1 Biot-Savart: reprodução a baixo custo, estudo histórico e análise crítica (Biot-Savart: a low cost reproduction, a historical study review and a critical analyses) Jhonatan da Silva Lima1, João Paulo Chaib2 1 Universidade Católica de Brasília [email protected] 2 Universidade Católica de Brasília [email protected] Resumo: Este artigo descreve como realizar uma reprodução do primeiro experimento eletromagnético de Biot e Savart com materiais de baixo custo. Também é apresentada uma breve contextualização assim como uma analise crítica dos conceitos utilizados por Biot e Savart para ao procedimento experimental. Palavras - chaves: Eletromagnetismo, experiência de Oersted, experimento de BiotSavart. Abstract: This article describes how to perform a reproduction of the Biot – Savart electromagnetic first experiment with low cost materials. Also, is presented a brief overview of Biot and Savart concepts wich was used to design and carry out the experiment. Moreover, a critical analysis of this experience is expored. Keywords: Electromagnetism, Oersted experiment, Biot-Savart experiment. 1. Introdução Isaac Newton (1642 - 1727), quando publicou o seu Principia, unificou a força entre os objetos celestes e terrestres sob uma mesma equação. Afirmou que os objetos, independente de estarem abaixo ou a cima do céu, interagem sob uma força do mesmo tipo, a gravitacional, e que é proporcional aos produtos das massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância (Dias, Santos, 2004). Em outras palavras: Onde massa é o módulo da força gravitacional que um objeto pontual (A) de realiza sobre um objeto pontual (B) de massa ,e é a distância entre estes dois objetos. Newton fez isso usando as leis para o movimento junto com as leis de Johannes Kepler (1571 - 1630), criadas a partir da observação experimental de Tycho Brahe (1543 - 1601). E como esta equação foi criada a partir da 3º lei de Newton, também é o módulo da força gravitacional que o objeto (B) exerce sobre o objeto (A). Além disso, 2 é a direção em que esta força se encontra ao longo da linha reta que une os objetos pontuais (A) e (B). Um século depois, com os trabalhos de Charles Augustin Coulomb (1736 1806), vieram às equações que descreviam a interação entre dois objetos pontuais eletrizados ou entre dois objetos pontuais magnetizados. Ou seja: Onde é o módulo da força elétrica – à qual chamaremos de força eletrostática – que um objeto pontual (A) de carga (B) de carga . Da mesma forma objeto pontual (A) de pólo realiza sobre o objeto pontual é o módulo da força magnética que um realiza sobre um objeto pontual (B) de pólo distância entre os dois objetos pontuais nos dois casos é igual a forças foram concebidas para seguir a 3º lei de Newton, ou seja, . A . Essas duas e são também o módulo da respectiva força elétrica e magnética que o objeto (B) exerce sobre o objeto (A). Para encontrar essas forças, Coulomb seguiu um método bem diferente de Newton. Construiu um gráfico entre as duas grandezas (no caso força e distância), variando uma delas como dado de entrada e observando o comportamento resultante da outra grandeza. Sendo assim, ajustou ao gráfico uma função que coincidia com os pontos obtidos, resultando na proporcionalidade das equações (2) e (3). Via-se que a força eletrostática tinha origens diferentes da força magnética. A primeira aparece depois de dois objetos serem atritados, e se apresentava sob qualquer material. Já a segunda era permanente em materias tais como a magnetita, no entanto só atuava em materiais ferrosos. A carga elétrica poderia ser isolada no objeto eletrizado, já a carga magnética – ou pólo – se apresentava sempre em dupla, como dipolos. Mesmo assim, havia fenômenos, tais como a reação de uma bussola ao cair de um raio, que sugeria uma relação entre a eletricidade e o magnetismo. Havia cientistas, tal como o dinamarquês Hans Christian Oersted (1745 - 1827), que acreditavam existir alguma relação entre estes dois tipos de interação. E foi Oersted que observou a deflexão (Chaib e Assis, 2007) de uma agulha magnética na vizinhança de um fio com corrente elétrica. Caso não haja corrente 3 elétrica no interior do fio não há mudança alguma. Caso contrário, a agulha deflete para um sentido preferencial, tal como na Figura 1 (b) onde a corrente flui sobre a agulha no sentido Sul – Norte e a agulha desvia