II Simposio Iberoamericano de Ingeniería de Residuos
Barranquilla, 24 y 25 de septiembre de 2009.
Análise sobre a qualidade das águas superficiais e subterrâneas na
área de influência direta do Lixão do Roger, após a sua
desativação.
Nóbrega, C.C.; Athayde Júnior, G.B.*; Gadelha, C.L.M.; Costa, M.D. e Fagundes, G. de S.
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental.
Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa , Brasil.
Resumo
As águas superficiais, subterrâneas estão sendo poluídas pelas diversas atividades
humanas e um importante agente de contaminação destes mananciais são os lixões, que os
poluem através da percolação de lixiviados. No Brasil, os lixões são o destino de boa parte
dos resíduos sólidos produzidos. Ao longo de 45 anos (de 1958 a 2003), os resíduos sólidos
oriundos do município de João Pessoa foram dispostos no Lixão do Roger. O presente
trabalho avaliou a qualidade das água superficiais e subterráneas na região de influência
direta do Lixão supracitado. Os resultados mostraram que as águas superficiais,
subterrâneas coletados não podem ser consumidas pela população sem tratamento prévio,
pois apresentam parâmetros de qualidade acima dos estabelecidos pela legislações
brasileiras (Resolução CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente – 357/2005 e a
Portaria nº 518 do Ministério da Saúde), sugerindo que o antigo Lixão ainda contribui para a
deterioração da qualidade da águas superficiais e subterrâneas nas suas proximidades.
Palavras chave: Qualidade, Águas superficiais, Águas subterrâneas, Lixão do Roger, João
Pessoa
1. Introdução
Nas últimas décadas o crescimento urbano acelerou-se motivado pelo fluxo migratório de
pessoas para a cidade em busca de trabalho e melhores condições de vida que o campo
não oferece.
No processo de crescimento das cidades observou-se a ocupação das áreas ribeirinhas
pela população oriunda do meio rural. A ação pouco eficaz das leis de uso do solo urbano
em especial às planícies primárias dos cursos de água tem provocado à destruição de
matas ciliares e manguezais e surgimento de construções desordenadas nas planícies de
inundação. Os prejuízos ambientais derivados da situação são observados claramente
desde a destruição da fauna e da flora, passando por poluição da água e do solo,
assoreamento e retenções danosas nos corpos de água, alterações indesejáveis da
paisagem afora outras influências negativas no setor sócio-econômico.
A formação de lixões é um exemplo de ação antrópica que pode provocar conflitos de uso
muito grave, principalmente por causar a poluição das águas superficiais e subterrâneas
devido à percolação e ou escoamento do chorume. O chorume é um líquido escuro
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Correspondencia: [email protected]
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contendo alta carga poluidora relacionada com a grande concentração de matéria orgânica,
reduzida biodegradabilidade, presença de metais pesados e de substâncias recalcitrantes.
Os lixões ainda podem causar a poluição do solo, pelo escoamento superficial ou
percolação do chorume, como também a do ar atmosférico devido à emanação de gases
como o metano e o sulfídrico. São também ambientes propícios para a proliferação de micro
e macro vetores (bactérias, vírus, protozoários, baratas, ratos, entre outros) que são
responsáveis pela transmissão de várias doenças como amebíases, leptospirose, diarréias,
dengue, etc.
Diante do exposto, este trabalho tem como propósito avaliar a qualidade das águas
superficiais e subterrâneas na área de influência direta do antigo Lixão do Roger. As
informações obtidas poderão servir de base para orientação de medidas, ações e
programas por parte do poder público e órgãos ambientais, de maneira a assegurar os
padrões de qualidade das águas superficiais do rio Sanhauá, das águas subterrâneas bem
como a preservação do manguezal, segundo as legislações brasileiras vigentes.
2. Metodologia
Para monitoramento da qualidade das águas superficiais, foram determinados quatro pontos
de coleta, dois a montante (P1 e P2) e dois a jusante (P3 e P4). O Quadro 1 mostra a
localização geográfica e a descrição dos pontos de coleta da água superficial.
