Federação Nacional das Apaes - Janeiro 2011 - Ano 43 - Nº 100
Saiba sobre os avanços da
educação a distância no país e como está
estruturada a proposta de educação da Uniapae.
Confira releases dos principais eventos
das Apaes que aconteceram em 2010 no país.
EXPEDIENTE
A Revista Mensagem da Apae é uma publicação da Federação Nacional das Apaes.
Missão
Promover e articular ações de defesa dos direitos das pessoas com deficiência e representar o
movimento perante os organismos nacionais e internacionais, para a melhoria da qualidade dos
serviços prestados pelas Apaes, na perspectiva da inclusão social de seus usuários.
A Federação Nacional das Apaes
sDs - Ed. Venâncio iV - Cobertura - CEP 70393-900 - Brasília-DF
Fone: (61) 3224-9922 | Fax: (61) 3223-8072
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Ano 43 - Nº 100. Tiragem: 5.000 exemplares
Revisão: Palavras em Ação
Projeto Gráfico: Kélia Ramos/Supernova Soluções Gráficas e Editora
impressão e fotolito: Supernova Soluções Gráficas e Editora
Brasília, fevereiro de 2011
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que citada a fonte.
A Federação Nacional das Apaes é filiada à Inclusion
Federação das Apaes do Estado do Rio Grande do Norte
Presidente: Maria Iaci Pereira de Araújo
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Federação das Apaes do Estado do Rio Grande do sul
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Presidente: Nilson Alves Ferreira
CoNsELHo FisCAL
Titulares: Unírio Bernardi (RS), Raimundo Nonato Gomes Martins (PI), Jairo dos Passos Cascaes (SC)
suplentes: Sérgio Prodócimo (SP), Emanoel O’ de Almeida Filho (PA), Expedito Alves de Melo (MA)
CoNsELHo CoNsULTiVo
Antônio Santos Clemente Filho (SP)
Justino Alves Pereira (PR)
Elpídio Araújo Neris (DF)
Nelson de Carvalho Seixas (SP)
Flávio José Arns (PR)
Luiz Alberto Silva (SC)
Interamericana.
EQUiPE TÉCNiCA FENAPAEs
DiREToRiA EXECUTiVA
Presidente: Eduardo Luiz Barros Barbosa (MG)
Vice-Presidente: Tânia Maria Lessa Athayde sampaio (RJ)
1ª Diretora-secretária: Alba Rosa Malheiros Lopes (PA)
2ª Diretora-secretária: solange Maria Cardoso de Brito (BA)
1ª Diretora-Financeira: Diva da silva Marinho (DF)
PROCURADORIA JURÍDICA
Procuradora Jurídica: Sandra Marinho Costa
Assessoria Jurídica Consultiva: Alessandra de Oliveira Caixeta Nogueira,
André Luiz Moreira da Silva e Lucas Rodrigues
2ª Diretora-Financeira: ivanilde Maria Tibola (DF)
NÚCLEo EsTRATÉGiCo
Diretora-social: Elcira Bernardi (Rs)
secretária-Executiva: Sandra Marinho Costa
Diretora de Assuntos internacionais: Maria Amélia Vampré Xavier (sP)
Coordenador-Geral de Articulação e Promoção de Políticas: João Lobo
AUToDEFENsoRiA NACioNAL
NÚCLEo DE ACoMPANHAMENTo E MoNiToRAMENTo
Coordenadora do Núcleo: Marina Barbosa
Cosme Silva Santos (ES)
Assessora do Núcleo: Marilene Pedrosa
Lucinéia Aparecida Martins de Sousa (PR)
Monitores nacionais: Érika Uehara Tayra
Fátima Nazaré das Graças Barbosa Resende,
CoNsELHo DE ADMiNisTRAÇão
Helena Maria Milagres Belo, Itana Sena Lima,
Isabel Cristina Mota Rodrigues,
Federação das Apaes do Estado do Amazonas
Jurema Iara Algarve Bruschi, Layz Gerlany Soares Pereira,
Presidente: Maria das Neves Marães Moutinho
Lilian Cristina Karlinski, Maria da Conceição de Sousa Bittencurt,
Federação das Apaes do Estado da Bahia
Maria do Socorro Cavalcante, Marina
Presidente: Carlos Santana
Aparecida Moreira Barbosa, Miriã Pereira Bueno,
Federação das Apaes do Estado do Ceará
Nadir Gabe, Nancy Ferreira Barbosa de Oliveira,
Presidente: Paula Dias Sampaio
Suely Cebrian Lopes, Scarpelini Kaminski, Tânia Maria de Freitas Brandão
Federação das Apaes do Distrito Federal
Presidente: Diva da Silva Marinho
Federação das Apaes do Estado do Espírito santo
Presidente: Rodolpho Luiz Dalla Bernardina
Federação das Apaes do Estado de Goiás
Presidente: Albanir Pereira Santana
Federação das Apaes do Estado do Maranhão
Presidente: Jerônimo Ferreira Cavalcante
Federação das Apaes do Estado de Minas Gerais
Presidente: Sérgio Sampaio Bezerra
Federação das Apaes do Estado de Mato Grosso do sul
Presidente: Harley Ferreira Silvério
NÚCLEo ADMiNisTRATiVo-FiNANCEiRo
Coordenadora Administrativa: Ana Beatriz Cunha Maia de Oliveira
Coordenadora Contábil-Financeira: Marineide Freire
Apoio Logístico: Arlete Sandra de Araújo Santos, João Batista da Silva,
Eduardo de Souza Leite, Nelsina de Araújo Santos e Waldinéia Santana Ramos
NÚCLEo DE CoMUNiCAÇão iNsTiTUCioNAL
Coordenador do Núcleo: João Lobo
Coordenadora de Captação de Recursos: Kélia Ramos
Coordenação de Tecnologia da informação: Rafael Lucena Franco
Federação das Apaes do Estado de Mato Grosso
Presidente: Francisco Gemelli
Federação das Apaes do Estado do Pará
Presidente: Luiz Augusto Machado dos Santos
Federação das Apaes do Estado da Paraíba
Presidente: Santana Maria Florindo
CooRDENADoRiA DE RELACioNAMENTo CoM o UsUÁRio (sALA DE soLUÇÕEs)
Coordenadora do Núcleo: Leidiana Pereira
Equipe: Eunice Gusmão, Laura Tostes e Rodrigo Maia
Federação das Apaes do Estado de Pernambuco
UNiVERsiDADE REDE APAE (UNiAPAE)
Presidente: Maria das Graças Mendes da Silva
Coordenador de Autodefensores: Adinilson Marins dos Santos
Federação das Apaes do Estado do Piauí
Coordenadora de Apoio à Família: Júlia S. N. F. Bucher
Presidente: Themístocles Gomes Pereira
Coordenadora de Educação e Ação Pedagógica: Fabiana Maria das Graças Oliveira
Federação das Apaes do Estado do Paraná
Coordenadora de Educação Profissional: Maria Helena Alcântara
Presidente: José Turozi
Gerente de Projeto de Educação Física, Desporto e Lazer: Roberto Antônio Soares
Federação das Apaes do Estado do Rio de Janeiro
Gerente de Projeto de Educação Artística: Francisco Marcos
Presidente: Delton Pedroso Bastos
Coordenador Técnico-Pedagógico: Erivaldo Fernandes Neto
Sumário
Editorial
4
16
Família apaeana, construindo bases para o futuro
Projetos e Ações
Eventos
5 7
Autonomia para votar: sistema para eleitores
em situação de deficiência intelectual e múltipla
Fórum Mineiro de Autogestão, Autodefesa e Família e XI Congresso da Rede Mineira
20
Do rural ao urbano – caminhos de transformação, valorizando o homem
29 Relatório de participação da Fenapaes no Conade
31 Relatório de participação da Fenapaes no Conanda
33
A Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – uma análise crítica do artigo 24
Congresso Ibero-Americano – Vitória-ES
9 VIII Festival Nacional Nossa Arte – Bento
Gonçalves-RS
Entrevista
11
Júlio Wilfredo Guzman Jara – Presidente da Organização Mundial das Pessoas com Deficiência
Trabalhos Científicos
37
A pessoa com deficiência ensinando os caminhos para a escola inclusiva
40 Centro de convivência na Apae de Itaúna: a pessoa adulta com deficiência e apontamentos sobre o processo de envelhecimento
Experiências Inovadoras
13
Cursos a distância realizados pela Fenapaes
Editorial
Família apaeana, construindo
bases para o futuro
Esta edição da revista Mensagem da Apae – Textos Técnicos traz um
resumo dos acontecimentos e assuntos que foram discutidos de maneira
mais significativa no último ano no âmbito do movimento apaeano.
Tivemos diversos eventos que produziram importantes debates
científicos voltados às práticas do movimento das Apaes. Foram espaços
que possibilitaram o debate sobre o modelo apaeano de atendimento
à pessoa com deficiência, preocupando-nos com os problemas atuais
em relação ao futuro e a ação que os programas da rede terão frente às
principais lutas das pessoas com deficiência no país nos próximos anos.
Esses debates ajudaram as instituições a amadurecer seus trabalhos e
serviços, atendendo às perspectivas que as pessoas com deficiência e suas
famílias nos mostraram como suas atuais necessidades.
Entre tantos eventos importantes realizados pelas Apaes, Feapaes
e pela Fenapaes, citamos três que tiveram mais significado em
âmbito nacional: o XI Fórum Mineiro de Autogestão, Autodefesa e
Família, o I Congresso Ibero-Americano de Deficiência Intelectual e
o VIII Festival Nacional Nossa Arte. Nesses eventos, foram produzidos
muitos materiais técnicos, além de palestras e intercâmbio de
experiências significativas para o avanço das práticas dos profissionais
da rede.
Nesta edição quero destacar o orgulho de ver Apaes participando de
projetos científicos em seus estados, como a Apae de Alvinópolis-MG, que
participou do programa Semeando no estado de Minas Gerais, ganhando
um prêmio do concurso Melhor Experiência Pedagógica, competindo com
escolas de todo o estado.
Em 2010, a Fenapaes lançou uma novidade para o movimento: os cursos
de rápida capacitação ministrados a distância. Como essa modalidade de
ensino é nova para a rede e vem galgando um espaço cada vez maior nas
mais variadas instituições de ensino no Brasil, está disponível um artigo
esclarecendo os pontos positivos e avanços desse tipo de curso, assim
como diagnóstico de alguns cursos já ministrados para a rede.
Entre as ações inovadoras, temos o lançamento do Sistevoto, o sistema
eleitoral das Apaes, que já é uma experiência de sucesso e está à disposição
de todas as filiadas. Conheça mais sobre essa novidade.
A revista ainda está recheada de assuntos que são motivo de discussão
no tema da deficiência intelectual e suas formas de atendimento.
Agradeço aos autores e publico este material com a esperança de que
ele contribua para esclarecimento e divulgação de informações relevantes
para diversas áreas de atuação do movimento apaeano. Ótima leitura.
Abraço fraterno.
Eduardo Barbosa
Presidente da Federação
Nacional das Apaes
Eventos
Fórum Mineiro de Autogestão,
Autodefesa e Família e
XI Congresso da Rede Mineira
Cristina Xavier | Núcleo de Comunicação Institucional da Feapaes-MG
450 Fóruns de Autogestão, Autodefesa e Família
aconteceram em Minas Gerais: primeiro aconteceram 415 fóruns locais, depois 34 fóruns regionais
e, em seguida, ocorreu o fórum mineiro, realizado
concomitantemente ao XI Congresso da Rede Mineira das Apaes.
O Fórum de Autogestão, Autodefesa e Família e
o XI Congresso da Rede Mineira das Apaes – realizado pela Federação das Apaes do Estado de Minas,
com o apoio da Apae de Uberlândia e da Prefeitura
de Uberlândia, no Convention Center, no período
de 12 a 15 de agosto do ano passado – foram eventos
que realmente trouxeram oportunidades de ampla
conscientização de temas significativos para a pessoa com deficiência intelectual e sua família.
No período da manhã, houve palestras gerais
que encheram o imenso auditório do Convention Center. Mais de 2 mil pessoas estiveram
presentes no cerimonial de abertura, ávidas por
informações atuais, por reflexões mais profundas e para se unirem na busca de mais conhecimento, dinamismo e modernidade para a causa
da pessoa com deficiência intelectual.
Os autodefensores – representantes das pessoas com deficiência – e suas famílias participaram ativamente das mesas-redondas, contando
suas experiências e enriquecendo os temas com
suas vivências reais, o que foi muito apreciado
por todos. As mesas-redondas foram, portanto,
momentos de muita participação, também por
parte do público presente. Nelas, refletiu-se com
Mensagem da APAE
abertura e liberdade sobre temas essenciais na
vida das pessoas com deficiência intelectual e de
suas famílias, quebrando tabus e paradigmas.
As palestras encheram os ambientes de alegria, entusiasmo e emoção, devido à excelência
com que foram proferidas. Especialistas da área
da deficiência intelectual contribuíram para que
todos os temas práticos também fossem estudados do ponto de vista científico. Contou-se com
uma equipe de técnicos e especialistas que realmente brilharam e que, além de trazerem conhecimento, trouxeram esperança para que a caminhada seja cada vez mais frutífera no sentido de
melhoria de qualidade na vida das pessoas com
deficiência e de suas famílias.
Carta de Uberlândia, elaborada
no Fórum Mineiro de Autogestão,
Autodefesa e Família e XI Congresso
da Rede Mineira das Apaes
Obtivemos a Carta de Uberlândia depois de
reunir os familiares, autodefensores e profissionais em cada Apae do estado, em seguida
reuni-los em seus próprios conselhos regionais
e depois, então, no grande Fórum Mineiro de
Uberlândia, com o intuito de ampliar as discussões, as reflexões e os debates sobre a atual
situação da pessoa com deficiência e, principalmente, ouvir dela própria e de sua família as necessidades e os anseios que têm.
A carta, que foi elaborada pelos autodefensores,
pelas famílias e pelos profissionais, reflete a opi5
nião genuína desses atores. Essas três visões são
Ricardo Luiz Alves Pimenta, Berenice da Silva Guimarães, Celme Moreira Queiroz Guimarães, Fanira
extremamente significativas para o trabalho das
Arcanjo e Herculano e Márcia Ribeiro de Oliveira.
Apaes. A pessoa com deficiência pôde expressar-se
livre e espontaneamente. Os pais e os profissionais,
Apae de Uberaba, com o trabalho Mercaque são os maiores
do de trabalho e inclusão
Foto: Federação das Apaes do Estado de Minas Gerais
influenciadores
na
sociolaboral da pessoa
vida da pessoa com
com deficiência intelecdeficiência,
buscatual: orientação, transram compreendê-la
formação, desafios e
cada vez mais ampla
possibilidades, dos autoe profundamente para
res Ana Paula Espíndula
realmente unirem as
e Alex Abadio Ferreira.
mãos – com ela e com
Apae de Montes
a gestão das Apaes – Composição da mesa de abertura do Forúm Mineiro de Autogestão,
Claros, com o trabalho
Autodefensoria e Família
para alcançar o acesso
Nossa casa: um lar para
contínuo à inclusão. Colocando-nos na posição da
receber nossos filhos com deficiência quando falpessoa com deficiência, encontraremos a forma de
tarmos, do autor Lenir de Abreu.
tornar sua vida cada vez mais plena – de modo a
Categoria Projeto Apaeano
que usufrua todos os direitos que lhe cabem.
Apae de Patrocínio, com o trabalho HabiE foi com esse propósito que a federação
lidades orientadas para a pessoa com deficiência
realizou esse grande evento, para que os serviintelectual e múltipla, das autoras Sandra Rita
ços das Apaes, cada vez mais, atinjam o nível alFerreira Guimarães e Adriane Pacheco.
mejado de atenção integral e integrada à pessoa
Apae de Além Paraíba, com o trabalho
com deficiência, podendo realizar serviços de
Contextualização das sessões de fisioterapia na
excelência para ela e sua família.
abordagem da integralidade de ações, do autor
Prêmio Estadual Eduardo Barbosa –
trabalhos premiados
O prêmio foi criado pela unidade mineira da
Uniapae para incentivar a produção e sistematização de conhecimento, com o objetivo de avançarmos cada vez mais no desenvolvimento humano da pessoa com deficiência intelectual. Em
sua primeira edição, contemplou três categorias
e premiou três trabalhos de cada uma delas. Os
nove trabalhos premiados pela Comissão Científica do congresso foram selecionados entre 70
concorrentes. Os ganhadores foram homenageados no XI Congresso, em Uberlândia. São eles:
Categoria Ciência Apae
Apae de Itaúna, com o trabalho Envelhecimento da pessoa com deficiência intelectual, dos autores
6
Marion de Souza Teixeira.
