gastronomia o chef mais criativo do mundo the most creative chef in the world O catalão Ferran Adrià, do estrelado restaurante elBulli, diz que é apenas um cozinheiro. Mas provocou uma revolução que ultrapassou a fronteira da gastronomia e foi parar no maior evento de arte contemporânea do mundo, a Documenta de Kassel // Catalan chef Ferran Adrià, of the three star elBulli restaurant, says he’s nothing but a cook. But he managed to provoke a revolution that exceeded the limits of gastronomy and ended up at the world’s most important modern art event: Documenta, in Kassel Por / by Adriana Carvalho, de / from Barcelona 44 gastronomy 45 gastronomia E como é criar, não copiar, todo o tempo, há 21 anos? Criar e não copiar significa ser honesto. A influência e a inspiração sempre existem, mas é preciso ser honesto. Isso é o mais importante. O processo criativo é simples: você tem uma idéia e a desenvolve. Se funciona, fazemos um prato. Por outro lado é complexo, porque precisamos de meses para esse desenvolvimento. Na época desta entrevista, às vésperas da abertura da estação 2008 do melhor restaurante do mundo (segundo a respeitadíssima revista inglesa Restaurant), com três estre- "criar e não copiar significa C arrer Carmen is a narrow street, right of Rambla and close to the flavors and fragrances of the Boqueria market. When ringing the bell of the modest building at number 15-17, no need to be announced: the door opens and a staircase leads to the upper floor. This is where elBullicarmen is located, the headquarters of the man acclaimed as the greatest chef in the world. Wearing a grey suit and a black shirt, there is Ferran Adrià, pacing and talking excitedly on the phone. On the unpainted brick wall there is a huge amount of magazine covers and newspaper articles about him. Tableware, samples with the fantastic caramel confectionery by pastry chef Christian Escribà and shelves filled with books on elBulli restaurant complete the décor. To the hand extended for a formal greeting Adrià reacts with two kisses on the cheek. Conversation is directed toward creativity, a theme that is the basis of his work. In 1987, after taking charge of elBulli’s kitchen, Adrià assisted a lecture given by French chef Jacques Maximin, who mentioned a very simple concept, but something he adopted to the full: “Creativity is being original”. How does that work, being original for 21 year? To create and not to copy others is to be honest. Influence and inspiration have always been a fact, but it’s imperative to be honest. The creative process is simple: you have an idea and you develop this idea. If it works, we have a new dish. This is a complex issue, as we need time for this development. At the time of this interview, just before the opening of the 2008 season (from April to October) of the best restaurant in the world (according to Restaurant, the reverenced English magazine), with three stars in the Michelin Guide, Adrià confessed not having an idea what he would serve to the lucky patrons who succeeded in getting a res- fotos: Francesc guillamet e maribel ruíz de erenchun A Carrer Carmem é uma rua estreita, à direita de quem desce a Rambla e muito próxima dos cheiros e sabores do mercado da Boquería. Ao tocar a campainha do modesto prédio no número 15-17, não é necessário se anunciar: a porta se abre e uma escada conduz ao andar superior. É ali que fica elBullicarmen, o escritório daquele que é aclamado como o maior cozinheiro da atualidade. Terno gris, camisa negra, lá está Ferran Adrià, andando e falando agitadamente ao telefone. As paredes de tijolo aparente estampam uma infinidade de capas de revistas e jornais com reportagens sobre ele. Louças, um mostruário com os fantásticos anéis de caramelo do confeiteiro Christian Escribà e estantes com livros do restaurante elBulli preenchem o ambiente. À mão que se estende formal para o cumprimento, Adrià corresponde com dois beijos no rosto. A conversa envereda, então, pela criatividade, tema que é a pedra fundamental de seu trabalho. Em 1987, depois de assumir o comando da cozinha do elBulli, Adrià assistiu a uma conferência com o chef francês Jacques Maximin, que disse uma frase à primeira vista tão simples, quase óbvia, mas que ele adotou como norte: “Criatividade é não copiar.” las no Guia Michelin, e que só funervation for this year. The reason for ser honesto. a influência e a ciona entre abril e outubro, Adrià this is because the creative process inspiração sempre existem, mas é at elBulli’s begins with the investigadizia ainda não saber que novidades daria de comer aos sortudos tion of