GETULIO VARGAS SOB O OLHAR CHAPECOENSE Aline Cristine Bürgel1 Elison Antonio Paim2 Resumo: Getúlio Vargas sempre foi um líder carismático e detentor da admiração da grande massa populacional. Sua política, muitas vezes comparada com o populismo, rendeu a ele muitas homenagens e uma admiração que persiste até os dias de hoje, enfatizado como „pai dos pobres‟ na maioria dos livros e na mentalidade da população, especialmente os mais conservadores. Uma importante figura para a política brasileira, seu nome é um dos mais lembrados quando vem à tona o assunto „presidente da República‟. Porém, ainda não é de grande conhecimento a opinião pública da época sobre este tema. É nesta intenção que surge este trabalho, na busca de compreender e analisar a opinião das diversas camadas sociais da população chapecoense acerca da política Getulista, através de artigos de jornais chapecoenses da época em que Getulio Vargas foi Presidente da República. Chapecó expressa duas homenagens claras a Getulio Vargas: a principal avenida da cidade leva seu nome (Getulio Dornelles Vargas) e nela encontra-se uma estátua com seu busto. O local onde ela está é privilegiado, em frente aos principais pontos da cidade. Na placa está escrita a seguinte frase: “Uma homenagem dos cidadãos chapecoenses àquele que instaurou o regime democrático no Brasil”. É a partir desta frase que as análises deste trabalho começam a fazer sentido. Quem eram estes cidadãos? A que classe pertenciam? Era uma homenagem, de toda a população ou apenas de uma camada social? Sabe-se que Getulio Vargas era conhecido por muitos como “O pai dos pobres” e que se utilizava de várias ferramentas para que seu „populismo‟ pudesse atingir as mais diversas camadas sociais por todo o Brasil. Palavras-chave: Getulio Vargas, política, Chapecó. 1 – Introdução Falar sobre Getúlio Vargas nos dias atuais é motivo de grandes controvérsias. Getúlio sempre foi uma figura polêmica passível de diversas opiniões a seu respeito. Um líder populista defensor dos pobres ou um ditador com imagem populista? É esta a questão que divide a opinião das pessoas. A trajetória política de Getúlio Vargas sempre foi marcada pela popularidade de seus governos, numa extrema relação de “amor e ódio”. Advogado, deputado estadual, deputado federal, ministro, presidente do Estado, chefe do governo provisório senador e duas vezes presidente da República. Esse é Getúlio Vargas, um “homem de sorriso afável, irônico, disciplinado.” (HARTMANN, 1984, p. 19). bonachão, aplatinado, trabalhador, Entre os anos de 1930 e 1954, o Brasil viveu sob a presença de um grande líder no poder. Gaúcho de São Borja, nascido no ano de 1882, foi uma figura representativa do Populismo3 no Brasil. A política populista foi muito praticada em vários países sul-americanos nesta época, sendo o exemplo mais famoso a Argentina, com Juan Domingo Perón e sua esposa Eva Perón. Francisco Weffort (2003) afirma que o populismo está intimamente ligado com a urbanização das cidades, e que essa correlação faz com que seja notável a popularização desse tipo de política em centros urbanos. Ele não exclui as formas populistas agrárias, principalmente em países como México e Bolívia. Porém, constata que no Brasil “(...) como fenômeno de massas estes movimentos (populistas) tem um caráter predominantemente urbano.” (WEFFORT, 2003, p.142). Com isto, o autor conclui que “(...) o populismo parece estar particularmente enraizado naquelas cidades de maior ritmo de crescimento, mais fortemente impactadas pelo desenvolvimento industrial e pelas migrações.” (WEFFORT, 2003, p.146). Ainda sobre o populismo, Octavio Ianni (1987) enfatiza que um dos destaques do período Getulista foi “a combinação dos interesses econômicos e políticos do proletariado, classe média e burguesia industrial.” (IANNI, 