SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE Material Didático ÁREA: Educação Física Professor PDE: Adriana Gallego Martins Orientadora: Eliane Josefa Barbosa dos Reis NRE: Paranavaí PARANAVAÍ - 2008 Professor PDE organizador: Adriana Gallego Martins Professor Orientador: Eliane Josefa Barbosa dos Reis IES: UEM/FAFIPA NRE: Paranavaí Disciplina: Educação Física Título: O exercício físico iniciado precocemente pode atenuar o desequilíbrio do sistema nervoso autônomo provocado pela obesidade. Caracterização do material didático: Unidade Didática Alunado: Ensino Médio Objeto de Estudo: Texto sobre obesidade e exercício físico Relações Interdisciplinares: Matemática, Biologia e Química I. Considerações gerais sobre a obesidade 1.1 bilhão de adultos sobrepesados 312 milhões obesos Atualmente a prevalência da obesidade vem aumentando mundialmente e atingindo diferentes faixas etárias e classes econômicas. Ela predispõe o organismo a doenças físicas, como, diabetes, arteriosclerose, dislipdemia, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca; psicológicas, como, baixa-estima, isolamento social e depressão; morte prematura. II. Definição de obesidade A obesidade caracteriza-se por diminuição do gasto energético, aumento dos estoques de gordura e conseqüentemente ganho de peso, sendo que o sistema nervoso central é fundamentalmente importante na regulação desse processo (ATEF et al., 1992). Os fatores promotores da obesidade são genéticos, nutricionais, endócrinos, hipotalâmicos e ainda baixos níveis de sedentarismo (POLLOCK & WILMORE, 1993). INGESTÃO = GASTO NORMAL INGESTÃO > GASTO OBESIDADE INGESTÃO < GASTO DESNUTRIDO III. Sistema Nervoso Autônomo Através do estudo com modelos animais e também em humanos foi formulado uma hipótese que procura, de uma maneira geral, atribuir a instalação da obesidade a um desequilíbrio no sistema nervoso autônomo ( SNA) (BRAY, 1984; BRAY e YORK 1998). Independente da origem da obesidade o sistema nervoso simpático( SNS) encontra-se em baixa atividade e o parassimpático (SNP) em alta atividade. Várias evidências experimentais vêm indicando esse desequilíbrio em vários modelos experimentais (BRAY e YORK, 1998; DEL RIO, 2000). O sistema simpatoadrenal é um componente do SNS, e é responsável pela regulação da secreção de catecolaminas através das células cromafínicas da medula das glândulas adrenais. Essas células são altamente inervadas por fibras gaglionares do nervo esplâncnico proveniente da medula espinhal (YANAGUCHI, 1992). A secreção de catecolaminas é controlada pelo sistema nervoso central (SNC). Quando o SNS é estimulado, por exemplo, em caso de estresse ou hipoglicemia, centros autonômicos hipotalâmicos enviam sinais através de fibras pré-ganglionares a vários tecidos, incluindo a medula adrenal, liberando acetilcolina na fenda sináptica que dispara a secreção das catecolaminas (CRYER e GRICH, 1985). A ativação do sistema simpatoadrenal, além de estimular a secreção, também induz a síntese de catecolaminas promovendo o aumento das reservas dessas aminas nas células cromafínicas (CRAVISO et al., 1992; AUNIS, 1998). IV. A atuação do sistema endócrino no equilíbrio do consumo e gasto energético Os sistemas fisiológicos e psicológicos trabalham juntos para determinar a ingestão e o gasto de energia, mantendo equilibrado funcionamento dos tecidos do organismo, inclusive o adiposo, que por sua vez secreta hormônios que induzem a saciedade e juntamente a outros hormônios como catecolaminas, cortisol, insulina, hormônio do crescimento e tireoidianos, promove lipólise diminuindo o peso corporal, pois todos esses hormônios mencionados respondem efetivamente ao exercício (McMURRAY & HACKNEY, 2005). V. Modelos experimentais de obesidade Vários modelos experimentais de obesidade vêm ajudando na compreensão da fisiopatologia da obesidade. Os mais estudados são aqueles que produzem obesidade através de lesões no cérebro, no hipotálamo. Sabe-se que várias regiões hipotalâmicas participam do controle do peso corporal. Outro tipo de obesidade experimental é obtida através da seleção genética de cepas obesas de roedores, que também apresentam alterações hipotalâmicas (BRAY, 1997). À esquerda rato Wistar obeso; à direita rato Wistar normal. VI. Considerações sobre o Exercício Físico no funcionamento do Sistema Nervoso Autônomo O sedentarismo e o excesso de peso são interdependentes e podem ser combatidos através de uma vida fisicamente ativa e