the ingredients and the culipreciso ser honesto. para mim isso que conseguiram uma reserva panary possibilities during the months é o mais importante // To create ra este ano. Isso porque o proceswhen the restaurant is closed, but so criativo do elBulli começa com continues with the improvement of and not to copy others is to be uma investigação de ingredienthe dishes even after the opening of tes e possibilidades culinárias du- honest. Influence and inspiration the place. “Presently one of our teamrante os meses que o restauranmates is in Japan. Albert, my brothhave always been a fact, but it’s te está fechado e continua com o er, is searching for new stuff and so imperative to be honest. For aperfeiçoamento dos pratos mesam I. The first day at elBulli’s we’ll be mo depois que ele abre as portas. serving the 2007 menu. Along the me this is what matters” “Temos uma pessoa da equipe no way we’ll substitute some of the dishJapão. Albert, meu irmão, está es for new ones, just like if we were pesquisando não sei o que; eu busco outras coisas. No prito change the paintings on the wall. That’s why when peomeiro dia do elBulli começaremos com o menu de 2007. Ao ple ask me “what will be new at elBulli’s in 2008?”, I say: longo do tempo, vamos substituindo alguns pratos antigos “Don’t know. We are always in a creative process. Our aim por outros novos, como se mudássemos os quadros da pais a well controlled chaos”. rede. Por isso, quando alguém pergunta ‘o que haverá no ElBulli em 2008?’, eu digo: ‘não sei’. Continuamente vamos But do you have ideas of ingredients or dishes to be introcriando. Buscamos o caos controlado”, diz Adrià. duced this year? Four hundred ideas! Mas já tem idéias de ingredientes ou coisas que queira inHundreds of ideas and a small conviction: patrons nowtroduzir neste ano? Quatrocentas idéias! adays experiment less of what is called “deconstruction” of dishes than they used to do before. This is just one of Centenas de idéias, mas uma pequena certeza: os comenAdrià’s many inventions and a very well known one at that: sais de hoje provam menos da chamada “desconstrução” it’s by his own definition the fusion of avant garde cuisine dos pratos do que os convidados de anos anteriores. Essa with the gustatory memory. It’s to eat something, for exque é só uma das muitas invenções de Adrià e também esample, that does not look like a potato pancake, but tastes tá entre as mais famosas, é definida, segundo ele mesmo, like potato pancakes (this is one of his first deconstruccomo a união de uma cozinha de vanguarda com a memória gustativa. É comer algo, por exemplo, que não se pareCenas de um dia no elBulli, na cidade espanhola de Roses, à beira do Mediterrâneo. Adrià medita e cria em seu caos controlado // An ce uma tortilla de batatas, mas tem gosto de tortilla de baeveryday scene at elBulli’s, in the Spanish town of Roses, by the tatas (essa é uma de suas primeiras desconstruções). “HoMediterranean. Adrià mediatates and creates in his controlled chaos gastronomia No começo dos anos 70, enquanto a nouvelle cuisine em 1980, quando ele decidiu largar os estudos e trabalhar dava novos rumos à gastronomia mundial, Ferran Adrià para poder passar férias em Ibiza. Tornou-se lavador de divertia-se jogando futebol pelo clube catalão Juventud de pratos e depois iniciou-se na cozinha clássica. Mas foi durante l’Hospitalet. Era um menino normal, o que significa dizer o tempo em que prestou serviço militar que teve a primeira não muito gourmet, aponta o currículo do chef. Pois foi experiência como responsável por uma cozinha. Seu encontro justamente esse menino que viria décadas depois romper a com o elBulli se deu em 1983, quando conseguiu um estágio hegemonia francesa na culinária. Sua revolução, segundo no restaurante e conheceu Juli Soler, na época chefe de salão o crítico Josimar Melo, foi ainda mais radical do que a e atualmente seu sócio. Hoje, a assinatura de Adrià extrapola da nouvelle cuisine. Enquanto a dos franceses pregava a o elBulli: está em produtos e kits de cozinha vendidos para rejeição ao excesso de complicação na preparação de pratos cozinheiros amadores, em linhas de azeite da marca Borges, e combinações mais criativas de ingredientes, a de Adrià cafés da Lavazza e até em uma rede de fast-food mantida pela trouxe inovações como a desconstrução e técnicas como a rede espanhola de hotéis NH. Mas não é qualquer fast-food, esferificação. O encontro de Adrià com a culinária aconteceu chama-se Fast Good, com muita propriedade. At the beginning of the 70’s, while the nouvelle cuisine was washing dishes in a restaurant