1987, p.55). Assim, é possível a expansão do setor industrial, o que favorece a criação de instituições democráticas, fazendo com que os assalariados sintam-se parte do poder. Segundo Ianni, “antes de 1930, os partidos políticos eram estaduais ou nominalmente nacionais e atendiam aos interesses de oligarquias e grupos sociais regionais.” (IANNI, 1987, p. 60). Porém, em 1946, com a promulgação de uma nova constituição, foi estabelecido o regime dos partidos nacionais. Logo, A política de massas é um desdobramento dos acontecimentos políticos que conduzira a rupturas parciais entre a sociedade urbano-industrial e a sociedade tradicional, juntamente com os sistemas políticos e econômicos externos. Por isso, ele reaparece várias vezes na historia dos últimos anos, como técnica de reformulação das relações externas do País. (...) Assim, a política externa independente é uma manifestação relacionada com o tipo de democracia populista em funcionamento no Brasil. (IANNI, 1987, p. 61-2). Getúlio chegou ao poder pela primeira vez em 1930, sucedendo Washington Luís (1926-1930) no poder e dando fim a chamada política do cafécom-leite4. A ascensão de Getulio Vargas ao poder e mudança nas lideranças políticas no Brasil é conhecida como Revolução de 30 (SKIDMORE, 1982, p. 25). Segundo Skidmore, “a Revolução de 30 pôs fim à estrutura republicana criada na década de 1890.” (SKIDMORE, 1982, p.26). 2- Getúlio Vargas e a política em Chapecó Em Chapecó5, a eleição de Getulio Vargas foi o primeiro passo para o fim do mandonismo6 local. Monica Hass (2000) diz que (...) seu declínio acentua-se na fase de redemocratização do país, pós-45, quando o poder local acabou sendo diluído entre vários grupos que surgem ou se fortalecem com as mudanças socioeconômicas que ocorrem na região, após o final dos anos 30. (HASS, 2000, p. 14). A política chapecoense, desde o momento da criação do município (1917), foi caracterizada pelo mandonismo, uma forte característica do coronelismo7 brasileiro. Até 1945, a representação política do oeste catarinense era praticamente nula a nível estadual. Os coronéis disputavam o poder local, dando mais importância a ele que a política a nível estadual. Quando da Revolução de 1930, Soares (1973) afirma que ela não causou a ruptura com as velhas formas de fazer política. Logo, “a Revolução de 30, se bem não torpedou a política oligárquica, ocasionou muitas rupturas na hegemonia política de muitas famílias, permitindo a entrada no cenário político de novos atores.” (SOARES, 1973, p. 124). Durante a década de 1930, a disputa do poder no município de Chapecó se intensificou. No período em que Getulio Vargas ocupou o poder do Brasil pela primeira vez, em Chapecó ocorreu a nomeação de 10 prefeitos (HASS, 2000, p. 95). O município era conhecido como “Velho Chapecó” desde sua fundação até seu primeiro desmembramento, na década de 1950 (BELLANI, 1991, p. 15). Com esse mandonismo imperando no local, a região era conhecida pelos crimes bárbaros, muitas vezes vista com preconceito por outras regiões do Estado (MARQUETTI, 2008). Porém, a nível estadual, nada era feito para melhorar a imagem da região oeste de Santa Catarina, já que o poder era concentrado, principalmente, nas regiões litorâneas. O governo federal, vendo que muitos pontos da região oeste do país estavam marginalizados e à mercê de invasores estrangeiros – que muitas vezes lutaram para a demarcação de território -, criou um projeto para o desenvolvimento e nacionalização destas regiões, denominado “Marcha para o Oeste” (LIBERALI, 2000, p. 17). Assim, criou o Território Federal do Iguaçu. Getulio Vargas era militante do Partido Republicano Riograndense (PRR). Quando Getulio Vargas saiu do poder, em 1945, um movimento chamado de “Queremismo”, com o lema “Queremos Vargas”, se espalhou pelo Brasil. Nesta