Apae de Congonhas, com o trabalho Tocando, cantando, fazendo e aprendendo, da autora Roselane Gomes Alves.
Categoria É Assim que se Faz
Apae de Carlos Chagas, com o trabalho
Missão da Apae e defesa de direitos: parceria
com o governo, com a sociedade e com a família,
da autora Célia Regina Rodrigues Reis.
Apae de Barbacena, com o trabalho Utilização de condutas alternativas como auxílio no
desenvolvimento e melhoria da compreensão da
leitura e da escrita, das autoras Nídia de Fátima
Costa e Samanta Silva.
Apae de Santa Luzia, com o trabalho Percepção de uma professora com deficiência auditiva sobre a inclusão de pessoas com deficiência
intelectual, da autora Adriana Aparecida Fraga.
Mensagem da APAE
Congresso Ibero-Americano
Vitória-ES
Washington Luiz Sielemann Almeida | Sociólogo e Assessor de Planejamento e Projetos da
Federação das Apaes do Espírito Santo
Em uma tentativa de trazer para o campo das
discussões questões fundamentais acerca das
políticas inclusivas, do envolvimento da família
e da importância dos movimentos sociais nesses
contextos, a Federação das Apaes do Espírito
Santo realizou o I Congresso Ibero-Americano
de Deficiência Intelectual, em agosto de 2010.
A proposta logrou êxito e possibilitou a um
público de cerca de 500 pessoas conhecer e comparar realidades distintas, além de ter contato
com experiências de sucesso. A presença de profissionais e pesquisadores de reconhecido mérito contribuiu muito para o sucesso do evento.
blicas para as pessoas com deficiência. Ao longo de
sua história, foram agregando, também, em uma
tentativa de ocupar as lacunas deixadas pelo poder
público, serviços nas áreas de educação especial,
saúde e assistência.
Dessa evolução, entretanto, resultou uma dependência cada vez maior dos recursos públicos,
chegando – como no exemplo das Apaes do Espírito Santo – a atingir um grau médio de cerca de três
quartos dos seus recursos apurados.
Se pensarmos o movimento social por suas próprias características, teríamos em conta que a prinFoto: Federação das Apaes do Estado do Espírito Santo
A retórica do financiamento público
Entretanto, algo nos chamou a atenção: o
tema do financiamento tomou a cena de todos os
debates, mesmo quando eles se afastavam completamente dessa temática. Essa questão nos leva
invariavelmente a pensar sobre o papel das instituições diante de sua causa primeira: a defesa de
direitos das pessoas com deficiência intelectual.
Seria desnecessário falar sobre a importância
que esse aspecto do movimento teve no ato de
seu surgimento. Seria igualmente dispensável
apelar para exemplos de conquistas nesse campo, porém me parece extremamente necessário
fazermos uma análise de como essa questão fundamental para a atuação da instituição está se
perdendo ao longo do tempo.
As Apaes surgiram, a partir de 1954, norteadas
pela égide da contestação da falta de políticas púMensagem da APAE
Washington Luiz Sielemann Almeida no I Congresso Ibero-Americano de
Deficiência Intelectual no estado do Espírito Santo
7
cipal delas é (ou deveria ser) a autonomia. Com efei-
Esta é uma questão que carece de uma análise
to, os movimentos sociais são elementos antagônicos
profunda e deve entrar imediatamente na agenda
no campo das relações políticas e, por esse motivo,
do movimento apaeano. É preciso repensar as es-
constituem atores ambíguos, nas relações com o po-
truturas e os objetivos para confrontá-los com a
der público. Seu aspecto contestador é fundamental
perda de autonomia. Por outro lado, necessitamos
para a garantia do sucesso das suas ações.
reconquistar nosso espaço no campo da represen-
É importante lembrar que as instituições filantrópicas
tação dos interesses de nossos usuários e associa-
são a base para a garantia do empoderamento das prerro-
dos. Não podemos permitir interferências externas
gativas que possibilitam as transformações sociais a par-
em nossa missão e em nossa filosofia de atuação.
tir dos indivíduos que elas representam.
Temos de reconhecer a essência do movimento
Przeworski, cientista político polonês e estu-
apaeano para além das questões de financiamento.
dioso das questões que envolvem a democracia na
Contaminados por esta preocupação, pouco a
América Latina e no Leste Europeu, afirma que “os
pouco estamos perdendo de vista questões e dis-
indivíduos isoladamente não conseguem fazer es-
cussões fundamentais para as pessoas com defici-
tremecer as estruturas sociais”. Portanto, as decisões em um regime democrático só podem ser contestadas a partir da não adesão das massas. Nesse
aspecto, surge novamente a questão da autonomia
das instituições. Falar de autonomia, quando há
dependência de recursos públicos, torna-se um
contrassenso.
8
ência intelectual e suas famílias e, com isto, temos
de ter cuidado, pois assim nossa autonomia e a
base de nossa existência – a defesa e garantia de
direitos – vão se tornando apenas uma lembrança
desvanecida no tempo.
Vitória-ES, 15 de dezembro de 2010.
Mensagem da APAE
VIII Festival Nacional Nossa
Arte – Bento Gonçalves-RS
Foto: Federação Nacional das Apaes
João Lobo | Coordenador do Núcleo de Comunicação Institucional da Fenapaes e Coordenador da Uniapae
O VIII Festival Nacional Nossa Arte foi realiza-
Em seguida foram iniciados os trabalhos do
do em Bento Gonçalves-RS no período de 8 a 12 de
cerimonial, em que os dirigentes apaeanos, o au-
novembro. Desde sua abertura, a alegria e o senti-
todefensor nacional e as autoridades fizeram seus
mento de satisfação foram predominantes. Todos os
pronunciamentos de forma emocionada e calorosa.
convidados experimentaram a hospitalidade e o ca-
O auditório do festival com 1.600 lugares estava
rinho dos apaeanos do Rio Grande do Sul e de Bento
completamente lotado com a presença das delega-
Gonçalves, que tentaram surpreender em cada de-
ções dos estados, a comunidade de Bento Gonçal-
talhe os participantes de todo o Brasil lá presentes.
ves e de outras cidades do Sul do país.
A abertura foi uma experiência à parte, pois todos
A exposição de artes visuais estava impecável.
puderam assistir a uma apresentação tespetacular, em
Os trabalhos foram expostos com toda a estrutura
que várias gerações de artistas com e sem deficiência
necessária em uma área de fácil acesso já no hall
interagiram para apresentar uma peça musical que
de entrada do evento. Os jurados informaram para
mostrava um resumo da história da imigração italiana
a organização do evento que os trabalhos eram de
no Brasil e sua integração com o nosso povo, em espe-
alto nível e que estavam impressionados com algu-
cial no Rio Grande do Sul.
mas peças em exposição.
Mensagem da APAE
9
Os artistas, dirigentes do movimento apaeano,
espetáculos, que denotam as características pecu-
professores e convidados almoçaram, lancharam e
liares de cada região deste imenso país, carregados
jantaram juntos em um megarrestaurante monta-
de uma emoção que as pessoas com deficiência
do dentro do pavilhão de exposições onde o festival
conseguem imprimir mais do que ninguém. A cada
estava sendo realizado. Tudo servido com muita
apresentação as manifestações do público para com
fartura, qualidade e agilidade. O cardápio foi varia-
os trabalhos apresentados também emocionavam.
do com alimentos da mais alta qualidade.
Eram palmas, lágrimas e as mais diversas manifes-
Nesse espírito fraterno e acolhedor, as apresen-
tações de alegria.
tações artísticas foram realizadas em uma estrutura
As escolas regulares da região enviaram para o fes-
de palco com todos os recursos técnicos possíveis
tival as delegações compostas por professores, alunos
para que os trabalhos tivessem o melhor desem-
e gestores, que, por esta experiência, puderam viven-
penho. A comoção com os resultados das apresen-
ciar melhor as questões sobre as pessoas com defici-
tações foi geral, pois se apresentaram verdadeiros
ência e perceber como essas pessoas são capazes.
Viii Festival Nacional Nossa Arte
10
Mensagem da APAE
Entrevista
O Peruano Júlio Wilfredo Guzman Jara
Foto: Federação das Apaes do Estado do Espírito Santo
Presidente da Organização Mundial das Pessoas com
Deficiência - Fala sobre os avanços dos movimentos
sociais a partir da ativa participação política.
palestrou no I Congresso Ibero-Americano de Deficiência Intelectual, em Vitória, em agosto, fala à
jornalista Daniely Campos sobre os avanços do movimento a partir da ativa participação política.
Qual é o panorama atual do movimento
de inclusão em todo o mundo?
Jara – Sem dúvidas, nós avançamos muito em
relação à inclusão das pessoas com deficiência em
todo o mundo. Temos leis modernas e eficazes em
alguns países que são cumpridas. Isso é resultado
da troca de conhecimento e experiências das organizações que defendem esses direitos. Também é
resultado da profissionalização do setor. Mas, por
outro lado, ainda temos muito o que fazer nos aspectos legais e jurídicos da inclusão, sobretudo na
América Latina.
Júlio Wilfredo Guzman Jara
A luta pela inclusão das pessoas com deficiência é
um desafio em todo o mundo, sobretudo na Améri-
Os avanços necessários são nas
construções das legislações de garantia
de direitos?
ca Latina. O visionário Júlio Wilfredo Guzman Jara,
Sim. Precisamos garantir o cumprimento dos di-
também presidente da Organização Mundial das
reitos que já conseguimos. Avançamos no direito,
Pessoas com Deficiência, não aponta outro caminho
do que usar a política para garantir a acessiblidade nos diversos campos. Advogado e de família humilde, o peruano aprendeu, com sua própria vida,
que a participação ativa na discussão e implantação
mas efetivamente as pessoas com deficiência não
decidem nada. Orquestramos novas legislações,
porque no passado imaginávamos que essa era a
solução para a inclusão. Falta participação política
desse público. Esse é o grande desafio para o futuro.
das leis ligadas à proteção social é o primeiro passo
Precisamos estar presentes na distribuição da
para mudanças. Nesse sentido, o sonho é preparar
riqueza. Além disso, precisamos promover habili-
as próprias pessoas com deficiência para lutar, no
dades para ganhar em desenvolvimento humano,
futuro, pela garantia dos seus direitos. Jara, que
tomar decisões para as áreas de transporte, eletri-
Mensagem da APAE
11
cidade, política e infraestrutura, em cargos execu-
to econômico e da distribuição da riqueza, formar
tivos. Esse será o próximo momento na luta pela
capital humano para o mercado de trabalho e para a
inclusão.
vida política, estar inserido nos governos para tomar
É um processo muito complexo.
Estamos preparados para isso?
É humanamente difícil, porque esse tipo de
avanço nos dá medo. Muitos de nós, pessoas com
deficiência, não terão condição de chegar a um cargo de alto escalão. Mas é preciso construir uma ideologia transformadora.
Você é o próprio exemplo de que isso é
possível.
decisões sobre infraestrutura.
Na América Latina, a ditadura foi muito
forte, o que inibiu, ao longo dos anos,
o envolvimento político das pessoas e,
em alguns lugares, há até preconceitos
em relação a essa participação. Como
quebrar esse paradigma?
No contexto mundial, 10 a 15% da população intimida-se quando a questão é participação política.
Precisamos mudar essa realidade. As nossas causas
Nasci cego e sou produto de uma luta pessoal.
precisam fazer parte da bandeira dos partidos. A
Sou de uma família simples, que mora em uma ci-
verdadeira democracia não existe, mas os espaços
dade pequena no Peru. Trabalhei e estudei para me
de poder são ocupados pelos políticos e precisamos
formar advogado. Destaquei-me por esforço.
nos representar.
Qual é a sua visão sobre essa realidade
no Brasil?
Para você, essa representação é
fundamental para que a pessoa com
deficiência participe efetivamente da
economia?
O Brasil possui um movimento muito organizado, ao contrário dos outros países da América Latina. Internamente, ele é bem forte e estruturado.
É importante para participar de todos os campos.
No entanto, não é conectado com as outras ações
Não existimos hoje no processo de globalização. As
na América Latina. É preciso integrar essas experi-
crises não nos afetam, muito menos o desemprego.
ências. Nos outros países do continente ele é débil,
Isso porque o poder ainda não está em nossas mãos.
porém tem crescido o nível de organização e participação. O fato é que esse movimento é lento em
todo o planeta. Devemos fortalecer essa fraqueza.
O Brasil pode ser exemplo para os países sul-americanos.
Quais são os inimigos dessa
articulação?
A pobreza, a indiferença, a corrupção, a falta de
Vencer os gargalos da educação
inclusiva é então um grande desafio
para obter desenvolvimento humano?
Claro. Noventa por cento das pessoas com deficiência não vão à escola e não estão preparadas para o
mercado. Para promover a inclusão, precisamos dar
esse primeiro passo para preparar as pessoas com
deficiência para o mundo.
transparência e de políticas públicas. A nossa tarefa
é organizar o movimento para enfrentar essas barreiras. Avançamos na conquista de leis, mas agora precisamos passar por um novo momento: fazer que a
pessoa com deficiência seja parte do desenvolvimen12
Mensagem da APAE
Experiências Inovadoras
Cursos a distância realizados pela
Fenapaes
Educação a distância no Brasil
Erivaldo Fernandes Neto | Coordenador Técnico-Pedagógico da Fenapaes
Após o advento da internet, a educação a distância
ganhou novas ferramentas que garantem a maior interação entre alunos e ministrantes. Isso fez com que
as diversas categorias de cursos presenciais fossem
também disponibilizadas em um formato a distância. Atualmente estão disponíveis nessa modalidade
de ensino desde cursos de curta duração, como os
cursos livres para rápida capacitação, até cursos de
maior duração, como graduações.
grande sucesso, por ser uma forma rápida e prática
de conseguir a conclusão do nível de ensino desejado.
Podem-se apontar como causas do fenômeno
da grande procura de cursos a distância: a jorna-
da de trabalho dos brasileiros de 44 horas semanais, o que encurta o tempo dos trabalhadores; a
concentração do trabalho em grandes centros urbanos, que causa transtorno e tumulto pela grande
No Brasil, os cursos a distância são cada vez mais
concentração de pessoas nos transportes públicos;
procurados, assim como surgem com frequência noa grande quantidade de carros nas vias, o que divas instituições especializadas na pesquisa e estruficulta o tráfego e gera mais cansaço e estresse; o
turação de pedagogias e tecnologias nessa área. Atuvalor elevado dos cursos presenciais e o baixo valor
almente os principais expoentes
dos salários, que obrigam os cidaApós
o
advento
da
dessa modalidade de ensino são
dãos a trabalhar em mais de um
internet,
a
educação
a
as universidades e os institutos
emprego. Esses são fatores que
distância
ganhou
novas
de capacitação técnica, que se
dificultam o acesso da população
envolvem no projeto de educa- ferramentas que garantem brasileira a cursos de especialição a distância no país, obtendo a maior interação entre zação e/ou capacitação. Assim a
grandes êxitos nas pesquisas e no
educação a distância surgiu como
alunos e ministrantes
desenvolvimento de ferramentas
um facilitador para pessoas que
e metodologias nessa área, contribuindo para detem vontade de aprimorar seus conhecimentos e
mocratização do ensino superior e técnico. Mas, em
esbarravam em impossibilidades econômicas, falta
relação às escolas de ensino fundamental e médio,
de tempo e cansaço.
essa proposta de ensino é pouquíssimo difundida,
Na década de 1990, quando começou uma maior
devido ao fato de que a escola de nível fundamenprocura de cursos a distância no Brasil, motivada
tal e médio, mais que um ambiente de difusão de
pelo advento dos recursos multimídia e pela rápida
conteúdos, é um ambiente de socialização onde são
proliferação do CD-ROM, havia descrédito por parconstruídos importantes princípios morais e éticos,
te dos pedagogos e da população em geral em relaa partir do convívio com outras pessoas. Já nos curção à autenticidade que poderia ser atribuída aos
sos supletivos essa modalidade tem demonstrado
métodos utilizados para garantir a avaliação desses
Mensagem da APAE
13
cursos. Essa preocupação era gerada devido à mínima interação que os recursos disponíveis, à época,
proporcionavam entre os envolvidos no processo.
