16 Evento noite de homenagens 12 Artigos de Odinei Draeger e Flávia Dantas N. 61 Natal - RN JAN/FEV/MAR 2015 Associação dos Magistrados do Rio Grande do Norte Informa Hadja Rayanne faz balanço da gestão Editorial Como disse a nossa presidente no texto escrito nas páginas deste jornal, o momento é de despedidas. Uma despedida com uma gratificação enorme de dever cumprido, porque foram três anos intensos de trabalho e dedicação de uma diretoria unida em prol da nossa valorização e, consequentemente, benefícios para a sociedade. O AMARN Informa traz nesta última edição uma entrevista emocionada de uma presidente que deixa a gestão e um discurso entusiasmado e lúcido de um presidente que chega com muitos projetos e trabalhos a serem desenvolvidos. Foram muitas conquistas, mas ainda muita luta a de vir pela frente, como foram ditas nas palavras de Cleofas Coelho de que o momento é de esperança em vista pela melhoria no serviço público e a certeza de que a AMARN continuará sendo proativa nesse sentido. Nas nossas páginas, os associados e associadas podem ler artigos dos colegas Flávia Dantas e Odinei Draeger e registros de momentos das nossas comemorações de 60 anos da AMARN. E, na despedida, essa diretoria não poderia deixar de agradecer a todos os colegas que participaram diretamente ou indiretamente dessa gestão. A AMARN só vem se fortalecendo, cada vez mais, graças a colaboração de muitos, incansáveis na luta por um Judiciário mais forte. Desejamos sorte ao colega Cleofas Coelho, a frente da presidência da associação, sabendo do seu compromisso e competência para fazer da nossa AMARN uma instituição cada vez mais consolidada nos interesses da nossa magistratura. Associação dos Magistrados do Rio Grande do Norte Condomínio Empresarial Torre Miguel Seabra Fagundes R. Paulo B. de Góes, 1840 - Salas 1002, 1003 e 1004. Candelária - Natal-RN - CEP: 59064.460 Telefones: (84) 3206.0942 / 3206.9132 / 3234.7770 CNPJ: 08.533.481/0001-02 CONSELHO EXECUTIVO Presidente Juíza Hadja Rayanne Holanda de Alencar Vice-Presidente Institucional Juiz Marcelo Pinto Varella Vice-Presidente Administrativo Juiz Cleofas Coelho de Araújo Junior Vice-Presidente Financeiro Juiz Odinei Wilson Draeger Vice-Presidente de Comunicação Juiz Paulo Giovani Militão de Alencar Vice-Presidente Cultural Juiz Jessé Andrade de Alexandria Vice-Presidente Social Juiz Jorge Carlos Meira e Silva Vice-Presidente dos Esportes Juiz Felipe Luiz Machado Barros Vice-Presidente dos Aposentados Juiz Francisco Dantas Pinto Coordenador da Região Oeste Juiz Breno Valério Fausto de Medeiros Coordenadoria da Região Seridó Juíza Marina Melo Martins Boa leitura. CONSELHO FISCAL Juiz Azevêdo Hamilton Cartaxo Juiz Fábio Antônio Correia Filgueira Juiz Fábio Wellington Ataíde Alves Juíza Flávia Souza Dantas Pinto Juiz Gustavo Henrique Silveira Silva Juiz Luiz Alberto Dantas Filho Juiz Mádson Ottoni de Almeida Rodrigues Juíza Manuela de Alexandria Fernandes Juíza Rossana Alzir Diógenes Macêdo Juiz Paulo Giovani de Alencar Vice-presidente de comunicação Editora executiva Adalgisa Emídia DRT/RN 784 Projeto Gráfico e Diagramação FIRENZZE - Making Apps (84) 2010.6303 | (84) 2010.6307 [email protected] Fotos Elpidio Júnior 2 AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 www.amarn.com.br - [email protected] Palavra da Presidente DESPEDIDA “Eu amo tudo que foi Tudo que já não é A dor que já não me dói A antiga e errônea fé O ontem que a dor deixou, O que deixou alegria Só porque foi e voou E hoje já é outro dia.” (Fernando Pessoa) Essa é a última vez que me sento para escrever o Fala Presidente. Parece que foi ontem que o fiz pela primeira vez. Mas não. São mil dias atrás. Três anos à frente da AMARN. Peço licença aos amigos para deixar aqui um texto mais pessoal. Despedidas são sempre difíceis. Mormente quando deixamos para trás um período tão intenso. Ocupar a presidência da entidade me exigiu muito. Tempo, paciência e resiliência. Me obrigou a desenvolver competências bem diferentes daquelas que exercia na jurisdição. Fui feliz, sofri, me irritei, me diverti, falei, ouvi, venci e fui vencida algumas vezes. Cresci. www.amarn.com.br - Inegavelmente uma das experiências mais marcantes da minha vida. Sou grata aos colegas que me confiaram essa missão. Deixo aqui meus agradecimentos a essa diretoria fantástica que me acompanhou (e me socorreu em muitos momentos) nessa