UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Dissertação de Mestrado em Ensino de Educação Física nos Ensino Básico e Secundário PAULO CARLOS FERREIRA DA SILVA Orientador: Professor Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira Vila Real, 2014 UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Dissertação de Mestrado em Ensino de Educação Física nos Ensino Básico e Secundário Paulo Carlos Ferreira da Silva Orientador: Professor Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira Vila Real, 2014 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Dissertação apresentada à UTAD, no DEP- ECHS, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, cumprindo o estipulado na alínea b) do artigo 6º do regulamento dos Cursos de 2º Ciclos de Estudos de Estudo em Ensino da UTAD, sob orientação do Professor Doutor Antonino Manuel de Almeida Pereira. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página I Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Paulo Carlos Ferreira da Silva Página II Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Agradecimentos Para a consecução deste trabalho de investigação foi determinante o apoio de um conjunto de pessoas às quais gostaria de agradecer e demonstrar o meu apreço. Agradeço à minha família pela compreensão que tiveram e pelas palavras de incentivo. À minha mulher, Paula, e ao meu filho, Bernardo, por estarem sempre presentes e serem a minha fonte de motivação. Aos meus amigos pelo carinho, apoio e solidariedade que me dedicaram. Aos meus colegas, Mário Castro, Jorge Arede e Luís Oliveira pela colaboração na realização deste trabalho. Aos clubes onde treinei, ao Colégio onde ensino, por contribuírem em muito para aquilo que sou hoje. Às atletas, treinadores e selecionadores que possibilitaram a execução deste trabalho, que por razões de sigilo mantenho em anonimato, que partilharam as suas experiências, os seus conhecimentos e objetivos. Um agradecimento especial: Ao Professor Doutor Antonino Pereira pela valiosa orientação deste estudo. Agradeço a sua dedicação, interesse, paciência e total disponibilidade, sem a qual não teria sido possível a realização do mesmo. A TODOS O MEU SINCERO OBRIGADO! Paulo Carlos Ferreira da Silva Página III Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Paulo Carlos Ferreira da Silva Página IV Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Resumo Conhecendo a exigência intrínseca à prática de desporto de alto rendimento e à formação académica, importa investigar quais as principais contingências que decorrem do seu exercício em simultâneo. Este trabalho de investigação pretendeu aquilatar junto das alunas-atletas quais as dificuldades que estas vivenciam no seu dia-a-dia, que estratégias utilizam e que soluções apontam para articular, com sucesso, a formação académica com a prática de desporto de alto rendimento. O presente estudo teve o seu enfoque em dez atletas em percurso de alto rendimento, do género feminino, com presença regular nas seleções nacionais de basquetebol. As referidas atletas, durante o ensino secundário, frequentaram os Centros de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Basquetebol e, neste momento, são simultaneamente estudantes do ensino superior e jogadoras da Liga Feminina. As suas idades estão compreendidas entre os 18 e os 23 anos. O estudo desenvolvido é de carater qualitativo, sendo a recolha de dados efetuada através de entrevistas semiestruturadas. A técnica de análise de dados utilizada foi a análise de conteúdo. As principais conclusões mostram que: i) a frequência durante o ensino secundário de um Centro de Alto Rendimento foi crucial para a sua formação e performance desportiva; ii) as medidas de apoio mais usadas durante o ensino secundário foram a justificação de faltas, a alteração de exames e as aulas de compensação; iii) as maiores dificuldades de conciliação do desporto de alto rendimento e a formação académica foram a falta de tempo, o cansaço, a fadiga e o desgaste provocado pelas deslocações diárias; iv) consideram que seriam melhores atletas se não estudassem; v) as principais medidas de apoio solicitadas para o ensino superior foram: alteração dos critérios de atribuição do Estatuto de Atleta de Alto Rendimento, melhoria da comunicação entre a federação e a universidade e introdução nas universidades de regimes de tutoria; vi) elaboram estratégias de articulação dos estudos com o desporto focadas, principalmente, na resolução nos problemas do dia-a-dia e vii) avaliam a conciliação do desporto de alto rendimento com a formação académica como possível. Palavras-chave: Formação académica, alto rendimento, articulação, medidas de apoio, tutoria; basquetebol. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página V Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Paulo Carlos Ferreira da Silva Página VI Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Abstract Being aware of the demands of high performance sports and academic education at the same time, it’s essential to address the main contingencies derived from doing both simultaneously. The objective of this research was to determine the difficulties that these students-athletes face on a day-to-day basis, how they cope and what strategies they use to successfully juggle their classes with the practice of a high performance sport. This study was focused on ten high performance athletes, all females, who are regularly called upon to represent the national basketball teams. During high-school, these athletes attended Portuguese Basketball Federation’s High Performance Centres and, at the moment, are, simultaneously, university students and basketball players in the Women’s League (Liga Feminina). Their ages range from 18 to 23 years old. This is a qualitative study and the data were gathered through semi structured interviews. The data analysis technique used was content analysis. The main conclusions are: i) attending a High Performance Centre during high-school was essential to their sport performance; ii) the strategies more commonly used during high-school were justification of their absence from classes, postponing exams and make-up classes; iii) the biggest problems in juggling the high performance sport with high-school were lack of time, fatigue, tiredness and weariness from the daily travels; iv) they think they would be better athletes if they didn’t have to attend classes; v) the main support measures requested for them to attend University were: changing the criteria for the Legal Status as High Performance Athlete (Estatuto de Atleta de Alto Rendimento), improving the communication between the Federation and the University and having tutorial systems in the University; vi) they create strategies to juggle their academic education with practicing the sport which mainly focused in day-to-day problems, and vii) they consider that it is possible to practice a high performance sport and study at the same time. Keywords: Academic education, high performance, juggling, institutional support measures, tutorial system, basketball. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página VII Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Paulo Carlos Ferreira da Silva Página VIII Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Índice Geral Agradecimentos …………………………………………………….. III Resumo …………………………………………………………….... V Abstract …………………………………………………………….... VII Índice Geral …………………………………………………………. IX Índice de Quadros ………………………………………………….. XI Índice de Figuras …………………………………………………… XIII Índice de Anexos …………………………………………………… XV Abreviaturas ……………………………………………………….. XVII 1 Introdução ……………………………………………………. 1 2 Desporto ……………………………………………………… 7 2.1 Conceitos …………………………………………………… 8 2.2 A Dimensão Social do Desporto ……………………….… 11 3 Alto Rendimento Desportivo ……………………………… 15 3.1 Conceitos de Desporto de Alto Rendimento …………… 16 3.2 Enquadramento Normativo ………………………………. 18 3.3 O Processo de Preparação dos Atletas de Alto Rendimento ……………………………………………….. 23 3.4 Medidas de Apoio à Prática Desportiva de Alto 4 5 Rendimento ………………………………………………… 29 Alto Rendimento e Sucesso Escolar ……………………. 33 4.1 Articulação entre Alto Rendimento e Sucesso Escolar... 34 Investigações Desenvolvidas Nesta Temática ………… 43 Paulo Carlos Ferreira da Silva Página IX Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Metodologia ………………………………………………….. 55 6.1 Introdução.……………………..…………………………… 56 6.2 Campo de Estudo …………………………………………. 57 6.3 Instrumento de Pesquisa …………………………………. 61 6.4 Procedimentos …………………………………………….. 63 6 6.5 Técnica de Tratamento de Dados ……………………….. 64 Apresentação e Discussão dos Resultados …………… 71 7.1 Introdução ………….………………………………………. 72 7 7.1.1 Domínio I – Experiência Pessoal …………………… 73 7.1.1.1 Experiência Desportiva …….……………………. 73 7.1.1.2 Experiência Académica …….…………………… 78 7.1.1.3 Inserção no Mercado de Trabalho …………….. 82 7.1.2 Domínio II – Apoios e Dificuldades ………………… 85 A – No Ensino Secundário 7.1.2.1 Usufruto de Medidas de Apoio …………………. 85 B – No Ensino Superior 7.1.2.2 Principais Dificuldades …………………………... 88 7.1.2.3 Usufruto de Medidas de Apoio …….…………… 91 7.1.2.4 Alterações de Comportamento na Escola …….. 92 7.1.3 Domínio III – Conceção dos Apoios e Dificuldades.. 94 7.1.3.1 Apoios …………………………………………….. 94 7.1.3.2 Perceção da Articulação …….………………….. 99 7.1.3.3 Condicionamento do Alto Rendimento ………... 108 8 Conclusões …………………………………………………... 113 9 Bibliografia …………………………………………………… 123 10 Anexos ………………………………………………………... XIX Anexo 1 – Guião de Entrevista ……………………………… XX Paulo Carlos Ferreira da Silva Página X Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Índice de Quadros Quadro 1 – Caracterização Geral das Atletas ………………………… 58 Quadro 2 – Caracterização da Prática Desportiva das Atletas …….. 59 Quadro 3 – Caracterização da Experiência Desportiva das Atletas… 60 Quadro 4 – Caracterização da Formação Académica das Atletas …. 61 Quadro 5 – Domínios Temáticos Vigentes ……………….…………… 72 Quadro 6 – Distribuição das Categorias pelas Componentes do Estudo …………………………………………………………………….. Paulo Carlos Ferreira da Silva 73 Página XI Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Paulo Carlos Ferreira da Silva Página XII Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Índice de Figuras Figura 1 – Domínio I – Experiência Pessoal ………………………….. 66 Figura 2 – Domínio II – Apoios e Dificuldades no Ensino Secundário 67 Figura 3 – Domínio II – Apoios e Dificuldades no Ensino Superior … 68 Figura 4 – Domínio III – Conceção dos Apoios e Dificuldades ……... 69 Paulo Carlos Ferreira da Silva Página XIII Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Paulo Carlos Ferreira da Silva Página XIV Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Índice de Anexos Anexo 1 – Guião de Entrevista …………….………………………… Paulo Carlos Ferreira da Silva XIX Página XV Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Paulo Carlos Ferreira da Silva Página XVI Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Abreviaturas Atl – Atleta CNT – Centro Nacional de Treino CAR – Centro de Alto Rendimento FPB – Federação Portuguesa de Basquetebol IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude LBD – Lei de Bases do Desporto LBSD – Lei de Bases do Sistema Desportivo Paulo Carlos Ferreira da Silva Página XVII Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Os pássaros Paulo Carlos Ferreira da Silva Página XVIII Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol INTRODUÇÃO Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 1 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol 1 Introdução “A excelência dos atletas no desporto é aceite ser o resultado do grande esforço e treino relevante, o mais próximo possível das exigências da competição, o desempenho em períodos correspondentes a etapas críticas do desenvolvimento cognitivo e biológico e nos ambientes propícios ao desenvolvimento do domínio das habilidades” (Maia, 2010, p.2). Coelho (2007, p.243) afirma que, para se atingirem resultados de exceção é imperativo os atletas “se dedicarem exclusivamente ao treino e até de se profissionalizarem, fruto das elevadas exigências do desporto de alto rendimento” Neste sentido, Vasconcelos (2003, p.8) declara “não haver dúvidas quanto à incompatibilidade entre a entrega ao desporto a um nível de alta competição e a formação universitária”. Menciona, ainda, que “ para se fazer desporto ao mais alto nível, o atleta deve deixar tudo para trás”. Reforçando esta ideia, Lima (2002, p.12) expressa que para se poder ser atleta de alto rendimento é necessário “ consagrar os anos de juventude, com total disponibilidade e assunção dos mais diversos sacrifícios, às atividades do treino e da participação competitiva, em detrimento da vida académica ou da vida profissional, suportando importantes hiatos na vida social e na luta pela subsistência económica, assim como na sua vida familiar”. “As exigências a que os atletas de alta competição são submetidos, quer ao nível do processo de treino, quer ao nível das prestações desportivas, criamlhes diversas dificuldades, sendo, por vezes, muito difícil conciliar as atividades educativas e a prática desportiva” (Zenha et al., 2009, p.1). Neste sentido o que pretendemos aquilatar é qual a relação existente entre rendimento escolar e o rendimento desportivo. Numa relação dialética que tipos de influência estabelecem entre si. Quais os aspetos positivos e negativos que podemos retirar duma vivência em simultâneo de duas atividades tão exigentes. Dias (2013, p.56) alude que “o sucesso desportivo e sucesso escolar possuem um caráter ambivalente, que marca presença na maioria das vezes, ao longo do trajeto desportivo dos atletas de alta competição, pois a prática da modalidade inicia-se em idades jovens e abrange a idade escolar.” Neste contexto, Pérez & Aguilar (2012, p.203) atestam que “ao esforço que implica a realização de todas as atividades inerentes à prática desportiva, os estudantes desportistas têm que juntar as que derivam do seu processo Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 2 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol formativo. Uma situação semelhante vive-se, também, no seu inverso, uma vez que os estudantes, para além de terem que cumprir com o seu processo de aprendizagem, têm que dedicar uma parte importante do seu tempo à atividade desportiva, o que compromete as possibilidades de obterem um rendimento académico excelente.” Todas as contingências enunciadas tomam uma dimensão de exigência mais elevada quando os alunos-atletas se encontram a frequentar o ensino superior. Sobre este assunto, Vasconcelos (2003, p.9) menciona que “continuamos a assistir a abandonos precoces, precisamente nos períodos críticos de uma carreira desportiva, ou seja, no início da fase da obtenção dos grandes resultados de expressão internacional, que acabam por coincidir com a transição para o ensino superior, com os prejuízos de vária ordem daí decorrentes.” “Compatibilizar estas duas atividades, contudo, não é uma tarefa fácil devido ao alto grau de exigência que para estes estudantes implica competir ao mais alto nível e, ainda, cumprir com as exigências do ensino universitário” (Pérez & Aguilar, 2012, p.202). Ruiz et al. (2008) afirmam que existe uma correlação negativa entre os estudos e o rendimento desportivo, dado que o processo formativo dificulta de forma significativa a prática desportiva. Pérez & Aguilar (2012) relevam que a vida de desportista de alto rendimento é curta e são poucos os que, depois de se retirarem de competição, conseguem manter atividades profissionais ligadas ao desporto. Daí a importância de ajudar os estudantes desportistas de alto nível a definir, de forma progressiva e continua, um projeto de vida onde seja possível compatibilizar a atividade desportiva e a formação académica. O desenvolvimento desse plano permitiria que, no fim da prática desportiva ativa, cada um pudesse progredir no campo profissional para o qual se tivesse preparado. Neste sentido, Vilanova & Puig (2013, p.65) afirmam “que a compaginação da carreira desportiva com a carreira académica é uma questão de estratégia. Se se desenvolve uma estratégia é possível compaginar os estudos com o desporto; se não, a conciliação não é possível.” Assim, Pérez & Aguilar (2012, p.211) afirmam que “a melhoria dos processos de formação e da prática desportiva destes estudantes requer mudanças que se enraízem progressivamente e que sejam assumidas por todos”. Defendem que estas alterações devem começar “pela instituição universitária, que tem de agir de forma determinada a favor da igualdade de Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 3 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol oportunidades, aprovando normativos e ações específicas para estes estudantes”. Passando depois para “os orientadores, professores e tutores, que devem facilitar o acesso à informação, adaptar o ensino à realidade de cada aluno e disponibilizar os recursos necessários para compensar as dificuldades que decorrem desta vida dupla.” Acrescentam ainda que “ a desatenção perante estas situações pode influenciar a consecução dos objetivos pessoais dos alunos e conduzir a situações de fracasso ou abandono dos estudos ou do desporto”. É neste contexto que projetos universitários sensíveis a esta temática assumem grande importância na implementação de mudanças, na disponibilização de recursos que promovam uma melhor coabitação entre as exigências do estudo com as do desporto. “O estudo e o desporto complementam-se e potencializam-se reciprocamente na formação do indivíduo. A prática desportiva de alto rendimento constitui um importante fator de desenvolvimento desportivo. Com efeito, é incontroverso que o alto rendimento desportivo, como paradigma da excelência da prática desportiva, fomenta a sua generalização, mesmo enquanto atividade de recreação, e particularmente entre a juventude. Por outro lado, o desenvolvimento da sociedade não pode ignorar a atividade desportiva que é cada vez mais um fator cultural indispensável na formação integral da pessoa humana. Daí que a prática desportiva de alto rendimento deva ser objeto de medidas de apoio específicas, em virtude das particulares exigências de preparação dos respetivos praticantes” (Universidade do Minho, 2005). O desporto mudou e se quisermos competir a nível internacional com os outros países, temos de encontrar mais tempo para os nossos jovens poderem treinar, seja através da modificação dos horários escolares, seja com a criação de escolas especializadas em desporto, facilitando a entrada em universidades, desenvolvendo academias de treino tanto regionais como nacionais (Campbell, 1998). Percorrendo os estudos que se têm realizado no âmbito da relação existente entre a formação académica e a prática desportiva de alto rendimento, encontramos diferentes perspetivas de abordagem a esta temática. O nosso trabalho de investigação pretende entender melhor a simbiose existente entre estas duas atividades no nosso país. Tem o intuito de perceber a complexidade desta vivência em comum, a compreensão do que é exigido ao aluno-atleta na consecução do seu projeto de vida e, ainda, apontar itinerários catalisadores Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 4 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol deste processo de formação, com o objetivo de promover a obtenção do sucesso (possível) tanto na escola como no desporto. Reforçando a pertinência do nosso estudo, vários autores (Lavallee, 2000; Pallarés, et al., 2011) “creem ser necessário continuar a investigar as transições que enfrentam os desportistas incorporando a análise das estratégias já que são um aporte para aprofundar a compreensão multidimensional destas. Assim, contribuir-se-á para a melhoria do bem-estar global do desportista” (Vilanova & Puig, 2013, p.66). De acordo com Zenha et al. (2009) a possibilidade de obtenção de um Estatuto de Atleta de Alto Rendimento não resolve as dificuldades inerentes a esta “vida-dupla” de desportistas e, na maior parte dos casos, de estudante. Reconhece-se, assim, que um praticante desportivo, para se “transformar” num atleta de alto rendimento, deve ser integrado num processo de treino e de prestações competitivas que nem sempre é compatível com as atividades educativas e sociais próprias do cidadão comum. É nesta dimensão que pretendemos realizar o nosso estudo. Trabalhar com um grupo de atletas em percurso de alto rendimento, com presença regular nas seleções nacionais, estudantes do ensino superior e a competir na Liga Feminina de Basquetebol. Tentar perceber quais as dificuldades que vivenciam, que estratégias utilizam e que soluções apontam para articular, com sucesso, a formação académica com a prática de desporto de alto rendimento. De uma forma mais específica os objetivos da investigação são: 1. identificar que tipos de apoios têm os estudantes em percurso de alto rendimento durante o ensino secundário e que influências têm no seu rendimento escolar e desportivo; 2. identificar os constrangimentos que vivem os alunos praticantes de desporto de alto rendimento na sua adaptação e integração ao ensino superior; 3. identificar que apoios e que recursos consideram os alunos do ensino superior praticantes de desporto de alto rendimento fundamentais para articular a formação académica com a prática desportiva; 4. perceber se os desportistas de alto rendimento desenvolvem estratégias para compatibilizar a formação académica e prática desportiva de alto nível. Considera-se que o conjunto das ilações que sobrevenham deste trabalho de investigação possa ser um contributo importante para uma melhor compreensão das contingências vividas pelos jovens estudantes. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 5 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol A primeira parte deste trabalho é de natureza concetual e teórica, efetuando-se uma revisão de literatura sobre o Desporto, o Alto Rendimento Desportivo, seu Enquadramento Normativo, as Medidas de Apoio existentes e, por fim, a Conciliação do Desporto de Alto Rendimento com o Sucesso Escolar. Na parte experimental encontra-se a metodologia utilizada, a apresentação e discussão dos resultados, assim como as conclusões a retirar do estudo e respetivos contributos para a construção de futuras medidas de apoio a implementar. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 6 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol DESPORTO Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 7 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol 2 Desporto 2.1 Conceitos De acordo com Carvalho (2000, p.17), “o desporto transformou-se num fenómeno cultural à escala planetária”. “Há mais de dois mil anos que os gregos o inventaram. À luz de princípios, valores e finalidades de divinização do homem e de humanização da vida. E em nome de uma política e de uma ideologia da harmonia do corpo e da alma. Era uma prática e um símbolo de homens livres, que através dela se transcendiam e visavam o sonho de dobrar o portal de entrada no Olimpo” (Bento, 2004, p.25). Presentemente, o desporto tem um lugar de relevo na vida de qualquer comunidade. Praticado por uma reduzida minoria há uma geração atrás, é, nos dias de hoje, uma atividade pretendida por todas as classes sociais (Carvalho, 1994). Sendo evidente o impacto que o desporto tem na sociedade atual, quando tentamos descobrir um conceito comum, confrontamo-nos com uma pluralidade de definições muitas vezes contraditórias entre si. Assim, é nosso objetivo elencar e analisar diversas definições de desporto, para perceber a sua evolução e as perspetivas dadas pelos diferentes autores. Começamos pela definição de Pierre de Coubertin (1934) onde o autor descreve desporto como “um culto voluntário e habitual do exercício muscular intenso suscitado pelo desejo do progresso e não hesitando em ir até ao risco”. (Coubertin, 1934) Para Hébert (1946, p.7), “desporto é todo o género de exercícios ou de atividades físicas tendo como meta a realização de uma performance e cuja execução repousa essencialmente sobre um elemento definido: uma distância, um tempo, um obstáculo, uma dificuldade material, um perigo, um animal, um adversário e, por extensão, o próprio desportista”. Mais tarde Gillet (1949, citado por Pires, 2007, p.115) define desporto como uma “atividade física intensa, submetida a regras precisas e preparada por um treino físico metódico”. Magname (1964, p.81) afirma que o “desporto é uma atividade de lazer cuja dominante é o esforço físico, praticada por alternativa ao jogo e ao trabalho, Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 8 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol de uma forma competitiva, comportando regras e instituições específicas, e suscetível de se transformar em atividades profissionais". Bouet (1968) define desporto como uma procura competitiva, e associa à competição e à performance, a necessidade de competir intencionalmente, enfrentando as dificuldades. O autor refere ainda que é necessário investir energia para se alcançar o melhor desempenho. Mais tarde, Brohm (1978, p.45) descreve o desporto como “um sistema institucionalizado de práticas competitivas predominantemente físicas, delineadas, codificadas, e estabelecidas convencionalmente, cujo objetivo é basicamente comparar performances, execuções, demonstrações de desempenho físico, para designar o melhor concorrente (o campeão) ou registrar o melhor desempenho (record). O desporto é um sistema de competições físicas generalizadas, universais e em princípio, abertas a todos”. Parlebas (1981) entende o desporto como um evento que compreende diversas atividades, todas elas sujeitas a regras rígidas, códigos precisos, estruturas análogas e dinâmicas organizadas de forma universal, independentemente da situação ou do espaço geográfico em que se realizam. Em 1988, Pires fez uma síntese das diferentes abordagens realizadas ao conceito de desporto. Seguindo uma perspetiva multidimensional e dinâmica das definições apresentadas pelos diversos autores, identificou a presença de quatro elementos: jogo; movimento; agonística; instituição. Cada um com as suas componentes. Aos quais acrescenta um quinto elemento: o projeto. Também este composto por vários elementos, designadamente: objetivos, estratégias, programas, execução e correções. Assim, o referido autor procurou acrescentar aquilo que ele considerava estar em falta, transformar o desporto numa atividade em constante evolução. Este modelo defende que cada elemento apresentado tem o seu peso, sublinhando ser importante que todos interajam de acordo com os objetivos, as metodologias e os destinatários a considerar. Pois, “só assim o desporto está ao serviço das pessoas e não estas ao serviço do desporto” (Pires, 1994, p.60). Na Carta Europeia do Desporto (1992, p.3), podemos encontrar o conceito de desporto definido como “todas as formas de atividades físicas que, através de uma participação organizada ou não, têm por objetivo a expressão ou o melhoramento da condição física e psíquica, o desenvolvimento das relações sociais ou a obtenção de resultados na competição a todos os níveis”. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 9 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Neto (1994) refere que o desporto é uma atividade que nos seus pressupostos deve contemplar a promoção dos valores humanos, os princípios de solidariedade e a cooperação social e cultural entre os seus intervenientes. Em 1998, Lima menciona a importância do desporto como uma forma de compensação social para além dos ganhos no âmbito da saúde e bem-estar, uma vez que sublinha que a sua prática possibilita ao indivíduo a melhoria da sua autoestima através da afirmação da sua personalidade e da sua corporalidade. Para Calvo (2001) o desporto assume-se como uma forma de ocupar o tempo livre, oferecendo a quem o pratica uma fuga ao stress do dia-a-dia, contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade de vida. Fica, assim, tangível a dimensão do fenómeno desportivo. Torna-se evidente que este não se encerra numa vertente somente competitiva, pois apesar de esta estar sempre presente, devido à existência de adversários, de records a bater, de metas a atingir, são desenvolvidos outros valores igualmente importantes. Na Declaração de Nice (2000, p.1) podemos ver reforçada esta ideia quando, no ponto “práticas amadoras e desporto para todos”, lemos que “o desporto é uma atividade humana que assenta em valores sociais, educativos e culturais essenciais. Constitui um fator de inserção, de participação na vida social, de tolerância, de aceitação das diferenças e de respeito pelas regras”. No Livro Branco sobre o Desporto (2007, p.6), é utilizado o conceito de “desporto” estabelecido pelo Conselho da Europa, definindo-o como “todas as formas de atividade física que, através da participação ocasional ou organizada, visam exprimir ou melhorar a condição física e o bem-estar mental, constituindo relações sociais ou obtendo resultados nas competições a todos os níveis”. Em resumo, após fazermos referência e analisar muitos dos conceitos existentes sobre desporto, podemos concluir que na sua diversidade há denominadores-comum para todas as definições descritas, tais como: atividade física, esforço físico, competição, performance. Contudo, parece-nos importante realçar o caráter universal do desporto, o seu contributo na união dos povos, no encontro das diferentes culturas e crenças e, principalmente, o seu papel fundamental na educação integral do ser humano. O desporto exige o esforço persistente do indivíduo em aumentar as fronteiras das suas forças, das suas capacidades e das suas habilidades. Inclui todas as emoções que são intrínsecas às situações de perigo, de experimentação, de prova, de superação, e ainda, do equilíbrio físico e psicológico. Apresenta-se, assim, como um fator determinante de educação Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 10 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol corporal e de preparação do homem para a vida (Homem, 1998, citado por Moreira, 2006). 