a operação de recolher de forma contínua, segundo uma trajetória similar, uma série de objetos em número sempre superior ao de mãos (BORTOLETO; DUPRAT, 2007, p. 179). Pé de lata: esse é uma preparação para a perna de pau. Para realizar essa atividade é preciso duas latas resistentes que serão amarradas por barbante ou outro tipo de corda, uma ponta desse barbante é amarrada na lata e a outra fica na mão. Cada pé ficará em cima de uma lata e a mão correspondente vai segurar o barbante e manter a cordinha sempre tensa enquanto a pessoa se locomove pelo espaço. A “perna de pau é uma modalidade circense onde os praticantes alteram sua estatura normal utilizando basicamente um aparelho também conhecido como perna de pau” (BORTOLETO, 2003). Mas esse aparelho não tem que ser necessariamente feito de madeira, como insinua o nome e pode ser adaptado como é o caso do pé de lata. Tambor (ver figura 2): esse é o ato de utilizar um grande tambor deitado no chão, ou no caso, nos colchonetes. Esse tambor deve estar posicionado para que a pessoa possa se locomover para frente e para trás, podendo também executar saltos, giros, figuras de equilíbrio, malabarismo, etc. 268 Fig. 2: Aluno da 1ª série A andando no tambor. 7. PROCESSO METODOLÓGICO Este trabalho é de corte qualitativo e não tem o objetivo de produzir generalizações. A base deste tipo de investigação está na “descrição, análise e interpretação das informações recolhidas durante o processo investigatório, procurando entendê-las de forma contextualizada” (NEGRINE, 1999, p.61). São muitos os instrumentos de pesquisa no corte qualitativo e foi preciso identificar algum que pudesse satisfazer melhor os objetivos deste trabalho e a viabilidade de se aplicar este instrumento. A ferramenta de coleta de informação escolhida foi o diário de aula (ZABALZA, 2004), já que analisei as aulas específicas do professor-pesquisador. “Os diários de aula (...) são os documentos em que professores e professoras anotam suas impressões sobre o que vai acontecendo em suas aulas” (ZABALZA, 2004, p. 13). Para se fazer os diários o professor-pesquisador tem liberdade de como redigirá as informações sobre sua aula e não precisa fazer isso todo dia; pode fazer isso duas vezes por semana, por exemplo. É importante também que o que for escrito no diário seja destacável do contexto da aula na opinião de quem o escreve (ZABALZA, 2004). Neste trabalho foi feito um planejamento prévio das aulas inserindo algumas modalidades das artes circenses e no final do dia era feito um diário de aula. As turmas escolhidas foram duas 2as séries do período da manhã da Escola Estadual “Dr. Francisco da Cunha Junqueira”, localizada em Bonfim Paulista, no distrito de Ribeirão Preto, estado de São Paulo. O diário, além de ter a finalidade investigadora, também auxilia o desenvolvimento pessoal e profissional dos professores, ou seja, esse pode propiciar o conhecimento melhor da realidade e o autoconhecimento (ZABALZA, 2004). 269 Escrever sobre si mesmo traz consigo a realização dos processos a que antes referimos: racionaliza-se a vivência ao escrevê-la (o que tinha uma natureza emocional ou afetiva passa a ter, além disso, natureza cognitiva, tornando-se assim mais manejável), reconstrói a experiência, com isso dando a possibilidade de distanciamento e de análise e, no caso de desejá-lo, se facilita a possibilidade de socializar a experiência, compartilhando-a com um assessor pessoal ou com o grupo de colegas (ZABALZA, 2004, p. 18). Quando comecei a escrever o diário, foi difícil saber o que era mais “destacável”. Tudo parece importante e relevante e depois de alguns diários, se não conseguir motivação para continuar, esses vão ficando pobres de informação. Escrever é trabalhoso e requer um certo esforço e um objetivo para continuar. Mas quando se lê o que foi escrito, começamos a olhar de uma forma diferente para a aula. Isso porque “tanto escrever sobre o que fazemos como ler sobre o que fizemos nos permite alcançar certa distância da ação e ver as coisas e a nós mesmos em perspectiva” (ZABALZA, 2004, p. 136). Após escrever o diário é preciso destacar no texto os dilemas que o professor tem com relação à própria atuação profissional. Entendo dilema neste trabalho como: (...) todo o conjunto de situações bipolares ou multipolares que se oferecem ao professor no desenvolvimento de sua atividade profissional. É um dilema, por exemplo, como ajustar as exigências de programas oficiais com as necessidades específicas de nossos alunos; e o é também como desenvolver a evolução de uma aluna específica, que não queremos que fique com uma impressão negativa de seus resultados apesar de estes serem claramente insuficientes. Em cada uma dessas situações problemáticas (que podem ser pontuais ou gerais) o professor tem de optar, e realmente o faz, em um sentido ou em outro (na direção de um ou outro dos pólos do dilema). Nem sempre o professor é consciente do processo de identificação ou do de resolução de dilemas. (...) Lendo os diários, às vezes percebe-se com clareza, entre uma linha e outra, quais são os dilemas que mais preocupam esse professor, em torno de quais situações dilemáticas do ensino desenvolve seu processamento da informação e suas decisões (ZABALZA, 2004, p. 18). Através desses dilemas é possível verificar as contradições em que o professor vive. A todo o momento é preciso adaptar o que ele aprendeu, com o auxilio de sua vivência de mundo, para resolver os diversos problemas encontrados na prática docente. 270 8. CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA E DAS TURMAS A Escola Estadual “Dr. Francisco da Cunha Junqueira”, é localizada no estado de São Paulo, na cidade de Ribeirão Preto, no centro do distrito de Bonfim Paulista. O importante para este trabalho, não é situar Bonfim Paulista no mapa ou resgatar sua história e sim, caracterizar a escola estudada. Apesar da escola se situar no centro de Bonfim Paulista, esta recebe tanto alunos que moram na zona urbana da cidade quanto os moradores rurais. Só existem duas escolas estaduais no distrito e esta é a maior e, portanto, a que tem o maior número de alunos. A escola tem o ensino fundamental e médio e funciona no período da manhã, tarde e noite. Esta tem duas professoras efetivas de Educação Física, sendo uma com aproximadamente dez anos de serviços na escola e eu, há dois anos. Na escola o professor com mais tempo de casa tem o privilégio de escolher as turmas que quer dar aula e, no caso, deu muito certo porque a outra professora prefere os alunos mais velhos e eu os mais novos. Sendo assim, eu fiquei com as turmas do primeiro ciclo do ensino fundamental. Para as aulas de Educação Física dispõe-se de uma quadra coberta e outra descoberta, a sala de aula, a sala de vídeo, um hall coberto que liga as salas do bloco 2 com as quadras, o pátio e o refeitório; 3 pátios e algumas áreas verdes que quando o mato está cortado é possível utilizar. Temos que dividir estes espaços e como trabalho com o Ciclo I e os conteúdos trabalhados não necessitam muito de uma quadra, escolhi utilizar os pátios, o hall e a sala de aula e, quando necessário, utilizo as outras localidades. Como a escola tem alunos mais velhos e mais novos num mesmo espaço, a direção optou por modificar alguns horários (de recreio e saída) para separar os alunos do Ciclo I dos demais. Por causa dessa mudança de horário do recreio, a terceira aula é dividida em duas. Para a professora de sala não tem tanta diferença, mas para as aulas específicas, como Educação Física e Educação Artística, essa aula é problemática, pois temos que começar a aula e parar para o recreio, então quando as outras turmas estão no recreio utilizando o pátio, temos que terminar a aula. Em uma das turmas da segunda série que realizei a pesquisa tinha uma aula nesse horário dividido pelo recreio. Foram duas turmas escolhidas para a pesquisa. Eram alunos das segundas séries A (DIÁRIO I) e B (DIÁRIO II), que tinham mais ou menos vinte e dois alunos cada, com idades entre sete e nove anos. São duas aulas semanais de Educação Física de cinqüenta minutos. 271 Essa não era a primeira vez que eles tinham contato com elementos da arte circense, no ano de 2006 trabalhei o pé de lata, barangandam, acrobacia de solo e manipulação e equilíbrio de bolinhas, o que muitas vezes se aproximava do malabarismo. Além das aulas de Educação Física, a escola ainda dispõe de Atividades Curriculares Desportivas (ACD) em horário contrário das aulas. Desde antes de 2006, que foi o ano que ingressei como professora efetiva, já tem as turmas de Voleibol Infantil, Futsal Mirim e Futsal Infantil. No ano em que entrei na escola comecei a fazer um trabalho voluntário de circo no horário de almoço e muitas crianças começaram a fazer parte desse projeto. Em Julho de 2007 foi aprovada a turma de Ginástica Geral para todas as idades e nessa turma de ACD é trabalhado o conteúdo circo. Os alunos, que querem saber mais sobre o circo e se aprofundar mais nas técnicas, têm a oportunidade de participar desse grupo. 