caminhada. Também os funcionários da Amarn, com destaque especial e carinhoso para Ricardo, Teresa e Kely. Nem sei o que seria de mim sem vocês. Meu esposo Paulo, que muito abdicou e assumiu tantas tarefas para que eu pudesse estar disponível para a Amarn. Registro sem pudores, como Vinícius, que sem você eu não [email protected] sou ninguém. Deixo aqui também aos meus colegas magistrados minhas desculpas pelos erros ou pelos pleitos que não consegui atender. São todos meus e à revelia do meu desejo sempre sincero de acertar. À nova gestão e ao meu colega Cleófas Coelho deixo meu apreço, meus votos de sucesso e minha disposição de continuar colaborando sempre que se fizer necessário. A AMARN ainda tem muitas conquistas pela frente, muitos avanços a fazer. Aqui fica o registro da minha confiança de que a nova equipe alcançará esses horizontes. AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 3 4 AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 www.amarn.com.br - [email protected] Entrevista “Somente uma magistratura unida fará um Judiciário forte” Candidato único à presidência da AMARN, juiz Cleofas Coelho destaca o fortalecimento da associação como uma conquista de todos os magistrados potiguares O senhor vem atuando de forma administrativa na AMARN desde 2006 e, agora, é candidato único a presidente da associação. Por que a candidatura e a que atribui a chapa única? Estou no associativismo da magistratura há mais de dez anos, des- www.amarn.com.br - de 2006 integro diretamente a diretoria da Associação dos Magistrados do Rio Grande do Norte – AMARN e a candidatura à presidência surgiu como algo natural, sem grandes resistências, pois o grupo que está à frente da AMARN entendeu que havia maturidade e aceitação para [email protected] meu nome. Inclusive, esse é o principal motivo pelo qual conseguimos analisar de perto os avanços alcançados pela AMARN e o trabalho que será necessário desenvolver junto à associação. A candidatura única é igualmente algo natural que surgiu a partir AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 5 do fortalecimento e legitimação das últimas gestões da AMARN. A magistratura potiguar já entendeu que o órgão de classe necessita participar ativamente do planejamento da carreira e do trabalho do Juiz, representando os associados de forma independente em defesa das prerrogativas do cargo e visando sempre a união dos magistrados em torno dos objetivos comuns. Ao longo desses anos, quais foram as principais conquistas da AMARN para os associados? Sinceramente, foram tantas as conquistas que se torna difícil enumerá-las sem correr o risco de esquecer alguma. Poderíamos falar na diminuição do percentual de diferença entre as entrâncias, da implantação do Auxílio Alimentação para todos os juízes, do aumento do patrimônio da AMARN, da criação dos cargos de Assistente de Juiz, das diversas defesas individuais de magistrados, das inúmeras lutas pela recomposição dos subsídios, mas, em verdade, o grande valor de todo trabalho desenvolvido nas últimas gestões da AMARN, foi colocá-la na condição de digna representante dos magistrados potiguares, podendo dialogar com os representantes de poder em igualdade de condições, sempre representando os honrados juízes norte-rio-grandenses. Apesar de ser uma chapa da situação, há muitos novos nomes que integram a futura diretoria e, consequentemente, novas ideias. Quais os destaques da próxima gestão? Essa nova gestão iniciará com novos nomes, novas caras e resgate de outros bons quadros que andavam um pouco afastados. Essa inovação tem sido uma característica da AMARN que não pertence a uma pessoa ou a um grupo de pessoas, mas a todos os associados, daí a necessidade de agregar nomes e atrair novos quadros. Embora todos os novos nomes já participassem direta ou indiretamente dos destinos de nossa associação, toda a diretoria está enga- 6 AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 jada em prestar o melhor serviço ao associado e também aberta a receber sugestões que possam melhorar a AMARN. Quais serão os principais desafios? O que se mostra como principal desafio dessa gestão é a união da magistratura. Mais uma vez necessitamos tocar nesse assunto, pois a prestação do serviço judiciário está sendo cada vez mais exigido e a resposta deve ser dada pelos juízes. Portanto, seremos muitíssimo demandados, mais e mais a cada