Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – Campus São Paulo Relações de Poder, Gênero e a Sexualidade na Educação de Jovens e Adultos ELISABETE SALES DE MELO São Paulo Março - 2010 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – Campus São Paulo Relações de Poder, Gênero e a Sexualidade na Educação de Jovens e Adultos ELISABETE SALES DE MELO Monografia apresentada ao curso de Pós Graduação Especialização Latu Sensu em Educação Profissional Integrada à Educação Básica com a Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – Proeja, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP – Campus São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção de certificado de Especialista em Educação de Adultos. Orientador: Prof. Dr. Antônio Carlos da F. Bragança Pinheiro São Paulo Março- 2010 AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Professor Doutor Antônio Carlos da F. Bragança Pinheiro que muito colaborou no processo de construção de trabalho contribuindo na minha formação. Aos entrevistados por colaborarem com seus relatos de vida . Agradeço primeiramente a Deus que sempre me iluminou, dando força para eu confiar e vencer todos os desafios. Dedico este trabalho aos meus filhos Vinícius e Fabrício pela compreensão, companheirismo, amor, carinho e dedicação, em todos os momentos da minha vida. Aos mestres e colegas que me proporcionaram desenvolvimento e crescimento e na minha formação. A todas as pessoas que fizeram parte de minha vida, em outros momentos, que me levaram a realizar este trabalho. Aos familiares e amigos que estiveram comigo nas horas mais difíceis e também em todas as alegres. Em especial uma amiga do coração Maria José Pereira da Silva, que momentos. é parceira em todos os “Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida e nela só tenho uma chance de fazer o que quero. Tenho felicidade o bastante para fazê-la doce, dificuldade para fazê-la forte, tristeza para fazê-la humana e esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas, elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos”. Clarice Lispector RESUMO O papel da mulher e do homem é constituído culturalmente e muda conforme a sociedade e o tempo. Esse papel começa a ser construído desde que o bebê está na barriga da mãe, quando a família, de acordo à expectativa, começa a preparar o enxoval. Depois que nasce o bebê, a primeira coisa que se identifica é o sexo: “menina ou menino” e a partir desse momento começará a receber mensagens sobre o que a sociedade espera desta pessoa. É percebido que os fatores ligados ao gênero têm interferido na participação feminina nas turmas da Educação de Jovens e Adultos, sobretudo, quanto ao casamento e a maternidade. O gênero refere-se às relações sociais desiguais de poder entre homens e mulheres, que são o resultado de uma construção social do papel do homem e da mulher a partir das diferenças sexuais. Assim, como as diferenças polares entre homens e mulheres, nesse modelo de feminilidade, fortemente enraizado na relação mulher-mãe, tem origem nas transformações ocorridas no século 18. Objetivou-se apontar algumas pistas, sobre as relações de poder, gênero e sexualidade na educação de Jovens e Adultos, assim como: promover reflexões, sugerir algumas ações que propicie a auto-estima com respeito às diferenças nos gêneros e a partir de entrevistas, com mulheres e homens na Educação de Jovens e Adultos. Os sujeitos envolvidos nessa pesquisa serão mulheres e homens alunos do CIEJA Campo Limpo. A partir dos relatos, observou-se que convivem numa desigualdade social e que as relações de gênero é uma questão de poder construída na sociedade ocidental. Portanto, espera-se, que o processo de desconstrução e construção de conceitos de sexualidade no gênero e na educação, passem por momentos de mudanças significativas na vida, e que atitudes preconceituosas e termos pejorativos deixem de ser repetidos. Palavras-chave: Gênero, Sexualidade, Educação, ABSTRACT The role of man and woman is culturally constituted and as society changes and time. This paper begins to be built since the baby in the womb, when the family, according to expectation, begins to prepare the trousseau. After the baby is born, the first thing that identifies the sex: "girl or boy" and from that moment begin to receive messages about what society expects of this person. It is perceived that the factors related to gender have affected the participation of women in the adult education classes, especially regarding marriage and motherhood. Gender refers to social relations of unequal power between men and women that are the result of a social role of woman and men from sexual differences. Thus, as the polar differences between men and women, this model of womanhood, deeply rooted in the woman-mother, can be traced to changes occurring in the 18th century. The objective was to point out some clues about the relationships of power, gender and sexuality in the education of youngsters and adults as well as promote reflections suggest some actions that fosters self-esteem with respect to differences in genders and from interviews with women and men in adult education. The subjects involved in this research students will be women and men CIEJA Field Clean. It was observed that live in social inequality and gender relations is a question of power built in Western society. Therefore, it is expected that the process of deconstruction and construction of concepts of sexuality and gender in education, pass through times of significant changes in life, and that prejudiced attitudes and derogatory terms are no longer repeated. Keywords: Gender, Sexuality, Education. Lista de Abreviaturas e Siglas CIEJA Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos CDHEP Centro de Direitos Humanos e Educação Popular GTPOS Grupo de Trabalho e Pesquisa Pesquisa em Orientação Sexual MEC Ministério de Educação e Cultura PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais ONU Organização das Nações Unidas UBS Unidade Básica de Saúde SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 10 1.1 Objetivo Geral 16 1.2 Objetivos Específicos 16 1.3 Metodologia da Pesquisa 17 2. A MULHER E O PODER 17 2.1 O Poder nas Relações de Gênero 18 2.2 O Poder na Sexualidade 20 2.3 Os Sentidos da Sexualidade: Natureza, Cultura e Educação 23 2.4 A Importância da Sexualidade nas Ações Pedagógicas na Sala de Aula 24 3. ESTUDO DE CASO 28 3.1 Caracterização Ambiental 28 3.2 Caracterização da Escola 29 3.3 Pesquisa de Campo 31 3.3.1 Direito de Estudar 31 3.3.2 Interrupção dos Estudos 32 3.3.3 Diferença de Gênero 34 3.3.4 Convivência entre Mulheres e Homens 35 3.3.5 CIEJA e Mudança na Vida 36 3.4 Análise sobre os relatos 37 3.5 Considerações sobre a Pesquisa de Campo 38 4. CONCLUSÃO 40 REFERÊNCIAS 41 Apêndice: A Apêndice: B Apêndice: C 1. INTRODUÇÃO “A humildade exprime, uma das raras certezas de que estou certo: a de que ninguém é superior a ninguém”. Paulo Freire O papel do homem e da mulher é constituído culturalmente e muda conforme a sociedade e o tempo. Esse papel começa a ser construído desde que o (a) bebê está na barriga da mãe, quando a família, de acordo à expectativa, começa a preparar o enxoval conforme o sexo do bebê. Dessa forma, em geral na sociedade ocidental é escolhida a cor de rosa para as meninas e azul para os meninos. Depois que nasce o bebê, a primeira coisa que se identifica é o sexo: “menina ou menino” e a partir desse momento começará a receber mensagens sobre o que a sociedade espera desta pessoa. Ou seja, por ter genitais femininos ou masculinos, eles são ensinados pelo pai, mãe, família, escola, mídia, sociedade em geral, diferentes modos de pensar, de sentir, de atuar (CABRAL; DÍAZ, 1999, p. 142-150). É percebido que os fatores ligados ao gênero têm interferido na participação feminina nas turmas da EJA, sobretudo, quanto ao casamento e a maternidade (GARCIA, 2006). O gênero refere-se às relações sociais desiguais de poder entre homens e mulheres, que são o resultado de uma construção social do papel do homem e da mulher a partir das diferenças sexuais. Assim, como as diferenças polares entre homens e mulheres, nesse modelo de feminilidade, fortemente enraizado na relação mulher-mãe, tem origem nas transformações ocorridas no século 18. Porém, mesmo sendo resultante de uma construção cultural de significados baseados na capacidade biológica de reprodução da mulher, apresenta-se como natural instintivo e inevitável (CARVALHO; VIANA 1994, p.125). As relações de gênero são produto de um processo pedagógico que se inicia no nascimento e continua ao longo de toda a vida, reforçando a desigualdade existente entre homens e mulheres. Cabral e Díaz (1999) consideram quatro eixos: - sexualidade; - reprodução; - divisão sexual do trabalho; - âmbito público/cidadania . Os mesmos autores afirmam que, segundo a ciência, sexo refere-se às características biológicas de homens e mulheres, ou seja, às características específicas dos aparelhos reprodutores femininos e masculinos, ao seu funcionamento e aos caracteres sexuais secundários decorrentes dos hormônios. A sexualidade na mulher tem sido relacionada com a reprodução, ou seja, para a mulher o centro da sexualidade é a reprodução e não considera o prazer. A sexualidade reduzida à genitalidade se apresenta para as mulheres como algo “sujo”,vergonhoso, proibido (CABRAL; DÍAZ,1999,p.142-150). A mulher pode gerar um filho, e isto em si pode ser considerada uma fonte de poder. A maternidade, tem sido controlada e tem determinado outros papéis, diminuindo as possibilidades de participação social e limitando a vida das mulheres em outros âmbitos, como por exemplo, no campo do trabalho. No campo da divisão sexual do trabalho, pelo fato biológico, ainda a mulher é quem