GETULIO VARGAS SOB O OLHAR CHAPECOENSE
Aline Cristine Bürgel1
Elison Antonio Paim2
Resumo: Getúlio Vargas sempre foi um líder carismático e detentor da admiração da grande
massa populacional. Sua política, muitas vezes comparada com o populismo, rendeu a ele muitas
homenagens e uma admiração que persiste até os dias de hoje, enfatizado como „pai dos pobres‟
na maioria dos livros e na mentalidade da população, especialmente os mais conservadores. Uma
importante figura para a política brasileira, seu nome é um dos mais lembrados quando vem à tona
o assunto „presidente da República‟. Porém, ainda não é de grande conhecimento a opinião
pública da época sobre este tema. É nesta intenção que surge este trabalho, na busca de
compreender e analisar a opinião das diversas camadas sociais da população chapecoense
acerca da política Getulista, através de artigos de jornais chapecoenses da época em que Getulio
Vargas foi Presidente da República. Chapecó expressa duas homenagens claras a Getulio Vargas:
a principal avenida da cidade leva seu nome (Getulio Dornelles Vargas) e nela encontra-se uma
estátua com seu busto. O local onde ela está é privilegiado, em frente aos principais pontos da
cidade. Na placa está escrita a seguinte frase: “Uma homenagem dos cidadãos chapecoenses
àquele que instaurou o regime democrático no Brasil”. É a partir desta frase que as análises deste
trabalho começam a fazer sentido. Quem eram estes cidadãos? A que classe pertenciam? Era
uma homenagem, de toda a população ou apenas de uma camada social? Sabe-se que Getulio
Vargas era conhecido por muitos como “O pai dos pobres” e que se utilizava de várias ferramentas
para que seu „populismo‟ pudesse atingir as mais diversas camadas sociais por todo o Brasil.
Palavras-chave: Getulio Vargas, política, Chapecó.
1 – Introdução
Falar sobre Getúlio Vargas nos dias atuais é motivo de grandes
controvérsias. Getúlio sempre foi uma figura polêmica passível de diversas
opiniões a seu respeito. Um líder populista defensor dos pobres ou um ditador
com imagem populista? É esta a questão que divide a opinião das pessoas. A
trajetória política de Getúlio Vargas sempre foi marcada pela popularidade de seus
governos, numa extrema relação de “amor e ódio”. Advogado, deputado estadual,
deputado federal, ministro, presidente do Estado, chefe do governo provisório
senador e duas vezes presidente da República. Esse é Getúlio Vargas, um
“homem
de
sorriso
afável,
irônico,
disciplinado.” (HARTMANN, 1984, p. 19).
bonachão,
aplatinado,
trabalhador,
Entre os anos de 1930 e 1954, o Brasil viveu sob a presença de um grande
líder no poder. Gaúcho de São Borja, nascido no ano de 1882, foi uma figura
representativa do Populismo3 no Brasil. A política populista foi muito praticada em
vários países sul-americanos nesta época, sendo o exemplo mais famoso a
Argentina, com Juan Domingo Perón e sua esposa Eva Perón. Francisco Weffort
(2003) afirma que o populismo está intimamente ligado com a urbanização das
cidades, e que essa correlação faz com que seja notável a popularização desse
tipo de política em centros urbanos. Ele não exclui as formas populistas agrárias,
principalmente em países como México e Bolívia. Porém, constata que no Brasil
“(...) como fenômeno de massas estes movimentos (populistas) tem um caráter
predominantemente urbano.” (WEFFORT, 2003, p.142). Com isto, o autor conclui
que “(...) o populismo parece estar particularmente enraizado naquelas cidades de
maior ritmo de crescimento, mais fortemente impactadas pelo desenvolvimento
industrial e pelas migrações.” (WEFFORT, 2003, p.146).
Ainda sobre o populismo, Octavio Ianni (1987) enfatiza que um dos
destaques do período Getulista foi “a combinação dos interesses econômicos e
políticos do proletariado, classe média e burguesia industrial.” (IANNI, 1987, p.55).