9. ANÁLISE DO DIÁRIO DE AULA Foram ministradas 15 aulas tratando do conteúdo circo na Educação Física da 2ª série B do ensino fundamental. As 1ª, 2ª e 3ª aulas trataram das a acrobacias de solo (rolamento, parada de mão, e “estrelinha”), a 4ª e 5ª eles vivenciaram o malabarismo com bolinhas de bexiga com areia; na 6ª aula assistimos ao vídeo do Cirque Du Soleil (Dralion); na 7ª aula tivemos malabarismo com bastão; na 8ª aula foi figuras de equilíbrio no chão; na 9ª, 10ª e 11ª aulas confeccionamos e manipulamos o barangandam; na 12ª aula eles andaram de pé de lata; na 13 aula eles andaram em cima do tambor e, por fim, as duas últimas aulas eles aprenderam a subir e fazer figuras no tecido (ver figura 3). Fig. 3: Aluna da 2ª série B fazendo a figura sereia no tecido. 272 Já a turma B teve 13 aulas, pois tiveram a interferência de feriados. Desta forma, eles tiveram uma aula a menos de acrobacia de solo e não fizeram o pé de lata. As outras aulas seguiram a mesma seqüência da turma A. Analisando os diários de aula foi possível destacar alguns dilemas que vamos discutir em seguida. 9.1. ATENÇÃO No diário apareceu muitas vezes o tema atenção, que pode ser entendido de diferentes formas. Primeiramente pode ser entendido como a atenção que os alunos conseguiam manter sobre a atividade que estava sendo realizada. E também pode ser interpretada como a atenção do professor sobre o que os alunos estavam fazendo. As duas têm muita relação. Quando era proposto um desafio para as crianças, como jogar de diferentes formas a bolinha no malabares, a maioria dos alunos queria mostrar o que estava fazendo para mim. E normalmente vinham quase todos ao mesmo tempo. Alguns não exigiam tanto a minha atenção, então, quando conseguiam ou não conseguiam resolver o problema de jeito algum, eles começavam a fazer outras coisas. Por exemplo: dois alunos da 2ª B “ficaram jogando a bolinha para todo lado, eles não conseguiam se concentrar no que estavam fazendo” (DIÁRIO II, 10/05/2007). No caso desses alunos, eles não tentavam fazer o que era proposto durante muito tempo. Outro problema encontrado com relação à atenção foi que “Eles logo queriam tentar outra coisa sem ao menos conseguir fazer o que foi proposto anteriormente” (DIÁRIO II, 10/05/2007). Para tentar mantê-los motivados, tive que propor desafios o tempo todo e prestar atenção tanto nos que queriam a atenção o tempo todo para si, quanto os que se desviavam completamente da proposta. Em alguns momentos eles podiam criar e criavam mais que em outros. Por exemplo, na aula que tínhamos que fazer figura de equilíbrio e portagem no chão eu nem precisava propor um desafio que logo eles faziam uma nova figura e exigiam menos a minha atenção. No entanto, a 2ª A teve maior dificuldade de pensar em uma nova figura, o que exigiu que eu mostrasse algumas possibilidades, enquanto a turma B apresentou mais facilidade. Uma outra aula que foi possível observar que eles se entregaram mais à atividade, mas ainda tiveram necessidade de me mostrar o que estavam fazendo foi o barangandam. 273 A idéia era de fazer o brinquedo em sala de aula, pois é simples de fazer e seu material é barato e fácil de encontrar. Alguns alunos levaram o material necessário e eu levei alguns materiais também e todos tiveram a oportunidade de confeccionar seu próprio brinquedo, mas só pôde levar para casa quem tinha levado o material, enquanto os outros barangandans ficavam na escola para as próximas aulas. Nessa atividade eles não precisavam de atenção o tempo todo, só quando queriam mostrar algum movimento diferente que eles estavam executando. Na aula de manipulação de bastão, no entanto, os alunos exigiam muito a minha atenção. “As crianças até têm facilidade para fazer o que é proposto como desafio e logo inventam outra forma de fazer e um novo desafio surge, o problema é que querem atenção o tempo todo e ficam me chamando para ver o que estão fazendo. Enquanto isso tem as crianças que não querem fazer nada que é proposto e tenho que ficar atenta para ver se o que estão fazendo não é perigoso” (DIÁRIO II, 22/05/2007). Já o “pé de lata” que fiz somente com a 2ª A exigiu menos a minha atenção em relação ao que eles estavam fazendo, em parte porque eles já tinham experiência anterior com a atividade e também porque estavam em duplas. Entretanto, passei a maior parte da aula concertando os barbantes que arrebentavam ou embaraçavam. Com dois barangandans ao mesmo tempo foi ainda pior. As duas turmas tiveram a oportunidade de experimentar, mas poucos alunos conseguiram manipular os dois ao mesmo tempo. Eles embaraçavam os dois barangandans que estavam com eles e também com os colegas. E eu fiquei a aula quase que inteira desembaraçando os barbantes. Isso quando eles não deixavam o barangandam cair no telhado. O problema de cair no telhado aconteceu bastante com as bolinhas também. Outras modalidades circenses exigiam minha atenção de uma forma diferente, pois era somente um aluno de cada vez. Esse foi o caso do tecido, do tambor e, em alguns momentos, a acrobacia de solo. A espera os deixava inquietos e nem sempre eles esperavam sentados e prestando atenção ao que eles iriam fazer. Além da espera, essas três modalidades envolvem um risco maior de se machucar. Isso fez com que eu me preocupasse o tempo todo com a segurança deles. Para isso tínhamos colchonetes no chão e minha atenção redobrada. 274 Outro empecilho para esses elementos circenses era a obesidade, que dificulta a execução desses e acaba desmotivando. Além disso, um outro problema era o mau cheiro do pé ao tirar o tênis, como é o caso do tambor e principalmente do tecido. Quando isso acontecia os outros alunos ficavam caçoando do colega que tinha tal cheiro. Em alguns casos o aluno não queria tirar o tênis e no tambor, acrobacia e em alguns exercícios do tecido eu os deixava fazer de tênis e tentava conversar com ele sobre a importância do banho e de participar. Em nenhum momento eles eram obrigados a fazer a aula e quando surgia a chacota eu conversava sobre isso com a sala. Também aconteceram chacotas quando alguns, ao subir no tecido, tinham suas roupas íntimas expostas. E também conversávamos sobre o que aconteceu, se eles iriam gostar se acontecesse com eles e se eles nunca tinham visto uma calcinha ou cueca antes. Apesar de algumas barreiras serem visíveis, a maioria tentou participar de tudo que era proposto. No tecido ainda teve alguns casos de alunos que não se destacam muito nas aulas de Educação Física quando os jogos necessitavam de uma coordenação mais apurada ou quando era uma atividade nova para o grupo, entretanto, conseguiram subir no tecido com muita facilidade, o que impressionou toda a turma, a professora de sala e eu. Desta forma é possível visualizar mais claramente a importância de ter uma variedade dos conteúdos nas aulas de Educação Física, assim os alunos terão várias chances de se destacarem em algum momento e isso é importante para mantê-los motivados. Manter a motivação de um grupo não é uma tarefa fácil, pois “para cada aluno existe um tipo de motivação, que o professor tem que descobrir” (RANGEL-BETTI; MIZUKAMI, 1997, p. 112). Isso também nos remete ao que foi discutido anteriormente com relação às diferenças. Trabalhando um conteúdo variado utilizando vários métodos temos maiores chances de atender as necessidades de vários alunos, conseqüentemente, evitamos que os alunos sejam excluídos de nossas aulas e possibilitando que todos tenham uma oportunidade de se destacar em algum momento das aulas. 