Área do trabalho
Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ)
UFBA, UESB, UESC e UNEB
HC
Visões de Ciência e Cientistas: análise de uma Proposta
Didática baseada em um Texto Histórico
1
2
Duanne Maciel Scremin (IC)*, Joanez Aparecida Aires
1
(PQ).
Bolsista PIBID-Subprojeto Química- Universidade Federal do Paraná, [email protected]
Coordenadora PIBID-Subprojeto Química- Universidade Federal do Paraná, [email protected]
2
Palavras-Chave: HFC, Desmistificação, PIBID.
RESUMO: A utilização da abordagem História e Filosofia da Ciência (HFC) vem sendo amplamente defendida
como possível aliada no ensino de ciências (Matthews, 1995; Luffiego, 1994; Peduzzi, 2001). Com base
nessa premissa, o objetivo deste trabalho consiste na análise de uma Proposta Didática (PD) para o ensino
de química a partir da abordagem HFC tendo por base um texto histórico do cientista James Chadwick sobre
a descoberta do nêutron. A PD foi desenvolvida por licenciandos do Curso de Química da UFPR, no âmbito
do Programa Institucional de Iniciação à Docência – PIBID. Observou-se que o uso de textos clássicos sobre
a história da química, a partir da abordagem HFC, pode contribuir para a compreensão de conceitos sobre o
que é a ciência e de que forma novas descobertas são alcançadas, bem como o entendimento do que é um
cientista e como ele trabalha em diferentes meios.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo apresentar a análise de uma Proposta Didática
(PD) para o ensino de química, a partir da abordagem História e Filosofia da Ciência
(HFC). A Proposta foi desenvolvida por licenciandos do Curso de Química,
participantes do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). O
desenvolvimento da PD consistiu de quatro momentos. No primeiro momento foi
estudada a temática História e Filosofia da Ciência (HFC). Para tanto, foi realizado um
levantamento das pesquisas desenvolvidas sobre o tema em periódicos da área de
Ensino de Ciências/Química. O segundo momento consistiu na busca de um texto
histórico e na elaboração das aulas que constituiriam a Proposta Didática. No terceiro
momento ocorreram as aulas na escola. O quarto momento foi destinado à análise dos
dados e elaboração do presente artigo. Todo o processo de trabalho com a temática
HFC, desde o primeiro até o quarto momento, teve duração de um ano.
O texto histórico utilizado para o desenvolvimento da Proposta foi o do cientista
James Chadwick “A descoberta de um Nêutron”, publicado em 1932, o qual foi
traduzido e adaptado para o uso em sala de aula. O texto mostra como o cientista
Chadwick teve suas dúvidas em relação aos experimentos de Marie Curie, instigado
pelo professor Rutherford, que já supunha existir uma partícula com massa no núcleo
atômico. Chadwick fez então pesquisas e novos experimentos procurando a solução
pelas descobertas e falhas de outros cientistas, chegando enfim à descoberta do
nêutron.
A PD consistiu numa série de oito aulas, as quais foram ministradas em uma
turma de alunos da Educação Básica da rede pública do Estado do Paraná. Antes do
início dessas aulas, foi aplicado um Questionário Inicial, com o objetivo de conhecer a
compreensão dos alunos sobre os conteúdos específicos de química que seriam
abordados na Proposta (modelos atômicos, estrutura da matéria e o descobrimento do
nêutron), bem como quais as suas concepções sobre ciência e cientista. Ao final do
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trabalho com a PD também foi aplicado um questionário, objetivando analisar as
possíveis contribuições da Proposta para a compreensão dos conteúdos e se houve
interferência das reflexões suscitadas durante as aulas nas suas concepções sobre
ciência e cientista. São estes questionários que constituem o objeto de análise deste
trabalho, os quais serão apresentados e discutidos, após uma breve justificativa das
possíveis contribuições da abordagem HFC para o ensino de ciências.
História e Filosofia da Ciência no Ensino de Ciências
Estudos como os de Luffiego et al (1994), Matthews (1995), Peduzzi (2001),
Martins (2006) Marques (2010), Briccia e Carvalho (2011) têm argumentado que a
História e a Filosofia da Ciência (HFC) pode contribuir para a melhoria do processo
ensino aprendizagem, especialmente na área das ciências exatas. Luffiego et al (1994)
argumentam que a incorporação da HFC na educação pode contribuir também para a
humanização do ensino científico, ou seja, essa incorporação significa a melhor
compreensão de conteúdos por parte de quem os estuda e clareza na hora de ensinálos.
Conforme Marques e Pinto (2010), uma das possibilidades de se acessar o
processo de construção do conhecimento, pode se dar através da história da ciência.
Nesse sentido, conhecer a história da ciência permitiria o entendimento do
desenvolvimento do conhecimento em todos os seus aspectos, como dificuldades,
metodologias e limitações. Além disso, a HFC pode permitir vislumbrar os recursos da
época em que os conhecimentos foram desenvolvidos, para então, contextualizar a
fundamentação teórica e prática da metodologia científica utilizada pelos cientistas em
cada época em que produziram conhecimentos científicos.
Há, todavia, controvérsias quanto ao uso da HFC no ensino de ciências. Sobre
isso, Kuhn argumenta que ao lerem textos clássicos, os estudantes entrariam em contato
com trabalhos que apresentam outras formas de ver os problemas discutidos em seus
livros, como também encontrariam discussões e conceitos que os profissionais da área
eliminaram há muito tempo. Portanto, nesse sentido “a exposição à história poderia abalar
ou enfraquecer as convicções do estudante sobre o paradigma vigente, sendo, portanto,
danosa à sua formação.” (KUHN apud PEDUZZI, 2001).
Em relação a essa preocupação, Matthews (1995) explica que não há a
intenção de se substituir o conteúdo das ciências pelo de HFC. Em lugar dessa
substituição, deve haver uma combinação entre o conteúdo em si e seus aspectos
histórico-filosóficos, de modo que um se apoie no outro. Tendo em vista esta
compreensão, considera-se neste trabalho que a temática HFC pode trazer
contribuições para o ensino de química se utilizada como um instrumento, um método
ou estratégia de ensino. A Proposta Didática que está sendo analisada neste trabalho
foi elaborada a partir desta visão.
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MÉTODOS E TÉCNICAS
O texto histórico utilizado correspondeu ao “The Existence of a Neutron”
(CHADWICK, 1932). Com base neste artigo foi elaborada uma sequência de 08 aulas
que objetivaram tratar daqueles conteúdos químicos específicos presentes no artigo,
bem como suscitar reflexões possibilitadas pela HFC, tais como: que a ciência é uma
construção humana, provisória, que não se desenvolve de maneira linear, como
também desmistificar visões estereotipadas que normalmente as pessoas/alunos têm
sobre os cientistas, de que estes são seres “malucos” e iluminados. Neste último caso,
tais visões muito se dão em função da mídia e, principalmente devido às aparições de
cientistas como “descobridores ao acaso”, onde estes aparecem relacionados a
descobrimentos pontuais e descontextualizados das motivações da pesquisa que
originou a “descoberta”. Além do texto clássico de Chadwick, foi utilizada uma
reportagem do Jornal Estadão chamada “Britânicos criam microfone que captura som
de átomos e moléculas”, que fala sobre o ‘som’ do átomo, e um experimento chamado
1
“Atrito Elétrico” .
O título de cada aula, assim como os objetivos e um resumo das atividades
estão descritos no Quadro 1.
Quadro 1: Resumo das Aulas da Proposta Didática
Aula 1: Aplicaçao do Questionário Inicial
Objetivo: Explicar aos alunos os objetivos do projeto e aplicação do QI
Esta aula foi dedicada à familiarização dos alunos com os objetivos do PIBID,
assim como com o tema que seria trabalhado e para a aplicação do Questionário
Inicial. Este questionário era 10 questões, sendo 5 sobre ciência e 5 sobre o conteúdo
especifico do texto.
Aula 2: Discussão sobre o conceito de Átomo
Objetivo: Compreender que a matéria é constituída por átomos
Nesta aula foi realizada uma discussão levando em conta os conhecimentos
que os alunos já tinham sobre a estrutura da matéria. Para dar início ao debate,
mostramos e entregamos a cada aluno, um artigo extraído do jornal Estadão chamado
“Britânicos criam microfone que captura som de átomos e moléculas”, que fala sobre o
‘som’ do átomo.