2.2 A Dimensão Social do Desporto O desporto, como fenómeno caraterizador da estrutura social em que está inserido, acompanha e reflete as suas constantes metamorfoses. Bento (1993, p.113) afirma que “cada época tem o seu Desporto…” As diferenças que encontramos, ao compararmos o Desporto da Antiguidade Clássica e o da Era Moderna, são um exemplo claro das transformações que se vão operando no conceito e valores do desporto em função da evolução das diferentes sociedades (Esteves, 1999). Reforçando esta ideia, Costa (1993) defende que, no desporto da antiguidade, o aspeto lúdico e o culto do corpo eram as caraterísticas mais relevantes, enquanto no desporto moderno a ideia de progresso, a orientação para a superação e a constante procura de recordes, associa o corpo a uma ideia de máquina focada no rendimento. O referido autor (1993, p.43) ao afirmar que “ a sociedade industrial é fundada sobre o tríplice princípio fundamental: eficácia, rendimento, progresso”, estende este axioma ao contexto do aparecimento do sistema desportivo moderno. De facto, o desporto moderno encontra a sua génese associada à conjuntura existente na sociedade inglesa durante a revolução industrial. Valores que norteiam esta sociedade – eficácia, rendimento, progresso - são os que ainda hoje reconhecemos como importantes vetores do desenvolvimento do desporto (Garcia, 2002). Este autor, em 2005, identifica, ainda, o desporto como uma instituição criada pela sociedade atual para exprimir os ideais do lúdico, do rendimento e da superação. Estando estes presentes em todos os modelos de prática desportiva. Calvo (2001) indica que a ideia de desporto associado ao lúdico aparece desde os primeiros eventos desportivos. Quanto ao rendimento, vários autores defendem tratar-se de um ideal marcadamente ligado ao desporto e à sociedade contemporânea (Bento, 1993; Esteves 1999; Garcia, 2005). Valores como ir mais além, ser mais rápido, ser mais forte, são desenvolvidos pelo desporto com o intuito de transmitir a grandiosidade de uma sociedade (Marquez, 1994). Podemos afirmar que razões de ordem política, económica e cultural têm importância fulcral na transformação da realidade social do desporto. Uma Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 11 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol atividade, no início ligada essencialmente ao lúdico e ao culto do corpo, evoluiu para um fenómeno onde o rendimento surge como fator fundamental. Contudo, Constantino (1990) defende que na base de todas estas mudanças está o próprio fenómeno desportivo, principalmente na sua evolução enquanto espetáculo de massas. Efetivamente, o desporto ao assumir-se como espetáculo, enquadra o seu desenvolvimento numa perspetiva de produto cujo objetivo principal é a satisfação dos seus consumidores. Neste contexto os atletas têm um papel fundamental na divulgação do fenómeno desportivo. A sua ação, para além de objetivos estritamente ligados ao desporto, tem uma responsabilidade acrescida na construção de uma imagem apelativa dentro dos ideais de beleza e sedução (Calvo 2001). Para Bento (1993), o desporto cria o local e o espaço onde o corpo consubstancia uma presença intensa e arrebatadora. Onde a sua promoção eleva o espírito, corporizando valores de ordem espiritual. Deste modo, o desporto possibilita a submissão da natureza animal do Homem à espiritualidade moral, ética, cultural e estética caraterística da condição humana. Em 2004, o mesmo autor sublinha o valor do ato desportivo na construção e revelação do ser humano. Ao considerar que este permite a mobilização e empenho da Pessoa, tal como ela é, no seu corpo e alma. Santos (2008) releva a importância do desporto na melhoria do autoconceito e na valorização social do homem. Refere-se à aprendizagem de uma modalidade desportiva como uma das mais reveladoras experiências que um indivíduo pode viver com o seu corpo. Considerando a prática desportiva como um contributo positivo na educação e formação pessoal de um ser humano. O desporto é, assim, um “espaço de socialização e integração social, onde a partilha de interesses comuns e a sua consequente mediatização, conferem-lhe um símbolo de distinção social” (Calvo, 2001, p.22). Para Meyer (2007), o desporto desenvolve, nos indivíduos, competências sociais importantes: o trabalho de equipa, a pontualidade, a responsabilidade, a capacidade de interpretar, planear e executar ações. Promove a consciência corporal, para além de evitar o sedentarismo tão presente nos dias de hoje. O desporto adquiriu o estatuto de fenómeno cultural à escala planetária. Porventura o fenómeno cultural de maior magia no mundo contemporâneo (Carneiro, 1997), transformando-se, assim, num fenómeno cuja dimensão é de perceção difícil aos olhos do cidadão comum. A sua prática generalizada, os Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 12 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol diferentes contextos e propósitos elegem-no como uma manifestação social e cultural profundamente humana (Calvo, 2001). Uma rápida análise do desporto como fenómeno social da atualidade, leva-nos a pensar sobre o peso que este adquiriu no dia-a-dia de grande parte da população, ao nível de recreação, do espetáculo, bem como na procura de um bem-estar e saúde melhores (Cabezas, Manzano, Benítez, Loquito & Martín, 2004). Zenha (2010) refere-se ao desporto como uma das mais marcantes realidades socioculturais da atualidade. Um dos fenómenos humanos mais discutidos e estudados, realçando a sua capacidade de gerar mitos e paixões. O referido autor menciona a influência do desporto de alto rendimento como fator de desenvolvimento e como paradigma da excelência da prática desportiva. Afirma a importância do papel do desporto de alto rendimento na generalização da sua prática, mesmo enquanto atividade lúdica, particularmente entre a juventude. Araújo (2002) defende que a dimensão social do desporto de alto rendimento se manifesta através de aspetos culturais, pedagógicos, científicos e estéticos. A sua popularidade tornou o desporto de alto rendimento num grande espetáculo, num fenómeno de multidões com a sua expressão máxima a ser alcançada com a realização de eventos de grande importância e dimensão, como os jogos Olímpicos ou os Campeonatos Europeus e Mundiais das diferentes modalidades. Para Vasconcelos (2003), presentemente, as grandes competições são momentos privilegiados de divulgação das diferentes modalidades desportivas. Para que esta ação de propaganda realmente surta efeito é determinante que o evento desportivo tenha qualidade. É necessário que os atletas reúnam condições técnicas e de rendimento ímpares, capazes de atrair o público aos espetáculos desportivos. Para isso, além da qualidade dos atletas, é importante garantir um bom enquadramento da competição, em termos de emoção e quanto ao desfecho do vencedor. Carvalho (2002) diz que é incontestável que, em qualquer parte do mundo, a alta competição das modalidades rainhas de cada cultura é presentemente um espetáculo de massas e uma manifestação cultural de grande atratividade. Alves (2002) afirma que o desporto de alto rendimento, quando bem orientado no plano social e pedagógico, representa um importante meio educativo e formativo dos cidadãos, podendo exercer influência positiva no Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 13 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol âmbito da ocupação dos tempos livres e entretenimento, na promoção de hábitos de vida saudável e da qualidade de vida, ou como fator de desenvolvimento sociocultural e turístico. Araújo (2002) defende que o desporto de alto rendimento só aporta contributos positivos quando promove o desenvolvimento das capacidades globais do ser humano e é orientado segundo perspetivas formativas e educativas. Nas sociedades em que o desporto é considerado um instrumento ao serviço dos cidadãos e da sua formação cultural, certamente que, também, o desporto de alto rendimento é dimensionado segundo os mesmos valores e desempenha, assim, uma função social positiva. Nas sociedades em que o desporto é encarado somente como um meio de distração dos cidadãos, é evidente que o desporto de alto rendimento também cumprirá essa disfunção. Gonçalves (2006) afirma que no desporto profissional, sob a influência de interesses económicos, prevalece uma lógica de mercado com o objetivo de maximizar os ganhos em detrimento das regras desportivas. O desporto de alto nível, onde se encontra o desporto-espetáculo, é sempre orientado para satisfazer um verdadeiro mercado de consumidores. Com efeito, de acordo com Lima (1974), o desenvolvimento desta prática desportiva contribui para a origem de um movimento financeiro suscetível de o sustentar, de o promover e de o rentabilizar. Nasce então aquilo que o autor classifica como o “desporto-indústria” e o “desporto-comércio”. Os órgãos de comunicação social também desempenham um papel crucial na divulgação do fenómeno desportivo. Ao colocarem os atletas em grande destaque, transformam-nos em personalidades públicas rapidamente assimiladas como modelos de comportamento social (Vasconcelos, 2003). Pataco (1997) refere que a concorrência entre nações conduz a um investimento significativo no desporto vocacionado para o elevado rendimento desportivo. Afirma, ainda, ser indiscutível que a exigência presente neste nível de prática desportiva tem contribuído para importantes progressos em vários ramos do conhecimento científico. Razão suficiente para se atribuir à alta competição uma importância social significativa no mundo contemporâneo. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 14 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol ALTO RENDIMENTO DESPORTIVO Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 15 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol 3 Alto Rendimento Desportivo 3.1 Conceitos de Desporto de Alto Rendimento Milan Kundera (1990, p.52) fala da procura da imortalidade. Refere- “uma outra imortalidade, profana, para os que permanecem depois da morte na memória da posteridade.” O mesmo autor afirma que “perante a imortalidade, as pessoas não são iguais. Temos que distinguir a pequena imortalidade, recordação de um homem no espírito dos que o conheceram, (…), e a grande imortalidade, recordação de um homem no espírito dos que não o conheceram. Há carreiras que confrontam, imediatamente, um homem com a grande imortalidade, (...): são as carreiras de artista e de homem de Estado.” (Kundera, 1990, p.52) Dada a dimensão social que o desporto detém no presente, parece-nos indubitável que a carreira de desportista de alto rendimento também se pode inserir naquelas que permitem atingir a grande imortalidade. Coelho (2007, p.254) corrobora esta ideia ao defender que “o desporto em geral e a participação Olímpica, em particular, são apenas um meio através do qual o ser humano procura alcançar a sua imortalidade”. Importa, então, entender o que é o alto rendimento desportivo. Em Portugal, podemos encontrar na Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto (Lei n.º 5/2007) e no artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 272/2009 de 1 de Outubro, definido alto rendimento como “a prática desportiva em que os praticantes obtêm classificações e resultados desportivos de elevado mérito, aferidos em função dos padrões desportivos internacionais”. Muitos autores, quando se referem ao “alto rendimento”, preferem utilizar o termo “alta competição” (Castro, 2010). Dias (2013,p.17) menciona “ muitas vezes o termo alta competição aparece referenciado como alto rendimento, isto porque, como pode depreenderse da Lei nº 1/90, de 13 de janeiro, Lei de Bases do Sistema Desportivo, (…), a alta competição enquadra-se no âmbito do desporto-rendimento.” A mesma autora (2013) fez alusão à variedade de termos que podemos encontrar quando analisamos os normativos que regulamentam a alta competição: praticantes desportivos de alto rendimento, desporto de rendimento, prática desportiva de alta competição. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 16 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol De acordo com o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), a noção de alto rendimento está associado a um elevado nível de seleção, rigor e exigência. Assim, apenas alguns dos melhores desportistas portugueses conseguem atingir este patamar de prática desportiva (Zenha et al., 2009). Sublinha Carvalho (2002, p.76) “poderá não bastar ser campeão nacional, integrar a seleção nacional, ou ser um profissional do desporto prestigiado local ou nacional, caso estes factos não se repercutam na obtenção de resultados internacionais”. Atualmente são definições jurídicas muito seletivas que enquadram o alto rendimento desportivo. O Decreto-lei nº 272/2009 faz referência à obtenção de classificações específicas em Campeonatos do Europa e do Mundo, o que leva a que só “ alguns dos melhores atletas portugueses estejam abrangidos por este regime” (Dias, 2013). Conseguir resultados internacionais de excelência torna-se o objetivo principal destes atletas. Ficar classificado num dos três primeiros lugares em competições de alto nível, como os Jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo e Campeonatos da Europa, é o resultado de um percurso exigente, pautado pelo rigor, empenhamento, racionalidade e equilíbrio e transmite ao atleta, treinador e restante equipa técnica, o sentimento de missão cumprida (Decreto-Lei n.º272/2009). Constantino (1991) entende a alta competição como a “anormalidade”, o “ extremo” do desporto, onde tudo é permitido para se atingir o objetivo final. Outros autores sublinham a ação educativa, a representação de um país, a identificação com os desportistas, como fatores geradores de patriotismo e de consciência nacional. Lima (1987, p.4) defende que “os condicionalismos sociais que impulsionam o homem a afirmar-se como um ser individualizado e único, levam tanto no desporto como noutras atividades a tentativas de superação dos resultados obtidos através do aperfeiçoamento e do desenvolvimento das suas capacidades que desencadeiam um processo criador de novas experiências, novos conhecimentos e novas etapas”. Carvalho (2004, p.325) lembra que “os atletas que alcançam distinção à escala internacional através dos seus feitos desportivos, ultrapassando os mais elevados níveis de exigência técnica e social na sua carreira desportiva, conquistam um novo estatuto, passam a ser figuras públicas, um referencial e um modelo para os mais jovens e um orgulho para os adultos, aos quais o Estado confere determinados direitos e deveres”. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 17 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol De acordo com Lima (1997) grande parte das críticas que têm sido feitas ao desporto de alto rendimento devem-se ao facto de ele aparecer demasiadas vezes associado à política, à economia, à medicina e à farmacologia. Considera que o rendimento desportivo não está na origem deste sentimento negativo. O incentivo à obtenção de um rendimento desportivo excecional é condição necessária à reabilitação da dimensão cultural do desporto. Coelho (2007, p.243) afirma que para se atingirem estes resultados de exceção é imperativo os atletas “se dedicarem exclusivamente ao treino e até de se profissionalizarem, fruto das elevadas exigências do desporto de alto rendimento” O aumento de dificuldades no atingir o estatuto de alto rendimento repercute-se na vida do atleta. Enquanto não conseguir o nível, os resultados necessários à obtenção do referido estatuto, o atleta não usufrui das medidas de apoio instituídas pela Lei (Dias, 2013). 3.2 Enquadramento Normativo Com o fenómeno desportivo a crescer em diversidade e importância na sua dimensão social, tornou-se necessária a sua regulamentação do modo a organizar e regimentar a sua atividade. A constante evolução da sociedade manifesta-se também no desporto. A sua volatilidade obriga a um acompanhamento exaustivo. No desporto todos os dias aparecem novos praticantes, são referidas novas modalidades, surgem novas instituições envolvidas, organizam-se novos eventos. Esta complexidade é um desafio permanente ao legislador. Manter um enquadramento normativo atualizado e funcional de uma atividade sempre em crescimento é um repto nem sempre fácil de se concretizar. Carvalho (2004, p.318) refere que “foi com a Constituição da República Portuguesa que o desporto adquiriu a sua legitimidade normativa e a sua magnitude enquanto direito individual” No artigo 79º da Constituição da República Portuguesa podemos ler: 1. Todos têm direito à cultura física e ao desporto. 2. Incumbe ao Estado, em colaboração com as escolas e as associações e coletividades desportivas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e a difusão da cultura física e do desporto, bem como prevenir a violência no desporto. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 18 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Carvalho (2004, p.318) referiu, ainda, que foi após abril de 1974, com a revolução, que a “prática desportiva de alta competição ganhou relevo e foi assumida como matéria de interesse público”. De acordo com a mesma autora (2000, p.98) em 1976, o I Governo Constitucional da República inicia a produção normativa respeitante ao subsistema da alta competição. Redigiu com o Decreto-Lei n.º 559/76, de 16 de julho, o “primeiro texto legislativo a regulamentar a requisição e destacamento respeitante aos trabalhadores/atletas que participassem em provas desportivas internacionais”. O desporto de alta competição, tendo em conta “as suas tremendas exigências de rendimento físico-desportivo” e “os crescentes interesses políticos e económicos e com o elevado nível de atracão que adquiriu junto do grande público” tornou-se, assim, “um espaço social a necessitar de um conjunto de normas gerais e abstratas para regular a sua existência e funcionamento” (Carvalho, 2002, p.73). A mesma autora (2002) refere que, em 1980, através da Portaria n.º 730/80, de 26 de setembro, se dá um primeiro passo no reconhecimento da alta competição como fator importante de desenvolvimento desportivo, aprovando um regulamento onde vêm mencionados os apoios intrínsecos à prática desportiva de alta competição, nomeadamente uma primeira referência ao estatuto de atleta de alta competição. Um ano depois é aprovada a portaria n.º1015/81, de 25 de novembro. Esta revoga a Portaria n.º 730/80, de 26 de setembro e confirma novo Regulamento de Apoio ao Desporto de Alta Competição e o Estatuto do Atleta de Alta Competição em Representação Nacional. Esta portaria determina a cedência de bolsas de valorização e ainda a possibilidade de utilização de instalações. Volvidos três anos é publicada a Portaria n.º 809/84, de 15 de outubro, aprovando novo Regulamento de Apoio ao Desporto de Alta Competição e ainda o Estatuto do Atleta de Alta Competição. A entrada em vigor da Lei de Bases do Sistema Desportivo (LBSD), Lei n.º 1/90, de 13 de janeiro de 1990, constitui um momento importante no enquadramento do desporto em Portugal. Neste documento normativo, revisto em 25 de junho de 1996 pela Lei n.º 19/96, foram instituídas as linhas políticojurídicas do sistema desportivo português respeitantes a três setores: atividade desportiva, organizações desportivas e administração pública desportiva. No artigo 15º do Capítulo II, referente à “Atividade desportiva”, aparece referenciada Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 19 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol a alta competição, mencionando o apoio financeiro à preparação dos atletas como uma das medidas de incentivo ao fomento da alta competição (Dias, 2013). A 7 de agosto surge o Decreto-Lei n.º 257/90, que vem introduzir um conjunto de medidas de apoio ao recém-criado subsistema de alta competição. Este diploma consagra, aos atletas e agentes desportivos envolvidos na sua preparação, a possibilidade de se poderem dedicar à sua carreira desportiva sem, de alguma forma, prejudicar a sua formação académica ou vida profissional (Dias, 2013). Cinco anos depois, é publicado o Decreto-Lei n.º 125/95, de 31 de Maio, onde as medidas de apoio adotadas em 1990 aparecem aperfeiçoadas. Este diploma implementa medidas específicas de apoio à alta competição. Posteriormente o Decreto-Lei n.º 125/95, de 31 de Maio é também alterado pelo Decreto-Lei n.º 123/96, de 10 de Agosto (Carvalho, 2002). Este último Decreto-Lei nasce da vontade de operar alguns ajustes no seu predecessor, no que diz respeito: ao acesso ao ensino superior dos atletas com estatuto de alta competição; à hipótese de ser concedida mais de uma licença extraordinária àqueles que trabalham no setor público; à deliberação de dar a respetiva dispensa; à atribuição de prémios aos atletas e, por último, à dependência dos benefícios acordados da inscrição num registo nacional de praticantes com estatuto de alta competição (Diário da República, 1.ª série A N.º 185, 10 de agosto de 1996). Não obstante, após a LBSD outros normativos foram surgindo para regulamentar matérias intrínsecas à alta competição, tais como: medidas de apoio, prémios e bolsas académicas (Dias, 2013). Passamos assim a elencar alguns dos diplomas mais importantes: – concessão de bolsas académicas aos praticantes de alta competição, para que estes possam compatibilizar os estudos com a atividade desportiva Portaria n.º 737/91, de 1 de agosto; – instituição de formas específicas de apoio aos que desempenham funções no âmbito do subsistema de alta competição - Portaria n.º 738/91, de 1 de agosto; Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 20 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol – definição do regime de requisição de técnicos e dirigentes que se dedicam especificamente ao subsistema de alta competição - Portaria n.º 739/91, de 1 de agosto; – determinação do montante dos prémios a atribuir aos praticantes desportivos e respetivas equipas técnicas em face dos resultados obtidos Portaria n.º 740/91, de 1 de agosto; – regulamentação do seguro desportivo para os praticantes de alta competição não profissionais - Decreto-Lei n.º 146/93, de 26 de abril; – definição dos critérios técnicos para a qualificação como praticante desportivo de alta competição e praticante integrado no percurso de alta competição - Portaria n.º 947/95, de 1 de agosto; – definição dos critérios para a concessão de prémios em reconhecimento do valor e mérito dos êxitos desportivos obtidos no regime de alta competição. Revoga a Portaria n.º 740/91, de 1 de agosto - Portaria n.º 953/95, de 4 de agosto; – aprovação do regulamento dos regimes especiais de acesso ao ensino superior, contemplando no artigo 2.º alínea f) os atletas com estatuto de alta competição - Portaria n.º 317-B/96, de 29 de julho; – criação, pelo governo, do Complexo de Apoio às Atividades Desportivas (CAAD) que compreende para além de outras, a estrutura desportiva do Centro de Alto Rendimento (CAR) - Decreto-Lei n.º 64/97, de 26 de março; – instituição de normas relativas à concessão de bolsas académicas aos atletas de alta competição - Portaria n.º 205/98, de 28 de março; – fixação do valor dos prémios a atribuir aos praticantes desportivos das disciplinas das modalidades integradas no programa olímpico que se classificarem num dos três primeiros lugares dos Jogos Olímpicos e dos Campeonatos do Mundo e da Europa, no escalão absoluto. Revoga a Portaria n.º 953/95, de 4 de agosto - Portaria n.º 211/98, de 3 de abril; Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 21 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol – regulamentação do seguro desportivo especial dos praticantes em regime de alta competição - Portaria n.º 392/98, de 11 de julho; – regulação das condições especiais de acesso e ingresso no ensino superior, permitindo aos atletas, com estatuto e integrados no percurso de alta competição, beneficiarem deste regime, mesmo que tenham deixado de satisfazer as condições há menos de dois anos, contados a partir da data de apresentação do requerimento de matrícula e inscrição (art.º 18º) - Decreto-Lei n.º 393-A/99, de 2 de outubro; – aprovação do regulamento dos regimes especiais de acesso ao ensino superior (referido no artigo 25º do Decreto-Lei n.º 393-A/99, de 2 de Outubro) Portaria n.º 854-B/99, de 4 de outubro. Em 2004 é publicada a Lei n.º 30/2004, 21 de Julho - Lei de Bases do Desporto (LBD). Esta última veio revogar a LBSD (Lei nº1/90) e introduzir algumas nuances na sua conceptualização. Classifica a atividade desportiva como: profissional e não profissional. E, ainda, em função dos resultados internacionais serem obtidos por praticantes desportivos ou seleções nacionais, classifica-a, respetivamente, como “alta competição” ou “seleção nacional” (capítulo VI, secção III, artigo 62.º e 63.º). A referida Lei (LBD) entende que “o desenvolvimento da alta competição é objeto de medidas de apoio específicas, atentas às especiais exigências de preparação dos respetivos praticantes”. As medidas destinam-se “ao praticante desportivo desde a fase da sua identificação até ao final da sua carreira, bem como aos técnicos e dirigentes que acompanham e enquadram a sua preparação desportiva”. As medidas de apoio são as anteriormente descritas na LBSD. Decorridos três anos é publicada a Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto - Lei nº5/2007, de 16 de janeiro - que na sua secção IV faz referência ao alto rendimento. Nesta secção podemos encontrar o artigo 44º com as medidas de apoio, e o artigo 45º que se refere à participação em seleções ou em outras representações de âmbito nacional, como missões de interesse público e, assim, objeto de apoio e garantia especial do Estado. Em 12 de janeiro de 2009, através do Decreto-Lei n.º10/2009, foi instituído um novo sistema de seguro com cobertura extensível aos especiais riscos a que estão sujeitos os atletas de alto rendimento. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 22 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Nesse mesmo ano é publicado o Decreto-Lei n.º 272/2009, de 1 de outubro, com o objetivo de melhorar a operacionalização da regulamentação então vigente (Decreto-Lei n.º125/95, com a alteração constante do Decreto-Lei n.º123/96). Este novo normativo considerava a definição de desporto de alto rendimento estabelecida no diploma anterior como muito permissiva. Entendia, assim, que os apoios concedidos pelo Estado ao abrigo deste estavam a favorecer atletas cujos resultados dificilmente mereceriam os referidos benefícios (Dias, 2013). Este novo regime divide as modalidades desportivas em as que integram e as que não integram o Programa Olímpico. Subdivide, ainda, cada uma delas em modalidades coletivas e individuais (artigo 6.º e artigo 7.º do Decreto-Lei n.º 272/2009). No atual diploma os atletas de alto rendimento são divididos por três níveis conforme os resultados obtidos: Nível A, Nível B, Nível C. Com esta distinção o Estado pretende atribuir melhores apoios aos “praticantes desportivos que tenham obtido resultados efetivos em competições desportivas de grande seletividade” (in Diário da República, 1.ª série - N.º 191,1 de outubro de 2009). Posteriormente, é publicada a portaria n.º 325/2010, de 16 de junho, para instituir os critérios gerais de classificação de determinadas competições desportivas como sendo de alto nível, para efeitos da integração dos respetivos praticantes no regime de apoio ao alto rendimento. Os referidos critérios são aferidos pela presença em competição de um número mínimo de países, equipas ou praticantes desportivos, com determinada classificação no ranking de cada modalidade (in Diário da República, 1.ª série N.º 115, 16 de Junho de 2010). 3.3 O Processo de Preparação dos Atletas de Alto Rendimento "Nenhum vencedor acredita no acaso." Friedrich Nietzsche (Filósofo alemão 1844 -1900) Maia (2010, p.2) refere que a “a excelência dos atletas no desporto é aceite ser o resultado do grande esforço e treino relevante, o mais próximo possível das exigências da competição, o desempenho em períodos Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 23 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol correspondentes a etapas críticas do desenvolvimento cognitivo e biológico e nos ambientes propícios ao desenvolvimento do domínio das habilidades”. Bento (1991, p.11) refere que “para que o deporto de alto rendimento possa constituir um modelo válido de referência e de inspiração para crianças e jovens não basta torná-lo tecnicamente mais perfeito. É preciso torná-lo mais humano!”. O mesmo autor, em 1991 (p.11), destaca “ que o atleta apenas merece interesse ao desporto de alto rendimento na qualidade de produtor de resultados, perdendo todo o interesse quando esta qualidade desaparece.” Zenha (2010, p.15) defende que o desporto de alto rendimento deverá ser organizado de uma forma mais pragmática para que “respeite aquilo que tem de ser a preparação de um atleta de alto rendimento”. Vasconcelos (2003, p.8) afirma “não haver dúvidas quanto à incompatibilidade entre a entrega ao desporto a um nível de alta competição e a formação universitária”. Menciona, ainda, que “ para se fazer desporto ao mais alto nível, o atleta deve deixar tudo para trás”. “A dedicação exclusiva e a tempo inteiro, atrás referenciada, constitui condição e exigência feita atualmente a atletas que praticam desporto de alto rendimento, e obriga, as instituições desportivas, clubes e federações, a encontrar soluções adequadas à satisfação plena daquelas necessidades” (Zenha 2010, p.17). O mesmo autor (2010) refere que, atualmente, um atleta para se tornar num atleta de alto rendimento tem de fazer parte dum processo de treino e de competição que são incompatíveis com as atividades profissionais e sociais de um cidadão comum. Na realidade, para se ser atleta de alto rendimento é necessário assumir uma dedicação exclusiva e um regime de vida só entendível dentro de um universo próprio do desporto de alta competição. As exigências impostas aos atletas de alta competição levam a que estes participem num processo de preparação que lhes possibilite superar, com a máxima segurança possível, todos os constrangimentos criados pelas instituições desportivas que têm a seu cargo a organização e a definição dos critérios de participação em eventos desportivos de alto nível (Zenha, 2010). Os referidos constrangimentos “refletem-se, de uma forma global ou cumulativa, naquilo que se podia denominar como a ordenação da vida pessoal, familiar, escolar, profissional e social” (Lima, 2002, p. 11). Este mesmo autor (2002) refere-se à preparação de um atleta de alta competição como um processo onde existe um controlo rigoroso de todos Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 24 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol parâmetros que o influenciam. Afirma, ainda, que a este nível os atletas têm um regime de vida tão exigente que leva a que seja imprescindível defendê-los de todo o tipo de “agressões” para lhes proporcionar o ambiente, de estabilidade e confiança, necessário à obtenção de um rendimento de excelência. O referido autor (2002, p.12) expressa que para se poder ser atleta de alto rendimento é necessário “ consagrar os anos de juventude, com total disponibilidade e assunção dos mais diversos sacrifícios, às atividades do treino e da participação competitiva, em detrimento da vida académica ou da vida profissional, suportando importantes hiatos na vida social e na luta pela subsistência económica, assim como na sua vida familiar” Em continuação, Lima (2002, p.14) defende que o êxito dessa preparação depende do rigor da elaboração de um “plano a longo prazo, concebido por especialistas, de dificuldades evolutivas, dinâmico e flexível”. Refere que quanto mais exigente e rigoroso for o plano e a sua execução, mais elevado é o rendimento dos atletas e, consequentemente, maiores são as probabilidades de sucesso nas respetivas competições. Cabezas, Manzano, Benítez, Loquito & Martín (2004) defendem que a realização de um trabalho sistemático e metódico nos escalões de formação permite, no futuro, uma melhoria significativa do desporto de competição, ao nível do número e da qualidade dos seus praticantes. Referem, ainda, que o desenvolvimento do carácter, da liderança, do desportivismo, não acontece somente com a participação em atividades desportivas de alta exigência e rendimento. Essas qualidades são, geralmente, fruto de um trabalho realizado por técnicos competentes, capazes de elaborar programas que proporcionem aos jovens experiencias positivas de aprendizagem. A competição desportiva é exigente com todos os seus atores, incluindo os mais jovens. Um programa de trabalho ao nível psicológico, sério e rigoroso, melhoraria as condições de treino e a qualidade de vida do atleta, assim como o seu rendimento académico e desportivo (Cabezas, Manzano, Benítez, Loquito & Martín, 2004). Para termos atletas de alto rendimento é indispensável que todos os agentes que estão associados à sua preparação sejam também de elevado valor. Este é um tema estratégico, a que todos países têm dedicado uma especial atenção, atribuindo-lhe um papel de relevo no seu plano de desenvolvimento desportivo (Zenha, 2010). Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 25 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Para transformar um atleta num atleta de alta competição, é necessário que o treinador seja competente e tenha conhecimentos específicos da modalidade, que seja ele um especialista capaz de promover a melhoria das capacidades do atleta. Um treinador que ao assumir um compromisso, se dedique sem reservas à sua profissão, na procura do sucesso, de resultados desportivos, criando nos atletas hábitos de superação conducentes à excelência (Baker, & Côté, 2003; Maia, 2010). “Os excelentes profissionais do desporto devem ainda possuir um prazer, uma alegria e uma paixão que os ajudem na perseguição do seu sonho de excelência, respeitando sempre princípios éticos e morais. A disponibilidade e capacidade para continuadamente aperfeiçoar os seus desempenhos, perseguindo a perfeição, poderão conduzi-los à excelência, partindo do pressuposto que as coisas excelentes são raras mas existem, por isso pensamos nunca ser de mais a sua procura” (Maia, 2010, p.18) Baker & Côté (2003) referem, ainda, a existência de fatores ambientais e motivacionais que também concorrem para a consecução de um desempenho de excelência. Sublinham ainda a influência dos pais e o papel do treinador. Temos como certo que é impossível um atleta atingir o alto rendimento “se não o desejar, se não existir motivação que o motive a mobilizar as suas energias numa só direção, alcançar o topo na sua modalidade desportiva” (Ruiz et al., 2006, p.136). Também Helsen et al. (1998 cit. por Smith, 2003) reforçam a importância da motivação na formação de um atleta de alto rendimento. Referindo que o mais difícil é conseguir que os atletas apresentem sempre um nível elevado de motivação e que se mantenham no ativo o tempo necessário para se tornarem atletas de excelência. De acordo com Bompa & Haff (2009) para os atletas poderem atingir o mais alto nível têm que treinar afincadamente durante um longo período de tempo. Tendo o treino um papel fundamental no desenvolvimento e otimização das suas competências. É através da repetição com correção dos exercícios que os atletas são capazes de automatizar a execução de “uma habilidade motora e a desenvolver funções estruturais e metabólicas que os levam ao aumento do desempenho, da performance física” (Smith, 2003, p.1104). Bompa & Haff (2009) referem, ainda, a influência da capacidade de adaptação de um atleta às cargas de treino como um fator determinante no seu desenvolvimento. Assim, quanto maior for o grau de adaptação ao processo de Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 26 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol treino e ao stress competitivo, maior será o seu potencial para atingir a excelência da prática desportiva. Ericsson, Krampe, & Tesch-Römer (1993) falam de prática deliberada como uma prática intencional, altamente estruturada, realizada com o objetivo de melhorar o desempenho desportivo. Em consonância, Sampaio, & Lorenzo (2005, p.64) aportam que, “a prática deliberada aparece definida pelo número de horas dedicadas à prática, é realizada com o objetivo de melhorar o nível de rendimento e implica que as tarefas sejam bem definidas e estimulantes, que exista feedback para o atleta e que lhe sejam dadas as oportunidades necessárias para repetir e corrigir os erros”. Neste sentido, Ericsson et al. (1993) referiram como prática deliberada aquela que: exige esforço e atenção; é intrínseca mas não obrigatoriamente agradável; promove a melhoria do desempenho; proporciona a emissão frequente de feedbacks; é orientada por um técnico especializado; e é direcionada para o rendimento. Assim, os referidos autores defendem que a quantidade de horas de treino, por si só, não é suficiente para que o atleta melhore, a qualidade do treino também é determinante na evolução da sua performance. Ward, Hodges, Starkes & Williams (2007) também defendem uma relação direta entre o número de horas de prática deliberada e o nível de desempenho atingido por um atleta. Baker & Côté (2003) sublinham a importância do atleta ter acesso a recursos essenciais para poder atingir o alto rendimento, aludindo que um atleta, para atingir resultados de excelência, necessita ter os mesmos recursos que os outros de igual potencial. Enfocam, ainda, a necessidade dos atletas estarem dispostos a realizar, com um elevado grau de empenho e compromisso, um grande número de horas de treino durante o seu processo de formação, para poderem aspirar a um nível de excelência do seu rendimento. Simon & Chase (1973 cit. por Baker & Côté, 2003) foram os primeiros autores a referenciar o tempo que um atleta necessita para chegar a um nível de elite. Realizaram um estudo que ficou conhecido pela “regra dos dez anos”. Segundo as suas conclusões, seriam precisos dez anos de tempo absoluto de prática, para um atleta atingir a excelência num determinado domínio. Ericsson et al. (1993) a partir de um estudo com especialistas de diferentes áreas defenderam que para se atingir um nível de elite se deve Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 27 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol praticar com regularidade durante (mínimo) 10 anos e treinar, com qualidade, cerca de dez mil horas. Baker & Côté (2003, p.2) criticam estes longos períodos de treino intensivo afirmando que “uma prática prolongada produz um aumento monótono do desempenho”. Baker (2003) considera que com o aumento do tempo de prática o atleta melhora os seus resultados, mas, em simultâneo, torna mais difícil a obtenção de melhorias (futuras) do seu desempenho. Davids e Baker (2007, p.6) reforçam esta ideia ao afirmar que, nas fases iniciais de contato com uma modalidade, o desenvolvimento acontece de uma forma notória, porque há muito para melhorar/aprender. “No entanto, com os avanços no desempenho, as melhorias tornam-se cada vez mais difíceis de alcançar, até um ponto onde o treino terá de ser focado nas áreas específicas de fraqueza, tornando-se o único meio de avanço. Neste ponto, a prática torna-se a forma mais eficaz de formação”. Ericsson (2006) analisou o desenvolvimento da performance em função da idade e dos anos de experiência dos indivíduos. Concluiu que num estádio inicial o desenvolvimento ocorre rapidamente; que todos os indivíduos melhoram de forma gradual até atingirem a maturação física; e atingem o nível mais alto de performance já na idade adulta, aproximadamente aos vinte e cinco anos de idade. Bloom (1985), num estudo realizado para perceber como é que atletas de diferentes modalidades tinham atingido a excelência, descobriu que havia uma norma comum de desenvolvimento de competências. Identificou três fases de desenvolvimento a que chamou: iniciação, especialização e aperfeiçoamento. A “iniciação” da carreira desportiva definiu-a como uma fase de experimentação, em que a criança pratica desporto por lazer e sem compromisso. Os pais são muito presentes e partilham o entusiasmo dos filhos. Os treinadores orientam a sua atuação mais para o ensino da modalidade. Este período decorre entre os cinco e os doze anos de idade. O segundo período, a “especialização”, inicia-se aos doze anos e compreende a adolescência. É nesta fase que ocorre o grande desenvolvimento do atleta. Este dedica-se a uma só modalidade, procurando melhorar o seu desempenho. Os treinadores primam por uma atitude mais exigente e os pais regulam a sua vida de acordo com os filhos. Na fase de “aperfeiçoamento”, que se inicia a partir dos vinte anos, existe um total comprometimento do atleta à modalidade. Este pode treinar em média Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 28 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol vinte e cinco horas semanais e, algumas vezes, optar pelo profissionalismo. Nesta fase, os pais já estão totalmente envolvidos no projeto desportivo dos filhos. A relação treinador-atleta procura o rendimento desportivo. Também Côté (1999, p.401), num trabalho realizado com atletas de elite e respetivas famílias, definiu três estádios de participação desportiva, “anos de amostragem (dos seis aos treze anos), anos de especialização (dos treze aos quinze anos), e anos de investimento (depois dos quinze anos) ”. Todos os momentos caraterizados por vários níveis de exigência, que levam a alterações de comportamento nos jovens e nos pais. Depois de uma análise exaustiva ao processo de formação de um atleta de alta competição ressaltam valores intrínsecos ao individuo: a herança genética, a motivação, o compromisso, a capacidade de superação e de adaptação às exigências do treino e competição; e fatores exteriores ao praticante que também concorrem para a o seu rendimento: a influência dos recursos, dos pais, da qualidade do treino e dos agentes envolvidos, horários escolares, a competição, etc. Fica, no entanto, evidente a dificuldade em se atingir a elite, em se conseguir performances de excelência, levando-nos a corroborar que “ Nenhum vencedor acredita no acaso”. 3.4 Medidas de Apoio à Pratica Desportiva de Alto Rendimento “As exigências a que os atletas de alta competição são submetidos, quer ao nível do processo de treino, quer ao nível das prestações desportivas, criamlhes diversas dificuldades sendo, por vezes, muito difícil conciliar as atividades educativas e a prática desportiva” (Zenha et al., 2009, p.1). Perante esta afirmação percebemos a necessidade da criação de medidas que apoiem a difícil compatibilização entre a prática desportiva de alto rendimento e a vida académica. Perspetivamos que a aplicação das referidas medidas proporcione aos atletas a oportunidade de obtenção de sucesso escolar em paralelo com o sucesso desportivo. Que estas atuem, de uma forma clara, favorecendo uma articulação saudável entre duas atividades exigentes. Neste sentido, é importante a análise dos normativos que enquadram os apoios existentes aos atletas de alto rendimento. Percorrendo o Decreto-lei n.º 272/2009, descobrimos vários artigos com apoios específicos para atletas que pretendem conciliar a sua prática desportiva de alto rendimento com a sua formação escolar: Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 29 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol – permissão para se matricularem num estabelecimento de ensino fora da sua área de residência - Artigo nº 14; – possibilidade de escolha de horário escolar e regime de frequência que melhor se adapte à sua preparação desportiva. Possibilidade, ainda, de ser admitido à frequência de aulas em turmas diferentes, bem como ao aproveitamento escolar por disciplinas - Artigo nº 15; – possibilidade de justificação de faltas durante o período de preparação e participação em competições desportivas mediante declaração emitida pelo IPDJ - Artigo nº 16; – o aluno pode solicitar a alteração da data das provas de avaliação, bem como beneficiar de épocas especiais de avaliação, para tal deve ser apresentada uma declaração comprovativa da sua participação desportiva, emitida pelo IPDJ - Artigo nº 17; – o aluno pode requerer a transferência de estabelecimento de ensino ou frequentar aulas noutro estabelecimento de ensino, quando o exercício da sua atividade desportiva o justificar, sendo necessário declaração emitida pelo IPDJ Artigo nº 18; – nos estabelecimentos de ensino frequentados por praticantes desportivos de alto rendimento devem ser designados docentes responsáveis pelo acompanhamento do seu percurso escolar. Nomeadamente, acompanhar a evolução do seu aproveitamento, detetar dificuldades e propor medidas para a sua resolução, incluindo, quando necessário, aulas de compensação - Artigos nº 19 e nº 20; – no final do ano letivo, o professor acompanhante deverá elaborar um relatório do aproveitamento escolar do aluno. Este relatório deverá ser enviado ao IPDJ, o qual decidirá se o aluno poderá continuar a beneficiar dos referidos apoios - Artigo nº 21; – por despacho governamental, poderão ser concedidos bolsas académicas aos praticantes desportivos de alto rendimento que pretendam frequentar, no país ou no estrangeiro, estabelecimentos de ensino que Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 30 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol desenvolvam modelos de compatibilização entre o respetivo plano de estudos e o regime de treinos destes atletas - Artigo nº 22; – os praticantes desportivos de alto rendimento beneficiam de regime especial de acesso ao ensino superior, podendo ainda requerer a matrícula e inscrição em par estabelecimento/curso de ensino superior para que tenham realizado as provas de ingresso respetivas e tenham obtido as classificações mínimas fixadas pelo estabelecimento de ensino superior para as provas de ingresso e para a nota de candidatura no âmbito do regime geral de acesso Artigo nº 27; – as federações desportivas devem proporcionar os apoios materiais necessários à preparação dos seus atletas de alto rendimento - Artigo nº 30; – garantia de especiais condições de utilização de infraestruturas desportivas no âmbito da sua preparação, designadamente, a utilização prioritária dos centros de alto rendimento - Artigo nº 31; – atribuição de prémios em reconhecimento do valor e mérito pela obtenção de resultados desportivos de excelência - Artigo nº 32; – assistência médica especializada prestada através dos serviços de medicina desportiva - Artigo nº 33; – os praticantes de alto rendimento estão abrangidos por um seguro especial, nos termos do Decreto-Lei n.º 10/2009, de 12 de janeiro - Artigo nº 34; – os praticantes desportivos de alto rendimento podem, num prazo de três anos após o termo da sua carreira desportiva, beneficiar do regime especial de acesso ao ensino superior mencionado no nº 1 do Artigo 27º - Artigo nº 43. Analisando o enquadramento legal existente percebemos o objetivo claro de ver estabelecidas, para os atletas de alto rendimento, medidas de apoio e complementos educativos que visem contribuir para a igualdade de oportunidades de acesso e sucesso escolar. Falta, no entanto, estabelecer um conjunto de boas práticas, de sinergias entre as diferentes instituições, de modo a melhor operacionalizar todas as medidas de apoio já regulamentadas. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 31 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 32 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol ALTO RENDIMENTO E SUCESSO ESCOLAR Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 33 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol 4 4.1 Alto Rendimento e Sucesso Escolar Articulação entre Alto Rendimento e Sucesso Escolar Sabendo a exigência e o rigor que envolve o longo processo de formação de um atleta de alto rendimento, importa, agora, perceber o que envolve o sucesso na escola. O que é que contribui para um aluno ser bem-sucedido na sua vida escolar. Segundo Leal (2007, p.18) “o sucesso escolar pode remeter-nos para ideias bastante diferentes, confundindo-se mesmo, por vezes, o sucesso/insucesso escolar com o sucesso/insucesso educativo”. Sobre este tema, Martins (2007, p.12) releva que ao falarmos “de sucesso/insucesso, não devemos desprezar a correlação entre escolar e educativo, uma vez que, para além de ensinar conhecimentos, a escola deve assumir o papel de educar”. Assim, devemos entender que a escola tem um papel mais abrangente na formação do indivíduo, funcionando como um centro socioeducativo. Para além de instruir deve também socializar os alunos, fazê-los crescer em conhecimentos técnicos e valores (Dias, 2013). A mesma autora (2013, p.54) defende que o “conceito sucesso escolar é assim classificado de acordo com a capacidade do aluno em atingir os objetivos definidos pela escola. Este conceito assume uma conotação positiva e é utilizado sempre que se pretende valorizar o desempenho ou a aquisição correta de conhecimentos”. Perrenoud (2003, p.10) explica que o sucesso escolar dos alunos pode ser avaliado pelo seu desempenho: “obtêm êxito, aqueles que satisfazem as normas de excelência escolar e progridem nos cursos”. Afirma ainda que o “sucesso escolar acaba designando o sucesso de um estabelecimento ou de um sistema escolar no seu conjunto, sendo considerados bem-sucedidos os estabelecimentos ou os sistemas que atingem seus objetivos ou que os atingem melhor que os outros”. O sucesso escolar é então definido por Estrela (2007, p.16) como “rendimento ou aproveitamento dos alunos, e ainda como eficácia e eficiência do sistema, como qualidade e, numa fuga em frente, como excelência”. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 34 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol O sucesso educativo ultrapassa em dimensão o sucesso escolar. O sucesso educativo representa para o indivíduo a aquisição de autonomia, ser capaz de fazer as suas escolhas, formular juízos, tomar decisões, ter as suas próprias opções (Delors et al. 1996). Castro (2012) refere-se ao sucesso educativo como a capacidade do aluno compreender o que se passa à sua volta, de aprender a fazer para poder agir e intervir no seu envolvimento, de aprender a viver com os outros a fim de poder participar da vida em comum e assim tirar proveito da sua riqueza pessoal. Reforça, assim, a importância deste ir desenvolvendo atitudes de reflexão e de autoconhecimento, do aprender a ser em sociedade, que o leva a ser autónomo e empreendedor. González-Pienda (2003) indica que são muitas as variáveis que afetam a aprendizagem e o rendimento escolar. Que não o podemos analisar unicamente segundo a sua dimensão cognitiva. Dá um exemplo (2003, p.250) ao referir que a “inteligência é uma potencialidade que poderá levar ou não ao rendimento escolar”. Neste contexto, Peixoto (2008, p.194) atesta que “é hoje adquirido que a inteligência tem um papel decisivo no rendimento escolar, mas é também aceite que as características da personalidade e os aspetos afetivo-emocionais são relevantes para o sucesso escolar e também pessoal dos sujeitos”. González-Pienda acrescenta que o rendimento escolar é influenciado por um conjunto de variáveis que atribuem o sucesso ou insucesso. Revela que essas condicionantes são estabelecidas por “um conjunto de fatores limitados operacionalmente como variáveis que se podem agrupar em dois níveis: as de tipo pessoal e contextual (sócio ambientais, institucionais e instrucionais) ” (2003, p.247). Neste sentido, Peixoto (1999) assevera que o rendimento escolar assume uma vertente pessoal e uma vertente social. Este duplo sentido transporta-nos numa primeira fase para as aptidões, competências e características individuais do aluno. A envolvência social abrange a influência da sociedade, dado que a avaliação do aluno é realizada tendo em conta os níveis mínimos de aprendizagem determinados para cada nível de ensino. Dias (2013, p.55) releva que “o insucesso escolar é usualmente atribuído ao facto de os alunos não atingirem os objetivos determinados pela escola ou pelo professor, dentro dos limites temporais estabelecidos adquirindo por si uma conotação negativa e traduzindo-se na prática pelas taxas de reprovação, repetências e abandono escolar”. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 35 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Podemos, assim, inferir que “a incapacidade que o aluno revela de atingir os objetivos globais definidos para cada ciclo de estudos” é indicadora de insucesso escolar (Eurydice, 1995 cit. por Silva 2001, p.20). No entanto, o que pretendemos aquilatar é qual a relação existente entre rendimento escolar e o rendimento desportivo. Numa relação dialética que tipos de influência estabelecem entre si. Quais os aspetos positivos e negativos que podemos retirar duma vivência em simultâneo de duas atividades tão exigentes. Dias (2013,p.56) alude que “o sucesso desportivo e sucesso escolar possuem um carácter ambivalente, que marca presença na maioria das vezes, ao longo do trajeto desportivo dos atletas de alta competição, pois a prática da modalidade inicia-se em idades jovens e abrange a idade escolar.” Como afirmou Lipscomb (2007) a atividade desportiva tem um papel de relevo, principalmente quando falamos em alunos do ensino secundário. Fez referência ao facto de, nesta fase, ser muito comum a participação destes em atividades extracurriculares, particularmente em atividades desportivas. Estudar a relação presente entre a atividade desportiva regular e o rendimento escolar de jovens, “coloca em jogo duas variáveis relevantes nesta etapa da vida: o desporto, pelos benefícios e interesse que suscita e o rendimento académico que parece concretizar o sucesso escolar destes jovens, cujo projeto de vida assenta sobretudo na sua formação académica” (Costa, 2007, p.3). De acordo com Zenha et al. (2009, p.2) “os estudos e o desporto complementam-se e potenciam-se reciprocamente na formação do indivíduo”. Costa (2007, p.27) chama a atenção para um fator que influi no equilíbrio da convivência entre as duas variáveis, ao sublinhar que “não é o facto de os alunos praticarem ou não desporto que afeta o seu desempenho escolar, mas o de dedicarem a essa prática mais tempo do que o que seria desejável”. Neste sentido importa entender como é que o aluno praticante de desporto de alto rendimento vive com as exigências do atleta. Como é que o atleta, do ensino secundário ou superior, lida com a exigência escolar após uma competição no fim de semana. Com que rendimento consegue estar nas aulas um aluno/atleta, quando treina diária e afincadamente. Neste contexto, Pérez & Aguilar (2012, p.203) afirmam que “ao esforço que implica a realização de todas as atividades inerentes à prática desportiva, os estudantes desportistas têm que juntar as que derivam do seu processo formativo. Uma situação semelhante vive-se, também, no seu inverso, uma vez que os estudantes, para além de terem que cumprir com o seu processo de Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 36 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol aprendizagem, têm que dedicar uma parte importante do seu tempo à atividade desportiva, o que compromete as possibilidades de obterem um rendimento académico excelente.” Como apontaram Zenha et al. (2009, p.2) o dia-a-dia dum atleta de alto rendimento “nem sempre é compatível com as atividades educativas e sociais próprias do cidadão comum”. As exigências vão aumentando, principalmente o número de horas de treino, implicando uma redução no tempo livre. Assim, de acordo com Costa (2007, p.29) para ser possível um bom desempenho escolar é necessário que “os alunos não comprometam algum do tempo que lhes poderá ser útil para estudar, por se dedicarem excessivamente a atividades de carácter desportivo” e “que os diferentes agentes educativos reúnam esforços no sentido de ajudar os alunos a melhor gerirem e organizarem o seu tempo, de modo a não comprometerem a concretização do seu sucesso escolar”. É conhecido que os atletas que obtêm o estatuto de alto rendimento têm direito, por lei, a algumas medidas de apoio. Contudo, urge encontrar forma de as operacionalizar, de criar sinergias eficazes no “terreno”, para que estas possam ser, verdadeiramente, efetivas na sua ação. De acordo com Zenha et al. (2009, p.2) a “possibilidade de obtenção de um estatuto desportivo de alto nível não resolve as dificuldades inerentes a esta vida-dupla de desportista e, na maior parte dos casos, de estudante”. Neste ponto os professores têm um papel crucial. Quando as instituições tornam complexo o usufruto dos referidos apoios, deve o professor estar disponível para, em conjunto com o aluno, encontrar as melhores soluções de ajuda. No entanto, é indubitável que este empenho do professor, por si só, não é suficiente. O atleta tem que valorizar uma boa organização e assim poder rentabilizar o seu tempo. Como concluíram Zenha et al. (2009, p.8), para os atletas conseguirem um bom rendimento escolar precisam ter a capacidade de gerir bem o tempo, bem como “possuir qualidades de organização pessoal acima da média dos jovens da mesma idade”. Só assim será possível compatibilizar os estudos com a alta competição e, ainda, desfrutar de algum tempo livre para atividades de lazer e para a família. Todas as contingências enunciadas tomam uma dimensão de exigência mais elevada quando os alunos/atletas se encontram a frequentar o ensino superior. Vasconcelos (2003, p.9) sobre este assunto refere que “continuamos a assistir a abandonos precoces, precisamente nos períodos críticos de uma Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 37 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol carreira desportiva, ou seja, no início da fase da obtenção dos grandes resultados de expressão internacional, que acabam por coincidir com a transição para o ensino superior, com os prejuízos de vária ordem daí decorrentes.” É evidente a necessidade de se ter em conta a realidade pessoal destes estudantes, introduzindo medidas de apoio, orientando o sistema de ensino para o desenvolvimento, em paralelo, da atividade desportiva de alto rendimento e a formação académica. “Sem uma ajuda adequada para gerir a alternância desta dupla atividade, muitos destes estudantes podem ver-se condenados a situações de stress, fracasso ou abandono dos estudos ou do desporto” (Pérez & Aguilar, 2012, p.201). Neste contexto, também importa referir a importância do desporto na formação integral do individuo. Na atualidade o acesso ao mercado de trabalho pressupõe grande concorrência. É um processo que submete os candidatos a um emprego, a critérios de seleção exigentes, onde, para além de competências específicas num determinado ramo de conhecimento, também são valorizadas competências de âmbito mais global, que lhes aportem agilidade para se moverem neste intrincado mundo socio laboral (Villa & Bezanilla, 2002). No ensino superior podemos encontrar um crescente número de estudantes que, para além de se formarem para no futuro serem bons profissionais, praticam desporto. Esta atividade contribui para a sua formação e para o seu desenvolvimento integral. Uma prática desportiva regular e exigente, oferece aos jovens oportunidades para desenvolverem habilidades sociais, adquirirem responsabilidade no cumprimento de prazos e compromisso no cumprimento de objetivos, etc. Estas competências têm especial importância no desporto que praticam, e em todos os outros planos da sua vida pessoal e social (Rychen & Sal- ganik, 2001; Poblete y García, 2007; Rodríguez, 2007, cit. por Pérez & Aguilar, 2012). É de destacar, no que concerne à escolha da área de estudos a realizar na universidade, a falta de conexão existente entre o desporto que praticam e o curso em que ingressaram, o que demonstra que para os estudantes desportistas de alto nível são dois processos que, embora se desenvolvam de forma paralela, são independentes (Pérez & Aguilar, 2012). Quando falamos de prática de desporto de alto rendimento colocamos a relação num nível muito mais difícil de se obter um equilíbrio saudável. Pérez & Aguilar (2012, p.202) referem que “compatibilizar estas duas atividades, contudo, não é uma tarefa fácil devido ao alto grau de exigência que Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 38 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol para estes estudantes implica competir ao mais alto nível e, ainda, cumprir com as exigências do ensino universitário”. Valle corrobora esta opinião ao afirmar (2003, p.67) “ ainda que se satisfaçam com a prática desportiva, ficam evidentes os efeitos que provoca, nem sempre sentidos como benéficos. As maiores queixas são em relação ao prejuízo dos estudos e, posteriormente, à capacitação profissional.” Efetivamente, para os estudantes/atletas de alto nível, as altas exigências que implica a prática desportiva tornam difícil a compatibilidade com a formação académica, tendo em conta os requisitos impostos pelo novo modelo de aprendizagem e com as novas diretrizes na avaliação das aprendizagens (Sánchez & Zubillaga, 2005). Ruiz et al. (2008) afirmam que existe uma correlação negativa entre os estudos e o rendimento desportivo, dado que o processo formativo dificulta de forma significativa a prática desportiva. Por este motivo, muitos jovens com excelentes condições para a prática desportiva e que consideram importante a formação académica para o seu futuro profissional, optaram por emigrar para países como os Estados Unidos para poderem harmonizar estudos e desporto, e assim, continuarem a sua formação enquanto treinam e competem ao mais alto nível (Pérez & Aguilar, 2012). Neste contexto Marques (1999, p.153) refere que “ os programas desportivos de alguns países têm vindo a desenvolver modelos de organização pedagógica baseados em parcerias com escolas, sendo que escolas, clubes e federações assumem compromissos bem definidos nesses programas”. Há atletas que só vivem para o desporto. A sua identidade é unidimensional e não fazem mais nada para além do desporto. Não preparam o fim da sua carreira de desportista, nem a sua futura inserção no mundo laboral. Para estas pessoas, o ato de deixar o alto rendimento pode compreender sentimentos de depressão e uma grande variedade de dificuldades de adaptação social e emocional, perante um futuro que está cheio de dúvidas e incertezas (Baillie y Danish, 1992; Brewer, Van Raalte, & Linder 1993; González y Bedoya, 2008, cit. por Vilanova & Puig, 2013). Castells (2001) refere que presentemente há uma grande quantidade de atletas que dedicam a sua vida à prática desportiva. São profissionais do desporto, vivem de seu rendimento físico, êxito e resultados. Contudo, chega o dia em que já não conseguem viver do desporto. A sua profissão de desportista finaliza e têm que encontrar uma nova profissão. Esta nova atividade, pela Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 39 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol complexidade do mercado de trabalho, não chegará de um dia para o outro, mas requererá uma preparação prévia. Pérez & Aguilar (2012) relevam que a vida de desportista de alto rendimento é curta e são poucos os que, depois de se retirarem de competição, conseguem manter atividades profissionais ligadas ao desporto. Daí a importância de ajudar os estudantes desportistas de alto nível a definir, de forma progressiva e contínua, um projeto de vida onde seja possível compatibilizar a atividade desportiva e a formação académica. O desenvolvimento desse plano permitiria que, no fim da prática desportiva ativa, cada um pudesse progredir no campo profissional para o qual se tivesse preparado. Watts & Moore (2001) defendem que o estar envolvido na prática desportiva pode abrir portas conducentes a experiências muito para além do mundo do desporto. O desporto enquanto fenómeno de massas leva à interação com muitas pessoas e instituições, que posteriormente podem vir a tornar-se muito importante em projetos profissionais futuros. Outros autores assumem a importância do desenvolvimento de programas de assessoria académica e vocacional, defendendo que estes constituem um instrumento vital no apoio e orientação dos desportistas de alto rendimento nas suas transições (Pallarés, et al. 2011; Vilanova, 2009). Neste âmbito é referida a “tutoria universitária” como uma das medidas académicas a implementar na tentativa de superar as principais dificuldades diagnosticadas na articulação do desporto de alta competição com a formação escolar (Álvarez, 2002; Álvarez & Lázaro, 2002). A tutoria universitária apresenta-se como um espaço intimamente ligado ao ensino e tem objetivos bem definidos na sua relação personalizada com os estudantes: procura facilitar-lhes a adaptação e integração ao sistema de ensino; ajuda-os no aproveitamento académico e desenvolvimento pessoal; e prepara a sua transição para a sociedade e mercado de trabalho (Gros & Romaná, 2004; Rodríguez, 2004). García, Asensio, Carballo, García, & Guardia (2005, p.191) definem o papel do tutor quando afirmam que “ o professor, em convergência com as suas funções docentes, promove um conjunto de atividades orientadoras e formativas, para que o estudante obtenha o máximo desenvolvimento a nível cognitivo, pessoal, académico e profissional”. Vilanova & Puig (2013, p.65) afirmam “que a compaginação da carreira desportiva com a carreira académica é uma questão de estratégia. Se se Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 40 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol desenvolve uma estratégia, é possível compaginar os estudos com o desporto; se não é assim, isto não é possível.” Pérez & Aguilar (2012) dizem ser inquestionável o valor que os estudantes desportistas reconhecem à prática desportiva, pelo papel que desempenha no seu desenvolvimento integral e na sua promoção como atletas de alto rendimento. Ao mesmo tempo, referem que os mesmos estudantes identificam a formação superior como um requisito indispensável e decisivo na determinação do seu futuro profissional. Vilanova & Puig (2013, p.65) dividem os alunos praticantes de desporto de alto rendimento em dois tipos: - “Desportistas que têm consciência do futuro, que estabelecem objetivos (alcançáveis e coerentes) a longo prazo para compatibilizar estudos e desporto e realizam ações para os poder concretizar, graças, principalmente, à influência familiar; - E os que não; a diferença fundamental é que estes não têm consciência da necessidade de preparar o seu futuro profissional. Como eles próprios descrevem vivem numa “borbulha”, não planeiam objetivos académicos nem tãopouco recebem influências positivas dos agentes socializadores”. Assim, Pérez & Aguilar (2012, p.211) afirmam que “a melhoria dos processos de formação e da prática desportiva destes estudantes requer mudanças que se enraízem progressivamente e que sejam assumidas por todos”. Defendem que estas alterações devem começar “pela instituição universitária, que tem agir de forma determinada a favor da igualdade de oportunidades, aprovando normativas e ações específicas para estes estudantes”. Passando depois para “os orientadores, professores e tutores, que devem facilitar o acesso à informação, adaptar o ensino à realidade de cada aluno e disponibilizar os recursos necessários para compensar as dificuldades que decorrem desta vida dupla.” Acrescentam ainda que “ a desatenção perante estas situações pode influenciar a consecução dos objetivos pessoais dos alunos e conduzir a situações de fracasso ou abandono dos estudos ou do desporto”. Como conclusão parece-nos importante relevar o papel do aluno/atleta em todo o seu processo de formação. A análise de diferentes autores aponta para o longo caminho a percorrer até serem criadas as condições conducentes a uma articulação saudável e equilibrada da formação académica com o desporto de alto rendimento. No entanto, acreditamos que a “estratégia” que o sujeito Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 41 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol criar, terá sempre que ser o vetor do sucesso das duas vertentes, quando vividas em simultâneo. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 42 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol INVESTIGAÇÕES DESENVOLVIDAS NESTA TEMÁTICA Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 43 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol 5 Investigações Desenvolvidas nesta Temática Percorrendo os estudos que se têm realizado no âmbito da relação existente entre a formação académica e a atividade desportiva constatamos um aumento do número de trabalhos de investigação sobre este tema, o que é demonstrativo da vontade de melhor entender a simbiose existente entre estas duas atividades. Também é revelador deste interesse as várias perspetivas de abordagem que cada um dos trabalhos apresenta, sempre com o intuito de entender a complexidade desta vivência em comum. Para além dos diferentes contributos que muito aportam para a compreensão do que é exigido ao aluno/atleta na consecução do seu projeto de vida, também são apontados caminhos a percorrer para agilizar este processo de formação com o objetivo de promover a obtenção do sucesso (possível) tanto na escola como no desporto. Elencamos, a seguir, alguns estudos nacionais e internacionais desenvolvidos dentro desta temática. Viacelli, em 2002, realizou um estudo com alunos-atletas e não-atletas, para verificar a influência da prática desportiva no rendimento escolar, concluindo que: “os alunos não-atletas tiveram um rendimento escolar pior que os alunos-atletas”(p.1). A autora asseverou ainda que o rendimento escolar dos alunos é independente da sua prática desportiva. Porque, como concluiu no seu estudo, “a prática de atividades físicas não foi capaz de auxiliar e nem de prejudicar os alunos no que diz respeito ao rendimento escolar”. Costa, em 2007, efetuou um estudo, no âmbito do ensino secundário, para avaliar a relação existente entre o rendimento académico e a prática desportiva, referindo que não é o facto de os alunos praticarem desporto que afeta o seu desempenho escolar, mas sim o tempo que dedicam à prática desportiva. De acordo com a autora, “quanto mais tempo os alunos dedicam à prática de atividades desportivas, pior é o seu rendimento académico, possivelmente porque sacrificam algum do tempo que poderiam utilizar em prol de um bom desempenho escolar” (p.27). Posteriormente, Zenha et al. (2009) realizaram uma investigação com praticantes de desporto em percurso de alto rendimento ou já detentores do referido estatuto. Investigaram como é que alunos-atletas de diferentes Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 44 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol modalidades organizam a sua formação. Avaliaram, ainda, as dificuldades que sentiam para conciliar as atividades escolares e a prática desportiva. As principais conclusões revelaram: a importância de uma boa gestão do tempo na obtenção do sucesso escolar; que os estudos não influenciam negativamente o rendimento desportivo assim como a prática desportiva não influencia negativamente o sucesso escolar. Como dificuldades identificaram o pouco tempo de descanso e a ausência de motivação. Oliveira et al. (2010) fizeram um estudo denominado “Esportes e escola na educação de jovens: conciliação ou antagonismo?”. No referido trabalho de investigação realizaram um questionário a trinta e seis atletas do sexo masculino, praticantes de um desporto coletivo, com idades compreendidas entre os quinze e os dezoito anos, alunos do ensino secundário e do ensino superior. Entrevistaram também três professores. Apresentaram as seguintes conclusões: • existem dificuldades em conciliar a prática desportiva com a atividade escolar; • como a maioria dos alunos-atletas treina mais de três vezes por semana, é possível preconizar uma organização onde haja equilíbrio entre o tempo de treino e o tempo necessário ao estudo; • é importante o papel da família e do treinador, mas estes não devem obrigar o aluno-atleta a escolher entre uma das duas atividades; • as duas atividades conciliadas são importantes na formação integral do indivíduo. O desporto, quando bem orientado, transforma-se num profícuo instrumento educativo e os estudos são fundamentais para desenvolver uma visão do mundo própria do ser humano; • os atletas querem compatibilizar as duas atividades, apesar de tenderem para o lado do desporto; • a conciliação entre atividade desportiva e formação escolar não é apenas possível, é sim extremamente necessária. Santos, em 2010, realizou um estudo com doze atletas de alto rendimento de desportos individuais, com idades entre os quinze e os vinte e seis anos, que frequentavam o ensino secundário e o ensino superior. Neste estudo, o referido autor analisou quais as contingências vivenciadas pelos alunos na conciliação do desporto de alto rendimento com a formação escolar. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 45 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Apurou se usufruíam das medidas de apoio, e que ajudas recebiam os atletas da família, do clube, da escola/faculdade e da respetiva federação. Os dados recolhidos indicaram que: • as principais dificuldades que encontram na conciliação do alto rendimento e a formação escolar são a fadiga e a falta de tempo; • avaliam a compatibilização que realizam entre o alto rendimento e a formação escolar como razoável e exequível; • consideram o maior constrangimento a impossibilidade de se dedicarem a outras atividades. Daí pensarem, também, que seriam melhores alunos se não treinassem e vice-versa; • nem todos usufruem das medidas de apoio a que têm direito, principalmente porque ainda não tinham sido necessárias; • consideram utópica a existência de um professor acompanhante; • classificam o apoio prestado pela família como fulcral para obterem sucesso; • sentem apoio por parte dos clubes; • entendem que deveriam ser melhorados os apoios prestados pela escola/faculdade e pelas federações. Zenha (2010) desenvolveu uma investigação com doze atletas de alto rendimento de modalidades coletivas, cujas idades variavam entre os catorze e os trinta anos. Os referidos atletas frequentavam o ensino secundário e o ensino superior. O estudo tinha como objetivos avaliar as dificuldades e os apoios a que os atletas de alto rendimento estão sujeitos no seu quotidiano, assim como a perceção que os mesmos têm das medidas de apoio que usufruem. As conclusões apresentadas por Zenha determinam que: • os objetivos a atingir, tanto a curto como a longo prazo, são fundamentalmente a nível desportivo; • a maioria dos alunos não tem hábitos de estudo diários; • os aspetos negativos que mais se salientam são a falta de tempo livre tanto para atividades de lazer como para o necessário descanso; • a justificação de faltas e a alteração das datas de exames são as medidas de apoio a que mais recorrem; • um dos apoios que pretendem ver implementado é a existência de uma melhor articulação entre a escola e o desporto; Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 46 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol • consideram que a prática desportiva regular e exigente favorece a sua formação escolar, porque esta os obriga a uma melhor organização e a um maior rigor; • indicam que a atividade desportiva e o desporto se complementam. Em 2012, Castro realizou um estudo com praticantes de alto rendimento de uma modalidade coletiva, e com idades entre os quinze e os dezassete anos. A investigação contou ainda com a participação de quatro elementos do corpo técnico da respetiva federação. O autor, à semelhança dos trabalhos elencados anteriormente, procurou identificar as contingências e as medidas de apoio que influíam no dia-a-dia das atletas, determinar se as atletas tinham conhecimento das diferentes medidas de apoio existentes na legislação portuguesa, assim como encontrar as estratégias e medidas que urge aplicar para que seja possível compatibilizar o alto rendimento e o sucesso escolar. Assim, os principais resultados revelaram que as atletas: • apontam o cansaço e a falta de tempo como as maiores dificuldades que sentem na conciliação da prática de alto rendimento e a formação escolar, • têm total conhecimento das medidas de apoio em vigor e referem a justificação de faltas e alteração de datas de exame como as que utilizam mais frequentemente; • identificam a família como apoio fundamental ao seu projeto de vida, apesar de valorizarem o apoio dado pelo clube e federação; • precisam de mais apoios a nível escolar, dando como exemplo um menor número de aulas semanal e permitindo, assim, mais tempo livre para estudar; • reclamam a nível desportivo um reforço do estatuto de atleta de alto rendimento; • consideram que não seriam melhores alunas se não praticassem desporto e vice-versa; • assumem que a atividade desportiva as beneficia na formação escolar, pois tendem a ser mais organizadas e concentradas; • avaliam a conciliação do desporto de alto rendimento com a formação escolar como possível. As entrevistas feitas aos elementos da equipa técnica da federação, indicaram que: Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 47 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol • a principal dificuldade que encontram na compatibilização entre a formação académica e a prática desportiva é o horário escolar, que por ser extenso não permite o tempo necessário de treino; • a presença de uma professora residente no Centro de Alto Rendimento (CAR) possibilita um acompanhamento permanente das atletas; • as medidas de apoio que desejavam ver publicadas centram-se numa melhor articulação entre a vida escolar e a desportiva; • defendem que as atletas têm melhor aproveitamento escolar por estarem inseridas num projeto com as caraterísticas do CAR; • a atividade desportiva de alto rendimento, bem supervisionada, tem influência positiva na formação escolar, desenvolvendo a organização, a capacidade de trabalho, a motivação e a gestão do tempo das atletas. Pérez e Aguilar (2012) realizaram um estudo com alunos universitários praticantes de desporto de alto rendimento. Os referidos autores procuraram aferir como se orientava o processo de formação académica desses alunosatletas e identificar as condicionantes que tinham para compaginar o processo formativo com a atividade desportiva de alto rendimento. Entrevistaram dezasseis atletas de alta competição matriculados na Universidade de San Fernando de La Laguna e ainda pediram a colaboração de oito elementos (especialistas) cuja área de intervenção profissional estava relacionada com a formação e o desporto, para criar um “grupo de discussão”. Os autores orientaram a sua investigação de acordo com quatro objetivos específicos: i) aquilatar a qualidade de informação pré-universitária; ii) identificar os processos de escolha e de acesso aos estudos universitários e iii) perceber as dificuldades de adaptação e integração à formação universitária e iv) referenciar as necessidades dos alunos para compaginar os estudos com o alto rendimento. Os dados recolhidos evidenciaram que: • as informações que os alunos receberam durante o ensino secundário e nas fases que antecederam a sua entrada na universidade foram insuficientes e não propiciaram as condições necessárias a uma boa adaptação ao ensino superior; • os alunos tiveram dúvidas no momento de escolha do curso universitário, essencialmente devido à referida falta de informação e orientação; • a eleição da área de estudos que fizeram não esteve relacionada com o tipo de desporto que praticavam; Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 48 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol • as principais contingências que sentiram, como atletas de alto nível, para se adaptarem à vida universitária, foram a falta de tempo para estudar; as dificuldades para assistir às aulas e para conciliar os exames com as competições; • as estratégias de aprendizagem que se revelaram mais eficazes foram: estudar dia-a-dia; assistir de forma ativa às aulas; planificar bem as atividades diárias, tanto as referentes ao estudo como as de treino; procurar o apoio dos colegas de turma para obterem os apontamentos das aulas que não conseguem assistir; • os serviços, recursos e ajudas fornecidas pela universidade aos alunos-atletas são insuficientes.; • que a compatibilidade da atividade desportiva de alto rendimento com a formação académica é possível, sendo, no entanto, importante realizar adaptações no ensino e introduzir novas medidas de apoio. Todavia, apesar de a universidade apresentar carências a nível das infraestruturas para a prática desportiva, os atletas realçaram a importância do apoio que lhes é disponibilizado através do programa de tutorias personalizadas para desportistas de alto nível (TUDAN). Este programa foi criado pela universidade no ano letivo 2011-2012 para facultar uma ajuda mais personalizada aos alunos-atletas e, assim, compensar as dificuldades académicas que vivenciam por serem praticantes de desporto de alto rendimento. Dada a eficácia evidenciada nos primeiros anos de vida do programa, os alunos referiram ser importante que este se torne oficial. Para finalizar apresentamos dois estudos efetuados em 2013. Primeiro o realizado por Dias, intitulado “O percurso desportivo de atletas de alto rendimento no atletismo: conciliação entre sucesso desportivo e sucesso escolar”, e a seguir um trabalho de investigação elaborado por duas autoras, Vilanova & Puig. Dias (2013), no seu trabalho de investigação, procurou: i) aferir se é possível compatibilizar o sucesso desportivo com o sucesso escolar; ii) identificar as dificuldades e os apoios sentidos pelos atletas durante a sua carreira desportiva; e iii) estudar e comparar o percurso desportivo de atletas de diferentes níveis de performance. A referida autora realizou o estudo com cinquenta e nove atletas, de ambos os sexos, todos praticantes de atletismo. Dos cinquenta e nove atletas, Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 49 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol quarenta e um também estudavam. Os participantes tinham idades compreendidas entre os quinze e os trinta anos. Em relação às dificuldades de conciliação da prática desportiva com as atividades escolares, os dados recolhidos revelaram que: • os atletas têm dificuldades na conciliação do sucesso escolar com a prática desportiva de alto rendimento; • as maiores dificuldades que sentem são: a concertação de horários, a falta de tempo e ainda o esgotamento físico e psicológico; • a família, em comparação com as outras instituições (escola/clube/federação), é a que mais apoia os atletas, proporcionando um apoio absoluto (financeiro, emocional, médico e logístico); • grande parte dos participantes não tem conhecimento das medidas de apoio existentes para atletas de alto rendimento e que poucos usufruem das mesmas; • sentem que não seriam melhores atletas caso não estudassem, havendo no entanto uma tendência para sentirem que teriam melhor aproveitamento escolar se não competissem. Relativamente ao estudo da carreira desportiva, as principais conclusões indicaram que: • os atletas foram os responsáveis pela escolha do atletismo como modalidade desportiva. Que iniciaram e se envolveram no desporto por iniciativa própria. Que os pais não tiveram qualquer tipo de influência nas suas opções; • os atletas iniciaram a prática desportiva num clube ou na escola, tendo a maioria praticado apenas atletismo durante a sua carreira desportiva; • existe uma relação direta entre o tempo dedicado ao treino e o rendimento alcançado; • Existe um aumento gradual da frequência semanal de treino proporcional ao aumento da idade dos atletas; • Em relação aos fatores que mais contribuem para o sucesso desportivo, os participantes relevaram a predisposição para o treino, a motivação pela vitória, e o apoio do treinador. No referido trabalho de investigação, a autora concluiu que a exigência desportiva vivenciada pelos praticantes de alto rendimento pode influir no seu rendimento escolar, não indicando, no entanto, a prática desportiva como causadora de mau aproveitamento escolar. Dias referiu ainda que, para ser possível a conciliação das duas atividades, é importante e necessário que as diferentes instituições coloquem em prática as medidas regulamentadas, dando Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 50 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol cumprimento ao que está legislado para estes alunos-atletas, ajudando-os, assim, na sua formação académica. Vilanova & Puig (2013) realizaram um trabalho de investigação que chamaram “Compaginar a carreira desportiva com a carreira académica para uma futura inserção laboral”. Realizaram vinte e seis entrevistas e noventa e quatro inquéritos telefónicos a desportistas olímpicos, de vinte e seis modalidades diferentes, com idades compreendidas entre os vinte e três e os cinquenta e oito anos. Estes atletas, no momento, já não se encontravam no ativo e estavam inseridos no mundo laboral há pelo menos quatro anos. Para realizar o estudo as referidas autoras identificaram como “elemento teórico central” (p.67) o conceito de estratégia (Mintzberg, Quinn & Voyer, 1997 cit. por Vilanova & Puig). De acordo com os resultados obtidos identificaram duas situações distintas: • atletas com consciência de futuro que elaboram estratégias com objetivos simples e coerentes, a longo prazo, para articular estudo e desporto. Assim, realizam uma boa gestão do tempo, são assíduos às aulas, escolhem menos disciplinas por ano letivo, recorrem a professores de apoio, reduzem pontualmente a atividade desportiva. Nestas opções existe, frequentemente, orientação e influência da família; • atletas que embora tenham consciência da necessidade de preparar o futuro profissional, não elaboram qualquer estratégia nem desenvolvem ações para o efeito. Os resultados obtidos também trouxeram informações relevantes para o desenvolvimento de programas de assessoria académica e vocacional. Sabemos, também pela experiência descrita por Pérez & Aguilar (2012), que estes projetos de “tutoria universitária” constituem um instrumento fundamental no auxílio das transições dos praticantes de alto rendimento. As referidas autoras indicaram ser fundamental um acompanhamento individualizado para cada desportista em função das suas necessidades, de modo a ajustar a escolha do tipo de treino, o estudo, a preparação física e psicológica às caraterísticas do atleta. Vilanova & Puig (2013) acrescentaram ainda que estes programas de assessoria deveriam existir em todas as fases de desenvolvimento do atleta. Que deveriam ser ministrados mesmo para os desportistas que não revelassem apetência para a elaboração de estratégias de preparação do seu futuro profissional. Deram também exemplos de como podem ser realizados os Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 51 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol referidos programas e indicam o “Tutoresport”, programa de tutoria da Universidade Autónoma de Barcelona, como uma boa referência. No final do artigo, Vilanova & Puig (2013,p.66) referem que “a limitação deste estudo centra-se fundamentalmente em que a validade dos resultados está confinada à população de desportistas olímpicos. Estes possuem um valor acrescentado pelo facto de terem participado em Jogos Olímpicos, o qual não permite generalizar os resultados obtidos a todo o mundo desportivo.” Em jeito de desafio acrescentam “deveria analisar-se, se num conjunto de desportistas de nível inferior (desportistas que tenham dedicado toda a sua vida ao desporto, mas que tenham ficado às portas do alto rendimento) os resultados são similares” (p.66). E aludiram que “também se poderia realizar o mesmo estudo a desportistas no ativo para observar mais detalhadamente o processo de elaboração das estratégias” (p.66). Observando atentamente os trabalhos de investigação aqui expostos podemos afirmar que a maioria dos autores considera que conciliação entre a prática desportiva de alto rendimento e a formação académica é possível (Castro, 2012; Dias, 2013; Oliveira et al., 2010; Pérez & Aguilar, 2012 e Santos, 2010). Neste âmbito a falta de tempo, tanto para realizar as tarefas escolares como para as atividades de lazer e o cansaço são as principais dificuldades diagnosticadas na compatibilização das duas atividades (Zenha, 2010; Castro, 2012; Pérez & Aguilar, 2012 e Dias, 2013). Viacelli (2002), Zenha et al. (2009) e Castro (2012) defendem que o aproveitamento escolar é independente da prática desportiva, enquanto Costa (2007) refere que o tempo dedicado à prática desportiva é que influencia o rendimento escolar. Neste contexto, Santos (2010) afirma que existe uma correlação negativa entre as duas atividades, com os alunos-atletas a mencionarem que seriam melhores numa atividade se não exercessem a outra. Dias (2010) acrescenta que os desportistas indicaram que não seriam melhores atletas se não estudassem mas que teriam melhor aproveitamento escolar caso não praticassem desporto de alto rendimento. Oliveira et al. (2010) realça a importância de se realizarem as duas atividades em simultâneo para a formação integral do indivíduo. Zenha (2010) fala de uma complementaridade entre as duas atividades e juntamente com Castro (2012) defende uma influência positiva da prática desportiva no rendimento escolar. Estes autores indicam que o desporto de alto rendimento exige aos atletas uma melhor organização e gestão do tempo, assim como promove uma cultura de rigor e exigência fundamental na obtenção de bons resultados académicos. A família é considerada a ajuda mais importante na consecução do projeto de vida Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 52 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol destes estudantes-desportistas (Castro, 2012 e Dias, 2013 Oliveira et al., 2009 e Santos, 2010) e a justificação de faltas e alteração de datas de exame são as medidas de apoio mais utilizadas pelos alunos (Zenha, 2010). Pérez & Aguilar (2012) e Vilanova & Puig (2013) sublinham a importância dum acompanhamento individualizado para estes estudantes, através duma “tutoria universitária”. Vários autores mencionam a importância de se verem reforçadas as medidas de apoio, sob pena de estes alunos-atletas fracassarem ou mesmo abandonarem os seus objetivos escolares ou desportivos (Castro, 2012 e Pérez & Aguilar, 2012 e Santos, 2010). Por fim realçamos a determinação dos alunos em tornar possível este desígnio (Zenha et al., 2009) e o papel que a elaboração de uma estratégia pode ter no sucesso da articulação dos estudos com a prática desportiva de alto rendimento (Vilanova & Puig, 2013). Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 53 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 54 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol METODOLOGIA Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 55 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol 6 Metodologia 6.1 Introdução Neste capítulo reservado aos procedimentos metodológicos do nosso estudo vamos descrever o processo de realização que adotámos, caraterizando o campo de estudo, referindo o instrumento de pesquisa e os procedimentos efetuados. Neste trabalho a metodologia que elegemos foi a de âmbito qualitativo. De acordo com o nosso entendimento, a utilização desta metodologia possibilita uma melhor compreensão da experiência e dos comportamentos humanos dentro do seu próprio meio. Neste contexto, acreditamos ser o método que melhor se adequa à nossa investigação. Para Turato (2003, pág. 262), “a curiosidade e o empenho do pesquisador estão voltados para o processo, definido como ato de proceder do objeto, quais são seus estados e mudanças e, sobretudo, qual é a maneira pela qual o objeto opera”. Como referem Patton (1990), Stake (1995), Maxwell (1996), Creswell (1998) e Merriam (1998) citados por Maia (2010, p.73), este “desenho qualitativo é muito descritivo e auxilia na compreensão do significado de eventos e ações que decorrem dentro de situações da vida real.” Reforçando esta ideia, podemos considerar este método como um instrumento muito válido para determinar o que é fundamental e porque é fundamental; um processo através do qual se conseguem identificar as questões chave e eleger as perguntas necessárias para descobrir o que é determinante para cada indivíduo e porquê. Preferimos o processo de avaliação qualitativo, dado que este releva a descrição, análise e interpretação dos dados recolhidos, procura compreendê-los dentro do seu contexto, respeitando a sua multiplicidade e o modo como foram registados. O referido método centra-se na compreensão do fenómeno, e não em enumerar ou medir eventos, raramente apela a um instrumento estatístico para a análise dos dados. Quanto aos dados descritivos, estes são conseguidos “mediante contato direto e interativo do pesquisador com o objeto de estudo” (Neves, 1996, p.1). Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 56 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Guedes (2002) defende que a metodologia qualitativa é a única que pode tornar possível um estudo sério de todos os cenários da vida social. Fortin, Côté & Vissandjée (1999, cit. por Zenha, 2010) afirmam que a análise qualitativa coloca o enfoque na compreensão do fenómeno estudado através da observação, descrição e interpretação do meio e do fenómeno em si, tal como ele se apresenta. Para Merriam (1998, cit. por Maia, 2010) o papel do investigador deve-se regular por: i) atribuir uma preocupação maior ao processo e não ao resultado; ii) relevar o significado de cada pormenor. O referido autor (2010) carateriza a investigação qualitativa como indutiva, a que convida o investigador à construção de conceitos, de hipóteses, de teorias à medida que vão emergindo os dados, nunca podendo cair na tentação de fazer corresponder os resultados às teorias pré-concebidas. Salienta que o método qualitativo implica “trabalho de campo”, obriga quem faz a investigação a estar presente durante as observações que realiza às pessoas e no registo de comportamentos no seu ambiente natural. 6.2 Campo de Estudo O presente estudo teve o seu enfoque em dez (10) atletas em percurso de alto rendimento, do género feminino, com presença regular nas seleções nacionais de basquetebol. As referidas atletas, durante o ensino secundário, frequentaram um ou mais Centros de Alto Rendimento da Federação da respetiva modalidade e, neste momento, são simultaneamente estudantes do ensino superior e jogadoras da Liga Feminina de Basquetebol. As suas idades estão compreendidas entre os 18 e os 23 anos. CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES Após a seleção, o grupo de estudo foi composto por dez (10) alunas/atletas que cumprindo os pré-requisitos estabelecidos estudam e jogam em diferentes pontos do país. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 57 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Quadro 1 – Caracterização Geral das Atletas Atleta Idade Local de Residência Clube Atl1 21 Vagos A. D. Vagos Atl2 19 Coimbra Olivais F. C. Atl3 19 Algés S. Algés e Dafundo Atl4 18 Coimbra Olivais F. C. Atl5 16 Algés Quinta dos Lombos Atl6 21 Barreiro G.D.E.S. Santo André Atl7 23 Barreiro G.D.E.S. Santo André Atl8 20 Vagos A. D. Vagos Atl9 19 Porto Lousada A. C. Atl10 20 Coimbra C.D. Torres Novas Podemos constatar, ao analisarmos o Quadro 1 que, como tínhamos referido, todas as atletas participantes neste estudo têm idades compreendidas entre os 18 e os 23 anos e, durante a época desportiva de 2013/14, pertenceram aos quadros de Clubes da Liga Feminina de Basquetebol. Sublinhamos que todas são do sexo feminino e que o local de residência plasmado no supracitado Quadro é o local onde cada uma delas vive durante o ano letivo/ época desportiva. Observando o Quadro 2, verificamos que as participantes do estudo tiveram, durante a presente época desportiva, entre 3 a 9 sessões de treino por semana e realizaram entre 20 a 60 jogos. Continuando a analisar o referido Quadro, confirmamos que apesar de apresentarem poucos anos de prática federada na modalidade, entre 7 e 12 anos, todas elas têm uma participação efetiva numa das competições mais exigentes disputadas no nosso país, a Liga Feminina de Basquetebol. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 58 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Quadro 2 – Caracterização da Prática Desportiva das Atletas Atleta Nº de treinos por semana Nº de jogos época Anos de Federada Participação efetiva em jogos da Liga Feminina Atl1 4 32 9 Sim Atl2 5 20 7 Sim Atl3 8 45 11 Sim Atl4 5 40 7 Sim Atl5 9 45 12 Sim Atl6 9 35 11 Sim Atl7 4 35 9 Sim Atl8 5 60 12 Sim Atl9 4 20 7 Sim Atl10 3 23 11 Sim Passando à caracterização da experiência desportiva das atletas (Quadro 3), as dez participantes são internacionais pelas Seleções de Portugal, com presença regular nos estágios de preparação e nos Campeonatos da Europa. O número de internacionalizações situa-se entre 21 e 78. O número de participações em Campeonatos da Europa varia entre 2 e 5 vezes. Por fim, das dez atletas participantes, três já venceram um Campeonato Nacional a nível de Clube 1 vez, duas ganharam 2 vezes; uma conseguiu vencer por 3 vezes e as restantes quatro nunca foram Campeãs Nacionais. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 59 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Quadro 3 – Caracterização da Experiência Desportiva das Atletas Atleta Campeonatos Nacionais (Clube) Internacionalizações Atl1 Sim Atl2 Campeonatos da Europa Sub16 Sub18 Sub20 Total 60 Sim Sim 2x Sim 2x 5 Não 25 Sim Sim Não 2 Atl3 Sim 2x 60 Sim 2x Sim 2x Sim 5 Atl4 Não 47 Sim 2x Sim 2x Não 4 Atl5 Sim 3x 48 Sim 2x Sim Sim 4 Atl6 Sim 28 Sim 2x Sim Não 3 Atl7 Sim 78 Sim Sim 2x Sim 2x 5 Atl8 Sim 2x 29 Sim Sim Não 2 Atl9 Não 21 Sim Sim Não 2 Atl10 Não 36 Sim 2x Não Sim 3 Quanto à formação académica das atletas, podemos atestar pela observação do Quadro 4, que todas frequentam o ensino superior, estando seis no 1º ano, três no 2º ano e uma no 3º ano. Três das participantes estudam em estabelecimentos de ensino situados em Lisboa, três estudam em Coimbra, duas em Aveiro, uma no Porto e uma em Setúbal. Das dez participantes só uma frequenta um curso ligado diretamente à prática desportiva - Ciências do Desporto - todas as outras optaram por áreas de estudo não relacionadas com o desporto que praticam em regime de alto rendimento. A que estuda Fisioterapia pode, eventualmente, mais tarde direcionar a sua prática profissional para área do desporto. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 60 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Quadro 4 – Caracterização da Formação Académica das Atletas Atleta Ano Estabelecimento de Ensino Curso Atl1 2º Universidade de Aveiro Engenharia do Ambiente Atl2 1º Universidade de Coimbra Biologia Atl3 1º ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa Gestão de Recursos Humanos Atl4 1º Universidade de Coimbra Ciências do Desporto Atl5 1º Escola Superior de Tecnologia e Saúde - Lisboa Ortoprotesia Atl6 2º Faculdade de Direito – Universidade de Lisboa Direito Atl7 3º Instituto Politécnico de Setúbal Gestão de Recursos Humanos Atl8 2º ISCAA- Universidade de Aveiro Finanças Atl9 1º Universidade Fernando Pessoa- Porto Fisioterapia Atl10 1º Escola Superior de Educação de Coimbra Gerontologia Social 6.3 Instrumento de Pesquisa Como instrumento de recolha de dados, optámos pela aplicação de uma entrevista semiestruturada, caraterizada pela existência de um guião previamente elaborado que serve de fio condutor no decurso da mesma (Côté, J.et al., 1995). No desenvolvimento das referidas entrevistas, procuraremos que todas as participantes respondam às questões que delinearmos como fulcrais, tentando adaptar o normal desenrolar do diálogo às entrevistadas, refletindo, assim, uma grande plasticidade na exploração e colocação das perguntas. De acordo com Lutt (2004, p.58) “o uso das entrevistas e observações providencia um conhecimento mais profundo do que amplo, sobre um determinado fenómeno.” Morgan (1988, citado por Costa et al., 2004) define entrevista como uma conversa deliberada entre dois indivíduos, embora por vezes possam ser Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 61 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol envolvidos mais elementos, orientada por um (entrevistador) com o objetivo de conseguir informações sobre o outro (entrevistado). Para Olabuénaga (2003) e Taylor & Bodgan (1984) é fundamental valorizar a objetividade das perguntas e a sequência em que são realizadas, para que a entrevista tenha um encadeamento lógico e seja consistente. Referem, ainda, ser importante o entrevistador ter um papel neutral durante a entrevista, não emitindo opiniões pessoais ou interpretações às respostas proferidas pelos entrevistados. Assim, durante a entrevista a atitude do entrevistador deverá ser facilitadora da comunicação, criadora de um ambiente onde o entrevistado se sinta à-vontade para expressar e emitir opiniões. Segundo Manzini (s/d), a entrevista semiestruturada está centrada num tema sobre o qual elaboramos um conjunto de perguntas principais, que no decorrer da entrevista serão complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias. Para o autor, esta forma de entrevistar pode fazer surgir informações de um modo mais espontâneo, não condicionando as respostas a alternativas previamente padronizadas. Este processo tem sido utilizado pelos investigadores (Côté et al., 1995; Bloom et al., 1997 e Bloom & Salmela, 2000; cit. por Maia, 2010) permitindo que os entrevistados deem respostas livres e sem restrições, que sublinhem detalhes que julguem ser importantes, opondo-se, assim, à noção única de relevância de quem faz a pesquisa, quando faz uso de uma entrevista estritamente estruturada. De acordo com Moroz e Gianfaldoni (2006) a entrevista semiestruturada requer a presença do entrevistador que, durante a realização da mesma, procura respostas: para aquilo que o inquieta, para o que necessita saber; para as questões próprias da sua investigação. Para Triviños (1987, pág. 146 citado por Manzini, s/d) a entrevista semiestruturada tem como caraterística principal o uso de questões simples apoiadas em teorias e hipóteses relacionadas com o tema da investigação, onde o enfoque principal é dado pelo investigador-entrevistador. Complementa o autor, defendendo que a referida entrevista “[...] favorece não só a descrição dos fenómenos sociais, mas também a sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]” (p.2), além de exigir a presença consciente e atuante do investigador durante todo o processo da sua realização. Entre as vantagens apontadas à utilização da entrevista semiestruturada releva-se (Costa et al.,2004): i) permitir otimizar o tempo disponível; Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 62 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol ii) proporcionar um tratamento sistemático dos dados; iii) ser aconselhável para grupos e iv) permitir selecionar temas para posterior aprofundamento. Segundo Quivy & Campenhoudt (1998), a entrevista semiestruturada é a mais utilizada em investigações sociais. Dadas as características que a entrevista semiestruturada encerra, parece-nos ser este o instrumento que melhor se adequa ao trabalho de investigação que pretendemos realizar. Tendo em conta o descrito, elaboramos o nosso guião de entrevista de acordo com os objetivos traçados para o trabalho de investigação. As questões que foram surgindo no processo de determinação das principais finalidades do estudo, junto com a análise de referências bibliográficas, como Castro (2012), Santos (2010) e Zenha (2010), levaram à construção de uma primeira versão de guião de entrevista que, posteriormente foi sendo melhorada. Esta primeira fase do referido guião foi avaliada para aquilatar a qualidade do mesmo à luz dos objetivos do estudo. Nessa altura, foram sugeridas pequenas alterações que levaram à construção de mais duas versões. De seguida, efetuamos um pré-teste, aplicando o guião de entrevista melhorado a uma atleta que cumpria com os requisitos do nosso estudo, fazendo parte do seu universo. Após a análise e transcrição da entrevista, depois de avaliarmos a sua proficiência e a ação do entrevistador, constatámos não serem necessárias mais alterações ao guião de entrevista, nascendo assim a sua versão final. (ver anexo 1 – Guião de Entrevista). 6.4 Procedimentos Iniciamos os devidos procedimentos entrando em contacto com os clubes de proveniência das atletas, para os informar da realização das entrevistas e do âmbito do estudo. As entrevistas foram realizadas durante o mês de maio 2014, em datas, horários e locais concertados com o clube, treinador ou selecionador nacional e as atletas em questão. Na escolha das datas tivemos o cuidado de encontrar uma fase em que os clubes já tivessem terminado a sua competição, estando as atletas em fase de transição ou já concentradas nos trabalhos das respetivas seleções nacionais. Na escolha dos locais assegurámos que o espaço detinha as condições de recato e silêncio necessárias para estabelecer um clima de confiança, de partilha de ideias e de aprofundamento das questões inerentes ao estudo. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 63 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol No início da entrevista tivemos o cuidado de: i) dar a conhecer em pormenor o âmbito e os objetivos da pesquisa; ii) solicitar a autorização para a gravação áudio; iii) garantir o anonimato e, por fim, iv) realçar a importância da atleta conseguir expressar com naturalidade as suas opiniões. Informamos também cada uma das atletas da possibilidade de pedir esclarecimento caso surgisse alguma dúvida, relevando o facto de não existirem respostas certas e erradas. As entrevistas tiveram uma duração compreendida entre os 15 e 38 minutos (M= 24 m). O tempo total das entrevistas, às dez atletas, foi de aproximadamente 3 horas e 56 minutos. Foram gravadas através de uma Handycam-HDD da Sony e transcritas verbatim para computador em documentos Word, com o tipo de letra Arial, tamanho 12, com espaçamento entre linhas de 1,5 pontos, totalizando 94 páginas. À medida que fomos realizando as entrevistas, para manter o anonimato, numeramos as atletas de 1 a 10 (ex. Atl1; Atl2;…). Transcrevemos textualmente as entrevistas logo após a sua realização, sem proceder a qualquer alteração, valorizando os aspetos relacionados com a linguagem, os silêncios, as frases por acabar, as repetições e os desabafos de cada uma das entrevistadas, detalhes à partida com pouca significância, mas que se podem revelar fundamentais na nossa investigação. 6.5 Técnica de Tratamento de Dados A técnica de análise de dados utilizada foi a análise de conteúdo (Bardin, 2008). Segundo Guerra (2006) podemos dividir a técnica de análise de conteúdo em duas dimensões. Uma descritiva, que espelha o que é revelado nos dados recolhidos e uma interpretativa que resulta das interrogações do investigador perante o objeto em estudo. A referida técnica de análise carateriza-se por um conjunto de ações de estudo das comunicações que emprega comportamentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens (Bardin, 2008). Esta autora (2008) indica que a análise de conteúdo tem como finalidade estabelecer elos de ligação, numa lógica explícita, entre as mensagens cujas características foram inventariadas e sistematizadas. Para Ferrarotti (1986, cit. por Pereira & Leitão 2007) a utilização desta técnica reside na análise sistemática de um texto e tem como principal finalidade Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 64 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol dar a conhecer os temas que mais se repetem e as associações mentais a que pretendem dar origem. De acordo com Quivy & Campenhoudt (1998), a principal vantagem que advém da utilização da análise de conteúdo, é o facto de esta obrigar o investigador a manter um permanente distanciamento tanto em relação a interpretações espontâneas como, em particular, às suas próprias interpretações. Assim, não se trata de o investigador utilizar as suas referências ideológicas ou normativas para julgar as dos outros, mas de analisá-las a partir de critérios claros que recaem mais sobre a organização interna do discurso do que sobre o seu conteúdo explícito. Os mesmos autores (1998) referem que todos os métodos de análise de conteúdo são adequados ao estudo do implícito. Dado que têm como objeto uma comunicação reproduzida num suporte material que permite um controle posterior do trabalho de investigação. Muitas vezes, estes estudos são construídos de uma forma muito metódica e sistemática sem que isso prejudique a profundidade do trabalho e a criatividade do investigador. A primeira fase da análise consistiu na codificação do material transcrito das entrevistas que se traduz na transformação dos dados retirados do texto (Bardin, 2008). Esta codificação é um processo realizado sempre à luz dos objetivos estipulados para o trabalho de investigação e adaptado às características do material a estudar. Podemos descrever este processo como o “recorte” do texto plasmado com o seu sentido imediato, tangível, com o objetivo de descobrir novos sentidos. Araújo (1995, cit. por Resende, 2009) afirma que a codificação deve iniciar com a elaboração de uma grelha baseada numa primeira teoria ou num primeiro esquema concetual. As categorias em que se vai dividindo o texto informativo original devem ser criadas por referência a uma base empírica mas também a um quadro concetual mais amplo. O sistema de categorização do nosso estudo foi elaborado a priori e a posteriori. A categorização a priori teve em conta os estudos desenvolvidos por Santos (2010), Zenha (2010), Castro (2012) Pérez & Aguilar (2012) e Vilanova & Puig (2013). A categorização a posteriori deriva dos resultados obtidos na análise das entrevistas. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 65 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol GRELHA DE CODIFICAÇÃO DA ENTREVISTA A ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO DOMÍNIO I – EXPERIÊNCIA PESSOAL EXPERIÊNCIA DESPORTIVA • Influência do CNT e do CAR no Rendimento Desportivo; • Objetivos a Curto Prazo; • Objetivos a Longo Prazo; • Duração da Carreira Desportiva. EXPERIÊNCIA ACADÉMICA • Influência do CNT e do CAR no Rendimento Escolar ; • Influência do Desporto na Escolha do Curso Universitário; • Influência do Desporto na Escolha da Universidade. INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO • Ser jogadora de Basquetebol Profissional; • Conciliar o Emprego com a Prática Desportiva de Alto Rendimento; • Opções Após Término da Carreira de Jogadora de Bsquetebol. Figura 1 – Domínio I – Experiência Pessoal Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 66 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol DOMÍNIO II – APOIOS E DIFICULDADES A- No Ensino Secundário USUFRUTO DAS MEDIDAS DE APOIO • Justificação de Faltas; • Alteração de Datas de Avaliações; • Aulas de Compensação; Figura 2 – Domínio II – Apoios e Dificuldades no Ensino Secundário Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 67 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol DOMÍNIO II – APOIOS E DIFICULDADES A- No Ensino Superior PRINCIPAIS DIFICULDADES • Falta de Tempo; • Cansaço e Fadiga; • Desgaste Provocado pelas Deslocações. USUFRUTO DAS MEDIDAS DE APOIO • Alteração de Datas de Avaliações; • Justificação de Faltas. ALTERAÇÃO DE COMPORTAMENTOS NA ESCOLA • Professores; • Colegas de Curso. Figura 3 – Domínio II – Apoios e Dificuldades no Ensino Superior Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 68 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol DOMÍNIO III – CONCEÇÃO DE APOIOS E DIFICULDADES APOIOS • Escola; • Clube; • Federação; • Sugestões para Melhoria. PERCEÇÃO DA ARTICULAÇÃO • Adaptação/Integração no ensino superior; • Avaliação do Percurso (Possibilidades de Sucesso); • Importância das Tutorias Universitárias; • Utilização de Estratégias Conducentes ao Sucesso; • Prioridade aos Estudos ou à Formação Desportiva. CONDICIONAMENTO AO ALTO RENDIMENTO • Vida Pessoal; • Melhor Aluno; • Melhor Atleta. Figura 4 – Domínio III – Conceção de Apoios e Dificuldades Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 69 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 70 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 71 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol 7 Apresentação e Discussão dos Resultados Neste capítulo iremos apresentar e discutir os resultados da nossa investigação emanados das entrevistas realizadas a dez atletas internacionais estudantes do ensino superior. 7.1 Introdução Para conseguirmos um enquadramento geral das componentes em relação ao objetivo do estudo, apresentamos a organização da informação retirada das entrevistas às atletas de alta competição em três domínios conforme se pode identificar no Quadro 5. Quadro 5 – Domínios Temáticos Vigentes DOMÍNIOS Experiência Pessoal Apoios e Dificuldades A - No Ensino Secundário; B – No Ensino Superior. Conceção dos Apoios e Dificuldades C1 Experiência Desportiva A- C4 Usufruto das Medidas de Apoio C8 Apoios C2 Experiência Académica B- C5 Principais Dificuldades C9 Perceção da Articulação C3 Inserção no Mercado de Trabalho B- C6 Usufruto das Medidas de Apoio C10 Condicionamento ao Alto Rendimento B- C7 Alterações de Comportamentos na Escola Analisámos as dez entrevistas realizadas numa base de unidades de significado. A seguir, características comuns entre unidades de significado foram identificadas criando assim diferentes categorias (Côté et al. 1993, citado por Zenha, 2010). Deste modo, as unidades de significado foram organizadas em 32 categorias e 10 componentes. No quadro 6 podemos observar como realizámos a divisão de categorias pelas diferentes componentes por nós elencadas. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 72 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Quadro 6 – Distribuição das Categorias pelas Componentes do Estudo Componentes Categorias C1 – Experiência Desportiva C2 – Experiência Académica C3 – Inserção no mercado de Trabalho C4 – Usufruto de Medidas de Apoio (A) C5 – Principais Dificuldades (B) C6 – Usufruto de Medidas de Apoio (B) C7 – Alteração de Comportamentos na Escola (B) C8 – Apoios C9 – Perceção da Articulação C10 – Condicionamento ao Alto Rendimento Total 4 3 3 3 3 2 2 4 5 3 32 Quanto ao domínio “Experiência Pessoal” apresentamos os resultados referentes às três componentes que a constituem: C1; C2 e C3. 7.1.1 Domínio I – Experiência Pessoal 7.1.1.1 Experiência Desportiva Esta componente agrupa quatro categorias. A primeira categoria diz respeito à Influência do CNT e do CAR no rendimento desportivo das atletas. Nesta categoria tentámos perceber qual foi o papel dos centros de treino no crescimento delas enquanto atletas de alto rendimento. Tendo as participantes neste estudo frequentado, durante o ensino secundário, os dois centros de treino da FPB, importava aquilatar que peso atribuíam elas à formação que lá usufruíram na consecução dos seus objetivos desportivos. Durante as entrevistas entendemos a relevância que todas as atletas atribuem aos centros de treino na sua formação desportiva. Todas classificaram a experiência como decisiva e muito importante no seu crescimento como jogadoras de basquetebol. Responsabilizam a vivência em Centro de Alto Rendimento pela performance que hoje apresentam e pela atitude que têm para com a prática desportiva. “- É assim, eu costumo dizer que só jogo Basket hoje porque fui para o Centro de Treino.” (Atl1) “- Sim, ao frequentar os centros de treino notou-se uma melhoria clara na minha evolução enquanto atleta, para além de… ganhar maturidade na maneira como jogo, também evolui muito a nível técnico e ganhei espírito de sacrifício.” (Atl4) Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 73 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “- A nível desportivo não podia esperar melhores condições e apoio por parte de toda a equipa técnica. O nosso rendimento enquanto atletas melhorou com a nossa presença em CNT e CAR.” (Atl5) “- Relativamente ao rendimento desportivo, não há qualquer dúvida – sem a influência do CNT não seria nem metade da jogadora que sou hoje.” (Atl6) “- No CNT…treina-se com mais qualidade a todos os níveis: fisicamente …o treino é muito mais intenso que em qualquer outro lugar no país… tática e tecnicamente… havia uma maior evolução nas duas vertentes por parte das todas as jogadoras.” (Atl6) “- A nível de rendimento desportivo senti que foi bastante positivo para a minha carreira, aprendi bastante nos centros de treino e encontrei treinadores espetaculares.” (Atl8) “- A nível desportivo…o meu rendimento foi aumentando a cada dia, inclusive quando, ao fim de semana vinha treinar no Clube… as minhas colegas de equipa notavam diferenças em mim.” (Atl9) “- A influência que teve em mim… desportivamente… foi muito positiva, mudou por completo toda a minha postura em relação ao basquetebol.” (Atl10) Uma das dez atletas fez ainda referência que não teria aceitado ir para o CNT caso as condições de acesso ao Estatuto de Alto Rendimento na altura fossem iguais às presentemente vigentes. Entendemos dar relevância a este ponto de vista, porque este sentimento de desagrado para com as condições de acesso ao Estatuto de Atleta de Alto Rendimento é transversal a todas as atletas e, eventualmente reflete algum desajuste do regulamento à realidade do basquetebol português. “- Se fosse hoje, com “as novas regras”, não voltaria a aceitar esta aventura. Por mais enriquecedor que tenha sido desportivamente”. (Atl10) A segunda categoria especifica os objetivos desportivos que as atletas apontaram querer atingir a curto prazo. Todas as entrevistadas, neste momento, competem no Campeonato Nacional da Liga Feminina de Basquetebol e representam com regularidade as seleções nacionais. Constata-se assim, que nesta conjuntura seis das atletas apresentam objetivos claros dentro destas duas áreas de ação, com diferentes graus de ambição. As outras quatro associam os seus objetivos à conciliação da prática desportiva de alto rendimento com os estudos. Dentro do primeiro grupo, uma das atletas apresenta metas, a nível individual, mais ambiciosas. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 74 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “-…quero… mais que nada, alcançar um ritmo suficientemente competitivo para que me possa destacar a nível nacional.” (Atl6) “-…fazer parte dos estágios da seleção nacional sénior e conseguir manter médias estatísticas elevadas.” (Atl6) Três das entrevistadas colocam objetivos de conquista de títulos a nível nacional associados à sua participação na equipa. “- É assim, gostava muito de ser campeã nacional da Liga. E ter um papel importante na equipa, ter um papel, isto é, ter minutos, sentirme útil como atleta” (Atl1) “- A curto prazo… gostaria de ser campeã nacional sénior.” (Atl4) “-…pretendo preparar-me o melhor possível para a próxima época e ajudar o meu clube a ganhar títulos.” (Atl8) A fechar este primeiro grupo, duas das atletas colocam o enfoque na participação nas competições. “- Participar no Campeonato da Europa de Sub-20 Feminino deste ano e, também no do próximo ano. Conquistar tempo de jogo na Liga.” (Atl2) “- A curto prazo… para a época 2014/2015 o meu objetivo é conseguir dar o meu contributo em todos os jogos do campeonato da Liga Feminina… ou seja, jogar todos os jogos.” (Atl7) O facto de todas as participantes no estudo serem alunas do ensino superior em simultâneo com a sua prática desportiva, concorre para a posição assumida pelo segundo grupo, de quatro elementos, que identificámos. Este grupo ao colocar lado-a-lado o prosseguimento de estudos com os objetivos desportivos, indicia um equilíbrio nas suas prioridades, sublinhando assim o papel importante atribuído à formação académica, nesta fase da sua formação. “- Por enquanto é …continuar a conciliar as duas coisas, estudos e desporto.” (Atl9) “- Presentemente… pretendo continuar a jogar basquetebol e aliar o estudo aos treinos.” (Atl10) Verificámos que apesar das dificuldades inerentes à compatibilização dos Estudos com a prática desportiva de alto rendimento, seis das atletas manifestaram objetivos claros e ambiciosos dentro do âmbito desportivo. Também os resultados obtidos por Santos (2010), Zenha (2010) e Castro (2012) indicavam que os atletas-estudantes, a curto prazo, privilegiam os objetivos desportivos. Os nossos resultados sugerem que a maioria das atletas mantém o Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 75 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol seu enfoque no rendimento desportivo, organizando a sua vida de forma a ser possível a consecução dos seus “sonhos”. A categoria seguinte identifica os objetivos a longo prazo. À semelhança dos resultados obtidos na categoria anterior, verificámos uma prevalência do desporto nos objetivos delineados pelas atletas. Quatro das inquiridas assumem vontade em ir para o estrangeiro e, assim, poderem ser jogadoras de basquetebol profissional. “ - …anseio sair do país em busca de melhor basquetebol, melhores condições e melhores mentalidades. Espanha ou Estados Unidos da América são os meus destinos-alvo.” (Atl3) “- …a longo prazo gostaria de jogar no estrangeiro.” (Atl4) “-…gostava de ir jogar para o estrangeiro, onde o basquetebol é visto como uma referência.” (Atl5) “- …espero poder fazer parte ou dar o salto para um nível competitivo mais elevado, ou seja, ir jogar para fora de Portugal, num estatuto… profissional.” (Atl6) Esta atleta (Atl6), para além de querer jogar no estrangeiro como profissional revela, ainda, outros objetivos de grande ambição. “- A longo prazo ambiciono chegar ao… topo do basquetebol mundial – estar entre as melhores. Embora saiba…reconheça que é uma meta bem difícil de alcançar, assumo-a e comprometo-me com ela, trabalhando diariamente para a atingir.” (Atl6) Uma das atletas revela que já teve o objetivo de sair do país, mantém a vontade de continuar a jogar basquetebol com elevado nível de exigência e ambiciona chegar à seleção nacional sénior. Gostava de… de estar na seleção nacional sénior… já tive a ambição de sair do país, mas… agora já…perdi um bocado…” (Atl1) Duas das participantes indicam que pretendem continuar a conciliar os estudos e mais tarde a atividade laboral com o desporto. “- Longo prazo é continuar a conseguir conciliar os estudos com o Basket.” (Atl2) Das dez atletas entrevistadas apenas duas mencionaram a possibilidade de deixarem de jogar basquetebol e uma referiu ser difícil manter o alto nível quando tiver que conciliar trabalho e desporto de competição. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 76 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “-…longo prazo… não tenho objetivos desportivos porque já trabalho (…) e tenho receio de ter de deixar de jogar por isso mesmo. Infelizmente, em Portugal nós jogadoras de basquetebol não somos profissionais.” (Atl7) “- Para o ano e se tudo correr como … espero… termino o meu curso e logo penso e decido o meu futuro em relação à minha carreira desportiva.” (Atl8) “-…no futuro é continuar a jogar mas vai ser difícil manter o nível tão alto quando tiver de conciliar trabalho com desporto.” (Atl9) Estes resultados são apoiados por Zenha (2010) e Castro (2012), que verificaram que os objetivos a longo prazo passam, maioritariamente, por jogar num campeonato mais competitivo, nomeadamente no estrangeiro. Possivelmente esta ambição, revelada por quatro das atletas que estudámos, resulta da aposta na vertente desportiva que estas atletas têm feito nestes últimos anos em simultâneo com a sua formação académica e da vontade de, num futuro próximo, poderem “capitalizar esse investimento”. Na mesma linha de pensamento, o possível abandono das duas atletas, poderá estar ligado ao esforço hercúleo que têm vindo a realizar para ser possível compatibilizar as duas vertentes, aliado à perceção de que pouco mais podem ambicionar dentro do basquetebol. A quarta categoria incide sobre a perceção da duração da carreira. Esta categoria está estritamente ligada à anterior. Assim, oito das entrevistadas consideram que vão ter uma carreira longa, fazendo referência que pretendem continuar a jogar enquanto tiverem aptidão física para o fazer. “- Portanto, enquanto fisicamente … me sentir apta. Acho que… que .” vou jogar (Atl1) “- …vou jogar até não me aguentar das pernas.” (Atl2) “-…desde que tenha vontade e disponibilidade física, devo … continuar a praticar esta modalidade.” (Atl10) “- Até me sentir bem…saudável e sentir que tenho as condições necessárias para jogar em alta competição, não há uma idade definida.” (Atl5) Deste grupo, três indicam uma idade, ou data, até qual pensam ou gostariam de jogar e uma acrescenta ao fator saúde a importância de ser viável a conciliação da carreira desportiva com os estudos, ou com o emprego. “-…até o meu físico e o meu salário me permitirem. Portanto penso… estimo jogar em alta competição até aos meus 30, 35 anos…” (Atl3) “- Gostava de jogar até aos quarenta anos.” (Atl4) Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 77 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “-...infelizmente, as lesões que vão aparecendo ao longo das duras épocas, resultado de intenso esforço físico, vão encurtando já a curta “vida” de um atleta. Mas …ainda assim acho…que devo jogar pelo menos mais dez a quinze anos.” (Atl6) “-…até que a saúde e estudos/trabalho o permitirem.” (Atl9) Assim, só duas consideram colocar um fim prematuro à sua carreira desportiva para dar prioridade à sua atividade profissional. “-…até aos meus 25 anos, se conseguir conciliar com o meu trabalho profissional.” (Atl7) “- Depois de terminar o curso pretendo trabalhar e tirar mestrado…simultaneamente. O Basket é algo que tenho que pensar, mas que passa para um plano secundário.” (Atl8) Porventura, os resultados apresentados devem-se aos objetivos que as atletas afirmam ter ao nível desportivo e correspondem ao investimento que já fizeram na sua carreira desportiva. No nosso entender é de relevar a vontade das atletas que participaram no estudo em ter uma carreira desportiva longa dentro do basquetebol. Tendo começado a competir ao mais alto nível tão cedo, algumas aos dezasseis anos, podia ser expectável que apresentassem, neste momento, alguma saturação. O elevado grau de exigência inerente à prática do desporto de competição e as privações que desde cedo tiveram na sua vida familiar e social, podia levar a que tivessem perspetivas de abandono da carreira desportiva a curto prazo. O desejo expresso pela maioria em continuar a jogar por muitos anos revela o compromisso e a ambição que têm e denuncia um enorme gosto pela modalidade: “- …vou jogar até não me aguentar das pernas.” (Atl2) 7.1.1.2 Experiência Académica Esta componente diz respeito à experiência académica das atletas e reúne 3 categorias. Na primeira categoria identificamos a influência do CNT e do CAR no rendimento escolar das atletas durante o ensino secundário. Tendo em conta as opiniões expressadas pelas atletas, constatamos existirem opiniões muito diferentes sobre o papel que os centros de treino tiveram na sua formação académica. Quatro atletas referiram que a influência no aproveitamento escolar foi negativa. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 78 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “- …a nível escolar já não posso dizer o mesmo… torna-se bastante difícil conciliar ambos e muitas vezes damos a indevida atenção à escola, deixando-a para segundo plano.” (Atl5) “- Sim... A nível académico tive que duplicar o meu esforço para alcançar os meus objetivos, pois o tempo era menos e o cansaço era maior.” (Atl8) “-…sempre que fazemos duas coisas ao mesmo tempo há sempre uma que não corre tão bem, foi o que aconteceu com os estudos, as notas não eram más mas também não eram das melhores.” (Atl9) “- A nível escolar… a influência foi marcante, na medida em que o tempo para me dedicar à escola era menor, a fadiga física e psicológica também se fazia sentir nas aulas, e tive que colmatar esse impacto negativo com mais organização e mais empenho nas alturas habituais de descanso, como ao fim de semana.” (Atl10) Encontramos, por outo lado, três atletas que manifestaram que a experiência vivida nos centros de treino foi muito importante na promoção do seu sucesso escolar. “- Eu digo isto muitas vezes que eu entrando no CNT, tive uma preparação para a vida… tive que cumprir regras, tive que ser organizada, responsável e isso introduz-se na minha vida académica, mesmo na minha vida.” (Atl1) Duas indicaram que o rendimento escolar ficou dentro das capacidades delas. “- A nível escolar, o rendimento ficou dentro das minhas capacidades mas poderia ter sido melhor se tivesse tido mais apoio por parte das entidades competentes, no entanto aprendi a ser mais organizada com… o meu tempo e a aplicar-me mais para manter as notas.” (Atl4) “- Em relação à escola penso que tive o mesmo rendimento, sempre fui uma aluna com notas medianas. Não influenciou… muito na escola porque sempre tive o objetivo de estudar e acabar os estudos.” (Atl7) Uma atleta assumiu que o seu aproveitamento escolar foi pior por culpa própria, embora em ambiente de Centro de Alto Rendimento. “- Na verdade, desci as notas num ano, por falta de estudo sim, mas por culpa própria e não por não ter absolutamente… tempo para estudar.” (Atl6) Tal indicação vai em sentido contrário ao que aconteceu em relação ao desenvolvimento desportivo, em que as atletas foram unanimes em reconhecer a importância da influência do CNT e do CAR no seu rendimento, classificando a experiência como decisiva no seu crescimento como jogadoras de basquetebol. No que diz respeito à formação académica as opiniões manifestadas são muito Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 79 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol díspares. Este resultado impõe alguma estranheza dado que o primeiro objetivo destes projetos é a compatibilização do rendimento académico com o desportivo. Castro (2012) aportava no estudo que realizou com doze atletas de centro de alto rendimento, que a atividade desportiva de alto rendimento, bem supervisionada, tem influência positiva na formação escolar. Fundamentou este seu parecer, na opinião das atletas que defendiam que tinham melhor aproveitamento escolar por estarem inseridas num projeto com as características do CAR. Os resultados que obtivemos no nosso estudo, possivelmente, são o reflexo da saturação que as atletas presentemente apresentam, depois de muitos anos a viver a exigência inerente à conciliação da prática desportiva com a formação académica. A segunda categoria corresponde à influência que o desporto teve na escolha do curso universitário. As respostas são muito claras, sete das atletas analisadas indicaram que o desporto que praticam não teve qualquer influência na hora de escolher o curso universitário. “- … mas o Curso não teve nada a ver com a vertente desportiva.” (Atl2) “- Foi a minha primeira opção … curiosamente, não há qualquer tipo de relação entre o desporto que pratico e a escolha do meu curso.” (Atl3) “- Sim, foi a minha primeira escolha, e estranhamente… diriam alguns, não tem nada que ver com desporto.” (Atl6) “- Sim eu sempre quis tirar Gestão de Recursos Humanos, foi a minha primeira escolha e não tem nada a ver com… desporto.” (Atl7) “- Estou no Curso que queria e foi a minha primeira opção quando me candidatei ao ensino superior. A escolha nada teve a ver com o Basket.” (Atl8) Das restantes três atletas houve uma que escolheu um curso ligado à prática desportiva e que, mais tarde, pretende profissionalmente exercer uma atividade relacionada com o treino de atletas de alto rendimento. Outra está a estudar fisioterapia e que pretende vir a exercer a sua profissão na área desportiva. “- Sim, sempre quis o curso de Fisioterapia e além disso este curso tem tudo a ver com desporto.” (Atl9) E uma última que entrou numa segunda opção e pretende vir a tirar um curso relacionado com o Desporto. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 80 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “- Não… Apercebi-me ao longo deste ano que não estava no Curso que queria, fui para este Curso um pouco perdida, visto que não tinha possibilidades de me inscrever no Curso que tinha em mente, relacionado com o desporto.” (Atl10) No mesmo sentido, Zenha (2010) e Castro (2012) aludem que o desporto não exerce qualquer influência na escolha do curso. Pérez & Aguillar (2012) concluíram que a eleição da área de estudos, feita pelos atletas de alto rendimento, não está relacionada com o desporto que praticam. Estes resultados vêm de encontro aos obtidos por nós, onde a maioria das atletas escolheu áreas nada relacionadas com o desporto, onde só uma se encontra a estudar diretamente na área desportiva. Sendo, assim, torna-se evidente a ausência de influência (positiva ou negativa) do desporto na escolha do curso universitário, mesmo para atletas de alta competição. Várias razões podiam, porventura, ser avançadas para explicar esta situação. Parece-nos, no entanto, que a principal razão poderá estar relacionada com o facto de as atletas gostarem, essencialmente, é de jogar basquetebol e não do treino, do ensino, da gestão ou de estudar qualquer outro assunto relacionado com o fenómeno desportivo. Em relação à terceira categoria, influência do desporto na escolha da universidade, podemos considerar que das dez atletas que pesquisámos sete afirmaram que tinham escolhido a universidade mais perto do clube onde já jogavam ou iam jogar nessa época. “ -…Porque são as mais perto de onde eu moro e, também, estando a jogar no Vagos, era juntar as duas coisas.” (Atl1) “- Eu quando me candidatei à Universidade… tinha recebido o convite do Olivais, por isso candidatei-me à Universidade de Coimbra.” (Atl2) “- Era a que ficava mais perto do meu local de residência, muito perto da minha casa e do Clube onde jogo.” (Atl4) “- Escolhi por ser a Faculdade mais próxima da minha residência… ou seja, como estava a jogar Basket no Barreiro e… a viver no Barreiro, escolhi Setúbal para estudar.” (Atl7) “- Outro motivo é o facto de jogar no Vagos, o que acaba por ser perto… é a Universidade que fica mais perto.” (Atl8) As restantes atletas referiram que a escolha da universidade não esteve relacionada com o desporto que praticam, ou com o clube onde jogam. “- Eu quis ficar na escola com melhor reputação, com mais prestígio, porque seria, em princípio, a escola onde a educação seria mais exigente.” (Atl6) Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 81 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “- Penso que a única razão… relacionava-se com o facto de ser em Coimbra, local onde a minha irmã mais velha se encontra a trabalhar.” (Atl10) “- Só pude concorrer à segunda chamada… mas ai …as médias subiram e como esta Universidade tinha boas referências optei por ela.” Estes resultados indicam que no momento da escolha da universidade a maioria das atletas tenta conciliar a formação académica com a prática desportiva. Convém sublinhar que, no nosso estudo, o que as levou a optar por determinada universidade não foi o apoio que o estabelecimento de ensino presta aos atletas de alto rendimento, não foi o seu projeto educativo, mas a proximidade em relação ao clube onde elas se encontravam a jogar ou para o qual tinham sido convidadas. Estes dados poderão levar-nos a pensar que as universidades que conseguirem congregar diferentes valências: apoios ao atleta de alto rendimento; projeto educativo e a competição desportiva, dentro da sua orgânica ou através de parcerias, poderão vir a ter sucesso na captação de alunos- atletas internacionais. 