onda, foram criados dois partidos políticos para defender Vargas. O PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), formado por trabalhadores e sindicatos, e o PSD (Partido Social Democrático), formado por grandes proprietários e empresários. (D‟ARAUJO, 2004). Sobre o PTB, Carreirão (1990) diz que foi “um partido criado para servir como um instrumento de mobilização dos votos operários em benefício a Getulio Vargas e seus seguidores.” (CARREIRÃO, 1990, p. 33). Ao mesmo tempo, foi criada a UDN (União Democrática Nacional), em oposição a Vargas. Pode-se a partir disso notar que Getulio Vargas era o centro das atenções e do poder, tanto das elites como dos trabalhadores, dos comunistas, entre outros, mesmo quando estava fora do poder. Sobre a UDN, Selistre de Campos 8 escreveu, no dia 02 de novembro de 1947, um artigo chamado “U.D.N. não é partido político”. No artigo, ele relata a extinção do Partido Comunista e a trata como uma jogada política da UDN para atrair os eleitores daquele partido. Selistre então diz que: Francamente, não somos contra ninguém, mas atitudes como essa, dão-nos a impressão de que U.D.N. pode ser tudo, por exemplo, uma associação de finalidade utilitária, na carência de outra expressão mais apropriada, mas Partido Político, por favor, permitam que externemos nossa humilde opinião, não! (CEOM, 2004, p. 126). Neste mesmo jornal, Antonio Selistre de Campos escreveu um artigo, no dia 04 de maio de 1947, falando sobre Getulio Vargas e parabenizando-o pelo seu aniversário, no dia 19 de abril. Fica claro sua devoção a Getulio quando ele afirma que Se o bom senso fosse apanágio de todos os homens e pudessem estes em regra refreiar suas paixões, era de ser reconhecido, e proclamado, esse cidadão como o de maior projeção no cenário da política nacional e que mais alta influencia exerceu em nome do Brasil, neste século, na política internacional. O povo sensato assim o reconhece. (CEOM, 2004, p. 119). Após dizer que Getulio Vargas é exemplo de nacionalismo e fazer críticas severas aos críticos de Vargas, Selistre diz que “A formação política de Getulio Vargas é única, ou excepcional, sem espírito de lisonja o proclamamos.” (CEOM, 2004, p. 120). Como prova de suas afirmações, ele se justifica dizendo que (Getulio), depois do saudoso imperador D. Pedro II, foi o brasileiro que por maior período de tempo governou o Brasil, o que só por isso é prova provada do valor desse estadista. Daí essa imperativa conclusão: - ou é um brasileiro de extraordinário valor, por seu caráter, patriotismo e benéfica ação em pról do bem publico, durante sua existência e após assumir o governo por efeito de uma revolução nacional, se consolidando na posição conquistada, como os homens sensatos o reconhecem, ou então o povo brasileiro, esta população que é a maior da América do Sul, superior a todas as outras reunidas, inclusive nós que escrevemos e o leitor que nos lê, é dotada de uma mentalidade de escravos, formando quarenta e cinco milhões de inerentes, indignos de gozar a liberdade e soberania, porque por longos anos se deixou governar por um homem não possuidor das qualidades indispensaveis a um chefe nacional. Não! A verdade está na primeira parte da proposição. (CEOM, 2004, p. 121). Ao analisar a forma de escrita de Antonio Selistre de Campos, nota-se que ele exprimia (ou pretendia exprimir) a opinião de uma população inteira. O último parágrafo do artigo citado acima é escrito de forma a mostrar que toda a população de Chapecó pensava da mesma maneira e tinha a mesma admiração por Getulio, já que Selistre diz que “Ao eminente estadista, nesta modesta coluna, prestamos a nossa respeitosa homenagem, embora tardia, com sinceros votos pela conservação de sua preciosa existência.” (CEOM, 2004, p. 122). A mídia impressa era um dos mais importantes meios