Assim, é possível a expansão do setor industrial, o que favorece a criação de
instituições democráticas, fazendo com que os assalariados sintam-se parte do
poder. Segundo Ianni, “antes de 1930, os partidos políticos eram estaduais ou
nominalmente nacionais e atendiam aos interesses de oligarquias e grupos sociais
regionais.” (IANNI, 1987, p. 60). Porém, em 1946, com a promulgação de uma
nova constituição, foi estabelecido o regime dos partidos nacionais. Logo,
A política de massas é um desdobramento dos acontecimentos
políticos que conduzira a rupturas parciais entre a sociedade
urbano-industrial e a sociedade tradicional, juntamente com os
sistemas políticos e econômicos externos. Por isso, ele reaparece
várias vezes na historia dos últimos anos, como técnica de
reformulação das relações externas do País. (...) Assim, a política
externa independente é uma manifestação relacionada com o tipo
de democracia populista em funcionamento no Brasil. (IANNI,
1987, p. 61-2).
Getúlio chegou ao poder pela primeira vez em 1930, sucedendo
Washington Luís (1926-1930) no poder e dando fim a chamada política do cafécom-leite4. A ascensão de Getulio Vargas ao poder e mudança nas lideranças
políticas no Brasil é conhecida como Revolução de 30 (SKIDMORE, 1982, p. 25).
Segundo Skidmore, “a Revolução de 30 pôs fim à estrutura republicana criada na
década de 1890.” (SKIDMORE, 1982, p.26).
2- Getúlio Vargas e a política em Chapecó
Em Chapecó5, a eleição de Getulio Vargas foi o primeiro passo para o fim
do mandonismo6 local. Monica Hass (2000) diz que
(...) seu declínio acentua-se na fase de redemocratização do país,
pós-45, quando o poder local acabou sendo diluído entre vários
grupos que surgem ou se fortalecem com as mudanças
socioeconômicas que ocorrem na região, após o final dos anos 30.
(HASS, 2000, p. 14).
A política chapecoense, desde o momento da criação do município (1917),
foi caracterizada pelo mandonismo, uma forte característica do coronelismo7
brasileiro. Até 1945, a representação política do oeste catarinense era
praticamente nula a nível estadual. Os coronéis disputavam o poder local, dando
mais importância a ele que a política a nível estadual. Quando da Revolução de
1930, Soares (1973) afirma que ela não causou a ruptura com as velhas formas
de fazer política. Logo, “a Revolução de 30, se bem não torpedou a política
oligárquica, ocasionou muitas rupturas na hegemonia política de muitas famílias,
permitindo a entrada no cenário político de novos atores.” (SOARES, 1973, p.
124).
Durante a década de 1930, a disputa
do poder no município de Chapecó
se intensificou. No período em que Getulio Vargas ocupou o poder do Brasil pela
primeira vez, em Chapecó ocorreu a nomeação de 10 prefeitos (HASS, 2000, p.
95). O município era conhecido como “Velho Chapecó” desde sua fundação até
seu primeiro desmembramento, na década de 1950 (BELLANI, 1991, p. 15). Com
esse mandonismo imperando no local, a região era conhecida pelos crimes
bárbaros, muitas vezes vista com preconceito por outras regiões do Estado
(MARQUETTI, 2008). Porém, a nível estadual, nada era feito para melhorar a
imagem da região oeste de Santa Catarina, já que o poder era concentrado,
principalmente, nas regiões litorâneas. O governo federal, vendo que muitos
pontos da região oeste do país estavam marginalizados e à mercê de invasores
estrangeiros – que muitas vezes lutaram para a demarcação de território -, criou
um projeto para o desenvolvimento e nacionalização destas regiões, denominado
“Marcha para o Oeste” (LIBERALI, 2000, p. 17). Assim, criou o Território Federal
do Iguaçu.
Getulio Vargas era militante do Partido Republicano Riograndense (PRR).
Quando Getulio Vargas saiu do poder, em 1945, um movimento chamado de
“Queremismo”, com o lema “Queremos Vargas”, se espalhou pelo Brasil. Nesta
onda, foram criados dois partidos políticos para defender Vargas. O PTB (Partido
Trabalhista Brasileiro), formado por trabalhadores e sindicatos, e o PSD (Partido
Social
Democrático),
formado
por
grandes
proprietários
e
empresários.