Aula 3: História do átomo e dos seus constituintes
Objetivo: Explicar os constituintes do Átomo e como eles foram descobertos
Após uma introdução ao assunto com uma aula teórica com o auxilio de
PowerPoint, foi realizado um debate com os alunos sobre sua compreensão a respeito
da descoberta de cada partícula que constitui o átomo (não só as partículas clássicas
como próton, elétron e nêutron, como também as descobertas mais recentes, como os
quarks).
Para explicar a existência do nêutron, foi realizado o experimento “Atrito
Elétrico”.
1
Os sites onde são encontrados o texto histórico, reportagem e o experimento encontram-se nas
referências.
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Aula 4: Apresentação dos modelos atômicos e debate sobre as teorias atômicas
Objetivo: Explicar os modelos atômicos com seus respectivos cientistas, levando em
consideração a não linearidade da ciência e que esta é uma construção humana.
Foram apresentados os modelos atômicos e suas teorias, comentando sobre
as diferenças entre eles e o que levou às mudanças desses modelos ao longo do
tempo, buscando mostrar o contexto em que viviam os cientistas e como trabalhavam,
o que permitiu refletir sobre a não linearidade da ciência e que esta é construída por
pessoas.
Aula 5: A Descoberta do Nêutron
Objetivo: Mostrar que Chadwick usou resultados de experimentos relacionados aos
elétrons e prótons de outros cientistas, assim como as teorias envolvidas e existentes
na época para chegar a sua descoberta: o nêutron.
Foi explicado de como o nêutron foi descoberto, que tipos de pesquisas
levaram o pesquisador a chegar às suas conclusões, além de citar diversos outros
cientistas que fizeram com que o trabalho fosse possível.
Essa aula foi destinada ao nêutron, porém, sem excluir os outros elementos:
prótons e elétrons, pois, para descobri-lo e provar sua existência, James Chadwick
usou resultados de experimentos relacionados aos elétrons e prótons de outros
cientistas, assim como as teorias envolvidas e existentes na época.
Nesta aula buscou-se também refletir sobre como se dá a construção da
ciência, que esta é uma construção humana e que há inter-relação entre as áreas.
Aula 6: Atividade com os alunos em grupos
Objetivo: Colocar os alunos no lugar dos cientistas
Os alunos foram distribuídos em grupos e, buscando se colocar no lugar de
James Chadwick, elaboraram um conjunto de perguntas que este cientista
supostamente teria feito para si mesmo a respeito das partículas que constituem o
átomo.
A seguir, foi realizada uma discussão sobre as condições daquela época,
como estava a sociedade e a política, por exemplo, pois estes fatores podem
influenciar nas decisões do cientista, assim como podem interferir na publicação das
descobertas, etc.
Além dos aspectos do contexto social da época, foi discutido também
aspectos relacionados à ciência da época, buscando conhecer não só os métodos
usados para a realização de determinados experimentos, mas também os erros nas
tentativas e as condições que foram favoráveis ou desfavoráveis para certas
descobertas.
Aula 7: Aplicações do conteúdo dado em sala de aula
Objetivo: Contextualização dos conteúdos abordados durante as aulas anteriores.
Mostramos aos alunos as aplicações práticas dos modelos atômicos e das
partículas fundamentais presentes no átomo no seu dia-a-dia. Nesta aula foi mostrado
que os conhecimentos construídos são importantes na fabricação de produtos,
produção de energia e estão ligados diretamente à vida de qualquer pessoa.
Aula 8: Aplicação do Questionário Final
Objetivo: Avaliar se houve mudanças na compreensão dos alunos sobre os temas
tratados na PD após o desenvolvimento das aulas.
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Antes de dar início à sequência das aulas, foi aplicado um questionário
contendo questões relativas àqueles conteúdos específicos que seriam tratados no
artigo, como modelos atômicos, estrutura da matéria, o descobrimento do nêutron e
também, questões relacionadas à HFC, com o objetivo de levantar as concepções dos
alunos a respeito. Ao final da sequência das aulas, foi aplicado outro questionário, com
o intuito de verificar se aquelas concepções iniciais sofreram alguma interferência.
Neste trabalho serão analisadas apenas as questões relacionadas às concepções de
ciência e cientista, as quais são apresentadas no Quadro 2.
Quadro 2. Questionário Inicial e Final
1. Você gostaria de ser cientista? Por quê?
2. Para você, os cientistas colaboram uns com os outros? Trocam informações ou
trabalham sozinhos e isolados uns dos outros?
3. Por que você acha que existem diferentes modelos atômicos?
4. Desenhe um cientista.
A Proposta foi trabalhada em uma turma de 24 alunos do primeiro ano de uma
escola da rede pública do Estado do Paraná, conveniada ao PIBID.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir são apresentados o Questionário Inicial (QI) e Final (QF), sendo que o
QI foi respondido por 23 alunos, e o QF por 24 (somente foi aceito como maioria
resultados acima de 12 alunos).
As questões foram as mesmas para ambos os questionários (QI e QF) e seus
resultados estão colocados no mesmo quadro, lado a lado. O número de alunos em
cada categoria para o Questionário Inicial é mostrado na coluna “QI”, e o número de
alunos para o Questionário Final em “QF”.
Quadro 3. Questão1: Você gostaria de ser cientista? Por quê?
Questionário Inicial
Questionário Final
Nº alunos
Nº alunos
Não
19 (83%)
18 (75%)
Sim
2 (9%)
5 (21%)
Não sabia
1 (4%)
1 (4%)
Não respondeu
1 (4%)
-
Respostas
Conforme é possível observar no Quadro 01, a maioria dos alunos não deseja
ser um cientista, mesmo que tenha havido um pequeno número que passou a
demonstrar interesse pela profissão ao final do trabalho com a PD. As respostas
indicam que a maioria dos estudantes não se interessa pela profissão de cientista,
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usando como argumento “os longos anos de estudo e os cálculos complicados”. Esta
aversão aos caçulos pode ser consequência da forma como os conteúdos relativos às
ciências exatas são apresentados nos livros didáticos. No caso da química, há uma
supervalorização dos cálculos e, em geral, os alunos acabam tendo mais problemas
com a matemática do com os conceitos e problematizações da química, os quais
deveriam de fato ser o objeto do seu estudo.
As questões 2 e 3 tinham por objetivo observar quais as concepções dos
alunos sobre o trabalho dos cientistas esse estas tiveram alguma alteração após o
trabalho com a PD.
Quadro 4. Questão2: Para você, os cientistas colaboram uns com os outros? Trocam
informações ou trabalham sozinhos e isolados uns dos outros?
Respostas
“Trabalham juntos para terem
um
melhor
resultado”
“Tentam se ajudar entre si”
Ambos
“Trabalham isolados,
ajudam ninguém”
Não respondeu
não
Questionário
Inicial
Nº alunos
Questionário
Final
Nº alunos
15 (65%)
23(96%)
4(18%)
-
3(1%)
1(4%)
1 (4%)
-
Mesmo que a maioria dos alunos já tivesse alguma compreensão de que há
colaboração entre os cientistas, após o trabalho com a PD, aumentou o número de
alunos com esta compreensão. Considera-se que tal fato se deu em função de que
durante o trabalho foi possível mostrar a importância da comunicação entre os
cientistas. Exemplificamos essa importância usando o ponto principal do nosso trabalho
“a descoberta do nêutron”, a qual só foi possível porque Chadwick estudou
experimentos de outros cientistas, notou determinado fenômeno e o explicou de
maneira diferente, constatando a existência de outra partícula.
Quadro 5. Questão 3: Por que você acha que existem diferentes modelos atômicos?
Respostas
Questionário Inicial
Questionário Final
Nº alunos
Nº alunos
“Diferentes/novos
cientistas
formularam”
“Pesquisas diversas”
8 (35%)
19(79%)
6 (26%)
-
“Cada modelo serve para
uma coisa”
Não sabia/não respondeu
-
4(17%)
9 (39%)
1(4%)
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Esta é uma questão que pode demonstrar com maior clareza as contribuições
do trabalho com a PD. No quadro 04 observa-se que número de alunos que conseguiu
apresentar alguma justificativa coerente para a pergunta aumentou de 35% para 79%.