Atualmente é comum depararmos com pessoas
utilizando computadores portáteis, e-books, celulares, entre outros aparelhos que possuem conexão
à internet, em locais públicos. Isso é possível por
meio de conexões como Wi-Fi e 3G, que são tipos
de conexão à internet que permitem a mobilidade
dos seus usuários. Essas tecnologias estão disponíveis em cada vez mais lugares do Brasil.
Outro ponto que é essencial para justificar o sucesso da educação a distância, sem dúvida, é a queda de
preço dos aparelhos eletrônicos com acesso à internet,
devido à forte concorrência entre empresas globais e à
grande concorrência dos produtos eletrônicos vindos
de países asiáticos, que ganham cada vez mais espaço
no mercado mundial. Assim a internet está revolucionando a prática da educação a distância, pois agora a
pessoa pode acessar um curso de qualquer lugar do
mundo tendo um aparelho com acesso à internet.
A mobilidade que o ensino a distância proporciona é o meio pelo qual milhares de pessoas conseguem
enriquecer seus currículos e melhorar sua qualificação
profissional.
Com a criação de novos recursos para educação a
distância, por avanços tecnológicos, tornou-se possível estreitar a interação entre professores e alunos
nessa modalidade, dando credibilidade a esse formato de curso e promovendo a formulação de novos estudos pedagógicos relacionados a ensino-aprendizagem. Isso é devido à elaboração de ferramentas que
permitem que o professor interaja com os alunos em
tempo real, como audioconferência, webconferência,
chats e bate-papos, assim como a criação de perfil de
ministrantes e alunos na plataforma, contendo seus
dados e expectativas. Esses novos estudos já preveem
formas que tentam estabelecer o perfil do aluno, via
percepção da forma como ele digita e pelas maneiras
como interage por meio das ferramentas.
educação passa a ser acessível, tornando-se fácil,
com baixo custo e mantendo sua qualidade.
A educação a distância está estabelecida na Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº
9.394/1996) e regulamentada pelo Decreto nº 5.622, de
19 de dezembro de 2005; Decreto nº 5.773, de maio de
2006; Decreto nº 6.303, de 12 de dezembro de 2007; e
pela Instrução Normativa nº 40, de 12 de dezembro de
2007.
Apesar da resistência de alguns profissionais da
educação no reconhecimento da qualidade dessa
modalidade de ensino, a educação a distância vem
contribuindo fortemente para a democratização da
educação brasileira e a melhor capacitação de profissionais em diversas áreas de atuação.
Uniapae EAD
A Uniapae já possuía um portfólio de cursos presenciais ofertados pelas Apaes e por profissionais que
pautam suas pesquisas na área de defesa dos direitos da
pessoa com deficiência em diversos campos do saber.
Avaliando os avanços do ensino a distância no
Brasil e a grandeza do movimento das Apaes, entendemos que essa modalidade de ensino é uma oportunidade de democratizar nossos cursos de capacitação para toda a rede, devido à facilidade e ao baixo
custo que a educação a distância possibilita.
Em 2010 foram disponibilizados dois cursos, um
de Diagnóstico Aadid e outro de Contabilidade para
Terceiro Setor, que formaram 340 pessoas de 23 estados brasileiros, conforme exposto no gráfico.
Os cursos oferecidos nessa modalidade de ensino têm um preço menor em relação aos cursos
presenciais, devido à economia com gastos de estrutura física, transporte e alimentação. Assim, a
14
Mensagem da APAE
Essa experiência sem dúvida é inovadora para
o movimento das Apaes e por isso o alto índice de
inscritos nos cursos foi fato de grande surpresa e
alegria para a equipe da Fenapaes.
Todas as edições dos cursos tiveram avaliação feita
pelos alunos, professores e tutores e todas representaram um alto índice de satisfação com a dinâmica do
curso, como demonstra o gráfico com os dados estatísticos de uma edição do curso Diagnóstico AADID.
• Enquetes
• Agenda
• Publicações
• Audioconferência com suporte de demonstrações em vídeo
• Documentos em diversos formatos de leitura
• Planilhas
As horas do curso são distribuídas tendo por
base a fundamentação teórica de cada atividade,
cada tipo de atividade agrega uma quantidade de
horas específica, levando em consideração a relevância da atividade para construção de conceitos no
aluno, que somente serão computadas para o aluno
após a entrega de suas atividades. As horas atribuídas às atividades não têm valor de pontuação, mas
são de fundamental importância para aprovação do
aluno no curso.
A avaliação dos alunos é feita via pesos estipulados pela coordenação de cada curso em conjunto
com os professores que são divulgados para os alunos antes do início do curso. Para cada atividade específica, a pontuação máxima que cada aluno pode
As avaliações positivas dos cursos devem-se ao
modelo pedagógico adotado na execução dos trabalhos, assim como ao empenho de todos os profissionais envolvidos.
alcançar é dez e o mínimo é zero. Parte da pontuação
No ano passado a Uniapae-EAD tornou-se uma
realidade de sucesso para a rede das Apaes. Está à
disposição mais essa ferramenta de capacitação e
no plano de curso.
de intercâmbio de informações.
será obtida por meio da participação e da avaliação
do nível de conhecimento que o aluno demonstra ter
em chats, fóruns e bate-papos nos horários definidos
Os cursos oferecidos pela Universidade Corporativa da Rede Apae são livres e pela certificação,
comprovam a participação do aluno em capacitação
Proposta de cursos a distância da Fenapaes
ministrada por pesquisadores de assunto específico.
Os cursos da Uniapae na modalidade EAD são
ministrados por meio de sistema online de interação
via internet, pela plataforma online, não havendo
momentos presenciais. A interação dos profissionais
com os alunos é feita pelas seguintes ferramentas:
Esses cursos não têm período fixo de duração, mas a
média para realização de curso de 40 horas é de um mês
a um mês e meio, variando entre o número de atividade
e a evolução no cumprimento do currículo do curso.
A Uniapae é estruturada por intermédio dos mo-
• Fórum
delos pedagógicos retirados de documentos e pu-
• Chats
blicações sobre educação a distância, formulados
• Bate-papo
nos grandes centros de EAD no país.
Mensagem da APAE
15
Autonomia para votar: sistema para
eleitores em situação de deficiência
intelectual e múltipla
Erivaldo Fernandes Neto | Coordenador Técnico-Pedagógico da Fenapaes
Cristiano Octacílio Pinheiro | Autor do Projeto
Sistevoto
RESUMO
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16
Mensagem da APAE
Justificativa
Objetivos
Este projeto tem como finalidade atender aos
Contribuir para a inclusão social da pessoa em
dispositivos da Convenção sobre os direitos das
situação de deficiência intelectual e múltipla, me-
pessoas com deficiência no que diz respeito à cria-
diante acessibilidade para o uso dos meios de infor-
ção e expansão de oportunidades a essa população
mação e comunicação.
específica para viver de forma independente, parti-
•
Promover ações visando à simplificação e independência nas atividades específicas.
cipando plenamente da vida social e comunitária.
Nesse sentido, são emergentes ações que contribu-
•
Estabelecer métodos, técnicas e dispositivos
am para o protagonismo da pessoa com deficiência
que favoreçam a utilização das tecnologias de
de maneira autodeterminada, promovendo contí-
informação e comunicação por pessoas com
comprometimentos na comunicação oral e/ou
nuos avanços em sua vida pessoal e coletiva.
O projeto tem como foco principal a pessoa com
deficiência intelectual, associada ou não a outras
motora.
Como funciona
deficiências, tematizando a pesquisa e o desenvol-
Esse sistema consiste em software que simula
vimento de tecnologias voltadas para esse público,
uma urna eletrônica no computador, trazendo via
ou por outras categorias de necessidades especiais
banco de dados as informações de cada candidato.
que possam auferir benefícios com sua utilização.
Visa a oferecer condições de acessibilidade ao exercício crescente da cidadania mediante a participa-
O sistema também é autoinformativo, pois conduz
o eleitor passo a passo até a confirmação de todos
os votos.
ção na vida política e social, criando oportunida-
O primeiro passo é cadastrar no programa todos
de ao exercício do voto de maneira autônoma em
os envolvidos no processo eleitoral no programa,
condição de privacidade às pessoas em situação de
deficiência intelectual e múltipla, bem como disponível aos demais cidadãos.
Serão beneficiados pelo projeto principalmente
jovens, adultos e idosos em situação de deficiência
intelectual e múltipla, que participam de movimen-
sendo esses candidatos e eleitores quem terá acesso
à votação. Dessa forma conseguimos garantir que a
votação será restrita para aqueles que estão de fato
envolvidos no processo eleitoral da Apae.
Após a confirmação do voto, é emitido na hora
um recibo da votação.
tos de autodefesa e autodeterminação, integrantes
A votação deve ocorrer de maneira presencial,
de associações, movimentos ou agremiações, entre
assim os eleitores têm de estar nos locais de vota-
outros, cujas ações implicam o uso do voto para a
ção no horário programado.
escolha de representantes ou outras finalidades.
Com a divulgação dos resultados, pretende-se
com o projeto a ampliação do uso das tecnologias
Aplicabilidade
O software conta com opções simples: o
da informação e comunicação nas práticas sociais,
eleitor vota e confirma seu voto com apenas dois
favorecendo a qualidade de vida das pessoas em si-
toques. Os candidatos são cadastrados (uma foto e
tuação de deficiência na população geral para diver-
os principais dados pessoais) no sistema minutos
sos fins que impliquem principalmente o exercício
antes da votação. Após o cadastro, cada um recebe
do voto autônomo, em condições de privacidade.
um número.
Mensagem da APAE
17
Na hora de votar, o eleitor vai até o computador
e, com um único toque no teclado, seleciona o número de seu candidato. Após selecionar o número,
aparecerá a foto e os dados do candidato. Se for esse
o candidato da escolha, basta mais um toque no teclado para confirmar ou corrigir o voto.
Esse programa foi desenvolvido prioritariamente para as pessoas com deficiência intelectual e
múltipla, de forma a garantir a participação delas
em um processo tão importante quanto um processo eleitoral.
Nosso objetivo é atualizar esse software, para
atender cada vez mais aos tipos de deficiências, realizando com rapidez, qualidade e segurança o processo eleitoral, dando o primeiro passo para uma
revolução de conscientização política das pessoas
com deficiência e, por meio da tecnologia, criar
acessibilidade para essas pessoas participarem dos
processos eleitorais do nosso país, com autonomia.
Resultados
Nas primeiras eleições foram detectados diversos problemas, pois, apesar do preparo que os
candidatos tiveram, o processo eleitoral é de difícil entendimento e acesso para as pessoas que têm
deficiência intelectual média e grave. Havia muita
confusão, como troca de nomes, esquecimento e
falta de apoio para as pessoas com deficiência múltipla. Até providenciar todos os apoios, perdia-se
muito tempo.
Com o Sistevoto, ocorreu uma verdadeira revolução no processo eleitoral dos autodefensores: a
votação passou a ser rápida e nenhum dos eleitores
ou candidatos teve problemas para votar.
Atualmente esse software está à disposição das
2.081 Apaes em todo o Brasil, servindo de ferramenta
facilitadora do processo eleitoral das Apaes.
18
Mensagem da APAE
Mensagem da APAE
19
Projetos e Ações
Do rural ao urbano – Caminhos de
transformação, valorizando o homem
Déborah Alves Sousa Vasconcelos | Apae de Alvinópolis
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Resumo
20
Mensagem da APAE
Foto: Apae de Alvinópolis
Introdução
O Semeando constitui hoje
o maior programa de educação ambiental em Minas Gerais. Voltado para crianças e
adolescentes, tem a participação de cerca de três milhões
de alunos do ensino fundamental de 11 mil escolas públicas municipais e estaduais.
Criado em 2001 com o
objetivo de mostrar às crianças e aos jovens os valores,
a cultura e o papel da agricultura e da pecuária para o
abastecimento, bem como
a sobrevivência das pessoas
Alunos da Apae de Alvinópolis conhecendo o projeto “Semeando”
no campo e nas cidades, o programa permitiu aos
o Semeando descortinou para os estudantes um
alunos e professores estudar temas como a origem
novo olhar sobre o campo, no estudo dos valores,
dos alimentos, a importância da água e as rique-
da cultura e do papel da agricultura e da pecuária
zas do solo. Com o passar dos anos, o programa foi
para o abastecimento e a sobrevivência das pessoas
enriquecendo seu conteúdo, incluindo temas como
nas áreas rurais e nas cidades.
as práticas sustentáveis para o futuro da população
Por meio do Semeando, também foram ressal-
mundial, segurança alimentar, ética e cidadania,
tadas as tradições rurais que fazem parte da vida
entre outros.
mineira, como a comida, a música, as festas, o arte-
O Semeando, desde que foi criado, tem o objetivo
sanato, a linguagem e a arquitetura.
de apresentar a realidade à sociedade, mostrando
O programa chegou a todos os municípios de
que o produtor rural é, antes de tudo, um guardião
Minas Gerais, com a participação de três milhões
da natureza: cuida para garantir a alimentação da
de alunos e 150 mil professores. No dia 30 de no-
população, aquecer a economia e manter preserva-
vembro, Faemg e Senar Minas premiaram os me-
do o patrimônio natural. Dirigido a crianças, ado-
lhores trabalhos dos concursos do Semeando, pro-
lescentes e professores da rede pública municipal
movidos anualmente, com o objetivo de valorizar o
e estadual de Minas Gerais, o Semeando mobilizou
conhecimento adquirido.
uma enorme gama de recursos humanos e físicos.
Com material didático e atuação de multiplicadores, o programa capacitou professores e promoveu
uma série de atividades visando à promoção individual e coletiva de estudantes, educadores e comunidades.
O binômio conhecimento-valorização tem sido o
pilar do programa. Ao longo dos últimos dez anos,
Mensagem da APAE
A participação dos familiares dos alunos, das
comunidades, das empresas e dos órgãos públicos
locais nas atividades empreendidas pelos estudantes e pelas escolas nos trabalhos do Semeando comprovam a dimensão do programa. No ano passado,
a organização recebeu a inscrição de 13.900 trabalhos, para selecionar 45 alunos e seus professores e
22 experiências pedagógicas.
21
Esta caminhada faz-nos ter a certeza de que o
programa Semeando é mais do que um projeto de
conscientização e difusão do conhecimento. É também um processo de transformação.
Quando a Apae de Alvinópolis começou a participar do programa Semeando, há 5 anos, envolvendo sempre as famílias de nossos alunos e a comunidade, foi crescendo o prazer de “aprender fazendo”.
Construímos conhecimentos e hoje estamos praticando e transformando nossa sabedoria em esperanças de novas relações. Esperança de uma geração que saiba dividir mais o seu pão e estragar
menos comida, consumir com mais moderação e
ostentar menos vestimentas da moda, respeitar os
mais velhos e amar o seu próximo como a si mesmo, plantar e reaproveitar com práticas que não
agridem o meio ambiente. Acreditamos que preservar a história é tão importante quanto fazê-la.
Desenvolvimento do projeto na Apae
de Alvinópolis
Todas as ações do projeto foram planejadas com
o objetivo de trabalhar conceitos de segurança alimentar, valorização e respeito à natureza e reconhecer a importância das atividades do homem do
campo para a sociedade.
Iniciamos o nosso projeto recebendo a visita de
Torrãozinho e sua turma para apresentar o tema
do projeto de 2010 e entregar os livros. Junto a
Torrãozinho veio Bumba-Meu-Boi, um animal da
fazenda de grande importância para a agricultura.
Assim, o cavalo e o boi fizeram-se presentes como
agentes de progresso, pois eram um meio de transporte muito utilizado. Em seu lombo ou puxando
carroça, arando a terra ou transportando pessoas, lá estavam eles, incansavelmente, colaborando
para o desenvolvimento.