dia, e apenas unidos seremos sólidos o suficiente para suportar os embates cotidianos. Essa união a que me refiro não será em torno de nomes ou pessoas, mas em torno de princípios e ideias, pontos de honra inerentes à magistratura que não podem ser olvidados pelas magistradas e magistrados potiguares. Somente uma magistratura unida fará um Judiciário forte. O Poder Judiciário do RN ganhou evidência nos últimos meses com as recentes mudanças anunciadas pelo presidente do TJRN. Qual a opinião da AMARN em relação a essas medidas e como pretende atuar nessas questões? A AMARN analisa as questões com cautela, pois se por um lado todos reconhecem a necessidade de ajuste fiscal do Tribunal de Justiça, por outro há uma estrutura de direção e assessoramento, primordialmente no 1º grau de jurisdição, que já se encontra defasada e não poderá ser alvo de cortes. Sempre se defendeu que as atitudes da administração do TJRN atingiram diretamente um grupo de servidores, os quais possuem órgão de representação e defesa institucional, entretanto, a AMARN igualmente prezará pela qualidade da prestação do serviço judiciário e não abrirá mão das prerrogativas da magistratura. Aliás, o serviço judiciário é uma preocupação premente, pois os dados de produtividade estão em descenso e com isso arrasta nossa legitimação no mesmo sentido. www.amarn.com.br - [email protected] Uma associação de Magistrados não pode possuir uma única principal ideia, sempre serão algumas ideias que conduzirão o trabalho da associação”. Qual deve a relação da AMARN e o Tribunal de Justiça? Agir com respeito para ser respeitado. Essa é a tônica que nos conduz nas tratativas com a administração pública, inclusive com o Tribunal de Justiça. A AMARN poderá ser parceira do Tribunal quando a necessidade exigir, mas não se pode perder de vista que a administração do Tribunal é exclusiva dos gestores. A AMARN deverá agir como catalisadora de ideias, sugestões e requerimentos dos associados ao Tribunal, mas nunca irá se imiscuir em sua administração. Qual deve ser o principal papel de uma associação de magistrados? Uma associação de Magistrados não pode possuir uma única principal ideia, sempre serão algumas www.amarn.com.br - ideias que conduzirão o trabalho da associação. Entretanto, poderíamos apontar a defesa intransigente dos associados, muitas vezes colocando-se como escudo para que eventuais ataques não atinjam a pessoa do juiz, como o carro-chefe de todas as ações de uma associação de magistrados. deixe facilmente inteirado de toda a conjuntura que está ao seu redor e que exige sua participação. O mundo moderno tem exigido a velocidade da informação a cada dia, portanto, a pretensão inicial da nova gestão é criar esse mecanismo de aproximação entre diretoria da AMARN e associados. Quais serão as primeiras ações da nova gestão? Necessitamos aproximar os associados da gestão. É comum encontrar colegas juízes e, portanto, agentes políticos, alheios às questões político-administrativas do Tribunal e até do Estado. Entretanto, esse alheamento não é culpa do magistrado, pois já trabalha diuturnamente isolado com tanto processos, mas de um sistema de comunicação que o Qual a mensagem para os colegas associados? Esperança! Apesar de parecer um clichê, mas a verdade é que os serviços públicos em geral estão vivenciando uma crise e as soluções legítimas comumente aparecem em momento de crise. Portanto, o Judiciário será em algum tempo um serviço mais eficiente e mais legítimo. Para isso poderão contar com o empenho e a participação proativa da AMARN. [email protected] AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 7 Entrevista Ela fez história Primeira mulher a presidir a AMARN termina gestão com excelente avaliação Creio que conseguimos desenvolver um bom trabalho ao longo desses três anos, o que se deu principalmente em face da alta qualidade do quadro de diretores da AMARN”. 