para Oeste. Figura 1: Ilustração do efeito fundamental do experimento de Oersted. As letras (a) e (c) mostram o experimento de perfil. As letras (b) e (d) mostram a vista de cima. Em 21 de julho de 1820 Oersted pagou do seu bolso a impressão descrevendo seu experimento e distribuiu para as principais academias de ciências da Europa. Sua descoberta foi descrita na Academia Real de Ciências da França em 4 de setembro de 1820 pelo presidente François Arago (1786 - 1853), a reação dos pesquisadores foi de total descrença. Um dos principais motivos deste ceticismo é o fenômeno onde agulha magnética apresenta uma preferência em girar para o mesmo lado quando o experimento mantém a configuração de completa simetria geométrica. No entanto, Arago repetiu o experimento diante de todos os membros da Academia em 11 de setembro do mesmo ano. E este foi o marco inicial para a corrida de Jean-Baptiste Biot (1774 - 1862), a de encontrar, tal como Newton e Coulomb, a fórmula que regeria esta nova interação: a interação eletromagnética. Em 30 de outubro de 1820, Biot e Felix Savart (1791 - 1841) apresentam para a Academia o resultado da experiência, da ação de um fio tido como infinito sobre um pólo magnético. E é sobre esta experiência que este artigo trata. 4 2. Analise teórica 2.1 Como Biot e Savart entendiam o fenômeno de deflexão da agulha O trabalho publicado em 1820 por Biot e Savart sobre sua experiência eletromagnética se intitula Note sur le Magnétisme de la pile de Volta , ou seja, “Nota sobre o Magnetismo da Pilha de Volta”. Este texto é composto por apenas duas folhas e, como o próprio título sugere, se configura mais como uma nota - um comunicado - informando a execução da experiência e seus resultados sem entrar em muitos detalhes. Lá Biot e Savart afirmam o seguinte: Com o auxílio destes procedimentos os Srs. Biot e Savart foram conduzidos ao resultado seguinte que exprime rigorosamente a ação experimentada por uma molécula de magnetismo austral ou boreal colocada a uma distância qualquer de um o cilíndrico muito fino e indefinido, tornado magnético pela corrente voltaica. [...] A natureza de sua ação é a mesma que a ação de uma agulha imantada que fosse colocada sobre o contorno do fio em um sentido determinado e sempre constante em relação à direção da corrente voltaica; de tal maneira que uma molécula de magnetismo boreal e uma molécula de magnetismo austral seriam assim solicitadas em sentidos contrários, embora sempre seguindo a mesma [linha] reta determinada pela construção precedente. [nossa ênfase] (Biot e Savart, 1820, pág. 308). O que se destaca nesse texto, é como os autores entendiam os processos elementares que se passavam no fio. Vemos que eles imaginavam que o condutor se magnetizava ao ter uma corrente elétrica, ou seja, a natureza da força é do tipo essencialmente magnético. Por moléculas de magnetismo, ou moléculas magnéticas, é o que entendemos hoje por pólos magnéticos ou também monopólos. Assim, uma “molécula de magnetismo boreal” representa o pólo norte enquanto que uma “molécula de magnetismo austral” representa o pólo sul. Na segunda edição de seu livro Précis élémentaire de Physique - Tratado Elementar de Física - de 1821, Biot adiciona um artigo intitulado Sobre a imantação impressa aos metais pela eletricidade em movimento e esclarece um pouco mais seu raciocínio: 5 As observações precedentes nos dão a ação de cada pedaço infinitamente pequeno de um fio cilíndrico. Mas estes mesmos pedaços, tão pequenos como se deseja supor, são ainda massas estendidas, representadas e fechadas por um conjunto de uma multitude infinita de partículas, que são os elementos do mesmo metal. Suas 1 ações [dos pedaços], que chamávamos até então de simples , é, ainda realmente composta. Assim, para obter a lei abstrata das forças - aquela que deve ser o primeiro princípio e a causa determinante de todos os efeitos – se deverá encontrar a maneira como cada molécula [magnética] infinitamente pequena do fio conjuntivo contribui para a ação total do pedaço que essa [molécula] faz parte. (Biot, 1821, pág. 117). Seu experimento só será descrito detalhadamente na 3º edição de seu Précis élémentaire de Physique de 1824. Neste mesmo texto, devido às várias críticas que o modelo de arranjo de moléculas magnéticas no fio irá ter - principalmente por parte de Oersted e André-Marie Ampère (1775-1836) (Assis e Chaib, 2011) - Biot acrescentará o seguinte texto: Nós não vamos examinar aqui como as diversas seções transversais do fio contribuem para compor esta resultante [da força do fio sobre o pólo], nem como as moléculas [magnéticas] infinitamente pequenas de cada seção podem fornecer resultantes transversais ao fio. (Biot, 1824, pág. 714), (Biot, 1885, pág.90). De fato, não houve ainda quem pudesse imaginar como um arranjo de pólos magnéticos no contorno do fio obedecendo a Equação (2) se desdobraria nas primeiras conseqüências experimentais que Biot concluiu, a saber, (Biot e Savart, 2006, pág. 308): Que, ao traçar uma reta perpendicular ao eixo do fio até o ponto onde se localiza o pólo, a força que atua sobre o pólo é perpendicular a esta linha e ao eixo do fio. E que a intensidade desta força é inversamente proporcional ao comprimento desta reta. 2.2 Montagem experimental do trabalho de Biot e Savart _______________________ 1 Por ação simples entende-se como a interação mais fundamental, ou seja, a força elementar a partir da qual se constroem as forças resultantes de um corpo finito. 6 Na sua primeira nota a respeito do fenômeno eletrodinâmico, Biot e Savart descreve a maneira de obter seus dados experimentais da seguinte maneira: As experiências foram feitas suspendendo por fios de seda lâminas retangulares ou fios cilíndricos de aço temperado, imantadas pelo método de duplo contato, e observando as durações de suas oscilações, assim como suas posições de equilíbrio, enquanto estavam suspensas a várias distâncias e em direções diferentes em relação ao fio metálico que unia os dois pólos da pilha. Algumas vezes a ação do magnetismo terrestre era combinada com a ação do fio, e em outras vezes era compensada e destruída pela ação oposta [exercida] por um ímã artificial colocado à distância. (Biot e Savart, 2006, pág. 308). A maneira que escreveram este procedimento refletiu em problemas de reprodução, pois existem muitas informações que foram omitidas. Assim, não houve nenhum tipo de descrição detalhada da montagem do experimento de Biot e Savart e de como obter os dados experimentais, até a publicação da 2º edição do Précis em 1821, publicado por Biot. Lá encontramos algumas Figuras, tal como a Figura 2 para ilustrar a montagem do experimento, mas o procedimento em si ainda não estava claro. Biot descreveu que: Nós tomamos uma agulha de aço imantada tendo a forma de um paralelogramo, tal qual AB (Fig 59), e, para torná-la perfeitamente móvel, nós a suspendemos em uma caixa de vidro por um simples fio de seda dispondo-a em uma posição horizontal. Em seguida, para que ela fosse realmente livre a fim de obedecer a força emanada do fio condutor, subtraímos a ação do magnetismo terrestre, dispondo uma barra imantada A'B' a uma distância e uma direção tal que contrabalançava esta ação de forma exata. Nossa agulha se encontrava, assim, na mesma liberdade de movimento como se não existisse de maneira alguma o globo terrestre. (Biot, 1821, pág. 121). Ao tentar reproduzir, percebemos que dispor a agulha com tal liberdade de movimento era impraticável. Por fim, 3º edição de 1824, encontramos a descrição mais detalhada onde Biot apresenta resultados semelhantes aos que chegamos: 7 Figura 2: Figura do experimento de Biot-Savart, retirado de (Biot, 1824). [...]. Então, tomando uma barra imantada, cujo estado [de imantação] seja bem estável, e cujo comprimento assim como a energia [magnética] seja tão grande quanto possível, disporá esta barra horizontalmente na altura da agulha, e sobre o prolongamento de seu meridiano magnético, seja ao norte, seja ao sul, girando-a sempre no sentido contrário à ação do globo [terrestre], ou seja, de maneira que seu pólo boreal olhe o norte e o austral o sul. Agora, se a barra está muito distante da agulha, a resultante das forças que exercerá sobre ela, será muito fraca ou mesmo insensível. Isto se reconhecerá fazendo a agulha oscilar pois a velocidade de oscilações será quase a mesma comparada com [a velocidade de oscilação] sob somente a influência terrestre. Mas aproximando a barra pouco a pouco, as oscilações da agulha se tornarão mais lentas, e se poderá gradualmente atingir uma posição onde elas se tornarão suficientes para que a resultante [das forças] seja negligenciável de qualquer forma. [...]