A principal função do trabalho com o tema “InteDepois da apresentação do Boi, que fez a festa
gração campo-cidade” é contribuir para a formação
com a meninada, Torrãozinho entregou os livros.
de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na reCada turma da escola partiu para investigar um
alidade socioambiental de um modo comprometido
assunto e tudo será dividido
com a vida, com o bem-estar
de cada um e da sociedade,
A principal função do trabalho com e vivenciado com os demais
colegas na autodefensoria,
local e global. Para isso é
o
tema
“Integração
campo-cidade”
programa implantado na
necessário que, mais do que
é
contribuir
para
a
formação
de
Apae desde 1994, em que os
informações e conceitos, a
cidadãos conscientes
alunos têm a oportunidade
escola se proponha a trabade contar o que aprenderam
lhar com atitudes, com fore novidades. Essa forma de expressão acontece
mação de valores, com o ensino e a aprendizagem
toda segunda-feira e no jornal Mural, que os alunos
de procedimentos. E esse é um grande desafio
escrevem todo mês.
para a educação. Gestos de solidariedade, hábitos
de higiene pessoal e dos diversos ambientes, participação em pequenas negociações são exemplos
de aprendizagem que podem ocorrer na escola, de
forma interdisciplinar.
Ao se abordar o tema cidade/campo, é importante
que os alunos percebam não apenas semelhanças e
diferenças (paisagens, organização e instrumentos de
trabalho, ritmos de vida), mas também que os espaços urbano e rural não se apresentam como uma dicotomia. Eles são complementares e interdependentes
22
Aconteceram também, durante todo o mês de
agosto, reuniões com os pais de alunos de cada sala,
em que eles contaram muitas histórias e se emocionaram ao lembrar da vida do campo. Assistiram a
um vídeo acessado no site YouTube, que retratou
a zona rural e a zona urbana e que foi um determinante para as conversas com os pais.
As turmas da educação infantil, com o objetivo
de trabalhar a relação campo-cidade, valorizar e incentivar o cultivo de hortas e pomares, deram início
Mensagem da APAE
ao projeto nas turmas, procurando proporcionar
As professoras optaram por uma metodologia
atividades contextualizadas e significativas. Após a
dinâmica, que permitiu aos alunos participar ativa-
entrega do livro por Torrãozinho, levantaram-se os
mente das aulas, realizando atividades de observa-
conhecimentos prévios dos alunos sobre zona ur-
ção, comparação, pesquisa, elaboração de hipóte-
bana e zona rural.
ses e conclusões. O tema foi apresentado de forma
A partir daí, a comprovação e o enriquecimento
clara e objetiva e foram usados os mais variados
das respostas dadas pelos alunos foram feitos com
recursos, como: observação; passeio pelo entorno
atividades teóricas e práticas envolvendo o tema
da escola, em sítios e pelas ruas da cidade; des-
estudado. A turma passeou pela cidade, assistiu ao
crição de experiências vividas; etc. As atividades,
filme “A turma do sítio”, passeou no sítio do Sr. An-
apropriadas à faixa etária e adequadas ao ritmo de
tonio Venuti, junto à família, que participou ativa-
cada um, visaram estimular a reflexão sobre o tema
mente, onde conheceram diferentes animais e tam-
estudado.
bém a rotina da vida no campo. Os alunos foram
estimulados a prestar atenção no caminho, atentos
a coisas, pessoas, animais, paisagens e também ouvindo e identificando os sons característicos daquele percurso. De volta à escola, as frutas trazidas do
As turmas do 2º ano do ensino fundamental estudaram a relação existente entre o campo e a cidade e a importância que o agricultor exerce na vida
de cada um.
sítio e também morangos comprados no mercado
Em sala, iniciaram-se os trabalhos desse proje-
tornaram-se objeto de estudo. Depois de lavadas,
to com dois cartazes, em que, através de recortes e
preparou-se uma mesa e todos se deliciaram. Um
colagens, os alunos demonstraram a vivência e as
momento de descontração e aprendizado, pois os
características do campo e da cidade.
alunos descreveram o sabor, o cheiro, a textura e a
cor de cada fruta. As conclusões foram registradas
em cartazes. Realizaram-se também atividades de
leitura e escrita, utilizando-se o alfabeto móvel.
A horta e o pomar da escola também foram objeto
de estudo e pesquisa. Lá eles conheceram tipos de verduras, legumes e frutas e aprenderam a cultivar uma
horta sem agrotóxico, adubada com composto orgânico
da composteira feita pela turma da professora Márcia.
O projeto possibilitou a interdisciplinaridade. Em
Geografia, além de estudar sobre zona rural e urbana, os alunos fizeram pesquisa para selecionar frutas
de nossa região e frutas de outras regiões do Brasil.
Em Ciências, classificaram animais, estudando suas
características e ambiente onde vivem; e estudaram
Desenvolver este tema foi de grande relevância
para a turma, pois assim puderam aprender que as
pessoas residem no campo e na cidade e estão atreladas umas às outras, que dependerão umas das
outras para a sua sobrevivência, como também perceber as semelhanças e diferenças existentes entre
a zona rural e urbana.
Para melhor compreensão dos alunos, decidimos pela construção de maquetes da zona rural e
urbana. A metodologia utilizada foi baseada em
questionamentos aos alunos: Como é o local onde
você mora? De onde vêm os alimentos que você
consome? Para onde vai o lixo? Onde se produz
mais lixo e por quê?
as necessidades básicas das plantas. Em Artes, fize-
A maquete foi sendo estruturada e analisada pe-
ram dobraduras de animais (cisne, sapo e gato). Em
los alunos, os quais concluíram que na cidade exis-
Matemática, após a realização de uma pesquisa en-
tem mais pessoas, consequentemente, produz-se
tre os alunos sobre quem mora na zona rural e quem
mais lixo, por isso seria necessário colocar um lo-
reside na cidade, elaborou-se um gráfico com os da-
cal para separar o lixo. O leite e outros produtos da
dos obtidos, além de contagem e noções de conjunto.
zona rural são levados para a zona urbana. Ali são
Mensagem da APAE
23
vendidos e industrializados. Assim, seria preciso
colocar na maquete um local para vender as hortaliças e frutas: a cooperativa dos produtores rurais.
Esse trabalho incentivou a criatividade, participação, organização, observação, comparação, o
reconhecimento de formas geométricas e, principalmente, ver e sentir a importância desses dois
espaços: campo e cidade.
Para enfatizar o assunto assistimos aos filmes
“Max e os bichos” e “Cocoricó na fazenda”. O primeiro retrata bem o contraste existente entre o
campo e a cidade. Já no segundo, assistimos à parte
que evidencia a importância do esterco como adubo orgânico para produzir os alimentos.
ção sobre as principais diferenças entre os dois espaços e o personagem Torrãozinho (já conhecido
das crianças) foi convidado para acompanhá-las
nesse passeio.
A fim de conhecer melhor a zona rural, organizou-se um passeio à fazenda do Rola, onde os alunos encontraram muitas espécies de frutas. O que
despertou a curiosidade dos alunos foi saber onde
as pessoas da fazenda conseguem tantas frutas.
Foto: Apae de Alvinópolis
Foi então que o morador da fazenda e agricultor
Moisés explicou que eles estão sempre pegando sementes e fazendo mudas para espalhar pelo enorme pomar. Ele disse que é maravilhoso plantar uma
sementinha e acompanhar seu crescimento a cada
dia, até que aquela
Seguiu-se com a reunião
sementinha vira uma
de pais, em que assistiram
árvore, que depois dá
ao vídeo no YouTube “Zona
frutos. O agricultor
rural e zona urbana”, com a
ressaltou também a
música de fundo “Deus e eu
importância de estar
no sertão”, de Victor e Leo.
sempre plantando,
Nessa reunião, a fala dos pais
para sempre ter frufoi muito valiosa, pois todos
tas gostosas. Além
conhecem e já vivenciaram
disso, Moisés falou
o meio rural. Na oportunipara os alunos sobre
dade, lembrou-se também
a dificuldade que tem
dos brinquedos e das brinultimamente de enAlunos da Apae de Alvinópolis em visita à fazendo do Rola
cadeiras usados na infância
contrar pessoas para
no campo, incentivando a turma a reproduzir nas autrabalhar no campo, para plantar.
las subsequentes esses brinquedos, como pés de lata,
Curiosos atentos, os alunos investigaram, quescata-vento, boneca de sabugo de milho, boi de chuchu,
tionaram sobre os frutos desconhecidos, apalpacoleção de sementes de olho-de-boi e pedrinhas para o
ram, fizeram descobertas e construíram o conhecijogo de belisca.
mento. O aluno Alex concluiu que poderia ter na
Contudo os alunos, em sua simplicidade, desua casa a fruta que desejasse, desde que plantasse
monstraram bom conhecimento sobre a relação
e cuidasse com carinho.
existente entre o campo e a cidade. Após o término
De volta à escola, registraram as experiências, fizeda montagem da maquete, os alunos, orgulhosos
ram plantio e observações, concluindo que, quando as
de sua produção, apresentaram-na aos alunos da
sementes caem em solo bom e úmido, novas plantinhas
escola no momento da autodefensoria, relatando o
podem nascer. Por meio de pesquisa e em grupos, desque há de divergente entre uma e outra, concluindo
cobriram como é feita a disseminação das sementes.
que necessariamente uma depende da outra para
Num enfoque interdisciplinar, as turmas fizeo bem-estar de todos. Outras turmas iniciaram os
ram leituras, interpretações e produção de textos
trabalhos com a apresentação de uma dramatiza24
Mensagem da APAE
para organização do Jornal Espetacular, no qual
dificando, podendo ser entendido como coisas que
mensalmente divulgam notícias da escola e da co-
podem ser úteis e aproveitadas pelo homem.
munidade. Em Artes, as crianças pintaram Torrãozinho, usando uma tinta feita de barro, e ainda
confeccionaram obras de arte, usando as sementes
que trouxeram da fazenda. Em Geografia, além de
características que diferenciam a zona rural da urbana, estudaram-se os problemas específicos dos
dois ambientes.
Uma das turmas da Alfabetização de Jovens e
Adultos também trabalhou com a família o tema
“Integração campo-cidade”.
Trabalhar esse projeto com alunos comprometidos pela paralisia cerebral é dar-lhes oportunidade
de exercer a cidadania, integrando família, escola
e comunidade com participação ativa, buscando
melhoria na qualidade de vida através de hábitos e
atitudes essenciais.
Diante dos depoimentos dos pais em relação ao
lixo urbano, viu-se a necessidade de mostrar-lhes
como alguns objetos descartados podem ser transformados em material pedagógico, utilizado nas atividades diárias em sala de aula, estimulando também sua construção pela família para que possam
usá-los em casa.
Trabalhar a relação campo-cidade com o objetivo de conhecer e valorizar a cultura rural foi o objetivo da professora Liliane e seus alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Para enriquecimento, promoveu-se uma reunião
com os pais com o intuito de inteirá-los sobre o assunto “integração campo-cidade”, na expectativa de
enriquecer e ampliar o conhecimento. Sabe-se que,
apesar de muitos não terem o domínio da leitura e
As famílias desses alunos vêm da zona rural e
escrita, ou até mesmo não saberem ler e escrever,
conhecem o lado positivo e o negativo de morar
eles possuem muito conhecimento, sabedoria para
em uma cidade. Entre os problemas que enfrentam
compartilhar conosco. Foi um encontro maravilho-
está a questão do lixo. Diariamente muitos resíduos
so, os depoimentos foram além de nossas expecta-
são produzidos em nossos lares, ao longo de vários
tivas. Eles fizeram um paralelo entre o passado e a
anos, durante toda nossa vida.
atualidade, ressaltando que, apesar das dificuldades
Embora o lixo seja um problema público e global, pode-se receber uma ação privada e local. Para
isso, basta cada um tomar a iniciativa de fazer a
parte que lhe cabe, começando por sua casa.
Da forma como o mundo está organizado, o consumo é inevitável: alimentos, roupas, energia, etc.
É difícil produzir e se abastecer de tudo isso.
vivenciadas e do trabalho árduo, antigamente era
melhor. As famílias eram numerosas e alimentavam-se bem, alimentos esses que eram cultivados
pela própria família para o sustento e também para
possíveis vendas. Em um clima harmonioso, participativo, viajamos nas histórias contadas sobre um
passado bem próximo, sentindo-nos integrantes delas. Os presentes pais deram um show, uma excelen-
Nossas escolhas, nossas atitudes individuais têm
te aula, devido ao fato de o assunto retratado estar
muita importância para o ambiente. As posturas
intimamente ligado às suas vidas. De certo modo,
que são assumidas juntas, seja em nossa casa, na
fizeram e fazem parte de suas realidades detalhes
escola ou na comunidade, têm valor multiplicado,
como: moradia, transporte, vestimentas, brincadei-
pois formam uma rede que alcançará lugares mais
ras, entre outros.
amplos que a própria casa, escola ou comunidade.
Sabe-se que a música também faz parte da cultura
Um dos problemas das cidades atualmente é o
rural e urbana. Através dela o compositor expressa
aumento da produção do lixo e, consequentemente,
seus sentimentos, desejos e anseios. Nessa perspec-
seu armazenamento. Faz-se necessário conscienti-
tiva, desenvolvemos um trabalho com a família no
zar alunos e família. O conceito de lixo vem se mo-
intuito de fortalecer os laços fraternais entre alunos
Mensagem da APAE
25
e família. Os alunos ficaram responsáveis por fazer
uma pesquisa com os pais a respeito de alguma música que marcou suas vidas e relatar o motivo. Com
essa atividade, os alunos tiveram a oportunidade de
conhecer histórias sobre seus pais de quando eram
crianças e jovens.
Nesse clima gostoso, convidamos grupos musicais da zona rural e urbana para possíveis análises
de gêneros musicais. Para finalizar, decidimos fazer
uma homenagem às famílias, fizemos um passeio à
rádio Alvimonte, parceira da nossa escola, onde os
alunos ofereceram as músicas que fizeram parte da
história de suas vidas.
As turmas dos idosos investigaram a alimentação do campo e da cidade.
Na sociedade moderna, depois da revolução industrial, começou a haver toda uma modificação do
estilo de vida: as pessoas passaram a ficar menos
ativas e industrializou-se a alimentação, trazendo
um novo panorama de saúde. Hoje em dia, as pessoas morrem muito mais de doenças do coração e
de complicações decorrentes da obesidade do que
Na fazenda há uma horta, cultivada pela família,
com variedade de verdura e legumes. Tem também
um enorme pomar, com várias frutas, pois a família
relatou que sempre estão plantando novas frutas e
que não compram mudas (eles mesmos plantam as
sementes e depois replantam no pomar). Segundo
D. Ana, o café também é plantado, torrado e moído
na fazenda, para uso da família. Essa família aproveita bem tudo o que a terra produz, comprando o
mínimo de produtos industrializados. O sabão também é fabricado por D. Ana, que aproveita a gordura
e a cinza e faz o sabão da terra, que além de lavar as
vasilhas e roupas é bom para a pele, segundo ela.
Infelizmente, o Brasil está muito aberto para a cultura do alimento industrializado, do fast-food, e esquece a diversidade de frutas e vegetais que possui. Devemos resgatar o arroz com feijão, que é uma combinação
perfeita, em termos nutricionais, e que as pessoas estão
comendo cada vez menos. As pessoas precisam lembrar que os alimentos não precisam estar embalados e
prontos para o consumo.
Convidamos D. Ana para vir até a escola ensinar
algumas de suas receitas aos alunos e aos pais.
de infecções e pragas que matavam milhões antiga-
Os alunos adoraram e muitos pais ficaram emo-
mente. Sabendo disso, fomos até a fazenda do Rola,
cionados por comer um alimento que já comeram e
onde a família mantém hábitos alimentares saudá-
que há muito tempo não comiam. D. Ana deixou na
veis – alimenta-se do que produz.
escola mais algumas receitas que serão feitas pelos
Na fazenda, os alunos observaram uma planta-
alunos e levadas para casa.