8 A senhora foi a primeira mulher a presidir a AMARN e realizou um trabalho, ao longo desses 3 anos, bastante elogiado pela maioria dos associados. Como se sente ao concluir a sua gestão? Presidir a AMARN foi um privilégio e um marco na minha vida profissional. Creio que conseguimos desenvolver um bom trabalho ao longo desses três anos, o que se deu principalmente em face da alta qualidade do quadro de diretores da AMARN, sem o qual esses resultados não seriam possíveis. Quanto à mim, encerro esse período feliz pela oportunidade de visualizar a magistratura e o Poder Judiciário de um ponto muito privilegiado de observação. Aprendi muito e me renovei profissional e pessoalmente. Quais os principais destaques e conquistas? Trabalhamos em muitas questões de interesse da magistratura e do Poder Judiciário e dentre elas merecem destaque os esforços desenvolvidos em torno das legislações que reduziram a diferença entre as entrâncias e a que propiciou a nomeação de assistentes para os magistrados do interior do Estado. Tivemos também conquistas financeiras importantes, com a im- AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 plementação do auxílio-moradia e do reajuste do subsídio. Também trabalhamos para que verbas em atraso e devidas a magistratura fossem quitadas, como aconteceu com a Parcela Autônoma de Equivalência e a Diferença de Entrância, sem falar em diárias que, em alguns casos, estavam em atraso há vários anos. No plano institucional buscamos dar atenção a questões como a mudança regimental que propiciou a concessão de voz à AMARN nas questões de interesse da magistratura, sem falar no intenso trabalho em prol das Eleições Diretas para os cargos de presidente e vice-presidente do Tribunal, pleito antigo da magistratura, que fica em aberto, mas que ajudamos a difundir externa e internamente. A entidade também atuou na Comissão de Segurança Institucional e ganhou assento na Comissão de Valorização da Primeira Instância e passou a atuar e contribuir no planejamento estratégico do Tribunal, acompanhando também as implementações orçamentárias de 2013 a 2015. Aos aposentados buscamos também dar o apoio institucional com requerimentos administrativos e judiciais www.amarn.com.br - [email protected] www.amarn.com.br - [email protected] AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 9 que propiciaram a retomada do pagamento da Parcela Autônoma devida aos colegas. Enfim foi um período bem intenso de conquistas e o relatório da gestão recentemente publicado tem a capacidade de comprovar isso. O que gostaria de ter realizado e não deu tempo? Eleições Diretas para Presidente e Vice-presidente dos Tribunais são um pleito que considero capaz de revolucionar o Poder Judiciário. Infelizmente não tivemos sucesso ainda em ver essa conquista implementada, mas ajudamos a difundir essa ideia junto ao Judiciário e a sociedade. Fica uma semente para o futuro. No que tange ao patrimônio da AMARN fica pendente uma necessária reforma na sede campestre. A AMARN vem se fortalecendo cada vez mais como uma instituição que é uma das vozes da magistratura potiguar. O que a senhora acha que foi importante para que a associação conquistasse essa importância, inclusive junto ao público externo? Buscamos ampliar a nossa posição como voz da magistratura e somos lembrados e chamados à posição de interlocução sempre que surge alguma questão atinente ao Poder Judiciário. Para manter e ampliar esse espaço, a AMARN buscou seguir algumas regras, falando sempre com coerência e conhecimento de causa. Ou mesmo calando para preservar a instituição. A senhora deixa a presidência num momento bastante singular no Poder Judiciário potiguar, com as recentes mudanças e ações 10 implementadas pelo TJRN. Qual sua opinião sobre esses últimos acontecimentos? Temos a clara percepção de que existe um problema administrativo grave no TJRN, que se não solucionado, irá nos levar a uma situação de insolvência em dois ou três anos. O acompanhamento de três anos de orçamento nos trouxeram esse diagnóstico, que é inegável. A atual gestão tem o mérito de estar buscando mecanismos de enfrentamento dessa realidade. Alguma providência tinha que ser tomada. Quanto às medidas em si mesmas, é necessário frisar que até o momento dessa entrevista temos um conhecimento limitado sobre as mesmas, porquanto os projetos que as implementam não foram distribuídos ainda. Com eles em mãos teremos como fazer uma análise das propostas com mais competência. Ressalto que se os ajustes são necessários é preciso saber onde e o que diminuir, sob pena de inviabilizar o trabalho. O ajuste administrativo que se descortina gera naturalmente muito descontentamento e aflição. Isso é natural e é legítimo que categoria de servidores busque os meios de lidar com essa questão. Ciente da delicadeza da matéria, a AMARN assumiu uma postura de absoluto respeito