engravida e quem alimenta. Assim, tem sido atribuído à ela a totalidade do trabalho reprodutivo. Às mulheres, portanto, se atribui o ficar em casa, cuidar dos filhos e realizar o trabalho doméstico, que é desvalorizado pela sociedade ocidental. Esse comportamento deixa as mulheres com o papel de “donas de casas”, limitadas ao mundo do lar, com menos possibilidade de educação, menos acesso à informação, à formação profissional etc. Em relação ao espaço público e ao reconhecimento da cidadania, no início do século 21, é comum que grande proporção de mulheres trabalhe e muitas delas sejam a principal fonte para o sustento da família, isto não tem significado um maior desenvolvimento e reconhecimento de sua cidadania. Em todos os países da América Latina, incluindo o Brasil, os dados mostram que existe uma grande diferença entre homens e mulheres e que a falta de eqüidade prejudica as mulheres (CABRAL; DÍAZ, 1999). Por exemplo, as meninas são incentivadas a serem passivas, sensíveis, frágeis, dependentes e todos os brinquedos e jogos infantis reforçam o seu papel de mãe e dona de casa. Segundo Medeiros (2008), depois de muitos anos de estudos e lutas das mulheres, foi sendo elaborado o conceito de gênero, que é o termo que busca explicar as relações sociais entre homens e mulheres. O conceito de gênero foi utilizado como categoria de análise primeiramente pela antropologia, que coloca o "ser mulher" ou "ser homem" como uma construção social. A palavra gênero, tirada da gramática, foi utilizada para identificar essa construção, diferenciando-a do sexo biológico. Este conceito está intimamente ligado ao processor de acumulação de riquezas do capitalismo, que precisou garantir que a descência paterna fosse determinada, para que assim os homens pudessem legar somente aos seus filhos legítimos os bens que acumularam em vida através do excedente de produção. Assim, com a consolidação da propriedade privada, tem-se a primeira divisão sexual do trabalho reservando para as mulheres a esfera doméstica (MEDEIROS, 2008). Desde então, a história da mulher foi a história da sua opressão. É, portanto com o capitalismo, que nascem as condições objetivas para a opressão feminina (BARBOSA, 2008 ). É importante definir cada conceito já que, com freqüência, eles erroneamente são usados como sinônimos. O gênero, é o conjunto de crenças, prescrições e atribuições que se constroem socialmente tendo por base a diferença sexual. Esta construção social funciona como uma espécie de “filtro” cultural, com o qual se interpreta o mundo, e também como uma espécie de armadura com a qual se constringem as decisões e oportunidades das pessoas, dependendo se têm corpo de mulher ou corpo de homem. Todas as sociedades classificam o que é “próprio” das mulheres e o que é “próprio” dos homens, e a partir dessas ideias culturais estabelecem-se as obrigações sociais de cada sexo, com uma série de proibições simbólicas (LAMAS, 2000) . A palavra “gênero” começa a ser utilizada a partir da década de 1980, pelas feministas1 americanas e inglesas, para explicar a desigualdade entre homens e mulheres, concretizada em discriminação e opressão das mulheres. Nessa época, as investigações sobre a condição social das mulheres já apontavam uma forte desigualdade entre homens e mulheres, que tendia a aumentar conforme a classe social, raça, etnia e outras condições de vida. Segundo o Dicionário dos Direitos Humanos (ESMPU, 2006), ”o sexo é uma categoria biológica insuficiente para explicar os papéis sociais atribuídos ao homem e à mulher”. A frase representa a ideia de que mulheres são passivas, emocionais e frágeis, e que os homens são ativos, racionais e fortes. Na perspectiva de gênero, essas características 1. Feminista, concernente do feminismo, sistema dos que preconizam a ampliação legal dos direitos civis e políticos da mulherou a igualdade dos direitos dela aos do homens (Antônio Olinto) . são conseqüências de uma situação histórico-cultural e política; as diferenças são produto de uma construção social. Portanto, não existe naturalmente o gênero masculino e feminino. Gênero é uma categoria relacional do feminino e do masculino. O conceito de gênero considera as diferenças biológicas entre os sexos, reconhece a desigualdade, mas não admite como justificativa para a violência, exclusão e para a desigualdade de oportunidades no trabalho, na educação e na política (DDH, 2006 ). Gênero tem a ver com feminismo, mas não é igual à mulher ou a feminismo. As relações de gênero podem ser estudadas a partir da identidade feminina e masculina. Uma análise de gênero pode se limitar a descrever as relações entre homens e mulheres. O feminismo vai além, ao mostrar que essas relações são de poder e que produzem injustiça (DDH, 2006) . A expressão gênero vem, naturalmente, se incorporando nos instrumentos normativos internacionais e na legislação dos países. No Brasil, foi introduzida na Convenção de Belém do Pará (Decreto n. 1.973, de 01/08/1996), com o objetivo de conceito de violência contra a mulher como qualquer ato ou conduta baseada no gênero. Na questão da violência, não há definição de gênero, mas do contexto se infere o conceito de relação de poder. Aparece, também, no Estatuto de Roma (Decreto nº.4.388, de 25/09/2002), com um significado mais restrito. O Tribunal Penal Internacional, criado pelo Estatuto de Roma, incorpora: a) uma definição de gênero; b) o princípio da não-discriminação baseada em gênero; c) normas de procedimento e prova proteção e participação em relação a vítimas e testemunhas de crimes de violência sexual; (d) criminaliza em nível internacional a violência sexual e de gênero. O primeiro ponto notável no estatuto, é a introdução do conceito de gênero em um instrumento legal internacional. De acordo com o art. 7º, item 3, entende-se que o termo “gênero” abrange os sexos masculino e feminino, dentro do contexto da sociedade, não lhe devendo ser atribuído qualquer outro significado. É uma redação que resultou intensa negociação com o Vaticano e os países Islâmicos, que reduzem o gênero a uma questão biológica. A expressão, dentro do contexto da sociedade, dá-lhe a perspectiva cultural necessária, embora de forma imprecisa e insuficiente. Com a criação, no Brasil, da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, em 2003, fortaleceu-se a perspectiva de gênero em todas as políticas públicas. O conceito de gênero ainda segue em construção. A identidade sexual, antes dicotômica (masculino-feminino), ampliou-se para abranger homossexuais, lésbicas, transexuais, travestis etc., que não se identificam como homens ou mulheres. Em 2008, se sabe que o suposto sexo biológico e a identidade subjetiva nem sempre coincidem (DDH, 2006). Uma das versões utililizadas em 2008 do conceito de gênero, de Marta Lamas (2000), alude a uma rede de inter-relações e interações sociais que se constroem a partir da divisão simbólica dos sexos. A mesma autora, nega qualquer base biológica e mesmo cultural à noção de gênero. A seu ver, é uma lógica de pensamento, emoções e representação da subjetividade íntima das pessoas. Segundo Lamas (2000), elaborou uma cuidadosa análise sobre a categoria de gênero apresentando dados históricos relacionados com essa categoria, bem como os diversos estudos realizados até este momento sobre o tema. Também aborda os debates mais significativos dessa problemática teórica, como: o viés androcêntrico da antropologia, a definição da categoria gênero, a oposição natureza/cultura, em que retoma Sherry Ortner e, por fim, analisa as instâncias que conformam o gênero. Depois de muitos anos de estudos e lutas das mulheres, foi sendo elaborado o conceito de gênero, que é o que busca explicar as relações sociais entre homens e mulheres, o conceito de gênero foi utilizado como categoria de análise primeiramente pela antropologia, que coloca o "ser mulher" ou "ser homem" como uma construção social. A palavra gênero, tirada da gramática, foi utilizada para identificar essa construção, diferenciando-a do sexo biológico (LAMAS, 2000). Teoricamente, parte da compreensão de que a divisão sexual do trabalho entrelaça-se à divisão social do trabalho, por este pressuposto, mulheres e homens participam de modo desigual da produção. Entende-se que no desenrolar da história a opressão de gênero ligase à opressão de classes. Para acorrente emancipacionista, o conceito se constrói historicamente considerando os valores culturais atribuídos às diferenças de sexo, é por este caminho que irão se desenvolver valores e práticas sistemáticas que diferenciam o feminino do masculino. Este sistema que se forma do surgimento entrelaçado das duas opressões, é que influencia diretamente nas relações desiguais de gênero, que por possuírem esta característica se dão nas diferenciadas camadas sociais fundadas na opressão de classe (VALADARES, 1999). Por este raciocínio, a teoria emancipacionista entende que a opressão de gênero possui bases culturais e se constrói culturalmente, o que possibilita uma aparente independência conceitual, uma vez que esta interage com as demais opressões, sobretudo com a de classe. Desta forma, agir contra a opressão de gênero significa reagir contra toda forma de opressão, buscando atribuir ao conceito de gênero um significado radical que busque romper tanto o elo estrutural levando-a para a busca da emancipação social, como o elo cultural, percorrendo caminhos próprios nas diversas esferas da sociedade, reafirmando que o socialismo, apesar da derrota de algumas experiências, “é o único projeto capaz de atribuir passagem a um processo que vise o fim das discriminações de gênero (VALADARES,1999). Portanto, a história de luta das mulheres por seus direitos, pelo reconhecimento de sua condição humana desnuda a raiz da opressão