ANA CLÁUDIA GONÇALVES CAMPOS TIPOS PSICOLÓGICOS E PROFISSÕES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO UNIVERSIDADE DO VALE DO SAPUCAÍ POUSO ALEGRE 2005 ANA CLÁUDIA GONÇALVES CAMPOS TIPOS PSICOLÓGICOS E PROFISSÕES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Médicas “Dr José Antônio Garcia Coutinho” da Universidade do Vale do Sapucaí, como requisito parcial para obtenção do título de psicólogo. Orientador: Prof. e Ms. Marcos Antonio Batista UNIVERSIDADE DO VALE DO SAPUCAÍ POUSO ALEGRE 2005 ANA CLÁUDIA GONÇALVES CAMPOS TIPOS PSICOLÓGICOS E PROFISSÕES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO Monografia defendida e aprovada em 18/11/2005 pela banca examinadora constituída pelos professores: ____________________________________________ Prof. Marcos Antonio Batista Orientador ____________________________________________ Prof. Alessandro Caldonazzo Gomes Examinador _____________________________________________ Profª Sandra Maria S. Sales Oliveira Examinadora Dedico Às minhas filhas, que foram minhas companheiras nesta jornada de lutas e vitórias, que passaram ao meu lado momentos difíceis para que esse sonho pudesse ser realizado. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por permitir a realização desse sonho. Agradeço a Ele também por ter colocado em meu caminho pessoas especiais, a quem devo esta conquista: Meus pais, que me deram todo apoio e segurança; que sacrificaram tanto de suas vidas para que eu pudesse continuar a minha. Minha família, especialmente minhas irmãs e cunhados, que torceram e oraram por mim. Minhas filhas, Fernanda, Amanda e Danielle, que por muitas vezes ficaram sem minha presença para que eu pudesse me dedicar ao curso; que sentiram minha falta, mas me incentivaram para que eu seguisse em frente. Ao Luciano, meu namorado, amigo, companheiro, que me dedicou todo o seu carinho e cuidado, que foi meu porto seguro nos momentos de angústia e nunca me deixou desistir. Meus colegas Geovanni, Vera e Sandra, com quem pude contar e dividir meus problemas e alegrias. Todos os meus colegas, pessoas tão especiais, que me fizeram acreditar na amizade. Todos os meus professores, verdadeiros mestres, com quem aprendi não apenas a teoria, mas o compromisso e a paixão pela psicologia. Ao professor Marcos, que me incentivou e acreditou em minha capacidade; com quem aprendi muito, não apenas como profissional, mas através de seu exemplo de vida pude crescer principalmente como pessoa. Às funcionárias Eleuzes e Luciene, por sua amizade e colaboração. “Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum – para si mesmo ou para os outros – abandoná-lo quando assim ordena seu coração (...) Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente-o quantas vezes julgar necessárias... Então faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta: possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui importância alguma....” Carlos Castañeda CAMPOS, Ana Cláudia Gonçalves. Tipos Psicológicos e Profissões: um estudo exploratório.2005. Monografia – Curso de Psicologia, Faculdade de Ciências Médicas Dr. José Antônio Garcia Coutinho, Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre, 2005. RESUMO O presente trabalho tem como objetivo um estudo comparativo das características psicológicas em universitários e seus respectivos cursos, observando se tais características correspondem às habilidades demandadas pela profissão escolhida. Participaram da pesquisa 327 universitários com idade entre 22 e 48 anos e de ambos os sexos, matriculados em nove dos cursos da UNIVÁS. O instrumento utilizado foi o Questionário de Avaliação Tipológica – QUATI. Os dados foram analisados quantitativa e qualitativamente; a comparação dos dados foi feita por meio da análise estatística descritiva frequencial e os resultados foram apresentados e discutidos por meio de tabelas e gráficos. Os dados demonstram que a maioria dos universitários apresenta como atitude a extroversão, como função principal o sentimento e como função auxiliar a sensação, tendo o sentimento também se destacado como função auxiliar. Estes dados apontam para a necessidade de mais profissionais atuando ou intervindo antes do momento da escolha profissional, como forma de minimizar as dificuldades e frustrações no transcorrer da formação acadêmica e no mercado de trabalho. Esta pesquisa busca também a compreensão dos processos envolvidos no momento da escolha da profissão e propõe uma reflexão a respeito da importância do papel do psicólogo e da orientação profissional. Palavras-chave: Tipos Psicológicos, Escolha Profissional, Orientação Profissional. CAMPOS, Ana Cláudia Gonçalves. Psychological Types and Professions: a study exploratory.2005. Monografia – Curso de Psicologia, Faculdade de Ciências Médicas Dr. José Antônio Garcia Coutinho, Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre, 2005. ABSTRACT The present work has as objective a comparative study of the psychological characteristics in university students and its respective courses, being observed such characteristics corresponds to the abilities demanded by the chosen profession. They participated of the university research 327 with age between 22 and 48 years and of both sexes, registered in nine of the courses of UNIVÁS. The used instrument was Questionário de Avaliação Tipológica - QUATI. The data were analyzed quantitative and qualitying; the comparison of the data was made by means of the analysis statistical descriptive frequencial and the results were presented and discussed by means of tables and graphs. The data demonstrate that most of the university students presents as attitude the extroversion, as main function the feeling and auxiliary function the sensation, also tends the feeling if outstanding as auxiliary function. These data point for the need of more professionals acting or intervening before the moment of the professional choice, as form of minimizing the difficulties and frustrations in elapsing of the academic formation and in the labor market. This research also looks for the understanding of the processes involved in the moment of the choice of the profession and it proposes a reflection regarding the importance of the psychologist's paper and of the professional orientation. Key words: Psychological Types, Choose Professional, Professional Orientation. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BBT Berufsbilder Test – Teste de foto de Profissões BPR-5 Bateria de Provas de Raciocínio EPQ Eysenck Personality Questionnaire LAP Laboratório de Avaliação Psicológica LIP Levantamento de Interesses Profissionais MBTI Myers – Briggs Type Indicator 16 PF Questionário de Personalidade PRF Personality Research Form QUATI Questionário de Avaliação Tipológica UNIVÁS Universidade do Vale do Sapucaí LISTA DE TABELAS E ILUSTRAÇÕES Tabela 1 – Distribuição frequencial e percentual do gênero por curso Tabela 2 – Distribuição frequencial e percentual das atitudes e funções no modelo junguiano no total de cursos Tabela 3 – Distribuição frequencial e percentual das atitudes e funções no modelo junguiano por curso Figura 1 – Modelo da tipologia de Eysenck Figura 2 – Distribuição frequencial de participantes por curso Figura 3 – Distribuição percentual em relação ao gênero Figura 4 – Distribuição percentual da faixa etária SUMÁRIO 1 2 2.1 2.2 2.3 3 3.1 3.1.2 3.1.3 3.1.4 3.2 3.2.1 3.2.2 3.2.3 3.2.4 4 4.1 4.2 4.3 4.3.1 4.3.2 4.3.3 4.3.4 4.3.5 4.3.6 4.3.6.1 4.3.6.2 4.3.7 4.3.7.1 4.3.7.2 4.3.8 5 5.1 5.1.1 5.1.2 5.1.3 5.1.4 5.2 5.3 6 INTRODUÇÃO..........................................................................................11 A ESCOLHA PROFISSIONAL.................................................................16 O significado do trabalho............................................................................16 As transformações no mundo do trabalho...................................................17 Identidade profissional e escolha...............................................................19 A PERSONALIDADE................................................................................25 A abordagem dos traços..............................................................................27 A teoria de traços de Gordon W. Allport....................................................27 A teoria fatorial de Hans J. Eysenck...........................................................28 A teoria de traço fatorial-analítica de Raymond Cattell..............................29 A abordagem dos tipos................................................................................30 A tipologia neo-hipocrática.........................................................................31 Outras teorias tipológicas............................................................................32 A tipologia de Kretschmer..........................................................................33 A tipologia de Hans J. Eysenck..................................................................33 TIPOLOGIA E PROFISSÕES...................................................................36 O modelo hexagonal de Holland................................................................36 O teste de foto de profissões - BBT...........................................................38 A tipologia junguiana.................................................................................43 A atitude extroversão ................................................................................44 A atitude introversão..................................................................................45 As funções..................................................................................................46 Função principal e função auxiliar............................................................46 Função inferior..........................................................................................47 Funções racionais......................................................................................48 O pensamento............................................................................................48 O sentimento.............................................................................................48 Funções irracionais...................................................................................49 A sensação................................................................................................49 A intuição.................................................................................................49 Descrição dos tipos..................................................................................50 PROPOSTA DE PESQUISA E RESULTADOS....................................56 Método.....................................................................................................56 Participantes.............................................................................................56 Instrumentos.............................................................................................56 Procedimentos..........................................................................................56 Tratamento dos dados...............................................................................57 Apresentação dos dados............................................................................57 Análise dos resultados...............................................................................63 CONCLUSÃO...........................................................................................67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................69 1 - INTRODUÇÃO Este trabalho surgiu a partir de reflexões referentes à área de orientação profissional. Observando a teoria e levando em consideração as exigências do mercado de trabalho atual, assim como a ansiedade do jovem frente ao vestibular e à escolha da profissão, surgiu o questionamento de como as características de personalidade têm influenciado esse momento tão decisivo na vida do ser humano. Pretendeu-se, a partir daí, realizar um estudo comparativo das características psicológicas em universitários e seus respectivos cursos, observando se tais características correspondem às exigências e habilidades demandadas pela profissão escolhida. O século XXI trouxe inovações sociais, culturais, econômicas, políticas e principalmente tecnológicas. Todas essas inovações em um ambiente dinâmico, esbarram com o problema da educação e da capacitação profissional das pessoas. As empresas têm investido principalmente em seu pessoal, tanto em educação e desenvolvimento profissional como em criatividade e participação efetiva no trabalho. Os recursos humanos, o clima e a cultura organizacional são vistos como processos de obtenção da realização humana, do comprometimento pessoal e da elevada produtividade. Como a organização e os cargos se modificam, diferentes competências e habilidades individuais são necessárias a cada situação (CHIAVENATO, 1994). Essas mudanças no mercado de trabalho são citadas por vários autores como conseqüência das inovações sociais, culturais, econômicas e principalmente do avanço tecnológico e científico presentes no mundo atual. Andrade, Meira e Vasconcelos (2002) argumentam que o desenvolvimento da ciência e da tecnologia vem realizando mudanças no mercado, revolucionando e modificando as bases materiais, morais e as aspirações do ser humano. As transformações sociais e econômicas presentes no mundo capitalista colocam novos questionamentos e incertezas, principalmente no espaço do trabalho. Para os autores supracitados (2002) o ser humano passa a conhecer a importância e o valor do trabalho desde a infância. A identidade profissional, para a maioria das pessoas é uma parte muito importante de sua identidade geral, pois a vida ocupacional é considerada um dado fundamental na existência humana. A formação da identidade profissional, de acordo com Hissa e Pinheiro (2004) é um processo que tem início desde cedo, quando a criança tem conhecimento do trabalho das pessoas que convivem com ela e toma contato com o que a rodeia. Os referenciais que aparecem nas várias situações da vida conduzem à formação de identificações inerentes ao processo de aquisição da identidade. Como o trabalho ocupa a maior parte da vida das pessoas e sendo o mesmo de responsabilidade individual, a escolha profissional não deixa de ter repercussões sociais, pois quando uma pessoa exerce motivada a sua profissão, apresenta um serviço de melhor qualidade, além de sentir-se mais segura e realizada (ARAÚJO, 2004). Primi et al (2002) colocam que as tarefas a serem executadas nas profissões exigem um certo nível de habilidades; se uma pessoa possui as habilidades que uma determinada tarefa requer, mais chance de se adaptar satisfatoriamente ao ambiente ela terá e maior será sua satisfação. As escolhas possuem maior eficácia quando existe uma coordenação harmônica entre as características pessoais e as da profissão desejada. Entende-se então, que para uma determinada profissão, existem algumas características de personalidade que são mais complementares, ou mais adequadas que outras. Há uma maior possibilidade de integração e desenvolvimento na carreira de um indivíduo quando as exigências de sua profissão encontram respaldo em seus interesses, habilidades e aspectos da personalidade, por isso a importância de se conhecer esses aspectos. O estudo da personalidade vem sendo desenvolvido ao longo dos anos para uma melhor compreensão do ser humano. Muitos pesquisadores desenvolveram teorias no intuito de explicar o comportamento, suas semelhanças e diferenças. A formação da personalidade sofre influências genéticas, com características como nível de atividade, alcance da atenção, adaptabilidade e humor geral. O ambiente é outro fator fundamental na formação da personalidade (ATKINSON et al, 1995). Cloninger (1999) cita que uma das maneiras propostas para o estudo da personalidade foi a utilização de duas abordagens, a saber, a