7.1.1.3 Inserção no Mercado de Trabalho Nesta componente procurámos aquilatar quais as ideias dominantes em relação à futura inserção no mundo laboral por parte das atletas de alta competição, estudantes no ensino superior. Esta componente reúne três categorias. Quanto à primeira categoria, ser jogadora de basquetebol profissional, podemos concluir que seis das entrevistadas não pensam vir a jogar basquetebol profissionalmente. “- Dedicar-me inteiramente ao Basket não… porque acho que isso não é… não me iria...sei lá, não vejo isso como futuro!” (Atl2) “- Não… e nem… me parece que possa ser uma possibilidade.” (Atl9) Enquanto quatro manifestaram a vontade em abraçar a carreira de jogadora profissional de basquetebol logo que terminem os seus estudos. Corroborando assim, com a ideia de irem jogar para o estrangeiro expressa quando as questionámos em relação aos projetos a longo prazo. “- O curso superior é o plano B, é o colchão de queda, onde nos podemos resguardar, na eventualidade da interrupção involuntária do percurso desportivo.” (Atl6) Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 82 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Pensamos que, possivelmente, estes resultados se devem ao facto de as atletas nesta altura já terem uma perceção clara se podem ou não vir a ser atletas profissionais. Apesar de ainda serem muito jovens já apresentam uma larga experiência de alta competição, o que lhes permite avaliar com algum rigor as reais possibilidades de sucesso caso optassem pelo profissionalismo. A categoria seguinte reporta à vontade das atletas em conciliar o emprego com a prática desportiva de alto rendimento, após terminarem a sua formação académica. As ideias que retivemos dentro desta categoria complementam as que temos vindo a expor nas categorias anteriores. Quatro evidenciaram a vontade de encontrar um emprego, dentro da sua área de estudo, logo que terminem os seus estudos, e continuar a jogar basquetebol. “- Eu gostaria de conseguir jogar e ainda… estar a trabalhar na minha área.” (Atl1) “-…continuar a jogar mas vai ser difícil manter o nível tão alto quando tiver de conciliar trabalho com desporto.” (Atl9) Quatro anuíram que só pensavam começar a trabalhar quando a sua carreira desportiva acabar. Duas indicaram que o começar a trabalhar poderá implicar, a curto prazo, o abandono da prática desportiva. Uma afirmando que, após dois anos a conciliar o desporto com o emprego, deverá desistir de jogar basquetebol. A outra referindo que após a licenciatura quer encontrar um emprego e continuar a estudar, passando o basquetebol para segundo plano. “- Depois de terminar o curso mestrado…simultaneamente.” (Atl8) pretendo trabalhar e tirar A terceira categoria desta componente é também a última dentro do domínio da “Experiência Pessoal” e diz respeito às opções após término da carreira de jogadora de basquetebol. Nesta categoria surgem as ligações à formação académica, o que indicia que esta será fundamental no final de carreira das atletas de alta competição. Todas as participantes na nossa investigação referem a sua área de estudos universitários como muito importante na escolha do seu futuro emprego, como tendo um papel decisivo na sua transição para o mercado de trabalho. Só uma menciona, de forma ténue, a hipótese de após término da sua carreira como Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 83 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol jogadora, não recorrer à sua formação académica mas sim à sua formação desportiva, para continuar ligada profissionalmente ao basquetebol. Das nove atletas que afirmam ter como prioridade encontrar um emprego dentro da sua área de formação universitária, relevamos quatro que não demonstraram querer continuar ligadas ao desporto. “- Quando acabar de jogar quero encontrar um emprego… dentro da área em que estou a estudar.” (Atl5) Três que assinalaram a vontade de encontrar um emprego na sua área de estudos e, em simultâneo, continuarem ligadas à modalidade. “- Continuar a trabalhar na minha área e depois… sim… gostava de ser treinadora, assim de meninos pequenitos.” (Atl1) “- Ainda falta tanto tempo… sei lá… depende como estiver… muito, a minha vida na altura… mas quero continuar um bocado ligada ao Basket.” (Atl2) “-…tirar um curso que me permita ser treinadora de basquetebol.” (Atl10) E duas que disseram querem continuar a exercer a sua atividade profissional ligada à prática desportiva por a sua área de estudos estar relacionada, direta ou indiretamente, com o desporto. “- Pretendo continuar ligada ao desporto pois foi o curso que escolhi, talvez tornar-me treinadora ou preparadora física e trabalhar com atletas de alto rendimento.” (Atl4) “-De certa forma o desporto e o que estudo estão ligados e, o facto de praticar desporto poderá me ajudar, pois tenho experiência no que o atleta sente em determinadas lesões.” (Atl9) Uma das atletas, embora tenha como prioridade acabar a sua formação universitária, demonstrou vontade em continuar profissionalmente ligada ao basquetebol, apesar da sua área de estudos não estar relacionada com a modalidade. “- Neste sentido, espero acabar o meu curso superior brevemente para ter… também alguma coisa a que me agarrar, mas na verdade, após acabar a minha carreira, gostava de continuar ligada ao basquetebol.” (Atl6) Nesta categoria, os resultados demonstram uma clara tendência para as atletas seguirem uma profissão dentro das suas áreas de estudo. Também é interessante constatar que setenta por cento das atletas não pretendem continuar ligadas profissionalmente ao desporto após o final das suas carreiras Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 84 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol desportivas, dado que só três pretendem continuar uma carreira profissional dentro da modalidade desportiva que praticam. Esta ideia converge com os resultados de Zenha (2010) e Castro (2012), quando referem que a maioria dos atletas acaba por exercer uma profissão fora da área desportiva. 7.1.2 Domínio II – Apoios e Dificuldades Vamos dividir este domínio referente aos apoios e dificuldades que revelaram as atletas participantes na nossa investigação em duas fases. Uma primeira que reporta ao ensino secundário e uma segunda fase que diz respeito ao ensino superior. A- No Ensino Secundário 7.1.2.1 Usufruto de Medidas de Apoio A quarta componente que plasmamos neste estudo remete para as medidas de apoio que as atletas sublinharam ter usufruído durante o período em que estiveram a estudar no ensino secundário. Esta componente está diretamente relacionada com as medidas que estão presentes no Decreto-lei nº 272/09, de 1 de outubro (nos artigos 14.º a 19.º) para amenizar as contingências impostas pela conciliação da formação académica com a prática desportiva de alto rendimento. O facto das atletas que participaram neste estudo terem estado, durante o ensino secundário, integradas nos centros de treino da Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB), leva a que, durante este período, tenham usufruído de medidas de apoio à conciliação dos estudos com a prática desportiva. No entanto, a maior parte afirmou não ter recebido qualquer medida de apoio durante esta fase da sua formação. “-Não, porque não havia qualquer tipo de diferenciação entre os alunos… ditos “normais” e alunos desportistas de alto rendimento por parte dos estabelecimentos de ensino” (Atl3) “- Não senti um apoio escolar por parte da Federação… as escolas onde as atletas estavam colocadas não estavam preparadas para receber atletas de alto rendimento e o Regulamento Interno não especificava tais… situações.” (Atl4) “- Não, no Secundário nunca houve… pelo menos que façam parte do meu conhecimento, medidas de apoio para os atletas de alta competição, que estivessem regulamentadas.” (Atl6) Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 85 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “- Não, que me lembre …nunca tive qualquer tipo de benefício ou apoio. Sempre fui tratada como uma aluna normal.” (Atl8) “- Sinceramente não… o apoio escolar que as escolas nos davam era o mesmo que os alunos normais, por isso não existia diferença.” (Atl9)” De acordo com as informações recolhidas dividimos esta componente em três categorias, que passamos a detalhar. A primeira categoria é a justificação de faltas. Quatro das atletas utilizaram este recurso. As restantes não fizeram qualquer referência à necessidade de justificar faltas, ou de faltar às aulas. As faltas são justificadas pelo IPDJ via FPB. “- …em termos de justificação a Federação também sempre justificou tudo.” (Atl2) “-…faltas justificadas, talvez esta seja a medida mais utilizada, quando estávamos ausentes das aulas por motivos desportivos.” (Atl10) Só quatro das entrevistadas justificaram faltas através do IPDJ e FPB, as restantes não o fizeram. Estes resultados sugerem que algumas atletas, talvez se tenham esquecido das vezes em que foi necessário justificar faltas às aulas. As participantes que afirmaram terem usado este recurso referem que era a medida de apoio que mais vezes tinham que utilizar. As deslocações frequentes para treinos e jogos levavam a que tivessem que faltar com regularidade às aulas e que fosse necessário justificar as respetivas faltas. A segunda categoria assenta na alteração de datas das avaliações. Três atletas disseram que durante o ensino secundário tiveram que utilizar esta medida de apoio. “-…tivesse de dar, assim algumas faltas, algumas não tão significativas, mas outras assim em dias de testes por exemplo, e nisso a Escola em si, os professores, acho que esse sistema esteve bem, porque não se importaram de alterar.” (Atl2) “- Na medida em que o calendário de testes, no Colégio que frequentei, ter sido alterado várias vezes.” (Atl5) Os dados que recolhemos no estudo podiam levar a concluir que esta medida de apoio não é valorizada, que foi pouco utilizada. Pensamos que no diaa-dia destas alunas, durante o ensino secundário, esta medida era utilizada com Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 86 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol alguma frequência. Esta utilização regular pode ter levado a que as atletas a considerassem um procedimento normal, fruto da compreensão e benevolência dos professores ou da escola e não uma medida de apoio institucional. Por outro lado, o facto de estas atletas não terem o Estatuto de Alto Rendimento levou a que tivessem que fazer os exames nacionais nas épocas normais, mesmo quando estavam em estágio da seleção nacional, em preparação para o Campeonato da Europa. Aliás, é muito comum a saída das atletas durante os estágios para a realização de exames nacionais ou, mesmo, exames de escola. Esta é mais uma situação muito difícil de conciliação entre os estudos e a prática desportiva de alto rendimento. Zenha et al. (2009) e Castro (2012) referem que a adaptação das datas das avaliações é muito valorizada pelos estudantes-atletas. Neste contexto, os nossos resultados parecem divergir dos apresentados pelos referidos autores, uma vez que só três atletas disseram que tinham utilizado este recurso. Esta reduzida utilização, possivelmente, não reflete uma menor valorização da medida de apoio, mas sim uma agilização do processo de alteração durante o decorrer do ano letivo e a impossibilidade de a utilizar em avaliações de âmbito nacional. A terceira, e última categoria, está relacionada com a frequência de aulas de compensação. Verificámos que metade das entrevistadas diz ter usufruído desta medida. “- No CNT nós tínhamos muitos apoios, até tínhamos apoio à hora de almoço porque os professores disponibilizavam-se para isso e notava-se que eles queriam que nós … tivéssemos o maior aproveitamento e o melhor aproveitamento possível” (Atl1) “- Houve algumas que eu me recordo de ter utilizado… a alteração ao calendário testes, justificação de faltas, aulas de apoio, etc.” (Atl5) “- No CAR tínhamos apoio escolar para quem quisesse e necessitasse, eu na altura tive a matemática…” (Atl7) “- …a Federação contratava professores para dar apoio só a atletas.” (Atl9) “-…a terceira medida que me lembro eram as ajudas académicas, com um explicador específico para cada disciplina.” (Atl10) Como podemos constatar, esta medida está muito relacionada com o funcionamento do CNT e do CAR. O facto de estes projetos terem recursos próprios para dar resposta às necessidades das atletas envolvidas, porventura, faz com que seja menos necessário revindicar junto das escolas a utilização deste apoio. Sendo esta uma medida prevista pela lei, parece-nos que as Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 87 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol escolas não estão sensibilizadas para cumprir com esta obrigação, nem têm, muitas vezes, meios para o fazer com proficiência. As conclusões dos estudos de Santos (2010), Zenha (2010) e Castro (2012) apontam para o pouco uso desta medida de uma forma institucional. No nosso caso esta situação também ocorre mas porque em sua substituição o apoio é dado ao nível da FPB. No estudo de Zenha et al. (2009) os atletas pesquisados referem que as aulas de recuperação depois do estágio ou competições, e as aulas de apoio às disciplinas a que têm maiores dificuldades são muito importantes como fatores de êxito no sucesso escolar. Parece-nos evidente que é esta razão que leva a FPB a incluir estes apoios dentro dos seus projetos de formação. B- No Ensino Superior 7.1.2.2 Principais Dificuldades Nesta componente descrevemos as principais dificuldades que as atletas de alto rendimento têm na conciliação da formação escolar com a prática desportiva. Esta componente agrupa três categorias. Quando, nas entrevistas, abordámos este tema, três atletas referiram que ainda não tinham sentido necessidade de medidas de apoio à conciliação dos estudos com a prática desportiva. - Não. Pois os horários são compatíveis e no meu curso os professores são compreensivos em relação à parte desportiva e é possível conciliar os estudos com o desporto.” (Atl4) “- No geral não.” (Atl8) “- Porque desde que eu estou no ensino superior não foi necessário qualquer medida para conciliar a minha prática desportiva e a minha formação.” (Atl10) Dentro desta componente, a primeira categoria que referimos é a falta de tempo que foi referenciada por nove entrevistadas. As atletas denunciam uma grande dificuldade em realizar uma gestão do tempo eficaz de modo a ser possível dar resposta positiva às exigências e obrigações do dia-a-dia. Falta de tempo para estudar e para descansar e sobreposição de horários são contingências com que têm que lidar regularmente. “…às vezes um treino acaba mais tarde e no dia a seguir calha por ser o dia em que entro mais cedo na Faculdade.” (Atl2) “- Arranjar tempo para estudar e acima de tudo…o “curto-circuito” que tem vindo a existir entre …os horários dos treinos e das aulas.” (Atl3) Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 88 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “- …Os horários são demasiado preenchidos, o que nos limita muito em relação ao tempo de descanso/estudo/deporto.” (Atl5) “- Claramente… as mais evidentes são ter de optar entre treinar, estudar ou dormir…” (Atl6) “-…se calhar não tens as notas tão altas como se calhar tinhas se tivesses mais tempo para estudar.” (Atl7) “- …tenho semanas que só durmo cinco horas por noite para compensar o tempo que não tenho para estudar.” (Atl8) “- A principal dificuldade é a mesma de sempre, o tempo.” (Atl9) Santos (2010) indica a falta de tempo como a dificuldade mais evidente para os estudantes-atletas, impedindo-os de cumprir várias tarefas e de terem o descanso necessário. Também Cardoso (2007), num estudo efetuado com 86 nadadores, afirma que a ocupação excessiva do tempo livre é um dos principais fatores de drop out. Em sintonia com Castro (2012), entendemos que esta dificuldade de conciliação, vivida em permanência e numa situação limite, pode levar ao abandono de uma das duas atividades. A atividade desportiva será, talvez, a preterida numa situação de rutura. Pérez & Aguillar (2012) defendem que se não forem tomadas medidas de apoio que ajudem a resolver estas situações de conflito, nomeadamente pelas universidades, o risco de abandono é muito elevado. Dias (2013) também identificou a falta de tempo como uma das principais dificuldades no dia-a-dia dos estudantes-atletas. Os resultados do nosso estudo, em que nove das dez atletas referenciam a falta de tempo, corroboram os dados destes últimos autores. A segunda categoria criada nesta componente é o cansaço/ fadiga. Metade das atletas que participaram no estudo fez referência a cansaço e a fadiga. Quatro indicam que o cansaço condiciona o seu rendimento desportivo e escolar. “- …depois é o cansaço… que, que não temos o mesmo rendimento, estando mais cansadas não aguentamos tanto” (Atl1) “…apetece-me estudar depois do treino mas venho muito cansada e não consigo.” (Atl2) “-…estás tão cansada da direta que fizeste a estudar ou a fazer um trabalho que no treino só deste 60%.” (Atl7) Uma apresenta o cansaço como uma das principais dificuldades. “- É muito cansativo e saturante, a falta de apoio por parte das escolas também condiciona bastante o nosso rendimento.” (Atl5) . Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 89 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Robertson & Elliott (1996, citados por Marques, 1999) indicam o cansaço como um dos motivos que levam ao abandono do atleta de alto rendimento. A referência à influência do cansaço no rendimento escolar das atletas converge com os resultados do estudo realizado por Zenha et al. (2009). Os referidos autores indicam o pouco tempo de descanso e o consequente cansaço, como os principais fatores que levam à obtenção de resultados académicos insatisfatórios. Castro (2012) também sublinha o cansaço como uma das principais dificuldades que vivenciam os estudantes-atletas. Dias (2013), neste contexto, faz referência ao esgotamento físico. Segundo Marques & Oliveira (2001), as elevadas exigências colocadas na preparação estão a ter repercussões negativas, mesmo na própria formação desportiva, por não terem em linha de conta a capacidade de recuperação e os tempos de descanso dos indivíduos. Pensamos que os nossos resultados vão ao encontro das análises e conclusões destes autores. A terceira categoria diz respeito ao desgaste provocado pelas deslocações. Três das dez atletas participantes fizeram referência a esta contingência que, por si só, tem muitas implicações no dia-a-dia de um atleta de alto rendimento. “-…vivo no Barreiro e estudo em Lisboa, o que faz com que a viagem para a Faculdade chegue a ser de 1h30m.” (Atl6) Outras residem perto da universidade pelo que a dificuldade que encontram é nas deslocações que têm de fazer para treinar com a equipa. “- Nomeadamente com quem tem que fazer viagens longas para praticar alguma modalidade.” (Atl10) Facilmente conseguimos deduzir as repercussões negativas que a realização regular destas viagens pode ter no rendimento escolar e desportivo de um aluno-atleta. O desgaste, menos tempo de descanso, o tempo perdido, são algumas das situações graves provocadas pelas deslocações diárias que estas atletas têm que fazer, para ir para o treino ou para a universidade. Entendemos que casos destes podem comprometer seriamente a saúde e a possibilidade de obtenção de sucesso dos alunos-estudantes. Mesmo com grande capacidade de superação e sofrimento, pensamos ser muito difícil a conciliação dos estudos com a prática desportiva de alto rendimento nestas Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 90 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol circunstâncias. Condições desta natureza elevam exponencialmente as possibilidades de drop out. 7.1.2.3 Usufruto das Medidas de Apoio Pretendíamos verificar, nesta sexta componente, as medidas de apoio que utilizaram as alunas-atletas durante esta fase do ensino superior e que dificuldades tiveram no requerimento das mesmas. À semelhança do realizado na quarta componente para o ensino secundário, as medidas de apoio de referência são as vigentes no Decreto-lei nº 272/09, de 1 de outubro (nos artigos 14.º a 19.º). Neste contexto, constatámos que as atletas participantes no estudo, na sua maioria (9), não têm “Estatuto de Alto Rendimento”. Por isso, à luz da legislação em vigor, são consideradas alunas “normais” dentro da Universidade, não usufruindo assim de qualquer medida de apoio. “- eu sou uma aluna completamente normal. Não tenho qualquer regalia, ou direito a nada.” (Atl1) “ - Não, pois não obtive o Estatuto de Alto Rendimento e não posso usufruir de determinados benefícios tais como justificação de faltas, alteração de horários e datas de avaliações nem… nem tenho direito a ir à época especial… “ (Atl4) “…desde que estou no ensino superior, também não tive nenhum apoio para a conciliação das duas atividades.” (Atl6) “- Não… não tenho qualquer tipo de apoio ou benefício.” (Atl8) “- Eu utilizei o estatuto de alta competição quando… no momento da candidatura, pois a minha média era inferior à de ingresso, tirando isso, não tive qualquer tipo de apoio.” (Atl3) Nestas circunstâncias, reunimos ainda assim duas categorias. A primeira diz respeito à alteração de datas de avaliações. Em situações pontuais, algumas atletas referiram ter usufruído desta medida de apoio, principalmente quando estão ao serviço da seleção nacional. “- Só tive um… um caso foi quando fui ao Europeu de Sub-20 o ano passado… que tive que faltar a exames… e aí a Federação teve que… fazer um comunicado por que os meus professores me pudessem adiar… e eu fiz os exames em época especial.” (Atl1) “- Como não temos direito ao Estatuto de Alta Competição tornou-se um pouco mais complicado. Mesmo assim tive direito a realizar os exames em época especial.” (Atl5) Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 91 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Uma atleta fez referência a uma atitude de compreensão e benevolência por parte dos professores por estar num curso de Desporto. “- Sim. Visto que frequento o Curso de Desporto, os professores são bastante benevolentes em relação a faltas…lesões e mudança de avaliações.” (Atl4) A segunda categoria é sobre justificação de faltas. Nesta categoria só uma atleta fez referência a situações em que lhe tem sido possível justificar faltas, fruto da compreensão dos professores, e não como pleno usufruto de uma medida de apoio. “-…os professores são bastante benevolentes em relação a faltas…lesões e mudança de avaliações.” (Atl4) Ao analisarmos esta componente podemos concluir que estas alunasatletas, apesar do percurso desportivo que detêm, estudam no ensino superior sem usufruírem de qualquer medida de apoio à conciliação da formação académica com a prática desportiva. Se a este facto aportarmos que os trabalhos de seleção nacional coincidem, a maioria das vezes, com os períodos de exames, percebemos os constrangimentos a que estas atletas estão sujeitas. Pérez & Aguillar (2012) referiram nas conclusões do seu estudo que a compatibilidade da atividade desportiva de alto rendimento com a formação académica é possível, sendo, no entanto, importante realizar adaptações no ensino e introduzir novas medidas de apoio. Estas alterações, possivelmente, têm que começar a ser feitas ao nível da universidade. Os referidos autores salientam que as mudanças que urge introduzir não são para facilitar a vida do estudante-atleta, mas para, numa perspetiva de justiça, proporcionar iguais possibilidades de sucesso académico a todos os alunos, sejam eles atletas ou não. Os nossos resultados reforçam esta ideia de necessidade urgente em agilizar processos de apoio a estes estudantes-atletas. Dar-lhes as mesmas hipóteses de sucesso académico que têm os alunos “normais” é um fator determinante na articulação entre prática desportiva e o desporto de alto rendimento. 7.1.2.4 Alterações de Comportamento na Escola A última componente do domínio “Apoios e Dificuldades” é constituída por duas categorias. A primeira delas tem por base a alteração do comportamento por parte dos professores. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 92 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Sete das entrevistadas referem que nunca sentiram qualquer tipo de alteração de comportamento por parte dos professores; destas, três referem que os professores nem têm conhecimento que elas são atletas. “- Não, de maneira nenhuma.” (Atl6) “- Sou considerada uma aluna normal… lembro-me dessa professora dizer que não é por sermos atletas que íamos ser tratadas de forma diferente.” (Atl9) “- Nada, nem sequer conhecem…” (Atl1) “- Agora na Universidade não… não há nada disso, os alunos são alunos e… pouco mais interessa do resto da vida.” (Atl2) “- A Universidade…os professores nem têm conhecimento de que pratico desporto de alta competição.” (Atl8) As restantes três entrevistadas indicam que já sentiram alterações positivas de comportamento por parte dos professores. “- Sim, felizmente sim. Mas… quero frisar que o facto dessas alterações terem sucedido, acontecerem… devem-se apenas ao bom senso e … à maneira de ser por… parte de alguns professores.” (Atl3) “-Sim. Visto que frequento o Curso de Desporto, os professores são bastante benevolentes em relação a faltas…lesões e mudança de avaliações.” (Atl4) - Não posso dizer que beneficiamos de uma alteração de comportamento mas sim um aumento de tolerância por parte de alguns professores. Alguns tinham noção do nosso cansaço, quando tínhamos viagens longas na noite anterior para cumprir o calendário de jogos ou treinos antes das aulas de manhã. No entanto, nunca senti um tratamento “especial”. (Atl5) Os dados que encontrámos revelam que a maioria (7) das atletas não sentiu qualquer alteração de comportamento por parte dos professores e só três relataram alterações positivas no referido comportamento. Santos (2010) e Castro (2012), nas suas investigações, obtiveram resultados diferentes. Santos (2010) refere um equilíbrio entre alterações positivas e negativas, ressaltando a indiferença e a insensibilidade como os sentimentos dominantes na relação professor-aluno. Castro (2012) alude que a maioria não sentiu alterações comportamentais por parte dos docentes, mas acrescenta que cinco testemunharam terem vivenciado alterações de comportamento; destas, duas sentiram alterações positivas, duas alterações negativas e uma das atletas refere que já sentiu apoio e discriminação por parte dos professores. Os nossos resultados são menos díspares do que os obtidos pelos referidos investigadores. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 93 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Relevamos o facto de não termos recebido qualquer indicação de comportamentos negativos por parte dos docentes. Em relação à segunda categoria, alterações de comportamento por parte dos colegas de turma, sete não fazem qualquer referência a alterações de comportamento por parte dos colegas de curso; duas dizem que os colegas de curso desconhecem a sua condição de atleta e as dificuldades inerentes à prática de desporto de alto rendimento; e apenas uma referiu que os colegas de curso conhecem e respeitam o facto de ela ser atleta. “- Sim, eles têm e percebem, sei lá…às vezes em termos de… por exemplo trabalhos ou sessões de estudo, coisas assim… e percebem perfeitamente e respeitam…” (Atl2) Quanto à alteração de comportamento por parte dos colegas, a grande maioria não sente qualquer tipo de alteração, afirmando que são tratadas como colegas normais. Estes dados convergem com os obtidos por Castro (2012). 7.1.3 Domínio III – Conceção dos Apoios e Dificuldades 7.1.3.1 Apoios A oitava componente recai sobre os apoios que são dados a estas jovens pelas entidades que participam na sua vida e engloba quatro categorias. A primeira categoria aborda o apoio proporcionado pelas escolas. Nesta categoria, três das entrevistadas referiram que a universidade não tem conhecimento que elas são atletas e que não tem qualquer “programa” de apoio aos atletas de alto rendimento. “…na Universidade não senti… qualquer tipo de apoio, nem da escola nem dos colegas nem dos professores. Só senti que estes não tinham a noção do que é estar comprometida com o desporto e estar ligada, no meu caso, à seleção e estar a jogar na liga profissional.” (Atl7) Três também sublinharam não ter qualquer apoio “oficial” por parte da universidade, ressalvaram, no entanto sentirem alguma compreensão dos professores. “-… Os meus professores sabiam desde o início da minha condição de atleta e sempre me ajudaram a conciliar frequências/exames com a minha disponibilidade.” (Atl5) Uma, para além de referir não usufruir de qualquer apoio, refletiu a importância da atribuição do Estatuto de Atleta de Alto Rendimento para que Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 94 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol seja possível à universidade agir, não em benefício do aluno-atleta, mas no sentido de lhe proporcionar as mesmas possibilidades de sucesso que os outros alunos. Três das participantes não fizeram qualquer menção a apoios dados pela escola. Estes resultados reforçam a ideia já exposta, de que estas alunas, por não terem Estatuto de Alto Rendimento, não usufruem de qualquer tipo de apoio dentro do sistema de ensino. Neste contexto é importante sublinhar que as referidas alunas estudam em diferentes universidades, de diferentes pontos do país. A segunda categoria remete para apoio dado pelo clube. Neste capítulo, cinco das participantes não fizeram qualquer referência em relação ao clube quando questionadas sobre os apoios que recebiam. Três mencionaram receber algum apoio; destas, duas referiram que o clube lhes facultava casa, uma indicou que o clube tem compreensão pelas dificuldades que tem na compatibilização entre os estudos e a prática desportiva. “- Clube, o único apoio que o Clube me deu foi a casa, já foi uma coisa boa mas… pronto, não sei… às vezes … sinto que poderia … poderiam dar mais apoios.” (Atl2) “-…ajudou o facto de ir para a Faculdade e os meus pais não pagarem casa, porque o meu clube dá às atletas de fora do Barreiro casa.” (Atl7) “- Os próprios treinadores compreendem a situação e facilitam o horário de treino de maneira a não prejudicar o treino nem os estudos.” (Atl9) Uma atleta referiu não ter qualquer apoio do clube. “- Não, o Clube apenas faz o papel dele e … não …não… imagine eu não falto às aulas para ir treinar, isso para mim é completamente impossível e o Clube sabe. Não me pode exigir mais do que eu posso dar. Muito menos prejudicar a minha vida académica pelo… pelo desporto.” (Atl1) Os resultados de Santos (2010), Zenha e Castro (2012) apontavam para uma opinião mais favorável dos atletas em relação aos seus clubes. Os dados que recolhemos não evidenciam uma má relação entre os atletas e os clubes, mas algum distanciamento (cinco não tecem qualquer comentário). Estamos em crer que esta situação se deve ao facto de se tratar de Clubes da Liga Feminina de Basquetebol, muito focados no rendimento. Esta vontade de obtenção de Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 95 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol resultados desportivos obriga a muitas horas de treino e colide muitas vezes com as obrigações da vida académica. Esta incompatibilidade leva a situações de stress e de difícil gestão por parte das atletas. A terceira categoria é o apoio dado pela Federação. No que concerne à colaboração da federação, cinco atletas não fizeram qualquer referência a ajudas recebidas. Duas referiram que, em situações pontuais, a FPB ajuda na mudança das datas de exame ou proporciona a possibilidade de realizar os exames em época especial às atletas que participam nos campeonatos da Europa. Duas consideram que a federação tem um papel pouco ativo, que pouco ou nada contribui para a articulação entre a vertente desportiva e a escolar. “- Parece que… não têm noção que, para existir uma maior ajuda por parte das Escolas e Universidades… se calhar, deviam de dar a conhecer a estas os programas dos Clubes e Seleções. Pois …no final de contas estamos muitas de nós a representar Portugal, devia de existir algum tipo de ajudas.” (Atl7) “-… a Federação não se preocupa o suficiente com a nossa vida académica.” (Atl8) Uma refere que não vê de que forma a federação pode ajudar no seu percurso académico. “- Federação não sei… não vejo a Federação a intervir diretamente com os meus estudos Universitários.” (Atl2) Os resultados obtidos no nosso estudo espelham, também, algum afastamento entre as atletas e a FPB. A alteração das condições de acesso ao Estatuto de Alto Rendimento será, porventura, a principal razão das críticas das atletas, que dizem que a FPB tem sido pouco ativa no seu apoio. A mudança das regras de acesso ao referido estatuto apanhou esta geração de atletas numa fase de transição entre o ensino secundário e o ensino superior, com consequências muito negativas nas suas possibilidades de sucesso desportivo e escolar. Pérez & Aguillar (2012) sublinham a importância de acompanhar os momentos de transição destes atletas. Quanto maior for o conhecimento das dificuldades inerentes a estas fases de “desequilíbrio”, mais aptos estaremos para ajudar os atletas a conseguirem melhores resultados. Na quarta categoria, pedimos às atletas sugestões para melhorar a compatibilização dos estudos com a prática desportiva de alto rendimento. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 96 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Cinco das dez atletas, quando foram questionadas sobre que mudanças gostariam que fossem implementadas para melhorar a “vida” dos estudantesatletas referiram, de imediato, a alteração das condições de acesso ao Estatuto de Alto Rendimento como a mais urgente e importante. “- Uma das coisas que era muito boa de voltar a ser reestabelecida era o Estatuto de Atleta de… Alto Rendimento.” (Atl2) “-… o acesso ao estatuto de alta competição deveria ser retificado pois…pois tenho inúmeros exemplos de atletas que dão tantas horas, todos os dias à sua modalidade e não conseguem o ….referido estatuto.” (Atl3) “- Em primeiro lugar todos os atletas terem direito …de novo, ao Estatuto de Alta Competição. Também a possibilidade de realização de exames em época especial de forma a conciliar os treino e jogos com os exames…é fundamental.” (Atl5) “-…devia ser mais fácil ter acesso ao Estatuto de Alta Competição. Não é o facto de se atingir ou não certo resultado, que muda todo o trabalho que se empregou até ali.” (Atl6) Duas atletas sugeriram que fosse criado um estatuto dentro da universidade igual ao estatuto de “Trabalhador-Estudante”. “- Acho que, e como já disse… a par do trabalhar-estudante, também o atleta-estudante devia ter algum apoio para poder conciliar os estudos e o seu desporto, para…que não se tenha que optar por uma ou outra atividade.” (Atl6) No âmbito de criação de mecanismos de apoio dentro da própria universidade, uma atleta sugeriu um estatuto de atleta para quem participasse nos campeonatos universitários. Neste sentido propõe uma atenção especial à marcação de momentos de avaliação após os jogos, reposição de aulas e a existência de um horário de atendimento. “- Deveria haver um maior cuidado na marcação de avaliações em dias posteriores a jogos, quando o atleta falta as aulas devido a prática desportiva deveria ter essas aulas repostas…o aluno deveria ter uma hora de atendimento adequada ao seu horário de modo a esclarecer dúvidas com o professor quando necessário. Achava importante que todos os atletas que participem em campeonatos universitários deveriam ter estatuto… dentro da Universidade.” (Atl4) Para melhorar os apoios concedidos pela universidade, as atletas fizeram algumas propostas. “- Poderia haver um apoio diferente no caso de ausência das atletas… principalmente em ausências prolongadas… podendo existir um apoio posterior como compensação da matéria desenvolvida durante esse tempo.” (Atl8) Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 97 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “- Poderia… também, haver um facilitismo maior na entrega de trabalhos, visto que o tempo que temos não é o mesmo que um estudante normal.” (Atl8) “- Na minha opinião, as escolas poderiam ajudar os atletas com a criação de apoios só para atletas.” (Atl9) “- Devia de haver uma maior atenção ao serem feitos os horários … e devia de haver uma maior flexibilidade e compreensão pela parte dos professores para o caso de ser necessário alguma alteração de data de frequência ou exame.” (Atl10) Uma atleta também propôs a existência de uma parceria entre a FPB e a(s) Universidade(s). “- Pois, eu acho que se calhar devia de haver uma parceria entre a Universidade e alguém da Federação que se responsabilizasse por isso…principalmente as atletas que frequentam a seleção nacional.” (Atl1) Neste contexto, duas atletas sugerem que as Universidades sejam informadas pelas Federações sobre os alunos que são praticantes de desporto de alto rendimento. “- As Universidades deviam estar informadas sobre os alunos que são de alta competição…ter um acordo com as várias federações.” (Atl7) Uma das atletas propôs uma alteração de fundo ao modelo competitivo português, colocando o alto rendimento desportivo e a competição desportiva, até mais ou menos vinte e dois anos, no âmbito do desporto universitário, dando como exemplo o modelo vigente nos Estados Unidos da América. “- Mas o que eu gostava realmente de ver era uma grande mudança nas Universidades, uma que permitisse conciliar desporto e escola como um, tal como acontece nos Estados Unidos…os horários de treinos e de aulas estão feitos para que se enquadrem perfeitamente…” (Atl6) “- Isto seria quase impossível de implementar cá, pois a alta competição em Portugal dá-se… ou a nível de seleções nacionais ou de um número mínimo de clubes, e não à imagem dos Estados Unidos, onde se compete pela Faculdade… sendo essa liga uma das mais competitivas do mundo para a faixa etária que compreende.” (Atl6) Segundo Pérez & Aguillar (2012), muitos jovens com excelentes condições para a prática desportiva e que consideram importante a formação académica para o seu futuro profissional optaram por emigrar para países como os Estados Unidos para poderem harmonizar estudos e desporto, e assim, continuarem a sua formação enquanto treinam e competem ao mais alto nível. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 98 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Em Portugal, são conhecidos alguns casos de jovens atletas que optaram por ir para os Estados Unidos para continuar a evoluir nas suas carreiras. Acreditamos que, provavelmente, as que deram verdadeira prioridade à prática desportiva já interromperam os estudos ou foram para Estados Unidos, onde a articulação entre estudos e prática desportiva de alto rendimento está mais bem organizada, está regulada para ser possível dentro de um nível alto de exigência, na procura da excelência. Ter conhecimento destas situações que ocorreram com atletas que fizeram um percurso semelhante às deste estudo pode levar ao “sonho” de também querer emigrar ou, como aconteceu, de gostar da ideia de alterar o modelo competitivo vigente no nosso país. Os Estados Unidos continua a ser o paradigma da articulação entre estudos e desporto de competição para os nossos jovens atletas. Neste contexto, Marques (1999, p.153) refere que “os programas desportivos de alguns países têm vindo a desenvolver modelos de organização pedagógica baseados em parcerias com escolas, sendo que escolas, clubes e federações, assumem compromissos bem definidos nesses programas”. Ao nível do ensino secundário, estes programas, com mais ou menos sucesso, têm vindo a ser implantados nas diferentes modalidades desportivas. No ensino superior, até porque o nível de exigência é maior, é urgente conseguir operar algumas mudanças estruturantes e estabelecer as sinergias necessárias para articular a formação desportiva com a formação académica. A melhoria na comunicação entre a FPB e as Universidades, como foi sugerido por algumas atletas, é uma das muitas coisas - simples- que se podem realizar tendentes a melhorar a vida dos estudantes-atleta. Brettschneider (1999) refere que os jovens atletas são capazes de suportar a enorme pressão decorrente da conciliação desporto-escola, se forem disponibilizados os recursos e se forem potencializados os respetivos apoios. É fundamental permitir que os jovens atletas adquiram habilitações académicas sem terem de negligenciar os seus compromissos com o desporto de alto rendimento. Esta deve ser uma das tarefas mais importantes para aqueles que se sentem responsáveis pelo desenvolvimento dos jovens. 7.1.3.2 Perceção da Articulação A nona componente é constituída por cinco categorias, são elas: adaptação/integração ao ensino superior; avaliação do percurso; importância das Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 99 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “tutorias universitárias”; utilização de estratégias conducentes ao sucesso e prioridade aos estudos ou à formação desportiva. Na primeira categoria da componente “Perceção da Articulação”, procurámos saber como é que as atletas avaliavam a sua adaptação/integração no ensino superior. Das dez participantes, nove mencionaram que a adaptação ao ensino superior tinha sido positiva, que não tinham tido dificuldades de integração. ”-… não foi tão difícil quanto eu estava à espera.” (Atl2) “- …A minha integração no ISCTE… foi…está a ser bastante positiva.” (Atl3) “- Creio que correu bem, o facto de ter estado nos centros de treino incutiu-me, desde cedo, … o sentido de responsabilidade e organização de modo a render nas duas áreas.” (Atl4) “- Foi bastante boa. Se há coisa que os Centros de Alto Rendimento nos dão é uma capacidade de… promover as relações sociais, dãonos outro tipo de cultura social… o que nos torna mais sociais e nos permite adaptar facilmente a novos desafios.” (Atl5) “- Muito boa e rápida. Acho que ter participado no CNT e CAR, tendo que… coabitar com muita gente que não conhecia de início, numa cidade desconhecida, e acima de tudo, ter que sair de casa dos pais muito nova, fez com que a etapa que muitos vivem só na entrada para o ensino superior, fosse vivida mais cedo.” (Atl6) “- Eu adaptei-me bem, apesar de ser diferente do ensino secundário, conhecemos pessoas do país inteiro é muito interessante.” (Atl7) “- Eu adaptei-me muito bem ao ensino superior.” (Atl8) “- Acho que foi boa, ao início é tudo muito novo e parece complicado entender este mundo académico, mas com o tempo fui-me habituando ao ritmo, à exigência e… a pessoas novas.” (Atl9) Num universo de dez atletas, só uma teve muita dificuldade em se adaptar à exigência do ensino superior. “- Foi muito mau… eu não estava habituada a estudar sequer, não sabia o que era… não estava… não tinha noção. Custou-me porque percebi que ou estudava muito ou então não dava. E mesmo a estudar muito… às vezes não dá.” (Atl1) Nesta categoria percebemos mais uma influência positiva do CNT e do CAR. Três das atletas referiram que ter feito parte destes projetos as ajudou na adaptação ao ensino superior. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 100 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Na categoria avaliação do percurso, analisámos as possibilidades de sucesso da conciliação entre a vida académica e a vida desportiva. Das dez entrevistadas, nove consideram possível a conciliação com sucesso da formação académica com a prática desportiva de alto rendimento. -…podia ser melhor, podíamos ter mais apoios, podíamos ter mais rendimento, mas é possível. (Atl1) “- No ensino superior já é diferente porque… consegue-se conciliar na mesma mas já não é tão fácil…” (Atl2) “- Acho que sim. Posso acabar por não conseguir chegar ao pico máximo dos dois mas dá, dá para conciliar e conseguir chegar a um bom nível.” (Atl2) “- Não acho impossível mas… é preciso ter mais que …força física, uma força mental muito superior ao que se pensa... a sensação de desistência persegue o atleta.” (Atl3) “- Sim, tem de partir do atleta a vontade de se organizar e querer ser bem-sucedido nas duas áreas, comunicando sempre com o treinador e os professores de modo a que todos estejam a par da situação e haja colaboração das duas partes…” (Atl4) “- Sim, com muito esforço é possível” (Atl5) “- Acho possível sim. Contudo, é necessário uma boa gestão do tempo, espírito de sacrifício e muita vontade.” (Atl8) “- Sim, acho que é possível…porém obriga a um grande esforço.” (Atl9) “- Penso que sim, mas há sempre um problema... nunca consegues estar a 100% nas duas coisas.” (Atl7) “- Na minha opinião, é extremamente difícil. A Universidade… por si só já tem um elevado grau de exigência, e quando aliada a atividades de alta competição, torna-se muito difícil ter sucesso nas duas áreas.” (Atl10) Uma atleta considera impossível a conciliação dos estudos no ensino superior e a prática desportiva de Alto rendimento quando se procura a excelência nas duas vertentes. “- Sem dúvida nenhuma que mais útil e mais seguro são os Estudos. É aliás, algo que insisto em não descurar, se for possível, e digo isto porque muitas vezes conciliar a alta competição e a disciplina que ela exige com um alto rigor e exigência de um curso superior, é impossível, pelo menos com resultados excelentes nas duas vertentes.” (Atl6) “- Não…de maneira nenhuma. Ou melhor… quero dizer…é possível ter sucesso… se baixarmos a fasquia.” (Atl6) Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 101 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “- Tudo se baseia no trabalho e se não houver estudo suficiente (e aqui não falamos de ensino secundário, mas sim de um ensino bem mais exigente), não há boas notas; da mesma maneira, se não houver muito treino, não se… atinge uma excelente forma enquanto atleta.” (Atl6) Os resultados do nosso estudo, com nove das atletas participantes a defenderem que a conciliação é possível de se realizar com sucesso, convergem com os obtidos pela maioria dos autores que foram alvo da nossa análise que também afirmam ser possível a conciliação entre a prática desportiva de alto rendimento e a formação académica (Castro, 2012; Dias, 2013; Oliveira et al., 2010; Pérez & Aguilar, 2012 e Santos, 2010). Neste contexto, Dias (2013) acrescentou que para ser possível a conciliação as duas atividades, é importante e necessário que as diferentes instituições coloquem em prática as medidas regulamentadas, dando cumprimento ao que está legislado para estes alunos-atletas, ajudando-os, assim, na sua formação académica. A terceira categoria incide sobre a importância que os inquiridos dão à existência de “tutorias universitárias”. Depois de realizarmos uma explicação detalhada de como funcionam os regimes de tutoria, nove das dez atletas avaliaram como muito importante as universidades terem, no seu seio, programas desta natureza. “- Muito mesmo. Era uma mais-valia porque mostrava que alguém se preocupava… connosco. … Era o apoio que nunca tivemos aqui a nível Universitário. (Atl1) “-…era ótimo porque … assim… sei lá, tínhamos sempre alguém a dar-nos conselhos, a apoiar-nos a explicar-nos as coisas… mas também acho que isso devia ser aplicado, por exemplo, em casos em que há mesmo… em que há mesmo alto rendimento.” (Atl2) “- Sim, sem dúvida… acho importantíssimo. Ainda estou… no meu primeiro ano de universidade e … já passei por momentos de angústia e frustração por me sentir perdida e com vontade de desistir academicamente…” (Atl3) “- Sim, acho importantíssimo! Este tipo de projetos podem ditar… a obtenção de sucesso ou… por outro lado, a desistência de uma das práticas, do termos de escolher entre uma e a outra…” (Atl5) “- …é necessário existir um regime especial por parte da Faculdade para permitir o atleta/estudante ter sucesso na vida académica.” (Atl5) “ - Sim, como disse anteriormente, acho que só faz sentido haver toda uma estrutura que suporte que… que se preocupe e atente às peculiaridades da vida de um atleta de alta competição que seja estudante no ensino superior…” (Atl6) Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 102 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “ …acho que é importante os atletas sentirem que existe apoio por parte das Escolas… das Universidades.” (Atl7) “- Sim, acho que era muito importante termos um apoio extra e penso que é isso que falta para o sucesso escolar de muitos estudantes que praticam desporto de alto rendimento.” (Atl8) “- Acho fundamental...no decorrer deste ano deu para entender que a velocidade de estudo na universidade não se compara com o secundário, pois para um bom rendimento é necessário muito estudo, era ótimo que existisse esse regime, porque para além da justificação de faltas… existia um maior apoio académico por parte da universidade. O que eu acho muito importante.” (Atl9) “- Penso que iria facilitar muito a vida do estudante desportista, visto que temos conhecimento das dificuldades que podem estar associadas a esta conciliação.” (Atl10) Apenas uma não considera necessário a existência de um regime de tutoria universitária. “- Não, uma vez que se trata do ensino superior, o aluno já possui capacidades cognitivas e físicas suficientes para se tornar independente e responsável por si mesmo. Deve ser capaz de se organizar de modo a render nos dois campos tanto o escolar como o desportivo. (Atl4) Os resultados que obtivemos estão em linha com o mencionado no trabalho de investigação realizado por Pérez & Aguillar em 2012. Nove das dez atletas, quando entrevistadas, consideraram muito importante existir, nas universidades, programas de apoio aos alunos-atletas, que as acompanhe e ajude na compatibilização entre as atividades escolares e a prática desportiva. Os referidos autores (2012) indicaram que os alunos tinham realçado a importância do apoio que lhes é facultado através do programa de tutorias personalizadas para desportistas de alto nível (TUDAN). Dada a eficácia do referido programa, os alunos indicaram que este tipo de apoio se devia tornar “oficial”. Vilanova & Puig (2013) acrescentaram ainda que estes programas de assessoria deveriam existir em todas as fases de desenvolvimento do atleta. Indicaram ser fundamental um acompanhamento individualizado em função das necessidades de cada desportista, de modo a ajustar a escolha do tipo de treino, o estudo, a preparação física e psicológica às suas características. Como exemplo destes programas de apoio referiram o “Tutoresport” da Universidade Autónoma de Barcelona. A Universidade do Minho instituiu, em 2005, um programa com as mesmas características, Paulo Carlos Ferreira da Silva intitulado “TutorUM”. Os resultados que tem Página 103 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol apresentado revelam a exequibilidade e pertinência de projetos desta natureza. Os dados que derivam do nosso trabalho reforçam a necessidade destas “tutorias” e a disponibilidade das atletas para trabalhar em equipa neste árduo desafio que é a articulação entre a formação académica e o desporto de alto rendimento. A categoria seguinte remete para a utilização de estratégias conducentes ao sucesso. Seis das inquiridas revelam que colocam o enfoque na resolução dos problemas diários, procurando dar respostas positivas às exigências do dia-adia. “- Organizar melhor o tempo, tentar não perder tempo com coisas desnecessárias e … ter muita força de vontade.” (Atl1) “-…eu tento fazer com que o Basket não afete os estudos e fazer com que os estudos não afetem o Basket” (Atl2) “- Tento aproveitar ao máximo as horas livres para estudar de modo a não ficar para trás em nenhuma cadeira e… assim, quando chega a hora de descansar, descanso sem me preocupar com a escola e na hora do treino estou pronta mentalmente para tal.” (Atl4) “- Não falto às aulas e… estudo com muita frequência, cumprindo os meus objetivos escolares. Nos treinos trabalho todos os dias de uma forma constante e tento sempre ajudar a minha equipa a atingir os seus objetivos.” (Atl8) “- Estou tão focada em resolver, em estar a altura de todos os desafios que tenho que enfrentar no presente que não penso muito no futuro. Sei que quero continuar a jogar, a treinar… e terminar o meu Curso. Depois logo vejo o que posso fazer a seguir.” (Atl9) “- Tento planificar todos os meus compromissos, tanto da escola como desportivos, gerindo o meu tempo e organizando todo o tipo de tarefas que tenho de realizar.” (Atl10) Duas tentam conciliar os estudos e a prática desportiva, fazendo com que nenhuma das atividades prevaleça em relação à outra. Elaboram planos para o futuro: terminar os estudos; ir para o estrangeiro para jogar profissionalmente; utilização dos estudos como “plano- B” da sua carreira profissional. “- Infelizmente todo o meu ano tem sido… “embrulhado” dentro de estratégias para poder estar presente nos “dois lados”, como por exemplo: faltar a certas aulas que se sobrepõem aos treinos com a equipa e por outro lado, abdicar de treinos individuais de manhã para poder assistir a algumas aulas ou, às vezes… simplesmente para estudar.” (Atl3) Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 104 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol “- É natural que durante alturas de exames… descure mais nos treinos facultativos e aposte mais no estudo e…assim, como nos momentos mais importantes da época, relegue o estudo para segundo lugar. Já o método e a disciplina, esses vão estar sempre presentes…” (Atl6) “- Também tento estudar quase diariamente, para a matéria se ir… cimentando. A nível desportivo tento fazer com que cada segundo conte… sempre que treino dou …110%” (Atl6) Uma tenta também, encontrar soluções para as contingências do dia-adia. Refere como importante a ajuda que os colegas de curso podem dar ao facultar os apontamentos das aulas a que elas não podem assistir. Pensa terminar os estudos rapidamente para poder colocar o basquetebol noutro patamar de exigência. “- Procuro ter uma boa organização e ser metódica… são algumas ferramentas que me ajudam, de alguma forma, a compatibilizar os estudos ao desporto. A colaboração com os colegas que podem ir a todas as aulas e fornecer os conteúdos abordados nas aulas enquanto treino é fundamental.” (Atl5) “- Se conseguir terminar os meus estudos… mantendo a prática desportiva com bom nível… já estou a dar um forte contributo para ser possível concretizar, num futuro próximo, os meus planos…” (Atl5) Uma das atletas faz referência à importância de determinar objetivos e estabelecer prioridades para depois organizar o dia-a-dia e orientar as suas opções. “- Eu tenho os meus objetivos definidos…” (Atl7) Entendemos que todas as participantes no nosso estudo revelam grande vontade e espírito de sacrifício. Estudar na Universidade e jogar na Liga Feminina exige organização, boa gestão do tempo e uma resiliência fora do comum. No dia-a-dia procuram resolver os problemas e ultrapassar as dificuldades à medida que elas vão aparecendo para assim conseguirem com sucesso compaginar os estudos e o desporto. Para isso, recorrem a estratégias como: estudar com muita frequência; aproveitar todas as horas livres para estudar; não faltar às aulas; pedir apontamentos das aulas que não conseguem assistir aos colegas de curso; planificar bem os compromissos do dia-a-dia, tantos os escolares como os desportivos; gerir bem o tempo de descanso. Estes comportamentos confirmam os resultados obtidos por Pérez & Aguillar (2012), que apontaram estas estratégias como as eficazes na harmonização entre as exigências do desporto e as da vida escolar. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 105 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol No nosso estudo, sete das atletas entrevistadas revelaram colocar o seu enfoque na resolução dos desafios do quotidiano, tendo em vista o momento presente, sem grande preocupação em relação ao futuro. Estas atletas, pelas suas respostas, parecem revelar primazia pela formação académica. Embora tentem conciliar as duas vertentes, nos casos de conflito, estamos em crer que optam pelos estudos em detrimento do desporto. Apenas três revelaram orientar o seu esforço de articulação das duas valências de forma a ser possível manter a “prática desportiva com bom nível”. Os seus comportamentos parecem indicar que procuram concluir o mais rapidamente possível os estudos para, depois, se poderem dedicar à prática desportiva em exclusivo. Porventura, estas atletas com a obtenção da licenciatura tentam ficar habilitadas para exercer uma profissão no fim da carreira desportiva e, ao mesmo tempo, dar resposta aos anseios da sua família. Vilanova & Puig (2013) relevaram no seu estudo a importância de se ter uma estratégia por detrás de todas as ações do dia-a-dia, quando se trata de compaginar os estudos com o desporto. No seu trabalho de investigação, as referidas autoras (2013) identificaram dois tipos de estudantes-atletas: os que, com consciência de futuro elaboram estratégias a longo prazo conducentes ao sucesso na conciliação; e os que, embora tenham consciência da necessidade de preparar o futuro profissional, não elaboram qualquer estratégia nem desenvolvem ações para o efeito. Parece-nos que as estudantes-atletas que participaram no nosso estudo estão no primeiro grupo evidenciado por Vilanova & Puig (2013), mas ainda de uma forma pouco consistente e desorganizada. A entrada na universidade e a vontade expressa por todas em terminar os estudos revela preocupação em preparar o futuro profissional. As estratégias que aplicam no dia-a-dia demonstram organização, uma boa gestão do tempo e vontade de obter sucesso, tanto na parte académica como na parte desportiva. No entanto, a sua ação carece, a nosso ver, de uma melhor articulação e planeamento a longo prazo, de forma a ser possível atingir resultados de excelência no desporto e na escola. Para que se possa atingir rendimentos de um patamar mais elevado, é necessário realizar adaptações no ensino e introduzir novas medidas de apoio. Os serviços, recursos e ajudas fornecidas pelas universidades aos alunos-atletas são insuficientes (Pérez & Aguillar, 2012). É neste grau de sucesso que se insere este conceito de estratégia. A elaboração de um plano que englobe e comprometa: o atleta-estudante; a Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 106 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol família; a escola; a federação; o clube e todas as entidades que façam parte da sua formação. Só nesta dimensão é que podemos verdadeiramente estar a falar de “articulação entre formação académica e desporto de alta competição”. A categoria que encerra esta componente prende-se com o aferir se as atletas dão prioridade aos estudos ou à formação desportiva. Nesta categoria cinco indicaram dar prioridade à formação académica. “-… não tenho dúvidas que a prioridade é a vida académica, porque é isso que me vai dar futuro. Por muito que eu queira nunca irei viver só do Basket.” (Atl2) “- Os estudos sempre foram muitíssimo importantes para mim, porque sempre tive a noção das minhas capacidades no basquetebol e sabia que é muito difícil ser profissional de basquetebol… fazer do basquetebol uma fonte de rendimento.” (Atl7) “- Se os estudos estavam em primeiro o Basket estava logo em segundo lugar.” (Atl7) “- Este ano não participei em nenhum estágio por motivos académicos”. (Atl8) Quatro pretendem conseguir conciliar estudos com a prática desportiva para, quando acabarem o curso, se dedicarem a 100% ao basquetebol. O curso funciona como “Plano –B”. Não querem descurar os estudos mesmo tendo como objetivo, num futuro próximo, ir jogar para o estrangeiro. “-…hoje em dia faço o possível e o impossível para poder conciliar as duas coisas pois sei que por muito que queira apenas dedicar-me a 100% ao basquetebol, um dia mais tarde os estudos vão ser o meu… plano-B.” (Atl3) “- O curso superior é o plano-B, é o colchão de queda, onde nos podemos resguardar, na eventualidade da interrupção involuntária do percurso desportivo.” (Atl6) Uma referiu procurar o equilíbrio entre os estudos e a formação desportiva. “-…o plano é conseguir um equilíbrio entre estas duas valências importantes para mim.” (Atl10) Os resultados que obtivemos em que cinco atletas indicam que nesta fase da sua formação dão prioridade aos estudos, quatro investem na conciliação para rapidamente terminarem o curso e assim poderem dar continuidade à sua carreira desportiva e, finalmente, uma que procura o Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 107 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol equilíbrio entre as duas vertentes, refletem e corroboram outros que fomos descrevendo anteriormente. 7.1.3.3 Condicionamento ao Alto Rendimento A componente condicionamento ao alto rendimento foi divida em três categorias. Uma primeira categoria é relativa à vida pessoal. Sem ser um tema central deste estudo, ao longo das entrevistas fomos ouvindo atletas a referir que a conciliação dos estudos com a prática desportiva de alto rendimento tinha influência na sua vida pessoal. Aludiam que o estar menos tempo com a família e com os amigos era dos sacrifícios que mais lhes custava fazer. Esta opção, para estas atletas, já foi feita há muito tempo quando, para ir para o CNT ou para o CAR Jamor, tiveram que sair da sua cidade, da casa dos pais e de ao pé dos seus amigos. No entanto, no presente, ainda referem que a falta de tempo se reflete, essencialmente, em menos disponibilidade para os seus familiares e para as atividades de convívio de lazer. É o “preço” que têm que pagar por dar prioridade aos estudos e ao deporto. Neste âmbito foram seis as atletas que falaram de interferências na sua vida pessoal. “- Coloco, também, os meus objetivos escolares e… desportivos como prioritários… à frente das outras coisas… só assim, é possível atingir o sucesso nas duas coisas…” (Atl4) “- Abdicar de vida social, de muitos momentos de vida familiar para poder estudar” (Atl5) “-…esse tempo de treino faz com que não tenhamos talvez tanto tempo para outras atividades como hobbies, e aí admito que o tempo… esse sim, limitadíssimo.” (Atl6) “-…por vezes, para conseguir conciliar os estudos e o desporto, a família e os amigos tem de ficar para terceiro plano.” (Atl7) “-…embora sinta que me falta tempo para outras atividades que eu gostava de fazer e não tenho tempo.” (Atl8) “… ao ter que abdicar de muitas saídas com os amigos para poder estudar. “ (Atl9) Estes seis testemunhos confirmam que a vivência em simultâneo da formação académica com a prática desportiva condiciona a vida pessoal das atletas, nomeadamente, no pouco tempo para a família, para atividades de lazer e de convívio com os amigos. Estes resultados convergem com os obtidos por Zenha (2010), Santos (2010) e Castro (2012), que verificaram que a falta de Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 108 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol tempo disponível para si e para o lazer é um dos principais pontos negativos na conciliação entre o alto rendimento e a formação académica. Abordamos numa segunda categoria, se seriam melhores alunas se não estivessem ligadas ao desporto de alta competição. Nesta categoria encontramos o grupo de atletas dividido. Quatro acham que não seriam melhores alunas se não praticassem desporto com o nível de exigência do alto rendimento. “…acho que não, acho que seria igual ou que, se calhar até pior, não sei…” (Atl1) “- Não, pois o fato de ser uma atleta de alto rendimento obriga-me a ser sempre competitiva e isso traduz-se na escola onde compito com outros para ter melhores notas.