(D‟ARAUJO, 2004). Sobre o PTB, Carreirão (1990) diz que foi “um partido criado
para servir como um instrumento de mobilização dos votos operários em benefício
a Getulio Vargas e seus seguidores.” (CARREIRÃO, 1990, p. 33). Ao mesmo
tempo, foi criada a UDN (União Democrática Nacional), em oposição a Vargas.
Pode-se a partir disso notar que Getulio Vargas era o centro das atenções e do
poder, tanto das elites como dos trabalhadores, dos comunistas, entre outros,
mesmo quando estava fora do poder. Sobre a UDN, Selistre de Campos 8
escreveu, no dia 02 de novembro de 1947, um artigo chamado “U.D.N. não é
partido político”. No artigo, ele relata a extinção do Partido Comunista e a trata
como uma jogada política da UDN para atrair os eleitores daquele partido. Selistre
então diz que:
Francamente, não somos contra ninguém, mas atitudes como
essa, dão-nos a impressão de que U.D.N. pode ser tudo, por
exemplo, uma associação de finalidade utilitária, na carência de
outra expressão mais apropriada, mas Partido Político, por favor,
permitam que externemos nossa humilde opinião, não! (CEOM,
2004, p. 126).
Neste mesmo jornal, Antonio Selistre de Campos escreveu um artigo, no
dia 04 de maio de 1947, falando sobre Getulio Vargas e parabenizando-o pelo seu
aniversário, no dia 19 de abril. Fica claro sua devoção a Getulio quando ele afirma
que
Se o bom senso fosse apanágio de todos os homens e pudessem
estes em regra refreiar suas paixões, era de ser reconhecido, e
proclamado, esse cidadão como o de maior projeção no cenário da
política nacional e que mais alta influencia exerceu em nome do
Brasil, neste século, na política internacional. O povo sensato
assim o reconhece. (CEOM, 2004, p. 119).
Após dizer que Getulio Vargas é exemplo de nacionalismo e fazer críticas
severas aos críticos de Vargas, Selistre diz que “A formação política de Getulio
Vargas é única, ou excepcional, sem espírito de lisonja o proclamamos.” (CEOM,
2004, p. 120). Como prova de suas afirmações, ele se justifica dizendo que
(Getulio), depois do saudoso imperador D. Pedro II, foi o brasileiro
que por maior período de tempo governou o Brasil, o que só por
isso é prova provada do valor desse estadista. Daí essa imperativa
conclusão: - ou é um brasileiro de extraordinário valor, por seu
caráter, patriotismo e benéfica ação em pról do bem publico,
durante sua existência e após assumir o governo por efeito de uma
revolução nacional, se consolidando na posição conquistada, como
os homens sensatos o reconhecem, ou então o povo brasileiro,
esta população que é a maior da América do Sul, superior a todas
as outras reunidas, inclusive nós que escrevemos e o leitor que
nos lê, é dotada de uma mentalidade de escravos, formando
quarenta e cinco milhões de inerentes, indignos de gozar a
liberdade e soberania, porque por longos anos se deixou governar
por um homem não possuidor das qualidades indispensaveis a um
chefe nacional. Não! A verdade está na primeira parte da
proposição. (CEOM, 2004, p. 121).
Ao analisar a forma de escrita de Antonio Selistre de Campos, nota-se que
ele exprimia (ou pretendia exprimir) a opinião de uma população inteira. O último
parágrafo do artigo citado acima é escrito de forma a mostrar que toda a
população de Chapecó pensava da mesma maneira e tinha a mesma admiração
por Getulio, já que Selistre diz que “Ao eminente estadista, nesta modesta coluna,
prestamos a nossa respeitosa homenagem, embora tardia, com sinceros votos
pela conservação de sua preciosa existência.” (CEOM, 2004, p. 122).