. Com efeito, tendo estabelecida esta condição, cada pólo da agulha provará a mesma ação da parte da barra, seguindo direções sensivelmente [infinitesimalmente] paralelas em todas as posições as quais o movimento oscilatório poderá lhe levar. Ora, o paralelismo da direção existe também para a força terrestre, e ainda de uma maneira infimamente mais rigorosa. O movimento oscilatório produzido pela diferença destas duas ações será então tal como aquele que se obteria pela influência de uma única força diretriz muito fraca, agindo sempre ao longo das direções igualmente paralelas umas às outras. Isto torna o quadrado dos tempos de oscilações proporcionais à intensidade da força, desde que as oscilações aconteçam em amplitudes muito pequenas. (Biot, 1824, pág. 708). Com certeza, esta última descrição é mais cuidadosa que a anterior. 8 Figura 3: Ilustração das linhas de força, vistas de cima, originadas da ação do planeta Terra e o ímã fixo N'S' que passam pelo ímã móvel NCS. e representam respectivamente o norte geográfico e o sul geográfico. Enquanto que a força do globo terrestre atua sobre os pólos do imã é constante sob todo o espaço, mesmo não acontece com o imã fixo que, se existe uma distância entre . Isto resulta onde a força do ímã fixo atua sobre o pólo se iguala com a força terrestre, em outras regiões do espaço isto não acontecerá. Ao aproximar o pólo norte do ímã fixo que a força do ímã fixo, a uma distância , tenda a se equilibrar à força terrestre, perturbar levemente o ímã móvel, o pólo do ímã fixo, do pólo norte tal , tem-se que, ao oscilará entorno do eixo que une o centro , como do imã móvel, . Estas mesmas condições se repetem para a ação sobre o pólo sul do ímã móvel e perdurará enquanto a condição distância for satisfeita para a uma dada definida acima. No momento em que o ímã oscila o pólo norte determinada distancia se afasta de para uma . Deste modo, segundo Biot, se o tamanho do braço do ímã, , for muito menor do que então o módulo da força se quase igual a , ou seja, . Ao mesmo tempo temos que a relação entre o período de oscilação e uma força constante atuando sobre um pêndulo físico é igual a: Onde é o momento de inércia do pêndulo, é o módulo da força constante atuando sobre o pêndulo, e é a distância entre o eixo de rotação móvel. e o pólo do ímã 9 Observa-se ao reproduzir o experimento que, no momento em que , o período de oscilação da agulha móvel aumenta consideravelmente e sua amplitude de oscilação também aumenta a ponto de ficar quase perpendicular ao eixo que une o centro do ímã fixo com o centro do ímã móvel. No entanto, por mais que fosse tentado, não se teve sucesso em deixá-la astática2. Assim, o que deve acontecer de fato é uma aproximação onde a resultante da soma das forças do ímã fixo e da terra “seja negligenciável de qualquer forma” durante o experimento, tal como Biot afirmou em 1824, e não - como dito em 1821 – “que contrabalançava esta ação de forma exata”. Levando em conta isso, vejamos a Figura 4, que ilustra a experiência de BiotSavart. Na Figura 4 (a), não existe corrente elétrica no fio condutor, de maneira que só existem as forças atuando sobre os pólos do ímã móvel. A tensão no eixo NCS do ímã móvel, , tende a zero quando tende a . Já a Figura 4 (b), a corrente elétrica é diferente de zero e está entrando no plano do papel. Assim, além das forças móvel, também aparecem às forças tensão atuando sobre os pólos do ímã originadas pela corrente no fio e a que se equilibra com as componentes das outras forças paralelas ao eixo NCS. Assim, ao ligar o fio condutor, existirá um torque que levará a agulha para uma posição perpendicular ao fio, ver Figura 5. E, desde que a amplitude de oscilação seja suficientemente pequena para considerar constante temos que: ______________________ 2 Ampère foi o primeiro cientista a mostrar que a agulha, a qual não se encontra sob influência do magnetismo terrestre, fica perpendicular ao fio condutor. Além disso, cunhou o termo astático para designar este imã que pode ser orientado livremente. (Assis, Chaib, 2010). 