“ (Atl4) “- Eu acho que não, eu sempre fui uma aluna mediana, e continuei a ser depois de entrar na Universidade.” (Atl7) “- Não, sinceramente não.” (Atl8) Quatro atletas afirmam que, neste momento, seriam melhores alunas se não praticassem desporto. “- Neste momento acho…sinceramente, sinto que nem sempre consigo dar o máximo de mim quer como atleta, quer como aluna por isso sim, se abdicasse que… qualquer uma das ocupações, melhoraria na outra.” (Atl3) “- Sim. Com o nível de exigência que tenho na Universidade ajudava se não tivesse tantas horas de treino e de jogos ao fim de semana…” (Atl5) “- Sem dúvida alguma. Estamos a falar de ensino superior…” (Atl6) “- Se não me deitasse tão tarde por causa dos treinos, ou tivesse as tardes mais livres por não ir ao ginásio, se tivesse todo o fim de semana para me dedicar a um estudo intenso, com certeza e naturalidade os meus resultados subiriam.” (Atl6) “- Penso que sim. Pelo menos teria mais tempo para me organizar, para concentrar as minhas energias, o que poderia contribuir para um melhor rendimento escolar.” (Atl10) E duas indicam que “talvez” fossem melhores alunas se não tivessem que conciliar as duas valências. – Não sei. Isso é difícil de prever. Mas, claro que se não treinasse tantas vezes ou se não tivesse tantos jogos, tinha mais tempo livre, também diria que tinha mais tempo para estudar e… seja para o que for… não sei, talvez… o sei é difícil de prever…Talvez. (Atl2) Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 109 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol - Talvez…se não competisse teria mais tempo para estudar, talvez pudesse ter melhores resultados escolares. (Atl9) Os nossos resultados aproximam-se aos de Zenha, Resende & Gomes (2009) que verificaram no seu estudo que 49,4% dos seus inquiridos respondeu que o desporto não influência negativamente a vida escolar, 27,8% que interfere e 22,8% assumem algumas dúvidas acerca da interferência. A maior diferença situa-se no grupo dos que dizem que o desporto interfere negativamente no rendimento escolar. Enquanto na investigação de Zenha, Resende & Gomes (2009) 27,8% assumia que o desporto influencia o aproveitamento escolar, no nosso estudo este número aumentou para 40%. Entendemos que este aumento, provavelmente, se deve ao facto destas atletas estarem muito focadas no rendimento e perceberem, também pela sua experiência de vida, que se pudessem dedicar mais tempo aos estudos melhores resultados conseguiriam. Os referidos autores também sublinharam nas suas conclusões a importância de conciliar as duas atividades na formação integral do indivíduo. Provavelmente as atletas do nosso estudo dão, nesta fase, menos importância à formação integral por estarem mais interessadas em obter resultados imediatos ao nível do rendimento escolar. Zenha (2010) também concluiu que a formação desportiva e a escolar se complementam. Castro (2012) indicou no seu estudo que as atletas consideravam que não seriam melhores alunas se não praticassem desporto. Porventura, a razão principal pela qual quatro atletas do nosso estudo afirmam, ao contrário do que defende Castro (2012), que seriam melhores alunas se não fossem atletas é a exigência do ensino superior, mais exigente do que o secundário, o que implica a necessidade de maior disponibilidade para estudar. Neste contexto, Santos (2010) aludia que os atletas que investigou consideravam que podiam ser melhores alunos, caso não fossem atletas de alto rendimento. O referido estudo aportava que, com mais tempo livre, os alunos podiam estudar mais e, assim obter melhor aproveitamento escolar. As participantes do nosso estudo que afirmaram que seriam melhores alunas se não fossem atletas, baseiam-se neste mesmo princípio para justificar a sua opinião. Os resultados de Dias (2013) concorrem para estas conclusões ao afirmar que tendencialmente os atletas revelavam que podiam ser melhores alunos se não competissem. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 110 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol A última categoria desta componente visa perceber se na opinião das nossas entrevistadas, estas seriam melhores atletas se não estudassem. Neste capítulo oito atletas foram perentórias ao afirmar que seriam melhores atletas se não tivessem que conciliar a prática desportiva com os estudos. “Às vezes sim… às vezes estou o dia todo na Universidade a estudar, depois tenho um exame e chego ao treino completamente…mesmo a nível mental… sem, sem resposta, apática.” (Atl1) “- …sim, pois dedicar-me-ia a cem por cento ao desporto que pratico.” (Atl4) “- …com mais tempo disponível poderia treinar mais e melhor…seria, certamente, melhor atleta.” (Atl5) “- Tenho ideia que sim, podia-me focar a 100% apenas num objetivo.” (Atl10) Deste grupo de oito, três reforçam a ideia ao dizer que só é possível atingir o nível de excelência quando nos dedicamos a uma só atividade. “… acho que se nos dedicarmos só a uma coisa acabamos por ser muito bons nessa coisa… se dividirmos com… com outra coisa diferente, acabamos por não sermos excelentes nas duas, mas conseguimos chegar a um nível que nos agrade.” (Atl2) “- Se não estudasse, teria muito mais tempo para me dedicar a treinar e, principalmente, para focar todos os meus esforços, tantos os físicos, como já referi, como os mentais para atingir resultados bem melhores.” (Atl6) “-…no entanto fico sempre na expetativa de talvez conseguir ir bem mais longe, tanto de um lado como do outro, se apenas me dedicasse a uma dessas duas atividades, comprometendo-me… assim sim, a 100%.” (Atl6) E uma considera que seria melhor atleta se não estudasse, mas ressalva a importância de uma formação integral. “-…penso que sim, mas não seria uma pessoa tão culta. As duas coisas fazem falta, é muito importante conseguir conciliar tudo.” (Atl7) De todas as atletas, apenas duas responderam com um “talvez”. “- Talvez, pois poderia treinar de manhã e ao final do dia sem qualquer restrição.” “-… se não estudasse passava mais tempo nos pavilhões a treinar, talvez me tornasse melhor atleta.” (Atl9) Nesta categoria os resultados foram muito claros, oito participantes defenderam que seriam melhores atletas se não fossem estudantes no ensino Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 111 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol superior e apenas duas responderam com um “talvez”. Estes resultados corroboram com uma das conclusões de Dias (2013), que quando se referia à carreira desportiva defendeu que existe uma relação direta entre o tempo dedicado ao treino e o rendimento alcançado. As atletas que participaram no nosso estudo demonstraram estar cientes deste princípio. Só é possível atingir níveis de excelência no desporto com uma dedicação total e exclusiva. Santos (2010) defende que existe uma correlação negativa entre as duas atividades, com os alunos-atletas a mencionarem que seriam melhores numa atividade se não exercessem a outra. Os nossos resultados confirmam a parte de que seriam melhores atletas se não fossem estudantes. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 112 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol CONCLUSÕES Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 113 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol 8 Conclusões Terminado a presente estudo, pretendemos agora apresentar as conclusões e dar resposta aos objetivos traçados desde o início para a nossa investigação. Analisámos um grupo de atletas em percurso de alto rendimento, com presença regular nas seleções nacionais, estudantes do ensino superior e a competir na Liga Feminina de Basquetebol. Procurámos perceber, através dos seus olhos e do seu pensar, quais as dificuldades que vivenciam, que estratégias utilizam e que soluções apontam para articular, com sucesso, a formação académica com a prática de desporto de alto rendimento. De uma forma mais concreta os objetivos do nosso estudo foram: (i) identificar que tipos de apoios têm os estudantes em percurso de alto rendimento durante o ensino secundário e que influências têm no seu rendimento escolar e desportivo; (ii) identificar os constrangimentos que vivem os alunos praticantes de desporto de alto rendimento na sua adaptação e integração ao ensino superior; (iii) identificar que apoios e que recursos, consideram os alunos do ensino superior praticantes de desporto de alto rendimento, fundamentais para articular a formação académica com a prática desportiva; e (iv) perceber que estratégias desenvolvem os desportistas de alto rendimento para compatibilizar a formação académica com a prática desportiva. No decorrer da investigação emergiram três domínios: a experiência pessoal; apoios e dificuldades (no ensino secundário e no ensino superior) e a conceção dos apoios e dificuldades. Em relação ao primeiro objetivo a que procurámos dar resposta identificar que tipos de apoios têm os estudantes em percurso de alto rendimento durante o ensino secundário e que influências têm no seu rendimento escolar e desportivo - percebemos que o facto das atletas que participaram neste estudo terem estado, durante o ensino secundário, integradas nos centros de treino da Federação Portuguesa de Basquetebol, levou a que, durante este período, tenham usufruído de medidas de apoio à conciliação dos estudos com a prática desportiva. Durante as entrevistas aquilatámos a relevância que elas atribuem a esta experiência na sua formação desportiva, dado que todas a classificaram como decisiva e muito importante no seu crescimento como jogadoras de basquetebol. Em suma, responsabilizaram a formação que tiveram em Centro de Alto Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 114 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Rendimento, durante o ensino secundário, pela performance que hoje apresentam e pela atitude que têm para com a prática desportiva de alto rendimento. No entanto, em relação à formação académica, constatámos existirem opiniões muito diferentes sobre a influência dos centros de treino. Quatro atletas referiram que a influência no aproveitamento escolar foi negativa; três manifestaram que foi muito importante na promoção do seu sucesso escolar; duas indicaram que o rendimento escolar ficou dentro das suas capacidades e, por último, uma assumiu que o seu aproveitamento escolar piorou mas por sua responsabilidade. Esta disparidade de respostas aportou alguma estranheza, dado que o objetivo principal destes projetos é a compatibilização do rendimento académico com o desportivo. No que concerne à utilização de medidas de apoio, as atletas entrevistadas identificaram três como as que usufruíram durante esta fase do ensino secundário. Quatro das participantes indicaram a “justificação de faltas” como a medida que mais vezes tiveram que utilizar. As deslocações frequentes para treinos e jogos levavam a ausências regulares às aulas tornando, assim, necessária a respetiva justificação de faltas. Três das atletas fizeram referência à “alteração de datas de avaliações”. A participação durante a semana em treinos e jogos obrigava a que, com alguma frequência, fosse necessário mudar o dia das avaliações. Por outro lado, podemos afirmar que o facto de estas atletas não terem Estatuto de Alto Rendimento levou a que não pudessem recorrer, nesta fase, a esta medida de apoio e, assim, tivessem realizado os exames nacionais nas épocas normais, mesmo quando estavam em estágios da seleção nacional, em preparação para os Campeonatos da Europa. Por último, as atletas indicaram as “aulas de compensação”. Constatámos que metade das participantes relataram ter usufruído deste tipo de apoio. Parece-nos importante ressalvar que as referidas aulas foram disponibilizadas, maioritariamente, no âmbito do funcionamento dos centros de treino. Quanto ao segundo objetivo, predispusemo-nos a averiguar que constrangimentos vivem os alunos praticantes de desporto de alta competição na sua adaptação e integração ao ensino superior. Das dez participantes, nove asseveraram que a adaptação às exigências do ensino superior foi positiva, que não sentiram dificuldades de integração. No entanto, identificaram três contingências como as mais importantes no seu dia-aPaulo Carlos Ferreira da Silva Página 115 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol dia de estudante-atleta. A primeira mais mencionada foi a “falta de tempo”. Foi referenciada por nove entrevistadas e denuncia a dificuldade que elas apresentam em realizar uma gestão do tempo eficaz para dar resposta positiva às exigências e obrigações do seu quotidiano. Falta de tempo para estudar e para descansar, e a sobreposição de horários são condicionalismos com que têm que lidar regularmente. Neste sentido, metade das atletas que participaram no estudo indicou o “cansaço e a fadiga” como das principais dificuldades que têm que enfrentar. Quatro aludiram que o cansaço condiciona o seu rendimento escolar e desportivo. Identificámos, assim, o cansaço como uma das principais razões para o insucesso, tanto escolar como o desportivo, e uma das causas para o drop out. Três das dez atletas entrevistadas fizeram referência ao “desgaste provocado pelas deslocações”. As viagens que, diariamente, estas atletas realizam para ir para o treino ou para a universidade implicam maior desgaste, menos tempo de descanso e muito tempo perdido. Num outro plano, seis testemunhos afirmaram que a vivência em simultâneo da formação académica com a prática desportiva condicionou a sua “vida pessoal”, nomeadamente, no pouco tempo disponível para a família, para atividades de lazer e de convívio com os amigos. Confirmando a falta de tempo para si e para o lazer, como um dos pontos negativos na conciliação entre o alto rendimento e a formação académica. À pergunta se seriam “melhores alunas” se não estivessem ligadas ao desporto de alta competição encontrámos o grupo de atletas dividido. Quatro consideraram que não seriam melhores alunas se não praticassem desporto com o nível de exigência do alto rendimento; quatro afirmaram que seriam melhores alunas e duas indicaram que “talvez” fossem melhores alunas se não tivessem que conciliar as duas vertentes. Em relação ao rendimento desportivo, oito atletas foram perentórias ao afirmar que seriam “melhores atletas” se não tivessem que conciliar a prática desportiva com os estudos. De acordo com os resultados encontrados existe uma correlação negativa entre as duas atividades, com as alunas-atletas a mencionarem que seriam melhores jogadoras de basquetebol se não estudassem, em simultâneo, no ensino superior. As atletas que participaram no nosso estudo demonstraram ser conhecedoras que só é possível atingir níveis de excelência no desporto com uma dedicação total e exclusiva. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 116 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol O terceiro objetivo passava por analisar quais os apoios e que recursos consideram fundamentais os alunos do ensino superior praticantes de desporto de alto rendimento para articular a formação académica com a prática desportiva. Neste contexto, constatámos que as atletas participantes no estudo, na sua maioria (9), não têm Estatuto de Alto Rendimento e por isso, à luz da legislação em vigor, são consideradas alunas “normais” dentro das instituições de ensino superior, não usufruindo assim de qualquer medida de apoio. Importa, ainda, sublinhar que as referidas alunas são provenientes de diferentes universidades, de diferentes pontos do país. Nestas circunstâncias algumas atletas mencionaram ter recebido, em situações pontuais, apoio dentro das instituições de ensino. Duas referiram que puderam mudar datas de avaliação quando estiveram ao serviço da seleção nacional, e uma fez referência a alguma compreensão em relação à justificação de faltas e mudança de datas de avaliação, por estar a estudar num curso da área de desporto. No âmbito da alteração de comportamentos por parte dos professores durante as atividades letivas, sete das entrevistadas anuíram que nunca sentiram qualquer tipo de alteração e as restantes três indicaram que já sentiram alterações positivas. Quanto aos colegas de curso, sete não fizeram qualquer referência a alterações de comportamento; duas disseram que os colegas de curso desconhecem a sua condição de atleta e as dificuldades inerentes à prática de desporto de alto rendimento; e apenas uma referiu que os colegas de curso têm conhecimento e respeitam o facto de ela ser atleta. No que diz respeito à ligação clube-atleta, os dados que recolhemos não evidenciam uma má relação entre os atletas e os seus clubes, mas algum distanciamento (cinco não tecem qualquer comentário). Acreditamos que esta situação se deve ao facto de estarmos a falar de Clubes da Liga Feminina de Basquetebol, muito direcionados para o rendimento. Este enfoque nos resultados desportivos obriga a muitas horas de treino e colide, frequentemente, com as obrigações escolares. Esta incompatibilidade leva a situações de stress e de difícil gestão. Das atletas que participaram no nosso estudo só três referiram algum apoio dado pelo seu clube. Duas referiram que o clube lhes facultou alojamento; uma aludiu alguma compreensão pelas suas obrigações escolares. No entanto, convém ressalvar que das dez atletas que pesquisámos sete afirmaram que tinham escolhido a universidade mais perto do clube onde Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 117 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol jogavam ou iam jogar nessa época e só três referiram que a escolha da universidade não esteve relacionada com o desporto que praticam, ou com o clube onde jogam. Neste sentido tentámos, também, aquilatar que tipos de apoio recebiam as atletas da sua federação. Os resultados obtidos no nosso estudo traduzem, também, algum afastamento entre as atletas e a FPB. Cinco atletas não fizeram qualquer referência a ajudas recebidas. Duas referiram que, em situações pontuais, a FPB as ajudou na mudança das datas de avaliações e lhes proporcionou a possibilidade de realizar os exames em época especial quando participaram em Campeonatos da Europa. Duas consideram que a federação tem um papel pouco ativo e que pouco ou nada tem contribuído para a articulação entre a vertente desportiva e a escolar. Uma referiu não saber como é que a federação a poderia ajudar no seu percurso académico. Feita a diagnose, importava então analisar que apoios e recursos consideravam as atletas que deviam ser implementados/melhorados para facilitar a articulação da formação académica com a formação desportiva. Cinco das dez atletas referiram a alteração das condições de acesso ao Estatuto de Alto Rendimento como a mais urgente e importante. A mudança das regras de acesso ao referido estatuto apanhou esta geração de atletas numa fase de transição entre o ensino secundário e o ensino superior, com consequências muito negativas nas suas possibilidades de sucesso, tanto a nível desportivo como escolar. Neste contexto duas atletas sugeriram que fosse criado um estatuto dentro da universidade igual ao estatuto de “Trabalhador-Estudante”. No âmbito de criação de mecanismos de apoio dentro da própria universidade, uma atleta propôs uma atenção especial à marcação de avaliações após os momentos de competição, reposição de aulas e a existência de um horário de atendimento para atletas de alto rendimento. Três atletas referiram que a federação devia ter uma relação mais estreita com as universidades, mantendo-as informadas, por exemplo, sobre os atletas praticantes de desporto de alto rendimento, particularmente aqueles que estão envolvidos nos trabalhos de seleção nacional. Uma das atletas sugeriu uma alteração de fundo ao Modelo Competitivo Português colocando o alto rendimento e a competição desportiva, nestas idades, no âmbito do desporto universitário, dando como exemplo o modelo vigente nos Estados Unidos da América. Analisando detalhadamente as entrevistas dadas pelas participantes deste estudo emerge a ideia que, à semelhança do que acontece no ensino Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 118 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol secundário, é urgente conseguir operar mudanças estruturantes, estabelecer sinergias para harmonizar a formação desportiva com a formação escolar no ensino superior e, assim, permitir que os jovens atletas adquiram habilitações académicas sem terem de desistir dos seus objetivos no desporto de alto rendimento. Estas alterações, potencialmente, têm que começar no seio das universidades. As mudanças que urge introduzir são para conceder aos atletas – estudantes, possibilidades de sucesso académico iguais a todos os outros alunos. É neste contexto que se inserem as “tutorias universitárias” Depois de realizarmos uma explicação pormenorizada de como funcionam estes regimes de tutoria, nove das dez atletas avaliaram como muito importante as universidades terem, na sua matriz, programas desta natureza. Os dados que derivam do nosso trabalho reforçam a necessidade destas “tutorias” e a disponibilidade das atletas para trabalhar em equipa neste árduo desafio que é a articulação entre a formação académica e o desporto de alto rendimento. Perceber que estratégias desenvolvem os desportistas de alto rendimento para compatibilizar a formação académica com a prática desportiva foi o nosso quarto objetivo. Neste âmbito importa enquadrar as atletas participantes no nosso estudo em relação aos seus objetivos a nível desportivo, académico e de inserção no mercado de trabalho. À pergunta sobre que prioridades estabeleceram nesta fase da sua formação, cinco atletas indicaram que deram prioridade aos estudos, quatro que investiram na conciliação entre a formação académica e a prática desportiva para rapidamente terminarem os estudos e encetarem uma carreira desportiva. Por último, uma afirmou que tem procurado o equilíbrio entre as duas vertentes. Quando questionadas sobre os seus objetivos a curto prazo verificámos que, apesar das contingências de um dia-a-dia de grande exigência, seis das atletas apresentaram objetivos claros e ambiciosos a nível desportivo; as outras quatro associaram os seus objetivos à conciliação da prática desportiva de alto rendimento com os estudos. Relativamente ao longo prazo, verificámos uma prevalência do desporto nos objetivos delineados pelas atletas. Quatro das inquiridas assumem vontade em ir jogar para o estrangeiro; duas pretendem conciliar a sua atividade laboral com a prática do basquetebol; uma mantém a vontade de continuar a jogar basquetebol a alto nível em Portugal e apenas duas mencionaram a Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 119 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol possibilidade de deixarem de jogar basquetebol. Uma referiu considerar ser difícil manter o alto nível quando tiver que conciliar trabalho e desporto de competição. Quanto à duração da carreira desportiva, oito das entrevistadas declararam querer ter uma carreira longa, continuando em atividade enquanto tiverem aptidão física para o fazer; só duas consideraram a hipótese de antecipar o fim da sua carreira desportiva para dar prioridade a uma atividade profissional. Neste âmbito, seis das entrevistadas não pensam vir a jogar basquetebol profissionalmente e só quatro indicaram ter vontade em seguir uma carreira de jogadora profissional de basquetebol logo que terminem os seus estudos. Todas as participantes na nossa investigação referiram a sua área de estudos universitários como muito importante na escolha do seu futuro emprego, como tendo um papel decisivo na sua transição para o mercado de trabalho. Como complemento das ideias expostas, questionámos as referidas atletas sobre as que tinham como objetivo conciliar uma atividade laboral com a prática desportiva. Quatro evidenciaram a vontade de encontrar um emprego e continuar a jogar basquetebol; quatro anuíram que só pensavam começar a trabalhar quando a sua carreira desportiva acabar; e duas indicaram que o começar a trabalhar poderá implicar, a curto prazo, o abandono da prática desportiva. Colocámos, também, a pergunta sobre o que pretendiam fazer quando a sua carreira como jogadoras de basquetebol chegar ao fim. Nove das inquiridas afirmaram ter como prioridade encontrar um emprego dentro da sua área de formação universitária; só uma manifestou a vontade em continuar profissionalmente ligada ao basquetebol, apesar da sua área de estudos não estar relacionada com a modalidade. Estes resultados revelam que a maioria das atletas pretende exercer uma atividade profissional fora da sua modalidade desportiva. Perante o exposto importava perceber que tipos de estratégias delinearam as atletas para atingirem, com sucesso, os objetivos a que se propuseram. Seis das inquiridas revelaram que colocam o enfoque na resolução dos seus problemas, procurado dar respostas positivas às exigências do dia-a-dia; duas referiram que tentam conciliar os estudos e a prática desportiva fazendo com que nenhuma das atividades prevaleça em relação à outra, agem em função dos planos que têm para o futuro (terminar os estudos, ir para o Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 120 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol estrangeiro para jogar profissionalmente, etc.). Uma tenta também encontrar soluções para as contingências do dia-a-dia; referiu como importante a ajuda que os colegas de curso lhe dão ao facultar os apontamentos das aulas a que ela não pôde assistir, pensa terminar os estudos rapidamente para poder colocar o basquetebol noutro patamar de exigência; e, por último, uma fez referência à importância de primeiro determinar objetivos e estabelecer prioridades, e só depois organizar o seu dia-a-dia e orientar as suas opções. Entendemos que todas as participantes no nosso estudo revelam grande vontade e espírito de sacrifício. Estudar na universidade e jogar na liga feminina exige organização e uma resiliência fora do comum. Como estratégias mais habituais referiram: estudar com muita frequência; aproveitar todas as horas livres para estudar; não faltar às aulas; pedir aos colegas de curso apontamentos das aulas a que não conseguem assistir; planificar bem os compromissos do diaa-dia, tantos os escolares como os desportivos e gerir bem o tempo de descanso. Estas ações configuram estratégias eficazes na harmonização entre as exigências do desporto e as da vida escolar. A inscrição no ensino superior e a determinação expressa por todas em concluir os estudos é reveladora de algum cuidado em preparar o seu futuro profissional. No entanto, a sua ação carece, a nosso ver, de uma melhor articulação e planeamento a longo prazo de forma a ser possível atingir melhores resultados. Terminado o estudo, entendemos que apesar das dificuldades inerentes a uma vida desportiva e académica intensa, a articulação entre o sucesso no desporto e o sucesso na escola é possível. Nove das atletas participantes responderam em consonância com esta conclusão. Apenas uma classificou este desígnio como impossível, quando o objetivo é a excelência nas duas vertentes. Concluímos também que para que se possa atingir rendimentos de um patamar mais elevado é fundamental sermos capazes de realizar adaptações no ensino e introduzir novas medidas de apoio para os estudantes-atletas. É neste grau de sucesso que se insere este conceito de estratégia. A construção de um plano que reúna e comprometa: o atleta-estudante; a família; a escola; a federação; o clube e todas as entidades que contribuam para a sua formação. Só nesta dimensão é que estaremos, verdadeiramente, a falar de “Articulação entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento”. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 121 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Sugestões para Futuras Investigações Findo este trabalho de investigação, consideramos que ele é um pequeno contributo no que concerne ao estudo da articulação entre a formação académica e o desporto de alto rendimento. Assim sendo, pensamos ser importante deixar algumas sugestões para possíveis estudos a realizar, no futuro, dentro desta temática. Neste contexto indicamos a realização de um estudo semelhante ao nosso, mas com atletas do sexo masculino. No basquetebol existem muitos atletas com um percurso escolar e desportivo igual ao descrito para as atletas internacionais que constituíram a amostra do nosso estudo. Seria muito interessante aquilatar que perspetivas e comportamentos caracterizam os jovens jogadores estudantes universitários da Liga masculina de basquetebol (LPB). Consideramos também ser importante realizar estudos com atletas com percursos idênticos mas praticantes de outras modalidades, tanto coletivas como individuais. Por último, sugerimos a realização, num futuro mais distante, de estudos de análise do percurso destes atletas ao nível do sucesso e da duração da carreira desportiva e ao nível da sua inserção do mundo do trabalho, tentando perceber o que resultou da estratégia e do esforço por eles despendido, na articulação da vertente escolar com a desportiva. Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 122 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol BIBLIOGRAFIA Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 123 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol 9 Bibliografia A Álvarez, P. (2002). La función tutorial en la universidad. Madrid: EOS. Álvarez, V. & Lázaro, A. (2002). 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Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 133 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Paulo Carlos Ferreira da Silva Página 134 Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol ANEXOS Paulo Carlos Ferreira da Silva Página XIX Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol ANEXO 1 - Guião de Entrevista Paulo Carlos Ferreira da Silva Página XX Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol Guião de Entrevista Identificação da Atleta: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Nome? Idade? Local de Residência? Modalidade? Clube? Competição? Nº de jogos por época? Nº de treinos semanais? 9. Participação em estágios de seleção nacional? Qual? Quantos estágios nesta época? Formação e Experiência Desportiva 1. 2. 3. 4. Há quantos anos és federada nesta modalidade? Registos competitivos que possas referenciar como currículo? Quantas internacionalizações ao longo da carreira? Já alguma vez participaste em Campeonatos da Europa? Quantas e em que escalão? 5. Quais os objetivos a curto, médio e a longo prazo? 6. Até quando pensas que vai durar a tua carreira de atleta de alta competição? 7. O que pensas fazer depois? (o que lhe será mais útil no futuro para a sua inserção no mercado laboral… o Desporto ou os Estudos?) Formação Académica 1. Que curso estás a frequentar? Em que ano? 2. Estás no curso que querias? (foi a tua 1ª escolha; relação do desporto que praticas com a escolha da área de estudos, …) 3. Qual o estabelecimento escolar que frequentas? 4. Quais as razões que te levaram a optar por esta Escola? Apoios / Dificuldades na Conciliação 1. Durante o teu percurso no ensino secundário tiveste ou beneficiaste de medidas de apoio à conciliação do desporto de alto rendimento e a formação e sucesso escolar? Se não, porquê? Se sim, quais as desenvolvidas pela escola? Qual a mais utilizada? Quais as desenvolvidas pelo clube? Qual a mais utilizada? Quais as desenvolvidas pela federação? Qual a mais utilizada? Paulo Carlos Ferreira da Silva Página XXI Articulação Entre Formação Académica e Desporto de Alto Rendimento Estudo Realizado com Atletas de Basquetebol 2. O facto de teres feito, durante o ensino secundário, parte de projetos como o centro nacional de treino e/ou centro de alto rendimento (CAR Jamor) teve alguma influência no teu rendimento desportivo e escolar? Se não, porquê? Se sim, que tipo de influência ou benefícios sentiste? 3. Desde que entraste no ensino superior tens tido ou usufruis algum tipo de apoio no sentido conciliação entre a prática de desporto de alto rendimento e a formação e sucesso académico? Se não, porquê? Se sim, quais as desenvolvidas pela escola? Qual a mais utilizada? Quais as desenvolvidas pelo clube? Qual a mais utilizada? Quais as desenvolvidas pela federação? Qual a mais utilizada? 4. O que consideras fundamental que fosse melhorado ou alterado? (2 ou 3 propostas) 5. Sentiste alguma alteração de comportamento por parte da “escola” pelo facto de seres uma aluna praticante de desporto de alto rendimento? Se sim, de que forma? 6. Achas importante a existência de um regime de “tutoria universitária” de apoio ao estudante desportista? 7. Nas condições atuais achas possível a obtenção de sucesso no Desporto de alto rendimento e na formação académica no ensino superior, quando vividos em simultâneo? 8. Como é que avalias a tua adaptação/integração ao ensino superior? Achas que serias melhor aluna se não competisses? E vice-versa? Serias melhor atleta se não estudasses? Tens sentido dificuldades na conciliação dos estudos com o desporto? Se não, porquê? Se sim, quais as dificuldades mais evidentes? Que estratégia (s) aplicas, no teu dia-a-dia, para compatibilizar os estudos e a prática desportiva? E para atingir os teus objetivos a curto, médio e longo prazo? Paulo Carlos Ferreira da Silva Página XXII