BIODANZA, A SOLUÇÃO DAS MISÉRIAS Hélio Arakaki, facilitador didata, consultor, mestre de Karatê. Passei quatro dias fora, viajando. E de lá pra cá, desde que retornei uma imagem, volta e meia, me vem à mente. A de meu neto Guilherme de três anos pulando de alegria em meio à multidão, na porta da sala de desembarque do aeroporto, gritando: vovô! Vovô! Vovô! Era como se eu estivesse realizando a vivência do encontro aos nomes como da primeira vez! Como a sensação de ser reconhecido, olhado e recebido com celebração nos faz despertar a sensação de estar vivo humana e amorosamente presente! Eis uma das facetas enaltecedoras da poética do encontro humano! Incompreensível e inacessível, infelizmente, para uma grande maioria, por toda a vida. Não poderia ser diferente, afinal, nossa cultura carece do encontro autêntico, espontâneo e amoroso, ao contrário, os encontros se revestem de uma demonstração fria e formal de práticas de boas maneiras, etiquetas e jogos de interesse. Página Em nossa sociedade, claramente as pessoas se mostram arredias a tudo aquilo que evidencia uma vinculação afetiva: a proximidade física, o contato, o olhar. Quem apresenta um grau de 1 Se a sexualidade foi tabu por muito tempo, hoje caiu na banalização através da pornografia e da promiscuidade. Nos dias atuais, a afetividade é o grande tabu. liberdade em demonstrar afeto tocando, abraçando e beijando as pessoas é visto com olhares de julgamentos maliciosos. Eis ai um modo de vida anti-vida: não me toque e nem toco, não me olhe e nem olho, não se aproxime e não me aproximo, em outras palavras, não faço conexão. E isso é viver sem existir, pois é através da presença do outro que nos fazemos perceber vivos, existentes. Para complicar, a tecnologia digital, agrava ainda mais o distanciamento e a desconexão entre as pessoas. E isto tem uma consequência muito grave. Recentemente li um artigo de Johan Hari, autor do livro Chasing The Scream: The First and Last Days of the War on Drugs' (Perseguindo o grito: os primeiros e os últimos dias da guerra contra as drogas, em tradução livre). O autor, um jornalista, dedicou-se a uma pesquisa sobre dependência química a partir do relato de uma pesquisa realizada com ratos nos anos de 1970, conduzido pelo professor de psicologia Bruce Alexander, de Vancouver. Neste experimento, colocaram-se dois grupos de ratos em gaiolas diferentes. Em uma gaiola, o rato era isolado, sendo servido água por duas formas, uma pura e outra misturada com cocaína e heroína. Resultado, o rato acabou obcecado pela água misturada até morrer. Numa outra gaiola, que ele denominou Rat Park, ao invés de um rato, havia um maior número deles, com um ambiente estimulador com bolas para brincar, túneis, comida e interações entre eles, tudo que um rato poderia desejar de bom. Inicialmente, estes ratos experimentaram os dois tipos fornecidos de água, por incrível que pareça, os ratos passaram a evitar a água com droga e passaram a ingerir somente a água pura. Concluiu-se que o fator responsável pelo vicio ou não era a conexão entre os ratos. O isolamento gerava a dependência pela droga. Página Mas, na realidade, cerca de 95% dos soldados viciados - segundo o mesmo estudo simplesmente pararam de usar heroína. Alguns poucos foram para clínicas de recuperação. Eles passaram de uma gaiola aterrorizante para uma agradável, e não queriam mais usar drogas. 2 O professor, prosseguindo no estudo, descobriu um dado publicado na revista Time que, entre os soldados americanos, na guerra do Vietnã, mais de 20% dos soldados americanos ficaram viciados em heroína no Vietnã, segundo um estudo publicado no Archives of General Psychiatry. Muita gente ficou compreensivelmente aterrorizada; elas achavam que com o fim da guerra um enorme número de viciados voltaria para casa. Alexander argumenta que essa descoberta é uma contestação profunda tanto da visão direitista, segundo a qual o vício é uma fraqueza moral causada por uma vida de festas e hedonismo, quanto da visão liberal, que diz que o vício é uma doença que existe num cérebro quimicamente sequestrado. Na verdade, segundo Alexander, vício é adaptação. Não é você. É a gaiola. A partir desse artigo, conclui-se que não é a droga em si que causa o vicio, mas a ausência de conexão humana! Se o indivíduo é incapaz de conectar com pessoas, ele vai se conectar não somente com as drogas, mas também a uma mesa de jogo de azar, ao sexo e as outras formas compulsivas de satisfação. Trata-se, portanto, de uma quebra de paradigma, uma vez que contesta o argumento que se utiliza de que a droga é a principal vilã. A grande vilã, a partir dessa experiência, a meu ver, é essa cultura que promove a pior das misérias, na palavra de Rolando Toro, a miséria afetiva, abrindo precedentes à toda forma de desrespeito à vida: a pobreza, a fome, a doença, a exploração, à violência, desigualdades sociais, as guerras etc. Se puderam perceber, a gaiola rica em estímulos, o Rat Park, trata-se daquilo que Rolando nos dizia ser um grupo de Biodanza, um “ambiente enriquecido” em que a vivência de afeto e as suas manifestações compartilhadas, os encontros, a alegria, a sensualidade, os jogos, as celebrações, a criatividade, promove a conexão do indivíduo consigo mesmo, com o outro e com a totalidade. O faz sentir comoventemente vivo. Na cultura desumana, que criou a separação e o isolamento das pessoas, cada vez mais o Principio Biocêntrico se faz extremamente necessária. Visceralmente necessitamos de vínculos afetivos. Somos seres permanentemente carentes de amor. Necessitamos não apenas de mudar a mente com nossa forma de pensar, mas também o nosso coração. Página Para ler o artigo citado: http://www.brasilpost.com.br/johann-hari/descoberta-a-provavelcau_b_7597010.html 3 Grato meu Mestre Rolando Toro, grato meu amado neto Guilherme pelas vivências de conexão!