A mídia impressa era um dos mais importantes meios de comunicação da
época, sendo os jornalistas, formadores de opinião. Quando Selistre escrevia seus
artigos, dava-se a entender que falava pela população chapecoense num modo
geral, considerando-se que o jornal intitulava-se “A Voz de Chapecó‟, o que pode
ser analisado que representava, de algum modo, a cidade.
A análise de periódicos é parte fundamental deste trabalho, uma vez que é
a partir deles que é possível ver como grandes nomes do cenário local
chapecoense destacavam os projetos e ações de Getulio Vargas. Como
formadores de opinião, é importante analisar sua parcialidade, modo de escrita e a
que ponto poderia chegar sua influência na sociedade. Sobre a análise de
periódicos, Eric Hobsbawm escreve que:
À medida que o historiador do século XX se aproxima do presente,
fica cada vez mais dependente de dois tipos de fonte: a imprensa
diária ou periódica e os relatórios econômicos e outras pesquisas,
compilações estatísticas e outras publicações de governos
nacionais e instituições internacionais. [...] Nenhum história das
mudanças sociais e econômicas ocorridas neste século poderia ser
escrita sem essas duas fontes. (HOBSBAWM, 1995, p. 9).
Pensando nisto, foi realizada a pesquisa nos arquivos do CEOM 9,
afim de localizar periódicos que trouxessem anúncios ou artigos referentes a
Getulio Vargas, os partidos da época ou a política praticada nestes anos. De
posse de algumas edições dos jornais A Voz de Chapecó e O Imparcial, foi
possível identificar trechos de matérias que reportassem ao assunto aqui tratado.
Infelizmente, não foi encontrado nenhum arquivo de jornais municipais da época
do primeiro governo Vargas (1930 – 1945), apenas artigos dos anos de 1948,
1950 e 1951.
Em artigo retirado do jornal A Voz de Chapecó (10/10/1948), é possível
analisar vários elementos textuais que contribuem no tema aqui proposto. No
primeiro parágrafo, o autor escreve “[...] o eminente brasileiro Dr. Getulio Vargas
[...]”. Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (1996), o verbete eminente é
um adjetivo que significa: “alto; elevado; sublime, excelente.” (BUENO, 1996, p.
230). Logo, apesar da imparcialidade que o jornal diz assumir, é visível somente
nesta palavra que os editores do jornal pendiam para o lado político de Getulio
Vargas ao, em outras palavras, chamá-lo de um brasileiro excelente. Embora o
jornal diga que “é órgão dos interesses geraes do município e não do P.S.D.”, é
possível analisar nos próximos artigos de periódicos que o partido acima citado,
juntamente com o PTB, tinha espaço cativo em suas publicações.
2.0 Jornal A Voz de Chapecó (05 de dezembro de 1948)
Neste artigo, apesar de não aparecer nenhum verbete que possa ser
analisado como elogio a Getulio Vargas, ao falar que Nereu Ramos e Salgado
Filho poderão ser candidatos a presidente e vice-presidente da República,
respectivamente, e com o apoio de Vargas certamente sairão com a vitória, é
possível analisar a popularidade que o então Senador tinha pelo Brasil todo.
Entende-se que Getulio Vargas é um político admirado em todo o país, fato este
que supostamente faz com que qualquer candidato apoiado por ele tenha êxito
nas eleições. Quando este artigo foi publicado, a República era comandada por
Eurico Gaspar Dutra, que permaneceu no cargo até 1951, sendo substituído pelo
próprio Getulio Vargas.
A popularidade de Getulio Vargas era grande não só a nível nacional, mas
também no município de Chapecó. Em um artigo o autor faz uma crítica sutil à
UDN, quando fala que “A União Democrática Nacional resolveu tirar sua mascara
[...]”. Observa-se pela expressão “tirar a máscara” que o colunista do jornal fazia
oposição a este partido político, já que no linguajar popular, “tirar a máscara”
significa deixar sobressair sua verdadeira personalidade, que geralmente é
escondida por trás de boas ações. Quando se refere ao PSD, no quarto (apoiador
do PTB na candidatura de Getulio Vargas), chama o partido de “organização
conservadora e majoritária”. O Dicionário da Língua Portuguesa (1996), nos traz a
definição destes dois verbetes. Conservador: adj. Aquele que conserva; [...]