10 Figura 4: (a) Não há corrente no Fio condutor. diferente de zero. O fio o exerce as forças . (b) A corrente no fio o condutor é respectivamente sobre o pólo norte e sul do ímã móvel. ou como Biot e Savart afirmaram, , onde é a frequência angular de oscilação do ímã móvel. Figura 5: Em (a) e (b) A corrente no fio condutor é diferente de zero. Sua direção e sentido estão perpendiculares e entrando no plano do papel. O fio exerce as forças respectivamente sobre o pólo norte e sul do ímã móvel. Suas direções e sentido estão de acordo com a descrição de Biot. 3. Montagem experimental Como o experimento será feito a partir de materiais de baixo custo, utilizamos os seguintes materiais: Materiais: Uma bateria de 9 Volts; Fio de cobre de aproximadamente 1 m; Uma chave liga/desliga; Um suporte de bateria de 9 Volts; Um saquinho com canudinhos de refrigerante; Um copinho de café de plástico pequeno; Um pouco de gesso; Um saquinho com palitos de churrasco; Fita isolante; 11 Um imã de neodímio cilíndrico; Um imã de Ferrite na forma de um paralelepípedo regular; Linha de costura; Fita métrica; Uma tesoura sem ponta; Base de isopor 50cmx50cm e; Uma bússola. Junte todos esses materiais para poder construir a Caixa de Biot-Savart que servirá de suporte para os imãs. Logo abaixo estão duas fotos: caixa de Biot-Savart e todo o material para realização do experimento, sem a base de isopor. Figura 6: Caixa de Biot-Savart fixada sobre a base de isopor. 12 Figura 7: Material para realização do experimento, sem a base de isopor. Iniciamos a montagem de cada peça da caixa de Biot-Savart e do suporte do fio retilíneo. Primeiro se mostrará como se monta a “caixa” que se encontra na Figura 6. Ela corresponde à caixa da Figura 2, por isso chamaremos de Caixa de Biot-Savart. Para montar está caixa, são necessários 17 palitos de churrasco com comprimento de 30 cm e mesmo diâmetro para entrar nos canudinhos de refrigerantes. Cortamos as pontas finas para evitar acidentes. Fizemos 12 peças entre os palitos de churrasco e os canudinhos de refrigerante, de acordo com a Figura (8a) e (8b). Figura (8a): Suporte da caixa de Biot-Savart (ilustração). Figura (8b): Suporte da caixa de Biot-Savart (esquema). Na sequência encaixamos os canudinhos, cortamos e construindo as 12 peças da Figura (8a). Estas são as principais peças da caixa de Biot-Savart. Utilizamos as seguintes medidas de proporção, Figura (8b). As dimensões para montar o suporte da Figura (8a), são: Além disso, na dobra do canudo de cada peça foi feito um furo com o diâmetro do palito. Assim pode-se encaixar cada peça em colunas. Este furo é que 13 permite uma estabilidade e o encaixe das partes da caixa. Assim todas as peças que foram feitas até agora devem tê-lo na dobra. Veja Figura 9. Figura 9: Furo apropriado para desenvolver os encaixes. Feito isso pegamos dois suportes da Figura (8a), em cada peça encaixe dois palitos de churrasco. Assim montam-se duas peças que constituiriam laterais opostas da caixa. Em seguida, pegamos mais duas peças da Figura (8a) e encaixamos as laterais nelas, formando um conjunto só, como mostrado na Figura 10. Figura 10: Peça da base para construir a estrutura da Caixa de Biot-Savart. Após a montagem da base, pegamos mais duas peças da Figura (8a) e as encaixamos opostas as duas últimas que foram colocadas. Fizemos está montagem até as duas últimas peças. Terminado a montagem da caixa de Biot-Savart, pegamos um palito de churrasco, o imã de Ferrite, um pedaço de canudo com 10 cm e fita isolante. Dobramos o canudo ao meio e o envolvemos com fita isolante. Para fixar este imã, recortamos um pedaço de canudo com mesmo comprimento e juntamos com fita isolante. Veja a Figura 11. 14 Figura 11: Peças do suporte imã fixo. Na montagem do suporte do fio retilíneo, usamos um copinho de café, palito de churrasco, gesso e água (Chaib, Assis, 2007). Figura 12. Figura 12: Suporte do fio retilíneo. Nas extremidades do fio colocamos aleatoriamente uma das pontas do suporte de bateria, seja o positivo ou o negativo e isole com fita isolante. Na saída do suporte de bateria, o positivo ou o negativo, colocamos em um dos lados da chave liga/desliga e envolva com fita isolante para não entrar em curto. Na saída da chave liga/desliga instale na outra extremidade do fio e isole com fita isolante. Cada componente envolvido nesse circuito elétrico está em série. Nas isolações elétricas do circuito poderá optar pelo uso da fita isolante, pois a bateria pode fornecer ao circuito uma corrente de aproximadamente 1 A. 4. Resultados e discussão Com a caixa de Biot-Savart montada, suporte do fio retilíneo e os imãs em seus devidos lugares nos permitirão fazer uma analise detalhada da montagem experimental ao artigo publicado na Academia de Ciências por Biot e Savart em 30 de outubro de 1820. 