Consideramos que este aumento se deu em função de que foram trabalhadas
características e falibilidade dos modelos atômicos ao longo da história, experimentos
desenvolvidos e quais foram os principais cientistas que estiveram envolvidos com as
pesquisas da estrutura atômica. Especificamente neste caso, o texto clássico utilizado
apresentava o percurso das pesquisas de Chadwick, mostrando que este partiu de
pressupostos de investigações de outros cientistas. A discussão com base neste texto
permitiu que os alunos compreendessem que novos cientistas foram trazendo novas
ideias, fazendo novas pesquisas e também se utilizando de achados anteriores,
apontando suas limitações para propor outros modelos em cada época. As reflexões
lhes propiciaram perceber que o percurso de cada “descoberta” é longo e conta com o
trabalho de vários cientistas, não sendo, portanto, resultado de momentos isolados de
insights de um único cientista iluminado.
Quadro 6. Questão 4: Desenhe um cientista.
Resposta
Homem
Mulher
Questionário Inicial
Nº de Alunos
19 (83%)
4 (17%)
Questionário Final
Nº de Alunos
15 (62,5%)
9 (37,5%)
Antes do trabalho com a PD, na questão que solicitava que os alunos
desenhassem um cientista, a maioria os desenhou como sendo do gênero masculino e
em 98% dos desenhos com aparência pouco convencional, ou seja, eram
descabelados e com expressões de “malucos”. Ideias de que os cientistas deveriam
passar o dia em um laboratório, cercados de equipamentos, vidrarias e não terem
‘lazer’ também foram frequentes.
No que se refere ao gênero, já era esperado que eles tivessem essa
concepção masculina da imagem dos cientistas, uma vez que os maiores nomes da
ciência são homens, e as mulheres cientistas, quando aparecem, são retratadas em
segundo plano, em geral com seus maridos. Em relação à concepção de que os
cientistas são sujeitos muito diferentes das pessoas normais está relacionada
principalmente às imagens de cientistas apresentadas pela mídia através de filmes,
desenhos e novelas.
Após o trabalho com a PD, as imagens representadas nos desenhos tiveram
algumas mudanças. Observou-se que um maior número de alunos desenhou cientistas
mulheres, e o caráter “maluco” que era visto em praticamente todos os desenhos, não
ficou mais tão evidente. Considera-se que texto clássico utilizado na PD pode ter
contribuído para essas mudanças, uma vez que falava sobre as contribuições da
cientista Marie Curie para a descoberta do Nêutron. Neste texto era relatado que
durante seus experimentos, esta cientista observou que radiações de berílio e boro
eram capazes de ejetar prótons a velocidades consideráveis a partir de matéria
contendo hidrogênio. Teria sido a partir desta consideração que Chadwick conseguiu,
depois de adaptações do experimento, chegar à descoberta do nêutron.
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A baixo são apresentados alguns dos desenhos feitos pelos alunos, tanto no
QI, quanto no QF.
Figura 1: Imagem de um cientista homem e “Maluco” feito por um dos alunos no QI
Figura 2: Imagem de outro cientista homem e “Maluco” feito por um dos alunos no QI
Figura 3: Um cientista homem comum desenhado por um aluno no QF
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Figura 4: Uma cientista mulher comum desenhada por um aluno no QF
Conclusão
Este trabalho teve como objetivo apresentar a análise de uma Proposta Didática
(PD) para o ensino de química a partir da abordagem HFC, utilizando um texto clássico
do cientista James Chadwick sobre a descoberta do nêutron. Para realizar tal análise,
buscou-se levantar as concepções dos alunos sobre ciência e cientistas, bem como
sobre conteúdos específicos de química relacionados à descoberta do Nêutron. Neste
trabalho, no entanto, foram trazidos apenas os resultados relativos às concepções de
cientistas e ciência. A partir da análise das respostas e desenhos dos alunos, antes e
depois do trabalho com a PD, observou-se que a abordagem HFC contribuiu para que
estes refletissem, ao menos minimamente, sobre aquelas visões consideradas de
senso comum que possuíam sobre cientistas e construção da ciência. Todavia, talvez o
fator de maior relevância a ser discutido neste trabalho é que se tratou de uma PD
elaborada e desenvolvida por licenciandos de períodos iniciais de um curso de química.
Ou seja, considera-se que para além de se estar pensando metodologias alternativas
para o ensino de química, que neste caso se utilizou da abordagem HFC, se está,
principalmente formando futuros professores com um maior potencial para enfrentar
problemas do ensino-aprendizagem de área de ensino de ciências que há tempo vem
mostrando fragilidades, as quais têm sido amplamente trazidas e discutidas nesta área.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Britânicos criam microfone que captura som de átomos e moléculas, Jornal
Estadão, São Paulo, 26 fev de 2010. Disponível em:
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,britanicos-criam-microfone-que-captura-somde-atomos-e-moleculas,516847,0.htm. Acesso em agosto de 2010.
BRICCIA, Viviane; CARVALHO, Ana Maria Pessoa de. Visões sobre a natureza da
ciência construídas a partir do uso de um texto histórico da escola média. Revista
Electrônica de Enseñanza de las Ciências, vol 10, nº 1, 1-22, 2011.
CHADWICK, James. The Existence of a Neutron, Proc. Roy. Soc. A, 136, p. 692-708,
1932.Le MoyneUniversity – Clássicos. Disponível em: http://www.chemteam.info/ChemHistory (adaptado)
LUFFIEGO, M. et al. Epistemologia, caos y enseñanza de lãs ciências. Ensenanza
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MARQUES, Deividi Marcio. Dificuldades e possibilidades da utilização da história da
ciência no ensino de química: um estudo de caso com professores em formação inicial.
Tese de Doutorado. Bauru, 2010.
MARTINS R. A., in A História das ciências e seus usos na educação, organizado
por C.C. Silva, Estudos de História e Filosofia das Ciências: Subsídios par
Aplicação no Ensino. Editora Livraria da Física, São Paulo, 2006.
XVI Encontro Nacional de Ensino de Química (XVI ENEQ) e X Encontro de Educação Química da Bahia (X EDUQUI)
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MATTHEWS, M. R. Science teaching: the role of History and Philosophy of Science.
New York: Routledge, 1994;
OLIVEIRA, M. Valeria, Atrito Elétrico, Ponto Ciencia, 2009. Disponível em :
http://pontociencia.org.br/experimentosinterna.php?experimento=303&CABO+DE+GUERRA+ELETRICO. Acesso em
agosto de 2010
PEDUZZI, Luiz O. Q.Sobre a utilização didática da História da Ciência,Ensino
de física: conteúdo, metodologia e epistemologia numa concepção integradora,
cap. 7, p.151-169, 2001;
PINTO, Giovana T. MARQUES, Deividi M. Uma Proposta Didática na Utilização da
História da Ciência para a Primeira Série do Ensino Médio: A Radioatividade e o
cotidiano, História da Ciência e Ensino Construindo Interfaces, Volume 1, 2010 – pp.
27-57.
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( HC)
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História e Filosofia da Ciência no ensino de química: o que
os alunos pensam sobre a colaboração entre os cientistas
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Haroldo Luis Ribas (ID)* Joanez Aparecida Aires (PQ)
5.
Bolsista PIBID-Subprojeto Química – Universidade Federaldo Paraná- [email protected]*
6.
Coordenadora PIBID-Subprojeto – Química Universidade Federal do Paraná – [email protected]
Resumo:
O presente artigo tem por objetivo levantar o que alunos Educação Básica de uma escola pública de
Curitiba pensam sobre a colaboração entre os cientistas. O trabalho faz parte foi desenvolvido durante
uma das etapas do Programa Institucional Bolsas de iniciação a Docência (PIBID), projeto institucional
da Universidade Federal do Paraná, Subprojeto Química. A base teórica consiste na abordagem História
e Filosofia da Ciência (HFC) e é fundamentada essencialmente nos trabalhos de Mattews (1995), Bastos
(1998), Santos (2006) e Martins (2007). Os resultados apontam que a abordagem HFC pode contribuir
para que os alunos reflitam sobre suas concepções a respeito da ciência e dos cientistas.
Palavras chave: Ensino de ciências, Eletroquímica, Historia e Filosofia da Ciência.