empreendida pelo sistema capitalista em sua afirmação sendo, aqui no Brasil, tão longa quanto à história deste país, embora ela não seja contada senão pelos esforços das próprias mulheres e alguns homens em visibilizá-la. Assim, como o racismo, conseqüência do colonialismo, excluiu os povos de origem africana e promoveu o genocídio dos povos indígenas na formação do povo brasileiro, o sexismo2 eliminou quase todos os registros de resistência e luta da parcela feminina da sociedade brasileira. Entretanto, embora geralmente não conste dos registros documentados, as mulheres protagonizaram importantes mudanças no Brasil, durante o século 20 em que foi significativo o desempenho sócio econômico do país. Até a presente data, o movimento feminista ou variados contextos provocando profundas mudanças no ambiente doméstico e nos espaços públicos indicando que em casa, no mercado de trabalho e na política, as mulheres brasileiras já não são mais as 2- Sexismo é a discriminação ou tratamento indigno a um determinado gênero ou ainda determinada identidade sexual. Para a Psicolgia, o Sexismo é m regine cultral onde um sexo teta sobrepor ao outro (Antônio Olinto). mesmas, estão em luta permanente para mudar seu país e construir um mundo fraterno, sem desigualdades, com justiça social e livre de toda opressão. No decorrer de sua história o movimento tem ressaltado a compreensão de que a construção do ser mulher, inclusive na luta feminista, não é homogênea. Há especificidades a serem compreendidas implicando tanto para dentro de sua construção como para fora relações de poder, tensões e conflitos. Percebe-se que as mulheres e homens no Brasil tiveram uma história de conquista no espaço social, na família, na escola e no trabalho. Com a pesquisa, pode-se verificar se os alunos no bairro do Capão Redondo no Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos vivem a desigualdade social; se a relação de gênero é uma questão de poder; se vivem assim ao longo da história; se as mulheres podem ser frágeis; se os homens podem cuidar das mulheres e se cada família pode ressignificar as relações de gênero. 1.1 Objetivo Geral Apontar algumas pistas, sobre as relações de poder, gênero e sexualidade na Educação de Jovens e Adultos. 1.2 Objetivos Específicos Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivos específicos: 1. Promover algumas reflexões sobre as relações de poder, gênero e sexualidade no processo de ensino aprendizagem. 2. Refletir sobre o “ser biológico” e o “ser cultural”, respeitando as diferenças de gênero. 3. Apontar algumas ações na sala de aula para que contribuam nas relações de gênero sem preconceito. 1.3 Metodologia da Pesquisa O trabalho foi desenvolvido através de Artigos, Literaturas, Depoimentos e Pesquisa de Campo. Participaram da pesquisa de campo: 03 mulheres e 03 homens de faixa etária entre 30 e 58 anos que estudam no Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos, localizado no bairro do Capão Redondo, periferia da região Sul, de São Paulo. O questionário foi utilizado na Pesquisa de Campo organizado com questões abertas de cunho qualitativo, favorecendo as questões no âmbito social, com a intensão de provocar uma reflexão quanto a mudança de estereótipo. O método utilizado inclui concepções teóricas de abordagens e como instrumentos investigativos de amostragem. Foram realizadas entrevistas e relatos de vivêncas gravados, com autorização envolvidos, de modo que os registros são de maior fidelidade dos dados obtidos que possibilitamram a apreensão da realidade desse universo. Foram apresentados os objetivos da pesquisa ao gestor do Centro Integrado, e em seguida, à alunos da EJA em dia e horário pré-estabelecido pelo gestor. Os alunos que voluntariamente aceitaram participar da pesquisa de campo, receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para tomarem ciência e responderem as questões. Em seguida, participaram da entrevista e fizeram relatos de vivências para a coleta de dados. Por questões de fidelidade, os alunos entrevistados serão chamados por: A, B, C, D, E e F. Após a Pesquisa de Campo, os dados coletados foram processados e sistematizados, tendo em consideração o referêncial teórico que fundamenta e orienta a presente pesquisa. 2. A MULHER E O PODER Defini-se poder, na sua mais pura essência, como capacidade ou possibilidade de agir, de produzir efeitos. Essa capacidade é bastante abrangente pode se referir a pessoas e/ou grupos sociais, coisas e animais. Todavia, a acepção que nos interessa neste trabalho é o poder na sua relação com o homem na sociedade, ou seja, como ela se dá quais os seus componentes e funções. Vários autores definiram poder como algo que se possui e do qual se faz uso voluntário, para o beneficio de quem o possui, sempre. No entanto, não existe poder se não existe ao lado de quem induz a quem induzir daí esse caráter relacional inerente ao poder "o poder social não é uma coisa ou sua posse: é uma relação entre pessoas," e como em toda a relação há um propósito que une os integrantes dela, daí o poder ser considerado uma relação triádica (IZQUIERDO, 1994). De acordo com Kant (1998), liberdade e lei (pela qual a liberdade é limitada) são os dois eixos em torno dos quais gira a legislação civil. Mas, a fim de que a lei seja eficaz, em vez de ser uma simples recomendação, deve ser acrescentado um meio-termo, o poder, que, ligado aos princípios da liberdade, garanta o sucesso dos da lei. É possível conceber apenas quatro formas de combinação desse único elemento com os dois primeiros: A. Lei e liberdade sem poder (Anarquia). B. Lei e poder sem liberdade (Despotismo). C. Poder sem liberdade nem lei (Barbárie). D. Poder com liberdade e lei (República). Segundo Izquierdo (1994), as posições ocupadas por homens e mulheres na sociedade Ocidental, especialmente em determinados segmentos sociais, são ainda marcadas pela simetria e por uma desproporção na divisão de poder, quase sempre favorecendo os homens. Essa assimetria, está também presente na escola como um espaço de acomodação e resistência. Na sociedade ocidental, coloca masculino e feminino como oposição, estende-se para as definições do que é ser homem e mulher, professora e professor. São atribuídas às mulheres características culturalmente definidas que, nessa sociedade, são muitas vezes naturalizadas como base nas diferenças físicas que as distinguem dos homens. 2.1 O Poder nas Relações de Gênero Os significados de gênero, vinculam-se a muitos tipos de representações culturais e estabelecem termos pelos quais as relações entre mulheres e homens são organizadas e compreedidas. O cuidado, por exemplo, é visto como uma característica de gênero feminino, para alguns um sentimento natural, para outros fruto da socialização das mulheres. Segundo Izquierdo (1994), considera que o ato de cuidar, fundamental na relação com a criança, deve ser encarado como uma atividade que envolve compromisso moral de dedicação ao outro e independente do sexo de quem executa. Reforça-se a desigualdade de gênero quando não posiciona-se criticamente, e sem maiores ponderações, diante de atitudes preconceituosas (IZQUIERDO, 1994). A opressão na mulher, portanto, não seria algo natural, mas determinado pelo posicionamento na mulher, e do homem no sistema de produção e reprodução de sociedades determinadas. A origem da opressão na mulher está, portanto, ligada às transformações ocorridas nas relações humanas desde as primeiras sociedades que se conhece. As descobertas antropológicas permitem afirmar que a mulher, embora não oprimida em se nascimento, passa a sê-lo devido a inúmeroas fatores, dentre os quais os decisivos foram as relações econômicas, que depois determinaram toda a superestrutura ideológica de sustentação dessa opressão: as crenças, valores, costumes, cultura em geral (TOLEDO, 2005, p. 32). O trabalho não criativo, aliena o homem e a natureza, a sua função ativa própria, a sua atividade vital, e com issso, aliena do homem o gênero. Ele o aliena dos outros homens. Nesse momento surge a alienação sexual, a separação, desigualdade entre os sexos. Essa separação é , portanto, um fato histórico, tanto quanto a alienação do trabalhador em relação a seu trabalho, o surgimento da exploração, da propriedade privada e a divisão da sociedade em clases (TOLEDO, 2005, p. 36). Para Scott (1992), a noção política de igualdade inclui o reconhecimento da existência da diferença, pois, do contrário, a igualdade poderia ser definida como uma indiferença deliberada diante das distinções específicas para um determinado contexto. Evidentemente, como bem assinalado por Correa e Petchesky (apud- Scott, 1992), para o exercício pleno de direitos são necessárias condições de possibilidades, ou seja, condições sociais que garantam de maneira democrática o livre exercício desses direitos, e para isso são necessárias transformações sociais que eliminem toda e qualquer forma de diferenciação e exclusão social, não somente a de gênero. Existem muitos caminhos pelos quais se pode conseguir essas transformações, porém entende-se que a educação é a principal via para isso, e no que diz respeito às questões de gênero, especificamente a Educação Sexual. Todavia, ao pensar em gênero culturalmente pode-se perceber a divisão de tarefas, de posturas sociais, de vestimentas que define as bases do papel da mulher e que tem determinado sua posição na sociedade ao longo da história humana, à raiz de uma conseqüência biológica, a capacidade de gerar filhos. A partir disto, se estabelece um dos mais importantes mecanismos de controle e poder, o controle da reprodução, que não podendo ser desvinculada da mulher, determina “esse seu lugar social”. Portanto, a diferença de gênero é um desafio permanente, e é preciso estar atento para a utilização social e política de seus significados, que podem resultar em preconceitos. 