dos traços e a dos tipos. Dentro da abordagem dos traços, pode-se citar a importante contribuição de Gordon Allport, Raymond Cattel e J. Eysenck. Nestas teorias, a personalidade pode ser compreendida por meio de níveis hierárquicos de estruturas que modulam e delimitam o comportamento humano (NUNES, 2000). Muitas maneiras de descrever as diferenças individuais utilizando a abordagem dos tipos foram sugeridas nos estudos tradicionais, pré-científicos da personalidade, como na antiga Grécia. A partir do século XIX os modelos se basearam em classificações físicas ou na interação de elementos físicos e psíquicos. Zacharias (1995) destaca Cesare Lombroso, que criou a Antropologia Criminal e acreditava que o criminoso tinha um tipo físico e psíquico especial; cita também De Giovani e Viola, da Escola Constitucionalista, que criaram um modelo baseado na classificação física; Ernest Kretschmer, que aproveitou a descrição psiquiátrica de Emil Kraepelim, a esquizofrenia e a psicose maníaco depressiva e criou uma tipologia Sómato-Psíquica. Como classificação dos tipos psíquicos, pode ser considerado como grande exemplo a Tipologia de Carl Gustav Jung. Ao longo de dez anos Jung dedicou-se a um estudo detalhado dos tipos abordados na literatura, na mitologia, na filosofia e principalmente na psicopatologia. A grande contribuição da tipologia junguiana é a introdução do conceito de energia psíquica e a atenção como cada pessoa se orienta preferencialmente ao mundo. Estas contribuições são inovadoras frente aos sistemas anteriores, em que as classificações eram baseadas na observação de padrões de comportamento temperamental ou emocional (ZACHARIAS, 1995). A Tipologia Junguiana, conforme o mesmo autor (1995) faz uma descrição de quatro funções: pensamento, sentimento, intuição e sensação; postula também a existência de duas atitudes, extroversão e introversão. A combinação dessas estruturas caracteriza o tipo psicológico. O tipo psicológico oferece uma direção, um suporte teórico e uma compreensão mais adequada dos elementos psíquicos que atuam no comportamento do indivíduo, inclusive no momento da escolha da profissão. Outras teorias buscam na dinâmica do indivíduo a compreensão da inclinação profissional, como o Modelo Hexagonal de Holland e os oito fatores de inclinação propostos por Achtnich (1991) baseados na teoria da Análise do Destino de Szondi (1970), presentes no Teste de Fotos de Profissões – BBT. A teoria de Holland, segundo Fogliatto e Pérez (1990) tem sido descrita como um modelo de congruência entre os interesses e habilidades de uma pessoa e os fatores inerentes a seu ambiente. O desenvolvimento dessa tipologia depende de uma série de acontecimentos familiares, preferências ocupacionais e interação com um contexto ambiental específico. No instrumento proposto por Achtnich, o BBT, a atividade profissional corresponderia a um processo de socialização das necessidades vitais e dos impulsos. No processo humano, essas necessidades transformam-se em interesses profissionais, dependendo também das oportunidades e das demandas sócio-culturais do ambiente. Vasconcelos (2004) cita que as pessoas, quando possuem a oportunidade de fazer suas escolhas espontaneamente e com a possibilidade de refletir sobre si mesmas, possuem uma probabilidade menor de se arrependerem dessas escolhas. Este trabalho tem como objetivo o estudo das características psicológicas dos universitários em seus respectivos cursos, observando se correspondem às exigências e habilidades demandadas pela profissão escolhida. De acordo com a teoria estudada, cada tipo psicológico apresenta características que correspondem a determinadas profissões. Pensou-se em ir a campo a fim de verificar se a teoria é confirmada no empírico. Como as organizações e os cargos estão se modificando, novas e diferentes habilidades individuais se tornam necessárias a cada situação. Percebe-se então a necessidade de pesquisas que verifiquem que tipo de habilidades estão ligadas naturalmente a uma tipologia específica. Com base no resultado deste estudo, novas propostas poderão surgir para o desenvolvimento de competências, visando a capacitação e o desenvolvimento profissional e organizacional. Os capítulos a seguir apresentam uma revisão literária dos principais aspectos ligados ao tema da pesquisa. O capítulo 2 refere-se à Escolha Profissional, abordando o significado do trabalho para o homem, as transformações no mundo do trabalho e a identidade profissional. Neste capítulo, alguns autores comentam que a profissão escolhida exige um certo nível de habilidades, aptidões e inclinações pessoais, e que os diferentes grupos profissionais possuem características de personalidade distintas. O capítulo 3 aborda a Personalidade e como o seu estudo tem sido realizado; descreve os conceitos de traços e tipos para teóricos como Allport, Cattel e Eysenck, e também o desenvolvimento das teorias tipológicas através dos tempos. No capítulo 4 serão apresentadas algumas teorias que enfocaram as características individuais, especialmente o tipo psicológico, relacionando-as às profissões escolhidas pelo indivíduo, como o Modelo Hexagonal de Holland, o Teste de Fotos de Profissões – BBT formulado por Achtnich e a Tipologia Junguiana, tão relevante para essa pesquisa. O capítulo 5 traz a apresentação da proposta de pesquisa, apresentação dos dados e análise dos resultados. O capítulo 6 é destinado à conclusão. 2 – A ESCOLHA PROFISSIONAL “Tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da vida.” Victor Frankl A vida profissional é considerada fundamental para o ser humano, pois a maior parte do tempo de sua existência é dedicada ao trabalho. O momento da escolha profissional levanta uma série de questões que merecem ser refletidas, por ser uma das mais importantes escolhas que o indivíduo realizará ao longo de sua vida. 2.1 - O significado do trabalho O trabalho, conforme citam Silveira e Calheiros (2004) tem permeado a condição humana, inicialmente como meio de sobrevivência. Tem início na Idade Antiga a relação escravizador-escravo, e na idade Média a relação senhor-servo. Na Idade Moderna, com a criação das empresas, começa a surgir o conceito de emprego. As empresas artesanais, que possuíam mão-de-obra exclusivamente familiar, começam a crescer e a necessitar de aprendizes que em troca do trabalho recebiam moradia e alimentação. Para as mesmas autoras (2004) a organização sócio-política, econômica e cultural mostra-se diferente em cada período da história, assim como a tecnologia e as relações de trabalho acompanham o desenvolvimento do homem em seu percurso histórico. A partir da revolução industrial, surge a idéia do emprego como uma relação estável e duradoura existente entre quem organiza e quem realiza o trabalho. Com o funcionamento das fábricas em que a produção era feita em série e as jornadas de trabalho eram extensas, as pessoas passavam a maior parte de seu tempo trabalhando. O trabalho então revestiu-se de uma significação especial para o homem, que passou atribuir-lhe outros valores além de sua fonte de sobrevivência. O homem atribuiu diversos sentidos ao trabalho ao longo do tempo: de subsistência, de valorização social, de valor moral, de obrigação, de compensação, de frustração, o que contribuiu para que o trabalho tenha um valor enorme na construção do sujeito e no sentido de sua vida (SILVEIRA E CALHEIROS, 2004). 2.2 - As transformações no mundo do trabalho O século XXI trouxe inovações sociais, culturais, econômicas, políticas e principalmente tecnológicas. Andrade, Meira e Vasconcelos (2002) argumentam que o desenvolvimento da ciência e da tecnologia vem operacionalizando mudanças no mercado de trabalho, revolucionando e modificando as bases materiais, morais e as aspirações do ser humano. As transformações sociais e econômicas presentes no mundo capitalista colocam novos questionamentos, trazendo incertezas sobre o futuro da cidadania, principalmente nos espaços do trabalho. De acordo com os autores (2002): É impossível saber onde se chegará com todos os avanços da ciência atrelados ao desenvolvimento da tecnologia e da globalização; mas notadamente, os efeitos desses avanços já oferecem sinais de profundas modificações na vida das pessoas, das empresas e do mercado de trabalho. (p 47) Em seus estudos, Lemos (2001) aborda que no capitalismo antigo, o trabalho era considerado apenas como uma jornada com vínculo empregatício em tempo integral e reconhecida legalmente. Atualmente, o trabalho é visto de uma maneira mais abrangente, pois vem assumindo novas formas de ação, novas competências e contextos. Há também um grande desenvolvimento das empresas de computadores, biotecnologia, telecomunicações, sistema financeiro e outras. A informação substitui máquinas e equipamentos, tornando-se a principal fonte de riqueza. Passou-se do eixo produtivo da indústria para o setor de serviços, gerando fusões entre empresas tradicionais e de alta tecnologia. As transformações do mundo do trabalho, ainda segundo a mesma autora (2001) alteram e redefinem os significados que as profissões possuíam até então. Profissões antigas, que existiram por muitos anos, estão se reorganizando. O emprego tradicional que obedece a um plano de carreira individual traçado na empresa, com carga horária definida e delimitação das funções, dá lugar ao trabalho em projetos específicos e temporários, realizados por equipes multiprofissionais. Alteram-se também, de acordo com Bernardes (2002) as relações de trabalho; os serviços passam a ser terceirizados, os organogramas são reestruturados. Novas profissões surgem, outras são desvalorizadas e extintas, outras passam por alterações em seu perfil profissiográfico. Até pouco tempo atrás, as pessoas escolhiam as profissões tradicionalmente conhecidas, para obterem segurança e terem seus direitos trabalhistas reconhecidos. Atualmente, nem as profissões mais tradicionais estão imunes ao processo de transformação da era moderna. Araújo (2004) salienta que o processo de trabalho é histórico, mutável, sofrendo modificações ao longo da história, e desencadeando mudanças na carreira profissional. Na medida em que o trabalho se modifica, provoca mudanças também na vida do ser humano, determinando seu comportamento, sua linguagem, seu afeto, seus projetos para o futuro. Lemos (2001) comenta que a característica principal das sociedades pós-modernas, é a existência de valores muito divergentes e a grande quantidade de opções no mercado de trabalho, que exige do indivíduo um posicionamento contínuo. Bernardes (2002) corroborando com esta idéia, diz que se por um lado a diversidade de opções faz crescer o desejo de liberdade do indivíduo, por outro lado, quando este não é devidamente orientado para lidar com as constantes mudanças e as novas exigências decorrentes do mundo do trabalho, pode sentir-se ameaçado, causando desequilíbrio profissional e emocional. Na sociedade globalizada, em que as transformações ocorrem com muita rapidez, jovens sente-se pressionado, tanto pela própria complexidade do mercado de trabalho, como pelo avanço da tecnologia. Vê-se frente a uma multiplicidade de profissões, áreas de estudo, cursos, ficando muitas vezes confuso diante de tal complexidade (ANDRADE, MEIRA e VASCONCELOS, 2002). Nesta mesma concepção, Bernardes (2002) salienta que o ritmo acelerado das alterações tem afetado o equilíbrio emocional das pessoas, pois as noções básicas de tempo e espaço, valores e volumes de informações recebidas e contradições dessas mesmas informações, geram grande instabilidade e desorientação no momento de posicionamento e decisão do indivíduo. A diversidade de opções e a constante renovação que o mundo pós-moderno oferece, torna mais complexo o processo da constituição da identidade do indivíduo. O processo de aquisição da identidade é influenciado pela perda das tradições, pelos modelos oferecidos pela cultura e também por modelos frágeis e descartáveis que são inseridos neste novo contexto (LEMOS, 2001). 2.3 - Identidade profissional e escolha A identidade profissional constitui-se em um dos aspectos da identidade que também é construída ao longo da vida. Bohoslavsky (1997, citado por LEMOS, 2001) argumenta que este processo ocorre desde a infância, a partir das identificações que a criança realiza com os adultos significativos para ela e que desempenham papéis profissionais. Essas identificações vão sendo incorporadas à personalidade do indivíduo, através do tipo de relação que mantém com o mundo adulto. A partir do que se admira e deseja e do que se rejeita, é que poderão surgir as expectativas a respeito de si mesmo e as aspirações do modo de ser que se quer alcançar. Lemos (2001) cita que a formação da identidade é um momento de síntese, de evolução, em que as identificações perdem seu caráter mimético para adquirirem um novo significado, sendo incorporadas ao ego tornando-se parte da personalidade do indivíduo. A formação da identidade profissional, de acordo com Hissa e Pinheiro (2004) é um processo que tem início desde cedo, quando a criança tem conhecimento do trabalho das pessoas que convivem com ela e toma contato com o que a rodeia, como televisão, livros, internet e começa a imitar ações profissionais nas brincadeiras. Os referenciais que aparecem nas várias situações da vida conduzem à formação de identificações inerentes ao processo de aquisição da identidade. Conforme citação das mesmas autoras (2004) a pessoa desenvolve algumas generalizações sobre si mesma no seu percurso de vida, formando uma auto-percepção dinâmica que se expressa na forma de interesses, aptidões, aceitações e rejeições. Constrói imagens e representações a respeito do mundo do trabalho, comparando-as com suas autopercepções nas situações que implicam tomadas de decisões profissionais, construindo assim, modelos para serem ou não adotados. Citam que “a tomada de decisão profissional depende da integração da visão que tem de si mesmo com a da realidade sociocultural”. (p.121) A adolescência é a fase em que ocorre o desprendimento da infância e a entrada no mundo e papel adultos. Cabe ao jovem assumir uma postura diante da sociedade, devendo escolher uma carreira profissional a ser seguida. Ao passo que vai conquistando sua própria identidade, sente a necessidade de definir-se, escolhendo sua profissão baseado na sua realidade sociocultural e pessoal. As identificações e o desejo de corresponder às expectativas dos pais ou pessoas significativas, mais o mercado de trabalho com seu grande número de possibilidades, são questões que o jovem tenta atender (ANDRADE, MEIRA E VASCONCELOS, 2002). Lemos (2001) descreve que a aquisição da identidade profissional envolve duas etapas: a primeira seria o momento de crise, quando o adolescente questiona e rompe com os modelos familiares; sente-se então atraído por várias possibilidades, realizando escolhas sem se comprometer com alguma especificamente. Na segunda etapa, denominada engajamento, uma área de realidade profissional é detectada pelo adolescente e discriminada entre as demais, havendo um compromisso com a escolha, luta e preservação por sua realização. Para Ximenes (2004) a aquisição da identidade na adolescência não pode ser considerada uma tarefa individual e solitária do adolescente, pois constitui-se num processo de interação da família, do contexto cultural em que os papéis e valores são definidos, situados na história, na família e na sociedade. A identidade vocacional, para Bohoslavsky (2001) coincide com o início do fim da adolescência, em que lutam entre si o interesse pela afirmação pessoal e a inserção social pois “nenhum adolescente desconhece que o que ele é tem relação com o ambiente em que vive, familiar, escolar, amigos, etc.” (p 35) O ser humano passa a conhecer a importância e o valor do trabalho desde a infância. A identidade profissional, para a maioria das pessoas é uma parte muito importante de sua identidade geral. Ter um emprego valorizado socialmente, sucesso profissional, ter segurança e estabilidade aumenta a auto-estima e