ção de milho, conheceram o moinho d’água e todo
Outra turma da EJA desenvolveu um projeto so-
o processo para a fabricação de fubá. O Sr. Moisés,
bre geração de renda que foi de suma importância
agricultor, explicou todo o processo do fubá até che-
para os alunos, para a família e para a professora,
gar à cozinha, onde é usado para fazer angu, bolo,
pois foi o momento para parar, refletir e rever ati-
broa, cuscuz, etc. Disse que, quando o milho já está
tudes que às vezes não são ecologicamente corretas
mais velho e não tem boa qualidade, ele faz o fubá
e outras que podem ajudar no sustento da família.
para tratar dos porcos e das galinhas, aproveitando
São alunos que apresentam deficiência física,
tudo. E ainda fez questão de dizer aos alunos que
motora, intelectual e auditiva, mas nada os impede
quem mora no meio rural precisa ter a terra como
de serem pessoas felizes, conscientes dos seus di-
fonte do conhecimento.
reitos e deveres, enfim, cidadãos que sabem atuar
Já na cozinha da fazenda, D. Ana nos mostrou seu
na sociedade em que estão inseridos.
fogão a lenha, onde cozinha todos os dias. Ensinou a
Visitamos alguns supermercados e mercearias da
fazer um delicioso bolo de fubá, assado no forno de
nossa cidade para pesquisar produtos alimentícios
barro.
e outros que são produzidos e comercializados em
26
Mensagem da APAE
nossa cidade. A pesquisa de campo foi muito inte-
Durante o período de desenvolvimento do pro-
ressante, pois os alunos não sabiam que na nossa
jeto Semeando, foram intensificadas essas ativida-
cidade são produzidos tantos produtos. A fala do
des, enfatizando-se a relação campo-cidade.
nosso autodefensor Antônio chamou a atenção: “É
importante as pessoas plantarem, pois gera emprego para a cidade e a zona rural.”
A professora procurou estimular a observação de
ambientes reais e fenômenos simples, para que aspectos do conhecimento fossem cumpridos, incenti-
Foram elaboradas perguntas para serem feitas aos
vando a verbalização, de modo a que todos os alunos
donos de supermercados, mercearias e ao diretor da
falassem sobre suas observações, vivências, opiniões,
Cooperativa dos Produtores Rurais da nossa cidade.
conclusões de experimentos, relatórios e pesquisas.
Durante a elaboração das perguntas, verificou-se
As reuniões com as famílias foram muito produ-
que muitos alunos já compreenderam a importância
tivas e até emocionantes, pois as mães descreveram
da integração campo-cidade e a importância do agri-
com muito entusiasmo como era a vida na zona ru-
cultor e do plantio para a vida de todos nós.
ral. A roupa era lavada na bica e passada com o ferro
Fomos visitar a Fazenda Velha, com o objetivo de
vermos como é o processo de fabricação da rapadura
que é consumida e fabricada em nossa cidade e também vendida nas cidades vizinhas.
Os alunos demonstraram muito interesse e
curiosidade ao observarem todo o processo, desde
a moagem da cana até a rapadura ser embalada,
etiquetada e entregue ao comércio local.
Os temas natureza, preservação, conscientização
ambiental, exercício da cidadania e sustentabilidade sempre são temas trabalhados em nossa escola.
de brasa (e elas não tinham problema de coluna); as
quitandas eram assadas no forno a lenha; o arroz e o
café eram socados no pilão e usavam o moinho manual; os colchões eram feitos em casa usando a palha
de milho, que era desfiada bem fininha, as merendas
eram feitas com os produtos que cultivavam; o quintal era varrido com a vassoura de alecrim-do-campo, que deixava um perfume agradável; e as vasilhas
eram lavadas com bucha vegetal ou palha de milho.
Algumas mães ensinaram a fazer a vassoura
de folha, que a partir de agora será utilizada para
varrer a horta e outras áreas da escola. E os alunos
Dando sequência ao tema sustentabilidade, vi-
ensinaram as mães a fazer um excelente lacre com
sitamos a fazenda Tabuleiro, onde é produzida fa-
garrafa, para guardar os pacotes abertos. Aprovei-
rinha de mandioca. Esse trabalho oportunizou aos
tando o momento, ensinaram também a fazer um
alunos mais conhecimento sobre a integração co-
raspador de barro, para que nos dias de chuva lim-
mercial campo-cidade.
pem os pés e não sujem tanto a casa.
Todas as atividades propostas respeitaram o nível
Os alunos ficaram muito motivados com a con-
de aprendizagem dos alunos e foram adaptadas para
fecção do raspador de pé, pediram a colaboração
que todos eles tivessem uma aprendizagem significati-
de bares da cidade para juntar tampinhas e confec-
va. Houve uma grande troca de experiência: os alunos
cionaram vários raspadores para levar para casa.
tiveram a oportunidade de colocar em prática seus co-
Também os doaram a algumas pessoas e colocaram
nhecimentos prévios e de aprender com os colegas.
em vários pontos da escola.
O tema educação ambiental faz parte do currículo
O passeio realizado na fazenda da professora foi
da turma, que desenvolve durante todo o ano proje-
uma oportunidade para que os alunos vissem de
to de preparação para o trabalho: horta, jardinagem,
perto a vida diária de uma propriedade rural, como
cartonagens, construção de enfeites, arranjos e culi-
a ordenha das vacas, o tratamento dos animais e a
nária, reaproveitando material reciclado.
colheita dos ovos.
Mensagem da APAE
27
A aplicação desse projeto veio mostrar que, ao
para a realização dessas brincadeiras, solicitamos
produzir alimentos de boa qualidade, o produtor
aos alunos pesquisas sobre origem, maneiras dife-
garante a boa alimentação de sua família e contri-
rentes de brincar ou variações da música. Esse é um
bui para o desenvolvimento das comunidades de
forma ecologicamente correta.
Nas aulas de Educação Física, todas as turmas
experimentaram brincadeiras típicas do campo. A
iniciativa partiu da professora, que entendeu a necessidade de mostrar para as crianças uma maneira saudável de se divertir. “Não queremos que as
ótimo local para que o aluno tenha a oportunidade
de, junto a outros alunos, compartilhar, socializar,
negociar, definir e respeitar as regras. Dessa forma,
estarão se preparando para o mundo dos adultos,
aprendendo a lidar com perdas e ganhos, frustrações, alegrias e tristezas.
crianças queimem etapas de suas vidas, a infância
não é só computador e estudo, desejamos tardes de
entretenimento e diversão saudável, por isso estamos resgatando as brincadeiras do campo”, explicou a professora.
Alguns alunos, por morar no campo, já conheciam as brincadeiras e ajudaram a ensinar os colegas, os quais adoraram a experiência, pois muitos
nunca haviam brincado daquela forma. Assim, pesquisaram com os familiares algumas brincadeiras e
trouxeram para as aulas.
As brincadeiras visaram também ao desenvol-
Conclusão
É no dia a dia que a prática da educação ambiental
se faz mais necessária. São pequenos atos que dão início a grandes transformações, uma vez que o indivíduo
percebe com clareza a importância de hábitos e atitudes saudáveis tanto para si quanto para o meio. Esse
será um exemplo para que mais pessoas se tornem
ambientalistas, o que todos somos por natureza, pois
somos parte dela, porém, devido a inúmeros fatores,
esquecemos disso.
vimento de potencialidades físicas, socioafetivas e
O projeto resultou na maior compreensão de ques-
intelectuais do aluno, para que ele desenvolva au-
tões ambientais, num resgate das tradições regionais,
tonomia, senso crítico e criatividade.
na prática de valores humanos e sociais com a valori-
Os alunos menores brincaram de fazer bolinha
zação de pessoas.
de sabão com canudinho de folha de mamão. Alu-
Na escola, o interesse despertado nos alunos tem
nos maiores confeccionaram petecas para todos
motivado sua aprendizagem, influenciando suas pers-
brincarem. Outros alunos se encantaram pela belisca. Realizaram também brincadeiras de roda,
queimada, rouba bandeira, passar anel, amarelinha, bolinha de gude e pularam corda.
Os brinquedos e brincadeiras do campo proporcionam diversos benefícios às crianças, favorecen-
pectivas em querer investigar e pesquisar sobre a temática ambiental. A visita às fazendas favorece aos alunos reconhecer a importância do campo e das pessoas
que nele vivem e trabalham, para a sobrevivência dos
que moram na cidade.
do o desenvolvimento de várias áreas, tais como
As atividades desenvolvidas em prol da harmonia
esquema corporal, coordenação motora, laterali-
do homem com o meio ambiente sensibilizam e há o
dade, socialização, respeito às regras, raciocínio e
repasse de informações sobre o meio ambiente. Tra-
agilidade.
balhar as questões ambientais na Apae de Alvinópolis
É importante destacar também o papel da esco-
tornou-se nossa prática diária. Hoje não conseguimos
la, que tem resgatado antigas brincadeiras e canti-
mais separar essas questões das nossas atividades e
gas de roda. Além de proporcionarem um espaço
das diversas modalidades de ensino que trabalhamos.
28
Mensagem da APAE
Relatório de participação da
Fenapaes no Conade
Adinilson Marins dos Santos | Advogado e Coordenador do Programa de Autogestão e Autodefensoria
da Fenapaes e Conselheiro Titular no Conade
Foto: Fenapaes
Ao assumir a representação da Fenapaes no
que se refere ao meu apoio: perceber que eu preciso
Conade, senti logo o impacto, porque todos espede apoio para as viagens e para me ajudar nas coisas
ravam que o Dr. Eduardo, como presidente, assupessoais, além de outro apoio com caráter técnico
misse o cargo de conselheiro.
que a entidade me proporcioCom a minha chegada, uma
na. Porém, alguns não quipessoa desconhecida, com
seram concordar com isso,
graves problemas de fala,
alegando que eu tenho dois
naturalmente começou uma
apoios, quando, na maioria
desconfiança sobre minhas
dos casos, é disponibilizado
capacidades, até mesmo entre
apenas um para a pessoa com
as entidades que defendem as
deficiência – vale lembrar
mesmas causas, como a Pesque um segundo apoio não
talozzi, mas aos poucos congera nenhum tipo de custo ao
segui me firmar. Um fato basconselho, pois fica totalmente
tante interessante foi quando
a cargo da instituição. Diante
ousei disputar a vaga de coda necessidade e da resistênordenador da comissão de
cia por parte de alguns, fez-se
que participava. Foi quando,
um documento endereçado
novamente pela minha difiao senhor ministro da pasta,
Adinilson Marins dos Santos | Advogado e Coordenador do Proculdade de comunicação, al- grama de Autogestão e Autodefensoria da Fenapaes e Conselheiro
momento em que o Sr. Aletitular no Conade
gumas pessoas alegaram que
xandre Carvalho Barone e a
uma pessoa que não tem condições de apresentar o
Drª Isabel questionaram se eu estava consciente a
relatório da comissão não poderia ser coordenador
respeito do documento que foi enviado e, com a midela. Isso foi colocado em plenária, que se manifesnha afirmação, os dois ficaram espantados e manitou totalmente contrária a essa tese, pois, se fosse
festaram ter certeza de que eu não tinha ciência do
assim, uma pessoa com deficiência auditiva jamais
que estava fazendo.
poderia assumir tal posto. Desse modo, fiquei na
Hoje, apesar de todos os percalços e de muitas
coordenação da comissão durante um ano e meio.
vezes ter de brigar para ter direito a falar na pleSem dúvida, o fato que mais me marcou nessa tranária, tornei-me um conselheiro respeitado por tojetória foi o dia em que me chamaram para uma condos, até mesmo por quem comunga de ideias diverversa reservada o então presidente Alexandre Carvagentes da minha entidade, mas isso só foi possível
lho Barone e a Drª Isabel Maior. O teor da conversa
porque tive o apoio inquestionável da entidade da
foi motivado por uma provocação da Fenapaes no
qual sou representante.
Mensagem da APAE
29
Uma das discussões mais acirradas foi no tocante
bandeira da inclusão agora é tachado como o maior
à educação inclusiva, em que foi construída a ideia
opositor de tal processo, não respeitando a nossa
de que eu e a entidade que represento somos contra
história, pois não são obrigados a aceitar, mas de-
a inclusão. Mas não é isso. Nós somos totalmente a
veriam pelo menos respeitar a nossa história, que
favor e defendemos a inclusão. Aliás, uma das pri-
vem sendo construída há 54 anos. Atualmente falar
meiras vozes que se levantaram para falar sobre esse
em inclusão das pessoas com deficiência mental,
tema no Brasil foi a nossa. Eu pessoalmente sou fru-
hoje “intelectual”, é considerado utopia. Nós fala-
to de uma educação inclusiva. Somos contra, sim, a
mos porque temos a teoria e principalmente a prá-
forma como está sendo conduzido o processo e acre-
tica, que nos dá a autoridade para falar sobre tal
ditamos que em matéria de educação não existe uma
tema e exigir respeito daqueles que não concordam
verdade absoluta, o processo educacional é muito
com nossa postura.
diversificado, o nosso sistema educacional, embora
tenha melhorado muito, é falho até para as pessoas
que não têm deficiência intelectual.
Hoje sou consultado sobre a minha disponibilidade para representar o conselho em alguns eventos
ligados ao tema da deficiência intelectual. Fui desig-
Defendemos assim o direito de a pessoa e sua
nado pela presidente do Conade para representar o
família escolherem onde querem matricular o seu
conselho em Paracatu-MG em um evento que discu-
filho. Engraçado é que quem sempre levantou a
tiu a empregabilidade das pessoas com deficiência.
30
Mensagem da APAE
Relatório de participação
da Fenapaes no Conanda
Aracélia Lucia Costa | Diretora da Apae de São Paulo e Conselheira Titular no Conanda
Foto: Apae de São Paulo
Conselhos de
Políticas Públicas,
uma oportunidade
legítima de participação
Uma das formas de
incidência política encontradas pelas organizações
da sociedade civil, notadamente no processo de
construção de políticas
Aracélia Lucia Costa - Diretora da
públicas, consiste na parApae de São Paulo e Conselheira
Titular no Conanda
ticipação em Conselhos de
Direitos ou de Políticas Públicas.
Desde a redemocratização do Brasil em 1988
– com a promulgação da Constituição Cidadã –, o
poder público tem instituído uma série de espaços
públicos de participação social, nas esferas federal,
estadual e municipal, cada qual com sua missão e
temática específica. Entre esses espaços estão os
Conselhos de Direito ou de Políticas Públicas.
a Fenapaes, concorrendo à eleição desse conselho
para sua gestão 2011-2012, garantiu a manutenção
da representação, ocupando uma das vagas de titular dos representantes da sociedade civil.
Previsto na Lei nº 8.069, de 1990 (Estatuto
da Criança e do Adolescente) e criado pela Lei nº
8.242, de 1991, o Conanda é um conselho paritário e deliberativo, composto por representantes do
Poder Executivo Federal e de entidades não governamentais de atendimento aos direitos da criança e
do adolescente em âmbito nacional.
Suas competências são: a) elaborar as normas
gerais da Política Nacional de Atendimento dos Direitos da Criança e do Adolescente, fiscalizando as
ações de execução, observadas as linhas de ação e
as diretrizes estabelecidas no Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA); b) zelar pela aplicação da
referida política; c) dar apoio aos Conselhos Estaduais e Municipais dos Direitos da Criança e do
Adolescente, aos órgãos estaduais, municipais e
às entidades não governamentais para tornar efe-
Na maioria das vezes, esses conselhos apresentam uma composição paritária, reunindo na mesma mesa de discussões agentes do poder público
e representantes da sociedade civil. E é a partir da
atuação conjunta desses atores que são balizados
muitos programas e políticas públicas a serem implementadas pelos governos.
tivos os princípios, as diretrizes e os direitos esta-
Nesse cenário, a Federação Nacional das Apaes
(Fenapaes) tem atuado junto ao Conselho Nacional
dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda),
pautando-o sobre as vulnerabilidades sociais decorrentes da deficiência intelectual. Mais recentemente
a promoção de campanhas educativas sobre os di-
Mensagem da APAE
belecidos no ECA; d) avaliar a política estadual e
municipal e a atuação dos conselhos mencionados;
e) acompanhar o reordenamento institucional,
propondo, sempre que necessário, modificações
nas estruturas públicas e privadas destinadas ao
atendimento da criança e do adolescente; f) apoiar
reitos da criança e do adolescente, com a indicação
das medidas a serem adotadas nos casos de atentados ou violação a essas pessoas; g) acompanhar
a elaboração e a execução da proposta orçamentá31
ria da União, indicando modificações necessárias à
reitos das Crianças e Adolescentes, que organiza
consecução da política formulada para a promoção
as prioridades e ações da área, estabelecendo me-
dos direitos da criança e do adolescente; h) gerir
tas claras para que possamos mudar a história das
o Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente
pessoas que compõem esse público. Construído de
e fixar os critérios para sua utilização, nos termos
forma participativa, o referido plano contou com a
do art. 260 do ECA; e i) elaborar o seu regimento
contribuição de muitas organizações sociais e pes-
interno, aprovando-o pelo prazo de no mínimo dois
soas que trabalham em favor da defesa dos direitos
terços de seus membros, nele definindo a forma de
indicação do seu presidente.