Quadro 1: Localização geográfica e descrição dos pontos de coleta de água
Ponto
Coordenadas UTM
E
P1
292072
Descrição
N
9214178
Manguezal localizado no limite da área do
antigo lixão do Roger, e próximo a habitações
subnormais
P2
291629
9214276
Camboa do Frade, no limite da área do antigo
lixão do Roger
P3
291154
9213558
Rio Sanhauá, à montante da confluência com a
Cambo do Frade
P4
291141
9213774
Rio Sanhauá, à jusante da confluência com a
Cambo do Frade
Para monitoramento da qualidade das águas subterráneas, foram escolhidos quatro poços
existentes na área de influência do antigo lixão, sendo os mesmos denominados P1, P2, P3
e P4. Além desses quatro poços, mais dois foram perfurados na área interna do terreno do
antigo lixão, sendo estes denominados P5 e P6.
Os poços P1 e P4 estão localizados dentro da área de influência direta do antigo Lixão do
Roger. O P1 é um poço profundo localizado em um antigo curtume adjacente à área do
antigo lixão e o P4 é uma cacimba localizada em uma residência, também nas proximidades
do antigo lixão. Os pontos P2 e P3 encontram-se na área de influência indireta do lixão,
ambos localizados numa empresa de cultivo de camarão, sendo o P2 um poço raso e o P3
um poço profundo. Os poços P5 e P6 foram perfurados na área interna do antigo lixão,
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sendo ambos do tipo raso, com profundidade de 7 m. A Figura 1 mostra os pontos de
localização dos poços de coleta.
P3
P2
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Figura 1 – Pontos de coleta de águas subterrâneas.
Os parâmetros determinados para análise da qualidade das águas foram: pH, condutividade
elétrica, dureza, cor, turbidez, DBO5, DQO, amônia, nitrato, alumínio e coliformes
termotolerantes. Os procedimentos de coleta e análise das amostras seguiram as
recomendações de APHA et al (1998).
3. Resultados
Os resultados obtidos através da análise da qualidade da água superficial do rio Sanahuá,
foram comparados às condições e padrões de qualidade da água da Resolução CONAMA
nº 357/05, na qual o rio Sanhauá está enquadrado de acordo com os seus usos na
classificação de águas doces de classe III.
Umas das condições citadas na Resolução é que materiais flutuantes, inclusive espumas
não naturais deveriam estar virtualmente ausentes, mas nas inspeções visuais no local era
comum encontrar materiais flutuantes no rio.
Com relação às condições de qualidades impostas pela Resolução, foram analisados alguns
parâmetros e foi verificado a DBO5, que pode ser considerado como parâmetro ideal para a
avaliação e a previsão do consumo de oxigênio realizado pela matéria orgânica. Os
resultados encontrados nas análises foram superiores ao valor que limita a DBO5 em
10mg/L de O2. Pode-se observar, nos dois anos de coleta, que o valor mínimo de 20,3mg/L
de O2 no ponto P4 e valor máximo de 550mg/L de O2 no ponto P2. Esse parâmetro é um dos
primeiros indícios de contaminação por matéria orgânica.
Os valores de DQO também se apresentaram elevados. Os maiores valores de DBO e DQO
tem sempre ocorrido, nos pontos de coleta P1 e P2 localizados no manguezal, adjacente ao
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Lixão do Roger. É muito provável que ainda haja contribuição do Lixão para a contaminação
do estuário, tanto com matéria orgânica quanto inorgânica provenientes do chorume. Essa
contaminação também pode ser devido ao lançamento de esgotos diretamente no corpo
aquático, em função da falta de sistema de esgotamento sanitário na área em estudo.
A Resolução nº 357/05 do CONAMA limita para a classe III de água doce a turbidez em até
100 UNT e os resultados das análises foram muito superiores ao comparado. Esse
resultado pode ser justificável por ser um rio de águas correntes, onde o seu curso é sempre
alterado pela maré e as partículas estão sempre em suspensão e pode ocorrer também por
causa do lançamento constante de efluentes.