Introdução
A importância da abordagem História e Filosofia da Ciência (HFC) para o ensino
de Ciências tem sido defendida por Matthews (1995), Bastos (1998), Abd-El-Khalick &
Lederman, (2000), Peduzzi (2001), Santos, (2006), Martins (2007), Marques (2010),
entre outros. No entanto, tal abordagem é pouco contemplada em sala de aula, bem
como há pouca disponibilidade de materiais didáticos para a utilização desta
abordagem, especialmente para o ensino de Química. Com base nessa problemática,
foram desenvolvidos no âmbito do PIBID/Subprojeto Química, estudos sistemáticos
sobre a temática, bem como, a elaboração de Propostas Didáticas (PD) que
contemplassem tal abordagem. Este trabalho apresenta a análise de uma das questões
que constituíram o foco de elaboração dessas Propostas, na qual buscou -se levantar o
que os alunos pensam sobre a existência ou não se colaboração entre os cientistas.
Esta questão foi central neste trabalho porque o texto histórico explorado nas aulas
tratava justamente das cartas trocadas entre Christian Friedrich Schonbein e Jons
Jakob Berzelius, durante seus estudos sobre oxi-redução.
História e Filosofia da Ciência
A abordagem da HFC pode contribuir para desfazer visões equivocadas sobre
Ciência e cientista, enfatizando que a ciência é uma construção humana, como
recomendam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de 1998. Da mesma forma,
esta abordagem pode contribuir para desmistificar visões dos cientistas, de que estes
são seres especiais, dotados de habilidades intelectuais superiores aos das pessoas
comuns.
Deve-se notar que surgem a partir dessas visões, ideias que nos remetem a
conceitos inerentes à pseudociência, cujos sinais, segundo Allchim (2004) são:
personalidades perfeitas, descobertas monumentais individuais, insights do tipo
XVI Encontro Nacional de Ensino de Química (XVI ENEQ) e X Encontro de Educação Química da Bahia (X EDUQUI)
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eureca, experiências cruciais únicas, cientistas sem vida social ou cultural, descobertas
sem ideias antecedentes.
Além da reflexão sobre visões de cientista, a abordagem HFC pode possibilitar
que os alunos tenham contato com episódios do desenvolvimento da ciência nos seus
contextos, possibilitando-lhes conhecer aspectos da construção da ciência que, em
geral não são contemplados nos livros didáticos. Nesse sentido, Gaggliardi e Giordan
(apud BASTOS, 2006) destacam que o uso de um enfoque histórico contribui para que
os alunos consigam desenvolver uma compreensão crítica da ciência:
A História da Ciência pode mostrar em detalhe alguns momentos de
transformação profunda da ciência e indicar quais foram as relações sociais,
econômicas e políticas que entraram em jogo, quais foram as resistências à
transformação e que setores trataram de impedir a mudança. Essa análise
pode dar as ferramentas conceituais para que os alunos compreendam a
situação atual da ciência, sua ideologia dominante e os setores que a
controlam e que se beneficiam da atividade científica (GAGGLIARDI e
GIORDAN, apud BASTOS, 2006, p.254).
A introdução da abordagem HFC na sala aula pode, portanto, favorecer o
desenvolvimento reflexivo dos alunos, possibilitando que estes passem a não só
aceitar os conteúdos e os fatos da forma como estão nos livros didáticos, mas refletir
sobre eles. A Proposta Didática que está sendo analisada neste trabalho buscou
possibilitar tais reflexões.
Metodologia
O estudo da temática HFC e a elaboração da Proposta Didática, da qual faz
parte a questão que suscitou este trabalho, foi realizado em 4 momentos. No primeiro
momento os alunos bolsistas entraram em contato com a literatura sobre HFC, por
meio do estudo de diversos artigos sobre o tema. No segundo momento, foram
elaboradas as PD, sobre conteúdos específicos de química do ensino médio, buscando
contemplar a abordagem HFC. No terceiro momento realizou-se a aplicação das PD
em escolas da rede Pública de Curitiba. O quarto momento foi dedicado à
sistematização dos resultados e escrita dos artigos.
Na PD que balizou este trabalho foi desenvolvido o conteúdo “A Química da
oxidação de metais”. A elaboração da PD consistiu primeiramente na busca e estudo
de um artigo clássico, que no caso deste trabalho, foram as cartas do químico Christian
Friedrich Schonbein para Jons Jakob Berzelius. Com base neste artigo foi elaborada
uma sequência de aulas que objetivaram tratar tanto dos conteúdos químicos
específicos presentes no artigo, bem como utilizar as reflexões possibilitadas pela HFC,
no sentido de buscar desenvolver alguns dos aspectos por ela possibilitados, tais
como: dar a noção de que a ciência é uma construção humana, bem como
desmistificar visões estereotipadas dos cientistas.
Antes de dar inicio a sequência de 10 aulas que constituíram a PD, foi aplicado
um questionário, contendo 10 questões relativas ao conteúdo óxido -redução, bem
como questões relacionadas à HFC. Ao final do trabalho com a PD foi aplicado outro
questionário. O objetivo dos questionários foi primeiramente levantar os conhecimentos
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dos alunos sobre o conteúdo específico, como também, suas visões sobre ciência e
cientistas. E ao final, avaliar se o trabalho com a PD interferiu de alguma forma nas
suas sobre ciência e cientistas.
O universo da pesquisa foi composto por 23 alunos do terceiro ano do curso
noturno de uma escola pública de Curitiba, sendo que esta quantidade variou entre o
primeiro e segundo questionário em função de que ocorreram faltas. As idades dos
alunos variaram entre 18 e 25 anos.
Resumo das Aulas da Proposta Didática.
Aula 1: Aplicação do Questionário Inicial.
Objetivo: Verificar o conhecimento prévio dos alunos sobre eletroquímica e HFC temas
abordados nas aulas subseqüentes.
Esta aula foi utilizada para aproximar o aluno bolsista e os alunos do colégio em que a
proposta didática foi aplicada, bem como conceituar e explicitar os objetivos do PIBIDUFPR. Procurou-se nessa aula verificar qual a concepção prévia que os alunos
possuíam sobre eletroquímica, ciência e cientistas.
Aula 2: concepções de conhecimento científico.
Objetivo: Introduzir os conceitos básicos sobre concepções de ciência e
conhecimento científico.
Essa aula foi conduzida através de um debate. Foi solicitado que os alunos
formassem grupos de 5 alunos . O aluno bolsista estimulou os alunos através de
questionamentos e explicações a refletirem sobre as seguintes temáticas: Visões de
ciência, Provisoriedade da ciência ,Ciência como uma construção humana, Quebra
de paradigmas, não linearidade da construção da ciência. O aluno bolsista fez as
seguintes perguntas aos alunos: O que e ciência para você? ,Os cientistas são
pessoas como nós? , De que forma a ciência evolui? , o que e uma verdade cientifica
hoje pode não valer amanha? , Dessa forma estimulou-se a reflexão por parte dos
alunos, em seguida o aluno bolsista solicitou a eles que colocassem no papel as
idéias de consenso, e que lessem e voz alta para os outros alunos da sala, para que
eles possam concordar ou discordar. Dessa forma todos os alunos da sala puderam
se apropriar do conhecimento que foi construído dentro da própria sala de aula.
Aula 3: contexto Histórico.
Objetivo: Apresentar o contexto histórico envolvido quando da realização da
experiência de Schombein.
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Num primeiro momento, apresentou-se os aspectos históricos envolvidos na
experiência de Schonbein, tais como: o que estava acontecendo com a ciência
naquela época? Que descobertas estavam sendo feitas? Para tanto, foi utilizado o
texto introdutório da PD, e um resumo da carta de Schonbein. O bolsista/PIBID leu
trechos da carta e salientou nesses trechos os aspectos históricos e filosóficos
envolvidos. Procurou-se salientar trechos das cartas que deixassem claro que a
ciência e uma construção humana, de que a ciência e provisória, de que a ciência e
feita de forma colaborativa, ou seja, que não e feita por pessoas de forma isolada.
As cartas serviram perfeitamente para que se ilustrassem aspectos da ciência de
extrema importância, dessa forma, os alunos puderam verificar através de algo real
como as cartas, que os assuntos que eles discutiram na aula anterior possuem
significação.
Aula 4: apresentação do experimento.
Objetivos: Apresentar o experimento de Schonbein, discutir sua validade, explicar
quimicamente o que ocorre. Mostrar o comportamento de alguns metais em relação
ao ataque por acido nítrico.
Por meio de uma exposição, seguida de uma discussão com os alunos, procurou-se
explorar o experimento de Schonbein nos seus aspectos teóricos, explicitando
conceitos da eletroquímica envolvidos. Foi mostrado aos alunos um vídeo gravado
pelo bolsista em um dos laboratórios da UFPR demonstrando na prática o
experimento descrito, já que a realização do experimento em sala de aula mostrou-se
inviável do ponto de vista de segurança.
