CLOREXIDINA E CLORO NA LAVANDERIA: molecular de 505,4460 g/mol, massa monoisotópica de O QUE ACONTECE NA REALIDADE? 504,2032 Da (Dalton) e número de registro CAS "55-56- Prof. Roberto Farias1 1". Do ponto de vista da farmacocinética, a clorexidina Prof. Fabiano Alves2 possui uma taxa de 87% de vinculação com proteínas do plasma sanguíneo, ou seja, uma vez no sangue, apenas 13% da clorexidina estaria desvinculada e em Introdução A clorexidina foi desenvolvida (1940) pela "Imperial Chemical Industries Ltd., Macclesfield, England" como agente antiviral, fracassou, mas foi redescoberta, anos antibacteriano. Os mais sais tarde, como originalmente agente produzidos condições de ser excretada elevando a meia-vida dessa substância no organismo do paciente (YEUNG et al., 2007; WISHART et al., 2007; PUBCHEM, 2008). A estrutura química da clorexidina pode ser ilustrada na Figura 1. (chlorhexidine acetate e chlorhexidine hydrochloride) apresentavam baixa solubilidade em água e foram substituídos pelo chlorhexidine digluconate ou digluconato de clorexidina (BARBIN, E. L, 2008). O digluconato de clorexidina é um antisséptico de comprovada eficácia antimicrobiana com aplicação terapêutica na odontologia; na assepsia de Figura 1. Estruturas químicas da Clorexidina. Na parte superior, a estrutura equipamentos, superfícies e mãos nas indústrias que mais frequentemente relatada (PUBCHEM, 2008) e, na parte inferior, uma manipulam produtos de origem animal; na limpeza de configuração ressonante. A clorexidina possui em sua estrutura lentes de contato e nos procedimentos que exigem molecular grupos funcionais e radicais "amino", "phenyl" introdução de cateteres. Seu uso exige monitoramento ("chlorophenyl"), "methylidene", "hexil" e "guanidine", considerando que pode ser observado na Figura 2. a cloroanilinas, formação dotados de derivados de para- potencial cancerígeno/mutagênico. O designação IUPAC ("International Union of Pure and Applied Chemistry") do digluconato de clorexidina é "(1Z)-2-[6-[[amino-[[amino- [(4- chlorophenyl) amino]methylidene] amino] methylidene] amino] hexyl]-1-[amino- [(4-chlorophenyl) amino] methylidene]guanidine; 2,3,4,5,6-pentahydroxyhexanoic acid" com massa molecular de 701,6019 g/mol, massa monoisotópica 700,2615 Da (Dalton) e fórmula molecular "C28H42Cl2N10O7" (PUBCHEM, 2008). Figura 2. Grupos funcionais: (A) amina (amino) primária, (B) amina secundária, (C) amina terciária, (D) "methylidene", (E) "hexil", (F) "chlorophenyl" e (G) "guanidine". O digluconato de clorexidina é um sal cujo íon positivo é a clorexidina "C22H30Cl2N10" com massa Amino é atribuido às aminas ou outra estrutura química contendo o grupo NH2 combinado com um radical 1 Autor dos livros manual de segurança na higiene e limpeza (2011), manual para lavanderias (2006), Prof. Faculdade Hotec, Coordenador da Faculdade NSL, e do Curso de Técnico em Lavanderia. Administrador Hospitalar. 2 Doutor em Engenharia Química, Prof. Faculdades Oswaldo Cruz, Diretor Técnico da Eric Faro Especialidades Química. orgânico não ácido características primária, secundária, terciária e até mesmo, quaternária. Fenil faz parte do grupo funcional Aryl derivado de um anel aromático simples. "Methylidene" é um radical "CH2=" no qual as valências livres são parte de uma dupla ligação. Hexil é o radical hidrocarbono "-C6H13". Segundo Barsani, Fillery, Manek, Manzur (2007), Barbin (2008), a combinação da clorexidina (CHX) com alguns tipos de produtos provocam reações que podem formar precipitados de variadas colorações do branco ao âmbar – mediante o pH, temperatura e presença de alguns