facilita um desenvolvimento mais seguro da identidade; ao passo que o contrário pode gerar dúvidas, incertezas, sentimentos de revolta, formando uma identidade negativa, pois a vida ocupacional é considerada um dado fundamental na existência humana (ANDRADE, MEIRA E VASCONCELOS, 2002). Silveira e Calheiros (2004) enfatizam que O trabalho, ao produzir no homem um sentido de inclusão social, revela quanto a sociedade valoriza aquele que está produzindo, principalmente com vínculo empregatício, salário fixo e estabilidade, por mais que haja uma forte tendência para a economia informal, para o trabalho informal. Porém, não estar trabalhando leva o homem a enfrentar um processo de desvalorização social. (p 88) No que se refere ao ato da escolha, Ximenes (2004) acentua que este reflete o desejo, o modo de ser e agir, a perspectiva de um futuro de realizações e conquistas de um indivíduo, significando assim o seu projeto de vida. Vários fatores estão implicados neste processo, pois escolher implica recorrer trajetórias de construção de saberes, exercitar uma crítica e respeitar o esforço coletivo do pensar. A escolha profissional deve ser vista pelo aspecto psicológico, assim como pelos aspectos sócio-históricos, reconhecendo que o indivíduo é parte atuante de um contexto regido por relações sociais, políticas e econômicas. Sobre os aspectos da identidade profissional, Bohoslavsky (1977 citado por OLIVEIRA, 2004) considera que a identidade adolescente apóia-se na elaboração de lutos básicos pelo corpo e formas antigas de relações com os pais. A vivência dessas perdas implica na capacidade de separação do outro; escolher algo é também deixar, perder algo que se deixa para trás. Apenas por meio da diferenciação eu - não eu é que o jovem pode desenvolver sua identidade profissional. Para compreender porque uma profissão é escolhida em detrimento de outras, Bohoslavsky (1971 citado por LEMOS, 2001) utiliza o conceito kleiniano de reparação, em que as carreiras ou profissões são respostas ao ego diante de chamados interiores, provavelmente de objetos internos danificados, que pedem, reclamam, impõe, serem reparados pelo ego. A carreira escolhida seria então a depositária exterior desse objeto interno que necessita ser reparado. A escolha implica também a elaboração de lutos por objetos que se deixa, que se perde e dos quais se separa. A elaboração de lutos, assim como a reparação, são mecanismos que auxiliam o ego a suportar a culpa frente ao objeto danificado. Portanto, a escolha supõe que o ego deve ser capaz de reparar ou elaborar lutos, de tolerar dor e aceitar a realidade. O mesmo autor (1977 citado por LEMOS, 2001) enfatiza que uma escolha ajustada deve ser aquela em que os conflitos possam ser elaborados e resolvidos e não controlados e negados. O indivíduo, ao realizar sua escolha, deve mobilizar seus recursos, a organização de seu ego, avaliando suas capacidades e características pessoais e confrontá-los com a possibilidade de seguir ou não as carreiras pretendidas. Portanto, os aspectos envolvidos na escolha da profissão devem ser um entrelaçamento de fatores externos, como o momento histórico e cultural e fatores internos, como os processos psíquicos. Lobato (2003) vê o trabalho como uma peça fundamental na construção da identidade e considera que o homem moderno encontra dificuldade em adaptar-se às mudanças do mundo atual. Por conferir ao trabalho o significado de formador de identidade e meio de sobrevivência, depara-se com grande angústia quando entra no mercado de trabalho. Atualmente os jovens vêm apresentando maior dificuldade em escolher uma profissão; talvez pela dificuldade de pensarem em si mesmos e pela insegurança das mudanças de mercado (OLIVEIRA, 2004). Andrade, Meira e Vasconcelos (2002) apontam a complexidade do mercado de trabalho e o avanço da tecnologia como motivos de pressão que os jovens encontram ao escolher o caminho a ser seguido. É também preciso considerar que os jovens atravessam um período de conturbação relacionado a aspectos maturacionais e psicológicos, em que dúvidas trazem confusões e conflitos. Outros motivos para a dificuldade da escolha são citados por Oliveira (2004) como a ansiedade e insegurança dos pais frente ao momento da escolha profissional dos filhos, o que interfere diretamente nesta escolha. O momento da escolha da profissão por um adolescente é uma transição, sinalizando o processo de diferenciação do jovem, que repercute no contexto familiar. A autonomia do filho aumenta, enquanto entra em declínio o poder decisório dos pais, que tentam mantê-lo a qualquer custo. Os rituais de passagem na adolescência como por exemplo, o namoro e o primeiro emprego, têm o objetivo de marcar a ruptura do jovem com os laços domésticos e a sua saída da vida familiar para a comunitária. Escolher a profissão, de acordo com Silveira e Calheiros (2004) é motivo de muitas dúvidas, insegurança e indecisão. Apontam algumas dificuldades que os jovens enfrentam, como escolher a profissão dos pais ou as que possuem maior status. A situação da escolha profissional fica ainda mais difícil para as camadas mais pobres que não conseguem ingressar nas universidades. Por esse motivo, a real identidade no processo da escolha da profissão é afastada, em função do medo da concorrência no vestibular. O fator financeiro é sem dúvida um grande empecilho de uma escolha por identidade, pois muitos jovens são impossibilitados de cursar universidades particulares, optando por outros caminhos. A ameaça de desemprego e a tendência para o mercado informal também têm gerado grandes mudanças no momento de escolher a profissão. Lemos e Ferreira (2004) apontam que, tentando escolher uma profissão, o jovem dispõe de informações rápidas. No entanto, não sabe o que fazer com elas, partindo então para outra informação descartando a primeira opção. Segue neste percurso até que percebese bombardeado de informações e perdido. Porém, todo processo de escolha envolve possibilidades boas e ruins; deve-se portanto, tolerar o ruim para usufruir do bom, ou seja, tolerar as frustrações e abrir mão da fantasia de que se pode tudo, de que se tem todas as possibilidades. Para escolher uma profissão é preciso estar ciente que, quando se escolhe uma carreira, depara-se com estes dois lados. O trabalho ocupa a maior parte da vida das pessoas. Mesmo que a escolha profissional seja de responsabilidade individual, não deixa de ter repercussões sociais, pois quando uma pessoa exerce motivada a sua profissão, apresenta um serviço de melhor qualidade, além de sentir-se mais segura e realizada (ARAÚJO, 2004). Para que as pessoas consigam administrar bem suas escolhas, é de suma importância o investimento no desenvolvimento de instrumentos que auxiliem na reflexão profissional (ANDRADE, MEIRA e VASCONCELOS, 2002). Os vários autores citados neste capítulo comentam a importância da orientação profissional, que tem se direcionado em busca desses instrumentos, propiciando o desenvolvimento do auto-conhecimento, agindo como meio facilitador, dando ao jovem subsídios para que faça a escolha mais adequada. A prática da avaliação da carreira ajuda um indivíduo a discernir a escolha da profissão mais apropriada, à luz das habilidades, dos interesses, dos objetivos, dos valores e do temperamento de cada pessoa, assim como dos requerimentos de uma determinada ocupação. O trabalho oferece oportunidades para muitas recompensas extrínsecas e intrínsecas; além disso, o clima atual de rápidas mudanças nas condições de emprego faz com que muitas pessoas considerem suas escolhas de carreira várias vezes em seu período de vida. Escolher uma carreira implica, frequentemente, em escolher um estilo geral de vida, com seu conjunto característico de valores (ANASTASI e URBINA, 1997). Toda profissão, de acordo com Jaquemin, Melo-Silva e Pasian (2000) constitui-se por uma estrutura de exigências e também de um potencial de gratificação e satisfação. Exige do indivíduo alguns elementos como disponibilidade afetiva, aptidões, motivação, interesses, inclinações pessoais. É nesse conjunto que o indivíduo irá desenvolver sua identificação e identidade profissional. Primi et al (2002) citam que as tarefas a serem executadas nas profissões exigem um certo nível de habilidades e reforçam também alguns interesses específicos. Se uma pessoa possui as habilidades que uma determinada tarefa requer, mais chance de se adaptar satisfatoriamente ao ambiente ela terá; e à medida que se interessa pelo tipo de valor, atitudes e estilos reforçados pelo ambiente, maior será sua satisfação. As escolhas possuem maior eficácia quando existe uma coordenação harmônica entre as características pessoais e as da profissão desejada. Entende-se então, que para uma determinada profissão existem algumas características de personalidade que são mais complementares, ou mais adequadas que outras. Para Bernardes (2002) a satisfação no trabalho e na vida depende da amplitude na qual o indivíduo encontra emprego para suas capacidades, interesses, traços de personalidade e valores; a adequação decorre do tipo de trabalho e da forma de vida na qual o indivíduo possa desempenhar o tipo de papel para o qual suas experiências de crescimento e exploratórias levam-no a considerar como apropriadas. (p.29) Há uma maior possibilidade de integração e desenvolvimento na carreira de um indivíduo quando as exigências de sua profissão encontram respaldo e em seus interesses, habilidades e aspectos da personalidade. Este indivíduo possuirá maior satisfação pessoal se encontrar-se inserido em um ambiente adequado a esses interesses e características de personalidade (PRIMI et al, 2002). 3 – A PERSONALIDADE “O homem pode até ser estudado como um objeto no mundo, mas o próprio mundo nada mais é do que um objeto intencional para os homens que o constituem e o pensam.” Elizabeth T. B. Sbardelini O estudo da personalidade vem sendo realizado há muito tempo, no intuito de explicar a natureza humana. O comportamento e as atitudes sempre foram alvos de vários estudiosos desde a antigüidade e vários sistemas de classificação dessas atitudes individuais foram sendo criados com o decorrer dos anos, tentando explicar as diferenças e semelhanças que existem entre as pessoas e descrevendo os processos de interação do indivíduo com o ambiente. Atkinson et al (1995) relatam que a psicologia da personalidade tenta explicar as diferenças individuais, descrever e sintetizar os vários processos que influenciam as interações do indivíduo com o meio ambiente, como a biologia, o desenvolvimento, aprendizagem, motivação, etc. Definem personalidade como sendo um padrão característico de pensamento e emoção, que distingue o indivíduo e influencia suas interações com o meio, o que inclui variáveis como estabilidade emocional, sociabilidade e muitas outras. Algumas definições sugerem que a personalidade é a organização ou a padronização para as várias respostas distintas do indivíduo; é o que dá ordem e congruência a todos os comportamentos distintos que o indivíduo apresenta. Outras definições referem-se à personalidade como a parte mais representativa da pessoa, a essência do homem, o que o diferencia dos outros, o que ele realmente é (HALL, LINDZEY e CAMPBELL, 2000). Muito questiona-se também sobre a formação da personalidade e como acontece seu desenvolvimento; se a personalidade permanece a mesma durante toda a vida do indivíduo ou se sofre transformações. De acordo com Atkinson et al (1995) a formação da personalidade sofre influências genéticas, apresentando características como nível de atividade, alcance da atenção, adaptabilidade, mudanças no ambiente e humor geral. O aparecimento dessas características sugere que elas são determinadas em parte por fatores genéticos e são herdadas dos pais. Como muitos traços da personalidade adulta podem ser atribuídos a fatores genéticos, foram realizadas pesquisas para saber até que ponto a personalidade de um indivíduo muda ou permanece a mesma ao longo da vida. Os resultados mostram evidências mistas, a continuidade e descontinuidade do temperamento é uma função de interação entre fatores genéticos e do ambiente. Ramos (1991) argumenta que a personalidade constitui-se na manutenção da vida somática e psíquica de cada indivíduo, no desempenho das funções do corpo físico. Cada personalidade ou tipo constitucional é ímpar, pois pode apresentar caracteres somáticos e psicológicos semelhantes, mas nunca iguais. Cada indivíduo é um só e nunca uma personalidade é exatamente igual à outra. Todas as personalidades, todos os indivíduos são resultantes da soma do genótipo, que é a caracterização física e psicológica transmitida pelos cromossomos que trazem a hereditariedade dos genitores, ao parátipo, que é toda e qualquer influência do meio exterior, do ambiente no qual a personalidade se forma e se desenvolve no curso da vida física e psíquica. O parátipo varia desde os elementos mais simples e precários da existência humana até os mais complicados fatores da evolução de milênios na formação do indivíduo. Para ele, todos esses fatores sempre dependentes do estado de cultura de cada homem, de cada povo, de cada nação, até chegar ao dia de hoje em que essa cultura evoluiu de maneira quase suficiente, porém, infelizmente, ainda não com competência e eficiência em razão dos desacertos políticos-sociais dos povos, e que, em última análise, influem substancialmente na formação da personalidade, na construção física e psíquica de cada indivíduo (p. 3). Frente à diversidade das hipóteses que buscam explicar a personalidade, Cloninger (1999) comenta que é muito difícil para os estudiosos escolherem quais os conceitos mais úteis para definí-la, pois fica a dúvida entre comparar pessoas ou estudar indivíduos separadamente. Muitas teorias da personalidade foram desenvolvidas pelos diversos estudiosos e teóricos com o passar do tempo, e uma das maneiras propostas para descrever as diferenças individuais foi a classificação das pessoas dentro de um número limitado de grupos, utilizando duas abordagens, a dos tipos e a dos traços, que serão descritas a seguir. 3.1 - A abordagem dos traços No que se refere ao conceito de traços, estes são concebidos por Atkinson et al. (1995) como dimensões contínuas, presumindo que as pessoas variam simultaneamente em diversas dimensões da personalidade, ou escalas. Para uma descrição global da personalidade, é necessário conhecer a classificação do indivíduo em diversas escalas e quanto de cada traço ele possui. Isso permitirá caracterizar consistências no seu comportamento e então prever como ele responderá a determinadas situações. Em seus estudos, Nunes (2000) argumenta que a personalidade e sua avaliação estão muito ligadas com a linguagem natural e com os principais princípios das Teorias dos Traços. Nestas teorias, a personalidade pode ser compreendida por meio de níveis hierárquicos de estruturas que modulam e delimitam o comportamento humano. Cita que os traços de personalidade são descritos e identificados usualmente pelos descritores de traços, que são termos identificados na linguagem natural e representam importantes componentes de comportamentos observados em indivíduos e diferentes sociedades. 3.1.1 - A teoria de traços de Gordon W. Allport O conceito de traço é central na teoria de Allport (1961). O autor reconhece a existência de muitos fatores que determinam o comportamento, formando uma hierarquia do mais específico ao mais genérico. Define traço de personalidade como uma estrutura neuropsíquica que tem a capacidade de fazer com que muitos estímulos se tornem funcionalmente equivalentes e de iniciar e orientar formas equivalentes de comportamento adaptativo e expressivo; “um amplo sistema de tendências para ação semelhante, e que existe na pessoa que estudamos.” (p.420) Na concepção do mesmo autor (1961) os traços são essencialmente únicos a cada indivíduo, mas dentro de uma cultura particular existem traços comuns, que são parte dessa cultura, que todos reconhecem e nomeiam. Através dos traços comuns a maioria das pessoas de uma certa cultura podem ser efetivamente comparadas, pois, “mortais semelhantes, em ambientes semelhantes, devem desenvolver objetivos semelhantes e métodos semelhantes para atingí-los.”