2.2 O Poder na Sexualidade A sexualidade como objeto de estudo, tem sido investigada e discutida nas mais diversas disciplinas. A experiência sexual humana, assim como qualquer outra experiência humana, é produto de um complexo conjunto de processos sociais, cultural, históricos e também, biológico. O corpo e seus usos se estruturam como linguagem que simboliza, significa e comunica as expectativas abarcadas por um determinado contexto histórico e cultural ( CHACHAM; MAIA, 2004, pp.75-79). Segundo essas autoras, pensar corpo e sexualidade da mulher brasileira, a inclusão de questões de diversidade e diferença, dentro de uma realidade maior, é importante nas tentativas de entender as características da vida sexual, que toma formas plurais. Os direitos sexuais incluem, entre outros: a liberdade de finalidade do exercício da sexualidade, seja recreativa, comunicativa, ou reprodutiva; o respeito às decisões pessoais em torno da preferência sexual; a expressão e o livre exercício da orientação sexual; a liberdade de escolha de companheira/o sexual; escolha de atividades sexuais de preferência da pessoa. A expansão dos direitos ligados ao exercício da sexualidade, ou direitos sexuais, tem avançado de maneira progressiva, ainda que lenta e comparada ao nível de reconhecimento obtido pelos direitos reprodutivos por organismos e documentos internacionais, como os da Organização das Nações Unidas (ONU). Um longo caminho que vem desde o levante da “segunda onda”3 da feminista nas décadas de 1960 e 1970, perpassando a chamada “revolução sexual”4, da invenção da pílula anticoncepcional e as Conferências mundiais da ONU sobre população e desenvolvimento, culminando,apesar de tantas disputas, na plataforma de ação elaborada para IV Conferência Mundial da Mulher em Pequim, em 1995. A referida Conferência avançou alguns passos no sentido de afirmar o direito do livre exercício da sexualidade como parte dos direitos humanos. Pela primeira vez em um documento da ONU, as mulheres são consideradas seres sexuais além de seres reprodutivos, detentoras de direitos humanos para decidir livremente sobre sua sexualidade, sem qualquer menção qualificando sua idade, estado civil ou orientação sexual, apesar da expressão “direitos sexuais” ter sido substituída por “direitos humanos” na versão final (PETCHESKY, 1999, p. 20). A concepção de direitos sexuais tal como estabelecida nessa declaração está baseada na construção destes como direitos “negativos”: o direito de não ser vítima de estupro, abuso, tráfico, exploração, mutilação e de outras formas de violência sexual. Obviamente, é indiscutível que ser livre de coação, violência e abusos sexuais é um direito fundamental da mulher (nenhuma mulher pode gozar plenamente de sua sexualidade sob ameaça de estupro, espancamento e de uma gravidez indesejada). No entanto, o fato de as mulheres só constarem como vítimas em vez de como agentes no exercício da sua sexualidade reforça a visão patriarcal na qual as mulheres são seres dessexualizados, sem poder e vítimas passivas da violência do homem (PETCHISKY,1999, p. 21). Ao mesmo tempo, Corrêa (2002) aponta algumas questões que podem ser levantadas em relação à adoção desses preceitos: 3. Segunda Onda, após a segunda Guerra Mundial, trouxe novas reinvindicações de direitos, deu prioridade às lutas pelo direito ao corpo, ao prazer, e contra o patriarcado, na década de 60 (LOURO, 1997). 4. Revolução sexual, movimento sócio-político, sociedade ocidental, séc XX, século de repressão, testemunhado entre meados dos anos 60 e início dos anos 70 (SILVA, 2010). • Pode-se assumir que igualdade,neste caso, significa que todos os parceiros devam ser “iguais”? • O que significa ser igual na sexualidade? • Significa que tudo é permitido entre adultos ou deve-se falar sempre de adultos que consentem? • Como discutir relações entre adultos com posições de poder diferenciadas? • Pode a idade adulta constituir o domínio exclusivo da sexualidade e ser definida exclusivamente em termos civis e legais por meio da idade? • Ou deve incluir aspectos relatados ao poder diferenciado entre pessoas? Para Miller (2001), uma importante implicação prática para entender como discriminações se interrelacionam será testar qualquer conceituação teórica dos direitos sexuais em sua capacidade de servir igualmente bem as pessoas de diferentes práticas e identidades: identidade de gênero, orientação sexual, idade, raça, condições de saúde física e mental e diferentes capacidades. A reprodução se processa no corpo e, portanto, a pessoa poderá enfrentar conflitos para seu controle. A sexualidade, reprodução e controle social do corpo, estão diretamente ligados à estratégia das relações de poder sexual. É importante observar que o corpo, e não só a consciência das pessoas tem sido objeto de dominação. Toda e qualquer sociedade têm práticas regulatórias do corpo. No caso específico da cultura Ocidental, esse controle tem sido exercido através da sexualidade visando não só sua execração, mas sua normatização e disciplinariedade, pois afinal o que está supostamente em questão é a espécie e a própria ordem social, dentro de um contexto basicamente econômico. O que vai justificar uma intervenção pública, no que é de domínio privado, desconsiderando totalmente a autonomia sexual e cidadã das pessoas, principalmente das mulheres e não só nas questões de gênero. Se a educação, sem dúvida, é um dos processos pelos quais se facilita a construção e estruturação da identidade e da autonomia dos indivíduos, esse processo se intensifica quando as ações se localizam na área que faz parte de todo o ciclo vital dos seres humanos que é a sexualidade (LOURO,1997). A escola é um espaço social que pode propiciar o sexismo que permeia toda a sociedade. Chamando a atenção para a “força” mitificadora e padronizadora dos preconceitos. Meirelles (1997, p.78), recupera frases do cotidiano que atribuem aos significados femininos conotações negativas, como as lembradas por Costa (1995) em relação às professoras que fala que a “fómula do casamento duradouro: sopa quente, sexo sempre” , “ meu lado feminino é lésbico”, O preconceito nas questões de gênero, pode afetar meninas e meninos, mulheres e homens, nas salas de aula ou no espaço escolar, tem base em um sistema educacional que reproduz, em alguns momentos, as estruturas de poder, de previlégios de um sexo sobre o outro na Sociedade Ocidental e aparecem até mesmo nos livros didáticos e nas relações escolares (ROSEMBERG,1997). O ambiente escolar, pode reproduzir imagens negativas e preconceituosas, por exemplo, quando professores relacionam o rendimento de suas alunas ao esforço e ao bom comportamento, ou quando tratam apenas como foram esforçadas e quase nunca como potencialmente brilhantes, capazes de ousadia e liderança. O mesmo pode ocorrer com os alunos quando estes não correspondem a um modelo masculino predeterminado. Essa situação pode ser ampliada para professoras e professores. Estes se espera um comportamento mais enérgico, fruto da qualificação positiva atribuída à relação entre feminino e masculinidade /agressividade: já as professoras são tidas como afetivas e ternas, e quando expressam agressividade, são consideradas pouco femininas ou com problemas hormonais (ROSEMBERG, 1997, p. 102-103). 2.3 Os Sentidos da Sexualidade: Natureza, Cultura e Educação Existem questões centrais quando se fala de sexualidade: O que é uma sexualidade verdadeiramente humana? Pensar a sexualdade é pensar em tudo que é vida? O espaço da sexualidade é o espaço do corpo físico, do corpo biológico, do corpo pulsional, com suas cargas e tensões (MEIRELLES, 1997, p. 76). Considerar a sexualidade como uma função biológica ou algo determinado pela cultura é reforçar a problemática constante: “irracionalidade biológica versus racionalidade social” (LORENCINI JÚNIOR, 1997, p. 92). O autor, apresenta a sexualidade sob duas perspectivas distintas, porém complementares. A primeira se refere à natureza do sexo na espécie humana, no aspecto biológico. Já a segunda perspectiva se refere à sexualidade cultural, examinando como os aspectos culturais influem sobre o indivíduo e sua herança bilógica, delimitando uma “cultura da sexualidade” (LORENCINI JÚNIOR,1997, p. 88). Pensar em sexualidade, família e escola pelo princípio da não exclusão, isto é, pensar em sistemas interagentes por intermédio de processos cujos princípios de convergência (vinculação, união) e complementariedade ( respeito pelas diferenças) estejam estabelecidos (MEIRELLES, 1997, p.82). Tendo em vista que tanto os aspectos biológicos como os culturais são igualmente importantes, propõe-se uma unidade entre eles que possibilite compreender a sexualidade humana e dotá-la de sentidos. Dessa forma, o processo educativo no âmbito escolar pode ser um possível caminho para que ocorra a ressignificação da sexualidade (LORENCINI JÚNIOR, 1997, p.88-89). 2.4 A Importância da Sexualidade nas Ações Pedagógicas na Sala de Aula Muitas escolas abriram espaço para a temática da sexualidade na década de 80, no Município de São Paulo, apenas por meio de palestras, encontros e debates a cargo de psicólogos, médicos, ou pela abordagem ampliada dos conteúdos relativos à reprodução humana na disciplina de ciências. Em 1989, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, sob a responsabilidade do Professor Paulo Freire5, decidiu implantar a Orientação Sexual inicialmente nas escolas de Ensino Fundamental I (1º a 4º ano) e depois nas de Educação Infantil. A formação dos educadores ficou sob a responsabilidade do GTPOS6. Em 1992, o trabalho nas escolas Municipais de São Paulo atingiu cerca de 12 mil alunos. 