Para a Fenapaes, estar nesse conselho é o reconhecimento do trabalho de anos de um dos maiores movimentos em sua área de atuação, que busca,
diante de seu compromisso com a inclusão social
de pessoas com deficiência, proporcionar a criação
de uma sociedade que atenda de forma acessível e
digna às características desse público, que também
compreende crianças e adolescentes. Participar de
de crianças e dos adolescentes, tendo inclusive sido
submetido a processo de consulta pública.
Desde o início da construção do plano, a defesa
de direitos e a inclusão social das pessoas com deficiência – norteadas pela Convenção da ONU sobre
os Direitos das Pessoas com Deficiência, da qual o
Brasil é signatário – foram diretrizes importantes
defendidas pela Fenapaes. Vale ressaltar que, com
a entrada em vigor de referida convenção, as políti-
uma instância deliberativa sobre a política para
cas públicas, pelo menos na sua concepção teórica,
crianças e adolescentes com a possibilidade de di-
estão sendo repensadas de modo a garantir o direi-
recionar os olhares também para as necessidades
to de acesso aos serviços e programas em igualdade
específicas do público com deficiência é um primei-
de condições para pessoas com deficiência. E, como
ro grande passo na construção de uma sociedade
não poderia deixar de ser, as políticas para crian-
inclusiva.
ças e adolescentes também devem direcionar seus
Em 2010, uma das principais atividades do Co-
São Paulo, 17 de dezembro de 2010.
Foto: Apae de São Paulo
nanda foi a construção do Plano Decenal dos Di-
olhares àqueles que vivenciam a deficiência.
32
Mensagem da APAE
A Convenção da ONU sobre
os Direitos das Pessoas com
Deficiência – Uma Análise Crítica
do Artigo 24
Sandra Marinho Costa | Secretária-Executiva da Fenapaes
Convenção é (no dicionário Aurélio):
1. Ajuste, acordo ou determinação sobre um assunto, fato, etc.; convênio, pacto..
2. Aquilo que só tem valor, sentido ou realidade
mediante acordo recíproco ou explicação prévia.
3. Acordo ou pacto internacional, particularmenteparadecisãodumassuntoespecífico.
venção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, foi um marco para os movimentos sociais organizados para pessoas com deficiência. Isso
significa que estamos diante de uma determinação
constitucional que exige vontade política para implementar os direitos específicos ali inseridos.
Até a publicação do decreto, foram muitos os
esforços despendidos para se chegar ao consenso
No direito internacional:
Convenção internacional pode ser considerada
uma espécie de tratado e refere-se, em geral, ao
possível sobre os temas de mais relevância, como
os direitos civis e políticos, econômicos, sociais e
culturais dos cidadãos com deficiência.
acordo de vontades, celebrado por escrito entre
Contudo, na divulgação desse importante ins-
Estados, que tem por objetivo estabelecer normas
trumento de garantia de direitos das pessoas com
de conduta gerais e abstratas, sobre determinada
deficiência, tanto no âmbito interno como na esfera
matéria, estando regida pelo direito internacio-
do sistema internacional, tem-se dado especial ên-
nal, porém, só obriga os Estados que se compro-
fase, no Brasil, à redação do art. 24, que trata do
meteram por ela através de suas assinaturas e dos
direito à educação, cujo enunciado abrangente e
procedimentos impostos nas suas respectivas or-
adiante transcrito traduz o anseio de todo cidadão
dens jurídicas nacionais.
(LIMONGI, R., 2003)
Não há dúvidas de que a publicação do Decreto
nº 6.949, de 25 de agosto de 2009 – que promul-
ao reconhecer o direito das pessoas com deficiência
a uma educação sem qualquer discriminação e com
base na igualdade de oportunidades. Para a efetivação desse direito faz-se imperativo que a essas pes-
ga a Convenção Internacional sobre os Direitos das
soas seja assegurado um sistema educacional inclu-
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultati-
sivo em todos os níveis, bem como o aprendizado
vo, assinados em Nova Iorque, em 30 de março de
ao longo da vida, objetivando o desenvolvimento
2007 –, que conferiu status constitucional à Con-
pleno do potencial humano.
Mensagem da APAE
33
Artigo 24 – Educação
“1. Os Estados-Partes reconhecem o direito das
pessoas com deficiência à educação. Para realizar
esse direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os Estados-Partes deverão
assegurar um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao longo de
toda a vida, com os seguintes objetivos:
a. O pleno desenvolvimento do potencial humano e do senso de dignidade e autoestima,
além do fortalecimento do respeito pelos
direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela diversidade humana;
b. O desenvolvimento máximo possível da personalidade e dos talentos e criatividade das
pessoas com deficiência, assim como de suas
habilidades físicas e intelectuais;
c. A participação efetiva das pessoas com deficiência em uma sociedade livre.”
vos retratados por todas as pesquisas de avaliação
da qualidade da educação até hoje realizadas e em
flagrante ofensa a um dos princípios gerais da Convenção – o respeito pela dignidade inerente, independência da pessoa, inclusive a liberdade de fazer
as próprias escolhas, e autonomia individual.
O texto proposto na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC/Seesp, 2008, grifo nosso) tenta sugerir o resgate do sentido da Educação Especial
expresso na Constituição Federal de 1988, que
interpreta essa modalidade não substitutiva da
escolarização comum e define a oferta do atendimento educacional especializado. Na verdade,
a Constituição oferece indicações sobre o tema,
mas não o interpreta. Ao invés disso, está sendo
equivocadamente interpretado. O texto constitucional não menciona nem atribui sentido à educação especial. Há 21 anos, quando foi promulgada,
a educação especial tinha um sentido estabelecido na Portaria nº 69, de 28 de agosto de 1986, do
Centro Nacional de Educação Especial (Cenesp/
MEC), art. 1º, grifo nosso, verbis:
Dessa forma, compete aos países signatários da
Convenção da ONU assegurar o acesso e a permanência das pessoas com deficiência em um sistema educacional inclusivo, com ajustes razoáveis de acordo
com as necessidades individuais, com vistas a facilitar
sua efetiva educação e em ambientes que favoreçam
ao máximo seu desenvolvimento acadêmico e social.
Nesse sentido, a educação de qualidade poderá se dar
na escola comum e convencional ou em outros ambientes mais bem aparelhados para atender às especificidades de cada aluno com deficiência, como os
espaços históricos das escolas especiais.
Infelizmente não são esses os sinais que podemos perceber, já transcorrido mais de um ano da
promulgação do decreto que conferiu à Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência status de norma constitucional, notadamente quanto
à interpretação restritiva que se dá ao art. 24, limitando a oportunidade de oferta da educação às
pessoas com deficiência em outros ambientes que
não a sala de aula de uma escola comum, independentemente dos resultados extremamente negati34
“A Educação especial é parte integrante da Educação e visa proporcionar, através de atendimento
educacional especializado, o desenvolvimento pleno
das potencialidades do educando com necessidades
especiais, como fator de autorrealização, qualificação
para o trabalho e integração social.”
Por sua vez, a Portaria Cenesp/MEC nº 69/1986
assim define o atendimento educacional especializado:
“O atendimento educacional especializado consiste na utilização de métodos, técnicas, recursos e procedimentos didáticos desenvolvidos nas diferentes
modalidades de atendimento por pessoal devidamente qualificado.” (art. 6º, grifo nosso).
Assim considerando, o art. 208 da Constituição
faz referência ao atendimento educacional especializado, mas não estabelece sua redefinição nem tipos de oferta, a não ser seu lócus:
“Art. 208. O dever do Estado com a educação será
efetivado mediante a garantia de: (...) III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.”
Mensagem da APAE
Ademais, fica evidenciada, no texto constitucional,
a existência de outros espaços de oferta educacional,
permitindo inferir que esses espaços são aqueles indicados na Portaria MEC/Cenesp nº 69/1986, documento orientador da área, no art. 7º, quando estabelece como modalidades de atendimento educacional:
“(a) classe comum; (b) classe comum com apoio da
sala de recursos; (c) classe comum com apoio de
professor itinerante; (d) classe especial; (e) escola
especial; (f) centro de educação precoce; (g) serviço
de atendimento psicopedagógico; (h) oficina pedagógica; (i) escola-empresa”. Verifica-se a inconveniência de atribuir à Constituição – ignorando o contexto
histórico de sua promulgação – conceitos, sentidos e
significados construídos na atualidade, para induzir
resultados ou concretizar proposições à educação especial e inclusiva nos dias de hoje.
Assim, reconhecendo ainda a diversidade das
pessoas com deficiência e a importância de sua autonomia e independência individuais, a leitura e
o entendimento do art. 24 passa necessariamente
pela consideração inclusive da liberdade para fazer
as próprias escolhas.
Da mesma forma, a defesa intransigente balizada
no discurso ideológico da inclusão radical para todos
ignora dados concretos e estarrecedores demonstrados na pesquisa realizada pela Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (Fipe) e a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) sobre preconceito e
discriminação no ambiente escolar, por solicitação
do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e da Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade,
ambos órgãos do Ministério da Educação. Os resultados foram divulgados no país no dia 17 de junho
de 2009 pelo coordenador do trabalho, José Afonso
Mazzon, professor da FEA/USP; e revelaram a forte
presença de preconceito e discriminação entre estudantes, pais, professores, diretores e funcionários
das escolas brasileiras, principalmente em relação às
pessoas com deficiência, com destaque para a deficiência intelectual. Focalizando as pessoas com necessidades especiais, os índices demonstraram que
96,5% são alvo de preconceito. Desse grupo, aquelas
identificadas com deficiência intelectual são as que
sofrem mais preconceito, representando 98,9% das
pessoas entrevistadas, que preferem ter, em relação
a elas, algum nível de distância social, seguido pelos
deficientes físicos (96,2%).
Por outro lado não se podem negar alguns avanços
Mensagem da APAE
De igual modo, também está assegurado no preâmbulo da convenção que as pessoas com deficiência
devem ter a oportunidade de participar ativamente
das decisões relativas a programas e políticas, inclusive as que lhes dizem respeito diretamente.
É o caso de se refletir se as pessoas com deficiência, respeitada ainda a diversidade entre elas, participaram ativamente da concepção e elaboração do
texto da convenção e também das discussões que
deveriam preceder a sua aprovação e promulgação
pelo Congresso brasileiro.
pós-convenção no Brasil, que merecem ser destacados:
a. Aprovação da convenção com status de emenda constitucional.
b. Transformação da Coordenadoria Nacional
para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde) em Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
A alteração do status institucional pressupõe
mais autonomia do órgão.
c. Reconhecimento pelos Estados-Partes dos
esforços do Brasil para avançar na implementação da convenção, fato que coloca o nosso
país em posição de vanguarda em relação aos
países do eixo Sul.
Mais:
• Em setembro de 2010 aconteceu, em Nova
Iorque, a III Conferência da ONU sobre
Deficiência.
• Participaram os Estados que ratificaram a
convenção.
• Número de Estados-Partes, até setembro:
146 países subscreveram a convenção e, desses, 91 já a ratificaram.
35
O Brasil apresentou as políticas desenvolvidas pelo
governo, ocasião em que os Estados participantes reconheceram a posição de destaque do nosso país.
Dessa forma, no campo da política pública da
educação, a expectativa é que se consiga executar
a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva, partindo da premissa de que é imperativo defender não só a educação
inclusiva, mas também a escola inclusiva e uma
vida inclusiva para todos, observando os aspectos
que envolvem a pessoa com deficiência intelectual
e múltipla e a sua família, com um compromisso
ético capaz de possibilitar amplo debate que envolva as instituições educacionais públicas e privadas,
sem fins lucrativos, seus dirigentes e a população
relacionada à pessoa com deficiência intelectual
(pais, estudantes, professores, demais profissionais, autoridades de defesa e garantia de direitos).
Isso deve acontecer a partir do entendimento de
que é necessário avançar para a construção de um
sistema educacional inclusivo, que contemple o
fortalecimento das escolas comuns e a permanência das escolas especiais, de forma a assegurar a
possibilidade da existência da escola especial como
uma escola extraordinária, inserida e respeitada no
sistema regular de ensino, escola essa que proporcione, de fato, o acolhimento à diversidade e que
também contribua fortemente para a promoção da
igualdade de oportunidade das pessoas com deficiência na busca por colocação no mundo do trabalho, inclusive assegurando à pessoa com deficiência
intelectual programas de aprendizagem para o seu
desenvolvimento humano, após a escolaridade.
Brasília, 6 de janeiro de 2011.
Confira na íntegra
Artigo 24 - Educação
1. Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas
com deficiência à educação. Para efetivar esse direito sem
discriminação e com base na igualdade de oportunidades,
os Estados Partes assegurarão sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao longo de
toda a vida, com os seguintes objetivos:
a) O pleno desenvolvimento do potencial humano e do
senso de dignidade e auto-estima além do fortalecimento
do respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela diversidade humana;
36
b) O máximo desenvolvimento possível da personalidade e dos talentos e da criatividade das pessoas com deficiência, assim como de suas habilidades físicas e intelectuais;
c) A participação efetiva das pessoas com deficiência em
uma sociedade livre.
2. Para a realização desse direito, os Estados Partes assegurarão que:
a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do
sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que
as crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino
primário gratuito e compulsório ou do ensino secundário,
sob alegação de deficiência;
b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino primário inclusivo, de qualidade e gratuito, e ao ensino
secundário, em igualdade de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem;
c) Adaptações razoáveis de acordo com as necessidades
individuais sejam providenciadas;
d) As pessoas com deficiência recebam o apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a
facilitar sua efetiva educação;
e) Medidas de apoio individualizadas e efetivas sejam
adotadas em ambientes que maximizem o desenvolvimento
acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena.
3. Os Estados Partes assegurarão às pessoas com deficiência a possibilidade de adquirir as competências práticas e
sociais necessárias de modo a facilitar às pessoas com deficiência sua plena e igual participação no sistema de ensino
e na vida em comunidade. Para tanto, os Estados Partes tomarão medidas apropriadas, incluindo:
a) Facilitação do aprendizado do braille, escrita alternativa, modos, meios e formatos de comunicação aumentativa e alternativa, e habilidades de orientação e mobilidade,
além de facilitação do apoio e aconselhamento de pares;
b) Facilitação do aprendizado da língua de sinais e promoção da identidade lingüística da comunidade surda;
c) Garantia de que a educação de pessoas, em particular crianças cegas, surdocegas e surdas, seja ministrada nas
línguas e nos modos e meios de comunicação mais adequados ao indivíduo e em ambientes que favoreçam ao máximo
seu desenvolvimento acadêmico e social:
4. A fim de contribuir para o exercício desse direito, os
Estados Partes tomarão medidas apropriadas para empregar professores, inclusive professores com deficiência, habilitados para o ensino da língua de sinais e/ou do braille, e
para capacitar profissionais e equipes atuantes em todos os
níveis de ensino. Essa capacitação incorporará a conscientização da deficiência e a utilização de modos, meios e formatos apropriados de comunicação aumentativa e alternativa,
e técnicas e materiais pedagógicos, como apoios para pessoas com deficiência.
5. Os Estados Partes assegurarão que as pessoas com
deficiência possam ter acesso ao ensino superior em geral,
treinamento profissional de acordo com sua vocação, educação para adultos e formação continuada, sem discriminação e em igualdade de condições. Para tanto, os Estados
Partes assegurarão a provisão de adaptações razoáveis para
pessoas com deficiência.
