1 A Influência das Artes Visuais nos Anúncios Impressos na Mídia Brasileira Jessica Lucas Pereira¹ ABSTRACT: This article has as main objective to discuss, analyze and present the ideal level of influence of different artistic movements that have emerged from prehistory to the present day - focusing on the analysis of the visual arts that are presented in printed advertisements released from the beginning of the century (2000-2012) and produced and / or transmitted in Brazil and have such artistic references. As a result, we found that the influence of the visual arts are present in different ways in a considerable amount of advertising, both as a direct reference to a style and as the junction of several elements or even the very ideals of artistic movements. We can consider that the degree of knowledge and interest in art of the general public is not imminent, but is functional in attracting public attention depending on the approach used and concluded that - in some occasional cases - the art can be seen as advertisements as well how it can become a work of art. KEYWORDS: Art, Advertising, Semiotics. RESUMO: Este artigo tem como principal objetivo discutir, analisar e apresentar o nível de influencia de ideais de diferentes movimentos artísticos que surgiram desde a pré-história até os dias atuais - focando na analise das artes visuais – que são apresentados em peças publicitárias impressas lançadas desde o inicio do século XXI (2000 a 2012) e produzidas e/ou veiculadas no Brasil e que tenham tais referências artísticas. Como resultado obtido, identificamos que a influencia das artes visuais estão presentes de diferentes maneiras em uma quantidade considerável de anúncios publicitários, tanto como referencia direta a um estilo quanto como a junção de vários elementos ou até mesmo os próprios ideais de movimentos artísticos. Podemos considerar que o grau de conhecimento e interesse sobre arte do publico geral não é eminente, porém é funcional em atrair a atenção do publico dependendo da forma de abordagem utilizada e concluímos que – em alguns casos ocasionais – a arte pode ser vista como propaganda assim como a mesma pode se tornar uma obra de arte. PALAVRAS-CHAVE: Arte; Publicidade; Semiótica. _________________________ ¹Jessica Lucas Pereira – e-mail: [email protected]. Artigo do PIBIC/ Mackenzie, escrito sob a orientação do Prof. Dr. Adolpho Queiroz (orientador) 2 INTRODUÇÃO: No presente artigo, o tema desenvolvido tem como foco identificar o grau de influencia de movimentos artísticos apresentados na publicidade impressa, veiculadas no Brasil desde o inicio do século XXI até o ano atual. As analises serão feitas a partir de algumas peças/campanhas publicitárias veiculadas na revista Veja durante o período mencionado e as mesmas foram selecionadas de acordo com seu conteúdo e nível de influencia artístico. O reconhecimento das imagens será feita de acordo com matrizes semióticas, pois assim poderemos compreender os signos, índices e/ou símbolos que compõem as imagens para, a partir de tal compreensão, termos subsídios para entender ainda a ideia que está acoplada ao anuncio e por fim, termos embasamento teórico e pratico para concluir se a utilização de referencias artística é eficaz para suscitar a atenção do publico e apresentar o produto de maneira clara, interessante, envolvente e rentável. A campanha que será utilizada como foco principal do artigo foi criada para marca brasileira de sandálias de plástico, Havaianas pela agencia AlmapBBDO e a mesma foi veiculada na revista Veja durante o ano de 2009. Logo, feitas as devidas análises partindo de fundamentos teóricos e funcionais sob os âmbitos artístico, semiótico, estético e publicitário será examinado o que torna uma peça arte e o que a torna publicidade, assim como as diferenças e semelhanças entre as mesmas e será também questionado se a publicidade pode ser considerada uma obra de arte. Arte e Estética: O autor Jorge Coli em seu livro “O que é arte?” faz uma análise sobre os conceitos gerais de arte e desenvolve ao longo da obra o fato de que aos olhos de um admirador com precário entendimento na área das artes visuais, ao ver uma grande obra de arte, é possível que o mesmo consiga identificar e destacar aquilo o que vê como "arte" e assim passar a admira-la e respeita-la, porém a falta de entendimento artístico reduz a interpretação de tal pessoa por falta de entendimento sobre técnicas, contextos e significados, mas ainda que limitadamente, qualquer pessoa com o mínimo de cultura é capaz de admirar arte. Mas segundo o autor, para ter pleno conhecimento sobre as artes em geral é necessário estudo e interesse, pois só assim uma pessoa é capaz de exercitar tanto seus olhos quando sua mente o verdadeiro e profundo entendimento sobre arte. Segundo Coli, “(...) O estatuto da arte não parte de uma definição abstrata, lógica ou teórica, do conceito, mas de atribuições feitas por nossa cultura, dignificando os objetos sobre os quais ela recai". (1995,pg.11). Na visão do autor não é possível absorver plenamente as emoções contidas em uma obra se o admirador não tem a base do conhecimento da teoria da arte, mesmo aquele conhecimento que é gerado pela cultura da