institucional pelos servidores e as entidades que os representam. O desejo da associação é que a questão possa se resolver da maneira mais salutar possível. Como ficará o trabalho dos magistrados em relação à celeridade com o corte de servidores? O quadro funcional está deficitário já há alguns anos. Tanto no número de servidores como de magistrados. Quase todas as unidades estão trabalhan- AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 Buscamos ampliar a nossa posição como voz da magistratura e somos lembrados e chamados à posição de interlocução sempre que surge alguma questão atinente ao Poder Judiciário”. www.amarn.com.br - [email protected] Temos a clara percepção de que existe um problema administrativo grave no TJRN, que se não solucionado, irá nos levar a uma situação de insolvência em dois ou três anos”. do no limite do possível, notadamente no interior. Em uma realidade em que o ideal seriam novas contratações, qualquer corte irá representar um agravamento dessa situação e é possível que haja diminuição da produtividade. É preciso saber onde fazer essa redução. A AMARN espera que em sequência outras medidas sejam tomadas para reverter esse quadro. A senhora continuará na vice-presidência de prerrogativas da AMB. Quais os projetos daqui pra frente? Espero poder me dedicar mais à AMB. A AMARN exige muito tempo e esforço. Costumo brincar em Brasília dizendo que muitas vezes a paróquia me exige mais que a Santa Sé. Esperamos ao longo desse ano continuar o trabalho já iniciado e ampliá-lo. Em 2014 foram produzidas 98 peças pela www.amarn.com.br - secretaria de prerrogativas da AMB, ente petições, requerimentos, contestações e recursos dos mais diversos. Nas questões macro somos chamados a oferecer parecer e análise jurídica em quase todas as questões de interesse geral. A senhora voltará para o Juizado Especial? Sim. Para ser franca estou com muita saudade da jurisdição e dos colegas e amigos que tenho lá, sem falar no carinho especial que tenho pelos servidores do 5º Juizado Cível. Equipe espetacular aquela. O que representou ter sido presidente da AMARN? A presidência da AMARN é um posto exigente. Exige paciência, tranquilidade, esforço. Demanda com- [email protected] petências muito diferentes das que costumamos ter no exercício da judicatura. Ao invés de decidir, convencer e persuadir. Ao invés de impor, escutar e conciliar. Sem falar que lidamos com um público complexo e exigente. Essa ambiência me fez crescer muito e fez com que a experiência fosse valiosa e prazerosa. Saio da AMARN com certeza de que dei o meu melhor. Acho que é isso que conta no final. Qual a mensagem que a senhora deixa para o futuro presidente da AMARN? Deixo ao presidente Cleófas Coelho e a diretoria que assume o novo triênio meus melhores votos de sucesso e a certeza de que será uma gestão brilhante. A AMARN exige esforço e resiliência. Mas a experiência é maravilhosa. AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 11 Artigo Odinei Draeger Juiz de Direito Reforma política: a corda no pescoço do estado de direito Reforma política é a última moda. A expressão é repetida ad nauseam pelos jornais e está diuturnamente nas redes sociais. A frequência impertinente de sua menção impede que nos concentremos em coisas realmente importantes como escutar pela centésima vez o Adagio for Strings de Samuel Barber, descobrir o que São Tomás de Aquino dizia sobre o islã na Suma Contra os Gentios ou ainda conferir o último capítulo de The Walking Dead. Porém, quis o destino que nossa época fosse aquela em que os iluminados de plantão passam o dia brincando de “mudar o mundo”, de modo que a reforma política passou a ter, a despeito de sua entediante natureza, uma importância literalmente mortal. Mortal para nosso estado de direito. Para entender o que está acontecendo não basta nos atermos ao significado nominal da expressão. 