O Produto do Espaço Urbano The Product of the Urban Space BARBOSA, Ana Carolina de M. A.; Mestre; Universidade Federal de Pernambuco [email protected] CASTILLO, Leonardo Augusto Gómez; PHD, Universidade Federal de Pernambuco [email protected] DANTAS, Ney Brito; PHD, Universidade Federal de Pernambuco [email protected] Resumo O conteúdo desse artigo é o relato de uma experiência projetual de mobiliários urbanos dentro de um campo multidisciplinar da relação entre o espaço urbano e a inserção de equipamentos por meio da análise da percepção ambiental e do design de produtos. São apresentados os processos metodológicos e os resultados do trabalho desenvolvido na disciplina Gesso e Mobiliário Urbano, ofertada em formato de grupo de estudos tanto para o curso de Design como para o de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Pernambuco. Palavras-chave: urbanismo, design, mobiliário urbano. Abstract The content of this article is the story of an experience of urban movable project inside of a field to multidiscipline of the relation between the urban space and the equipment insertion by means of the analysis of the ambient perception and design of products. They are about methods and results of the work developed in discipline Plaster and Urban Furniture, offered in format of group of studies in such a way for the course of Design as for the one of Architecture and Urbanism in the Federal University of Pernambuco. Key-words: urbanism, design, urban furniture. 1- Introdução A disciplina Gesso e Mobiliário Urbano é ministrada por três professores, sendo um arquiteto, outro designer e o terceiro químico, além de uma designer e mestranda em Desenvolvimento Urbano. Ela surgiu a partir da constatação da existência de uma rígida hierarquia e linearidade das atividades existentes nos processos tradicionais de ensino de Arquitetura e Design em que a solução de problemas e o entendimento integral do tema sempre antecedem a ação de criar. A turma é formada por estudantes de Design e Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco. Com isso, o curso é oferecido, especificamente, a fim de que os alunos das duas áreas de conhecimento projetem mobiliários urbanos destinados ao mesmo espaço público à luz de um olhar multidisciplinar. Seu objetivo principal é trabalhar a interconexão existente entre a arquitetura, o urbanismo e o design, desenvolver a capacidade de usar, gerenciar e entender o relacionamento entre projeto, criatividade e tecnologia no processo de produção de inovação para a cadeia produtiva do gesso. A partir do segundo semestre de 2008 a relação entre as áreas de conhecimento é feita a partir do estudo do espaço a fim de compreender o compromisso do projetista no processo de projeto de produtos destinados a cidade. O papel do design de cidade i caracteriza-se pelo estudo do espaço não como um objeto isolado, mas integrado a todas as atividades existentes relacionadas à configuração do espaço estudado. Para isto o designer tem de incorporar ao seu processo projetual a visão do espaço e atribuição da paisagem, concepções que ainda se encontram deficientes no campo disciplinar do design industrial. Alexander(1977), ainda ao final dos anos 70 já apontava que os problemas de design de cidade, mais do que de ordem projetual, são de natureza contextual. No campo da arquitetura, em contrapartida, esta intersecção entre projetistas é completada com a ausência da visão pontual do arquiteto, um problema que se aprofunda hoje, mas que foi apontado ainda nos anos 60 por Gordon Cullen (1960): Um número excessivo de arquitetos tem andado demasiado ocupado, com os projetos de grande escala – planos diretores, planos nacionais, planos cósmicos, etc. - excluindo muitas vezes os interesses de âmbito local e particular. Em conseqüência disto, o arquiteto começou a perder a capacidade de ver diretamente (as coisas) pois apenas (as) vê mentalmente. Assim, a disciplina aborda deficiências que de certa forma são complementares às duas áreas de conhecimento e procura articular o uso da macro-escala da arquitetura com a micro-escala do design. O briefing, ou melhor, o desafio ofertado durante a disciplina, trata da formação de espaços através do projeto de mobiliários urbanos destinados à Orla da Praia de Boa Viagem (ver figura 01), Recife – PE, que deverão ser constituídos de gesso em sua estrutura base. A determinação prévia do uso do material estimulou o estudo prático das propriedades do mesmo, que revelaram aplicações pertinentes para as características litorâneas e climáticas do ambiente de estudo, como misturas que permitem trabalhar o gesso como material flutuante e impermeável, por