Foram utilizados também outros vídeos demonstrando o comportamento de alguns
metais tais como: Antimônio, Cobre, Gálio, Nióbio, Prata, Sódio e Zinco frente
oxidação com acido nítrico, foram feitas analogias com o experimento de Schonbein e
foi explicado com base na eletroquímica esses comportamentos .
Aula 5: conteúdo regular sobre eletroquímica
Objetivo: Fornecer embasamento teórico para que o aluno desenvolva o senso critico
e o conhecimento necessário para compreensão dos fenômenos eletroquímicos que
foram demonstrados.
Nessa aula o bolsista apresentou os conceitos de oxidação e redução; diferenciou
gente oxidante e agente redutor; conceituou número de oxidação; determinou o Nox
de alguns compostos. A aula foi expositiva e dialogada e apresentada inteiramente
em equipamento multimídia.
Aula 6: conteúdo regular sobre eletroquímica.
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Objetivo: Fornecer embasamento teórico para que o aluno desenvolva senso critico e
o conhecimento necessário para plena compreensão dos fenômenos eletroquímicos
que foram demonstrados.
Essa aula foi utilizada pelo bolsista para apresentar os seguintes conteúdos: Potencial
padrão de oxidação, Espontaneidade das reações redox, Reação de redução, Reação
de oxidação. Mostrou-se aos alunos como calcular os potenciais das reações
mostradas nos vídeos da aula anterior. Explicitou-se o conceito de espontaneidade das
reações.
Aula 7: a óxido-redução no cotidiano dos alunos.
Objetivo: Apresentar aos alunos algumas aplicações cotidianas dos processos de
oxido redução e os pontos de vista contrastantes (positivos e negativos) das
transformações químicas envolvidas no processo de oxidação de metais.
Nessa aula o aluno bolsista exibiu vídeos, que abordaram os seguintes conteúdos:
Aplicação de oxidação de metais em navegação (proteção anódica e catódica, anodo
de sacrifício) métodos de proteção contra corrosão. Pintura, películas isolamento do
O2 Presente no ar.
Ferrugem: aspectos sociais e econômicos influência do meio: ambientes marinhos e
meios agressivos, influência dos íons presentes na água do mar nos processos de
oxidação.
Aplicações da corrosão na indústria como meio de acabamento em peças metálicas.
Aplicação da corrosão na indústria eletrônica fabricação de placas de circuito
impresso.
Aula 8: Aplicação do questionário final.
Objetivo: Verificar a aquisição do conhecimento por parte dos alunos no que diz
respeito às concepções de ciências, e modelo científico verificarem possíveis
mudanças dessas concepções.
Essa aula foi utilizada para fazer os agradecimentos finais aos discentes de docentes
da escola envolvidos e aplicar o questionário final a fim de verificar se houve
mudanças nas concepções dos alunos tanto no que diz respeito à HFC como nos
conteúdos específicos de química.
Resultados e Discussões
Os resultados apresentados e discutidos a seguir correspondem apenas a
uma das questões relacionada à HFC (questionário inicial e final).
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Quadro 1
Para você os cientistas colaboram uns com os outros, trocam informações ou
trabalham sozinhos e isolados?
Questionário Inicial
Questionário Final
Colaboram “Eles
trabalham 72% Colaboram
“Trocam
83%
uns com os em conjunto, pois
uns com os informações,
pois
outros
desta
forma
outros.
para
ocorrer
podem
trocar
evolução em uma
informações
e
determinada
área
conhecimentos,
precisa-se
da
colaborando para
descoberta de outro
o
bem
da
colega”
ciência”.
Trabalham
“Acho
que
a 22% Trabalham
“Colaboram
uns 17%
isolados,
maior parte do
isolados,
com os outros, mas
porém
tempo
eles
porém
isso
não impede
trocam
trabalham
trocam
que
pesquisem
informações isolados,
mas
informações. sozinhos e depois
.
trocam
cheguem
a
um
informações sim”.
ponto
de
vista
juntos.”
“Trocam
informações, mas
devem ter seus
segredos”
Não
“Trabalham cada 6% Não
0%
colaboram
um
na
sua
colaboram.
própria tese”
Na categoria “colaboram uns com os outros”, é possível observar no
questionário inicial que a maioria (72%) dos alunos considera que os cientistas
colaboram uns com os outros, porém se analisarmos algumas das respostas, notamos
no trecho “para o bem da ciência” que prevalece a visão de que a ciência carrega
verdades absolutas e é esta é justamente uma das concepções de ciência que se
buscou refletir durante o trabalho com a PD. No questionário final, na maioria das
respostas, os alunos também consideraram que existe colaboração entre os cientistas,
no entanto, as repostas demonstraram alguma reflexão a respeito da provisoriedade
da ciência e que eles perceberam que a ciência se desenvolve através da colaboração
entre cientistas. A percentagem de alunos que afirmou que os cientistas colaboram uns
com os outros subiu para (83%). Isso mostra que os alunos perceberam a inter-relação
entre as descobertas cientificas e o caráter colaborativo da ciência, questão que foi
bastante trabalhada nas aulas, quando se tratou das cartas trocadas por dois cientistas
de suas épocas.
Na categoria “trabalham isolados, porém trocam informações”, tanto no teste
inicial quanto no teste final alguns aspectos devem ser ressaltados. No teste inicial
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predominou a visão de que podem ocorrer as duas coisas, porém, quando trabalha
sozinho é por se caracterizar num segredo, em beneficio próprio, ou seja, alguns
trabalham sozinhos para não compartilhar os possíveis achados. Já no questionário
final, notou-se que predominou a visão de que o cientista pode iniciar sua pesquisa
sozinho, mas precisa de outras opiniões para chegar a um consenso, demonstrando
aqui a visão de que uma lei ou teoria não se sustenta sem criticas e diferentes pontos
de vista. Ou seja, para que uma nova teoria se estabeleça ela necessita ser
compartilhada por uma comunidade científica.
Na categoria “não colaboram”, notamos no questionário inicial que 6% dos
alunos responderam “trabalha cada um na sua própria tese”. Isso pode caracterizar
aquela mesma visão anterior de que ocorre competição entre os cientistas. No entanto,
após o trabalho com a proposta esta categoria não mais apareceu.
Considerações finais
Este artigo teve por objetivo analisar uma das questões trabalhadas durante a
Proposta Didática (PD) desenvolvida sobre oxi-redução, utilizando a abordagem HFC.
Observou-se que a utilização desta abordagem foi positiva para o entendimento tanto
dos conteúdos específicos da química, quanto sobre concepções de ciência e
cientistas. No que se refere à questão específica analisada, a partir das diferenças entre
as respostas obtidas no início e no final do trabalho, julgou-se que a PD possibilitou
uma melhor reflexão dos alunos a respeito das suas concepções sobre a construção da
ciência.
Referências:
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MATHEWS, M. R. História, filosofia e ensino de ciências: a tendência atual de
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( HC)
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Abordagem História e Filosofia da Ciência no Ensino de
Química por meio da biografia de Lavoisier
1
2
Caroline Morato Fabricio (IC), Luciana Mamus Guimarães (IC), Joanez Aparecida
3
Aires (PQ)
1. Bolsista PIBID-Subprojeto Química – Universidade Federa do Paraná – [email protected]
2 Bolsista PIBID-Subprojeto Química – Universidade Federal do Paraná – [email protected]
3. Coordenadora PIBID-Subprojeto – Química Universidade Federal do Paraná – [email protected]
Palavras-Chave:PIBID, HFC, Lavoisier.
RESUMO: Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados do desenvolvimento de uma Proposta Didática
(PD) utilizando a abordagem HFC para o ensino de Química, na qual se trabalhou a bibliografia de Lavoisier.
O referencial teórico tem como base Matthews (1995), Bastos (1998), Peduzzi (2001), Malamitsa, Kokkotas &
Stamoulis, (2005), Martins (2006), Martins (2007), Chassot (2008), Oki & Moradillo (2008), Höttecke & Silva
(2011), Briccia & Carvalho (2011). Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), Subprojeto Química/UFPR, o qual visa à melhoria da formação inicial
dos licenciandos do Curso de Química desta Universidade, bem como do ensino de química nas escolas
publicas conveniadas. Os resultados apontam que o trabalho com tal abordagem contribuiu para que os
alunos refletissem a respeito de suas visões sobre ciência e cientistas.