Os resultados das análises realizadas para o parâmetro STD (Sólidos Totais Dissolvidos)
foram menores comparando-se com Resolução 357/05 do CONAMA que limita para a
classe III de águas doces em 500mg/L.
Os valores de cloretos encontrados nas análises variaram de 1013,00 a 24575,00mg/L Cl,
muito diferente do parâmetro de águas doces limitado pela Resolução referida que limita em
250mg/L. Mesmo os valores estando altos, houve um decréscimo nos resultados desde o
início das coletas, podendo existir a possibilidade de diminuição de carga poluidora.
Com o parâmetro alcalinidade também houve um decréscimo nos resultados das amostras
desde o início das coletas, sendo outro indicador da diminuição da carga orgânica
despejada no rio.
Todos os compostos de nitrogênio apresentaram valores inferiores ao determinado pela
Resolução citada anteriormente.
A concentração do metal alumínio nos pontos amostrados foram superiores ao que
preconiza a referida Resolução que limita em 0,1 mg/L Al, principalmente no ponto P2,
próximo ao antigo Lixão do Roger. O alumínio pode entrar na cadeia alimentar através da
contaminação dos produtos pescados e chegar até ao homem. O acúmulo deste metal no
organismo humano tem sido associado ao aumento de casos de demência senil do tipo
Alzheimer, como aponta estudos feitos por Ferreira et. al. (2008), no qual os fatores de risco
ambientais, relacionados com o desenvolvimento da doença seria a exposição ao Alumínio.
O chorume, que ainda é gerado pelo antigo Lixão do Roger, pode conter metais pesados,
com isso sendo lançados no rio Sanhauá. Próximo ao Porto do Capim existe algumas
oficinas mecânicas que também podem está lançando seus efluentes no rio Sanhauá. Esses
fatos podem justificar a contaminação devido à presença desses metais na água.
O chumbo é um metal pesado que constitui um tóxico cumulativo, provocando um
envenenamento crônico denominado saturnismo, que consiste em efeito sobre o sistema
nervoso central com conseqüências bastante sérias. A Resolução nº 357/05 limita a
concentração de chumbo em 0,01mg/L Pb e os valores encontrados foram maiores a esse
limite em todos os pontos.
A determinação da concentração dos coliformes assume importância como parâmetro
indicador da possibilidade da existência de microrganismos patogênicos, responsáveis pela
transmissão de doenças de veiculação hídrica.
A Resolução do CONAMA nº 357/05 limita em 2500 NMP/100mL para uso de contato
secundário em rios de águas doces de classe III. Os resultados das análises obtidos na
maioria dos pontos foram inferiores ao limite referido.
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Com relação as águas subterráneas foram obtidos os seguintes resultados:
Para os pontos P1, P2, P3 e P4, os parâmetros pH, dureza, turbidez, STD, cloretos, nitrito,
nitrato, sulfato, aluminio e chumbo mantiveram-se, em todos os pontos e todas as coletas
abaixo dos valores determinados pela Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde (2004) para
água potável.
A alcalinidade foi superior ao valor estabeleciodo para águas doces.
Em algumas colesta os valores encontrados para amônia superaram os determinados pela
referida portaria (1,5 mg/L).
Óleos e graxas que deveriam estar ausentes também foram detectados em algumas
coletas.
Algumas amostras apresentaram coliformes termotolerantes, sendo o ponto P4
apresentando o maior valor (2400 NMP/100mL). Assim, de acordo com a referida Portaria,
as águas dos 4 pontos não podem ser consumidas pelo homem sem tratamento prévio.
As análises dos pontos P5 e P6 apresentaram resultados um pouco divergentes dos demais
pontos, isso se deve ao fato de esse pontos situarem-se muito próximo da região onde
existia o Lixão e, portanto, estão mais susceptíveis à contaminação oriunda da região.