12 Reforma política, por si só, não quer dizer muita coisa, tanto que todas as defesas da reforma argumentam que se trata uma melhoria do sistema eleitoral. Ninguém reformaria algo para pior, não é? Não, as coisas não são tão simples. De modo geral a reforma política defendida contém os seguintes pontos centrais: financiamento público de campanha ou, pelo menos, o fim do financiamento privado por empresas; voto em lista; participação de mulheres por meio de cotas na lista (“paridade de gênero” pré-ordenada na lista) e maior participação de conselhos populares ou “entidades da sociedade civil organizada”. É preciso calma nessa hora e deixar para lá as definições nominais, os interesses partidários e o proselitismo “onguista” de alguns juristas e se ater à realidade. O financiamento público de cam- AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 panha, ou o fim do financiamento privado, seria justificável para evitar que grandes empresas financiem candidatos com a intenção de colher benefícios ilegais do patrocinado depois da eleição. O verdadeiro efeito desta medida, entretanto, é simplesmente impedir ou dificultar ao máximo o financiamento da oposição. Não é preciso uma análise muito profunda para saber que quem financia um candidato com propósitos escusos não vai deixar dessa prática só porque ela não está mais prevista em lei. Tanto que há termos próprios em nossa língua para descrever o problema: “recursos não contabilizados” e “caixa 2”. Por sua vez, o voto em lista fechada em dois turnos é outro engodo perigoso, pois retira do eleitor a possibilidade de votar num candidato real. Votando no partido num primeiro turno, que então encaminha seus www.amarn.com.br - [email protected] candidatos por uma lista, perde-se a possibilidade de rejeitar candidatos pessoalmente ruins ou então de alavancar candidaturas de oposição reais. Há um grande risco de que as listas sejam preenchidas não por pessoas vocacionadas para a vida política, mas por burocratas do partido. Além disso, a mesma proposta rejeita a idéia que talvez seja a única que valesse uma meditação: o voto distrital, em que as cadeiras da câmara seriam divididas em distritos geograficamente delimitados, o que fortaleceria a identificação regional dos governados com seu representante, e consequentemente a fiscalização e responsabilização nas urnas. A “paridade de gêneros” previamente inserida nas listas é um meio inócuo de resolver um problema que não existe: a suposta ausência de participação das mulheres na política. Além da participação não ser proibida e de não haver nenhuma discriminação social quanto à participação, tanto que já tivemos mulheres ocupando todos os principais cargos da República, há o mesmo risco das listas serem ocupadas por pessoas não-vocacionadas para a vida pública e com risco preenchimento das vagas com burocratas ou pessoas engajadas em movimentos sociais duvidosos. A participação maior da sociedade civil nas deliberações nacionais, por meio da implementação de conselhos populares é outra perigosa armadilha. A sociedade civil já é representada na vida pública justamente pelos congressistas, eleitos para representarem o povo. A afirmação de que os conselhos populares tenham qualquer uso para o aperfeiçoamen- www.amarn.com.br - to da democracia é feita apenas para esconder o fato de que os ditos conselhos são um forte fator de esvaziamento das funções do Parlamento, da Administração Pública eleita e do próprio Judiciário. É instrutivo, quanto a esse ponto, ver os exemplos semelhantes de nossos vizinhos. A situação é ainda mais alarmante quando lemos que tais reformas jamais seriam aprovadas pelo Congresso, e por esse motivo é necessário implementá-las por meio de plebiscito, ignorando completamente tanto o regramento dado pela Constituição para o processo de reforma constitucional quanto à necessidade de autorização do Congresso para realização desse modo de participação direta. O mais importante, além disso, é olhar ao nosso redor e ver qual o destino dos países que optaram pelo mesmo processo de reforma política. Qual o destino do estado de direito nesses lugares? Inúmeros países da América Latina, notadamente a Venezuela, a Bolívia e a Argentina, adotaram reformas constitucionais e legais que ampliaram o mandato do chefe do executivo, permitiram a reeleição indefinida, facilitaram a decretação e a manutenção de estados de exceção, restringiram a liberdade de imprensa, criaram aparatos de repressão armada paralelos às polícias e forças armadas, ampliaram a participação de grupos organizados não eleitos na política e, pasmem, restringiram a independência e atuação do Poder Judiciário. Na Bolívia, durante as últimas eleições, eleitores eram coagidos a [email protected] “votar em linha”, ou seja, votar somente nos candidatos de um mesmo partido para todos os cargos em disputa, sob pena de serem açoitados, uma