(p. 423) Hall, Lindzey e Campbell (2000) citam que Allport reservou o termo traço para os traços comuns, e outro termo, disposição pessoal, foi introduzido para definir o traço individual. Os traços, diferentemente das disposições pessoais, não são designados como peculiares a um único indivíduo. Isso quer dizer que um traço pode ser compartilhado por vários indivíduos, mas está tão dentro do indivíduo quanto uma disposição. Ambos são estruturas neuropsíquicas e são capazes de tornar muitos estímulos funcionalmente equivalentes e também orientam formas consistentes de comportamento. Embora os traços e as disposições existam realmente na pessoa, eles não podem ser observados diretamente, precisando ser inferidos a partir do comportamento. Essas inferências são baseadas na frequência com que a pessoa exibe um determinado tipo de comportamento em várias situações, assim como na intensidade desse comportamento. Para Nunes (no prelo) o conceito de traço comum de Allport é muito útil para a operacionalização da personalidade, pois os traços comuns são aqueles aspectos da personalidade pelos quais a maioria das pessoas de uma cultura podem ser eficientemente comparadas. 3.1.2 - A teoria fatorial de Hans J. Eysenck O modelo de Eysenck da personalidade baseia-se em uma descrição hierárquica do componente temperamental da personalidade em termos de traços específicos e em três dimensões tipológicas gerais de psicoticismo, extroversão e neuroticismo. Propõe que essas dimensões estruturam as diferenças individuais de temperamento. A abordagem de Eysenck atribui também um substrato biológico responsável pelas diferenças individuais em dimensões fundamentais da personalidade. O comportamento é o resultado da posição da pessoa nessas dimensões, combinada com as circunstâncias às quais ela está exposta. Focaliza a dimensão biológica da personalidade em uma abordagem biossocial, no sentido de que o funcionamento do Sistema Nervoso Central predispõe os indivíduos a responderem de certa maneira ao ambiente, especificando mecanismos biológicos que contribuem para as diferenças observadas nas dimensões descritivas (HALL, LINDZEY e CAMPBELL, 2000). Nunes (no prelo) enfatiza que a estrutura básica da personalidade de Eysenck trabalha, assim como a de Allport, com organizações hierárquicas de coerências comportamentais, cognitivas e afetivas. No modelo de Eysenck esses níveis são: resposta específica, resposta habitual, o traço e o tipo. Enfatiza, porém, o traço e o tipo, pois a partir deles é possível compreender a mecânica do comportamento consistente e congruente. Define um traço como um conjunto covariante de comportamentos, surgindo como um princípio organizador deduzido da generalidade do comportamento do ser humano. Na distinção entre o conceito de traço e tipo, Eysenck define que um traço se refere a um conjunto de comportamentos relacionados que ocorrem juntos repetidamente; um tipo é um construto de ordem superior, compreendendo um conjunto de traços relacionados; é mais geral e inclusivo (HALL, LINDZEY e CAMPBELL, 2000). 3.1.3 - A teoria de traço fatorial-analítica de Raymond Cattell Hall, Lindzey e Campbell (2000) apontam que Cattell define a personalidade como aquilo que permite prever o que uma pessoa fará em uma dada situação. Deve-se estabelecer leis sobre o que diferentes pessoas farão em todos os tipos de situações ambientais sociais e gerais. Vê a personalidade como uma estrutura complexa e diferenciada de traços. Para ele, traço é uma estrutura mental, uma inferência feita a partir do comportamento observado para explicar a regularidade ou consistência deste comportamento. Cattell (1950 citado por HALL, LINDZEY E CAMPBELL, 2000) distingue entre traços de superfície e traços de origem. Os traços de superfície representam agrupamentos de variáveis manifestas que ocorrem juntas; traços de origem representam as variáveis subjacentes que podem determinar várias manifestações de superfície. Os traços de origem são as influências reais por trás da personalidade, como os fatores fisiológicos, temperamentais, graus de interação dinâmica e exposição às instituições sociais. Considera-os mais importantes, apesar dos traços de superfície parecerem mais válidos e significativos para o observador comum, por serem mais facilmente observáveis. Entretanto, os traços de origem são mais úteis para explicar o comportamento, pois refletem fatores de hereditários, constitucionais e ambientais. Segundo os mesmos autores (2000) Cattell divide também os traços por meio da modalidade na qual se expressam: traços dinâmicos, que acionam o indivíduo rumo a uma meta, e traços de capacidade, quando têm relação com a efetividade em que o indivíduo busca atingir essa meta. Os traços dinâmicos importantes no sistema de Cattell são de três tipos: os ergs, que correspondem às pulsões com base biológica; os sentimentos, que focalizam um objeto social como a escola ou o país, por exemplo; as atitudes, que são traços dinâmicos de superfície, manifestações ou combinações específicas de motivos subjacentes. Os vários traços dinâmicos estão inter-relacionados em um padrão de subsidiação, em que certos elementos são subsidiários a outros, ou servem como meios para seus fins. Estes relacionamentos podem ser expressos no que Cattell chamou de treliça dinâmica. 3.2 - A abordagem dos tipos Muitos sistemas de tipologia têm sido criados desde a antigüidade. Estes sistemas, de acordo com Zacharias (1995) são baseados na observação direta dos comportamento humano e num conjunto de representações mágico/religiosas e filosóficas. Cita como exemplo o sistema da Astrologia, que foi desenvolvido na Mesopotâmia e entre os caldeus. Conforme este sistema, a matéria, inclusive o homem, são formados por quatro elementos: a terra, o fogo, o ar e a água. Cada um destes elementos compartilha de três signos do zodíaco, que é um cinturão de constelações que se localiza no caminho do sol, da lua e dos planetas no céu, observados na terra. As pessoas que nascem sob a influência de um destes signos, são influenciadas pelas características próprias do signo e pela natureza do elemento correspondente a este signo. A antiga medicina grega, desenvolveu uma tipologia fisiológica semelhante ao sistema astrológico descrito acima; a classificação das pessoas era também quaternária e baseada nas denominações das secreções do corpo. O que caracterizaria o temperamento de alguém seria a maior quantidade de um dos humores em circulação no corpo: o sangue, fleugma, bilis amarela e bilis negra ( ZACHARIAS, 1995). A filosofia grega, de acordo com Lee (1994) estava baseada na doutrina dos quatro elementos, que eram relacionados com as quatro faculdades do homem: a moral, que corresponde ao fogo; estética e alma, que correspondem à água; intelectual, correspondente ao ar; e física, correspondente à terra. Baseado nesta idéia, Hipócrates desenvolveu a medicina da Patologia Humoral, considerando o elemento fogo como Bile Amarela, terra como Bile Negra, água como Fleugma e ar como Sangue. Posteriormente, Galeno correlacionou-os com os quatro humores que deram origem aos quatro temperamentos humanos específicos: Colérico, Melancólico, Fleugmático e Sanguíneo. Segundo o autor (1994): Compreende-se tenham os gregos se convencido da real existência desses humores; pois quando há uma contusão o sangue não acorre? A tosse não elimina a Fleugma (catarro)? Os colágogos não tornam as fezes escuras pela bili negra? E os vômitos não vêm com a bili amarela para tingí-los? (p. 13) 3.2.1 - A tipologia neo-hipocrática Lee (1994) descreve a tipologia Neo-Hipocrática, que é composta por quatro biotipos: neo-sangüíneo, neo-colérico, neo-melancólico e neo-fleugmático. Os neosangüíneos são aqueles que têm uma ênfase no elemento ar e possuem uma mente demasiadamente ativa, podendo fazer qualquer coisa sem uma reflexão prévia, fugindo às vezes da realidade para um mundo de imaginação. Com uma disciplina mental adequada, esse tipo pode ser um inovador no mundo do pensamento. O segundo biotipo, o neocolérico, tem ênfase no elemento fogo; indivíduos coléricos possuem grande fé em si mesmos, entusiasmo, força sem limite e honestidade. Precisam de liberdade para se expressarem de forma natural, tendendo a ser ativos, inquietos, faladores e impulsivos. O neo-melancólico possui sintonia com o elemento terra, indicando que estes indivíduos estão em contato com os sentidos físicos e a realidade presente do mundo material. Têm muita preocupação com a prática em detrimento dos princípios teóricos; podem ter uma visão estreita e falta de imaginação, por ficarem presos apenas ao que as coisas aparentam ser. O neo-fleugmático está ligado ao elemento água, está em comunicação com seus próprios sentimentos, representando a ênfase na emoção profunda, respostas do sentimento, paixões compulsivas e medo extraordinário. Pessoas fleumáticas são extremamente sensíveis a qualquer experiência. Para Zacharias (1995) a teoria de Hipócrates possui uma desvantagem, pois apresenta tipos puros, em que os temperamentos são claramente definidos, o que a torna genérica e abrangente, já que “podemos dizer seguramente que não existem tipos puros, ou seja, uma pessoa sangüínea pode ter momentos de melancolia ou se tornar fleumática em determinada situação.” (p. 67) 3.2.2 - Outras teorias tipológicas Entre o período grego e o século XIX, surgiram outros sistemas tipológicos baseados em estereótipos sociais, como os tipos descritos por La Bruyère, em que as pessoas gordas são afáveis e bem humoradas, enquanto as pessoas magras são mais nervosas e contemplativas (ZACHARIAS, 1995). Segundo o mesmo autor (1995) no século XX Cesare Lombroso criou a Antropologia Criminal, no qual um criminoso nato possuía um tipo físico e psíquico especial, identificando esse tipo através de uma análise do formato da caixa craniana, principalmente de uma parte que ele denominou de fossa occiptal média, presente nos criminosos. As teorias modernas estão organizadas em três princípios: na classificação dos tipos somáticos, em que a principal característica é a diferença da estrutura somática; na classificação dos tipos somato-psíquicos, em que a estrutura somática está em orientação dinâmica funcional com estruturas psíquicas correspondentes; e na classificação dos tipos psíquicos, que enfatizam a diferença entre estruturas especificamente psíquicas (ZACHARIAS,1995). Como exemplo da classificação de tipos somáticos o autor supracitado (1995) cita a Escola Constitucionalista de Giovanni e Viola, baseada na relação entre o tronco e os membros, criando os tipos megalosplânico, característico de indivíduos gordos e baixos; normoplânico, correspondente ao indivíduo atlético e microsplânico, que é o indivíduo alto e magro. Como exemplo de tipologias somato-psíquicas cita a obra de Gall, que criou a frenologia, um estudo das saliências e da forma da superfície craniana para identificar traços de personalidade. 3.2.3 - A tipologia de Kretschmer Zacharias (1995) cita que Ernest Kretschmer, partindo de seus trabalhos como psiquiatra, desenvolveu uma tipologia com base na compleição física correspondente a determinados traços de personalidade. Divide as pessoas em quatro tipos: Pícnico, que é o indivíduo baixo e forte, possuindo pernas, peito e ombros arredondados; é sociável, amigo, vivaz, prático e realista, e em caso de patologia oscila no ciclo mania-depressão. O segundo tipo, o Leptossômico, é o indivíduo de estatura alta, esbelto, pernas e face alongadas; são introspectivos e reflexivos, apresentando em caso de patologia, extrema introversão e falta de contato com o mundo. O terceiro tipo, o Atlético, é proporcional, estando entre o pícnico e o leptossômico. Os Displásicos são o quarto tipo, apresentando misturas incompatíveis durante o seu desenvolvimento. 3.2.4 - A tipologia de Hans J. Eysenck Hall, Lindzey e Campbell (2000) descrevendo a evolução histórica da abordagem tipológica de Eysenck, citam que os dois tipos mais importantes da personalidade, a extroversão e o neuroticismo, foram traçados a partir dos sistemas de temperamento descritos por Hipócrates e Galeno. Hipócrates, como já citado neste trabalho, descreveu quatro humores: sangue, fleugma, bile negra e bile amarela; a maneira como esses elementos se combinavam determinava a saúde e o caráter de um indivíduo. Posteriormente, Immanuel Kant elaborou a descrição dos quatro tipos temperamentais, organizando-os em termos de dois contrastes fundamentais: o melancólico possui sentimentos fracos e o sangüíneo sentimentos fortes, assim como o fleumático possui pouca atividade e o colérico intensa atividade. Wundt afirmou que os quatro tipos possuíam um status alto ou baixo e duas dimensões de mutabilidade e força das emoções. Esse sistema prediz o modelo bidimensional de Eysenck, em que as emoções fortes versus fracas de Wundt correspondem à dimensão neurótica versus estável de Eysenck; e o eixo mutável versus imutável corresponde à dimensão extroversão versus introversão. Figura 1 – Modelo da tipologia de Eysenck Instável Rabujento Ansioso Melindroso Inquieto Rígido Agressivo Sóbrio Excitável Pessimista Mutável Reservado Impulsivo Melancólico Insociável Colérico Otimista Quieto Ativo Introvertido Extrovertido Passivo Sociável Cuidadoso Fleumático Expansivo Sangüíneo Reflexivo Conversador Pacífico Responsivo Controlado Despreocupado Confiável Animado Tranquilo Descuidado Calmo Líder Estável Na concepção dos autores supracitados (2000) a contribuição principal do modelo de Eysenck, vem de Carl G. Jung, que propôs um par de atitudes básicas, introversão e extroversão, em que o introvertido está orientado para o mundo interno e o extrovertido orientado para o mundo externo. Jung ainda inclui um contraste entre neuroticismo e normalidade, correspondente ao espaço da personalidade bidimensional de Eysenck, em que os eixos principais são introversão-estroversão e neuroticismo-estabilidade.. O modelo bidimensional proposto por Eysenck, apresentado na figura 1, integra os modelos descritos por Hipócrates, Galeno, Kant, Wundt e Jung. Eysenck desenvolveu vários questionários de auto-relato para medir diferenças individuais, nas dimensões neuroticismo e extroversão. O Eysenck Personality Questionnaire – EPQ (1975), apresenta a descrição dos tipos extrovertidos e introvertidos e também dos indivíduos com elevado grau de neuroticismo - N. O introvertido é quieto, retraído, introspectivo, prefere os livros às pessoas. É reservado e distante; tende a planejar antecipadamente e desconfia do impulso momentâneo. Prefere um modo de vida organizado e tem seus sentimentos sob controle, não perdendo a calma facilmente. O extrovertido é sociável, gosta de festas, possui muitos amigos e não gosta de ler ou estudar sozinho. Gosta de excitação, geralmente confia nas pessoas e age no impulso, assumindo os riscos. É otimista, gosta de rir e divertir-se, é despreocupado e por não manter seus sentimentos sob controle, perde a calma facilmente. O indivíduo com elevado grau de neurotocismo é ansioso, preocupado e deprime-se com freqüência. Sofre de transtornos psicossomáticos, tende a dormir mal e reage exageradamente a todos os tipos de estímulos. Sua característica principal é uma constante preocupação com coisas que poderiam dar errado e reage a isto com uma intensa ansiedade. O indivíduo estável, ao contrário, tende a ter respostas emocionais lentas. Para Eysenck, o comportamento observado corresponde a uma interação entre características constitucionais e ambiente, oferecendo assim um modelo biossocial da personalidade (HALL, LINDZEY E CAMPBELL, 2000). Nunes (no prelo) coloca que Eysenck vê como uma das teorias tipológicas mais modernas a Tipologia Junguiana, em que cada indivíduo possui os mecanismos de introversão e extroversão, porém circunstâncias externas e disposições inatas favorecem um mecanismo e restringem o outro. Se esta dominância torna-se crônica, então evidenciase um tipo. Eysenck define tipo como um conjunto de traços correlacionados que formam uma constelação, formando o tipo, que é um construto de ordem maior. 