INTRODUÇÃO
O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID),
Subprojeto Química/UFPR, iniciado no primeiro semestre de 2010, tem por objetivo
principal melhorar a formação inicial dos licenciandos do Curso de Química desta
Universidade, bem como melhorar a formação dos professores que já estão atuando
nas escolas da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná, com o propósito da
melhoria do ensino de química na Educação Básica. O Subprojeto organizou-se em
quatro momentos. No primeiro momento foi estudada a temática História e Filosofia
da Ciência (HFC), a partir de um levantamento realizado sobre pesquisas
desenvolvidas sobre o tema. O segundo momento consistiu na elaboração das
Propostas Didáticas (PD) tendo por base estes estudos. No terceiro momento
ocorreu a execução da PD na escola. O quarto momento foi destinado à análise dos
dados e elaboração do presente artigo. Todo o processo de trabalho com a PD,
desde o primeiro até o quarto momento, teve duração de um semestre.
Este trabalho tem como objetivo analisar o desenvolvimento de um desses
quatro momentos, o qual correspondeu à aplicação da Proposta Didática elaborada sobre
a biografia de Lavoisier, utilizando a abordagem História e Filosofia da Ciência (HFC).
Para tanto, será apresentada uma breve revisão da base teórica sobre HFC. Em seguida
serão apresentados aspectos da PD, assim como os resultados relacionados às visões
de ciência e de cientista obtidos após sua execução, ocorrida em um dos colégios da
rede pública conveniados ao PIBID Subprojeto Química/UFPR. Na sequência estão
expostas as considerações finais sobre este trabalho.
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HISTÓRIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA NO ENSINO DE QUÍMICA
Vários autores defendem que a abordagem História e Filosofia da Ciência
(HFC) pode trazer contribuições para o enfrentamento de diversos problemas na área
de ensino de ciências (MATTHEWS, 1995; BASTOS, 1998; PEDUZZI, 2001;
MALAMITSA & MARTINS, 2006; MARTINS, 2007; CHASSOT, 2008, OKI &
MORADILLO, 2008, HÖTTECKE & SILVA, 2011; BRICCIA & CARVALHO, 2011).
Nesse sentido, Matthews (1995), argumenta que o fato do desenvolvimento da área
de ensino e ciências ter ocorrido de forma independente da História e Filosofia da
Ciência desencadeou uma série de consequências, dentre elas uma crise que tem
provocado desinteresse, resultando na evasão tanto de alunos quanto de professores
das salas de aula, devido ao excesso de conteúdos, fórmulas e equações que não
possuem significado. Para este autor, superar a falta de sentido dos conteúdos e
conceitos é um objetivo que pode ser alcançado por meio da introdução da
abordagem HFC, pois esta tornaria as aulas mais desafiadoras, permitindo a
formação de indivíduos mais críticos, no que diz respeito à sociedade em que vivem,
possibilitando-lhes fazer relações entre este ensino e problemáticas éticas, políticas,
étnicas, sociais, econômicas e de significado pessoal. Segundo Matthews (1995):
A história, a filosofia e a sociologia da ciência não têm todas as respostas para
essa crise, porém possuem algumas delas: podem humanizar as ciências e
aproximá-las dos interesses pessoais, éticos, culturais e políticos da
comunidade; podem tomar as aulas de ciências mais desafiadoras e
reflexivas, permitindo, deste modo, o desenvolvimento do pensamento crítico;
podem contribuir para um entendimento mais integral de matéria científica, [...]
podem melhorar a formação do professor auxiliando o desenvolvimento de
uma epistemologia da ciência mais rica e mais autêntica, ou seja, de uma
maior compreensão da estrutura das ciências bem como do espaço que
ocupam no sistema intelectual das coisas (MATTHEWS, 1995 p. 165).
A compreensão de que a HFC pode contribuir para atenuar muitos dos
problemas do ensino de ciências também é encontrada nos Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), os quais orientam que a HFC deve
permear todo ensino das ciências, com o objetivo de promover a compreensão dos
processos da elaboração do conhecimento científico, com seus avanços, erros e
conflitos. Segundo este documento:
A consciência de que o conhecimento científico é assim dinâmico e mutável
ajudará o estudante e o professor a terem a necessária visão crítica da
ciência. Não se pode simplesmente aceitar a ciência como pronta e acabada e
os conceitos atualmente aceitos pelos cientistas e ensinados nas escolas
como “verdade absoluta” (BRASIL, 2000, p.31).
Oki & Moradillo (2008), também são favoráveis à incorporação da abordagem
HFC nos currículos de ciências, considerando que esta, pode promover mudanças no
ensino de ciências, possibilitando um maior alcance deste. Segundo estes autores:
A HC é considerada conhecimento indispensável para a humanização da
ciência e para o enriquecimento cultural, passando a assumir o elo capaz de
ensinar menos para ensinar melhor. É deixada, aos curriculistas, a importante
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tarefa de promover reestruturações visando muito mais eliminar do que
acrescentar conteúdos de ensino (OKI & MORADILLO, 2008 p.69).
Uma estratégia didática para discutir, por exemplo, humanização e a não
linearidade da Ciência pode ser por meio de debates que envolvam, por exemplo, o
confronto entre teorias elaboradas por diferentes cientistas que procuram explicar um
mesmo fenômeno (MALAMITSA et. al., 2005). Dessa forma os alunos podem
desenvolver o pensamento crítico defendendo seu ponto de vista, através de
interpretação de dados, desenvolvendo argumentos e comparando as informações.
Para esses autores é importante que os alunos tenham consciência que a Ciência
passa por mudanças conceituais ao longo do tempo, que confrontam com suas
concepções alternativas.
Uma reflexão importante sobre esse aspecto é feita por Castro e Carvalho
(apud BRICCIA e CARVALHO, 2011):
Quando o aluno discute de onde veio tal idéia, como ela evoluiu até chegar
onde está, ou mesmo questiona os caminhos que geraram esta evolução, de
certa forma, ele nos dá indícios de que reconhece tais conceitos como objeto
de construção e não como conhecimentos revelados ou meramente passíveis
de transmissão. Buscar razões, pois, parece indicar um comprometimento
maior com o que se estuda e se, além disso, o aluno argumenta, baseando-se
em informações históricas (busca o respaldo para o que diz na fala das
“autoridades”) além de estar usando a analogia, ferramenta extremamente útil
no estudo das ciências, ele está se reconhecendo também como sujeito
construtor de saber (BRICCIA e CARVALHO, 2011, p.17).
Nessa mesma linha, Peduzzi, (2001), discute a utilização didática da História da
Ciência citando Kuhn, o qual expressa sua preocupação com relação a utilização quase
que exclusiva de livros didáticos para a transmissão do conhecimento científico Na visão
de Kuhn, a abordagem da HFC presente nesses livros limita-se a alusões históricas,
quase caricaturadas, sem apresentar o contexto da época, quando deveriam relacionar
aspectos culturais, políticos, econômicos e tecnológicos. Sendo assim, os livros limitamse a “priorizar os fatos e acontecimentos, fazendo menção a personagens que trouxeram
contribuições relevantes para a estruturação e consolidação do novo paradigma”
(PEDUZZI, 2001, p.152). Esta observação vai ao encontro da pesquisa de Höttecke &
Silva (2011) que afirmam que os livros didáticos não apresentam suporte teórico para
desenvolver esse tipo de abordagem sobre HFC.
Peduzzi, (2001), ainda argumenta que os livros enfatizam o paradigma vigente e,
na tentativa de explicar o desenvolvimento da ciência, transmitem a falsa impressão de
que o trabalho dos cientistas é linear e cumulativo, sem esclarecer aos alunos quais as
dificuldades enfrentadas pelos cientistas para a consolidação do paradigma. Na visão
deste autor, ter acesso aos clássicos históricos pode parecer uma solução, pois
apresentam outras formas de manifestação de conhecimento. Porém, a utilização da
história pode trazer outros problemas. Segundo Kuhn (apud Peduzzi, 2001):
[...] os estudantes [...] poderiam descobrir outras maneiras de olhar os
problemas discutidos nos seus livros texto [...] mas onde também
encontrariam problemas, conceitos e padrões de solução que as futuras
profissões há muito descartaram ou substituíram (PEDUZZI, 2001, p.152).