5. Paulo Freire, Pernambucano de nascimento (1921-1997), foi um educador brasileiro. Destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica (PAULO FREIRE, 2009). Já em 1995, o MEC coordenou a elaboração dos PCNs7. Essa proposta incluiu a Orientação Sexual como um dos temas transversais a serem abordados em todas as séries de forma articulada com as disciplinas e outros temas como Ética, Saúde, Meio Ambiente e Pluralidade Cultural. Evidentemente incorporar gênero de maneira transversal na escola, é a possibilidade de ampliar o debate, conhecer e reconhecer que existem relações desiguais 6. GTPOS: Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual. Psicólogos e Pedagogos que dedicam desde 1987, à formação dos profissionais para o trabalho com orientação sexual, na área da educação e da saúde (GTPOS, 1994). 7. PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais, são referências de qualidade para os Ensinos Fundamental e Médio do país, elaboradas pelo Governo Federal. O objetivo é propiciar subsídios à elaboração e reelaboração do currículo, tendo em vista um projeto pedagógico em função da cidadania do aluno e uma escola em que se aprende mais e melhor (BRASIL, 1998, p. 62). entre homens e mulheres, e poder com isso refletir e visualizar a possibilidade de construção de novas relações. Todavia, trabalhar gênero, em um espaço específico junto à sexualidade, é a possibilidade de garantir ações mais efetivas na desconstrução desse modelo tão arraigado, construído e estruturado no desenvolvimento sexual que tanto tem prejudicado as mulheres e consequentemente os homens também. Refletir sobre a importância do trabalho de orientação sexual, relações de poder no gênero, propiciando alguns momentos de debates, leituras e integração dos profissionais da educação num possível trabalho interdisciplinar com temas relevantes. Na escola, a sala de aula poderá representar um espaço onde diferentes aspectos que configuram a cultura poderão estar presentes: valores, interesses, ideologias, costumes, crenças, atitudes, tipos de organização familiar, econômica e social, como também diferentes padrões de comportamento sexual. Desse modo, a sala de aula porerá se tornar um ambiente cultural onde encontramos tensões, contradições e conflitos (LORENCINI JÚNIOR, 1997, p.93). A ressignificação da sexualidade só será possível se a própria sala de aula for ressignificada, passando a se construir como um espaço realmente democrático, onde as opiniões, incertezas, divergências, sentimentos, vontades e diferenças forem consideradas, discutidas, e quando possível, superadas. Como diz Freire (1997, 95): Mulheres e homens, seres histórico-sociais, nos tornamos capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo isso, nos fizemos seres éticos. Só somos porque estamos sendo. Estar sendo é a condição, entre nós, para ser. Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma transgressão. É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é substantivamente formar. O ser humano é um “todo” corpo e mente agindo ao mesmo tempo. Na prática geralmente se apresenta uma separação entre o corpo e mente. Ao acreditar nisso, os educadores entram na sala de aula para ensinar como se apenas a mente estivesse presente, e não o corpo. Chamar a atenção para o corpo é trair o legado de repressão e de negação que nos tem sido assado por nossos antecessores na profissão docente. Todos esses temas demonstram a complexidades de fatores e aspectos que estão interligados e que influem sobre a sexualidade humana. Portanto, somente informações e orientaçãos a respeito da anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor, muito embora sejam necessárias, não são suficientes para que possamos compreender a problematização que envolve um determinado tópico da “biologia sexual” . Assim, a partir de um tema amplo, delimitado e envolvido por aspectos culturais pode-se buscar o conhecimento, o entendimento e a compreensão dos aspctos biológicos da sexualidade humana (LORENCINI JÚNIOR, 1997, p.94). Lorencini Júnior (1997), propõe uma reflexão sobre a questão da sexualidade: • Sexualidade e família a escola. • Qual sexualidade, qual família, qual escola? • Escola e família na sexualidade. • Por que escola, por que família, por que sexualidade? • Sexualidade e escola na família. • Para que sexualidade, para que escola, para que família? • Sexualidade e família na escola, quando? • Escola e família na sexualidade, onde? Resta ainda um desafio, porém, não basta que o tratamento das diferenças de gênero no espaço escolar embase relaçãoes de complementariedade entre mulheres e homens, pois neste caso o que é complementar pode também supor relação hierárquica de poder; assim a subordinação entre mulheres e homens não necessariamente desapareceria (LOURO, 1997, p. 127). 3. ESTUDO DE CASO [...] muitas vezes basta ser: Colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita [...] CoraCoralina 3.1 Caracterização Ambiental O estudo de caso deste Trabalho de Conclusão de Curso foi desenvolvido no Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos- CIEJA, que pertence à Subprefeitura de Educação do Campo Limpo. Ele está localizado no bairro do Capão Redondo, na periferia da região Sul da Cidade de São Paulo. A Região apresenta uma população de 270.826 habitantes, distribuídos em várias faixas etárias conforme dados do IBGE, (2008): DISTRITO DE CAPÃO REDONDO Pertencente à Subprefeitura do Campo Limpo População total: 270.826 habitantes População de 0 a 9 anos: 50.291 habitantes População de 10 a 14 anos: 22.665 habitantes População de 15 a 19 anos: 21.063 habitantes População de 20 a 29 anos: 45.607 habitantes População de 30 a 59 anos: 111.182 habitantes População com 60 anos ou mais: 20.018 habitantes A comunidade conta com poucas empresas, portanto a população local vê-se obrigada a grandes deslocamentos diários, em busca de trabalho em outros bairros da Capital e Grande São Paulo, despendendo nisso muitas horas e grande sacrifício em transportes coletivos precários e com superlotação. O atendimento médico à região é precário, havendo algumas UBS e postos de saúde. Quanto ao atendimento hospitalar, somente o Hospital Municipal de Campo Limpo ou o recém inaugurado Hospital de M’ Boi Mirim, um pouco distante, com uma grande demanda de atendimento. A falta de áreas de recreação e lazer adequadas para os jovens aprofunda ainda mais a instabilidade social do bairro, pois, aliada à falta de oportunidades de emprego, deixa-os vulneráveis, canalizando as energias da clientela para a violência e a criminalidade. Culturalmente , a região é desprovida de recursos públicos destinados à cultura. Possuem muitas iniciativas de grupos que são sensíveis a essa questão e se organizam em prol da comunidade, produzindo cultura a todo vapor com o melhor recurso, o recurso humano, necessitando de ampliações por não atenderem a demanda local. Assim como: • Sacolão das Artes: oferece programação de teatro, música, oficinas, filmes, debates.etc; • CDHEP (Centro de Direitos Humanos e Educação Popular): que articula os trabalhos de vários espaços dessa comunidade com ações sociais e políticas; • Casa do Zezinho: desenvolve um trabalho com crianças e jovens, despertando-os para as artes e ofícios; • Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia): que realiza saraus de poesias e músicas, sessões de filmes, amostra cultural, debates...; • Casa de Cultura de M’Boi Mirim: oferece cursos, aulas de danças, esportes, festas “Panelafro”; • Liga do Vinil: grupo que organiza encontros, bailes com melodias nostálgicas, valorizando as relações do passado e estabeler novos vínculos. A diversidade da população é que faz a riqueza da região. 3.2 Caracterização da Escola Trata-se de um projeto da prefeitura de São Paulo, Ensino Fundamental –EJA, para atender jovens e adultos, com necessidades especiais, moradores de rua, jovens em risco social, donas de casa, profissionais que têm horários flexíveis (plantonistas) e moradores da região. Acreditam no respeito, na solidariedade, na sustentabilidade, criticidade e muito diálogo. A educação é para a vida. O atendimento do CIEJA acontece em seis turnos distribuídos em 4 (quatro) Módulos, cada um com duração de 1 (um) ano, 200 dias letivos, sendo cada período de 2h15, com possibilidade de flexibilização ao educando. Módulo I-Alfabetização; Módulo II- Pós- alfabetização; Módulo III-Complementar; Módulo IV-Final. Oferece, também, o Itinerário Formativo: É uma qualificação profissional na área de Informática, inicial, básica, Intermediário e avançado. O curso é organizado segundo a Base Nacional Comum do Currículo do Ensino Fundamental, composto por Áreas de Conhecimentos, com duração e carga horária definida e freqüência obrigatória. As aulas são ministradas com dupla docência, sendo: • Linguagens e Códigos (Português, Inglês, Artes e Ed. Física); • Ciências da Natureza (Ciências e Matemática); • Ciências Humanas (História e Geografia). O CIEJA tem como missão: “Integrar e reintegrar o ser educando, elaborar e transformar os seus conhecimentos em ferramentas para atuar em seu meio, transformando-o”. Oferece, também, um trabalho que favorece o desenvolvimento de competências e habilidades, considerando e respeitando a diversidade, na motivação do saber fazer, saber ser, saber aprender e saber conviver, em busca de visão de um mundo melhor para todos. É uma educação voltada para o exercício da cidadania, para a solidariedade, a justiça social e postura crítica frente à realidade, visando à satisfação das necessidades básicas de aprendizagem dos jovens e adultos, de modo que possam alcançar patamares comuns de escolaridade, percorrendo trajetórias escolares distintas. O CIEJA, realiza ações que promove as relações, sem nenhum tipo de preconceito ou discriminação, entre pessoas com diferenças de cultura, etnia, idade, gênero, orientação sexual, ascendência nacional, origem e posição social, profissão, religião, opinião política, estado de saúde, portador de necessidade, aparência física, ou outra diversidade. Os educandos do CIEJA, residem nesta região, especificamente nos bairros Capão Redondo, Parque Santo Antônio e Jardim Ângela, Bairros conhecidos pela violência que marca o seu dia a dia. Há maioria da população é carente, geralmente migrada de outros Estados do Brasil da região Nordeste. A estrutura urbana oferece água encanada em boa parte das casas, assim como eletricidade. Poucas, porém, usufruem de esgotos públicos, calçamento e iluminação. Esse contexto transforma os alunos em verdadeiros sobreviventes, para os quais o dia-a-dia é uma batalha pela manutenção da vida e dos poucos bens materiais de que dispõem. São heróis todos os dias. Dentro desse quadro, estudar, para uns, torna-se a única forma de escapar desse ambiente, e, para outros, uma atividade de rotina, desvinculada das finalidades que levam a direção, coordenação e docentes à tarefa diária de oferecer-lhes as melhores condições possíveis de educação e inserção no ambiente social. 