de comunicação da época, sendo os jornalistas, formadores de opinião. Quando Selistre escrevia seus artigos, dava-se a entender que falava pela população chapecoense num modo geral, considerando-se que o jornal intitulava-se “A Voz de Chapecó‟, o que pode ser analisado que representava, de algum modo, a cidade. A análise de periódicos é parte fundamental deste trabalho, uma vez que é a partir deles que é possível ver como grandes nomes do cenário local chapecoense destacavam os projetos e ações de Getulio Vargas. Como formadores de opinião, é importante analisar sua parcialidade, modo de escrita e a que ponto poderia chegar sua influência na sociedade. Sobre a análise de periódicos, Eric Hobsbawm escreve que: À medida que o historiador do século XX se aproxima do presente, fica cada vez mais dependente de dois tipos de fonte: a imprensa diária ou periódica e os relatórios econômicos e outras pesquisas, compilações estatísticas e outras publicações de governos nacionais e instituições internacionais. [...] Nenhum história das mudanças sociais e econômicas ocorridas neste século poderia ser escrita sem essas duas fontes. (HOBSBAWM, 1995, p. 9). Pensando nisto, foi realizada a pesquisa nos arquivos do CEOM 9, afim de localizar periódicos que trouxessem anúncios ou artigos referentes a Getulio Vargas, os partidos da época ou a política praticada nestes anos. De posse de algumas edições dos jornais A Voz de Chapecó e O Imparcial, foi possível identificar trechos de matérias que reportassem ao assunto aqui tratado. Infelizmente, não foi encontrado nenhum arquivo de jornais municipais da época do primeiro governo Vargas (1930 – 1945), apenas artigos dos anos de 1948, 1950 e 1951. Em artigo retirado do jornal A Voz de Chapecó (10/10/1948), é possível analisar vários elementos textuais que contribuem no tema aqui proposto. No primeiro parágrafo, o autor escreve “[...] o eminente brasileiro Dr. Getulio Vargas [...]”. Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (1996), o verbete eminente é um adjetivo que significa: “alto; elevado; sublime, excelente.” (BUENO, 1996, p. 230). Logo, apesar da imparcialidade que o jornal diz assumir, é visível somente nesta palavra que os editores do jornal pendiam para o lado político de Getulio Vargas ao, em outras palavras, chamá-lo de um brasileiro excelente. Embora o jornal diga que “é órgão dos interesses geraes do município e não do P.S.D.”, é possível analisar nos próximos artigos de periódicos que o partido acima citado, juntamente com o PTB, tinha espaço cativo em suas publicações. 2.0 Jornal A Voz de Chapecó (05 de dezembro de 1948) Neste artigo, apesar de não aparecer nenhum verbete que possa ser analisado como elogio a Getulio Vargas, ao falar que Nereu Ramos e Salgado Filho poderão ser candidatos a presidente e vice-presidente da República, respectivamente, e com o apoio de Vargas certamente sairão com a vitória, é possível analisar a popularidade que o então Senador tinha pelo Brasil todo. Entende-se que Getulio Vargas é um político admirado em todo o país, fato este que supostamente faz com que qualquer candidato apoiado por ele tenha êxito nas eleições. Quando este artigo foi publicado, a República era comandada por Eurico Gaspar Dutra, que permaneceu no cargo até 1951, sendo substituído pelo próprio Getulio Vargas. A popularidade de Getulio Vargas era grande não só a nível nacional, mas também no município de Chapecó. Em um artigo o autor faz uma crítica sutil à UDN, quando fala que “A União Democrática Nacional resolveu tirar sua mascara [...]”