exemplo. Figura 01: Mapa da Orla da Praia de Boa Viagem. A proposta pedagógica da disciplina concebe a contínua observação, análise e avaliação dos processos que envolvem a criação como forma de aprendizado e entendimento dos temas de estudo (CONNER, 1997). Neste sentido, o ato de criar é visto como um processo dinâmico de construção de desafios e não de resolução de problemas. Um procedimento que é composto de diversos sub-processos capaz de agir como um objeto de pesquisa, testando novas idéias, conceitos e processos. O objetivo da disciplina é estudar novas possibilidades de fazer com que o processo de criação deixe de ser uma etapa metodológica, para se transformar ele mesmo em um objeto de investigação. É exatamente na sistematização dos conhecimentos adquiridos nesse processo de tentativa e erro que se fundamenta a produção de conhecimentos inovadores da disciplina. Com isso, a ementa da disciplina constitui o desenvolvimento da capacidade de gerenciar o relacionamento entre design, arquitetura e tecnologia no processo de compreensão semiótico do produto no espaço urbano e na produção de inovação para a cadeia produtiva do gesso. Portanto, o briefing foi desenvolvido estabelecendo um desafio ao invés de requisitos parciais do projeto, funcionando não como um bloqueador do processo criativo, mas um norteador dele. 2 - O espaço urbano Algumas conceituações básicas foram trabalhadas na disciplina, com a finalidade de analisar as características específicas que diferenciam um espaço urbano de outro. Para Ferrara (1993), a manifestação mais concreta do lugar urbano é constituída por usos e hábitos, na mesma medida em que lugar é a manifestação concreta do espaço. Assim, de maneira geral, o espaço urbano é entendido como um ambiente em que o ser humano, como cidadão ou hospedeiro, tem uma liberdade total de circulação onde é possível a interação livre e não controlada entre indivíduos supostamente autônomos. Especificamente o espaço público, é entendido com base no encontro, ou seja, na copresença de estranhos que dividem um mesmo ambiente. Como um espaço de expressão coletiva, da vida comunitária, do estar com e entre os outros, da celebração. É também um espaço de acessibilidade totalmente livre, em qualquer momento e para qualquer um. Segundo Benévolo (1993) tratam-se de “Lugares da cidade dotados de uma dimensão material e simbólica que permitem o encontro, no anonimato, de indivíduos de classes sociais, etnias e religiões diferentes”. Ainda neste mesmo estudo classificatório, vale ressaltar os “espaços privados de usos públicos” operados por empresas privadas que não pré-determinam público alvo especifico para sua utilização como shoppings e hospitais. E ainda os “espaços públicos de usos privados” como se podem encontrar de forma empírica principalmente por trabalhadores ambulantes como comerciantes, guardadores de carros e prostitutas. 2.1 - Ferramentas de Análise do Espaço Urbano A análise do espaço tem como objetivo identificar os elementos que contribuem para a compreensão do meio, ou seja, como os lugares são percebidos. Constitui uma forma privilegiada de leitura e interpretação dos elementos sensíveis (visual, auditivo ou tátil, por exemplo) do ambiente urbano. O espaço pode ser apreendido de maneiras distintas dependentes de um conjunto de fatores externos e internos ao observador. Foram expostas na disciplina algumas ferramentas de análise do meio urbano utilizadas por arquitetos como Lynch e Cullen e designers como Guedes, com o objetivo de indicar possibilidades e não metodologias a serem adotadas. Lynch em sua pesquisa disponibilizava nas ruas o que ele chamava de observador treinado. Os observadores treinados mapeavam inicialmente os pontos que eles identificavam como pontos urbanos importantes – os possíveis pontos imagísticos incentivadores da formação da imagem urbana. A partir de pesquisa de campo eram identificadas as referências urbanas representadas em mapas “Psico-Geográficos” para a busca da imagem pública a partir das experiências públicas frutos de suas operações cotidianas. Outras ferramentas de análise do espaço foram apresentadas como as que foram utilizadas por Cullen em “Paisagem Urbana” (1960). A visão serial colocada por Cullen se trata da atribuição da paisagem do ponto de vista do observador em movimento. Assim, são desenvolvidos uma série de registros em ordem sistemática – as visões seriais – tomando como foco: a) um objeto; b) a orientação de uma via; c) ou a orientação perceptual de algum elemento da paisagem (pontos imagísticos). A Metodologia de análise visual de equipamentos no meio urbano desenvolvida por GUEDES (2005) propõe um método baseado