adepto do conservadorismo. (BUENO, 1996, p. 158). Majoritário: adj. Relativo à
maioria; que conta com a maioria dos eleitores ou representantes nas casas
legislativas. (BUENO, 1996, p. 408). Daí já é provada a simpatia que o jornal, de
modo geral, tinha pelo Partido Social Democrático, pela forma a qual lhe é tomada
a palavra. No mesmo parágrafo, ao divulgar seu apoio ao candidato Getulio
Vargas, ainda diz que é um “candidato tácito á futura sucessão na Presidência da
Republica”. Sobre o verbete „tácito‟, o Dicionário da Língua Portuguesa nos traz a
seguinte definição: “Silencioso; que não se exprime por palavras; implícito;
secreto.” (BUENO, 1996, p. 628). Portanto, entende-se que a candidatura de
Getulio ainda não era confirmada. Conforme se lê no artigo, o PSD esperava a
candidatura de Nereu Ramos ao cargo de presidente e esperava contar com o
apoio de Getulio Vargas na eleição, mas também pode-se entender que mesmo
se Vargas fosse o candidato, contaria com o apoio do PSD. O presente artigo
ainda ressalta que o progresso do Brasil só se dará caso o candidato de algum
destes partidos seja eleito, quando se lê “triunfará o Brasil [...] com a candidatura
de Nereu”. Candidato do PSD e catarinense, não é estranho que Nereu Ramos
fosse o candidato preferido dos chapecoenses para assumir a presidência da
República.
4.0 Jornal A Voz de Chapecó (04 de junho de 1950)
Este artigo faz uma pequena referência, ainda que indiretamente, a Getulio
Vargas. Pode ser analisado como uma simples menção ao ex-presidente, mas
também pode ser visto como uma forma de propaganda ao PTB. A pequena
matéria do jornal apresenta-se como uma explicação à organização de
subdiretórios no município de Chapecó, mas serve como um meio e divulgação ao
dizer que Getulio Vargas pertence a este partido. Ao dizer „Grande brasileiro
Senador Dr. Getulio Vargas‟, entende-se que o partido sente-se orgulhoso por
contar com este político e que a população que filiar-se no partido estará servindo
ao povo, assim como fez Getulio.
5.0 Jornal A Voz de Chapecó (10 de setembro de 1950)
Este artigo trata das eleições a serem realizadas no estado de Santa
Catarina. Até então, o prefeito de Chapecó (Vicente Cunha) e o governador do
Estado (Aderbal Ramos) pertenciam ao PSD. Ao modo como são tratados os
partidos políticos neste breve texto, entende-se que as pessoas deveriam votar no
partido ao qual são militantes (no caso, menciona-se o PTB). Como Carlos Gomes
retirou sua candidatura, estavam livres para votarem em outro candidato, mais
especificamente Udo Deeke, do PSD, concorrendo contra um candidato da UDN.
Aí aparecem, mais uma vez, as críticas contra a UDN, sempre apelando ao nome
de Getulio Vargas para um maior poder de convencimento. Ao invés de utilizar
chamadas como „a população‟ ou „os simpatizantes do PTB‟, o autor usa o termo
„os getulistas‟, afim de uma maior identificação visual àqueles que lerem a matéria.
E, como é de costume referir-se a Getulio, o chamam de „grande brasileiro‟, fato
que só confirma a popularidade do ex-presidente.
6.0 Jornal A Voz de Chapecó (24/09/1950)
Este texto pode ser analisado a partir de seu título. O nome “Getulio
Vargas” aparece em destaque na chamada da matéria, o que pode ser uma
estratégia para atrair a atenção do leitor a ler um artigo que trata sobre algum
assunto relacionado à Vargas. Este texto não faz nenhum apelo à figura de
Getulio Vargas. Porém, subentende-se que, pelo simples fato de ser Getulio um
apoiador de Nereu Ramos e Udo Deeke, já chamaria a atenção de grande parte
da população chapecoense a depositar seus votos nestes dois candidatos. Nesta
mesma eleição, Getulio Vargas foi eleito presidente da República pela segunda
vez, pelo PTB, contando com o apoio indireto do PSD e vencendo seu maior
opositor, Eduardo Gomes, da UDN.