. Observa-se pela expressão “tirar a máscara” que o colunista do jornal fazia oposição a este partido político, já que no linguajar popular, “tirar a máscara” significa deixar sobressair sua verdadeira personalidade, que geralmente é escondida por trás de boas ações. Quando se refere ao PSD, no quarto (apoiador do PTB na candidatura de Getulio Vargas), chama o partido de “organização conservadora e majoritária”. O Dicionário da Língua Portuguesa (1996), nos traz a definição destes dois verbetes. Conservador: adj. Aquele que conserva; [...] adepto do conservadorismo. (BUENO, 1996, p. 158). Majoritário: adj. Relativo à maioria; que conta com a maioria dos eleitores ou representantes nas casas legislativas. (BUENO, 1996, p. 408). Daí já é provada a simpatia que o jornal, de modo geral, tinha pelo Partido Social Democrático, pela forma a qual lhe é tomada a palavra. No mesmo parágrafo, ao divulgar seu apoio ao candidato Getulio Vargas, ainda diz que é um “candidato tácito á futura sucessão na Presidência da Republica”. Sobre o verbete „tácito‟, o Dicionário da Língua Portuguesa nos traz a seguinte definição: “Silencioso; que não se exprime por palavras; implícito; secreto.” (BUENO, 1996, p. 628). Portanto, entende-se que a candidatura de Getulio ainda não era confirmada. Conforme se lê no artigo, o PSD esperava a candidatura de Nereu Ramos ao cargo de presidente e esperava contar com o apoio de Getulio Vargas na eleição, mas também pode-se entender que mesmo se Vargas fosse o candidato, contaria com o apoio do PSD. O presente artigo ainda ressalta que o progresso do Brasil só se dará caso o candidato de algum destes partidos seja eleito, quando se lê “triunfará o Brasil [...] com a candidatura de Nereu”. Candidato do PSD e catarinense, não é estranho que Nereu Ramos fosse o candidato preferido dos chapecoenses para assumir a presidência da República. 4.0 Jornal A Voz de Chapecó (04 de junho de 1950) Este artigo faz uma pequena referência, ainda que indiretamente, a Getulio Vargas. Pode ser analisado como uma simples menção ao ex-presidente, mas também pode ser visto como uma forma de propaganda ao PTB. A pequena matéria do jornal apresenta-se como uma explicação à organização de subdiretórios no município de Chapecó, mas serve como um meio e divulgação ao dizer que Getulio Vargas pertence a este partido. Ao dizer „Grande brasileiro Senador Dr. Getulio Vargas‟, entende-se que o partido sente-se orgulhoso por contar com este político e que a população que filiar-se no partido estará servindo ao povo, assim como fez Getulio. 5.0 Jornal A Voz de Chapecó (10 de setembro de 1950) Este artigo trata das eleições a serem realizadas no estado de Santa Catarina. Até então, o prefeito de Chapecó (Vicente Cunha) e o governador do Estado (Aderbal Ramos) pertenciam ao PSD. Ao modo como são tratados os partidos políticos neste breve texto, entende-se que as pessoas deveriam votar no partido ao qual são militantes (no caso, menciona-se o PTB). Como Carlos Gomes retirou sua candidatura, estavam livres para votarem em outro candidato, mais especificamente Udo Deeke, do PSD, concorrendo contra um candidato da UDN. Aí aparecem, mais uma vez, as críticas contra a UDN, sempre apelando ao nome de Getulio Vargas para um maior poder de convencimento. Ao invés de utilizar chamadas como „a população‟ ou „os simpatizantes do PTB‟, o autor usa o termo „os getulistas‟, afim de uma maior identificação visual àqueles que lerem a matéria. E, como é de costume referir-se a Getulio, o chamam de „grande brasileiro‟, fato que só confirma a popularidade do ex-presidente. 