and later went to learn leading world gastronomy in a new direction, Ferran Adrià classical cuisine. His first experience of being responsible was having fun, playing soccer for the Catalan club named for a kitchen came when he was doing military service. Juventud de l’Hospitalet. He was “a normal boy, meaning His encounter with elBulli happened in 1983, when he got he was no gourmet”, states the chef’s resumée. A few an internship at the restaurant and met Juli Soler, who decades later this young man would break the hegemony of worked as a chief supervisor in those days – now they’re French cuisine. His revolution, according to critic Josimar partners. Adrià’s signature is on products and kitchen Melo, was even more radical than that of the nouvelle utensils marketed for amateur cooks, in olive oils for the cuisine. While the French revolution ruled out the excesses Borges brand, Lavazza coffee and even a fast food network in the preparation of dishes and sought more creative use belonging to the NH Spanish hotel network. But it’s not any of ingredients, Adrià’s brought innovations such as the fast food, it’s named most appropriately – Fast Good. concept of deconstruction and of spherical techniques into the craft of cooking. Adrià’s first encounter with cooking happened in 1980, when he decided to drop out of school and get a job so that he could spend time in Ibiza. He started 48 gastronomy A criatura — um prato com beterraba em diferentes texturas e formas — e o criadior, em seu escritório, em Barcelona // The creature — a dish with beetroots in different shapes and forms — and its creator, in his Barcelona office. foto adrià: markito serzedo a revolução adrià // The Adrià revolution Margarita, drink do menu de 2005, e Fresa LYO con parmesano-nitro: duas “obras” do elBulli // “Margherita”, drink from the 2005 menu and “Fresa LYO con parmesano-nitro”: two of elBulli’s “masterpieces”. tions). “Nowadays we don’t do much deconstruction at elBulli’s, because people are so used to it”, Adrià explains. je, há pouca desconstrução no elBulli, porque as pessoas já estão acostumadas com ela “, explica Adrià. Dishes served at elBulli’s are considered works of art. And not on account of expensive ingredients. “Adrià can show his expertise in products as simple as chicken’s feet”, says gastronomy critic Josimar Melo. In his creative catalog one can find crazy little things like effervescent lollipops. And super displays of originality like cold consommé of tucupi with passion fruit morsels. Not to mention his famous mousses. It’s inevitable that he should be compared with other great artists, such as Picasso. Adrià, who was born 45 years ago at l’Hospitalet of Llobregat, a town in the province of Barcelona, says that “ it’s fantastic to have recognition like this, but I’m a cook, not a painter”. Os pratos do elBulli são considerados obras de arte. E não é porque privilegiam os ingredientes caros. “Adrià explora com maestria produtos tão simples como um pé de galinha”, diz o crítico de gastronomia Josimar Melo. No “catálogo” de criações estão pequeñas locuras, como pirulitos efervescentes. E grandes espetáculos como consomé gelado de tucupi com “migalhas” de maracujá. Sem falar nas famosas espumas. Inevitável que seja comparado a outros grandes artistas, como Picasso. Adrià, nascido há 45 anos em l’Hospitalet de Llobregat, uma cidade da província de Barcelona, diz que é fantástico ser visto dessa forma, mas... Do you think of yourself as an artist? What is an artist “Sou um cozinheiro, não sou pintor”, diz. anyhow? To me cooking is an expression of myself. Some people think I’m an artist, other E se considera um artista? Bom, don’t. I am… a cook. que é ser uma artista? Para mim "para mim náo é tão importante a cozinha é uma linguagem que Your cooking style has phases definir se a cozinha é arte ou serve para eu me expressar. Allike Picasso had in his paintguns acham que sou artista, ouing? Oh yes, I have my books, não. Ela é uma disciplina que tros não. Eu... sou cozinheiro. with thousands of pages of our pode estar ao lado do design, phases at elBulli’s year after A sua cozinha tem fases, coyear. da pintura, da música. pode se mo Picasso teve as fases dele interligar com todas elas na pintura? Sim, tenho meus liIn what kind of phase are you vros, com milhares de páginas now? In the phase of taking porque é uma linguagem" // For sobre nossas fases no elBulli pleasure in cooking. As I’ve said me it’s not really important to ano a ano. a million times, we must dream and simply enjoy the pleasure define cooking as art or not. E em que