9.2. MATERIAL Cada modalidade circense requer um tipo de material. No caso, faço duas distinções nos materiais. Os materiais de segurança e os materiais específicos da atividade. Os de segurança utilizados foram os colchonetes. Os materiais específicos eram: bolinhas de jornal amassado e de bexiga com areia dentro, barangandam, bastão, cabo de vassoura 275 revestido de plástico, latas com barbante, tambor (que eu consegui através de uma doação de uma empresa) e o tecido. Bortoleto e Machado (2003), ao fazerem uma classificação das modalidades circenses pelo tipo de material que utiliza recomenda se utilizar nas aulas de Educação Física as modalidades que necessitam de materiais de pequeno porte ou nenhum material, como é o caso dos malabares, acrobacias de solo e figuras de equilíbrio. Evidentemente que, considerando que o objetivo da Educação Física escolar não é a maestria motriz (desenvolvimento técnico e físico), mas ter contato com esta “parte” da cultura corporal que o Circo representa, qualquer atividade que se proponha deve ser executada num nível elementar (iniciação) de exigência técnico-física, potencializando a importância dos elementos lúdico, expressivo e criativo, que correspondem a essas práticas (BORTOLETO; MACHADO, p.62). O autor também declara que as modalidades que utilizam materiais de médio porte, como é o caso do tecido, “são pouco apropriadas às condições e objetivos escolares” e para as “escolas que dispõem de recursos materiais e pessoais adequados, estas modalidades poderiam ser trabalhadas em horários extra-escolares, como conteúdo complementar” (BORTOLETO; MACHADO, p. 62). No caso deste trabalho, as modalidades utilizadas durante as aulas foram as que utilizavam pouco ou nenhum material. A única exceção foi o tecido, que apesar de ser classificado inadequado para as aulas regulares de Educação Física, sua vivência nas aulas foi muito importante na motivação dos alunos. O tecido é da própria escola e também não é tão caro, esse tem mais ou menos o preço de três bolas de futebol e é muito durável. Foi comprado em 2006 e é utilizado em algumas aulas regulares de Educação Física e também na turma de ginástica geral da escola, que o utiliza pelo menos duas vezes por semana. O material não apresenta perda de elasticidade ou qualquer dano mais sério. Certamente ainda será bastante utilizado em 2008. Desde o ano de 2006 utilizo o tecido nas aulas de Educação Física no Ciclo I e este tem sido a modalidade que mais os alunos pedem para fazer de novo. Reconheço que tem o problema da fila, mas essa não é exclusiva do tecido, em muitos momentos foi preciso fazer fila para a acrobacia de solo e o tambor, e por sua singularidade e por requerer diferentes habilidades dos alunos, essa se fez necessária no planejamento. 276 No entanto, somente os materiais não são suficientes para controlar os riscos inerentes a essas modalidades, é necessário que o professor tenha um conhecimento específico de como fazer a segurança e o que fazer caso aconteça imprevistos. 9.3. SEGURANÇA Em qualquer aula de Educação Física pode ocorrer acidentes, indiferente do conteúdo a ser trabalhado. Em algumas modalidades do circo há mais chance de ocorrer acidentes do que em outras. A melhor forma de se evitar um acidente, e conseqüentemente, aumentar a segurança é fazer um bom planejamento do que será executado e ter um bom conhecimento dos materiais e das técnicas que serão empregadas (MUNHOZ, 2006). Mesmo assim não é possível se prever tudo que pode ocorrer, então, um bom preparo do profissional e a utilização adequada dos materiais de segurança são essenciais para se evitar maiores danos físicos. Nas aulas ministradas com as 2ª séries não tive nenhum acidente sério. O que ocorreu foi na aula de acrobacia de solo em que um aluno queria mostrar para os colegas que sabia fazer o rolamento e ao invés de fazer nos colchonetes como os outros, ele foi fazer no chão duro e bateu a cabeça. Não foi nada sério com ele, mas esse incidente teve boas conseqüências, pois os outros alunos não tentaram fazer o rolamento fora do colchonete e ele parou de chamar atenção dos colegas desta forma. Outro acidente foi no tecido. Depois que o menino conseguiu subir até o topo eu falei para ele que já podia descer e ao invés de descer como eu havia explicado no início da aula, ele simplesmente se soltou e os colchonetes e eu amortecemos a queda. Não aconteceu nada com ele, nem dor ele sentiu, mas passei um grande susto. Possivelmente ele não prestou atenção quando eu estava explicando como subia e descia do tecido no início da aula. 9.4. INTERFERÊNCIAS NA AULA O local de trabalho da Educação Física é uma “vidraça”. (...) a quadra ou o pátio, ou um gramado onde o professor realiza suas aulas difere muito da sala de aula convencional que é um local de quatro paredes onde, fechando-se a porta, ninguém sabe o que está acontecendo. Com as aulas de Educação Física isto não acontece. Não há como fechar a porta e qualquer um que quiser saber o que está se passando pode se aproximar e descobrir. 277 Essa exposição deixa a aula de Educação Física sujeita a várias interferências. Uma muito comum era alunos de outras séries que ficavam fora das salas observando, e muitas vezes tentando participar da aula. Em alguns momentos essa interferência era positiva e em outras, negativa. Em alguns casos os alunos da minha turma de circo não estavam em aula e eu aproveitava a ajuda deles. “Teve um momento que um menino, que treina circo comigo em outro horário veio me trazer a autorização para participar da turma de Atividades Curriculares Desportivas de Ginástica Geral, que no caso temos aula de circo. Aproveitei a presença dele para fazer figuras diferentes com as crianças, pois ele conseguia segurar as crianças enquanto eu fazia a segurança deles” (Aula de portagem e figuras de equilíbrio no solo) (DIÁRIO I, 24/05/2007). Também aconteceu quando estávamos tendo aula de tecido e o local onde era montado o tecido era perto das salas de Ensino Médio. Desta vez a proximidade com o ensino médio me ajudou, pois os meus alunos do circo foram lá e me ajudaram para mostrar alguma figura e tirar fotos da turma (DIÁRIO I, 28/06/07). Mas nem sempre eles ajudavam. Na aula de barangandam tivemos um fato que atrapalhou o andamento da aula. (...) foram os alunos de outras séries que viam eles manipulando o barangandam e queriam tentar também. Alguns desses alunos mais velhos até tentavam persuadir os mais novos para eles emprestarem o barangandam para eles brincarem (estes eram alunos do ensino médio). Eu tentava evitar que eles ficassem atrapalhando, pois os mais novos se sentiam obrigados a emprestar seus barangandans para eles e eu tinha que interferir para que isso não acontecesse (DIÁRIO I, 06/06/2007) Eram muitas as interferências nas aulas e eu tinha sempre que ficar atenta para tudo que acontecia. Tinha que ver se eles estavam fazendo o que foi proposto, se aquilo que foi proposto estava motivando eles a participarem, se tinha alunos de outras séries atrapalhando o andamento da aula, se tinha algum aluno de outra série que podia ajudar na aula, se os alunos estavam brigando, se o material que eles estavam utilizando estava em condições de ser utilizado, se tinha algum risco a atividade que estávamos fazendo. 278 Fora esses imprevistos, ainda tinha o problema de quando a professora chegava atrasada e eu tinha que adiantar a aula ou o fato de ser professora substituta que a turma ficava totalmente diferente e mudava de comportamento. Outro fator que interferiu nas aulas foi o ensaio para a festa junina, que mudou nossos horários e fez com que eu convencesse as professoras que eu precisava de mais tempo com os alunos dela fora do ensaio para terminar o que havia sido planejado, que foi no caso do tecido. Ainda teve a aula de barangandam em que os alunos não levaram o material para confeccionar o brinquedo e tivemos que adiantar uma aula. Na outra aula não contei tanto com eles e levei eu mesma o material para que todos pudessem vivenciar a confecção do brinquedo. 10. CONSIDERAÇÕES FINAIS Quando a Educação Física ainda nem existia muitas pessoas já conheciam os artistas de rua que faziam o “impossível” manipulando diversos materiais, fazendo acrobacias, se equilibrando em corda bamba, fazendo rir com a expressividade de seus gestos, etc. Esse conhecimento da rua foi para debaixo de uma lona e assim surgiu o circo, que ficou popular por encantar tantas pessoas, sejam elas ricas ou pobres. Esse mesmo circo inspirou o surgimento da Ginástica, e este último forneceu bases para a Educação Física que conhecemos hoje. Na segunda metade do Século XX, no Brasil, a ginástica começou a perder espaço para o esporte que se instalou como conteúdo da Educação Física escolar e o objetivo desta na escola era formar atletas e buscar bons resultados em competições. Atualmente, essa não tem mais o objetivo de formar alunos-atletas e sim cidadãos, que é a meta geral da educação. Propõe-se o desenvolvimento de seus conteúdos de forma contextualizada e mais diversificados (ginásticas, jogos, esportes, brincadeiras, danças, lutas, circo, ou seja, a cultura corporal). No entanto, muitos professores ainda utilizam somente o esporte, por não terem tido contato em sua formação com outros conteúdos. As modalidades circenses são ainda mais raras e só recentemente estão fazendo parte da educação formal (ensino fundamental e médio). Este trabalho buscou, através da análise dos diários de aula (ZABALZA, 2004) de