6.0 Jornal A Voz de Chapecó (24/09/1950) Este texto pode ser analisado a partir de seu título. O nome “Getulio Vargas” aparece em destaque na chamada da matéria, o que pode ser uma estratégia para atrair a atenção do leitor a ler um artigo que trata sobre algum assunto relacionado à Vargas. Este texto não faz nenhum apelo à figura de Getulio Vargas. Porém, subentende-se que, pelo simples fato de ser Getulio um apoiador de Nereu Ramos e Udo Deeke, já chamaria a atenção de grande parte da população chapecoense a depositar seus votos nestes dois candidatos. Nesta mesma eleição, Getulio Vargas foi eleito presidente da República pela segunda vez, pelo PTB, contando com o apoio indireto do PSD e vencendo seu maior opositor, Eduardo Gomes, da UDN. 7.0 Jornal A Voz de Chapecó (1950) Esta chamada aos pessedistas de Chapecó aparece em várias edições do jornal A Voz de Chapecó, no ano de 1950. Nos jornais atuais, quando existe alguma chamada de algum partido político, sempre aparece, ao lado do anúncio, uma pequena frase escrita “A pedidos”, informando que aquele anúncio foi publicado a partir do pedido ou venda de espaço de algum interessado pela divulgação. Nesses jornais da década de 50, não aparecem essas frases. Entende-se, portanto, que o anúncio aparecia no início de cada página por vontade espontânea dos proprietários do jornal. Os anúncios, impressos no início de algumas páginas no jornal, era de tamanho e localização estratégica para que o leitor pudesse bem visualizar o que havia ali escrito. 8.0 Jornal O Imparcial (22 de abril de 1951) Este pequeno texto encontra-se no jornal O Imparcial, na edição do dia 22/04/1951. Nele estão, talvez, as maiores provas da popularidade de Getulio Vargas na cidade de Chapecó. No primeiro parágrafo, o autor expressa a alegria da população na passagem do aniversário de Getulio Vargas, usando a frase “festas para toda a Nação Brasileira”, como num ato de festejo por todo o Brasil. No último parágrafo, é ainda melhor expressa a admiração pelo ex-presidente: “em Getúlio Vargas vê o cidadão talhado para Presidente da República, como administrador consciente e verdadeiramente democrático”. Apesar de o jornal chamar-se O Imparcial, o que se vê neste artigo é uma grande parcialidade pendente para o lado de Getulio Vargas e uma grande generalização, logo no início. Quando se fala em “cidadão talhado para Presidente da República”, também se percebe uma desqualificação de outros candidatos a presidentes já que, nesta visão, apenas Getulio Vargas seria merecedor de tal cargo. 3 - Considerações finais Além destes artigos de jornais, Chapecó expressa duas homenagens claras a Getulio Vargas: a principal avenida da cidade leva seu nome (Getulio Dornelles Vargas) e nela encontra-se uma estátua com seu busto. O local onde ela está é privilegiado, em frente aos principais pontos da cidade: a Igreja Matriz Santo Antônio, a estátua O Desbravador, a praça Coronel Bertaso e o prédio da primeira Prefeitura da cidade, que hoje abriga a Fundação Cultural de Chapecó, sendo o único prédio tombado do município. Na placa10 (que está abaixo da estátua, está escrita a seguinte frase: “Uma homenagem dos cidadãos chapecoenses àquele que instaurou o regime democrático no Brasil”. É a partir desta frase que as análises deste trabalho começam a fazer sentido. Quem eram estes cidadãos? A que classe pertenciam? Era uma homenagem, realmente, de toda a população ou apenas de uma camada social? Sabe-se que Getulio Vargas era conhecido por muitos como “O pai dos pobres” e que se utilizava de várias ferramentas para que seu „populismo‟ pudesse atingir as mais diversas camadas sociais por todo o Brasil. Em Chapecó, esta estratégia parece ter dado certo. Considerado por alguns como um ditador, a verdade é que Getulio Vargas conquistou muitos fãs por todo o Brasil enquanto era presidente e sua influência continua até os dias atuais. Nos livros de História, Getulio sempre aparece como o „mocinho‟ e o grande responsável pela modernização e urbanização do Brasil. Cabe a cada um conhecer sua história e analisá-la do viés a que lhe cabe. Referências BELLANI, Eli. Madeiras, balsas e balseiros no rio Uruguai: o processo de colonização do velho município de Chapecó (1917 – 1950). Florianópolis: UFSC, 1991. BUENO, Francisco da