fase você está agora? of cooking. It’s a language that can be Na fase de desfrutar do prazer cozinhando. Como já disse mil vezes, Adrià, the cook who’s not a interconnected to design, nós devemos sonhar e aproveitar o painter, was the first profespainting or music.” prazer de cozinhar, simplesmente. sional of his trade to be invit- 49 gastronomia Em sentido horário: globos de água de rosas, folha crocante de manga, caipirinha-nitro com concentrado de estragão e caracoles a la llauna // Clockwise: goblets with rose water, mango crisps, caipirinha-nitro with tarragon and “caracoles a la llauna” Adrià, o cozinheiro que não é pintor, foi o primeiro de seu métier a ser convidado para participar do mais importante evento de arte contemporânea do mundo, a Documenta de Kassel. No ano passado, o elBulli, a 1 500 quilômetros da Alemanha, se converteu em um dos pavilhões da exposição. A cada noite, dois convidados da Documenta provavam as obras, ops, os pratos servidos em forma de menu degustação. No restaurante, onde um jantar custa cerca de 200 euros por pessoa (mais de R$ 500), não se escolhe o que se quer comer: os garçons apenas perguntam antes de servir se o cliente tem alguma restrição alimentar, anunciam os nomes dos pratos quando eles chegam à mesa e orientam como devem ser comidos. Cozinha é arte ou não? Que tal a experiência na Documenta? Foi muito importante, porque demandou uma longa reflexão sobre a criatividade. Mas quando me convidaram, eu disse que cozinha não é museu. [Por isso a Documenta foi ao elBulli e não vice-versa] . Para mim, não é tão importante definir se a cozinha é arte ou não. Ela é uma disciplina que pode estar ao lado do design, da pintura, da música. Pode se interligar com todas elas, porque é uma linguagem. Richard Hamilton [um dos papas da pop art] e Vicente Todoli, diretor da Tate Modern, estão fazendo um livro sobre a participação de elBulli na Documenta. Então, saberemos qual a impressão que outras pessoas tiveram sobre isso. Adrià se diz enamorado do Brasil. Já veio conferir nosso carnaval, em 1988. Morre de vontade de visitar a Amazônia. Mas tem medo. “Sei que vou me apaixonar pelos produtos e depois não vou poder tê-los aqui. Precisaria haver uma conexão melhor para a importação de produtos frescos.” Você vai ao Brasil neste ano? Sempre me convidam. Este ano tenho de ir [o chef deve vir em novembro para o evento Mesa Tendências]. Adoro o Brasil, seus jogadores de futebol e seus gourmets. Os melhores gourmets do mundo estão no Brasil. 50 gastronomy Nhoque esférico de batata com consomé de casca de batata assada e biscoito de gergelim // Potato dumplings with consommé made with baked potato peel and sesame seed cookies ed to participate in the most important contemporary art event in the world, Documenta, in Kassel. Last year, elBulli, at a 1000 miles distance from Germany became one of the pavilions of the exhibition. Each evening, two guests from Documenta were invited to savor the special sample menu. At the restaurant, where dinner costs around 200 euros per person (in excess of R$ 500) patrons do not order their food: waiters simply ask if the client has some special restriction, then announce the name of the dishes as these are served and give orientation on how they should be eaten. Is cooking an art or not? How was your experience at Documenta? It was very important, as it demanded a long reflection on creativity. However, when I received the invitation I told them that a kitchen is not a museum. (This is why Documenta went to elBulli and not vice-versa). For me it’s not really important to define cooking as art or not. It’s a language that can be interconnected to design, painting or music. Richard Hamilton (the father of pop art) and Vicente Todoli, director of Tate Modern, are working on a book about elBulli’s participation at Documenta. Then we’ll know what kind of impression other people had on this. Adrià is totally besotted with Brazil. He came to enjoy our Carnival in 1988. He’d love to visit the Amazon, but is afraid to. “I know I will fall in love with their produce and then I won’t be able to have them here. It would be necessary to have a better connection to import fresh products”. Are you going to Brazil this year? I’m always invited, this year I must go. (the chef is supposed to come in November for the Mesa Tendências event). I love Brazil, its soccer players and gourmets. The best gourmets in the world are in Brazil. 