O pH determinado caracteriza a água como levemente ácida com menor valor de pH
encontrado no ponto P6 (6,29).
A dureza supera o valor máximo permissível (500 mg/L CaCO3) segundo a Portaria n°
518/2004, sendo o maior valor encontrado no ponto P5 (11851,3 mg/L CaCO3).
O ponto P6 apresentou o maior valor de cor (200 mg/L Pt) e de turbidez (80,2 NTU), porém
as demais amostras também superaram os valores máximos permissíveis para cor (15
mgPt/L) e turbidez (5 NTU).
Os sólidos totais dissolvidos mantiveram-se abaixo do limite máximo permissível (1000
mg/L), sendo o maior valor encontrado no ponto P6 (429,5 mg/L). O ponto P6 ainda
apresentou a maior concentração de cloretos (13452,2 mg/L Cl), sendo todas as
concentrações observadas nos pontos P5 e P6 maiores que as máximas permissíveis (250
mg Cl).
Das formas de nitrogênio observadas, amônia, nitrito e nitrato, somente a amônia superou o
valor máximo permissível (1,5 mg/L), novamente o ponto P6 apresentou o valor máximo
(738,5 mg/L) de concentração de amônia.
A concentração de metais alumínio e chumbo determinado em todas as amostras dos
pontos P5 e P6 superaram os valores máximos permitidos pela portaria n°518/2004. A
concentração de chumbo, que deveria ser inferior a 0,01 mg/L atingiu valor máximo de 0,5
mg/L. E a concentração de alumínio que deve ser inferior a 0,20 mg/L, atingiu valor máximo
de 15,2 mg/L no ponto P5.
Os coliformes termotolerantes que devem ser ausentes na águas destinadas a consumo
humano foram detectados em todas as amostras dos pontos P5 e P6 na quarta coleta,
sendo o valor máximo encontrado de 9,2x105 NMP/100mL
Dos parâmetros que ultrapassaram os valores máximos permissíveis estabelecidos pela
Portaria 518/2004, somente a amônia, cor, mercúrio e chumbo podem estar associados a
contaminação devido a percolação de lixiviados oriundos do antigo lixão, e sendo a amônia
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um indicador de contaminação recente, pode-se concluir que, apesar de estar a 6 anos
desativado, os resíduos depositados no antigo Lixão do Roger ainda oferecem riscos
ambientais.
Os coliformes termotolerantes encontrados devido à efluentes domésticos ou outras fontes e
não a disposição de resíduos.
A alta concentração de cloretos observada nos pontos P5 e P6 indicam que devido à
proximidade desses pontos com a zona estuarina, as águas desses poços então sofrendo
influência.
4. Conclusões
As águas superficiais e subterrâneas coletadas na área de influência direta e indireta do
antigo Lixão do Roger não podem ser consumidas pela população sem tratamento prévio,
pois tem apresentado parâmetros de qualidade acima dos VMP estabelecidos pela
Resolução CONAMA nº 357/2005 e a Portaria nº 518 do Ministério da Saúde, o que indica
problemas de degradação da qualidade águas.
As águas superficiais do rio Sanhauá devem ser classificadas de acordo com águas
salobras,
As águas superficiais mostram que as atividades realizadas no rio Sanhauá, como a
natação, pesca, captura de mariscos e camarões, entre outras não podem existem pois
essas águas estão contaminadas, inclusive por metais pesados (chumbo).
5. Referências
APHA, AWWA & WEF. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater.
19th edition. Public Health Association Inc., New York. 1998.
BRASIL. Resolução N 357 de 17 de março de 2005. Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA. Brasília. 2005.
IBGE. Resultados do censo 2000. instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2000.
Ministério da Saúde. Governo do Brasil. Portaria, nº 518 de 25 de março de 2004.
UNESCO. Disponível em http://www.unesco.org. Acessado em 05 de junho de 2006
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(Edital Universal/2007) e a Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana - EMLUR pelo
apoio financeiro para o desenvolvimento desta pesquisa.
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