7.0 Jornal A Voz de Chapecó (1950)
Esta chamada aos pessedistas de Chapecó aparece em várias edições do
jornal A Voz de Chapecó, no ano de 1950. Nos jornais atuais, quando existe
alguma chamada de algum partido político, sempre aparece, ao lado do anúncio,
uma pequena frase escrita “A pedidos”, informando que aquele anúncio foi
publicado a partir do pedido ou venda de espaço de algum interessado pela
divulgação. Nesses jornais da década de 50, não aparecem essas frases.
Entende-se, portanto, que o anúncio aparecia no início de cada página por
vontade espontânea dos proprietários do jornal. Os anúncios, impressos no início
de algumas páginas no jornal, era de tamanho e localização estratégica para que
o leitor pudesse bem visualizar o que havia ali escrito.
8.0 Jornal O Imparcial (22 de abril de 1951)
Este pequeno texto encontra-se no jornal O Imparcial, na edição do dia
22/04/1951. Nele estão, talvez, as maiores provas da popularidade de Getulio
Vargas na cidade de Chapecó. No primeiro parágrafo, o autor expressa a alegria
da população na passagem do aniversário de Getulio Vargas, usando a frase
“festas para toda a Nação Brasileira”, como num ato de festejo por todo o Brasil.
No último parágrafo, é ainda melhor expressa a admiração pelo ex-presidente:
“em Getúlio Vargas vê o cidadão talhado para Presidente da República, como
administrador consciente e verdadeiramente democrático”. Apesar de o jornal
chamar-se O Imparcial, o que se vê neste artigo é uma grande parcialidade
pendente para o lado de Getulio Vargas e uma grande generalização, logo no
início. Quando se fala em “cidadão talhado para Presidente da República”,
também se percebe uma desqualificação de outros candidatos a presidentes já
que, nesta visão, apenas Getulio Vargas seria merecedor de tal cargo.
3 - Considerações finais
Além destes artigos de jornais, Chapecó expressa duas homenagens claras
a Getulio Vargas: a principal avenida da cidade leva seu nome (Getulio Dornelles
Vargas) e nela encontra-se uma estátua com seu busto. O local onde ela está é
privilegiado, em frente aos principais pontos da cidade: a Igreja Matriz Santo
Antônio, a estátua O Desbravador, a praça Coronel Bertaso e o prédio da primeira
Prefeitura da cidade, que hoje abriga a Fundação Cultural de Chapecó, sendo o
único prédio tombado do município. Na placa10 (que está abaixo da estátua, está
escrita a seguinte frase: “Uma homenagem dos cidadãos chapecoenses àquele
que instaurou o regime democrático no Brasil”. É a partir desta frase que as
análises deste trabalho começam a fazer sentido. Quem eram estes cidadãos? A
que classe pertenciam? Era uma homenagem, realmente, de toda a população ou
apenas de uma camada social? Sabe-se que Getulio Vargas era conhecido por
muitos como “O pai dos pobres” e que se utilizava de várias ferramentas para que
seu „populismo‟ pudesse atingir as mais diversas camadas sociais por todo o
Brasil. Em Chapecó, esta estratégia parece ter dado certo. Considerado por
alguns como um ditador, a verdade é que Getulio Vargas conquistou muitos fãs
por todo o Brasil enquanto era presidente e sua influência continua até os dias
atuais. Nos livros de História, Getulio sempre aparece como o „mocinho‟ e o
grande responsável pela modernização e urbanização do Brasil. Cabe a cada um
conhecer sua história e analisá-la do viés a que lhe cabe.
Referências
BELLANI, Eli. Madeiras, balsas e balseiros no rio Uruguai: o processo de
colonização do velho município de Chapecó (1917 – 1950). Florianópolis: UFSC,
1991.