compostos químicos. Figura 3. A concentração de NaOCl diminui de 6,0% (tubo 9) a 0,023% (a partir de tubo 9 à esquerda) e os tubos com NaOCl a 6% e CHX a 2%, respectivamente. Resultados: Altera a cor e forma precipitados A mudança de cor ocorreu em todos os 9 tubos onde a CHX foi adicionada, incluindo o com concentração mais baixa de hipoclorito de sódio Objetivos 0,023%. A gama de cores variou e não se alterou com o Determinar a concentração mínima de tempo. A mais baixa concentração de NaOCl a induzir NaOCl que provoca a mudança de cor, a formação de um precipitado foi de 0,19% (tubo 4). Com a alteração precipitado, caracterizar o precipitado resultante e a da cor, o precipitado ocorreu imediatamente e não identificação dos fatores dessa reação na roupa da mostrou nenhuma mudança com o tempo. hotelaria ou na lavanderia. Foram utilizadas soluções padronizadas do trabalho de Barsani (2007) CHX padrão a 2% v/v; NaOCl a 6% p/v e água destilada. Fase 2 Resumo: Utilizadas 6 peças de algodão (100%) que ficaram imersas na solução de CHX por 30 minutos e Método secos ao ar por 24 horas. Foi preparada soluções A pesquisa envolve duas fases: a primeira, com base no trabalho de Barsani, Fillery, Manek, Manzur (2007) que foi verificar a mistura simples da solução padrão de CHX sobre soluções de NaOCl e a segunda, realizada pelos autores, com tecidos embebidos com CHX e processados com soluções NaOCl nas concentrações de 1,50%, 1,20%, 0,90%, 0,60%, 0,30%, 0,10%. Os tecidos foram imersos por 20 minutos, retirados e lavados com água destilada e secos ao ar. A coloração se forma quase que imediatamente e não se altera depois de formada conforme mostra a figura 4 a seguir variáveis de NaOCl. Desenvolvimento Fase 1 (Barsani et al) – Resumo: Utilizados 09 tubos com concentrações de NaOCl: 6,0%, 3,0%, 1,5%, 0,75%, 0,38%, 0,19%, 0,094%, 0,047% e 0,023%. Para determinar a Figura 4. A coloração é maior com o aumento da concentração de NaOCl. concentração mínima de NaOCl em que a mudança de cor ocorreu, e um precipitado foi formado. Foi A solução, conforme trabalho de Barsani et adicionado 0,5 ml de CHX a cada um dos 9 tubos al., também mostra precipitados com a mistura CHX e contendo NaOCl conforme mostra a Figura 3 a seguir NaOCl conforme a figura 5 a seguir que foi filtrada a 1ª vez em tecido, foi refiltrada a 2ª vez. Os precipitados da 1ª filtração são brancos e reagem com a solução posterior de NaOCl conforme mostra a figura 7 a seguir. Figura 5. A formação do precipitado na solução de CHX e NaOCl. A solução com menor concentração de NaOCl é mais laranja e a com maior concentração é mais clara, o que mostra que quanto maior a relação NaOCl na CHX maior a precipitação e a redução da cor da solução conforme mostra a Figura 6 a seguir: Figura 7. A formação do precipitado na solução de CHX e NaOH e depois NaOCl. Na 2ª filtração a reação que ocorre é muito fraca não deixando a coloração marrom plena da CHX + NaOCl conforme mostra a sequência da Figura 8 a seguir. Figura 6. A formação do precipitado na solução de CHX e NaOCl. Se existe a ocorrência dos precipitados, é possível que também possam existir outros subprodutos com novas misturas entre a CHX e componentes do processo de lavagem, o que também poderá explicar a ocorrência de manchas amarelas nas roupas lavadas, Figura 8. A formação do precipitado na solução de CHX e NaOH. embora não exista a presença do NaOCl, no processo de lavagem de roupa hospitalar. Algumas manchas podem ter origem na combinação do uso da CHX e do Caracterização do precipitado. A para-cloroanilina foi identificada NaOCl utilizado