penalidade admitida nos julgamentos da “justiça comunitária”, também sancionada recentemente. Na Venezuela, a readequação de distritos eleitorais faz com que a quantidade de eleitores totais não defina a eleição, sendo possível que o candidato mais votado seja preterido por aquele que obtiver maior quantidade de distritos eleitorais, fazendo-se mais difícil para a oposição conseguir se eleger. Na Argentina, uma lei impõe severas restrições à liberdade de imprensa, sob a desculpa da “defesa do consumidor” e da concorrência. Além disso, em 2012, quando decidia um caso envolvendo a mencionada lei, o juiz Daniel Ostropolsky, do Conselho Judicial da Argentina, reclamou da pressão indevida do governo no Judiciário para que fossem impostas restrições aos grupos de imprensa privados do país. Assim, devemos ter cuidado e analisar a situação de acordo com a realidade. Ela nos indica que uma reforma política, olhando em volta para os exemplos de outros países, não seria útil para o aperfeiçoamento de nossa política, mas antes representaria um risco de ferir gravemente a ordem constitucional que, a despeito de suas imperfeições, ainda mantém nossas instituições e liberdades fundamentais. É fácil concluir que uma reforma política, nas incertas e atuais condições, representaria uma corda no pescoço do nosso estado de direito. AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 13 Artigo A TERAPIA DA MATERNIDADE Embora existam várias formas de “desatar nós” do passado, nenhuma delas supera em efetividade a via da maternidade/paternidade, ao menos no que toca aos “nós” familiares, sejam eles pequenos ou grandes, cegos ou frouxos. Em algum momento de nossas vidas, possivelmente sentimo-nos frustrados e, quiçá, menos amados, em razão de pequenos detalhes ocorridos ao longo da nossa infância e juventude, sempre associados a uma maior ou menor presença de nossos pais em nosso dia a dia. Do dia dos pais, em que faríamos uma apresentação especial em homenagem aos nossos heróis, à demora em nos pegar no colégio, quando todos os nossos coleguinhas já haviam ido embora felizes e satisfeitos com os seus pontuais parentes, o fato é que esses momentos tristes nos deixaram marcas surgidas após lágrimas derramadas em algum cantinho silencioso de nossos quartos ou do banheiro da escola. Qual o filho que não se sente menos querido que o irmão caçula ao levar uma bronca dos pais, que lhe exige maior cuidado e paciência com os menores, depois dele ter quebrado o seu brinquedo favorito de propósito? E aquela passagem em que você, em vez de parabéns, levou uma bronca 14 Flávia Sousa Dantas Pinto 4ª Juíza de Direito Auxiliar por ter tirado 8,5 na prova de português? E quando você queria ir àquela balada em que todos estariam e levou um sonoro “não” da sua mãe, sem maiores justificativas? Quem nunca se sentiu incompreendido, desprezado, menos amado, injustiçado ou não desejou, por um segundo, sair de casa quando criança? Apesar de aparentemente (vista sob os olhos de hoje parecerem) corriqueiras, singelas e pouco importantes, o fato é que, em alguns casos, essas mágoas ficam registradas em nossa memória afetiva de um jeito tal, a ponto de inconscientemente minar as nossas relações familiares, a nossa autoestima, de distorcer o nosso olhar para o outro, de nos tornar, talvez, mais individualistas e menos fraternos ou, por fim, de endurecer-nos demasiadamente, afinal na “nossa época era bem pior”. O tempo passa e, seguindo o caminho natural do ser humano, alguns de nós se tornam pais ou mães imbuídos do espírito de não repetir os padrões de nossos progenitores, poupando, assim, a nossa prole dos mesmos sofrimentos já vividos. No entanto, eis que de repente, surpreendemo-nos exercendo exatamente aquele mesmo papel outrora repreendido, indesejado, rejeitado, ojerizado, de modo que, de negligenciados AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 passamos a negligentes; de rebeldes a opressores; de incompreendidos a intransigentes. No instante em que formos primeiramente “acusados” disso, não deveremos perder a chance de refletirmos e percebermos o quanto fomos ou somos amados por nossos pais, afinal de contas, mesmo na mais rigorosa análise pessoal, concluiremos que estamos longe de sermos “tão ruins” assim. Não somos negligentes para com as nossas responsabilidades paternas/maternas! Apenas não temos o dom da ubiqüidade. Queremos