3.3 Pesquisa de Campo A Pesquisa foi realizada com 06 alunos, sendo 03 do sexo feminino e 03 do sexo masculino. Para referir aos entrevistados, foram denominados de A (fem), B (fem), C (fem), D (masc), E (masc) e F (masc). 3.3.1. Direito de Estudar Ao serem questionados sobre de quem é o direito de estudar? Estes responderam que: a) Entrevistado: A (fem) “....ainda criança costumava ouvir meu pai dizendo, pra que mulher tem que ir para o grupo escolar”? Para fazer a comida, lavar os pratos e cuidar de menino, não precisa......Sonhava em aprender a ler e escrever, queria escrever carta.........Até que um dia apareceu um moço da cidade e começou ensinar os meninos (homens), ficava escutando de longe e assim aprendi o ABC. “Passado muito tempo , muitas coisas aconteceram, casei,........ separei, hoje estou aqui nesta escola, tentando aprender a ler e escrever”. b) Entrevistado: B (fem) “....meu esposo também não teve oportunidade de terminar os estudos, mas achava que eu deveria voltar para escola, trabalho e chego mais cedo em casa....ficava sem coragem de deixar as crianças a noite, e o tempo foi passando.............. até que um dia, uma colega me disse que tinha uma escola com horários diferentes e com menos tempo de aula, fui conhecer, adorei, estou agora fazendo o módulo III e o que aprendo, consigo ajudar meus filhos nas lições...meu esposo começa no ano que vem....O direito é de todos”! c) Entervistado: D (masc) “.....não sou contra a mulher estudar, só que a mulher tem muitas coisas de casa para fazer, então fica difícil. Aqui na escola tem mais mulher do que homem, acho bom e não vejo elas reclamarem do serviço e da escola, são lutadoras...” É possível perceber divergências nas falas dos entrevistados, quando se trata dos direitos da mulher ou do homem. A esse respeito, Scott (1992), comenta que: Ao pensar em gênero culturalmente pode-se perceber a divisão de tarefas, posturas sociasis, de vestimentas que define as bases do papel da mulher e que tem determinado sua posição na sociedade ao londo da história. (...) Portanto, a diferença de gênero é um desafio permanente, e é preciso estar atento para a utilização social e política de seus significados, que podem resultar em preconceitos. 3.3.2. Interrupção dos Estudos Em seguida, indagou-se : Existiu alguma razão para você ter interrompido os estudos? Nesta questão, foram obtidas as seguintes respostas: a)Entrevistado: A (fem) “.... eu não estudei, nasci em PE, meu pai achava que mulher não precisava de estudo. Em 2001, quando cheguei em São Paulo, conheci meu esposo. A partir desse dia, minha vida não foi mais minha. Esse homem decidia tudo por mim, o que vestir, onde ir, com quem falar, o que falar, .....Fui me acomodando, não via nenhua chance de voltar para escola, fui permitindo tudo isso... Depois de 07 anos ao lado dessa pessoa, dei um basta, foi complicado, envolveu família, vizinhos e até polícia. Más não me arrependo. Hoje estudo, busco vencer minhas dificuldades para realizar meu sonho que é fazer enfermagem. Sinto que estava adormecida e hoje tive a oportunidade de viver novamente...” b) Entrevistado: C (fem) “...olha...... eu já sofri muito por isso, antes foi meu pai, depois os filhos que eram pequenos e agora enfrento o desafio de convencer meu esposo à deixar eu terminar...Ele fala que já não tenho mais idade, e as vezes fica me julgando , diz que venho só para passear...”. c) Entrevistado: E ( masc) “...quando jovem não estudei porque só queria ficar na rua e namorar...meu pai me fez procurar trabalho e assim a escola ficou para trás. É o meu segundo ano aqui na escola, me arrependo do tempo que perdi, mas ao mesmo tempo, sou feliz por estar aqui e de conhecer muitas pessoas da minha idade, mais novos e mais velhos , tem muitas mulheres, ...é bom... sentamos tudo misturado mulher com homem....a gente aprende muito... A única razão foi minha falta de interesse.” Ver-se que as dificuldades apresentadas pelos educandos do sexo feminino, sempre sob subordinação ao homem, e as razões do sexo masculino foi por decisão pessoal, foram com razões diferentes. Para Scott (1992), o exercício pleno de direitos são necessárias condições de possibilidades, ou seja, condições sociais que garantam de maneira democrática o livre exercício desses direitos, e para isso são necessárias transformações sociais que eliminem toda e qualquer forma de diferenciação e exclusão social, não somente de gênero. Conforme visto na parte teórica, Lamas (2000), afirma que : Todas as sociedades classificam o que é “próprio” das mulheres e o que é “próprio” dos homens, e a partir dessas ideias culturais estabelecem-se as obrigações sociais de cada sexo, com uma série de proibições simbólicas. 3.3.3. Diferença de Gênero Ao perguntar aos educandos, como eles observam as relações entre mulheres e homens no CIEJA, a maioria respondeu: a) Entrevistado: A (fem) “... quando fiz minha matrícula, estranhei um pouco, era todo mundo junto na mesa, as vezes chegava atrasada tinha mais homens que mulher onde sobrava um lugar, ficava sem jeito, passava o encontro todo sem falar com ninguém, depois fui acostumando, eles também...hoje a gente brinca, fala da família, dos problemas, resolve as atividades juntos .... Só que lá fora isso não acontece”. b) Entrevistado: E (masc) “...não vejo problemas nas relações entre os homens e as mulheres aqui, tem professoras e professores, eles debatem bem essa questão, a gente é tradado igual.....estuda tudo junto...mais novo com mais velho....homem ...com mulher....…sentamos na mesma mesa....Não existe diferença. Pena que em outros lugares não é assim.” Foi muito clara a fala dos educandos, que perceberam a diferença nas relações de gênero dentro do CIEJA, consideram as ações propostas pelos educadores muito boas e que assim tem contribuido nas relações de gênero. Nesse aspecto cabe ressaltar as palavras de Lorencini Júnior (1997), quando afirma que: [...] na escola, a sala de aula poderá representar um espaço onde diferentes aspectos que configuram a cultura poderão estar presentes: valores, interesses, ideologias, costumes, crenças, atitudes, tipos de organização familiar econômica e social, como também diferentes padrões de comportamento sexual. Desse modo, a sala de aula poderá se tornar um ambiente cultural onde encontramos tensões, contradições e conflitos. Lorencini Junior (1997), também, considera que tanto os aspectos biológicos como os culturais, são igualmente importantes, propõe-se uma unidade entre eles que possibilite compreeder a sexualidade humana e dotá-la de sentidos. Dessa forma, o processo educativo no âmbito escolar pode ser um possível caminho para que ocorra a ressignificação da sexualidae nos gêneros. 3.3.4. Convivência entre Mulheres e Homens Ao serem interrogados sobre: Como é a convivência entre mulheres e homens na família? Estes relataram que: a) Entrevistado: B (fem) “....não vejo problemas, ou seja, na minha casa, é claro. Tenho duas meninas e um menino, ensinei tudo igual para os três, no início a minha sogra dava palpites, queria me ensinar diferente, achava que as meninas ficavam muito soltas, só porque brincavam com os meninos da rua. Não deixei ela atrapalhar nossa vida, meu marido aceitava do meu jeito, hoje eles estão adolescentes, me ajudam, estudam...acredito que deveria ser assim em todas as famílias.......”. b) Entrevistado: E (masc) “... lá em casa....(risos).... sempre foi muito separado, mulher e homem, faziam coisas diferentes, até hoje, quando tem encontro da família, as mulheres sempre ficam na cozinha, preparando tudo e ali mesmo que conversam sobre os filhos, os homens vendo TV, falando do trabalho, dos cursos ou jogando cartas..... As vezes as mais jovens reclamam e pedem ajuda na hora de recolher a louça, já acostumamos assim, não muda mais”. c) Entrevistado: F (masc) “....em casa eu não falo muito das conversas da escola e do trabalho, acho que minha esposa não vai gostar........nem trouxe na festa junina...ela iria dizer que venho para arranjar outra na escola......então não falo muita coisa... Ela também não conta, se conversa com os homens no trabalho.. O que os olhos não vê, o coração não sente. A gente não faz muita coisa de casa juntos...”