Educação Física, explicitar o conteúdo circo no contexto real de uma escola pública. Os resultados apresentados apontaram para temas, como: ATENÇÃO, MATERIAIS, SEGURANÇA e INTERFERÊNCIAS NAS AULAS. O primeiro tema (ATENÇÃO) foi interpretado de duas formas: a atenção da professora de Educação Física com relação ao que os alunos estavam fazendo e a atenção dos alunos com o que 279 eles próprios estavam fazendo. Por questão de segurança, em muitos casos eu tinha que focalizar meu olhar para quem estava fazendo a atividade, enquanto os outros alunos esperavam. O tempo todo eu tinha que estar atenta para saber se eles estavam fazendo o que foi proposto, se ninguém estava brigando, se não estava tendo uma interferência de alunos de outras salas, se o material utilizado na aula estava em boas condições e se algum aluno descobrira uma forma diferente de fazer a atividade (neste caso pedia para que todos tentassem fazer igual). Em algumas modalidades circenses, como é o caso do malabares, os alunos pediam muito a minha atenção, fazendo muitas vezes só para me mostrar que conseguiam e acabavam não se entregando inteiramente à atividade. Já os MATERIAIS, diferentemente do que pode parecer ou mesmo alegado por alguns professores, não são de difícil acesso e não são caros, podendo ser solicitados para aquisição pela própria escola. Quando estes são mais caros, temos que considerar que duram mais e vale a pena o investimento – como é o caso do tecido. No malabarismo, no barangandam e no pé de lata foram utilizados materiais alternativos que os próprios alunos podem levar para fazer a confecção na própria sala de aula. A SEGURANÇA é uma preocupação constante em toda aula de Educação Física, já que trabalhamos com crianças em movimento na maior parte das aulas. Entretanto, não foi encontrado muito material na literatura que trate do assunto. Devemos considerar que durante as aulas de acrobacias aéreas e de solo, por exemplo, há maior probabilidade de acontecer acidentes e o professor deve estar atento e preparado para isto. Como foi verificado neste trabalho, alguns “pequenos acidentes” aconteceram e a atenção da professora e dos próprios alunos têm que ser redobrada, mesmo que não tenham sido graves. Já o último tema, INTERFERÊNCIAS NAS AULAS, está relacionado com a estrutura e com o espaço físico das aulas de Educação Física na escola que, comumente, acontecem em lugares abertos onde várias pessoas têm acesso: quadra ou pátio. Conforme relatado nos diários de aula, as minhas aulas aconteceram muitas vezes no pátio e quando alunos de outras turmas e/ou séries ficavam sem professor ou fora da sala por qualquer outro motivo, acabavam interferindo no andamento da aula, seja de forma positiva ou negativa. Em algumas situações, os alunos mais velhos persuadiam os mais novos para deixarem manipular as bolinhas ou o barangandam e, com isso, atrapalhavam o desenrolar da aula. Entretanto, quando os alunos que já possuíam alguma vivência do circo se aproximavam, estes vinham ajudar na aula, sendo perceptível a colaboração e o envolvimento destes com os que estavam aprendendo. Vale destacar o caso dos alunos que, ao conseguirem fazer a atividade com muita desenvoltura, foram, pela primeira vez, os protagonistas da aula e impressionaram tanto os demais colegas quanto as professoras. Essa é uma das principais vantagens de se trabalhar um conteúdo diversificado e pouco comum, pois outras habilidades são privilegiadas e alguns alunos podem se sentir protagonistas de, pelo menos, algumas aulas – situações estas que vêm ao encontro da perspectiva de uma educação física inclusiva preocupada com a formação do cidadão. 280 Em todas as aulas o professor de Educação Física vai enfrentar situações dilemáticas e terá que decidir o que fazer naquele momento. Normalmente se busca na experiência pessoal o que deve ser feito. Saber o que outros professores já fizeram também pode ajudar a ampliar esse conhecimento e melhorar ainda mais a prática docente. Apesar de “novos” e “diferentes”, esses conteúdos não podem ser trabalhados de qualquer forma, é necessário que o professor de Educação Física busque informações que envolvam o conteúdo específico e o próprio processo pedagógico do que já foi realizado. Esta pesquisa buscou explicitar esta necessidade e mostrar algumas situações reais que o professor de Educação Física pode enfrentar durante suas aulas, o que o aproxima da realidade vivida e o auxilia num planejamento mais preciso. REFERÊNCIAS BETTI, Mauro. Educação física e sociedade. São Paulo: Ed. Movimento, 1991, 184 p. _____. Ensino de primeiro e segundo graus: educação física para quê? Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 13 (2), p. 282 – 287, 1992. BORTOLETO, Marco. A perna de pau circense: o mundo sob outra perspectiva. Motriz, Rio Claro, v. 9, n. 3, p. 125-133, 2003. BORTOLETO, Marco; MACHADO, Gustavo. Reflexões sobre o circo e a educação física. Corpoconsciência, Santo André, n. 12, p. 39-69, 2003. BORTOLETO, Marco; DUPRAT, Rodrigo Mallet. Educação Física Escolar: pedagogia e didática das atividades circenses. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 28, n. 2, p. 171-189, 2007. CLARO, Thiago Sales; PRODÓCIMO, Elaine. 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Fizemos então uma fila de silêncio, em que os mais quietos vão sendo chamados para irem na frente. Paramos na sala de Educação Física para pegar os colchonetes e uma lona e seguimos para o pátio. Começamos com uma roda no pátio e fizemos alguns alongamentos e aquecimentos. Depois fizemos uma fila de meninos e outra de meninas. Coloquei os colchonetes no chão e cobri com a lona. Começamos com estrelinha para saber se eles sabiam, pois no ano anterior já tínhamos trabalhado acrobacias de solo. As meninas estavam inseguras e não conseguiam executar o movimento no chão. Eu estava pedindo para fazerem algo parecido com a estrela aos que não sabiam e como elas não conseguiam, fomos até a muretinha em volta do pátio e a usamos de apoio para fazer alguns fundamentos. Elas colocaram as mãos, uma de cada lado da mureta e tentavam pular com uma perna seguida da outra. Duas meninas mais gordinhas não conseguiram mesmo assim, mas as outras fizeram. Enquanto isso, os meninos esboçavam seus saltos nos colchonetes. Eles pegavam espaço e faziam algo parecido com a estrelinha, mas, como eles não estavam com medo e estavam exagerando nos saltos, tive que intervir e pedir para eles não tomarem espaço. Depois que todos fizeram pelo menos três tentativas, chamei as meninas de volta e pedi para que todos (meninos e meninas) fizessem rolamento no colchão. Um dos meninos fez o movimento para eles verem. Falei dos cuidados que eles tinham que tomar e que as costas é que deveriam tocar o chão, e não a cabeça. Algumas meninas tiveram mais dificuldade. Quando vi que já estavam fazendo sozinhos, peguei a filmadora para filmar e eles se esforçaram bem mais. Foi indo um atrás do outro e quando chegava a vez de algum aluno com mais dificuldade, eu ia ajudar e parava de filmar. Por fim, fizemos parada de mão, mas antes, na fila mesmo, pedi para eles estenderem seus braços para cima e duro. Então mostrei para eles como tinham que deixar o braço (estendido e tampando a orelha) na parada de mão. Testei se todos tinham entendido, se estavam com os braços firmes e então fomos fazer a parada de mão. Muitas vezes eles colocavam a mão no chão, como se fossem fazer flexão de braço no chão e ficavam esperando eu puxar seus pés para cima. Alguns entenderam que eles é que tinham que jogar as pernas, mas a maioria não. Como eu queria que eles vivenciassem aquela posição invertida, eu cheguei a levantar as pernas deles, mas só quando eles tentavam jogar, nem que fosse muito pouco, as pernas. Deu tempo só de duas tentativas para cada um e o sinal tocou. Alguns não queriam sair de lá, mas eles tinham outra aula e eu também. 03/05/2007 – Quinta 283 Relembramos o que foi feito na última aula e logo fui chamando um por um para saírem da sala e irem para onde ia ser a aula (é um local de passagem para ir para a quadra e fica bem perto da sala de Educação Física, consequentemente, fica mais fácil de levar os colchonetes). Orientei para que eles chegassem lá e fizessem a roda para começar a aula. Quando cheguei lá a roda ainda não estava pronta, mas logo terminamos de fazer a roda e começamos a fazer um alongamento e um aquecimento. Não deu tempo de fazer muita coisa, pois tinha o intervalo no meio da aula e tive que dispensa-los. Depois do intervalo coloquei os colchonetes no chão e fui chamando um menino e uma menina de cada vez. Começamos com rolamento simples e em seguida duplo. Depois fizemos rolamento saindo em pé e por fim parada de mão com queda de costas nos colchonetes. Todos os alunos participaram e tentaram fazer o que era proposto. 