Silveira. Dicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD: 1996. CARREIRÃO, Yan. Eleições e sistema partidário em Santa Catarina – 19451975. Florianópolis: UFSC, 1990. Centro de Memórias do Oeste de Santa Catarina (org.). A voz de Chapecó: artigos de Antonio Selistre de Campos. Chapecó: Argos, 2004. D‟ARAUJO, Maria Celina. A era Vargas. São Paulo: Moderna, 2004. HARTMANN, Ivar. Getúlio Vargas. Porto Alegre, Tchê, 1984. HASS, Monica. Os partidos políticos e a elite chapecoense: um estudo do poder local – 1945 a 1965. Chapecó: Argos, 2000. HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos – o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. IANNI, Octavio. O colapso do populismo no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987. LIBERALI, Ricardo Vergílio. Território Federal do Iguaçu: a página esquecida de nossa historiografia regional. Monografia (Pós-Graduação). Universidade do Oeste de Santa Catarina, 2000. MARQUETTI, Délcio. Bandidos, forasteiros e intrusos: história do crime no oeste catarinense na primeira metade do século XX. Chapecó: Argos, 2008. SOARES, Gláucio. Sociedade e política no Brasil. São Paulo: Difel, 1973. SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982. WEFFORT, Francisco. O populismo na política brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. 1 Acadêmica do 7º período do curso de História – Licenciatura Plena, na Universidade Comunitária da Região de Chapecó – Unochapecó. O artigo foi escrito a parir de pesquisa realizada no componente curricular Teoria e Metodologia da História IV, ministrada no primeiro semestre de 2011, pelo Professor Dr. Elison Antonio Paim. E-mail: [email protected] . 2 Professor do Curso de Licenciatura em História da Unochapecó. E-mail: [email protected] . 3 Forma política praticada nos países da América do Sul entre as décadas de 1930 e 1960, caracterizada pelo imenso nacionalismo e apoio às camadas sociais menos favorecidas, independente de partidos ou ideologias políticas. À frente desta política sempre houve um líder carismático reconhecido pela população. 4 Política adotada na República Velha que vigorou entre os anos de 1898 e 1930, onde políticos dos estados de Minas Gerais e São Paulo se revezavam no poder da República. A política tem esse nome devido às principais atividades econômicas dos dois estados na época – São Paulo, grande produtor de café, e Minas Gerais, destaque na produção de leite. 5 Município localizado no oeste de Santa Catarina, criado em 25 de agosto de 1917. 6 Durante a Primeira República, foi uma forte característica da política chapecoense, devido a concentração econômica e ligação com o governo estadual. A violência causada por conflitos políticos era comum nesta época, um exemplo da dominação oligárquica que existia. (HASS, 2000, p. 75). 7 Hegemonia econômica, social e política onde há favorecimentos e perseguições, de acordo com a ideologia política. 8 Antonio Selistre de Campos, gaúcho de Santo Antônio da Patrulha, chegou em Chapecó em 1931, sendo um dos primeiros juízes de Direito da Comarca da cidade. Ajudou a fundar, em 03 de maio de 1939, juntamente com Ernesto Francisco Bertaso, Cid Loures Ribas e Vicente Cunha, o jornal “A Voz de Chapecó”, que relatava acontecimentos locais, regionais e estaduais. Ele também escrevia artigos para este jornal. 9 Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina. Fundado em 1986, é um dos primeiros programas de extensão da então Fundeste (Fundação Universitária do Oeste), atual órgão mantenedor da Universidade. 10 Devido a obras de revitalização da Avenida Getulio Vargas, a placa que fica abaixo do busto de Getulio foi retirada para provável restauração. Até o dia de entrega deste artigo, ainda não havia voltado ao seu lugar. Portanto, não sabe-se a data em que foi colocada neste local.