nossos filhos nas melhores escolas, para que adquiram uma boa instrução. Queremos proporcionar-lhes lazer. Queremos alimentá-los bem. E, o mais importante, queremos que eles compreendam, com o nosso sacrifício diário e, em última análise, com o nosso exemplo, que tudo na vida exige dedicação e trabalho. Não somos opressores, jamais! Apenas aprendemos com os anos que a liberdade exige responsabilidades, que o jovem não é tão conhecedor da vida como julga ser e que, como advertira Belchior, há mais perigos na esquina do que eles podem supor. Queremos apenas proteger os nossos filhos de frustrações, de assaltos, da inveja alheia, da morte, do sofrimento, www.amarn.com.br - [email protected] Dica de livro Pelo juiz Cleófas Coelho das drogas, enfim, de tudo aquilo que os possa fazer sofrer ou que os leve para longe do nosso abraço. Deus - e só ele - sabe a dor que sentimos quando colocamos nossos filhos de castigo, quando os fazemos chorar hoje para não chorarem no futuro. É duro, mas necessário! Intransigentes, nunca! Pais e mães ouvem, sim, os seus filhos e compreendem as suas necessidades, mas são suficientemente experientes para perceber quando estão mentindo; que determinada amizade não é boa; que aquele relacionamento não dará certo; que a viagem do final de semana com a turma é uma furada; que os filhos não precisam fazer, vestir ou frequentar os mesmos lugares que todos os demais para serem respeitados ou aceitos socialmente; que caráter não se mede pelo que se diz, mas pelo que se faz; e, o mais importante, conhecem como ninguém o potencial de seus filhos, a ponto de identificar quando deram o máximo de si naquela “velha prova de português” ou quando foram simplesmente relapsos. Enfim, ironicamente a vida nos incita a constatar que, tanto quanto os nossos pais, somos “negligentes”, “opressores” e “intransigentes” por amor! Compreender isso é libertador e vale mais do que muitos anos de divã! Perdoem os seus pais pelas horas de espera no colégio, pela ausência nas festividades da escola, por ter te cobrado demais nos estudos, por não ter te deixado ir àquela festinha, por não querer a sua amizade com determinada pessoa, por ter te pedido ajuda ou pelo menos compreensão - para cuidar de seu irmão mais novo! Afinal de contas, não existe cartilha, nem receita de bolo para a maternidade/paternidade, ainda que Içame Tiba e companhia limitada digam o oposto. Existe apenas muito amor, intuição e uma grande dose de boa intenção! Logo, por mais que tentemos, também erraremos e ansiaremos desesperadamente pelo mesmo perdão que, por vezes, teimamos em não querer dar àqueles que cometeram o grande pecado de nos amar demais! www.amarn.com.br - [email protected] Título: A Rebelião das Massas Autor: José Ortega y Gasset Para esta edição, indicamos para leitura o livro do filósofo madrileno José Ortega y Gasset (1883-1955), “A Rebelião das Massas” que, apesar do título, nada tem a ver com questões partidárias. Aliás, num prólogo aos franceses em 1937, o escritor afirma que “Ser de esquerda é, como ser de direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas de hemiplegia moral”. O livro analisa o fenômeno das multidões nos centros urbanos que começaram a se aglomerar e destacar, especialmente a partir do século XIX. Entretanto, apesar de ter sido escrito no começo do século passado, por um estranho fenômeno, vem se tornando a cada dia mais fiel à realidade atual. O escritor toma como base o “homem-massa”, ou seja, aquele que não reconhece os valores do passado e o esforço que seus antepassados fizeram para que ele tivesse direito a usufruir das liberdades das quais atualmente goza. Essa é uma situação que qualquer país ocidental vivencial nos dias atuais. Com esse ideário de educador do povo, Ortega y Gasset propõe que: “As direitas prometem revoluções, e as esquerdas propõem tiranias”. Vale a pena a leitura. AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 15 Eventos 1 2 3 4 5 Noite de homenagens e confraternização 1. Diretoria da AMARN entrega medalhas do Mérito Judiciário 2. Juiz Jorge Carlos entrega medalha ao desembargador Aderson Silvino 3. Juiz Odinei Draeger entrega medalha ao juiz Fábio Filgueira 4. Juiz Mádson Ottoni com o desembargador Aderson Silvino 5. Juiz Marcelo Varella - vice-presidente da AMARN - conduz solenidade 16 AMARN - JAN / FEV / MAR 2015 www.amarn.com.br - [email protected]