. Os três relatos demonstram as marcas do preconceito a relação de poder no gênero, mesmo destacando em uma família uma relação de igualdade de oportunidade, de direitos e deveres, não é maioria ainda. Conforme visto na parte teórica, Meirelles (1997, p. 75,76) defende que abordar a sexualidade e família na escola é mostrar processos interativos dentro de sistemas humanos, nos quais a unidade individual básica é um sujeito biopsíquico, social, de natureza trigeracional, que se integra à natureza como espécie biológica com características específicas: que, para sua sobrevivência e subsistência, se apropria dessa mesma natureza com responsabilidade dos mecanismos dessa apropriação: que é produto da evolução histórica da humanidade: que determina e é determinado pelas inter-relações entre os substratos naturais e os diversos tipos de organizações familiares: que aceita, reconhece e valoriza as diversidades culturais, a sociogênese: que crê no futuro aberto da sociedade na qual está inserido. Meirelles (1997, p. 85), ainda afirma que : Educar ecologicamente (por meio de múltiplas linguagens, do mais simples para o mais complexo, do eu para o mundo, da ação concreta mais próxima para a abstração mais distante, e de atitudes contínuas de reciclágem do saber, procurando conhecer como conhecemos, aprender como percebemos e construímos realidades) é o pleno exercício de todas as “inteligências”, da sexualidade na teoria e na prática. Esse é o compromisso fundamental da família e da escola. 3.3.5. CIEJA e Mudança na Vida Finalizando as questões, indagou-se: O CIEJA influenciou em alguma mudança na sua vida? E os comentátios foram: a) Entrevistado: A (fem) “....Olha professora, eu disse a senhora que hoje estou vivendo tudo que não vivi, e então, aqui tenho amigos, sou respeitada, posso falar o que penso, pergunto quando não entendo, sabe como é? Sou feliz de verdade, e quem me conhece há muito tempo, diz que estou até mais moça, que a escola me faz bem de verdade. Não tenho pressa pra sair, quero é viver assim..... feliz”! b) Entrevistado: C (fem) “...quando iniciei, tinha algumas atitudes que achava normal.......não sentava ao lado de homem no ônibus, evitava conversar com qualquer pessoa que não conhecesse... Hoje eu me comporto de forma diferente, , aqui sentamos juntos na mesma mesa e isso me fez deixar meus receios, se alguém pergunta alguma coisa, procuro responder, em casa também sou mais amiga. Todo mundo tem que respeitar e pronto”. c) Entrevistado: D (masc) “...bem, a escola sempre faz a gente pensar no que faz e como faz.....hoje fico mais tempo observando as pessoas, que antes não via as diferenças no jeito que eram tratadas. Com as conversas sobre racismo, ética, e junto com os mais novos, sou uma pessoa melhor, ainda acho que tenho que melhorar mais, ajudar mais os outros”. d) Entrevistado: F (masc) “... eu sempre achei que homem tem que ter amigos homens e mulher amigas mulheres, e assim eu agia na rua onde moro, no trabalho, os cumprimentos às mulheres eram só por educação. .........(risos)....aqui no Centro, começou a mudar issso, confesso que no início fiquei assustado, pensei , porque todos se cumprimentam, todo mundo está todo dia aqui, não precisa esse oi,oi,oi.... Com as aulas, o jeito dos professores ensinarem e as atividades que a gente faz junto, fui me soltando e percebi que homem e mulher podem ser amigos, sem problema nenhum...Só que preciso mudar em casa e no trabalho também, minha esposa não sabe que aqui sento perto de outras mulheres todos os dias”. 3.4. Análise sobre os Relatos Os relatos dos educandos foram de emocionar, com muita simplicidade e de forma verdadeira, perceberam o significado nas mudanças no modo de pensar e de agir, mesmo considerando que ainda precisam romper com alguns estígmas sociais, contruídos ao longo da história. É preciso que significados e valores masculinos e femininos, que definem as relações escolares, caminhem mútua e recíprocamente a fim de que, no campo político, econômico e social colaborem para a superação das desigualdades e subordinações de gênero. Nesse sentido, Lorencini Júnior (1997, p. 95), acredita que a sala de aula pode ser uma espécie de laboratório de possibilidades de expressão da liberdade, permitindo que as (os) alunas (os), pensem e reflitam sobre si. Essa atitude crítica promove a autonomia pessoal com confiança e auto-estima, qualidades fundamentais para traduzir e transformar a decisão em ação. A tomada de decisão passa por uma dimensão ética: a liberdade de agir para dar sentido à sexualidade não pode interferir na liberdade e na ressignificação do outro. Dessa maneira, as práticas educativas poderiam ser questionadas de um modo novo, possivelmente mais subversivo. Talvez assim fôssemos mais capazes de descobrir relações até então não percebidas ou rever processos “generificados” (e até agora inquestionados) de produção de sujeitos (LOURO, 1995, p. 127). 3.5. Considerações sobre a Pesquisa de Campo Em diversos momentos da pesquisa é possível destacar uma expressão positiva, de auto-afirmação dos educandos. Mas, ao mesmo tempo, é curioso perceber o quanto papéis e referências tradicionais de gênero reaparecem denunciando a força de relações sociais desiguais impregnadas na sociedade ocidental. Seja no peso da violência de gênero, na desigualdade quanto à liberdade, no excesso de responsabilidade com o trabalho doméstico e a vida familiar, nas desigualdades no âmbito do trabalho ou em vários outros momentos, aparece a tensão que marca as relações sociais ainda profundamente desiguais entre os sexos. O quanto estas relações ainda permanecem impregnadas em uma parcela importante das mulheres demonstra a força das estruturas de dominação de gênero. A análise da escola como um espaço de práticas e de relações de gênero que podem produzir estereótipos e preconceitos, mas também resistências, novos valores e atitudes, talvez ajude a estabelecer um distanciamento crítico que permita enxergar para além das visões dominantes sobre as relações entre mulheres e homens e sobre os significados femininos e masculinos presentes na sociedade ocidental. A escola não só recria em seu interior preconceitos de gênero como também prepara mulheres para posições mais competitivas no mercado de trabalho, bem como estimula os homens para assumirem funções de provedores de cuidado, numa relação de igualdade e responsabilidade mútua, garantindo a convivência nos espaços em que circulam os diferentes gêneros. 4. CONCLUSÃO Como apresentado no desenvolvimento do trabalho, a construção dos papéis de gênero conduz suas implicações na elaboração das identidades masculina e feminina. As relações de gênero determinam uma dinâmica de relação de poder, que na maioria das vezes na Sociedade Brasileira são favoráveis ao homem. Nesse sentido, isso tem sérias implicações no exercício dos direitos sexuais e reprodutivos e da própria sexualidade por parte das mulheres com graves conseqüências para o exercício pleno da cidadania, onde esses direitos sexuais incluem o direito a ter controle e decidir livre e responsavelmente nos assuntos relacionados com a sua sexualidade, incluindo a saúde sexual reprodutiva, livre de coerção, discriminação e violência. A desigualdade de gênero, como outras formas de diferenciação social, trata-se de um fenômeno da sociedade com raízes complexas e instituído social e culturalmente de tal forma, que se processa cotidianamente de maneira quase imperceptível e com isso é disseminada deliberadamente, ou não, por certas instituições sociais como escola, família, sistema de saúde, igreja etc. Os sistemas de diferenciação social como classe, raça, etnia, geração, além de gênero, propõe o exercício e manutenção de poder implicando muitas vezes em relações desiguais e de submissão com conseqüências importantes para a autonomia individual e coletiva, e para o exercício pleno da cidadania, quando se considera o ser humano como agente protagonista de sua própria transformação em um contexto bio-psico-social. Considerando que os indivíduos ou grupos sociais, têm presentes valores, normas e condutas que determinam comportamentos e atitudes institucionais e, portanto, normativas, eles também refletem e reagem, modificam ou mesmo interpretam essas regras. Não devendo esquecer que grupos e indivíduos inseridos nesse contexto estão sob mecanismos estruturados de coerção como os contextos sócio-político, econômico, cultural etc, que não só criam a desigualdade entre segmentos sociais, como as mantém como processo de garantia dos privilégios dos que exercem o poder. Se as relações de gênero construídas a partir da diferença sexual é um dos mecanismos que têm sido usado para determinar condições desiguais entre homens e mulheres, então é a partir da educação e reeducação nesse campo que pode-se conseguir um nível de relações mais justas. E nesse caso, a educação sexual é um dos espaços mais importantes para trabalhar essa questão, tão estreitamente ligada ao contexto da sexualidade. A educação sexual pode oferecer uma possibilidade real de minimizar as ineqüidades e desigualdades existentes. Para isto, como sugestão, seria necessário implementar um Programa de Educação Social que valorize temas como gênero, relações de poder, sexualidade etc. E não somente que informasse e denunciasse que essas desigualdades existem, mas também facilitasse um processo de reflexão sobre as conseqüências dessas desigualdades, no âmbito social e pessoal, no sentido de motivar as pessoas para se comprometerem com as diferentes estratégias e ações para mudanças necessárias. Trabalhar os mitos, crenças e preconceitos abordados no início deste texto, que não só reforçam como tornam cristalizados e “naturais” os papéis de gênero (construídos sobre o mito da superioridade masculina), facilita esse processo pedagógico que visa a desconstrução e reconstrução desses papéis. Espera-se que o processo de construção dos conceitos de sexualidade no gênero e na educação, passe por momentos de mudanças significativas, na vida escolar, profissional e pessoal para que atitudes preconceituosas e termos pejorativos deixem de ser repetidas dificultando a convivência dos gêneros nos diversos espaços da sociedade. O tema é amplo e este trabalho abordou alguns aspectos. É sugerido que novos trabalhos teóricos e práticos devam ser produzidos para uma melhor compreensão do assunto. REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana Carolina. Continuar a Conversa de Gênero e olhar para frente – intervenção especial ao 12º congresso da UJS, disponível em : <www.ujs.org.br>; acesso em: 14/11/2008. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais/ Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 62). CABRAL, Francisco; DÍAZ, Margarita. Relações de gênero.Cadernos afetividade e sexualidade na educação: um novo olhar. Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte; Fundação Odebrecht. 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APÊNDICE Materiais para fins da pesquisa de campo do Trabalho de Conclusão de Curso “Relações de Poder, Gênero e a Sexualidade na Educação de Jovens e Adultos” APÊNDICE A Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Prezado(a) Sr. (a) O projeto intitulado “Relações de poder, gênero e sexualidade na Educação de Jovens e Adultos”, é uma pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética do IFSP de São Paulo, orientado pelo Profº. Dr. Antonio Carlos da F. Bragança Pinheiro e conduzido pela aluna Elisabete Sales de Melo, que tem como objetivo geral apontar algumas pistas sobre relações de poder, gênero e a sexualidade da mulher na EJA. Onde a cultura está representada nos seus diferentes valores, interesses, ideologias, costumes, crenças, atitudes e tipos de organização familiar, econômica e ou social, como também diferentes padrões de comportamento sexual. Tendo também, como objetivo específico, a promoção de reflexões no processo de ensino aprendizagem para que possam contribuir no desenvolvimento da auto-estima, no acesso e permanência na escola e na descoberta de suas potencialidades, buscando o conhecimento do ser biológico e do ser cultural. A realização desta pesquisa é de fundamental importância para propor ações que possam contribuir com melhor desempenho das alunas com maior motivação, favorecendo a sensibilização e percepção com o corpo no trabalho da orientação sexual, relações de poder e gênero, a partir de leituras, pesquisas, filmes, debates, bem como servir como base para novas pesquisas. Durante a atividade será realizada entrevista e questionário, no qual a entrevistada terá livre arbítrio para escolher se quer ou não participar. A atividade que será realizada é considerada sem risco. Porém, se este procedimento gerar desconforto, constrangimento ou outra situação negativa qualquer, a participação poderá ser interrompida sem qualquer prejuízo. A entrevistada ficará livre para interromper a qualquer momento a sua participação na atividade de campo. Essa participação na atividade de campo é voluntária, sendo que não haverá qualquer forma de remuneração. Os dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através da atividade de campo, serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho exposto acima, incluída sua participação em sala de aula ou congressos. A entrevistada poderá entrar em contato com o responsável pela atividade de campo, Prof. Laerte Moreira dos Santos, sempre que julgar necessário através do telefone: (11) 67637601 e/ou a aluna Elisabete Sales de Melo, pelo telefone (11) 5893-2266, ou com o Comitê de Ética e Pesquisa do IFSP de São Paulo, pelo telefone: (11) 6763-7546. Esse Termo de Consentimento é feito em 2 (duas) vias, de maneira que uma permanecerá em meu poder e a outra com a aluna responsável e obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre minha participação na referida atividade de campo. Eu___________________________________________________,__________anos RG_____________________, telefone ( a ________________________________________, ) _________________, abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para participar como voluntária da atividade de campo supracitada, sob responsabilidade da estudante Elisabete Sales de Melo, aluna do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, e do prof.Dr. Antônio Carlos da F. Bragança Pinheiro, professor do curso de Pós-Graduação. São Paulo,______,de________________________2009. Nome e/ou assinatura do voluntário _________________________________ ________________________________ Antônio Carlos da F. Bragança Pinheiro Elisabete Sales de Melo Endereço: Rua Pedro Vicente, 625 Canindé - Endereço: Rua Leonilda Kimore, 24, Jd. SP Klein- SP e-mail: [email protected] e-mail: [email protected] Tel: (11) 6763-7601 Tel (11) 5893-2266 APÊNDICE B Questões mediadoras para Pesquisa de Campo. Idade: menor que 30 ( ) maior que 30 ( ) Vive com companheira (o)? ( ) sim Tem filhos? ( ) sim Quantos ( ( ) não ) ( ) não O que fez você decidir voltar a estudar? Alguma circunstância ou alguém facilita ou dificulta sua vida ao freqüentar a escola? Existiu uma razão para você ter interrompido os estudos? Estudar é um direito de quem ? Comente. É maior o número de mulheres ou de homens na escola? Qual a razão? Como você observa a relação entre mulheres e homens no Centro? Como você percebe a relação entre mulheres e homens na família? Você abandonou algum sonho na sua vida? Comente. Do que você se arrepende de não ter feito? A escola influenciou em alguma mudança na sua vida? Comente. Fale um pouco dos seus sonhos. Deixe um recado ou conselho para as (os) alunas (os) do Centro. APÊNDICE C Relato Pessoal Guerra dos Sexos Chácara Santana, fim dos anos 80.... Tardes e tardes na carteira da EMEF.”Bel. Mário Moura e Albuquerque”, e várias manhãs na quadra esportiva. Como era então meu cotidiano? Morava perto da escola, casa simples de madeira, pai, mãe, eu e mais quatro irmãos. Eu a segunda dos cinco. Fazer lições, dividir com minha irmã mais velha Elizete as tarefas domésticas e cuidados com os menores, brincar, almoçar, tomar banho, ir para escola, muitos papos, aulas, briguinhas e paqueras.Voltar, jantar, lavar a louça, tomar banho, cantar hinos da igreja e dormir. Ainda não tínhamos TV. Quando dava, assistíamos pela janela ou pelo muro do vizinho, meu pai não gostava. Minha alegria, era ir para a escola, amigas especiais (Iolanda, Suzana, Celma com “C”, Nalva), e muitas outras. Eu, falante, briguenta, chorona e muito amiga. Quando percebi o que me incomodava? Não gostava das competições em algumas aulas, o famoso jogo meninos X meninas, era na tabuada, nos verbos, nos questionários, estados e capitais, jogo da forca... Isso gerava briga na saída e reforçava a competição entre nós, era a “guerra dos sexos”. Quando os garotos provocavam, porque tinham ganhado, não era nada bom. Eu sempre destemida, dizia para as outras meninas: ___Vocês seguram pelo avental, que eu “bato”. Assim, foram muitas vezes, que resultaram em muitas idas na direção da escola. Nas aulas de Educação Física, me encontrei, ficava atenta a cada jogada das meninas de outras séries, elas eram demais. Não esqueço de dois professores da época, Profª Shiro e profº Léo, fui gostando cada dia mais das aulas, eles agiam dando força, despertando em cada um as potencialidades. Me fizeram ser diferente. Nas vésperas das aulas de educação física, fazia minhas tarefas domésticas a noite, só para passar a manhã toda na escola. Como os professores viam que eu ficava atenta a cada jogada, a cada orientação, me pediam ajuda na organização dos materiais, mastros, bolas, redes, uniformes, enfim, tudo que era necessário para usar na quadra. A felicidade era geral, me interessei por tudo, em especial, o volei e o hand bol, a pesar do meu tamanho minúsculo, tinha habilidades com a bola, articulava bem as jogadas, era rápida e corria muito. Assim fui entrando nos times, treinando, observando, até que comecei a fazer parte das meninas selecionadas pelo profº Léo, isso era um mérito. Sinal de bom desempenho. Léo, muito exigente, dizia o tempo todo “vamos suas raposas, estão pensando que aqui tem areia, corre atrás, arremeça, atenção!”. Ganhamos muitas medalhas e troféus nos campeonatos inter-escolas. Percebi que cada um pode e deve conquistar seu espaço, desenvolver suas potencialidades, buscar a mudança. Fui ficando fortalecida com o que fui aprendendo, pelo meu jeito de falar, sempre segura e imponente, enfrentando os desafios e dividindo o que aprendia. Nesse período, conheci um grupo de garotos nas aulas de educação física, uns dois ou três anos mais velhos, nos tornamos dois grupos, “o das meninas e o dos meninos”. Foi assim que comecei a ver as coisas de forma diferente, as relações de gênero acontecendo sem a “guerra dos sexos”. Nós fazíamos questão de estarmos juntos, decidíamos sobre os jogos, treinos, os bailes de garagem, passeios, ajudávamos até nos encontros entre os paqueras. Nos treinos, os times eram mistos, não tinha o forte e o fraco, todos se fortaleciam, o bom era jogar e pronto. Nesse grupo, dois amigos se destacavam, por estar sempre procupados com a segurança, as regras, a alimentação e o transporte, Márcio Batista e Sérgio Vaz. Crescemos, amadurecemos, cada um tomou seu destino, e alguns de nós temos contato e nos vemos até hoje. É grandioso! Portanto, sou assim, mulher guerreira, questionadora, que buscou nas vivências da adolescência e na fase adulta valores que me deixaram forte, determinada, destemida e inconformada com as injustiças, hipocrisias, indiferenças, diferenças, principalmente com os preconceitos sociais, de gênero e etnia. Com essa “histórinha”, fragmento da minha vida, despeço-me do (a) leitor(a), esperando que tanto a história como o texto tenham propiciado momentos de reflexão. E desejando que essa reflexão possa levar a eventuais questionamentos sobre as relações de poder no gênero em vários contextos da sociedade.