4 - TIPOLOGIA E PROFISSÕES “Um ser humano só cumpre seu mais nobre dever quando tenta aperfeiçoar os dotes que a natureza lhe deu.” Herman Hesse A escolha profissional é um momento de tomada de decisão que envolve vários fatores, dentre eles as características individuais de quem escolhe. Portanto, nota-se a importância do conhecimento dos aspectos da personalidade, dos interesses e aptidões de cada indivíduo, assim como das habilidades que cada profissão requer, para o desenvolvimento de sua vida profissional. Primi et al (2002) apontam que é bastante antiga a idéia de que os diferentes grupos profissionais possuem perfis de personalidades distintos. Citam que nas últimas décadas, vários estudos têm se preocupado em descrever estes perfis, como por exemplo os estudos de Thurstone (1934) na esfera das habilidades e a importante contribuição de Cattel na esfera da personalidade. A literatura corrente mostra que pesquisas vêm sendo desenvolvidas correlacionando personalidade, interesses profissionais e habilidades. Esses construtos, combinados à uma interação ótima indivíduo-ambiente, podem sem dúvida potencializar o desenvolvimento humano. Alguns autores investigaram a interdependência entre interesses, habilidades e características de personalidade. Neste capítulo serão apresentadas algumas teorias que focaram as características individuais, especialmente o Tipo Psicológico, relacionando-as às profissões escolhidas pelos indivíduos. 4.1 - O modelo hexagonal de Holland Para Primi et al (2000) quando se trata das relações entre características de personalidade e interesses profissionais, o modelo hexagonal de Holland é muito importante, pois integra tipos e personalidade às áreas profissionais que possuem atividades motivadoras para os diversos tipos. Neste modelo, a escolha profissional decorre de características pessoais associadas aos traços de personalidade. O modelo propõe seis tipos básicos: - Tipo realista, voltado para realizações concretas e observáveis; prefere máquinas e eventos a trabalhar com pessoas. Possui como valor principal as recompensas financeiras. - Tipo investigador, que é voltado à exploração intelectual. Introvertido e não sociável, prefere o pensar ao agir. Possui como valores principais o conhecimento e a aprendizagem. - Tipo artístico, que é voltado às atividades artísticas, musicais e literárias. É emotivo e prefere as atividades expressivas individuais. Valores principais: criatividade estética e emoções. - Tipo Social, voltado às atividades de ajuda e ensino, assim como de tratamento às pessoas. Possui necessidade de atenção e tem como principal valor o bem-estar social. - Tipo empreendedor, que prefere as atividades nas quais domina e lidera. Tem tendência a ser oralmente agressivo e prefere as atividades menos complicadas, valorizando o dinheiro e o status. - Tipo Convencional, que prefere atividades estruturadas nas quais pode seguir ordens. Evita situações confusas e possui como valor o dinheiro e o poder em ocupações sociais. Holland, Powell e Fritzsche (1994 citados por PRIMI et al, 2002) propõe que as pessoas preferem mais as atividades em que a determinação depende de forças culturais e pessoais. Essas tendências motivacionais levam as pessoas a preferirem a companhia de outras pessoas com as mesmas características, no que se refere aos interesses e visão de mundo. Escolhem, portanto, em sua carreira profissional, ambientes que são congruentes com suas orientações pessoais. Bernardes (2002) enfatiza que cada tipo em seu conjunto de atributos pessoais, seria um produto de interação entre hereditariedade e forças pessoais e culturais, como classe social, os pais, o ambiente físico. Holland (1978 citado por MINICUCCI, 1983) afirma que a escolha da profissão é uma expressão da personalidade. As pessoas que escolhem uma determinada profissão possuem personalidade e histórias semelhantes, no que se refere ao desenvolvimento pessoal, satisfação e estabilidade. É preciso que haja congruência entre a personalidade e o ambiente de trabalho para haver maior satisfação pessoal. Primi et al (2002) em sua publicação Personalidade, Interesses e Habilidades: um estudo correlacional da BPR-5, LIP e do 16PF, mostram que vários estudos vêm sendo realizados procurando definir quais traços estão associados aos seis tipos de Holland. Dentre eles citam as investigações de Gottfredson, Jones e Holland (1993) feitas a partir das correlações entre as seis dimensões de Holland e os Cinco Grande Fatores de personalidade. Neste estudo encontrou-se que o fator extroversão e características como sociabilidade e generosidade, estão associados aos interesses sociais e empreendedores; o fator abertura para experiência e características como curiosidade, criatividade, imaginação são associados aos interesses investigativos e sociais; o fator escrupulosidade e características como responsabilidade, meticulosidade, associa-se aos interesses convencionais. O fator Neuroticismo correlacionou-se negativamente com todos os interesses. Um outro estudo citado por Primi et al (2002) refere-se à investigação das correlações entre o Personality Research Form – PRF, fundamentado na teoria de Murray, com as seis dimensões de Holland. Nesta pesquisa Vieira e Ferreira (1997) encontraram associações entre necessidade de realização, compreensão, resistência, com o tipo Investigador; necessidade de afiliação, apoio, compreensão, com o tipo Social e o tipo Artístico; necessidade de dominância, exibição e prazer com o tipo Empreendedor e necessidade de ordem e menor autonomia com o tipo Convencional. 4.2 - O teste de foto de profissões - BBT No processo da escolha profissional, além do conhecimento das características de personalidade, habilidades e motivações, é necessário que o indivíduo tenha conhecimento da realidade objetiva em que vive. Inclui-se a importância do conhecimento e reconhecimento das potencialidades individuais efetivas, das características das profissões e das transformações do mundo do trabalho, assim como a importância das características técnicas das profissões, suas exigências e possibilidades de satisfação pessoal (JACQUEMIN, MELO-SILVA e PASIAN, 2000). Achtnich (1991) cita que o rendimento profissional depende diretamente da satisfação e do interesse dedicados ao trabalho, obtidos por meio do conhecimento das inclinações motivacionais individuais. Quando a profissão escolhida não corresponde às inclinações, pode gerar uma insatisfação e queda no rendimento. A escolha discordante pode provocar doenças e reações psíquicas mórbidas. O universo profissional é constituído por diferentes elementos, conforme expõe o autor supracitado (1991): a designação precisa da profissão; as atividades exercidas na profissão; o material a que as atividades se referem, o objeto profissional; os instrumentos utilizados; o local onde as atividades são exercidas e o objetivo visado. Baseado nesses pressupostos, propõe a utilização do Teste de Fotos de Profissões - BBT, para o conhecimento da inclinação profissional do indivíduo. O BBT, segundo Bernardes (2002) trata-se de um teste projetivo, que visa obter um entendimento dinâmico da personalidade, para a clarificação dos interesses profissionais. Os métodos projetivos possibilitam uma avaliação das áreas patológicas e sadias da personalidade, pois retratam o mundo interno do indivíduo e seus mecanismos para lidar com os conflitos. O BBT foi formulado por Achtnich (1991) e tem como fundamentação teórica a Teoria da Análise do Destino, de Szondi (1970). Ainda segundo a mesma autora (2002) a teoria de Szondi propõe que a vida não pode ser reduzida a uma sucessão de acontecimentos aleatórios; alguns acontecimentos fazem mais sentido do que outros ao longo da vida de um indivíduo, orientando decisivamente o seu destino. O destino é escolha, e as formas de escolha são a escolha de amor e amizade, escolha de doença, da profissão, e da forma de morte. Szondi propõe também um fundamento genético das escolhas do destino: haveria na bagagem genética hereditária do ser humano grupos de genes alelos recessivos que seriam produtores de doença mental; se um indivíduo adoece de uma doença mental particular é porque leva em sua bagagem hereditária uma combinação homozigota, o gene recessivo responsável por essa doença. Para Szondi, destino e pulsão estão intimamente ligados, assim como destino e genes. Sbardelini (2000) salienta que para a questão da escolha profissional, Szondi utiliza o termo operotropismo, que seria a possibilidade do investimento das pulsões na atividade profissional, como uma oportunidade de satisfação dessas pulsões, o que impede que a doença venha a se instalar. A mesma autora (2000) cita que é com base nesse conceito de operotropismo que Achtnich elaborou o BBT, com o objetivo de analisar as identificações, rejeições e ambivalências do sujeito frente às situações profissionais. Na concepcão de Szondi, as inclinações representam as necessidades e aspirações fundamentais correspondentes a quatro vetores que são: instinto do ego, instinto de contato, instinto paroxismal e instinto sexual. Achtnich utilizou os vetores de Szondi para conceber oito fatores de inclinação, relacionados às necessidades humanas universais (MELO-SILVA e NOCE, 2004). Os oito fatores de inclinação postulados por Achtnich (1991) são: - Fator W: ternura, sensibilidade, disponibilidade, necessidade de tocar, de prestar serviço. Relativo a atividades como massagear, cuidar diretamente de pessoas. Os instrumentos de trabalho são o tato, a água, artigos de higiene, cosméticos, tecidos. Os locais de trabalho são os que oferecem possibilidade de contatos pessoais como institutos de beleza, de massagem, de estética, sauna, creches, pensões, hotéis, butiques, ateliês de costura, etc. - Fator K: força física, dureza, agressividade. Atividades relacionadas à força física como quebrar, cortar, bater, atirar, e outros; e que utilizam materiais resistentes como metal, aço, ferro, lata, pedra, vidro, solo duro. Os locais de trabalho são oficinas, canteiro de construções, pedreira, estrada, fazenda. - Fator S: Sh: aspecto social, interesse pelo outro, cuidar, ajudar, curar. Interesse por atividades com dispositivos de salvamento, instituições de proteção, medidas preventivas, compreensão, conselho. Os locais de trabalho são os hospitais, asilos, igrejas, consultório. Se: energia psíquica, dinamismo, capacidade para se impor, coragem, independência. Atuação em atividades que exijam dinamismo, risco, ação, independência, autonomia. Caracterizado pela necessidade de mudança, de espaço e viagem, além do gosto pelo imprevisto. Trabalho ligado às forças da natureza, como fogo, eletricidade, energia nuclear, energia mecânica. - Fator Z: necessidade de mostrar, estar em evidência, representar, estética. Atividades relacionadas a expor, fotografar, filmar, maquiar, vestir, desenhar, pintar. Interesse pelo belo, pelas cores, pelas formas estéticas e por trabalhos dirigidos a um público. Os locais de trabalho são os palcos, passarelas, telas, museus, feiras, vitrines, salas de exposições, as ruas. - Fator V: inteligência, razão, lógica, necessidade e clareza de pensamento, objetividade. Atividades relacionadas a observar, ordenar, arquivar, ensinar, dar instruções, comandar, medir, calcular, contar, disciplinar. Objetos como calculadora, computador, régua, balança. O local de trabalho geralmente é um espaço fechado, como escritório, laboratório, ateliê. - Fator G: espírito, intuição, imagem criadora. Atividades relacionadas a meditar, filosofar, pesquisar, criar, compreender psicologicamente, imaginar. Procura pelo novo e ilimitado. Local de trabalho fechado como sala, quarto, laboratório. - Fator M: a matéria, o concreto, o terrestre, possessão, poder. Relacionado ao prático, ao tangível, ao natural, ao que tem valor, ao dinheiro. Interesse pelo trabalho com terra, argila, pintura, sabão, perfumes, coisas antigas. - Fator O: oralidade; Or: necessidade de falar, comunicar, discutir, vender, cantar, recitar, traduzir, negociar. Trabalho com o público; o local de trabalho deve ser um espaço onde se convive com outras pessoas, como a escola, locais de festas, a rua. On: necessidade de nutrir, alimentar. Venda e preparo de alimentos; hospedagem. Jackemin, Melo-Silva e Pasiani (2000) descrevem que o BBT é composto por 96 fotos, representando pessoas exercendo atividades profissionais. É constituído por duas versões, masculina e feminina; a forma feminina possui quatro fotos complementares. As imagens são apresentadas em preto e branco e em formato quadrado, e a atividade representada na foto é focalizada. O enfoque é dado à atmosfera ocupacional representada pelas funções, local de trabalho, instrumentos e objetos utilizados. Cada foto do teste, de acordo com os mesmos autores (2000) possui um caráter evocativo que articula os pensamentos do sujeito e representa um pareamento de duas tendências: o fator primário, que possui o caráter evocador mais forte, representado pela atividade mostrada na foto e por uma letra maiúscula; e o fator secundário, que representa o objetivo, o instrumento, o objeto e o local da atividade, e vem representado por uma letra minúscula. As fotos oferecem um contato direto com uma atmosfera profissional, suas funções mais importantes, seu objeto de ação e seu local de trabalho. Sbardelini (2000) complementa dizendo que cada fator primário aparece em oito fotos, combinado a cada vez com um fator que naquela foto atua como secundário. As fotos do teste mostram os profissionais no trabalho. A pessoa identifica-se por um momento, com o trabalhador representado e é confrontado pela pergunta se poderia efetuar aquele mesmo trabalho, com aqueles instrumentos e materiais e naquele meio profissional. Através da identificação com o trabalhador da foto, a estrutura de inclinação do sujeito é solicitada (MELO-SILVA e NOCE, 2004). O indivíduo escolhe de forma positiva, negativa ou indiferente. Baseado nessa classificação, serão realizadas as associações entre o porquê das escolhas, primeiro das positivas, logo após das demais, se necessário. A análise das escolhas é feita de forma quantitativa e qualitativa e os resultados são avaliados e posteriormente discutidos com o sujeito (SBARDELINI, 2000). Melo-Silva e Noce (2004) descrevem que a análise quantitativa das escolhas permite a visualização do perfil de interesses do indivíduo e como estão organizadas suas necessidades em busca de satisfação. A análise qualitativa considera a concepção que o indivíduo possui das diversas atividades profissionais; do contato e da possibilidade de cada um em relação às profissões e ao mundo do trabalho. Cada fator analisado refere-se não somente às necessidades que procuram satisfação na profissão em si, mas também a locais e instrumentos de trabalho relacionados a esta atividade. O BBT oferece uma sistematização das informações sobre interesses e motivações dos indivíduos, de maneira que compõe uma representação desses elementos internos, sem um falseamento de racionalizações. Possibilita a análise quantitativa e qualitativa da estrutura de inclinação profissional do indivíduo, fornecendo dados importantes para avaliar o processo de decisão da escolha profissional (MELO-SILVA E NOCE, 2004). 