09/05/2007 – Quarta Depois que fizemos a chamada relembramos o que foi feito na última aula e falei para eles o que íamos fazer hoje, estrelinha. Ao chegarmos no pátio, dividi o grupo em três filas de frete para uma muretinha que tem no pátio de mais ou menos 50cm. O desafio era pular a muretinha colocando as mãos na mureta e jogando os pés para o outro lado. Uma menina estava com dor de cabeça e não participou da aula. Em seguida expliquei como era a estrela no chão e pedi para que eles tentassem seguir a risca do chão para não saírem muito tortos. Só deu tempo de fazer uma estrela cada antes de bater o sinal e irem para a próxima aula. Hoje não utilizei cholchonete na aula, fizemos tudo no chão liso do pátio. 10/05/2007 – Quinta Hoje nós trabalhamos com malabarismo de bolinhas. Expliquei em sala mesmo o que nós íamos fazer e as regras para não estragar as bolinhas (não jogar com força no chão, nem no amigo). Fizemos a aula no pátio. Começamos jogando a bolinha com uma mão, depois com a outra, de uma para a outra livre e batendo palma na cocha com a mão que ia receber a bolinha. Assim que eles iam conseguindo eu ia passando outro desafio. Tentamos passar a bolinha para a outra mão de várias formas, cruzando as mãos, por debaixo da perna, nas costa, girando. Só foi possível vivenciar o manuseio das bolinhas. No ano passado trabalhamos muito com bolinhas de papel, equilibrando ela em algumas partes do corpo e jogando de diversas formas. Hoje usamos umas bolinhas de bexiga com areia. Alguns deles levaram bem a sério a atividade, mas eles não conseguiam se concentrar muito em tentar dominar um desafio. Eles logo queriam tentar outra coisa sem ao menos conseguir fazer o que foi proposto anteriormente. Como eles estavam vivenciando, foquei que eles tentassem e conseguissem alguma coisa, então, assim que eles conseguiam fazer algo parecido do proposto eu propunha outros desafios para tentar mantê-los motivados. Alguns conseguiram fazer quase tudo que foi proposto (na maioria os meninos) e outros tiveram muita dificuldade (tanto menino quanto menina). Os primeiros até tentaram fazer com duas bolinhas. Eles estavam ansiosos e deixei para eles verem que não é tão simples quanto parecia, nem tão difícil quanto muitas pessoas falam. 16/05/2007 – Quarta Começamos a aula na sala, onde falei para eles que íamos fazer malabarismo com duas bolinhas. Alguns não tinham vindo na aula passada, então passei o que iam fazer com uma bolinha. Em seguida fomos para o pátio eles tentaram fazer malabarismo com duas bolinhas. Um dos meninos treinou em casa com as bolinhas dele e fez com facilidade com duas bolinhas, depois ele tentou com três bolinhas e, com dificuldade, conseguiu jogar. Hoje eles estavam bem mais dispersos que na aula passada. 284 17/05/2007 – Quinta Hoje assistimos (2ª A; 2ª B e 3ª A) o vídeo do Cirque du Soleil (Dralion); Cidade do Circo e as fotos dos eventos que eles participaram no ano de 2006. No começo eles prestaram bastante atenção e até batiam palmas quando terminava o número na televisão. Depois de 1h ficaram entediados e ansiosos. Quando coloquei o vídeo que eles estavam, não paravam de gritar de euforia de se verem na TV. Ficamos 1h e 30min na sala e só saímos na hora de irem embora. 23/05/2007 – Quarta Hoje fizemos uma aula de manipulação de bastão. Tinha um bastão, no caso um cabo de vassoura, para cada criança. Pedi para que eles tentassem equilibrar na mão, depois pedi para eles colocarem na outra mão e então perguntei onde mais podíamos equilibrar. Eles começaram a tentar equilibrar em diversas partes do corpo. Essa turma se empenhou mais no que foi proposto, mas eles tiveram dificuldade de criar novas formas de explorar o bastão. Tive que sugerir mais do que tinha planejado, pois eles não se aventuravam a tentar movimentos muito diferentes. Um menino tinha levado três argolas e vez ou outra ele estava jogando a argola, e algumas vezes ele tentava unir o bastão e as argolas. O mais difícil era que eles ficavam querendo a minha atenção para cada movimento que eles conseguiam executar. Como hoje choveu o dia todo, muitas crianças faltaram e isso facilitou a aula. 24/05/2007 – Quinta Hoje estava muito frio de manhã e algumas crianças faltaram. Na minha programação pretendia fazer o barangandam com as crianças para continuar trabalhando manipulação e malabarismo. No entanto, eles não trouxeram os materiais, mesmo que sejam simples e barato. Então deixei para fazer a aula na semana que vem, o que vai me dar tempo de comprar o material e deixar os barangandam comigo. As crianças que trouxerem o material vão ficar com os brinquedos com eles, os outros vão ter que me devolver. Como eu já imaginava que isso podia acontecer, me preparei para fazer figuras de equilíbrio e portagens no chão. E como estava frio decidi ficarmos na sala mesmo, só afastamos as carteiras para ter mais espaço. Comecei propondo que eles fizessem o aviãozinho com um pé e com o outro. Depois pedi que eles sugerissem outras figuras e surgiu a ponte e a parada de mão, mas eles não conseguiam sair dessas figuras. Então falei para que eles tentassem fazer alguma coisa em dupla ou trio, então uma das crianças tentou fazer a cadeirinha. Teve um momento que um menino que treina circo comigo em outro horário, veio me trazer a autorização para participar da turma de atividades curriculares desportivas de ginástica geral, que no caso temos aula de circo. Aproveitei a presença dele para fazer figuras diferentes com as crianças, pois ele conseguia segurar as crianças enquanto eu fazia a segurança deles. Eles ficaram a aula toda envolvidos na atividade e tentavam sempre melhorar o que estavam fazendo. A maior dificuldade deles era criar uma nova figura, mas assim que eu fui mostrando outras possibilidades, eles tentavam fazer igual. Mesmo assim, a cadeirinha foi a que eles mais ficaram fazendo. 30/05/2007 – Quarta Hoje combinamos de fazer o barangandam ou Swing e eles tinham que levar o material. Eu já estava com alguns barangandans que fiz com a 4ª série e a outra 2ª série para o caso deles não terem lembrado de levar material. Metade da turma lembrou de levar material, dois levaram o barangandam do ano passado e os outros não levaram nada. Felizmente o material que foi levado foi o suficiente para fazer o barangandam para todos, mas somente os alunos que levaram material puderam levar o brinquedo para casa. Além deles não levarem material 285 para fazer o brinquedo, eles também tinham muita dificuldade para fazê-lo e só tinha eu para ajudá-los. Demorou a aula toda para terminarmos de fazer o barangandam e somente amanha vamos ter a oportunidade de brincar com ele. O que facilitou a aula foi que alguns alunos ajudaram a fazer o barangandam. O que dificultou foi que um menino levou uma fita que não funcionava direito, ela só quebrava. Se eu não tivesse levado uma fita que uma menina da 2ª B trouxe, seria muito difícil deles me ajudarem. 31/05/2007 – Quinta Hoje tínhamos combinado de brincar com o barangandam e como a aula é interrompida no meio pelo recreio, eu já fui logo explicando algumas regras para eles não ficarem se batendo com o brinquedo. Em seguida entreguei um barangandam para cada e já iam para a fila. Da sala até o pátio eles já foram rodando o brinquedo e chegando lá eles só puderam ficar alguns minutos manipulando o objeto com movimentos circulares. Então já tive que pegar o brinquedo novamente para guardar para depois do recreio eles explorarem outros movimentos. Depois do recreio eu entreguei um barangandam para cada novamente e fui dando umas dicas de movimento. Sempre que vi que surgia um outro movimento, chamava a atenção dos outros para quem estava fazendo e eles tentavam fazer igual ou um outro diferente de todos que fizemos. Nesta atividade eles também tinham muita necessidade de me mostrar o que estavam fazendo, mas muito menos do que as outras atividades de manipulação de objetos. Com o barangandam eles brincavam sem precisar muito da minha atenção para eles se entregarem ao que estavam fazendo. No final da aula todos me ajudaram a enrolar o material para guardar, somente um menino não conseguiu enrolar nem com ajuda e eu tive que enrolar para ele. 06/06/2007 – Quarta Já fui para a sala deles com a sacola de barangandam e logo que terminei a chamada nós fomos para o pátio. Desta vez pedi para que todos ficassem no mesmo pátio e pedi para que eles dessem um espaço de um para o outro para não embaraçar o barangandam. Distribui dois barangandam para cada aluno e eles começaram a tentar manipulá-lo. Eles