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Especificar a Área do trabalho
( HC)
De acordo com Peduzzi (2001, p.152), “a exposição à história poderia abalar
ou enfraquecer as convicções do estudante sobre o paradigma vigente, sendo,
portanto, danosa à sua formação”. Com isso, surge a dúvida em se trabalhar a partir
da abordagem HFC, pois são textos complexos, que por tratar de teorias já
descartadas, podem desmotivar o estudante. No entanto, Peduzzi (2001, p.156)
também argumenta que “não é porque já foram descartadas que as teorias mais
antigas devem, hoje, ser consideradas acientíficas”. Outro aspecto discutido por este
autor é a subjetividade dos historiadores ao registrar os fatos, pois, “todo relato
histórico é resultado de uma interpretação” (PEDUZZI, 2001, p155). Este aspecto é
muito evidente, por exemplo, na lenda da maçã de Newton. Esta foi uma maneira de
expressar os experimentos realizados pelo cientista, mas exclui todo o trabalho
dedicado ao estudo, pois considera que a ação do cientista é apenas a de
“descobrir”, “desvelar” a natureza, como fruto de mero acaso. Uma das
consequências desse tipo de abordagem, segundo Martins (2006) é que:
a ciência seria construída através de uma série de descobertas que podem ser
associadas a datas precisas e a autores precisos. A história da ciência seria,
essencialmente, um calendário repleto de descobertas e seus descobridores
(MARTINS, 2006 p.186).
Justamente por causa dessas visões estereotipadas de ciência e do cientista,
que um dos objetivos da abordagem HFC consiste em “fazer com que o aluno construa
concepções mais elaboradas e realistas acerca da ciência e dos cientistas que possam
subsidiar o exercício de uma cidadania consciente e atuante” (BASTOS, 1998 p.56).
A utilização da HFC, além de contribuir para a formação desse cidadão ativo
e propiciar o acumulo de novos conhecimentos, tem fundamental importância no
processo pelo qual o aluno passa a perceber a ocorrência de novas possibilidades de
argumentação e questionamentos, para um modelo de pensamento que era
anteriormente aceito como único. Nesse momento ocorre à ruptura de um antigo
modo de pensar. Segundo Briccia e Carvalho:
Há evidências de que os alunos reconhecem a ruptura de um modelo
anteriormente aceito e a conseqüente passagem para um novo modelo,
destacando que os conhecimentos da ciência são vivos, abertos, sujeitos a
mudanças e reformulações. Tenta-se combater, portanto, a idéia de que o
conhecimento científico seja fruto de um conhecimento linear, puramente
acumulativo (BRICCIA e CARVALHO, 2011, p.13).
Todavia, apesar das diversas argumentações em relação às contribuições que a
HFC pode trazer ao Ensino de Ciências, a falta de material, falta de professores com
formação em HFC, bem como de propostas didáticas, tem inviabilizado uma utilização
mais ampla desta abordagem. Por estas razões, a educação científica tem se baseado
via de regra, na transmissão de conteúdos pura e simplesmente, o que acaba
acarretando em concepções epistemológicas “de senso comum”, o que, por sua vez, se
configura num dos principais obstáculos para movimentos de renovação no campo da
educação científica (PRAIA et. al., 2007). Buscando enfrentar algumas dessas
problemáticas, este artigo tem por objetivo apresentar uma Proposta Didática para o
Ensino de Química fundamentada na HFC, na qual utilizou-se a biografia de Lavoisier
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Especificar a Área do trabalho
( HC)
como recurso para discutir aspectos históricos, políticos, econômicos, sociais que
podem interferir nas visões de senso comum dos alunos, sobre Ciência e cientistas.
METODOLOGIA
Num total de oito aulas, a PD explorou temas específicos de química, como
reações de combustão e a Teoria do Flogisto, mas também sobre visões de ciência e
cientista, através de reflexões sobre HFC. Para a elaboração da PD foram utilizados
o Traité Elémentaire de Chimie (LAVOISIER, 1789) e artigos relacionados a esta obra
como: Uma Revolução na Química (TOSI, 1989), uma homenagem ao segundo
centenário da publicação da obra de Lavoisier e A Revolução Química de Lavoisier:
Uma Verdadeira Revolução? (FILGUEIRAS, 1995). Com este material foram
abordados aspectos históricos e filosóficos que nortearam o período no qual foi
desenvolvido o trabalho desse cientista. Foi realizado um apanhado da trajetória de
Lavoisier, não apenas como homem dedicado exclusivamente à Ciência, mas
também como cidadão, filho, marido, político, marcando uma época de extrema
importância na história da humanidade, a Revolução Francesa, fato que influenciou
revoluções por todo o mundo inclusive no Brasil.
O título de cada aula, assim como os objetivos estão descritos no Quadro 1.
Quadro 1: Resumo das aulas da Proposta Didática.
Aula 1 – Aplicação do questionário inicial.
Objetivos
Avaliar as concepções dos alunos sobre combustão, teoria do Flogisto, composição
do ar atmosférico, visão de Ciência e de cientista.
Aula 2 - O Contexto Histórico: A Revolução Francesa
Objetivos
Discutir aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais do período em que
Lavoisier desenvolveu a teoria da combustão, proporcionando, portanto, uma
abordagem contextualista do momento histórico característico dessa época na
Europa, que foi a Revolução Francesa, influenciada por pensamentos iluministas.
Aula 3 – A Biografia de Lavoisier
Objetivos
Discutir concepções de ciência e de cientista, buscando mostrar que a ciência é
construída por pessoas comuns e não fruto do acaso de cientistas “malucos”.
Aula 4 – Experimentação problematizadora
Objetivos
Fazer com que os alunos observem a combustão de diferentes amostras e tentem
explicar o porquê das mudanças de massa após serem calcinadas. Os alunos também
devem perceber e refletir sobre a dificuldade de se explicar esses fenômenos no século
XVIII, no qual muitas teorias foram utilizadas com essa finalidade, inclusive a teoria do
flogisto, refutada por Lavoisier através de estudos que o levaram a compreender o papel
fundamental do oxigênio nas reações de combustão.
Aula 5 – Discussão do Experimento
Objetivos
Apresentar as teorias de Stahl e Lavoisier e fazer com que os alunos compreendam
os resultados obtidos no experimento de calcinação.
Aula 6 – A luta contra a teoria do flogisto.
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( HC)
Objetivos
Introduzir o conceito de paradigma e mostrar que existem diferentes
interpretações sobre o mesmo objeto.
Aula 7 – Discussão das respostas do Q.I.
Objetivos
Avaliar se ocorreu mudança na percepção dos alunos sobre cientista e discutir sobre
o papel do oxigênio como comburente nas reações de combustão.
Aula 8 – Aplicação do questionário final.
Objetivos
Avaliar se houve mudanças na compreensão dos alunos sobre os temas tratados na
UD após o desenvolvimento das aulas.
Como o objetivo deste artigo é tratar sobre a abordagem História e Filosofia
da Ciência por meio do uso da biografia do Lavoisier, somente a metodologia da Aula
3 será mais detalhada.
Nessa aula destacaram-se aspectos pessoais e sociais da vida de Lavoisier.
Esta reflexão teve por base a biografia desse cientista, a qual foi dividida em quatro
partes, cada uma relatando diferentes etapas da vida de Lavoisier. Nesta atividade os
alunos foram organizados em quatro grupos para leitura e discussão de cada uma
das partes. Para que todos conhecessem o texto completo, cada grupo expôs à
turma o que foi lido e discutido nos pequenos grupos. Durante a exposição dos
grupos, foram destacados aspectos do trabalho científico como a construção humana
da ciência, o papel da mulher nessa construção, a não neutralidade da ciência e a
influência da Revolução Francesa no meio científico em que foi elaborada a Teoria da
Combustão, bem como esclarecido dúvidas e curiosidades dos alunos.
Para verificar se houve mudança com relação à visão de cientista, os desenhos
produzidos nas Aulas 1 e 7 foram utilizados como instrumento de pesquisa. Os 26 (vinte
e seis) desenhos produzidos pelos alunos na Aula 1 e os 18 (dezoito) na Aula 7, serão
denominados por desenho 1 (D. 1) e desenho 2 (D. 2), respectivamente.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
As características analisadas nos desenhos foram com relação ao vestuário,
ou seja, se os cientistas utilizavam jaleco, gravata e/ou óculos; se possuíam bigode,
como apresentavam o cabelo e se tinham aparência de pessoa mais velha; quais
demais objetos estavam presentes nos desenhos, como vidrarias, livros, quadros
com fórmulas ou equações matemáticas; com relação ao gênero, ou seja, se esse
cientista era homem ou mulher e ainda se estavam sozinhos.