BUENO, Francisco da Silveira. Dicionário da língua portuguesa. São Paulo:
FTD: 1996.
CARREIRÃO, Yan. Eleições e sistema partidário em Santa Catarina – 19451975. Florianópolis: UFSC, 1990.
Centro de Memórias do Oeste de Santa Catarina (org.). A voz de Chapecó:
artigos de Antonio Selistre de Campos. Chapecó: Argos, 2004.
D‟ARAUJO, Maria Celina. A era Vargas. São Paulo: Moderna, 2004.
HARTMANN, Ivar. Getúlio Vargas. Porto Alegre, Tchê, 1984.
HASS, Monica. Os partidos políticos e a elite chapecoense: um estudo do
poder local – 1945 a 1965. Chapecó: Argos, 2000.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos – o breve século XX 1914-1991. São
Paulo: Companhia das Letras, 1995.
IANNI, Octavio. O colapso do populismo no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1987.
LIBERALI, Ricardo Vergílio. Território Federal do Iguaçu: a página esquecida de
nossa historiografia regional. Monografia (Pós-Graduação). Universidade do Oeste
de Santa Catarina, 2000.
MARQUETTI, Délcio. Bandidos, forasteiros e intrusos: história do crime no
oeste catarinense na primeira metade do século XX. Chapecó: Argos, 2008.
SOARES, Gláucio. Sociedade e política no Brasil. São Paulo: Difel, 1973.
SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1982.
WEFFORT, Francisco. O populismo na política brasileira. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2003.
1
Acadêmica do 7º período do curso de História – Licenciatura Plena, na Universidade Comunitária
da Região de Chapecó – Unochapecó. O artigo foi escrito a parir de pesquisa realizada no
componente curricular Teoria e Metodologia da História IV, ministrada no primeiro semestre de
2011, pelo Professor Dr. Elison Antonio Paim. E-mail: [email protected] .
2
Professor do Curso de Licenciatura em História da Unochapecó. E-mail:
[email protected] .
3
Forma política praticada nos países da América do Sul entre as décadas de 1930 e 1960,
caracterizada pelo imenso nacionalismo e apoio às camadas sociais menos favorecidas,
independente de partidos ou ideologias políticas. À frente desta política sempre houve um líder
carismático reconhecido pela população.
4
Política adotada na República Velha que vigorou entre os anos de 1898 e 1930, onde políticos
dos estados de Minas Gerais e São Paulo se revezavam no poder da República. A política tem
esse nome devido às principais atividades econômicas dos dois estados na época – São Paulo,
grande produtor de café, e Minas Gerais, destaque na produção de leite.
5
Município localizado no oeste de Santa Catarina, criado em 25 de agosto de 1917.
6
Durante a Primeira República, foi uma forte característica da política chapecoense, devido a
concentração econômica e ligação com o governo estadual. A violência causada por conflitos
políticos era comum nesta época, um exemplo da dominação oligárquica que existia. (HASS, 2000,
p. 75).
7
Hegemonia econômica, social e política onde há favorecimentos e perseguições, de acordo com
a ideologia política.
8
Antonio Selistre de Campos, gaúcho de Santo Antônio da Patrulha, chegou em Chapecó em
1931, sendo um dos primeiros juízes de Direito da Comarca da cidade. Ajudou a fundar, em 03 de
maio de 1939, juntamente com Ernesto Francisco Bertaso, Cid Loures Ribas e Vicente Cunha, o
jornal “A Voz de Chapecó”, que relatava acontecimentos locais, regionais e estaduais. Ele também
escrevia artigos para este jornal.
9
Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina. Fundado em 1986, é um dos primeiros
programas de extensão da então Fundeste (Fundação Universitária do Oeste), atual órgão
mantenedor da Universidade.
10
Devido a obras de revitalização da Avenida Getulio Vargas, a placa que fica abaixo do busto de
Getulio foi retirada para provável restauração. Até o dia de entrega deste artigo, ainda não havia
voltado ao seu lugar. Portanto, não sabe-se a data em que foi colocada neste local.
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Introdução Falar sobre Getúlio Vargas