4.3 - A tipologia junguiana Na classificação dos tipos psíquicos, pode ser considerado como grande exemplo a Tipologia de Carl Gustav Jung. Ao longo de dez anos, Jung dedicou-se a um estudo detalhado dos tipos abordados na literatura, na mitologia, na filosofia e principalmente na psicopatologia. A origem da tipologia junguiana surge como um dos principais frutos do desenvolvimento dos estudos sobre inconsciente e das descobertas científicas de Freud e Jung (ZACHARIAS, 1995). Hall (1986) salienta que Jung fez uma vasta revisão histórica da questão dos tipos psicológicos na literatura, na mitologia, na estética e na filosofia, na qual baseou o desenvolvimento do sistema tipológico. Tipos Psicológicos foi um dos primeiros livros de Jung, sendo publicado em 1921. No modelo tipológico de Jung, existem dois tipos de atitude: a extroversão e a introversão, termos que ficaram conhecidos e que são usados popular e culturalmente; também existem quatro funções que são chamadas pensamento, sentimento, intuição e sensação. Para Moraes (2001) a teoria tipológica de Jung, no que diz respeito à introversão e à extroversão, talvez seja uma das mais conhecidas, pois dentre as características descritas encontram-se as tendências para a escolha da profissão e o ambiente de trabalho. Zacharias (1995) cita que a idéia de que é possível classificar as pessoas em determinados tipos de atitudes e comportamentos, consta de longa data. Esses sistemas de tipologia baseiam-se na observação direta do comportamento humano e em um conjunto complexo de representações simbólicas mágico-religiosas-filosóficas. A grande contribuição da tipologia junguiana, é a introdução do conceito de energia psíquica e como cada pessoa se orienta em relação ao mundo, contribuição esta inovadora frente aos sistemas anteriores, em que as classificações eram baseadas na observação de padrões de comportamento temperamental ou emocional. Inicialmente, Jung elaborou sua teoria tipológica com o fito de explicar a forma como a qual ele, Freud, Adler e outros podiam ter concepções tão divergentes a respeito do mesmo material clínico. Jung chegou à conclusão de que eles interpretavam os fatos relevantes de formas diversas, em função das variações da maneira como esses fatos funcionavam graças a tipologia de cada um. Percebeu que Freud era voltado para o objeto e Adler era voltado para o sujeito. Freud partia do princípio de que as coisas evoluíam segundo as diretrizes do instinto sexual; Adler concedia a primazia ao instinto do poder. Assim, tanto Freud quanto Adler, criam um sujeito em relação a um objeto, mas Adler enfatiza o sujeito que se afirma e procura manter sua superioridade em relação aos objetos. Freud, ao contrário, enfatiza os objetos, que conforme suas características são proveitosos ou prejudiciais ao desejo do sujeito. Jung, baseando-se em suas observações, concluiu então que há dois tipos de pessoas, uma que se interessa mais pelo objeto e outra que se interessa mais por si mesma, chegando ao conceito de extroversão e introversão (HALL, 1986). Os tipos gerais de atitude são distinguidos por seu comportamento peculiar em relação ao objeto. O introvertido preocupa-se em retirar a libido do objeto para se prevenir contra um superpoder desse objeto. O extrovertido, ao contrário, tem um comportamento positivo frente ao objeto, afirmando sua importância na medida em que dirige a ele sua atitude subjetiva (JUNG, 1991). O conceito de extroversão e introversão é baseado no modo como se processa o movimento da energia psíquica em relação ao objeto: na extroversão a libido flui em direção ao objeto; na introversão a libido recua frente ao objeto, pois o sujeito sente nele algo de ameaçador (SILVEIRA, 1997). 4.3.1. - A atitude extroversão Cada pessoa, de acordo com Jung (1991) se orienta pelos dados que o mundo externo lhe fornece. Quando a orientação pelo objeto e pelo dado objetivo é predominante, de maneira que as decisões e as ações são determinadas por circunstâncias objetivas e não por opiniões subjetivas, fala-se de uma atitude extrovertida. Se esta característica for habitual, fala-se do tipo extrovertido: Vive de tal modo que o objeto, como fator determinante, desempenha em sua consciência papel bem maior do que sua opinião subjetiva (...) Sua consciência toda olha para fora porque a determinação importante e decisiva sempre lhe vem de fora. ( p. 319) O tipo extrovertido está relativamente bem ajustado às circunstâncias dadas, não possuindo outras pretensões além das possibilidades dadas objetivamente. Não leva muito em consideração a realidade de suas necessidades e precisões subjetivas. O extrovertido pode correr o risco de ser atraído para dentro do objeto e perder-se nele completamente, originando-se daí perturbações corporais, funcionais ou reais. No extrovertido, segundo Zacharias (1995) a energia psíquica está voltada para o mundo exterior, dos objetos e dos fenômenos. Ele experimenta o mundo antes de compreendê-lo e o discurso é o seu melhor meio de expressão. 4.3.2 - A atitude introversão Conforme descreve Jung (1991) o introvertido comporta-se em relação ao objeto como se esse possuísse um poder sobre ele, por isso precisa defender-se . Seu mundo é seu interior, seu sujeito. Orienta-se principalmente por fatores subjetivos; a consciência introvertida percebe as condições externas mas prefere como decisivas as determinantes subjetivas. Enquanto o extrovertido apóia-se naquilo que provém do objeto, o introvertido baseia-se geralmente no que a impressão externa constela no sujeito. A subjetividade não pode ser considerada simplesmente o eu do sujeito, mas ela é a estrutura psíquica que se desenvolve, antes mesmo do desenvolvimento de um eu. A posição de superioridade da subjetividade na consciência, significa uma desvalorização do fator objetivo. O objeto então toma força mágica, despertando para a desconfiança; para o introvertido o mundo apresenta-se como pavoroso e perigoso, por isso se protege atrás de seu mundo interior. Para Jung (1991): Chamo introversão o voltar-se para dentro da libido. Expressa isso uma relação negativa entre sujeito e objeto. O interesse não se dirige para o objeto, mas dele se retrai e vai para o sujeito. Quem possui uma atitude introvertida pensa, sente e age de modo a deixar transparecer claramente que o motivador é o sujeito, enquanto o objeto recebe valor apenas secundário. (p 430) No introvertido, a libido desloca-se de fora para dentro, fazendo com que foque sua atenção para seu mundo interno de impressões, emoções e pensamentos. O indivíduo introvertido possui sua energia psíquica voltada para o interior, tendendo a compreender o mundo antes de experimentá-lo, o que o leva a uma certa hesitação frente à vida. Possui maior facilidade com a escrita e uma vida interior rica em imagens e impressões (ZACHARIAS, 1995). 4.3.3 - As funções Para Jung (1991) a função psicológica seria uma forma psíquica de atividade que inicialmente, permanece idêntica sob condições diversas. A função é uma das formas de manifestação da libido, assim como a força física pode ser considerada uma forma da energia física. Cloninger (1999) cita que Jung descreveu quatro funções psicológicas que mostram os processos cognitivos fundamentais que as pessoas usam, fornecendo uma descrição da tipologia da personalidade. Essas funções são denominadas pensamento, sentimento, intuição e sensação. Foram divididas em funções racionais e funções irracionais. O pensamento e o sentimento são denominados funções racionais, pois através dessas funções ordena-se eventos e atitudes. São formas alternativas de se fazer julgamento ou tomar decisões. As funções irracionais, sensação e intuição, são consideradas modos complementares de obter-se informações sobre o mundo, são formas de perceber. De acordo com Jung (1991): O pensamento e o sentimento são funções racionais enquanto decisivamente influenciados pela reflexão. Realizam sua finalidade enquanto concordam plenamente com as leis da razão. As funções irracionais, ao contrário, são as que objetivam a mera percepção como a intuição e a sensação; devem ser desprovidas, tanto quanto possível do racional - que pressupõe a exclusão de tudo que é não-racional – para chegar a uma percepção completa de todo o porvir. (p. 437) 4.3.4. - Função principal e função auxiliar Na descrição de Jung (1991) um exame minucioso de cada indivíduo, mostra o fato de que ao lado da função mais diferenciada, há sempre uma segunda função de menor diferenciação na consciência, portanto secundária e relativamente determinante. Sua importância secundária deve-se ao fato de não ser única, exclusiva, indispensável e decisiva, mas sim auxiliar e complementar. A função secundária, apesar de sua natureza diversa, não é oposta à função principal, mas uma função perceptiva que auxilia a função dominante. Silveira (1997) enfatiza que todas as pessoas possuem as quatro funções, entretanto uma se desenvolve na consciência mais e se diferencia, roubando energia às outras. Cada indivíduo utiliza sua função de preferência, que é chamada função principal. Uma segunda função, chamada função auxiliar, auxilia a primeira; a terceira não vai além de um desenvolvimento rudimentar e a quarta permanece num estado inconsciente, por isso é denominada função inferior. Com relação às atitudes fundamentais introversão e extroversão, Von Franz (1971) cita que podem ser combinadas com as quatro funções, atuando em conjunto. Podem também identificar a função dominante, que é a que a pessoa prefere, a que se desenvolve mais que as outras; e uma outra secundária, que age em congruência com a função principal, chamada função auxiliar. Se a função dominante é uma das funções racionais, a função auxiliar será uma das funções irracionais e vice-versa. Ex: Se a função principal é sentimento, a função auxiliar poderá ser a sensação ou intuição, e a função inferior será o pensamento. 4.3.5 - A função inferior Jung (1991) postula a existência de uma função que seria a que fica para trás no processo de diferenciação. As exigências sociais fazem com que as pessoas diferenciem algumas funções, ou por condizerem mais com sua natureza, ou porque lhes fornecem meios para seu sucesso social. Na maioria das vezes as pessoas identificam-se mais plenamente com a função privilegiada e mais desenvolvida; nesse processo evolutivo uma ou mais funções são relegadas, sendo chamadas de inferiores, porém, estas funções não podem ser consideradas doentias, apenas retardadas em vista da função principal. A função inferior representa a parte desprezada e inadaptada da personalidade, mas também constrói a conexão com o inconsciente, faz a ponte para o mundo simbólico. Um dos aspectos da função inferior é o fato de que ela costuma ser lenta, por isso as pessoas têm dificuldade de trabalhar com ela, ao contrário da reação da função superior, que se exterioriza rapidamente. Muitas pessoas ocultam a sua função inferior, pois descobrem que essa parte de sua personalidade é emocional, suscetível e inadaptada. Exemplificando, pode-se dizer que um tipo pensamento, função superior, não consegue expressar ou demonstrar sentimento, função inferior, no momento apropriado. Da mesma forma é muito difícil para um tipo sentimento usar o pensamento de maneira correta no momento apropriado (VON FRANZ, 1971). 4.3.6 - Funções racionais 4.3.6.1 - O pensamento Cloninger (1999) descreve que as pessoas do tipo pensamento pensam sobre as coisas considerando a lógica, razões e princípios. Zacharias (1995) salienta que o tipo pensamento está atento à causalidade lógica dos eventos e de seus atos, buscando um padrão objetivo da verdade. Baseiam seu julgamento nos padrões universais e coerentes, e não nos valores pessoais. São voltados para a razão, mostram-se frios em seu julgamento, conseguindo assim uma análise dos fatos isenta de interferências pessoais. Comenta ainda que Jung rejeita a suposição de que o pensamento racional é superior à emoção; para ele, a maturidade emocional seria o equilíbrio entre o pensamento e o sentimento. De acordo com Jung (1991) “o pensamento é aquela função psicológica que, de acordo com suas próprias leis, faz a conexão de conteúdos de representação a ele fornecidos.” (p. 434) 4.3.6.2 - O sentimento Zacharias (1995) enfatiza que o sentimento não deve ser confundido com afeto ou emoção, mas representa a dimensão valorativa, o valor pessoal que o indivíduo atribui às coisas. O tipo sentimento toma suas decisões baseados em seus valores pessoais, sempre levando em conta o que sentem em relação a algo e sua preocupação com o sentimento de outras pessoas. Para Jung “o sentimento é uma espécie de julgamento, mas que se distingue do julgamento intelectual, por não visar ao estabelecimento de relações conceituais, mas a uma aceitação ou rejeição subjetivas.”(1991, p. 440) 4.3.7 - Funções irracionais 4.3.7.1 - A sensação O tipo sensação valoriza os detalhes e conhece o que percebe através dos cinco sentidos. É incapaz de entender insinuações, pois essas ultrapassam os detalhes concretos. Por ficar preso aos detalhes, pode correr o risco de perder a visão geral dos fatos (CLONINGER, 1999). A sensação constata a presença daquilo que cerca o indivíduo e é responsável pela sua adaptação à realidade objetiva (SILVEIRA,1997). A sensação para Jung (1991) é a função psicológica que proporciona a percepção de um estímulo físico. Relaciona-se não apenas com os estímulos externos, ou sensação dos sentidos, mas também com as transformações dos órgãos internos, os estímulos internos, o sentido do corpo. 4.3.7.2 - A intuição A intuição diz quais são as potencialidades de uma situação, tem a qualidade de prever, de antecipar o sentido daquilo que se está percebendo. O tipo intuitivo tem grande capacidade de perceber a visão geral de uma situação; tem a habilidade de saber o que o outro está vivenciando, pois esse oferece indícios de maneira inconsciente que o intuitivo capta com facilidade. A intuição, encontra-se em grau mais elevado entre as pessoas criativas e os artistas (CLONINGER,1999). Silveira (1997) aponta que a intuição é uma percepção via inconsciente; “é a apreensão da atmosfera onde se movem os objetos, de onde vêm e qual o possível curso de seu desenvolvimento.” (p. 48) O termo intuição vem de intueri, que significa olhar para dentro. Jung (1991) considera a intuição uma função psicológica básica, por transmitir a percepção por via inconsciente. Na intuição, o conteúdo se apresenta como um todo acabado, sem que se saiba como este conteúdo veio a existir; é uma espécie de apreensão do instinto, em que o conteúdo não é importante. Para Zacharias (1995) a estrutura das quatro funções da psique abrange o consciente e o inconsciente em relação complementar. A configuração simbólica das quatro funções em sistema quaternário aparece de várias maneiras em diversas épocas e civilizações, com por exemplo, no livro de Apocalipse, na descrição da Nova Jerusalém como uma cidade quadrangular. O sistema quaternário ou cruciforme da tipologia junguiana, resgata os conhecimentos antigos e simbólicos em referência aos quatro elementos constitutivos da matéria, terra, água, fogo e ar e dos temperamentos já descritos, fleumático, sangüíneo, colérico e melancólico. 