tiveram bastante dificuldade de fazer os movimentos com os dois ao mesmo tempo e alguns devolveram o outro e preferiram ficar com um só. Os que conseguiam manipular os dois tinham um outro problema, desembaraçar os dois quando estes se entrelaçavam. Desta forma, fiquei uma boa parte do tempo desembaraçando barangandam e não consegui prestar muita atenção no que eles estavam fazendo. Isso quando não embaraçavam com os colegas. Outro fator que atrapalhou o andamento da aula foram os alunos de outras séries que viam eles manipulando o barangandam e queriam tentar também. Alguns desses alunos mais velhos até tentavam persuadir os mais novos para eles emprestarem o barangandam para eles brincarem (estes eram alunos do ensino médio). Eu tentava evitar que eles ficassem atrapalhando, pois os mais novos se sentiam obrigados a emprestar seus barangandam para eles e eu tinha que interferir para que isso não acontecesse. Assim que terminou a aula eles enrolaram o barangandam para mim e guardaram no saco. 13/06/2007 – Quarta Na aula de hoje levei os pés de lata para eles andarem. Como eles já tiveram aula de pé de lata ano passado, este ano tentei incentiva-los a fazer coisas diferentes. Eles começaram em dupla e depois eu fui desmanchando algumas duplas, pois algumas latas estavam sem barbante e mesmo contando todas, eu não tinha um para cada um. Eles tentaram subir e descer escadas com a ajuda do amigo e alguns até sozinhos, pois algumas duplas não entenderam o papel do parceiro. Nós andamos no pátio e em volta do pátio tem um murinho de mais ou menos 40 centímetros e os meninos ficaram andando com pé de lata em cima deste murinho. Nenhuma 286 menina subiu no murinho. Eles também tentaram andar em cima da grama. No final da aula alguns meninos já não se sentiam mais desafiados, enquanto alguns meninos e meninas tinham muita dificuldade até mesmo em andar com o pé de lata. Já antecipando isso eu distribuí os pés de lata que tinha a mais para os alunos que tinham mais dificuldade enquanto os outros estavam em dupla. Eu também tinha umas latas mais altas e finas, que no ano passado eles não conseguiam andar e desta vez eles até estavam usando para subir escada. 14/06/2007 – Quinta A aula de hoje era a aula que pega parte do recreio e como tinha planejado de levá-los para andar em cima do tambor, na primeira aula falei um pouco de como surgiu o circo. Depois do recreio coloquei os colchonetes no chão do corredor que liga as salas de aula, ao pátio e à quadra. Em cima dos colchonetes coloquei uma lona para os colchonetes não escorregarem e em cima de tudo coloquei um tambor. O desafio era andar em cima do tambor de frente, de costas e de lado, mas a maioria só conseguiu andar um pouco de frente e alguns poucos também de costas. Eu tive que ajudá-los a andar. Todos participaram da aula e tentaram andar no tambor. O problema é que por causa do recreio eles não tiveram muito tempo para andar no tambor. Como só dava para andar um de cada vez, eles tiveram que esperar a vez. Por ser uma atividade de algum risco, tive que ficar a tenta o tempo todo e mesmo assim alguns deles caíram sentados no tambor. Se eu conseguisse achar um tambor menor seria melhor, mas não foi possível. Na semana do dia 20 e 21 foi semana de prova e não podia dar aula. Dia 27/06/07 – Quarta Antes do recreio tivemos ensaio da quadrilha para a festa junina. Depois do recreio eu fiz a aula de tecido com as crianças. Já estava tudo arrumado da outra segunda série que tinha acabado de sair. Pedi para que todas as crianças sentassem na lona estendida no chão e fizemos o alongamento e aquecimento ali no lugar mesmo. Como essa turma não tem aluno do circo, eu mesma tive que demonstrar. Fui chamando os mais quietinhos primeiro. Segui a mesma seqüência da outra segunda. 1º eles deitavam no chão e iam se erguendo com a ajuda do tecido; 2º eles fizeram um giro completo para trás que eu chamo de mortalzinho; 3º Eles tentavam se equilibrar todo grupado de cabeça para baixo; 4º eles tentavam subir até o final e numa turma de 22, 4 conseguiram subir. Com essa turma não tive problema com as crianças mais velhas por que não era horário de recreio, mas a espera deixava eles muito impacientes e logo estavam correndo um atrás do outro e fazendo bagunça. Reconheço que esta atividade é muito parada para a maioria das crianças, pois elas passam a maior parte do tempo sentadas. No entanto, acho que vale a pena eles vivenciarem as técnicas do tecido. Nesta turma também tive algumas surpresas com relação aos alunos. A primeira é que todos participaram e a segunda é que alguns alunos que não costumam se destacar em outras aulas conseguiram fazer tudo que foi proposto e até melhor que a maioria. A professora de sala até ficou impressionada com o desempenho destes alunos. Nessa aula ocorreu um pequeno incidente também. Quando um dos meninos conseguiu subir até no final do tecido (5 metros), eu falei para ele descer e eu já tinha explicado como era pra fazer, no entanto, ele simplesmente soltou a mão para escorregar e se não fosse o colchão e eu ali por perto para amortecer a queda ele talvez tivesse se machucado. O problema de obesidade e mau cheiro do pé também ocorreram nesta turma, mas isso não impediu que todos participassem. Até teve um menino que não queria ir, mas depois de tentar ficou muito animado e quis tentar mais vezes. 287 28/06/07 – Quinta Desta vez levei eles para o pátio que fica perto das salas do ensino médio. Foram chegando aos poucos, pois eles só puderam sair depois que terminaram a lição de sala. Assim que todos chegaram fomos fazendo o alongamento e aquecimento. A primeira figura foi fazer cazulinho e prancha, mais da metade conseguiu fazer, e somente 2 dessa turma fez sem minha ajuda. Em seguida fizemos a sereia e metade da turma fez e os mesmos dois fizeram sem minha ajuda. Desta vez a proximidade com o ensino médio me ajudou, pois os meus alunos do circo foram lá e me ajudaram para mostrar alguma figura e tirar fotos da turma. A outra figura que fizeram foi o cristo no chão e todos conseguiram fazer. Por fim eles tentaram subir o máximo que conseguiam. Hoje eles também ficaram impacientes com a espera da vez deles, mas por ser um espaço maior e longe da passagem de outras salas, eles conseguiram manter mais a atenção. DIÁRIO II 2007 2ª B Horário: Período da Manhã Terça – 10:40 as 11:30 Quinta – 9:50 as 10:40 03/05/2007 – Quinta Foi a primeira aula de circo deste ano e comecei falando para eles o que iríamos ter nas aulas de circo. Eles falaram o que eles achavam que ia ter e eu ajudava falando o que eles não lembravam. Falei para eles que íamos começar com acrobacias de solo e dei exemplos do que isso seria e logo eles já sabiam o que ia ser e queriam demonstrar ali na sala mesmo, mas pedi para que eles fizessem somente quando estivéssemos lá fora da sala, de preferência nos colchonetes por causa da segurança. Fui falando o nome de cada um deles e pedi para que fossem fazer a roda na passagem para subir para a quadra e quando cheguei lá estava cada um em um lugar, mas não tinha roda. Chamei 3 deles para me ajudar a pegar os colchonetes e quando fui até eles com os colchonetes, tinha criança correndo para todo lado. Pedi, então, para que os meninos sentassem de um lado e as meninas do outro e disse que ia chamar quem estivesse se comportando e mesmo assim continuaram fazendo bagunça. Dois meninos não paravam de gritar e pular até que um deles foi tentar fazer um rolamento no chão e bateu a cabeça (nada grave), só então ele começou a respeitar um pouco mais e parou de ficar tentando fazer o rolamento fora do colchonete. Quando consegui que eles me ouvissem, expliquei como se fazia o rolamento e todos tentaram fazer. Alguns riam quando o outro fazia errado. Depois eles tentaram dois rolamentos seguidos, mas não todos, porque tinha alguns que não estavam conseguindo fazer sozinhos. Ao tentarem fazer o segundo rolamento, eles faziam sozinhos e acertavam mais no segundo se a ajuda. Eles ficam esperando que eu ajude e acabam não tentando, mas quando estão sozinhos, eles tentam o melhor e fazem com facilidade. Por fim fizemos parada de mão com queda de costas nos colchonetes, com o corpo reto. O que achei interessante é que as meninas que no começo não queriam fazer o rolamento, no final estavam fazendo sozinhas e não queriam mais parar de fazer. O difícil é que eles estavam muito inquietos e não conseguiam se concentrar no que eles iam fazer, só sabiam mesmo o que ia ser feito quando era a vez deles e o que o colega fazia só chamava a atenção deles quando eles caiam de uma forma diferente, daí eles começavam a rir. 288 Todos tentaram fazer o rolamento e conseguiram. Na parada de mão todos tentaram, porém nem todos conseguiram. 