na limpeza hospitalar, o que já foi em uma quantidade diretamente demonstrado num artigo anterior publicado na revista relacionada com a concentração de hipoclorito de Anel 195 (set/out de 2010, p. 34 a 38). sódio utilizado na mistura e também sugere a formação Barbin (2008) afirma que devido à estrutura molecular da CHX e o pH elevado de um Alcalino proporcional e de outro produto a do NaOCl / CHX, sob a forma da molécula NaC6H4Cl. (hidróxido de cálcio), este pode ser causa da provável decomposição da CHX em radicais livres e para- Discussão cloroanilina. Nas análises realizadas constatou-se que a Tem sido relatado que, quando colocados solução de CHX isolada foi decomposta em diferentes em uma solução aquosa, a CHX lentamente hidrolisa e subprodutos, inclusive em para-cloroanilina. Em contato forma a para-cloroanilina (PCA). Isto ocorre através de com o hidróxido de cálcio, a decomposição da CHX é uma substituição do grupo guanidina na molécula CHX. total com formação de diferentes compostos. Os resultados obtidos indicam que, quando misturado Para verificar essa informação foi utilizada a com NaOCl, a CHX torna-se hidrolisada em fragmentos solução padrão de CHX e adicionado Hidróxido de menores, cada um formando subproduto. A formação Sódio a 10% e gotejando 1 ml por vez. O gotejamento do precipitado pode ser explicada pela reação ácido- resultou numa precipitação de cor branca na solução base que ocorre quando NaOCl e CHX são misturados. Ocorre a formação de uma substância neutra e insolúvel, referido como "o precipitado." Supõe-se que este precipitado contém PCA. A intensidade concentração de correlacionada hipoclorito de sódio com a sugeriu a formação de outro produto a do NaOCl / CHX, sob a forma da molécula a NaC6H4Cl. Em resumo, demonstramos que o hipoclorito de sódio misturado com CHX forma PCA, e a quantidade de PCA diretamente aumentou com o incremento na concentração de NaOCl. O PCA pode estar relacionado diretamente com a coloração na roupa. Sugere-se maior investigação sobre o composto, já precipitado, na roupa. Referências Bettina R. Basrani,DDS, Sheela Manek, BSc, Rana NS Sodhi, PhD, Edward Fillery, BSc, PhD, e Aldo Manzur, DDS, MSc Universidade de Toronto, Faculdade de Odontologia, 124 Edward Street # 348C, Toronto, ON, Canadá M5G 1G6. Heard DD, Ashworth RW. As propriedades coloidais de clorexidina e de sua integraçãocom algumas macromoléculas. J Pharm Pharmac 1968, 20, 505-12. Goodall R, Goldman J, Woods J. Estabilidade de soluções de clorexidina. Pharm J1968; 13:33 - 4. Fessenden R, Fessenden J. Química Orgânica. Boston: Willard Grant Press; 1997. Chhabra RS, Huff JE, Haseman JK, Elwell MR, Peters AC. Carcinogenicidade de p-cloroanilinaem ratos e camundongos. Food Chem Toxicol 1991; 29:119 -24. BARBIN, E. L. Análise química da clorexidina misturada ou não ao hidróxido de cálcio. 2008. 116 p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2008.http://www.forp.usp.br/restauradora/Teses/Barbin/ doutorado_barbin.pdf IUPAC. Compendium of Chemical Terminology. Electronic Version, 2007. Disponível em <http://goldbook.iupac.org/Q05000.html>. Acessado em junho. 2012. IUPAC. International Union of Pure and Applied Chemistry. Gold Book. 2007. Disponível em <http://goldbook.iupac.org/A00496.html>. Acessado em junho. 2012. PUBCHEM. Pubchem substance database. 2012. http://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/. YÜCEL, A. Ç.; AKSOY, A.; ERTAS, E.; GÜVENÇ, D. The pH changes of calcium hydroxide mixed with six different vehicles. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod, v.103, p. 712-7, 2007.