saudável (Pollock & Wilmore, 1993), onde a ingestão alimentar esteja equilibrada com o gasto energético (STALLKNECHT et al., 1996). Dados recentes sugerem que o exercício físico é um importante adjunto para a manutenção permanente do peso corporal, principalmente quando iniciado precocemente (WING & HILL, 2001). O exercício físico então, é um dos maiores moduladores hormonais da ingestão alimentar e do gasto de energia e diante disso, pode ser considerado uma importante chave para o combate a obesidade e manutenção da saúde. O exercício físico é considerado um forte estresse para o organisno, que estimula o SNS e a secreção de catecolaminas (THORNTON, 1985). Recentemente foi observado em camundongos com obesidade hipotalâmica, obtidos pelo tratamento neonatal com glutamato monosódico (MSG), desequilíbrio no SNA (BALBO et al., 2000) e que as reservas de catecolaminas na medula das adrenais estavam reduzidas quando comparadas com os camundongos magros (MARTINS et al. 2001). Ratos adultos normais submetidos à natação diária por quatro horas diárias durante quatro semanas apresentam um aumento no volume de suas adrenais e incremento no acúmulo de catecolaminas totais nas medulas adrenais. Os autores sugeriram que o exercício físico promove a indução na síntese de catecolaminas e pode ser usado como uma medida indireta do resultado da ativação do sistema simpatoadrenal (STALLKNECHT et al. 1996). Em camundongos magros submetidos à natação regular durante sessenta dias o estoque de catecolaminas das adrenais foi incrementado duas vezes comparado com os animais sedentários, o mesmo procedimento feito com os camundongos obesos também incrementou a reserva de catecolaminas (ZANARDO, 2001). Este autor concluiu que o exercício físico regular estimula a atividade do sistema simpatoadrenal promovendo dessa forma o aumento dos estoques de catecolaminas nas células cromafínicas através do estímulo no processo biossintético. E que apesar da diminuída atividade do SNS nos camundongos obesos–MSG (BRAY e YORK 1998), o exercício físico regular iniciado após a lactação consegue atingir o limiar de ativação do SNS necessário para estimular o sistema simpatoadrenal e o conseqüente aumento na acumulação de catecolaminas nas células cromafínicas o que propicia condições para uma secreção de catecolaminas capaz de atenuar a evolução da obesidade (ZANARDO, 2001). VII. Análise dos parâmetros experimentais de obesidade Indução de Obesidade: Ratas prenhas (Wistar) serão obtidas do biotério Central da Universidade Estadual de Maringá, trazidas ao biotério setorial do Departamento de Biologia Celular e Genética onde permanecerão sob condições controladas de fotoperíodo (12h claro/escuro) e temperatura (22 ± 2◦C). Após o nascimento ratos machos receberão injeções subcutâneas de glutamato monossódico (MSG) na dose de 4g/Kg de peso corporal durante os 5 primeiros dias de vida. Animais controle (CON) receberão salina equimolar. Os filhotes serão desmamados no vigésimo primeiro dia de vida e terão livre acesso à ração e água filtrada até os 90 dias de vida (BALBO et al., 2002). Exercício Físico: Após o desmame parte dos animais de ambos os grupos serão submetidos ao exercício físico originando 4 grupos: MSG - sedentário (MSG-SED); MSG – exercitado (MSG-EXE); CON – sedentário (CON-SED) e CON – exercitado (CON-EXE). Antes de iniciar o treinamento os animais passarão por um período de adaptação que consistirá em corrida em esteira 3vezes/semana/15min durante 15 dias, após este período os animais serão submetidos a corrida em esteira 5 dias/semana/30min até completarem 90 dias de vida. Outros grupos iniciarão o exercício aos 60 dias de vida. Avaliação da obesidade: Índice de Lee: Após o sacrifício serão obtidos, o comprimento naso-anal e o peso corporal os quais serão utilizados para o cálculo do índice de Lee (peso corporal (g) 1/3 /comprimento naso-anal (cm)x 1000). Conteúdo de Gorduras: As gorduras perigonadais e retroperitoniais serão retiradas, lavadas em solução salina (0,9%) e pesadas. O peso das gorduras será expresso em relação ao peso corporal. Concentração das catecolaminas plasmáticas: Amostras de sangue serão coletadas dos ratos de todos os grupos e o plasma será tratado com metabissulfito. Esse material será processado em HPLC para a separação das catecolaminas e sua detecção será feita com um eletrodo sensível ao potencial redox (KELNER et al., 1985). As Glândulas Adrenais: Conteúdo Total de Catecolaminas: Imediatamente após o sacrifício as glândulas adrenais direita/esquerda serão retiradas limpas em solução salina (0,9%) e mantidas em solução de Krebs-Hepes (mM): Cl-, 154,3; Na+ 143,4; Ca2+ 2,5; Mg2+ 1,18; SO42- 1,2; K+ 5,9; glicose 1,11; Hepes 2,5; albumina bovina fração V 0,5%’; pH 7,4 em banho de gelo. Para dosagem do conteúdo total de catecolaminas será utilizado o método espectrofluorimétrico do trihidroxiindol (KELNER et al., 1985). VIII. Atividades a serem desenvolvidas G. Perigonadal (g/100g de peso) 1. Analise o gráfico abaixo e responda: 2.0 acd 27% abc 1.5 1.0 bd bd 0.5 0.0 SED CON MSG Efeito do exercício físico sobre o acúmulo da gordura perigonadal em ratos obesos e normais. As barras apresentam as medias ± epm. As letras sobre as barras indicam diferencas significativas entre os grupos: a - CSED; b - MSG-SED; c - C-EXE; d - MSG-EXE. EXE A. Existe diferença no conteúdo de gordura perigonadal do animal controle e MSG sedentário? B. O que ocorre nos grupos exercitados com relação ao peso de gorduras? C. Em termos percentuais qual é a diferença na concentração de gordura entre os animais MSG sedentários e exercitados? 2. A figura abaixo apresenta a evolução do Índice de Lee, que consiste em analisar o grau de obesidade em animais. Este teste é muito semelhante ao Índice de Massa Corporal (IMC) aplicado em seres humanos. A * 375 * * * 350 325 300 B CON SED MSG SED CON EXE MSG EXE 385 Ín d ic e d e L e e Ín d ic e d e L e e 400 360 * * * * 335 0 25 50 75 100 Fig A- Efeito do tratamento neonatal com MSG no Índice de Lee de camundongos. Os dados são a média ± EPM. * indicam diferenças de p < 0.05 entre os grupos. 0 25 50 75 100 Fig B- Efeito do exercício físico no Índice de Lee de camundongos. Os dados são a média ± EPM. * indicam diferenças de p<0.05. (Scomparin, 2004) A. Observe e registre as variações apresentadas nos dois gráficos, comparando os valores entre os grupos. B. Agora, vamos calcular o nosso IMC e discutir entre os nossos colegas os valores obtidos; IMC [=peso/(altura)2] Indivíduo com sobrepeso, IMC acima de 25. Indivíduo obeso, IMC atinge os 30 pontos. 3. O gráfico a seguir apresenta os resultados sobre o conteúdo total de catecolaminas entre os grupos sedentários e exercitados. Os dados revelam que o exercício físico foi capaz de aumentar o estoque de catecolaminas nas glândulas adrenais de ratos obesos. Os dados indicam que o exercício físico provoca uma ativação do sistema nervoso simpatoadrenal que por sua vez estimula a produção de catecolaminas (SCHEURINK, 1989). Sabe-se também, que durante o exercício físico a queima de gorduras estocadas é mediada pelas catecolaminas, principalmente pela adrenalina ug de catecolaminas / g de glandula (DENADAI, 1994). 24% abc 3.5 3.0 CON MSG acd 2.5 Efeito do exercício físico sobre o conteúdo de catecolaminas 2.0 1.5 1.0 bd bd 0.5 0.0 SED EXE As atividades a seguir poderão ser realizadas em dupla. A. Discuta com seu colega, a função da adrenalina no corpo humano, e registre seus benefícios e prejuízos quando produzida em excesso. B. Reflita de que forma o exercício físico pode contribuir para melhoria da saúde geral do organismo humano. 4. Agora vamos fazer uma reflexão oral, sobre os principais itens apresentados inicialmente neste material e registre em seu caderno seus apontamentos. 5. Considerações finais sobre o tema proposto: Analisando a figura abaixo faça sua própria reflexão sobre tudo que foi discutido neste estudo e registre suas conclusões. IX. Referências Bibliográficas: - ATEF, N.; KTORZA, A.; PICON, L.; PENICAUD, L. Increased islet blood flow in obese rats: role of the autonomic nervous system. American journal of Physiology, 262 (5): e736-e740, 1992. - AUNIS, D. Exocytoisis in chomaffin cells of the adrenal medulla. Int Rev Cytol 181:213-320, 1998. - BALBO, S.; GRAVENA, C.; BONFLEUR, M.L.; DE FREITAS MATHIAS, P.C. Insulin secretion and acetylcholinesterase in monossodium 1-glutamate-induced obese mice. Horm. Res. 54: 186-191, 2000. - BRAY, G. A. Experimental models for the study of obesity: introductory remarks. Fed Proc 36: 137-138, 1977. - ___________. hypothalamic and obesity: an appraisal of the autonomic hypathesis and the endocrine hypathesis. Int J Obes 8: 119-137, 1984. - BRAY, G. A. & YORK, D.A. The MONA LISA hypothesis in the time of leptin. Recent Prog Horm. Res. 53: 95-117, 1998. - CRAVISO, G. L.; HEMELT, V. B.; WAYMIRE, J.C. 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