4.3.8 – A descrição dos tipos Como as quatro funções podem ser extrovertidas ou introvertidas, resultam em oito tipos psicológicos básicos: pensamento introvertido, pensamento extrovertido; sentimento introvertido, sentimento extrovertido; sensação introvertida, sensação extrovertida; intuição introvertida, intuição extrovertida ( ZACHARIAS, 1995). O mesmo autor (1995) cita que à descrição dos oito tipos baseados no sistema quaternário, posteriormente foram acrescentados outros dados por duas pesquisadoras norte – americanas, Izabel Briggs Myers e Katharine C. Myers, que criaram o questionário Myers- Briggs Type Indicator - MBTI, definindo dezesseis tipos, incluindo a função auxiliar na elaboração dos tipos. Muitas pesquisas que criam correlações entre tipos psicológicos e a carreira profissional foram desenvolvidas nos Estados Unidos por Isabel Briggs Myers e Katharine C. Briggs, M. H. McCaulley (1987) e outros. No Brasil foram realizadas pesquisas com administradores de empresas, gerentes de departamentos, alunos de graduação em cursos de comércio exterior e psicologia, também em músicos de Orquestra Sinfônica, sendo esta desenvolvida por Nagelschmidt, Zacharias e El Khouri (1991). Pode-se citar também a pesquisa Tipos Psicológicos Junguianos e Escolha Profissional: uma investigação com policiais militares da cidade de São Paulo, realizada por Zacharias (1995). Esta pesquisa apresenta resultados obtidos sobre tipologia, valores e atitudes, à luz do levantamento histórico da polícia militar e do desempenho profissional do policial e de seus problemas correlatos. A descrição básica dos tipos, além de suas características principais, inclui a área profissional em que cada tipo possui um melhor desempenho: - Extrovertido, função principal sentimento, função auxiliar intuição, função inferior pensamento: este tipo tende a voltar sua atenção para as pessoas que o rodeiam, pois valoriza muito o contato humano; uma de suas maiores qualidades é a capacidade de valorizar a opinião alheia, baseando suas decisões em valores pessoais. Seu maior interesse é enxergar as possibilidades que estão além daquilo que presencia; a intuição aguça sua curiosidade por idéias novas. Profissionalmente, desempenham-se melhor naquelas áreas que criam um clima de cooperação entre as pessoas, em funções como o ensino, trabalho pastoral, aconselhamento e área de vendas em geral. - Extrovertido, função principal intuição, função auxiliar sentimento, função inferior sensação: as pessoas deste perfil demonstram ser inovadoras e entusiastas, vislumbrando constantemente novas possibilidades, tendo às vezes até dificuldade em escolher entre aquelas que apresentam maior potencial. O sentimento presente revela-se através de um verdadeiro envolvimento com as pessoas, dando-lhes grande habilidade em seus contatos interpessoais. Sentem-se muito atraídas por profissões onde poderão aconselhar pessoas, utilizar capacidade didática, especialmente se tiverem oportunidade de introduzirem coisas novas. Poderão ser bem sucedidas no campo das artes em geral, jornalismo, ciência, publicidade e propaganda, literatura. - Extrovertido, função principal pensamento, função auxiliar intuição, função inferior sentimento: gostam de executar coisas; são lógicas, apresentam capacidade crítica objetiva e analítica. Pensam as coisas a longo prazo, gostam de fazer planos e programar as operações de um projeto. Os problemas tendem a estimulá-las e preferem funções executivas, nas quais possam encontrar e implementar soluções inovadoras. - Extrovertido, função principal intuição, função auxiliar pensamento, função inferior sensação: as pessoas deste tipo são inovadoras, engenhosas, enxergam sempre novas possibilidades de fazer as coisas. Possuem imaginação rica e disposição para iniciar um novo projeto. São bastante objetivas, tanto no que diz respeito aos seus projetos, quanto às pessoas que estão à sua volta. Gostam de carreiras que apresentem novos desafios, podendo ser inventoras, jornalistas, cientistas, homens de marketing. Não gostam do trabalho rotineiro. - Extrovertido, função principal sentimento, função auxiliar sensação, função inferior pensamento: essas pessoas irradiam calor humano e simpatia. Valorizam muito o contato humano, são amistosas, cheias de tato e harmonia com as outras pessoas. São perseverantes, conscenciosas e ordeiras, e esperam que as outras pessoas também o sejam. Por estarem principalmente interessadas na realidade percebida através dos órgãos do sentido, são práticas e realistas. Preferem ocupações tais como o ensino, o trabalho pastoral, área de vendas. Sua capacidade de compaixão, aliada à uma grande preocupação com as condições físicas, as atraem para profissões da área de saúde. - Extrovertido, função principal sensação, função auxiliar sentimento, função inferior intuição: são pessoas amistosas, adaptáveis e realistas. Confiam naquilo que podem comprovar através dos órgãos dos sentidos. São capazes de vislumbrar maneiras de se chegar a resultados usando regras, sistemas existentes de maneira original, vencendo assim os obstáculos. Possuem curiosidade ativa a respeito de novos objetos, pessoas, comidas, atitudes, enfim, qualquer coisa nova apresentada a seus cinco sentidos. Suas decisões são tomadas a partir de valores pessoais, em lugar da análise lógica do pensamento. Na vida profissional mostram bom desempenho em carreiras que exigem realismo e oferecem oportunidades de ação, como área de vendas, serviços na área da saúde, estilista, arquitetura, relações públicas, área de turismo. - Extrovertido, função principal pensamento, função auxiliar sensação, função inferior sentimento: gostam de analisar projetos e logo partirem para a ação. Como possuem o pensamento como função principal, são lógicas, analíticas, críticas. Precisam organizar os fatos, situações ou projetos, assim como fazer esforços sistemáticos para que os objetivos sejam atingidos dentro dos prazos fixados. Sentem-se atraídas por carreiras no mundo dos negócios, da indústria, da produção, da construção, do trabalho administrativo, em que possam tomar decisões e dar ordens necessárias para sua execução. - Extrovertido, função principal sensação, função auxiliar pensamento, função inferior intuição: as pessoas que apresentam este perfil são realistas, amistosas e adaptáveis. Confiam principalmente no que podem conhecer através dos sentidos, manifestando esta habilidade por meio da capacidade de absorver um grande número de fatos, de um bom gosto artístico apurado, do manejo habilidoso de ferramentas e matérias-primas. Tomam suas decisões baseadas na lógica e não nos valores pessoais. Na vida pessoal, mostram bom desempenho em profissões como engenharia, carreiras policiais, marketing, tecnologia no campo da saúde, lazer, construção, serviços ligados à alimentação. - Introvertido, função principal intuição, função auxiliar sentimento, função inferior sensação: são geralmente pessoas inovadoras no campo das idéias, independentes e individualistas. Demonstram grande capacidade de liderança. Sentem-se mais realizadas em uma profissão que satisfaça sua necessidade de usar a intuição e seus sentimentos. Gostam de lidar com pessoas, por isso sentem-se atraídas pelo magistério e também por áreas ligadas à ciência e à pesquisa, se seus interesses forem mais técnicos. - Introvertido, função principal sentimento, função auxiliar intuição, função inferior pensamento: pessoas desse tipo possuem grande calor humano, porém mantém esse sentimento escondido até que conheçam bem as pessoas. Sua visão de mundo é baseada em seus ideais e valores pessoais. São geralmente tolerantes, abertas e compreensivas; contudo são irredutíveis quando algo ameaça sua lealdade interna. Para estas pessoas, o trabalho significa mais que uma recompensa financeira; precisam que seu trabalho contribua de alguma forma para o bem dos demais. São atraídas por carreiras e profissões relacionadas ao ensino, literatura, aconselhamento, arte, ciência e psicologia. - Introvertido, função principal intuição, função auxiliar pensamento, função inferior sensação: são pessoas inovadoras e incansáveis, independentes e até mesmo teimosas. Valorizam muito a eficiência, tanto a própria como a dos outros. Possuem grande concentração e perseverança para alcançar suas metas finais. Este tipo pode ser encontrado em campos como a ciência pura, política, filosofia e pesquisa. - Introvertido, função principal pensamento, função auxiliar intuição, função inferior sentimento: as pessoas desse tipo são analíticas, lógicas e capazes de crítica objetiva; prestam mais atenção às idéias do que às pessoas e possuem uma curiosidade intelectual imensa. São pessoas reservadas e caladas, mas gostam de falar sobre assuntos que conhecem bem. Compreendem as coisas com rapidez e têm facilidade para descobrirem soluções novas para os problemas. Apresentam bom desempenho no campo da ciência, pesquisa acadêmica, matemática, economia, filosofia e psicologia, porém mais interessadas nos aspectos teóricos dessas áreas. - Introvertido, função principal sensação, função auxiliar sentimento, função inferior intuição: costumam ser extremamente confiáveis e responsáveis. Dão muita importância à fidedignidade dos fatos. São perfeccionistas, capazes de trabalhar com afinco, são pacientes e levam a cabo seus projetos, pois são perseverantes. Tendem a escolher profissões em que combinam sua observação cuidadosa com o interesse pelas pessoas, como as profissões da área da saúde, assim como todas as ocupações que oferecem serviços e atenções pessoais, como ensino e trabalho de escritório. - Introvertido, função principal sentimento, função auxiliar sensação, função inferior pensamento: pessoas desse tipo têm a tendência de fazerem julgamento a partir de seus valores individuais. São tolerantes, flexíveis, leais; porém podem ser inflexíveis quando suas idéias pessoais são ameaçadas. Gostam de aproveitar o momento presente, pois possuem sua atenção voltada para a realidade que apreendem através dos órgãos dos sentidos; possuem bom gosto, senso estético e grande habilidade manual. Executam melhor um trabalho quando estão emocionalmente envolvidas por ele, realizando com dedicação suas tarefas. - Introvertido, função principal sensação, função auxiliar pensamento, função inferior intuição: são pessoas realistas, confiáveis e práticas. Costumam também ser sistemáticas, perseverantes, trabalhadoras e consideram cada pormenor de seu trabalho. Tendem a escolher profissões em que sua organização é importante e valorizada, como a engenharia civil, contabilidade, direito, trabalho em escritório, executivo. - Introvertido, função principal pensamento, função auxiliar sensação, função inferior sentimento: são geralmente lógicos, efetuando críticas objetivas; preferem organizar fatos e dados à situações e pessoas. Possuem tendência à timidez, demonstrando reserva e tranqüilidade. Demonstram interesse em saber sobre o funcionamento das coisas, portanto, podem desempenhar bem profissões ligadas à área da ciência, como mecânica e engenharia. Silveira (1997) salienta a importância de que as funções possam se exercer em proporções iguais, para que haja distribuição equivalente da carga de energia psíquica, porém isso raramente acontece. Devido às circunstâncias adversas em geral, para Zacharias (1995) é praticamente impossível que alguém desenvolva todas as suas funções ao mesmo tempo. O homem aplica-se à diferenciação da função com o qual está mais bem equipado ou que lhe assegurará maior sucesso social, identificando-se com sua função mais desenvolvida, dando origem assim, aos vários tipos psicológicos. O mesmo autor (1995) salienta que o que os sistemas psicológicos definem e compreendem do comportamento humano, não corresponde à totalidade, mas à uma compreensão mais apropriada do fenômeno psíquico. Assim, a tipologia junguiana pode ser um instrumento de grande ajuda para a compreensão da psique, embora Jung alerte que qualquer descrição de um tipo, mesmo a mais completa possível, nunca será fiel, embora seja aplicável a muitas pessoas. Essas observações no entanto, não chegam a anular o valor prático da tipologia no trabalho clínico, em recursos humanos, no aconselhamento psicológico, escolar e profissional. O tipo psicológico oferece uma direção, um suporte teórico para poder lidar mais adequadamente com tantos elementos psíquicos. 5 – PROPOSTA DE PESQUISA E RESULTADOS 5.1 - Método 5.1.1 – Participantes Foram participantes desta pesquisa, universitários de nove cursos da UNIVÁS, com faixa etária variada e de ambos os sexos, que concordaram em participar voluntariamente da mesma. Atingiu-se um número de 327 sujeitos. 5.1.2 - Instrumento Foi utilizado o teste QUATI – Questionário de Avaliação Tipológica, quarta edição. Este teste foi desenvolvido no Brasil, no Instituto de Psicologia de Universidade de São Paulo, por José Jorge de Morais Zacharias. Trata-se de um questionário dirigido à população brasileira e recomendado pelo Conselho Federal de Psicologia. Este questionário pretende avaliar a personalidade através das escolhas situacionais que cada sujeito faz. Duas respostas são possíveis, devendo o participante escolher entre as duas possibilidades de atuação. Os resultados fornecerão a definição de uma atitude consciente e as funções mais e menos desenvolvidas, que resultam na tipologia do indivíduo avaliado, segundo a psicologia junguiana. Optou-se por este instrumento por possuir boas qualidades psicométricas, ser de fácil aplicação, correção e análise, o que permite agilidade, uma vez que o fator tempo é um critério fundamental na confecção do Trabalho de Conclusão de Curso. 5.1.3 - Procedimento A coleta de dados realizou-se por meio da aplicação do teste QUATI, que ocorreu de forma coletiva em participantes da pesquisa nas suas respectivas salas de aula e também no Laboratório de Avaliação Psicológica – LAP da UNIVÁS. O teste foi aplicado em períodos variados dos cursos de Psicologia, Enfermagem, Medicina, Nutrição, Fisioterapia, Farmácia, Biologia, Ciências Contábeis e Matemática. Após assinatura do termo pelos participantes, o aplicador deu as consignas aos mesmos para o preenchimento do teste. 5.1.4 - Tratamento dos dados Os dados foram analisados qualitativa e quantitativamente, sendo agrupados em categorias profissionais e discutidos concomitantemente. A comparação dos dados foi feita por meio da análise estatística descritiva frequencial. Os resultados são apresentados e discutidos por meio de tabelas e gráficos. 5.2 – Apresentação dos dados As tabelas e figuras a seguir apresentam os dados obtidos na pesquisa realizada com os universitários. O teste QUATI foi aplicado em alunos de nove cursos da UNIVÁS, num total de 327 universitários. Dentre estes, 92 do curso de psicologia, o que representa 28,1% dos participantes; 45 do curso de enfermagem, representando 13,8%; 38 do curso de medicina, representando 11,6%; 35 do curso de nutrição, representando 10,7%; 16 do curso de fisioterapia, o que representa 4,9%; 23 do curso de farmácia, ou 7%; 17 do curso de biologia, representando 5,2%; 30 participantes são do curso de ciências contábeis, ou 9,2% e 31 são do curso de matemática, o que representa 9,5%. Figura 2 – Distribuição frequencial de participantes por curso Psicologia Enfermagem 31 92 30 17 Medicina Nutrição Fisioterapia 23 16 45 38 35 Farmácia Biologia Ciências contábeis Matemática Dos 327 participantes, 69 são do sexo masculino, equivalente a 21,1% e 258 do sexo feminino, equivalente a 78,9%. Figura 3 – Distribuição percentual em relação ao gênero 21% Masculino Feminino 79% A tabela 1 mostra a distribuição dos gêneros nos cursos pesquisados. Na Psicologia há um total de 83% de participantes do gênero feminino e 16,3% do gênero masculino; na enfermagem, 86,7% feminino e 13,3% masculino; na medicina 63% feminino e 36,8% masculino; na nutrição houve participação apenas do gênero feminino, num total de 100%; na fisioterapia 87,5% feminino e 12,5% masculino; na farmácia 82,6% feminino e 17,4% masculino; na biologia 64,7% feminino e 35,3% masculino; no curso de ciências contábeis 70% feminino e 30% masculino e na matemática 58,1% são do gênero feminino enquanto 41,9% são do gênero masculino. Tabela 1 – Distribuição frequencial e percentual do gênero por curso Psicologia Enfermagem Medicina Nutrição Fisioterapia Farmácia Biologia Ciências Contábeis Matemática Total frequência Masculino Feminino 15 16,3% 6 13,3% 14 36,8% 0 0 2 12,5% 4 17,4% 6 35,3% 9 30,0% 13 41,9% 69 77 83,7% 39 86,7% 24 63,2% 35 100,0% 14 87,5% 19 82,6% 11 64,7% 21 70,0% 18 58,1% 258 A figura 4 representa a distribuição da faixa etária. Dos 327 participantes, 186 estão entre 18 e 22 anos, o que corresponde a 57%; 7 pessoas possuem entre 43 a 47 anos, correspondente a 2%. Figura 4 – Distribuição percentual da faixa etária 9% 18a22 23a27 2%2% 8% 22% 57% 28a32 33a37 38a42 43a47 Em relação à atitude, 214 demonstraram-se extrovertidos, o que corresponde a 65,4% dos universitários e 113 introvertidos, 34,6%. A função principal que obteve maior porcentagem foi sentimento, representando 51,7%, num total de 169 pessoas; o pensamento apresenta a menor porcentagem, 7,6% ou 25 pessoas. Na função auxiliar a sensação representa 34,3%; o sentimento 32,1%; a intuição 25,1% e o pensamento 8,6%. Tabela 2 – Distribuição frequencial e percentual das atitudes e funções no modelo junguiano no total de cursos