na articulação das modalidades de análise, que são agrupadas em três categorias: o modo visual, a qualidade da forma, e a configuração do meio, que por sua vez, compõem-se de diversas modalidades complementares: posicionamento, visualização, deslocamento, temporalidade, tipologia formal, proporção, orientação da forma, tratamento superficial, modalidade solo, forma arquitetônica, vegetação e forma dos equipamentos. As ferramentas de análise possuem um caráter relacional as análises devem ser modeladas juntas a partir da elaboração de arranjos que são formados entre as conexões das modalidades. De acordo com GUEDES, o resultado é uma técnica que procura ordenar e explicitar os diversos níveis de complexidade que envolve a análise da forma dos equipamentos urbanos: uma abordagem em que o meio urbano é tratado como parte integrante da configuração geral dos mobiliários nele presentes. As aulas expositivas sobre ferramentas de análise do espaço urbano visavam estimular o uso de novas técnicas na pesquisa de campo, expedindo os processos projetuais de metodologias pré-estabelecidas. Utilizando como instrumento base de pesquisa a observação e o registro de fenômenos da realidade da forma mais conveniente (anotações, gráficos, registros fotográficos, filmagens, gravações), além do planejamento e sistematização dos dados que foram coletados. Além disso, discutiu-se também em sala a noção de mobiliários urbanos como elementos que equipam a cidade. Com isso, contribuem não só para a funcionalidade, como também, para a paisagem urbana. Estes elementos representam facilidades e não obstáculos aos pedestres, por isso, como qualquer produto necessitam ser funcionais, atraentes, e condizentes com condições espaciais e ergonômicas. Em resumo, o principal requisito a considerar durante o desenvolvimento de produtos para a cidade é a contextualização. 2.2 - Aula prática na extensão do espaço estudado Segundo o Plano Diretor do Recife 1, Boa Viagem possui mais de 100 mil habitantes, excluindo-se as pessoas que embora não durmam, transitam diariamente pelo bairro, já que é um dos principais corredores viários para os que saem e chegam à cidade. É em Boa Viagem onde encontramos hoje boa parte do fluxo empresarial, comercial e turístico do Recife, reunindo grande número de bares, restaurantes, centros de compras, hotéis e empresas com foco na prestação de serviços e bens de consumo. Ainda, de acordo com a mesma fonte de pesquisa, o bairro concentra 22,4% do total da área a ser construída ou em construção no Recife. Como referências espaciais, destacam-se a Praça de Boa Viagem (fig. 02), onde se localizam a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem e a feira de artesanato, os três Jardins (fig. 03), os recifes e os altos prédios de luxo (fig. 05). De antemão, ao observar os mobiliários urbanos destes marcos culturais, Praça de Boa Viagem e os Jardins, nota-se que não apresentam a mesma linguagem configuracional que aqueles dispostos na orla, caracterizando uma dessemelhança visual e simbólica aplicada a contextos diversos. Figura 02: Praça de Boa Viagem. 1 Plano Diretor do Recife. Recife. Prefeitura do Recife. 2004. Figura 03: Terceiro Jardim. Os quase sete quilômetros de extensão da Orla da Praia de Boa Viagem foram percorridos pela turma (ver figura 01) numa aula prática para o estudo de compreensão do ambiente através da vivência. Além da análise visual dos diferentes níveis do local como a praia, o calçadão, a avenida e a calçada, foram trabalhados exercícios que visavam o estímulo da leitura da paisagem por meio de outros sentidos, como o cego e o mudo, por exemplo. Um exercício experimental, em dupla, onde um aluno, que se manteve cego, descrevia todas as sensações que identificavam o ambiente captados durante a caminhada pelo espaço de estudo para o segundo aluno, o mudo. No total, o exercício durou 20 minutos e foi realizado em duas partes, uma em cada trecho da Orla. A dupla alternou as posições entre cegos e mudos, estimulando comparações e discussões entre os relatos de cada cego. A atividade demonstrou as diferentes sensações que são percebidas, além da observação visual, nos diferentes trechos da Orla. Além disso, foi possível identificar os referenciais do local de outro ponto de vista, valorizando outros sentidos, como o som, o cheiro e o tato. Figura 04: Parte da turma durante a aula realizada na Orla da Praia de Boa Viagem. A Orla da praia de Boa Viagem, normalmente, é relatada por seus visitantes através dos principais aspectos imagéticos: barreira de edifícios de um lado com ambiente construído; coqueiros e mar do outro lado com ambiente natural. O cego identifica estes