08/05/2007 – terça-feira Depois da chamada fomos para o pátio e começamos fazendo uma roda. Expliquei que íamos fazer estrelinha e fiz uma fila de menina e outra de menino. Primeiro fomos saltar na muretinha que dever ter aproximadamente 40cm de altura. Pedi que colocassem a mão e pulassem com as duas pernas, uma na seqüência da outra e uma chegando antes da outra no solo. Demonstrei e elas fizeram. Uma menina que no ano passado não se aventurava a tentar nada de acrobacia, tentou fazer tudo que foi proposto e esta atividade realizou sem problemas. No entanto, um menino, que normalmente se destaca nas outras aulas de Educação Física, demonstrou uma dificuldade que eu desconhecia. Ele não conseguia nem fazer a da mureta direito. Já um outro menino que é o mais velho da turma esta com dificuldade de fazer a estrela com a cabeça para dentro, mas ele tem facilidade em quase todas as brincadeiras e sabe fazer escorpião sozinho.Outro menino fez a estrela caindo com os dois pés no chão ao mesmo tempo e se esforçou bastante para tentar cair com as pernas estendida, mas ainda não conseguiu. Em seguida fizemos parada de mão na parede com a minha ajuda. Três meninos e uma menina não precisaram da minha ajuda. Os outros precisaram da minha ajuda, uns mais do que outros. Depois que o sinal bateu, dois meninos continuaram tentando, estrelinha e rondado, respectivamente. 10/05/2007 – Quinta Hoje nós trabalhamos com malabarismo de bolinhas. Expliquei em sala mesmo o que nós íamos fazer e as regras para não estragar as bolinhas (não jogar com força no chão, nem no amigo). Fizemos a aula no pátio. Começamos jogando a bolinha com uma mão, depois com a outra, de uma para a outra livre e batendo palma na cocha com a mão que ia receber a bolinha. Assim que eles iam conseguindo eu ia passando outro desafio. Tentamos passar a bolinha para a outra mão de várias formas, cruzando as mãos, por debaixo da perna, nas costa, girando. Só foi possível vivenciar o manuseio das bolinhas. No ano passado trabalhamos muito com bolinhas de papel, equilibrando ela em algumas partes do corpo e jogando de diversas formas. Hoje usamos umas bolinhas de bexiga com areia. Alguns deles levaram bem a sério a atividade, mas eles não conseguiam se concentrar muito em tentar dominar um desafio. Eles logo queriam tentar outra coisa sem ao menos conseguir fazer o que foi proposto anteriormente. Como eles estavam vivenciando, foquei que eles tentassem e conseguissem alguma coisa, então, assim que eles conseguiam fazer algo parecido do proposto eu propunha outros desafios para tentar mantê-los motivados. Alguns conseguiram fazer quase tudo que foi proposto e outros tiveram muita dificuldade. Os primeiros até tentaram fazer com duas bolinhas. Eles estavam ansiosos e deixei para eles verem que não é tão simples quanto parecia, nem tão difícil quanto muitas pessoas falam. Com essa turma eu tive uns problemas de comportamento, dois alunos ficavam jogando a bolinha para todo lado, eles não conseguiam se concentrar no que estavam fazendo. Eles fazem isso toda aula, então não dá para concluir que é por causa desta atividade. 15/05/2007 – Quarta Hoje fizemos malabarismo novamente, mas quem veio na aula anterior fez com duas bolinhas. Primeiro jogando uma bolinha com uma mão e pegando com a mesma e em seguida jogava com a outra e pegava com ela. Só depois pedi para que tentasse jogar de uma mão para a outra. Dois meninos e uma menina já estavam conseguindo jogar de uma mão para a outra. 289 Hoje eles estavam muito ansiosos e muitos deles já estavam tentando jogar a bolinha no telhado e nos colegas, enquanto outros estavam levando a atividade a sério. 17/05/2007 – Quinta Hoje assistimos (2ª A; 2ª B e 3ª A) o vídeo do Cirque du Soleil (Dralion); Cidade do Circo e as fotos dos eventos que eles participaram no ano de 2006. No começo eles prestaram bastante atenção e até batiam palmas quando terminava o número na televisão. Depois de 1h ficaram entediados e ansiosos. Quando coloquei o vídeo que eles estavam, não paravam de gritar de euforia de se verem na TV. Ficamos 1h e 30min na sala e só saímos na hora de irem embora. Uma menina, que está fazendo aula de circo no período da tarde comigo, vinha me falar de alguma coisa que achou interessante no vídeo. Ela até veio me falar que aprendeu uma portagem de um ficar de pé no ombro do outro, que ela estava tentando fazer e quando viu no vídeo, ficou eufórica e veio me falar que tinha entendido. 22/05/2007 - terça-feira Hoje tivemos aula de manipulação de bastão. Utilizamos cabos de vassoura e bastões de ginástica que era da escola da família que foi desativada na escola. As crianças me ajudaram a levar os bastões até o pátio e quando chegamos lá, demorou para eles fazerem a roda. Sempre que é possível começamos a aula com roda para ficar mais fácil de explicar a atividade, mas eles sempre demoram para se organizar e hoje eles também demoraram para fazer a roda. O pátio fica perto das salas de aula e semana passada um professor reclamou do barulho que as crianças fazem, então, hoje fiquei muito tensa quando eles gritavam, e o bastão tem outro problema, pois faz bastante barulho quando cai no chão. O mais difícil nessa atividade é dar atenção especial para a segurança, pois se eles ficaram brigando com o bastão, eles podem se machucar bastante. Tentamos equilibrar o bastão na mão, no braço, no pé e em diversas partes do corpo. Jogamos o bastão de uma mão para a outra e giramos este com as duas mãos e uma só. Somente um bastão quebrou quando caiu no chão. As crianças até têm facilidade para fazer o que é proposto como desafio e logo inventam outra forma de fazer e um novo desafio surge, o problema é que querem atenção o tempo todo e ficam me chamando para ver o que estão fazendo. Enquanto isso tem as crianças que não querem fazer nada que é proposto e tenho que ficar atenta para ver se o que estão fazendo não é perigoso. No meio da brincadeira surgiu várias propostas, numa delas o bastão virou um cavalo e eles cavalgaram no pátio, virou também um cabo girador para pular. Durante a aula tive um acidente, nada muito sério, mas um menino deixou cair o bastão e pegou no rosto do colega, bem perto do olho. Um menino ficou equilibrando muitos bastões no pé e ficou contente quando equilibrou 8 bastões ao mesmo tempo. Já uma outra menina explorava equilibrar o bastão no pé quando fazia vela, e na barriga quando fazia ponte. Dois meninos só ficavam jogando o bastão para cima e brincando de cavalinho. A principio fiquei brava por eles estarem fazendo algo que não tinha a ver com o que eu tinha proposto, mas depois aquietei minha ansiedade e tentei ver que aquela era a forma como eles encontraram de se envolver com o que foi pedido para eles. 24/05/2007 – Quinta No horário era para nos encontrarmos às 9:50, no entanto, como a professora faltou e a substituta ainda não tinha chegado, adiantei a aula para a primeira e como estava frio e eles nem começaram a trazer o material para fazer o barangandam, fizemos a aula na sala. Adiantei uma aula e fizemos figuram de equilíbrio e portagens no chão. Comecei propondo que eles fizessem o aviãozinho com um pé e em seguida com o outro. Antes que eu pedisse que eles fizessem outra coisa, foi surgindo outras figuram e logo eu chamava a atenção dos outros para o que surgia de novo e todos tentavam fazer. A cada momento surgia uma figura 290 nova. Cadeirinha, pirâmide, cavalinho, parada de mão e muitas outras que nem sei qual seria o melhor nome. Eu também propus figuras que entre eles não teriam condição de fazer ainda, mas comigo era possível. Esta turma é bem agitada e em muitos momentos eles estavam correndo atrás do outro. Dois meninos, que normalmente ficam correndo na aula, ficaram tentando diversas figuras e preferiram fazer cadeirinha e cavalinho. Eles foram muito criativos e muitas vezes não faziam uma figura de equilíbrio, mas uma figura que tinha uma estética diferente e chamava muita atenção. Diferente da aula de bastão, eles exigiram menos a minha atenção. Na aula do bastão era como se eles fizessem a aula para mim, para eu ver o que eles conseguiam fazer. Nesta aula também tinha isso, mas bem menos que a aula passada. Eles faziam as figuras para ver se conseguiam fazer e muitas vezes, se eu não prestasse bastante atenção, podia deixar de ver o que estavam fazendo. No final da aula eles colocaram as carteiras no lugar e foram beber água, ir no banheiro e lavar as mão para voltar para a aula. 29/05/2007 – Terça Eu tinha pedido na semana passada para eles trazerem material para fazermos o barangandam ou Swing. Eles tinham que levar fita