Mensagem da APAE
Trabalhos Científicos
A pessoa com deficiência
ensinando os caminhos
para a escola inclusiva
O “outro” é um termo usado para designar aquele
que é diferente de si, considerando que podemos tratar
os seres humanos em âmbito de semelhança, incorporando como características para critério de semelhança capacidades, determinações físicas ou psicológicas,
concepções políticas, enfim: tudo aquilo que é identificado como ponto comum entre duas pessoas. Dessa
maneira, até os semelhante são diferentes. A palavra
“diversidade” tem seu sentido na multiplicidade de diferenças que possam ser reconhecidas, então diverso
é aquilo que é múltiplo de diferenças. A humanidade,
até na própria forma de compreensão de humanidade, é diversa. Por mais que se executem padrões ou
tentativas de favorecimento de uns em detrimento de
outros, dentro do Estado, as pessoas organizam-se em
grupos com pessoas que se assemelham em características que são comuns àqueles com quem estão se relacionando. O padrão de normalidade existe levando-se
em consideração as semelhanças mais comuns entre
os indivíduos. Não é uma maneira justa identificar
como vigorantes estereótipos de normalidade vigentes de maneira universal, pois os grupos humanos são
muito diversos e cada um tem seus padrões culturais,
noções éticas, morais e outras séries de juízos que moldam uma sociedade, que servem como modelo para
suas comunidades específicas. Sendo assim, uma visão
bem saudável e politicamente real disso é pensar a sociedade nos âmbitos das diversidades e da assimilação,
de reconhecimento e adaptação dessas diversidades;
e não como já se fundou e se funda, em muitas defesas, com perspectivas de uma sociedade segregadora,
apontando como culpada a diversidade de grupos sociais organizados.
Mensagem da APAE
Blaiser Pascal afirmou que o humano é
carente em suas emoções e sentimentos, que
são parte fundamental
para a qualidade de vida
humana. Essa afirmativa sustenta-se quando
conseguimos identificar
os grupos sociais mais
diversos, desde comunidades de amigos com
interesses comuns na
Maria Amélia Vampré Xavier - Diretora
internet a partidos po- de Assuntos Internacionais da Fenapaes
líticos e movimentos de lutas sociais, motivados pela
carência de apoios pela necessidade de sentir-se incluídos em algum meio da nossa sociedade. Em um arquétipo natural podemos demonstrar também que os semelhantes se agrupam para garantir a sobrevivência e
o bem-estar do grupo, visando a esse bem-estar fundamental para a qualidade de vida individual. A exclusão
ocorre quando alguém não está bem adaptado ao seu
meio de convívio e acaba sendo deixado de lado, ficando despercebido e dessa forma não conseguindo amenizar suas carências emocionais, sentimentais e profissionais, deixando de conquistar sua autonomia e não se
integrando ao meio, mas sim à margem dele. Os seres
humanos são ligados por sentimentos que podem ser
os mais diversos possíveis: raiva, amor, apatia. Assim
é possível pensar a importância de as pessoas terem a
possibilidade de viver de maneira mais autônoma em
ambiente que verdadeiramente as acolha, sentindo-se
assim estimuladas e à vontade para se arriscar, a partir
da oportunidade de experimentar realidades diversas.
Verdadeiramente incluídas, partilharão as mesmas ati37
Foto: Federação Nacional das Apaes
Erivaldo Fernandes Neto | Coordenador Técnico-Pedagógico da Fenapaes
vidades em nível de igualdade, podendo socializar-se
com aqueles que congregam as mesmas necessidades,
tendo muito mais que um cooperativismo ou um tipo
de ajuda humanitária. Educar a pessoa com deficiência
para uma socialização de fato é prepará-la para saber
se portar diante das diversidades sociais e assumir o
papel de protagonista de sua própria vida. É preciso
esse espaço de socialização, espaço adequado para pessoas que precisam de adequação. A vida do humano no
mundo implica luta pela sobrevivência e socialização,
os quais implicam processos cruéis de adaptação por
que cada um tem de passar para se formar como ser
humano. O que podemos fazer para amenizar esse sofrimento é educar essas pessoas de modo a demonstrar
os espaços de luta por direitos, ajudando a criar consciências transformadoras da realidade vigente.
É fato que, desde que foi criada pela comunidade
civil, a Apae atende a demanda enorme de pessoas com
deficiência intelectual, prestando serviços gratuitos,
nas áreas de educação, formação profissional e saúde.
É possível ainda apontar uma série de programas implantados nas Apaes em todo o Brasil, cada um com
sucesso em uma, duas e até mais áreas de aplicação em
sua região. Podemos citar como exemplo de sucesso
o Programa de Envelhecimento Saudável, que busca
prestar assistência para as pessoas com deficiência que
chegam à idade avançada. Muitas pessoas que sofrem
com envelhecimento precoce contam com acompanhamento e assistência. A preocupação com a saúde da
pessoa com deficiência é respeitada em todo o mundo
como um grande expoente dessa luta, sendo ramo de
serviço social prestado pela Apae há 56 anos no Brasil,
bem como festivais de arte, competições esportivas e
capacitações nessas atividades, antes mesmo da existência das Paraolimpíadas, criando ainda espaços de
debates para ouvir essas pessoas e poder pautar a luta
pelos seus anseios.
A luta pelo espaço da pessoa com deficiência
intelectual por intermédio das Apaes foi, desde o
início, muito bem estruturada, contando com profissionais capacitados com formação especializada
na área de atuação, fazendo a diferença nas comunidades de todas as regiões do Brasil, prestando
assistência e serviço para essa população, conse38
guindo oferecer um preparo para a vida, cuidando
da pessoa com deficiência durante todas as fases de
sua existência e promovendo assistência necessária
para o melhor bem-estar dessas pessoas.
A partir das perspectivas de pensadores como John
Locke e David Hume, que afirmam que o ser humano
se desenvolve em seu meio de convivência, podemos
afirmar que o cooperativismo que a pessoa com deficiência pode desenvolver em nível de experiência nas
escolas inclusivas do governo é uma assistência interessante, porém a escola tradicional pode se tornar um
ambiente de exclusão e traumas para a pessoa com deficiência intelectual, pois, ao contrário dos demais tipos
de deficiência, como a cegueira, a física e a surdez, que
contam com aparelhos de apoio para aprendizagem,
auxiliando a assimilação mais proveitosa dos conteúdos, o deficiente intelectual necessita de mais. Assim,
políticas de apoio pedagógico diferenciado também não
representam de forma total a solução para uma educação inclusiva nesse caso, pois a forma de apreender de
todas as pessoas é a mesma no que diz respeito a processos físicos que levam à aprendizagem e quando esses processos cognitivos são comprometidos por algum
motivo, ainda não é através de aparelhos de apoio que
a pessoa terá suprida suas necessidades provenientes
desse comprometimento. Dessa maneira, as políticas de
apoio pedagógico conseguem apenas dar suporte para
a aprendizagem de alguns conteúdos, não conseguindo
um aproveitamento em nível de igualdade com os demais alunos. A média mundial de progresso escolar das
pessoas com deficiência intelectual média e grave é até a
2ª série do ensino fundamental. Então a escola inclusiva
deveria assumir um papel de complemento, sem excluir
a escola especial, que garante uma formação para a vida
baseada na pesquisa profunda das necessidades da pessoa com deficiência e com vasta experiência e bons resultados nessas áreas. É importante que as pessoas com
deficiência convivam com outras pessoas que têm necessidades comuns às suas, no sentido de se unir para se
fortalecer, assim como toda grande luta por direitos nas
grandes sociedades do mundo. Nesse sentido, a Apae é
esse lugar de fortalecimento da pessoa com deficiência,
é o lugar onde ela pode se socializar com as pessoas que
têm necessidades bem próximas às suas, assim então
Mensagem da APAE
contribuindo para o fortalecimento da luta por melhores direitos e condições da pessoa com deficiência.
O mundo contemporâneo mostra-se muito imediatista, dependendo de resultados rápidos e projetos que se mostrem promissores tanto na ideia
como na prática. Entretanto, é possível perceber
que a coisa é mais importante que a ideia, pois de
nada adianta a ideia se não há meios para que ela
seja desenvolvida na prática. Sendo assim, a escola
inclusiva desponta como uma ideia revolucionária
e com uma perspectiva favorável para as pessoas
com deficiência, mas não sozinha, pois, por mais
adaptada que a escola seja e mesmo que a promessa de capacitação da rede de professores das escolas
públicas seja cumprida, sem atendimento especializado de educação e processo contínuo de inclusão,
abordando todas as fases da vida dessas pessoas e
as diferentes carências que elas têm nos diferentes
períodos de sua vida, é impossível cumprir os objetivos da educação inclusiva. Como prova disso, os
países que são referência no processo educacional
no mundo contam com escolas especiais. O nome
da Apae ecoa de uma maneira bem forte no cenário internacional como um expoente das conquistas
na parte de direitos e inclusão da pessoa com deficiência, nos campos de saúde, educação, esporte,
atividades artísticas, incentivando sua autonomia.
Isso fica muito claro ao listarmos os prêmios internacionais recebidos pelas Apaes, como o mais recente recebido por Maria Amélia Vampré Xavier,
diretora de Assuntos Internacionais da Fenapaes,
que foi homenageada no 15º Congresso Mundial da
Organização Mundial de Famílias – Inclusion International, em Berlim, Alemanha, pelo reconhecimento do trabalho feito pelas Apaes no Brasil.
A proposta pedagógica implantada nas Apaes para
pessoa com deficiência é uma educação continuada
para a vida. Constitui o acompanhamento da pessoa
com deficiência em todos os períodos da sua vida, pautando sua educação e tendo como principal objetivo a
autogestão e autodefensoria, sendo exercidas em todos
os âmbitos de suas vidas. Apoia-se no modelo social de
diagnóstico da pessoa com deficiência que tem como
fundamento o aprimoramento das habilidades do indivíduo durante toda sua existência, o qual garante
Mensagem da APAE
qualidade de vida, cria espaços para inclusões de novas propostas visando sempre a um futuro mais rico de
perspectivas, de crescimento profissional e intelectual
no âmbito de suas limitações, preza sempre pela autonomia e participação ativa do sujeito em seu meio de
convívio social, busca instruí-lo sobre os meios de convívio para que possa usar dele para somar experiências
de aprendizado para si que venham contribuir para sua
construção como ser humano.
Como processo político-pedagógico, podem ser
somados aos meios de locomoção, garantindo a
acessibilidade da pessoa com deficiência para chegar até a escola, equipamentos de apoio ao processo pedagógico. Dessa maneira, pode-se assessorar
as necessidades, a assistência e conscientização do
papel da família no processo da educação especial,
formação especializada dos profissionais da educação e reciclagem contínua nos moldes de educação,
baseada nas novas propostas que surgem no mundo.
Em 2006, a Organização dos Estados Americanos (OEA) declarou o período de 2006 a 2016 como
a “Década das Américas: pelos direitos e pela dignidade das pessoas com deficiência” e escolheu o lema
“Igualdade, dignidade e participação” para a ocasião.
A Declaração da OEA propõe-se a conquistar o
reconhecimento e o pleno exercício dos direitos e
da dignidade da pessoa com deficiência. Isso implica seu direito de participar plenamente da vida
econômica, social, cultural, política e no desenvolvimento de uma sociedade sem discriminação. Assim a escola deve servir ao aluno com deficiência
como grande motivadora, criando oportunidades e
formas para que o aluno consiga formar princípios
ideais e tenha voz ativa sobre sua causa. Só teremos
uma escola inclusiva se ela estiver aberta a criar
espaço para os autodefensores, possibilitando um
ambiente de discussão, não de uma maneira protegida ou fantasiosa tentando convencer esses alunos
de que eles têm capacidades iguais e que eles podem aprender da mesma maneira que os demais,
mas tentando demonstrar-lhes que, dentro das
suas limitações, podem ser desenvolvidas habilidades de mais destaque, que podem garantir sua autonomia profissional e até mesmo como estudante.
39
Centro de convivência na Apae
de Itaúna: a pessoa adulta com
deficiência e apontamentos sobre
o processo de envelhecimento1
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Resumo
1
Trabalho aprovado pela Comissão Científica da Federação das Apaes do Estado de Minas Gerais para participação na mesa-redonda Envelhecimento, no XI Congresso
da Rede Mineira das Apaes e Fórum Mineiro da Autogestão, Autodefesa e Família da Pessoa com Deficiência Intelectual, de 12 a 15 de agosto de 2010, em Uberlândia.
40
Mensagem da APAE
Introdução
O movimento apaeano encontra-se com fortes
vivências e reflexões frente à deficiência e seus desdobramentos, tais como a fase adulta e o processo
de envelhecimento. Traz também considerações
acerca do tempo que essas pessoas frequentam as
Apaes, as perspectivas de futuro do próprio movimento, num prisma interno, enquanto segmentos e
serviços especializados, e certamente com relação
às perspectivas dos próprios familiares frente à tomada questão.
Sabemos, a partir de recortes históricos, que as
pessoas com deficiência não tinham perspectiva
“longa” acerca de futuro, devido a fatores multicausais, não ocupando lugar nos discursos das ciências
médicas e humanas, nem nos discursos políticos,
sociais e educacionais.
Os períodos históricos como a exclusão, a segregação, a integração e a inclusão vêm apontar recortes em torno da questão das perspectivas, das possibilidades e das oportunidades frente às pessoas
adultas com deficiência, principalmente nos vieses
da saúde e educação.
Percebemos a necessidade de uma pesquisa
permanente que reflita sobre a pessoa com deficiência em sua idade adulta e suas possibilidades de
envelhecimento, uma vez que nos deparamos com
pessoas que estão em nosso ambiente profissional,
desde o seu nascimento, bem como outros que para
nós chegam adultos, ou até mesmo idosos.
Essa questão possibilitou-nos investir na criação do Centro de Convivência, (re)pensando nossos
instrumentos de trabalho, atentos à relação dessa
pessoa frente ao tempo e ao corpo, mediante sua
maneira de fazer, trabalhar, produzir, aprender,
conhecer e tantos outros modos de existir.
Tal criação configurou-se em ação inovadora,
trazendo-nos indagações importantes. As habilidades dessas pessoas perdem-se, ou precisamos de
um olhar diferenciado sobre a relação do tempo, do
corpo e da pessoa? Ou, ainda, precisamos respeitar
a posição em que a pessoa adulta com deficiência
ocupa frente ao tempo e ao corpo?
Mensagem da APAE
A pesquisa justificou-se uma vez que os aspectos
elencados se agregaram às propostas do XI Congresso da Rede Mineira das Apaes e Fórum Mineiro
da Autogestão, Autodefesa e Família da Pessoa com
Deficiência Intelectual, tendo em vista que esse
evento promoveu profundas articulações acerca do
percurso da pessoa com deficiência, norteadas pelos vieses da fase adulta e do envelhecimento.
Neste sentido, investiga-se um determinado aspecto pontual. “Ao longo de sua trajetória no movimento apaeano, indaga-se: o que essas pessoas
sabem? O que desejam e o que necessitam? O que
as famílias dizem sobre elas?”
Articulamos, via psicanálise, estes elementos:
necessidade e desejo, proporcionando melhoria
nos serviços oferecidos e na qualidade de vida, almejando compreender como se posicionam frente ao tempo e ao corpo. Consideramos que não se
trata de excluir o desejo na vertente existencial das
pessoas com deficiência. Desejo é direito. E direito
de todos.
Certamente, para nós educadores, desdobra-se
este desafio: trabalhar com a necessidade das pessoas adultas com deficiência, em seu âmbito funcional, escutando também o desejo. E é nesse viés
que a teoria psicanalítica nos orienta acerca desta
dimensão.
Nessa perspectiva, lembremos quão importante
é desmitificar no contexto familiar a possível articulação entre necessidade e desejo. Salientamos,
assim, que não se trata de abafar o desejo, mas de
apontar as necessidades para essas pessoas em seus
contextos reais de vida, em que o que é necessário
aprender pode se transformar em desejo.
Em articulação com a teoria psicanalítica, a autora
Sônia Alto É, em seu livro Sujeito de direito, sujeito do
desejo: direito e psicanálise, cita-nos Jacques Lacan:
“Ressalta a perspectiva lacaniana, apontando
que o sujeito não possui substância ou natureza,
apresentando-se antes como sujeito desejante, determinado por uma trama discursiva cuja origem
desconhece, mas onde deve advir para produzir a
sua verdade e encontrar o seu lugar. O desejo do su41
jeito divide-o e torna-o singular, não havendo como,
a partir dessa dimensão desejante, imputar-lhe uma
identidade. Nesse sentido, não haveria possibilidade de pensarmos um sujeito humano com direitos e
deveres enunciados a priori e universalmente. Todas
essas tentativas, denuncia Lacan, são normalizadoras e adaptativas, em sua pretensão de abafar o desejo: trata-se de engodos moralizantes. É com
o desejo que o sujeito está comprometido e é pela
sua enunciação que ele deve tornar-se responsável.