Atitude Função Principal Extroversão Introversão pens sent sens int 214 113 25 169 74 59 65,4 34,6 7,6 51,7 22,6 18,0 Função Auxiliar pens sent sens int 28 105 112 82 8,6 32,1 34,3 25,1 No curso de psicologia, 62% mostram-se extrovertidos, enquanto 38,2% apresentam-se introvertidos. Na função principal, 55,4% revelam-se do tipo sentimento e 13% sensação; 22,8% intuição e 8,7% pensamento. Na função auxiliar, tem-se que 12% são pensamento; 23,9% sentimento; 40,2% sensação e 23,9% intuição. No curso de enfermagem, 68,9% mostram-se extrovertidos e 31,1% mostram-se introvertidos. Na função principal, 53,3% demonstram ser do tipo sentimento; 22,2% intuição; 17,8% sensação e 6,7% pensamento. Na função auxiliar tem-se que 40,2% são sensação; 23,9% sentimento; 23,4% intuição e 12% pensamento. No curso de medicina, os dados mostram que na atitude, 60,5% apresentam-se extrovertidos e 39,5% introvertidos. Na função principal 65,8% apresentam-se sentimento; 21,1% sensação; 10,5% intuição e 2,6% pensamento. Na função auxiliar, sensação e intuição apresentam-se com 34,2%; sentimento com 26,3% e pensamento 5,3%. No curso de nutrição, 65,7% apresentam-se extrovertidos e 34,3% introvertidos. Na função principal 57,1% demonstram ser sentimento; 25,7% sensação; 14,3% intuição e 2,6% pensamento. Na função auxiliar 34,3% apresentam-se do tipo sentimento; 31,4% intuição; 28,6% sensação e 5,7% pensamento. No curso de fisioterapia 68,8% apresentam-se extrovertidos e 31,3% introvertidos. Na função principal 43,8% apresentam-se do tipo sentimento; 37,5% sensação; 12,5% intuição e 6,3% pensamento. Na função auxiliar 50% apresentam-se sentimento; 31% sensação; 18,8% intuição e nenhum pensamento. No curso de farmácia tem-se que 73,9% mostram-se extrovertidos e 26,1% introvertidos. Na função principal 43,5% demonstram ser sentimento; 39,1% sensação; 13% intuição e 4,3% pensamento. Na função auxiliar, 43,5% mostram-se sentimento; 34,8% intuição, 13% sensação e 8,7% pensamento. No curso de biologia, 76,5% apresentam-se extrovertidos e 23,5% introvertidos. Na função principal 47,5% mostram-se sentimento; 35,3% sensação; 11,8% intuição e 5,9% pensamento. Na função auxiliar 35,3% apresentam-se sentimento; 29,4% intuição; 23,5% sensação e 11,8% pensamento. No curso de ciências contábeis tem-se 60% apresentam-se extrovertidos e 40% introvertidos. Na função principal 50% apresentam-se sentimento; 26,7% sensação; 16,7% intuição e 6,7% pensamento. Na função auxiliar 40% mostram-se sentimento; 30% sensação; 26,7% intuição e 3,3% pensamento. No curso de matemática, 67,7% apresentam-se extroversão e 32,3% introversão. Na função principal 29% demonstram ser do tipo sensação; pensamento e sentimento aparecem com 25,8%; intuição, 19,4%. Na função auxiliar, 32% mostram-se sensação; 29% sentimento; 19,4% pensamento ou intuição. Tabela 3 – Distribuição frequencial e percentual das atitudes e funções no modelo junguiano por curso Atitude Função principal Função Auxiliar Extr Intr Pens Sent Sens Int Pens Sent Sens Int Psicologia 57 62,0 35 38,2 8 8,7 51 55,4 12 13 21 22,8 11 12 22 23,9 37 40,2 22 23,9 Enfermag 31 68,9 14 31,1 3 6,7 24 53,3 8 17,8 10 22,2 1 2,2 17 37,8 20 44,4 7 15,6 Medicina 23 60,5 15 39,5 1 2,6 25 65,8 8 21,1 4 10,5 2 5,3 10 26,3 13 34,2 13 34,2 Nutrição 23 65,7 12 34,3 1 2,6 20 57,1 9 25,7 5 14,3 2 5,7 12 34,3 10 28,6 11 31,4 Fisioterapia 11 68,8 5 31,3 1 6,3 7 43,8 6 37,5 2 12,5 0 0 8 50,0 5 31,3 3 18,8 Farmácia 17 73,9 6 26,1 1 4,3 10 43,5 9 39,1 3 13,0 2 8,7 10 43,5 3 13,0 8 34,8 Biologia 13 76,5 4 23,5 1 5,9 8 47,1 6 35,3 2 11,8 2 11,8 6 35,3 4 23,5 5 29,4 C. Contab 18 60,0 12 40,0 2 6,7 15 50,0 8 26,7 5 16,7 1 3,3 12 40,0 9 30,0 8 26,7 Matemática 21 67,5 10 32,3 8 25,8 8 25,8 29,0 6 19,4 6 19,4 9 29,0 10 32,2 6 19,4 5.3 – Análise dos resultados De uma maneira geral, os dados se referem ao perfil dos universitários quanto ao gênero e à idade. Percebe-se que a grande maioria pertence ao gênero feminino, o que confirma a expansão da mulher no mercado de trabalho e também uma mudança no perfil das profissões. Como descrevem os autores citados no referencial teórico, até algum tempo atrás, existiam profissões que eram preferencialmente masculinas, como por exemplo, medicina e contabilidade; atualmente verifica-se o ingresso das mulheres não só nestes, como em todos os segmentos da sociedade. Constatou-se também que a grande maioria encontra-se entre 18 e 22 anos. Os dados demonstram que estes jovens têm procurado uma profissão assim que saem da adolescência, buscando na graduação uma qualificação profissional, o que coincide com o ingresso na idade adulta e também com a consolidação de sua identidade. Do ponto de vista da atitude psicológica, observa-se que a maior parte dos universitários demonstram ser extrovertidos, já que a extroversão obteve a maior porcentagem em todos os cursos analisados. Na avaliação das funções, a que mais se destacou foi o sentimento como função principal e a sensação como auxiliar; o sentimento como função auxiliar mostrou-se considerável. A função com a menor porcentagem foi o pensamento, o que se esperava a priori, em virtude da maioria de cursos pesquisados serem da área da saúde, portanto, cursos que se focam em habilidades voltadas para o atendimento e cuidado com as pessoas. O sentimento como função principal apresentou maior porcentagem no curso de medicina; a extroversão apresentou maior porcentagem no curso de biologia. Chama a atenção o fato da atitude extroversão apresentar a maior porcentagem, até mesmo naqueles cursos em que a atitude introversão deveria ser a preferencial; também o fato da função sentimento se destacar em todos os cursos. Este dado corrobora com a idéia do próprio Zacharias (2003) de que a cultura brasileira seja mais voltada à extroversão e ao sentimento. No curso de psicologia, a função sentimento obteve maior porcentagem como função principal; a atitude extroversão e a função auxiliar sensação se destacaram. De acordo com o QUATI, estas pessoas valorizam muito o contato humano; demonstram ser interessadas principalmente na realidade que é percebida através dos órgãos dos sentidos, mostrando-se práticas e realistas e concentrando-se nas características únicas de cada experiência. Para Zacharias (2003) a tipologia ideal do psicólogo seria introversão, função principal sentimento, função auxiliar intuição, pois essas pessoas geralmente são abertas, compreensivas, possuem boa capacidade de expressão e capacidade para perceberem as coisas além dos fatos. Porém, esta profissão encontra-se ligada também às outras tipologias que apresentam a função sentimento e a intuição, sejam introvertidas ou extrovertidas. Refletindo sobre os dados, percebe-se as variações no perfil desta profissão, pois atualmente a sociedade oferece mais espaço para a atuação do psicólogo, no sentido de atingir mais pessoas e segmentos da população. Há também uma diversificação e ampliação da atuação que era exclusivamente clínica; os procedimentos clínicos estão sendo inovados e adaptados a novas situações, como nos hospitais, instituições, organizações, escolas e na área social. No curso de enfermagem, nota-se que o tipo destacado, extroversão, sentimento e sensação, corresponde ao da teoria. Este tipo valoriza o contato humano e possui compaixão acompanhada de preocupação com as condições físicas, o que o atrai para profissões na área da saúde e atividades em que é necessário lidar com os demais. Pode-se comparar o perfil tipológico de Zacharias (2003) ao fator Sh do teste BBT de Achtnich (1991), que apresenta características como interesse pelo outro, cuidados, e a área de atuação abrange hospitais e asilos. No curso de medicina, o sentimento apresenta-se como função principal e a sensação e intuição como funções auxiliares, na mesma proporção. A atitude extroversão, a função sentimento e a sensação, conforme Zacharias (2003) proporcionam a esses profissionais a preferência pelo contato humano e a preocupação com as condições físicas, buscando a área da saúde. O tipo introversão, sensação e sentimento, de acordo com a tabela de profissões do QUATI, também é indicado para as profissões da área da saúde como medicina e enfermagem, por serem pacientes com detalhes necessários e sempre preocupados como as pessoas estão se sentindo. Destacou-se no curso de nutrição a atitude extroversão, o sentimento destacou-se como função principal e como auxiliar. Este fato demonstra que quando as outras funções apareciam como principais, o sentimento aparecia como função auxiliar. A porcentagem da função intuição foi representativa. O tipo extroversão, sentimento e intuição tende a enxergar as possibilidades que estão além daquelas que se mostram ou são conhecidas. Geralmente se interessam pela leitura e teoria, se destacando em profissões como o ensino, o aconselhamento e a área de vendas em geral. Com base nos estudos de Zacharias (2003), pode-se inferir que a função sensação deveria ter se mostrado em maior número, pois o tipo sensação extrovertido possui habilidades para lidar com o que é apresentado a seus cinco sentidos, função esta relevante para as pessoas que trabalham com alimentos. No curso de fisioterapia destacou-se a atitude extroversão, a função sentimento, como principal e auxiliar; a sensação foi considerável como auxiliar. O tipo sentimento extrovertido é atraído para as profissões da área da saúde, pois valorizam o contato humano; a sensação faz com que se interessem pelo que é percebido através dos órgãos do sentido, nesse caso, o tato, o toque. Porém a atitude introversão seria a mais adequada, pois pessoas sentimento introvertido com sensação auxiliar, não se afobam em suas tarefas, realizando-as com calma, pois apreciam o momento presente. Nota-se uma relação com o tipo W de Achtnich, que possui a necessidade de tocar, massagear, cuidar. O curso de farmácia obteve como função principal e também como função auxiliar o sentimento; a intuição como função auxiliar foi relevante. A atitude que se destacou foi a extroversão. Como demonstram enxergar as possibilidades além do que está presente, estas pessoas não apresentam muita habilidade em funções que exijam grande aderência aos fatos, necessitando se esforçarem para serem breves e objetivas. Esperava-se, pela teoria, que este curso apresentasse mais pessoas com a tipologia introversão, sensação e pensamento, pois pessoas deste tipo demonstram paciência com procedimentos e pormenores e são geralmente interessadas em causa e efeito, observando os princípios lógicos. A função intuição é uma função importante ligada à área da pesquisa, caso estes universitários decidam trabalhar com investigação empírica. No curso de biologia, obteve maior porcentagem a atitude extroversão e a função sentimento, como função principal e auxiliar. O tipo sentimento extrovertido, como citado anteriormente, valoriza muito o contato humano e tende a desempenhar-se melhor em carreiras como o ensino, o trabalho pastoral e de aconselhamento. Para este curso, levandose em consideração a tabela de profissões mais encontradas em cada tipo do QUATI, a tipologia ideal seria pensamento e sensação, introvertidos ou extrovertidos, pois observam a vida com curiosidade e geralmente estão interessados em causa e efeito. No curso de ciências contábeis, surpreende que a função principal e a função auxiliar de maior destaque seja o sentimento. A função sensação aparece, porém em menor número que a função sentimento. O tipo extrovertido, função principal sentimento, função auxiliar sensação, apresenta-se mais voltado para a área da saúde, por valorizar o contato humano e apresentar também uma preocupação com as condições físicas. Na descrição do QUATI, o tipo ideal para essa profissão seria introversão, sensação e pensamento, pois estas pessoas possuem talento para organização e para levar pormenores em consideração; além disso são práticas, minuciosas e precisas em relação aos fatos. O curso de matemática apresentou, dentre todos, a maior porcentagem da função pensamento como função principal, apesar de estar em mesmo número que a função sentimento; porém a função principal de destaque foi a sensação. Como função auxiliar destacou-se também a sensação; a função pensamento apareceu em menor porcentagem, porém considerável se comparado aos outros cursos. A atitude de maior porcentagem foi a extroversão. Pessoas do tipo extroversão, pensamento e sensação são geralmente lógicas e analíticas, apreciam organizar os fatos, são práticas e realistas. Porém, de acordo com o QUATI, o tipo pensamento introvertido com função auxiliar intuição, possui como característica principal a precisão, e gosta de resolver problemas através da análise lógica, sendo portanto, mais condizente com esta profissão. 6 - CONCLUSÃO A pesquisa realizada demonstra que, apesar da tipologia de muitos universitários estarem condizentes com o curso escolhido, ainda é grande o número de pessoas que escolhem a profissão sem levar em conta o tipo psicológico. Pode-se considerar o resultado preocupante, pois conforme a fundamentação teórica, as profissões exigem habilidades e características de personalidade e estas não estão sendo correspondidas pelos jovens no momento da escolha da profissão. Este fato remete ao que dizem alguns autores, quando apontam para as dificuldades que os jovens enfrentam no momento desta escolha, como o fator financeiro, insegurança frente ao vestibular, que se torna a cada dia mais concorrido, ameaça do desemprego, o que os leva a escolherem uma profissão mais valorizada no mercado, ou a que apresenta mais chances de emprego, e não aquela que condiz com suas aptidões, motivações internas e inclinações pessoais. Considerando o que preconizam os autores citados neste trabalho, se uma pessoa possui as habilidades que uma profissão requer, mais chance terá de se adaptar satisfatoriamente ao ambiente. Deve existir uma harmonia entre as características pessoais e as da profissão desejada para que haja maior satisfação no trabalho; a pessoa que desenvolve a profissão encontrando respaldo em seus interesses, realiza um trabalho melhor. A maior parte da vida das pessoas é ocupada pelo trabalho, por isso torna-se fundamental que o indivíduo exerça sua profissão motivado, realizando-se pessoalmente e oferecendo um trabalho de qualidade, já que a escolha profissional repercutirá também na sociedade. Ressalta-se, portanto, a importância da sensibilização dos jovens que estão no momento da escolha profissional, para que busquem conhecer suas habilidades, suas preferências, desenvolvendo um olhar mais profundo para seu contexto familiar, cultural e individual. A discrepância parcial encontrada entre as características psicológicas dos universitários e as habilidades esperadas ou exigidas pelos cursos, terá reflexos na atuação dos futuros profissionais no mercado de trabalho, trazendo como possível conseqüência, a frustração das pessoas que recebem os benefícios do atendimento de suas necessidades, prestados por estes profissionais. Assim, também sentir-se-á frustrado o próprio profissional, que não perceberá com clareza o que lhe falta para ser mais eficaz, havendo, portanto, perdas para a sociedade como um todo. Enfim, os dados apontam para uma necessidade da existência de mais profissionais atuando ou intervindo antes do momento da escolha profissional, como forma de minimizar as dificuldades e frustrações no decorrer da formação escolar e no mercado de trabalho. Este trabalho busca a compreensão dos processos envolvidos nesse momento tão decisivo que é a escolha da profissão, propondo uma reflexão a respeito da importância do papel do profissional psicólogo e da orientação profissional, para que auxilie os jovens a aprofundarem seu conhecimento pessoal, refletirem suas escolhas, podendo assim, ingressarem em sua carreira de maneira mais madura e consciente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLPORT, G. W. Pattern and Grouth in Personality. New York: Holt, Rinehart and Winston, Inc, 1961. ACHTNICH, M. 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