15 Tratando-se de um fio retilíneo e indefinido3 percorrido por uma corrente elétrica sobre a ação de uma molécula de magnetismo austral ou boreal [isto é, um pólo Norte ou Sul]. Ao analisarmos o experimento de Biot e Savart o fio retilíneo fica entre o imã potente e a agulha imantada. O imã potente serve para cancelar o efeito do magnetismo terrestre. No nosso experimento serão usadas as palavras imã suspenso e imã fixo, que é a mesma coisa que agulha imantada e imã potente, respectivamente. Isso para diferenciar quando nos referimos do artigo feito para o artigo analisado. A informação relevante é a forma com que o experimento de Biot e Savart foi construído, sendo usados materiais da época, obviamente. Biot e Savart utilizaram os seguintes materiais: agulha imantada, um pedaço de fio de seda para deixar a agulha imantada suspensa, um fio muito fino e muito longo e o suporte de madeira. O fio é constituído de cobre. O suporte de madeira parecido ao do nosso experimento, mas com montagem diferente. A agulha imantada e o imã de neodímio têm as mesmas características magnéticas. Com os pólos sul e norte magnéticos. Em sua montagem experimental, Biot e Savart, colocaram o fio retilíneo CZ com seu ponto médio em M entre agulha imantada e o imã potente, na mesma altura e horizontal. A agulha imantada está com sua projeção AB passando pelo centro de gravidade com relação ao fio vertical que a sustenta. No nosso caso inicialmente a agulha imantada está com norte magnético voltado para o sul magnético da Terra e o imã fixo voltado com seu norte magnético para o norte magnético da agulha. Nesse caso estão distantes e sem a força necessária para a agulha oscilar em torno do eixo de orientação. As forças que estão atuando sobre a agulha são somente as forças magnéticas da Terra e do imã. A força magnética do imã fixo nesse caso é menor do que a força magnética da Terra. A Figura 13 (a) e (b) ilustra vetorialmente a ação das forças. _____________________ 3 Os efeitos das extremidades do fio podem ser desconsiderados. 16 Figura 13: (a) Ação das forças magnéticas da Terra e do imã sem a agulha oscilar (b) aproximação gradual do imã potente sem a agulha oscilar. Quando imã potente é aproximado gradualmente da agulha imantada, a força magnética do pólo norte do imã potente atua sobre o pólo norte da agulha imantada se repele e a agulha tende a oscilar em torno do seu eixo de orientação. A Figura 14 (a) e (b) nos mostra vetorialmente a ação das forças sobre a agulha. Figura 14: (a) Ação da força da Terra e do imã potente sobre a agulha e (b) Aproximação gradual do imã potente. As forças do imã e da Terra estão atuando neste momento de oscilação. Ora o vetor força do imã aumenta ora o vetor força da Terra diminui e vice – versa por isso a agulha oscila. A Figura 15 nos mostra essa relação vetorial. 17 Figura 15: Ação dos vetores força no momento de oscilação da agulha com a aproximação gradual do imã potente. A oscilação da agulha imantada conforme a Figura 15 mostra a mesma relação de forças que atuam sobre um pêndulo simples. As forças que atuam na agulha são de natureza magnética e no pêndulo simples de natureza gravitacional. No pêndulo simples atuam a força gravitacional e a força de tração do fio e na agulha atuam a força magnética do imã potente e a força magnética da Terra. Como no experimento de Biot e Savart afirma que a agulha imantada está perpendicular ao fio reto vertical e pelo centro da agulha, a força magnética do pólo sul da Terra tem o mesmo tamanho vetorial do pólo norte magnético do imã potente em direções opostas. A força magnética da Terra irá atuar sobre o pólo sul magnético da agulha imantada. Neste caso o efeito da ação magnética da Terra é cancelado sobre agulha imantada, ficando a mesma em qualquer posição desejada, como está no artigo publicado por Biot e Savart, mas não astática. Na reprodução do experimento é explicado por que o imã suspenso fica sempre na posição de equilíbrio estático quando o imã fixo é aproximado. No primeiro artigo de Biot e Savart, os polos austral e boreal são os mesmo que N de norte e S de Sul, respectivamente. Não existem cálculos explicativos e nem dados coletados. Na montagem didática como mencionado anteriormente