adesiva, jornal, barbante e 3 cores de TNT, no entanto, somente uns 3 alunos levaram algum material. Eu já esperava que eles não levassem material e como fiz o barangandam com a turma da 4ª série, que são alunos com melhores condições financeiras e já têm maior responsabilidade para se lembrarem de levar os materiais, e alguns materiais que sobrou eles me deram para fazer a aula com as outras classes. Além da ajuda deles, eu também levei 3 cores de TNT. Os alunos que não levaram material tiveram a oportunidade de fazer o barangandam, mas o brinquedo iria ficar comigo. Já os que trouxeram material, puderam levar o brinquedo para casa. Ficamos a aula toda confeccionando o barangandam, todos tiveram a oportunidade de confeccionar e na quinta vamos brincar com este. O material é bem barato e a escola tem condições de comprar o material para fazer o brinquedo e deixa-lo para os alunos aprenderem a manipulá-lo. 31/05/2007 – Quinta Hoje fizemos a manipulação do barangandam. Fui busca-los na sala e levei eles até o pátio e somente lá entreguei um brinquedo para cada um. O primeiro desafio eu que sugeri, mas eles já estavam rodando o barangandam cada um de um jeito. Eles tentaram rodar o barangandam de diversas formas e com várias partes do corpo. Como das vezes anteriores, eles sentiam necessidade de me mostrar o que estavam fazendo, mas desta vez eles conseguiram, muitas vezes, se entregar ao movimento sem precisar da minha atenção. Eles também conseguiram desenvolver movimentos diferentes sem que eu precisasse pedir para que eles fizessem, então aproveitava aquele que estava fazendo um movimento diferente e chamava a atenção de todos para ver e tentar fazer igual. A todo tempo eles inventavam um jeito diferente de brincar e ao final da aula eles já estavam manipulando com as duas mãos em diversas posições. Assim que bateu o sinal eles me ajudaram a enrolar o barangandam e todos conseguiram guardar sem minha ajuda. 06/06/2007 – Quarta Hoje foi um dia bem incomum. A nossa aula seria ontem, mas precisei de mudar para hoje. Até ai tudo bem, mas ao chegar dentro da sala, descobri que os alunos teriam que descer ao pátio, pois daquele dia em diante teria, todas as quarta-feira antes de começar a aula, os alunos teriam que ir ao pátio para cantar o hino nacional. Com isso perdemos 30min de nossa aula. Assim que terminaram de cantar o hino eu peguei o material, o barangandam, e distribui dois para cada um. Propus que eles tivessem que manipular os dois ao mesmo tempo e deixei que eles ficassem em dois pátios. Eu fiquei no pátio central olhando o que eles estavam fazendo. No início estavam tentando manipular os dois com movimentos circulares. Depois os meninos que estavam no outro pátio começaram a brigar, então chamei eles de volta para o 291 mesmo pátio que eu e os envolvidos na briga eu tirei o barangandam. Combinei desde o começo do ano, que quem brigasse sairia da brincadeira imediatamente. Tentei continuar a aula, mas o tempo já tinha acabado e pedi que eles enrolassem o barangandam e me devolvesse. Outro fator que interferiu foi que eles estavam agitados por causa do hino. 14/06/2007 – Quinta Hoje fizemos aula de andar no tambor. Quando eles chegaram já estava tudo arrumado. Coloquei 8 colchonetes no chão e uma lona por cima para ficar mais fácil de andar no tambor. Os colchonetes e a lona são da escola e o tambor fui eu que levei para a escola. O lugar onde coloquei o tambor é um local de passagem, o que fazia sempre ter alguém que não era da turma olhando a aula. Essa atividade só possibilita que uma criança vá de uma vez, portanto elas tinham que esperar para irem. Só não tiveram que esperar muito porque eles ainda não tinham muita habilidade, consequentemente não demoravam muito para ir. No começo as meninas falaram que não iam, mas logo aceitaram tentar e não pararam mais de ir. Todos tiveram a oportunidade de tentar pelo menos cinco vezes cada, sendo que alguns foram mais. Algumas crianças fazem aula de circo comigo num outro horário e tiveram muita facilidade para andar, as outras tiveram dificuldade. Uma menina tem problema de obesidade, mas nem por isso deixou de tentar andar. Por eles serem novos e não tão grandes foi fácil eu manter a segurança deles e mesmo assim alguns deles caíram em cima do tambor. Eles não caiam com muita força e eu amortecia a queda, então nenhum deles se machucou. Na semana do dia 21 de Junho foi semana de férias na minha escola e não teve aula. 27/06/07 – Quarta Antes do recreio tivemos ensaio da quadrilha para a festa junina. Depois do recreio eu fiz a aula de tecido com as crianças. Coloquei o tecido num lugar baixo com dois colchonetes em baixo. Estendi uma lona no chão e pedi para as crianças ficarem na lona. Antes de subirem no tecido fizemos um alongamento e aquecimento, principalmente nos braços. Em seguida todos sentaram e disse para eles que eu ia chamando quem não fizesse bagunça. O meu maior problema é que estava acontecendo o recreio dos mais velhos, então muitos deles fizeram roda na nossa aula para ficar olhando. Foi difícil trabalhar com barulho das outras crianças, mas deu para eles entenderem o que estava sendo proposto. 1º eles deitavam no chão e iam se erguendo com a ajuda do tecido (essa eu demonstrei); 2º eles fizeram um giro completo para trás que eu chamo de mortalzinho (essa uma menina que faz circo comigo em outro horário demonstrou); 3º Eles tentavam se equilibrar todo grupado de cabeça para baixo (a aluna demonstrou); 4º eles tentavam subir até o final e numa turma de 22, 5 conseguiram subir; 5º subir e abrir o tecido para colocar o braço no meio do tecido. Muitas crianças apresentaram dificuldade e nesta turma duas crianças não quiseram tentar subir. O problema de trabalhar tecido numa turma deste tamanho é que enquanto eu estou com um subindo no tecido eu não posso ficar de olho nos outros. É muito ruim eles ficarem a maior parte da aula sentados, mas vale a pena eles vivenciarem o tecido. Essa turma esta esperando desde o ano passado para ter aula de tecido. Um ponto positivo é que quando eles aprendem o básico do tecido no horário de aula, eles passam a ter mais facilidade nas atividades fora do ensino formal. As crianças que também fazem aula de circo de tarde ficaram mais motivadas na aula de circo para tentarem fazer tecido, o que normalmente eles não tentavam na aula. Um fato que me marcou foi que algumas crianças que apresentam dificuldade em outros conteúdos se destacaram no tecido. A maior dificuldade é com crianças obesas, mas isso não impediu que estes participassem. Um outro problema é o cheiro, pois ao tirarem o tênis elas se expõe e muitas vezes eles têm chulé. Desconfio que um dos meninos que não tentou subir foi por esse motivo. Outra coisa que aconteceu na aula foi que alguns 292 alunos estavam com short largo e no mortal acabaram ficando de cueca ou aparecendo boa parte da calcinha e as crianças ficavam tirando sarro do colega. 28/06/07 – Quinta Hoje levei as crianças para terem aula de tecido no pátio, pois a estrutura para amarrar o tecido é mais alta. No pátio eles fizeram menos bagunça do que ontem, pois este não era passagem para nenhum outro lugar como ontem. Primeiro fizemos um alongamento e um aquecimento e novamente todos esperaram sua vez para subir no tecido. Em seguida chamei as crianças que tinham conseguido subir até no alto ontem e pedi que eles tentassem subir ali. Depois pedi que todos fizessem cazulinho (eles ficam pendurados pela mão de cabeça para baixo e todo encolhido, é difícil eles começarem a equilibrar nessa posição, mas muitos conseguiram) e prancha (aproveita a posição anterior e estende as pernas para cima e ficam com o corpo todo estendido de cabeça para baixo). Eles têm bastante dificuldade de encontrar o equilíbrio e costumam ficar na posição carpada e não estendida. No começo da aula também tivemos a presença dos alunos mais velhos observando nossa aula, mas bem menos do que ontem por que o local que fizemos a aula era perto das aulas do ensino médio. A próxima figura foi a sereia (ainda de cabeça para baixo, tecido aberto em duas partes e o corpo fazendo uma grande curva com os pés apoiados no tecido e a cabeça tentando alcançar os pés). Eles tiveram bem mais dificuldade nesta figura do que nas anteriores, mas pelo menos uns 8 alunos conseguiram fazer. Em seguida ensinei a eles a trava do tecido saindo do chão. As crianças que já estavam conseguindo subir, eu pedi para subirem, abrindo o tecido depois de saírem um pouco do chão e fazendo a trava no tecido. Essa todos conseguiram fazer. Por fim, alguns alunos queriam tentar subir novamente e os que já iam terminando iam colocando os calçados para irem para a sala de aula.