mesmos ambientes através das seguintes sensações: ruído dos carros; vento; e, som do vento nas palhas dos coqueiros. Figura 05: Bairro da Boa Viagem. A vivência em campo permitiu, ainda, que a turma realizasse discussões a respeito das diversas características do percurso, como os mobiliários urbanos existentes e o posicionamento deles; assim como, a arquitetura das edificações e a relação de proporção dimensional dela com os pedestres da Orla. Além de análises do recente implantado Projeto Orla ii; como o impacto funcional dos novos tijolos intertravados, os quais substituíram as pedras portuguesas que sem mantêm em pequenos trechos do calçadão apenas com função decorativa. Sobre isso, vale ressaltar um dos relatos dos “cegos” neste momento, que comparando a caminhada nos diferentes pisos, alegaram em sua maioria se sentirem mais seguros sob a pedra portuguesa por ficar mais evidente a sensação tátil. Esta informação vai de encontro com o Projeto Orla sobre tal substituição, que se justifica pelo suposto conforto que os tijolos oferecem aos pedestres com dificuldades de locomoção. Observaram-se, ainda, os diferentes usos atribuídos ao espaço, que caracterizam tal Orla como local não só de lazer, contemplação e esporte, como também de intenso trabalho com o excessivo número de vendedores ambulantes. Os trechos mais movimentados como os próximos à Praça de Boa Viagem e o Edifício Acaiaca são, curiosamente, os com menor largura de calçada e nas imediações da Praça de Boa Viagem o trecho de praia é praticamente nenhum. Outra questão que foi concluída, em termos gerais da experiência, é a segregação configuracional existente entre os espaços que compõem a orla, ou seja, as diferentes linguagens compositivas que formam a beira-mar de Boa Viagem. Especialmente, entre a praia e o calçadão, divididos em toda extensão da Orla por bancos que também funcionam como guarda-corpo e dificultam a integração entre os espaços (ver figura 04). Outro forte exemplo disto é observado na implantação do Projeto Orla apenas em lado da Avenida, assim, calçadas paralelas não parecem pertencer ao mesmo contexto: de um lado percebem-se torres de iluminação com tecnologias mais modernas e fiação subterrânea; e, do outro, antigas luminárias com fiação aparente que continuam desordenando toda a paisagem. Além disso, os Jardins e a Praça de Boa Viagem também não se apresentam integrados em termos configuracionais á orla, caracterizando uma dessemelhança visual e simbólica aplicada a contextos diversos. Figura 06: Trecho da Orla próximo à Praça de Boa Viagem. 3 - Projeto Com as relações conceituais estabelecidas e o conhecimento do local de estudo, a etapa projetual foi iniciada com a escolha de um conceito por equipe para ser trabalhado. As equipes foram formadas espontaneamente, resultando em grupos com integrantes do mesmo curso. De acordo com a rígida hierarquia e linearidade das atividades existentes nos processos tradicionais de projeto de produtos de Arquitetura e Design, a solução de problemas e o entendimento integral do tema sempre antecedem a ação de criar. Ao contrário do método de projeto de produto tradicional que segue basicamente o roteiro de definição do tipo de produto; em seguida, a escolha do público-alvo; e, os desenvolvimentos das formas e funcionalidades. Trabalhou-se com conceitos de uso os quais foram transformados em formas e em seguida em mobiliários urbanos (ver figuras 07 e 08). Dentro dos diversos princípios utilizados para a classificação dos mobiliários urbanos, percebem-se o predomínio do caráter uso/funcional, como critérios determinantes das categorias classificatórias dos equipamentos (Serra, 1996 e Mourthé, 1998). As características formais ou simbólicas pouco ou nunca aparecem como princípio de classificação. Esta inversão da técnica visa projetar mobiliários urbanos que não sejam definidos por seus usos ou tamanhos individualmente e sim, dentro desta última categoria ainda não utilizada como princípio de classificação, por sua forma ou significado. Em outras palavras, não foram projetados bancos ou lixeiras e sim espaços para contemplação e descanso, e ambientes de conscientização para se manter a praia limpa, respectivamente. Produto Público Formas Alvo Figura 07: Resumo do método de projeto de produtos convencional. Formas Conceito Mobiliário Urbano Figura 08: Resumo das etapas de projeto da disciplina. Com isso, os mobiliários urbanos não são entendidos, necessariamente, como bancos, postes, lixeiras e pontos de ônibus, mas sim espaços de escalas variadas e diferentes funções. As conformações dos conceitos estimularam a idéia de convivência, inter-relação entre pessoas, princípios básicos para um bom espaço público. Esta etapa equivale à união da teoria e do empirismo, dos estudos sobre o espaço urbano e seus elementos e das técnicas de projeto. O projeto do grupo que trabalhou com o conceito “namorar”, por exemplo, foi desenhado de forma íntima e aconchegante, mas que ao mesmo tempo permitisse a interação entre pessoas e paisagens. 