o fio retilíneo está atrás do imã suspenso a certa distância. Inicialmente a caixa de Biot-Savart com os imãs e colocado de tal forma que o imã suspenso fique com o norte magnético apontado para o sul magnético terrestre. Um detalhe importante é identificar no imã 18 suspenso e no imã fixo quem é o norte magnético e o sul magnético. Foi utilizada fita crepe e escrito somente o N de norte ou S de sul em um dos lados dos dois imãs. Mas para saber se o imã suspenso está voltado para o sul magnético terrestre utilize uma bússola a certa distância que não interfira no mesmo, por causo do campo magnético do imã suspenso. Não é necessário, mas serve de auxilio no experimento. O próprio imã suspenso já ficará apontado para o sul magnético terrestre. A Terra tem todas as características de um imã comum que pode ser pego com a mão, existe os pólos sul e norte magnéticos, alem dos pólos sul e norte geográficos. A final de contas a “Terra é um grande imã”, segundo William Gilbert (1544-1603) (apud Assis, 2010, p. 27). Seguindo com a montagem do experimento foi pego o imã suspenso e o imã fixo e aproximando gradualmente um do outro. Mas em qual posição colocar o imã fixo? O imã suspenso fica orientado na direção sul magnético terrestre, como citado anteriormente e com o auxilio da bussola irá perceber que tanto o norte do imã suspenso quando o norte da bussola estará voltado para o sul magnético terrestre, Figura 16. Figura 16: Imã suspenso e bussola. O imã suspenso está somente sobre a ação da força magnética da Terra. A força resultante sobre ele é zero. Respondendo a pergunta anterior, o imã fixo deverá ficar de tal forma que o norte do imã suspenso fique voltado para o norte do imã fixo. Ao aproximarmos o imã fixo do imã suspenso haverá uma repulsão entre os pólos nortes magnéticos dos dois imãs, ficando em qualquer posição dependendo da distância do imã fixo. O imã suspenso irá oscilar até parar em alguma orientação. 19 Essa orientação depende das forças magnéticas do imã fixo e da Terra, ou seja, o tamanho do vetor força. Essa “parada” de oscilação deverá ficar de tal forma que o imã suspenso fique no limiar de oscilar. A posição que Biot e Savart deixaram a agulha imantada foi exatamente alinhada ao imã potente. As forças da Terra e do imã fixo estão com o mesmo tamanho vetorial. Essa orientação foi encontrada movimentando a caixa de Biot-Savart e com relação ao alinhamento do imã fixo com o imã suspenso. Quando movimentada a caixa, o imã suspenso oscila, e nessa oscilação existe um ponto de equilíbrio estável que deve ser encontrado. Esse equilíbrio é exatamente a completa simetria geométrica alinhada entre esses dois objetos. Existindo assim uma analogia entre a força terrestre e o imã fixo. Quando o imã suspenso estiver exatamente nessa orientação, posicione o fio retilíneo atrás do mesmo. Ao ligar a chave liga/desliga, irá fluir pelo fio uma corrente elétrica e a força magnética atuará em direções opostas de cada molécula magnética dos pólos sul e norte do imã suspenso, Figura 18 (b), oscilando por um determinado tempo, Figura 18 (c). Nesse momento de oscilação o imã suspenso é análogo às características vetoriais de forças do pêndulo simples. Confrontamos as imagens da Figura 17. Figura 17: Pêndulo simples, imã suspenso e as forças atuantes. As forças são as mesmas forças que fazem o pêndulo simples e o imã suspenso oscilarem, respectivamente. Quando o imã suspenso é deslocado de sua posição de equilíbrio, a ação da força magnética da Terra juntamente com a ação da força magnética do imã fixo o faz oscilar, apresentando assim um 20 movimento periódico. Período é o tempo que o imã suspenso leva para dar uma volta completa, ou seja, quando a amplitude de oscilação é máxima e sua velocidade é igual zero, fazendo o imã voltar para a mesma posição. Esse período pode ser medido marcando o tempo oscilação por número de voltas . Período é dado pela equação 5. Com o período medido, pode-se calcular a frequência de oscilação a partir dele ou com relação ao número de voltas por tempo. Veja equação 6. Essas duas equações nos fornecem a velocidade angular do imã suspenso. Equação 7. ou Partindo da relação do período ou da frequência pode-se calcular o módulo da força. Equação 8. é o módulo da força do fio atuando sobre o imã suspenso, entre o eixo de rotação é a distância e o pólo do ímã