51 gastronomia Documenta. Eu nunca desejei nada disso. E isso é interessante de se analisar: como consigo algo sem buscá-lo? Sei que muita gente gostaria de ser o número 1, e quando consegue chegar um pouquinho abaixo, ao número 2, já não fica feliz. E você? É feliz? Sim, eu consegui mil vezes mais do que poderia sonhar. Há algo que deseja para o futuro? Continuar como estou. Mas uma coisa é fato: o fenômeno Ferran Adrià está durando muito tempo. Não é normal. Jack Nicholson não ficou anos ganhando o Oscar. E para nós o que acontece é que há anos estamos ganhando o Oscar. Você gostaria de assistir a uma nova revolução na gastronomia? Me encantaria. Mas isso não é fácil de ocorrer. Houve a revolução da nouvelle cuisine, depois a minha. Outra agora e em tão pouco tempo é muito improvável. Porém, se não acontecer, estaremos aí demasiado tempo. Eu não quero mais estar na crista. Estou contente, mas aconteça o que acontecer, já estou aí. Adoraria ver algo novo surgir. Eu me alimento disso. E posso ser generoso. Só não é generoso quem ainda não chegou lá. Sopa de letras sólida e cor-de-rosa, uma das sobremesas do elBulli, onde nada é o que parece ser // Alphabetsoup, solid and pink — a famous desserts at elBulli’s, where nothing is what it looks like Por que? Não sei por quê. É como acontece com os jogadores de futebol, não sabemos porque há tantos e tão bons no Brasil. O paladar do brasileiro é diferente, talvez. Não sei. Quais seus ingredientes brasileiros favoritos? As frutas. O palmito me encanta. E o tucupi [caldo extraído da mandioca, usado na culinária do norte do Brasil]. Pensa em fazer consultoria em restaurantes no Brasil? Não. Acho que devemos deixar a gastronomia do Brasil com os brasileiros, que são muito criativos. Há gente como o Alex Atala e outros chefs jovens que estão criando a cozinha brasileira contemporânea. “Ele é um cara supergeneroso. Abriu um grande espaço para a culinária latino-americana”, diz Alex Atala, proprietário e chef do D.O.M., que tem grande admiração pela personalidade e pelo trabalho de Adrià. Segundo ele, a revolução do chef catalão levou as pessoas a comer com os cinco sentidos. E também a usar o intelecto, a refletir melhor sobre os atos de cozinhar e de se alimentar. Como é chegar aonde você chegou, lidar com o assédio, com a fama? O melhor é não ligar para isso. Muitos gostariam de estar na capa do New York Times, de ser convidados para ir à 52 gastronomy like to be number 1. and when they get to be only number 2, they’re not happy. What about you? Are you happy? Yes, I got a thousand times more than I have ever dreamed of. What do you wish for the future? To go on as I am now. One thing is a fact: the Ferran Adrià phenomenon has been lasting for a long time. It’s not normal, Jack Nicholson did not get an Oscar, year after year. But for us this is exactly what is happening – we have been winning an Oscar for many years. Would you like to see a new revolution in the field of gastronomy? I would be delighted. But this is not easy to happen. There was the nouvelle cuisine revolution, then there was mine. Another one in such short time, is unlikely. But if there’s no new revolution, then we’ll be at the top far too long and I’ve had enough. I’m happy, but I’m already there, I have arrived. I’d love to see something new come up. This is what I feed on. I can afford to be generous. Only those who have not yet arrived to the top can’t be generous. Why is that? I don’t know. It’s just like with soccer players, we don’t know why so many good ones are from Brazil. Perhaps Brazilian taste buds are different. What are you favorite Brazilian ingredients? The fruit. Heart of palm is wonderful. And tucupi (gravy extracted from cassava, much used for cooking in the North of Brazil). Do you consider working as a consultant for Brazilian restaurants? No. I think one should let Brazilians do their own gastronomy as they’re very creative. There are people like Alex Atala and other young chefs who are developing a contemporary Brazilian cuisine. “He’s a most generous person. And he opened an important space for Latin-American cuisine”, says Alex Atala, chef of restaurant DOM, expressing great admiration both for Adrià’s personality and his work. According to Atala, the Catalan chef’s revolution made people start to eat with their five senses. And also to use their minds, to reflect better about the act of eating and of cooking. How do you feel about your fame and people always being around you? Best is not to make much of this. Many people would like to be on the cover of the New York Times, or be invited to the Documenta. I’ve never wanted any of it. It’s interesting to analyze this: how can you get something you never wanted? I know of many people who would 53