Inovações médicas devem aliar relevância clínica e viabilidade econômica
Especialistas reunidos pela ABIMED dizem que este é o caminho para
otimizar recursos e ampliar o acesso a novas tecnologias
São Paulo, 20 de maio de 2015 – O avanço tecnológico tem gerado
benefícios comprovados para pacientes e para a elevação do padrão de
cuidados médicos no país, mas seu uso e incorporação devem ser racionais
e levar em conta também a viabilidade econômica. Esta é uma das
principais conclusões dos participantes do painel “Contribuição da inovação
para a sustentabilidade do sistema de saúde”, promovido ontem pela
ABIMED (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos
para Saúde).
Francisco Balestrin, presidente do Conselho de Administração da Anahp
(Associação Nacional de Hospitais Privados) disse que, além de barreiras
burocráticas ao desenvolvimento da inovação, distorções no sistema de
remuneração da cadeia de saúde também prejudicam sua incorporação.
“Todos os segmentos da cadeia de saúde devem se reunir para rever esse
modelo, que afeta a atuação de hospitais, operadoras e profissionais de
saúde. Não podemos postergar essa discussão, sob pena de
comprometermos a sustentabilidade do sistema”, ressaltou.
Na opinião de José Cechin, Diretor Executivo da Federação Nacional de
Saúde Suplementar (FenaSaúde), as despesas hospitalares têm crescido de
maneira acentuada, principalmente devido ao uso de materiais, em
especial de dispositivos implantáveis, ultrapassando os índices de inflação.
Segundo ele, a adoção de tecnologia deve ser precedida de uma criteriosa
avaliação de custo x benefício e custo x efetividade, evitando a indicação de
procedimentos inadequados. “A inovação não deve ser demonizada nem
endeusada, mas é importante estabelecer critérios para a sua adoção”,
afirmou.
A relevância econômica da inovação também foi um dos pontos destacados
por Oscar Porto, CEO da Medtronic. O executivo disse que é
responsabilidade da indústria desenvolver tecnologias economicamente
viáveis, mas ressaltou que o foco principal deve ser o paciente. “Hoje
devemos buscar uma inovação que não sobrecarregue o custo e tenha
relevância clínica, que traga benefícios e possa atender ao maior número
possível de pessoas”. Ele citou como exemplos de inovações que ampliam
acesso e reduzem custos o marca-passo e o ultrassom portátil.
Márcio Coelho, presidente da Johnson & Johnson Medical Brasil, disse que
a avaliação do impacto das tecnologias no custo da Saúde deve levar em
conta a ineficiência do sistema e a grande distância que separa o país do
restante do mundo em inovação médica. “O Brasil ocupa o 48º lugar em
eficiência na área da Saúde, segundo a agência Bloomberg. Não é a
inovação que eleva custos, mas sim a ineficiência”, assinalou. Coelho vê as
necessidades assistenciais ainda não atendidas como oportunidades para o
país superar desafios e ganhar relevância na cadeia global de produção.
A ciência e tecnologia não são incorporadas por falta de recursos, o que
gera uma disparidade entre a saúde privada e a pública, segundo Angelo
Vincenzo de Paola, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
“A Saúde é subfinanciada e a gestão complexa, porque o país é muito
heterogêneo. Mas precisamos resolver essa equação: a saúde privada não
pode correr paralelamente à saúde pública”, destacou. Ele citou vários
exemplos de benefícios do avanço tecnológico na Cardiologia, entre eles a
realização de cirurgias em idosos que seriam impensáveis anos atrás e que,
no Brasil, ainda podem ser estendidas a maior número de pessoas.
Na visão de Carlos Domene, presidente da SOBRACIL (Sociedade Brasileira
de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica), a inovação tem trazido
soluções para problemas reais. A integração da tecnologia digital ao
processo cirúrgico e o avanço da cirurgia robótica têm possibilitado
melhores resultados em áreas como a Oncologia, além da realização de
procedimentos que as mãos e olhos humanos não conseguiam alcançar.
“São cirurgias sem gaze, sem sangue, sem contaminação, com possibilidade
mínima de infecção. Isso é respeito ao paciente e é isso que as tecnologias
fazem”, resumiu.
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