móvel. A equação 9 fornece o momento de inércia do imã suspenso. é o momento de inércia do imã cilíndrico suspenso com efeito de rotação no centro, é a massa do imã suspenso e é o raio do imã suspenso. As equações 5, 6, 7, 8 e 9 calcula-se o período angular , força magnética do fio sobre o imã suspenso , frequência , velocidade e o momento de inércia . Quando o imã para na orientação perpendicular ao fio reto e vertical, Figura 18 (d), fica perpendicular a linha horizontal que passa pelo centro de gravidade do imã suspenso até o fio reto e vertical. O imã suspenso estando na posição perpendicular, irá adotar o norte magnético tanto do Leste - Oeste ou de Oeste – Leste, dependendo do sentido da corrente elétrica. A componente vetorial da força terrestre, força magnética do fio e do imã fixo estão descrito na Figura 18. 21 Figura 18: Decomposição vetorial das forças. Observe na Figura 18 (d) ao traçarmos um gráfico xy, com x no eixo da força terrestre, y no eixo da força do fio e ao decompormos a força do imã suspenso irá aparecer uma força , oposta a força terrestre . Subtraindo as forças a resultante irá ser igual a zero. A componente força do fio ao pólo SUL e a componente força do fio ao pólo NORTE, são opostas, tendo a mesma intensidade de força magnética, ou seja, mesmo tamanho vetorial. Nesse caso a força resultante é zero. Por isso, a agulha magnética de Biot e Savart e o imã suspenso na reprodução didática têm os mesmos resultados observacionais. Este resultado experimental retrata o que Biot haviam observado e detalhado em seu livro da 3º edição de 1824. 5. Conclusão Logo, este artigo mostra que é possível reproduzir a primeira experiência eletromagnética de Biot-Savart de contexto histórico a baixo custo e de analise critica de artigos publicados. Podendo contribuir com uma possibilidade de reprodução e o enriquecimento da sala de aula. Não somente em sala de aula, mas a qualquer grupo de pessoas ou a quem se interesse por Ciência. Verificou-se que as descrições a respeito do procedimento experimental nos textos de 1820 e 1821 apresentaram informações discrepantes quando comparada com o texto de 1824. Constatou-se ainda que as observações realizadas sobre o 22 experimento de baixo custo concordaram com as descrições expostas no texto de1824. Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus por tudo. Agradeço a minha família que sempre me apoiaram na busca de uma conquista. Agradeço ao meu orientador João Paulo Chaib. Agradeço a todos os meus amigos e professores do curso de Física. Referências ASSIS,A. K. T.. Os Fundamentos Experimentais e Históricos da Eletricidade. Montreal:Apeiron.Canadá.2010. ASSIS,A.K.T.; CHAIB,J.P.M.C.. Eletrodinâmica de Ampère. Editora Unicamp, Campinas, 2011. ISBN 9-788-526-809-383. ASSIS,A.K.T.; CHAIB,J.P.M.C.. Nota sobre o Magnetismo da Pilha de Volta Tradução Comentada do Primeiro Artigo de Biot e Savart sobre Eletromagnetismo. Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 16, n. 2, p. 303-306, jul./dez. 2006. BIOT,J.B.. Précis Élementaire de Physique Expérimentale, volume 2. Chez Deterville, Paris, 3 edition, 1821. BIOT,J.B.. Précis Élementaire de Physique Expérimentale, volume 2. Chez Deterville, Paris, 3 edition, 1824. BIOT,J.B.; SAVART,F.. Nota sobre o Magnetismo da Pilha de Volta. Caderno de História e Filosofia da Ciência, 16(2):307-9, julho – dezembro 2006. Série 3. BIOT,J.B.; SAVART,F.. Note sur le magnetism de la pile de Volta. Annales de Chimie et de Physique, 15:222-223, 1820. Disponível em 2007 no: http://ampere.cnrs.fr\. BIOT,J.B.; SAVART,F.. Sur I’aimantation impose aux métaux par I’électricté en movement. In J.Joubert, editor, Collection de Mémoires relatives a la Physique – Tome II: Mémores sur I’Électrodynamique, pages 80-127, Paris: Gauthier-Villas. 1885. CHAIB,J.P.M.C.. Ánalise do significado e da Evolução do Conceito de Força de Ampère, Juntamente com Tradução Comentada de sua Principal Obra sobre Eletrodinâmica. 2009.386f. Tese de Doutorado em Física. Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, São Paulo. CHAIB,J.P.M.C.; ASSIS,A.K.T.. Experiência de Oersted em sala de aula. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 29, n. 1, p. 41-51, 2007. 23 DIAS,P.M.C.; SANTOS,W.M.S.; SOUZA,M.T.M.. A gravitação universal (um texto para o ensino médio). 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