Assim sendo, o esforço ético do sujeito será responder por aquilo que faz e diz, e pelo desejo que habita
sua fala e sua ação. Não se trata, evidentemente, de
se fazer tudo o que quer, de dar livre curso a todos
os caprichos e vontades. Bem ao contrário, Lacan
mostra que, no plano do desejo, a escolha é sempre forçada, já que o desejo é que nos permite e
nos impõe discursos e condutas. Contudo, o sujeito
deve responder por esse desejo que ele não domina
e que, no entanto, traça o seu destino: é no desejo
que reside a sua verdade e ele pagará um preço por
dizê-la.” (1999, p. 39-40).
guramos esse lugar, com a responsabilidade de
A perspectiva psicanalítica orientou-nos acerca
da relação ensino-aprendizagem dessas pessoas, refinando nossa escuta e nosso olhar, atentos aos seus
desejos e apontando-lhes questões, fatos e situações
funcionais, proporcionando-lhes o desenvolvimento
das habilidades de autodefesa e autogestão.
os preconceitos da incapacidade e invalidação, com
A pesquisa foi pontualmente voltada para uma
turma iniciada em março de 2009, nomeada Centro de Convivência, composta de 15 pessoas, com
faixa etária entre 30 e 50 anos, apresentando deficiência intelectual, síndrome de Down, paralisia
cerebral e esclerose tuberosa de Bourneville.
cada sujeito, ao promoverem mudanças, reposicio-
Ressaltamos que há aluno com registro de inserção cotado em 5 de fevereiro de 1976. Contamos,
assim, com pessoa que traz um histórico de 34 anos
de percurso institucional no movimento apaeano.
Ainda ressaltamos que alguns trazem histórico de
tentativas de inclusão escolar na rede comum de
ensino, outros com tentativas de inserção no mercado de trabalho e ainda pessoas aposentadas.
mento ou modo de passar o tempo.
Imbuídos com uma preocupação institucional,
política, ética, educacional, social e cultural, inau-
habilidades dessas pessoas e consequentemente o
42
pesquisar a relação do tempo, do corpo e da pessoa
adulta com deficiência e seu processo de envelhecimento. Tudo isso por meio de diálogo com a educação, a saúde e a psicanálise e, sobretudo, reflexão
com as pessoas com deficiência sobre a importância desse lugar e seus possíveis efeitos sobre si mesmas, seus familiares, sua comunidade social, como
também no próprio movimento apaeano.
Consideramos fundamental assinalar que o
Centro de Convivência não significa nem equivale
às simples formas de ocupação, tampouco se configura como espaço artificial, descontextualizado,
empobrecido de trocas e privado de sentidos, limitando-se a oferecer atividades repetitivas, pobres e
sem sentido. Ao contrário disso, trata-se do desafio de invenção de complexas redes de negociação
e oportunidades, de diferentes formas de sociabilidade, de acesso e exercício de direito: lugares de
diálogo e de produção de valores que confrontem
o desafio de não compreendê-lo somente como um
“procedimento”; mas, sobretudo, com a finalidade
de propiciar produções, convívios, encontros e trocas. Embora não seja um dispositivo clínico, seus
efeitos já se fazem notar no acompanhamento de
namentos, escolhas e subjetivações. Outra reflexão
importante é o conceito de entretenimento, tanto
no sentido de “manter-se dentro” como de “passar
o tempo de forma agradável”. Não podemos conceber o Centro de Convivência como mero entreteniAté a presente data, consideramos que esse lugar se constitui como motor de produção de sujeitos, sentidos e vida, na medida em que a escolha
entre tecer ou dançar, modelar ou pintar, provoca
descobertas e propicia a autodefesa e autogestão.
Com essas reflexões, retomamos a avaliação das
estudo e a aplicação do Programa de Condutas AlMensagem da APAE
ternativas (PCA)1 , de Miguel Angel Verdugo Alonso2 , pois resgatou e apontou consideráveis aspectos na relação ensinar-aprender.
Desenvolvimento
Assim criamos uma equipe de pesquisa composta por oficineira regente, oficineira apoio, direção
escolar e psicólogo, que se reúne semanalmente
com a finalidade de estudo de caso, estratégias para
a pesquisa, avaliações, estudo e aplicação do Programa de Condutas Alternativas, de Verdugo, sugerido pela Federação das Apaes.
liares acerca do aspecto da aprendizagem, focado
Consideramos que um dos pontos fortes da pesquisa foi a escolha da equipe em escutar os familiares. Criamos um questionário, contendo 72 questões,
sendo 69 questões fechadas e 3 questões abertas. Tal
questionário foi elaborado como instrumento para
analisar aspectos da aprendizagem dessas pessoas
acerca de condutas em torno das atividades de vida
prática e diária, como também analisar e investigar
as habilidades sociais e possíveis habilidades para o
trabalho, seja ele externo ou não.
Percebemos que a pesquisa traz à baila a importância do Centro de Convivência, tendo em vista a
possibilidade de inserir e integrar o Programa de
Condutas Alternativas, do referido autor, com as
atividades já desenvolvidas, enfatizando assim um
novo olhar sobre as habilidades, no prisma da necessidade e do desejo.
Acreditamos que a psicanálise orientou a atuação da equipe frente a elementos significativos,
como a escuta e o fenômeno da transferência na relação aluno-professor e na aplicação do questionário junto aos familiares, sob a ótica e a perspectiva
do singular.
1
São programas educativos e de treinamentos dirigidos a pessoa com
deficiência intelectual, adolescentes e adultos, diferenciando-se dos conteúdos
exclusivamente acadêmicos. Apontam para o desenvolvimento das habilidades
sociais, promovendo distintas habilidades para adaptação à comunidade; habilidades práticas, facilitando a preparação profissional; habilidades adaptativas,
desenvolvendo autonomia pessoal e competência social; e habilidades intelectuais gerais. Ressalta que o currículo tem clara orientação para o futuro e deve
ser executado em espaços o mais similar possível à situação real de execução
das atividades. Subdivide-se em: Programa de Habilidades Sociais, Programa de
Habilidades de Vida Diária e Programa de Orientação para o Trabalho.
2
Professor titular de Psicologia da Deficiência, diretor do Instituto de
Integração Comunitária (Inico), diretor do Serviço de Informação à Deficiência
(SID) do Ministério de Educação e Ciência. Universidade de Salamanca. E-mails:
[email protected] e [email protected]
Mensagem da APAE
Sabemos da importante parceria família-escola
e percebemos quão produtivo foi escutar os faminas habilidades de vida prática e diária, habilidades
sociais, como também sob as perspectivas de futuro
e, consequentemente, habilidades para o trabalho,
seja ele externo ou não.
Desse modo é possível afirmar que o Programa
de Condutas Alternativas logo nos provocou sérias
reflexões a respeito de possíveis habilidades dessas
pessoas para o trabalho, até mesmo no interior do
Centro de Convivência e/ou na instituição. Aliás, a
certa altura, tínhamos uma indagação importante:
estávamos negligenciando esse aspecto?
Ressaltamos como nós, equipe, possivelmente estaríamos enraizados neste engodo: de pensarmos em
inclusão e trabalho somente fora do ambiente institucional, como se somente ele pudesse trazer dignidade
e cidadania para as pessoas adultas com deficiência.
Tal pesquisa também apontou outras reflexões,
como a possibilidade de: pessoas adultas com deficiência não terem algumas habilidades devido à
própria deficiência; pessoas terem algumas habilidades, porém sem uma supervisão adequada,
empobrecendo-as; e, por fim, pensarmos na articulação do tempo, do corpo e da pessoa para habilidades existentes, frente ao tempo de cada um.
O questionário foi baseado frente às avaliações
pedagógicas dessas pessoas com interface de algumas questões e alguns aspectos do Programa de
Condutas Alternativas, de Verdugo.
Ressaltamos que, na aplicação do questionário
às famílias, não perdemos de vista o diagnóstico
dessas pessoas, ao contrário, reservamos seu lugar
e sua importância, principalmente ao avaliar os
alunos e escutar a família.
Quanto às questões fechadas, demos as opções
“sim”, “não”, “às vezes” e “ainda não”. Participaram
e contribuíram para o desenvolvimento da pesquisa os familiares de todos os alunos.
43
Assim, notificamos em 95% da turma questões
como pessoas que: não dizem a sua idade; não dizem a data do seu aniversário; não reconhecem
letras do alfabeto; não identificam números no
concreto; não nomeiam os dias da semana; não
convivem com amigos da mesma faixa etária;
não reconhecem e não utilizam o dinheiro; não
fazem pequenas compras; não têm noção temporal quanto a ontem, hoje e amanhã; não cuidam
de sua aparência (cortar unhas, arrumar cabelos,
roupas apropriadas de acordo com o clima, etc.);
não fazem ligações telefônicas; não dizem o número do telefone de suas residências; dizem o nome
do bairro onde moram, mas não falam o ônibus
que passa no bairro, como também não andam
de ônibus sozinhas; não realizam travessia de rua
regulada por semáforos; não frequentam lugares
públicos (pracinhas, lojas, teatros, entre outros);
não participam com espontaneidade de conversas
sobre sexualidade; identificam, mas não nomeiam
corretamente os órgãos genitais masculinos e femininos; não realizam atividades de lazer e esportes fora do ambiente escolar; dizem o nome de
seus pais, mas não dizem sobre suas profissões;
não preparam lanches simples para si mesmas.
Notificamos também que 90% da turma sinalizaram questões da aprendizagem em suas habilidades, como pessoas que: se reconhecem pelo nome;
se reconhecem pelo espelho; dizem o nome dos
pais; reconhecem símbolos e rótulos de produtos
cotidianos; reconhecem as pessoas da família; expressam seus desejos e preferências; identificam as
temperaturas quente e fria; diferenciam grande e
pequeno, cheio e vazio e dentro e fora; conseguem
se vestir e se despir; identificam membros do corpo. Elas também lavam as mãos utilizando corretamente o lavatório, sabem escovar os dentes, tomam
banho corretamente, servem sua própria comida,
nomeiam os cômodos da casa, atendem ao telefone, organizam seus pertences nos devidos lugares
e cumprimentam adequadamente. Alimentam-se
sem dificuldade, levam recados para outras pessoas, permanecem com comportamento adequado
44
em lugares públicos e pedem ajuda às pessoas certas durante uma situação de perigo.
Quanto às questões abertas, foram elaboradas:
1. O que o aluno diz sobre a Apae? 2. Quais atividades demonstram mais satisfação em realizar? 3.
Sobre as perspectivas de futuro.
Analisando as respostas para melhor avançarmos
na pesquisa, constatamos que 100% dos familiares
demonstraram significativa preocupação quanto à
saúde do filho. Apresentaram consideráveis preocupações quanto à realização afetiva dele (conhecer
alguém, namorar, casar e ter filhos), como também
perspectivas de trabalho e principalmente até quando
será prazeroso para o filho frequentar a Apae. Ressaltamos que surgiram manifestações de bem-estar e
alegria ao frequentarem o movimento apaeano. Um
dado que nos chamou a atenção foi a irmã de um aluno relatar na entrevista que acreditava que ele chegou
ao limite de sua capacidade de aprender.
Frente à escuta desses relatos, retomamos as questões iniciais: para além das significativas atividades
artísticas, físicas, ocupacionais, clínicas, terapêuticas
e pedagógicas, estamos atentos à relação tempo-corpo-pessoa? Como lidamos com essa relação? Como e
de que lugar falávamos das habilidades dessas pessoas? Habilidades perdidas ou também um novo tempo
para realizá-las? Como escutávamos os desejos dessas pessoas em relação às suas necessidades? Quais
são os efeitos provocados em nós diante de questões
tão importantes? Como pensamos a articulação entre
os conceitos “habilidade” e “agilidade”?
Dessa forma, afirmamos com tranquilidade sobre a importância do Centro de Convivência na vida
das pessoas e dos familiares em questão, uma vez
que podemos e devemos articular as atividades já
desenvolvidas em interface com os aspectos elencados no programa de Verdugo.
Conclusão
Consideramos que a pesquisa tornou-se um instrumento teórico-prático importante, veiculando
uma rede de comunicação entre diversos profissionais em torno da práxis junto às pessoas adultas
com deficiência, seu processo de envelhecimento e
Mensagem da APAE
os serviços oferecidos a elas, agregados às reflexões
do XI Congresso da Rede Mineira das Apaes e Fórum Mineiro da Autogestão, Autodefesa e Família
da Pessoa com Deficiência Intelectual.
O Programa de Condutas Alternativas, de Miguel
Angel Verdugo Alonso, alertou-nos para questões
importantes frente à relação do tempo, do corpo e
da pessoa, uma vez que deparamos com um desdobramento importante no Centro de Convivência:
habilidade e agilidade.
Assim, a pesquisa nos movimentou na seguinte refle-
Referências
ALONSO, Miguel Angel Verdugo. PVD: Programa de Habilidades de la Vida Diaria. Amarú Ediciones Salamanca.
BUSCAGLIA, L. F. Os deficientes e seus pais:
um desafio ao aconselhamento. Rio de Janeiro: Record, 1997.
É, Sônia Alto. Sujeito de direito, sujeito do desejo: direito e psicanálise. Rio de Janeiro: Revinter,
1999.
xão: as pessoas adultas com deficiência em seu processo
FEDERAÇÃO DAS APAES. A integralidade das
de envelhecimento perdem as habilidades ou necessi-
ações no ciclo de vida da pessoa com deficiência in-
tam de um novo tempo para executá-las? É a agilidade
telectual. Itaúna, 22-23 fev. 2010. Curso de capaci-
que qualifica a habilidade? Para além das perspectivas
tação.
teórico-metodológicas, estamos disponibilizando a essa
clientela instrumentos nossos, portanto subjetivos,
diante dessa relação tempo-corpo-pessoa?
Sabemos que há um corpo que envelhece, até
mesmo precocemente, devido à própria deficiência e
FREUD, Sigmund. A dinâmica da transferência (1912). Rio de Janeiro: Imago, 1969. p. 133-143
(Edição Standard brasileira das obras psicológicas
de Sigmund Freud, v. 12).
seu contexto, como também ao estilo de vida de cada
______. (1916). Transferência. In: FREUD,
pessoa. Para isso é importante ressaltar que algumas
Sigmund. Conferências introdutórias sobre a psi-
pessoas podem demonstrar uma falsa imagem em
canálise (Parte III). Rio de Janeiro: Imago, 1969.
relação às habilidades, como se as perdessem, devi-
p. 503-539 (Edição Standard brasileira das obras
do ao tempo e à nova maneira com que as executam.
psicológicas de Sigmund Freud, v. 16).
Ressaltamos que possivelmente há perdas que dizem respeito ao próprio processo humano – perdas
cognitivas, motoras, afetivas e corporais –, as quais
podemos e devemos trazer para esta reflexão, porém
uma coisa é perder a habilidade cognitiva e/ou motora, entre outras; outra é executar as habilidades
num novo tempo, conforme sinalizou a pesquisa.
Contudo, enfatizamos que a teoria psicanalítica
perpassou as discussões da equipe de pesquisa, con-
HANNS, Luiz Alberto. Dicionário do alemão de
Freud. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996.
LANCETTI, Antônio. Clínica peripatética. 3ª ed.
São Paulo: Hucitec, 2008.
LOBOSQUE, Ana Marta; SOUZA, Marta Elisabeth de. Atenção em saúde mental. 1ª ed. Belo
Horizonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas
Gerais, 2006.
tribuindo de maneira peculiar para pensarmos na
MANTOAN, M. T. E. A integração de pessoas
posição que a pessoa ocupa frente à relação ensino-
com deficiências: contribuição para uma reflexão
aprendizagem.
sobre o tema. São Paulo: Memnon, 1997.
Por fim, afirmamos que a pesquisa nos possibilitou
SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO (Sesc). En-
novo olhar e, consequentemente, nova posição frente
velhecimento saudável da pessoa com deficiência
à pessoa adulta que duplamente sofre consideráveis
intelectual. Venda Nova, Belo Horizonte, Minas
preconceitos: o de ser deficiente e o de envelhecer.
Gerais, out. 2009. Curso de Capacitação.
Mensagem da APAE
45
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