Os resultados da análise dos desenhos feitos na primeira aula, D.1 estão na
Tabela 1.
Tabela 1: Porcentagem das características observadas nos D.1
Óculos
Jaleco
VESTUÁRIO
73%
70%
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Gravata
12%
APARÊNCIA
Cabelo arrepiado
Velho
Cabelo calvo
Bigode
Cabelo normal
57%
50%
27%
27%
16%
OBJETOS
Vidrarias ou equipamentos de
laboratório
Livros
Equações matemáticas ou
fórmulas
GÊNERO
Homem
Mulher
Sozinho
38%
15%
15%
96%
4%
100%
Analisando as características dos desenhos da primeira aula, verifica-se que
a maioria apresenta uma visão estereotipada e distorcida de cientista. Com relação
ao vestuário, observa-se que os desenhos em que os cientistas usam jaleco, óculo e
até mesmo gravata, foram as mais recorrentes. Esse cientista, em geral, tem cabelo
arrepiado, o que representa o “cientista maluco”, ou é calvo, representando então um
cientista mais velho, e ainda tem bigode. Destes desenhos, 96% representam
homens como cientistas, trabalhando sozinhos em seus laboratórios, cercados por
equipamentos e vidrarias. Essa visão, segundo Reis, Rodrigues e Santos (2006), é
resultado das idéias de ciência e imagens de cientistas veiculadas nos vários meios
de comunicação como filmes, desenhos, revistas e livros. A Figura 1 apresenta
alguns desenhos produzidos pelos alunos na Aula 1.
DA
DB
DC
Figura 1: Desenhos DA, DB e DC produzidos pelos alunos na Aula 1.
O Quadro 2, apresenta alguns trechos da biografia de Lavoisier utilizados
para refletir sobre aspectos relacionados a visões esteriotipadas de ciência e cientista
como forma de confrontar as visões de senso comum.
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Quadro 2: Exemplo de trechos da biografia de Lavoisier utilizados para refletir sobre alguns
aspectos relacionados a visões de ciência e cientista
Visão de senso
comum
Características da
vida de Lavoisier
Isolado
Socialmente
Tem família,
esposa, emprego
em um cargo
público
Velho
Jovem
Trabalho
Isolado
Influência de
outras áreas e
outros cientistas
Linearidade
Não-linearidade
Ciência
Masculina
Presença de
mulheres da
ciência: Madame
Lavoisier
Trechos da biografia de Lavoisier
Quando sua mãe faleceu ele tinha 5 e sua
irmã 3 anos. Isso fez com a família se
mudassem para a casa da avó, que ajudou
a criar as crianças.
***
Foi também em 1768 que Lavoisier
ingressou na Ferme Générale, uma
associação de financistas responsável por
recolher imposto da população.
***
Através da Ferme Lavoisier conheceu
Marie-Anne, filha de outro fermier, e em
1771 se casaram, ele com 28 e ela com 14
anos.
Aos 22 anos apresentou à Academia Real
de Ciências um trabalho sobre os
diferentes tipos de gesso
Por influências do professor Jean-Etienne
Guettard,
famoso
geólogo,
que
freqüentava a casa de sua avó, Lavoisier
passou a se interessar por ciências e
acompanhava o professor nas explorações
geológicas do território francês.
“Ao atacar a doutrina se Stahl não
pretendo substituí-la por uma teoria
rigorosamente demonstrada, mas somente
por uma hipótese que acho mais provável,
mais conforme às leis da natureza, que
considero conter explicações
menos
forçadas e menos contraditórias”.
***
“Nesta memória não tive como
outro
objetivo
que
o
de
dar
novos
desenvolvimentos à teoria da combustão
que publiquei em 1777, de fazer ver que o
flogisto de Stahl é um ser imaginário, que
todos os fenômenos da combustão e da
calcinação se explicam de uma maneira
muito mais simples e muito mais fácil sem
flogisto que com flogisto.”
Ela terminou seus estudos depois do
casamento, fato incomum para
época.
Como não tiveram filhos ela se tornou
colaboradora
de
seu
marido,
acompanhando-o no seu trabalho. Foi ela a
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Ser Iluminado,
que nasce com
o dom de
“descobrir”
coisas
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( HC)
tradutora de importantes obras de químicos
britânicos da época e os desenhos de
muitas publicações foram realizados por
ela. Madame Lavoisier era uma perfeita
representante das mulheres do século XVIII
que exibiam amor pelo saber, o entusiasmo
pelas novas idéias e um refinado senso de
sociabilidade.
Mesmo se formando em direito (como seu
pai), em 1764, aos 21 anos de idade, ele
seguiu cursos de professores renomados
nas áreas de matemática, botânica, química
e geologia.
***
Anos de dedicação Em 1785, Lavoisier foi nomeado diretor da
aos estudos
Academia de Ciências. Quando começou a
Revolução
Francesa, Lavoisier tinha
chegado ao ponto mais elevado da sua
carreira científica, sendo reconhecido em
seu país e no estrangeiro como um dos
maiores sábios da França.
Após o desenvolvimento das aulas, nas quais foram discutidos aspectos
sobre o trabalho que os cientistas realizam e o processo pelo qual a ciência se
desenvolve, os alunos desenharam novamente um cientista e a Tabela 2 apresenta
uma comparação entre as características analisadas.
Tabela 2: Comparação entre as características observadas nos desenhos iniciais e finais.
VESTUÁRIO
Óculos
Jaleco
Gravata
APARÊNCIA
Cabelo arrepiado
Velho
Cabelo calvo
Bigode
Cabelo normal
OBJETOS
Vidrarias e equipamentos de
laboratório
Livros
Equações matemáticas ou fórmulas
GÊNERO
Homem
Mulher
Sozinho
D.1
73%
70%
12%
D.1
57%
50%
27%
27%
16%
D.1
38%
D.2
18%
35%
6%
D.2
41%
11%
0%
12%
59%
D.2
35%
15%
15%
D.1
96%
4%
100%
12%
12%
D.2
76%
24%
94%
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Pode-se observar o aumento de mulheres cientistas, diminuição do uso de
óculos, não apareceram cientistas calvos e já apareceram com outros cientistas no
laboratório. Através desses desenhos pode-se concluir que os alunos superaram
aquela visão estereotipada de cientista. Na Figura 2 estão alguns exemplos dos
desenhos produzidos pelos alunos na Aula 7.
DD
DE
DF
Figura 2: Desenhos DD, DE e DF produzidos pelos alunos na aula 7.
O desenho DD apresenta algumas características importantes: ser de uma
mulher cientista e ainda jovem, sem jaleco, sem óculos e sorrindo. Já o desenho DE
mostra o cientista também jovem, sem jaleco, sem óculos, sem cabelos arrepiados e
que ainda mantém vínculo com a universidade, indicando que esse cientista está em
constante formação. O desenho DF representa o álbum com as fotos das viagens do
cientista para a África, Alaska e outros lugares, indicando que o esse sujeito não vive
apenas no seu laboratório, mas que tem uma vida comum a qual inclui momentos de
lazer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer do desenvolvimento da PD, observou-se uma maior participação e
interesse dos alunos nas aulas de química, além de uma melhor compreensão dos
conteúdos abordados. A abordagem HFC pode ser utilizada como mais uma estratégia
didática, enriquecendo as aulas da área de Ciências, trazendo elementos históricos para
promover a reflexão sobre o desenvolvimento da Ciência, ou seja, mostrar para o aluno o
processo pelo qual se dão os processos de construção do conhecimento científico, não
apenas os resultados finais. Entretanto, salienta-se que visões distorcidas sobre a
natureza da ciência ainda continuam a ser inculcadas nas aulas de ciências, em razão,
principalmente de problemas na formação dos professores. Nesse sentido, é que
justifica-se a relevância de Programas como o PIBID, nos quais busca-se melhorar a
formação dos futuros professores, por exemplo, instrumentalizando-os para o
desenvolvimento de temáticas como esta, bem como de outras.
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TOSI,Lúcia. Lavoisier: Uma revolução na química. Química Nova, 12 (1), 1989.
XVI Encontro Nacional de Ensino de Química (XVI ENEQ) e X Encontro de Educação Química da Bahia (X EDUQUI)
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