3.1 - Aplicação das formas no ambiente - estudo prático Uma segunda experiência de campo foi realizada num outro formato. Com os conceitos definidos e as formas previamente estabelecidas, os alunos trabalharam a transformação do conceito em formas diretamente na praia de Boa Viagem, no local de implantação dos mobiliários urbanos. Trata-se de uma etapa de modelagem em três dimensões com areia da praia. Figura 09: Conformação na areia da praia do conceito “alongar”. O exercício definiu formas, usos e tamanhos para os conceitos, uma vez que, em contato direto com o ambiente os projetistas puderam relacionar seus modelos tridimensionalmente no local, acelerando o processo de estudo da relação formal do projeto com o ambiente. Assim, aspectos climáticos, como a projeção de sombras e a posição do vento; o som produzido pelo mar; e a relação das alturas que deverão ser trabalhadas com ângulo de visão do pedestre com foco na paisagem natural, foram condicionantes identificados neste exercício prático determinantes durante o processo de definição das formas. 4 - Conclusões Os mobiliários projetados demonstram claramente os diferentes visões de espaço e usos de escala. De maneira geral, os alunos de arquitetura trabalharam com propostas de reordenamento da Orla, como novos formatos para o calçadão (ver figura 08), já os alunos de design puderam detalhar as curvas para os determinados usos de seus mobiliários (ver figura 09). As equipes foram formadas por integrantes do mesmo curso, surgiram, então, casos de fusão de projetos de equipes de áreas distintas, como um spraypark, que também funciona como vaporizador, desenvolvido por alunos do curso de design, aplicado ao mobiliário de grande porte que integra a Orla com o Segundo Jardim de Boa Viagem (ver figura 10). Portanto, acredita-se que a interconexão entre a arquitetura e o design foi re-estabelecida resultando em soluções que vão além do objeto (luminária, lixeira, escada, etc) ou do tecido urbano (quadra, rua, calçada). Figura 09: Projeto Calaia, evolução do conceito “sentar”, desenvolvido por alunos do curso de arquitetura. Figura 10: Detalhamento das formas, desenvolvido por alunos do curso de Design. Conceito “meditar”. Figura 11: Mobiliário Urbano. Interfaces com a praia. Além disso, é possível prever possibilidades de se trabalhar equipes formadas por integrantes de diferentes campos do conhecimento desde o início da disciplina. Este procedimento poderá aprofundar a relação entre a visão espacial do arquiteto, a visão pontual do designer, a visão processual do economista, resultando em um “macro-micro-design” da cidade. Para a arquitetura esta relação talvez cause certo estranhamento, signifique o afastamento da obsessão pela grandiloqüência e estabeleça um novo e mais aprofundado diálogo com o usuário. Um novo foco cujo objetivo visa à mudança da paisagem urbana permitindo o reconhecimento mais claro dos elementos estruturadores do espaço e a composição de imagens que atribuam significados mais ricos e identidades mais permanentes. Os estudos e as ferramentas utilizadas na análise do meio urbano enfatizaram a noção da importância de se experimentar a cidade. Assim como, dos elementos urbanos responsáveis por tal experiência, uma vez que apenas o fato de haver mobiliário, por exemplo, associa-se a existência de sinais permanentes de convivência e inter-relação do homem e seu meio, ocupação que confere à cidade um caráter mais humano e diverso. Ao final da disciplina o aluno foi capaz de identificar desafios, necessidades, desejos, oportunidades e novas áreas de desenvolvimento, apresentando propostas inéditas em processos, produtos e sistemas da cadeia produtiva do gesso. Desta forma, o aluno pôde aprender a refletir sobre seu diferencial inovador e suas limitações. Bibliografia ALEXANDER, Christopher. Et al. A Pattern Language. Oxford. Univesity Press. 1977. CONNER, M. L. Andragogy and Pedagogy. Ageless Learner, 1997-2004. Disponível no site http://agelesslearner.com/intros/andragogy.html em 28 de Abril de 2005. CULLEN, Gordon. Paisagem Urbana. Lisboa. Edições 70. 1983. DEL RIO, Vicente. 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O projeto inclui intervenções na área de calçadas, iluminação, quadras, playground, pista de cooper, ciclo-faixa e estacionamentos. ii