sociedade 3 então “A fruição da arte não é imediata, espontânea, um dom, uma graça. Pressupõe um esforço diante da cultura. Para que possamos emocionar-nos, palpitar como um espetáculo de uma partida de futebol é necessário conhecer as regras desse jogo, do contrário tudo nos passará despercebido e seremos forçosamente indiferentes.” (1995, pg. 115). Então a contemplação intelectual do signo somada ao sentimento causado ao apreciá-la o torna uma obra de arte. Logo, podemos concluir que a arte é a manifestação do irreal, a representação do mundo de forma subjetiva através dos olhos da alma de quem o representa. O objetivo da arte é elevar o observador a uma impressão de transcendência. Huisman diz em sua obra “A Estética” que a “arte consiste em nos conduzir para uma impressão de transcendência em relação a um mundo de seres e de coisas postas em evidência através unicamente de um jogo concertante de qualia sensíveis, apoiado num corpo físico disposto de maneira a produzir esses efeitos “. Então concluímos que a arte não é apenas um objeto de beleza ou a estetização do real e sim uma representação que leva a pessoa que a observa ao êxtase. A estética é todo o signo no qual o homem de alguma forma caracteriza a beleza de sua existência, ou seja, é a representação do belo. Segundo Benedito Croce “o belo não tem existência física”, ou seja, o objeto não é realmente levado em conta no ato de apreciação e sim a ideia passada, o sujeito, a essência. Denis Huisman cita em seu livro “A Estética”, que “O critério de arte parece-nos ser a extrema intensidade do sentimento estético. Poussin dizia que o sinal da arte era o deleite e antes dele, Leonardo dizia que era o maravilhar. Para Eugène Delacroix, um quadro digno desse nome deveria „apertar a garganta‟ de quem o admirava.” Na arte, o belo se manifesta, quando no momento em que se contempla qualquer tipo de obra artística sinta sua beleza no ato de apreciar a obra no todo, por completo e o conceito de belo é consolidado no instante em que o apreciador passa a sentir obra, apreciá-la de forma afetiva e não enxergá-la com base na intelectualidade apenas. O objeto estético só é pleno quando é belo e o belo é considerado belo quando de alguma forma consola aquele que o aprecia e a arte por fim, é exatamente a essência do belo. Semiótica e Publicidade: A Semiótica é uma filosofia cientifica a linguagem que estuda os signos, ou seja, é o estudo de “tudo aquilo que, sob certos aspectos em alguma medida, substitui alguma outra coisa, representando-a para alguém.” (Vilalba, 2006, pg. 121). Diferente e mais abrangente que o estufo da Semiologia (linguística), que se limita ao estudo dos signos linguísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal, esta filosofia tem por 4 objeto qualquer sistema sígnico, no presente artigo analisaremos as imagens com base na semiótica proposta pelo teórico Charlie S. Pierce que foi precursor na área e exerce grande influencia no assunto até os dias atuais e dentro de seu sistema filosófico, Pierce criou os conceitos de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. Em linhas gerais, a autora Lucia Santaella, apresenta seu livro “O que é semiótica”, o conceito de Primeiridade como pensamento no presente imediato; iniciante, original, espontâneo e livre; precede toda síntese e toda diferenciação. Não pode ser articuladamente pensado; se o mesmo for afirmado, perde sua característica, a Secundidade como ação e reação sem nenhum tipo de mediação, ou seja, sem ração ou lei, são os fatos extremos que nossa vivencia cotidiana, e a Terceiridade acaba por aproximar os dois outros conceitos em uma síntese intelectual, diz respeito ao pensamento em signos, através da qual representamos e interpretamos o mundo. A análise semiótica das peças publicitárias a serem estudadas no presente artigo será utilizada para examinar a relação do objeto, que no caso são campanhas publicitárias selecionadas a partir de referencias artísticas presentes na mesma, para ser possível assim entender seu significado. Sempre fazendo a analise entre o objeto (peça e/ou campanha), sua forma de representação (imagem e conceito) e seu significado (mensagem; ideal). . Revista Veja e a Publicidade: A revista Veja é publicada pela Editora Abril, desde 11 de setembro 1968 e tem distribuição semanal, todas as quartas-feiras. Em sua primeira publicação foi declarada a seguinte frase: “A Veja quer ser a grande revista semanal de informação de todos os brasileiros" então a revista, desde seus primórdios, possui um publico abrangente, pois explora temas a respeito do cotidiano da sociedade brasileira – pois a revista tem circulação nacional – e também assuntos de interesse mundial, como por exemplo, a política e economia, cultura,comportamento e as guerras. Algumas edições da revista atualmente abordam temas como tecnologia, arte, musica cinema, ecologia e religião regularmente, mas não é seu foco principal. Segundo Roberto Civita, a “Veja” é a revista mais comprada no país e a quarta mais lida em todo o mundo. (Publicado na edição especial de 30 anos da revista Veja, em outubro de 1998). As campanhas publicitárias estão presentes em uma porcentagem considerável na revista, e grandes anunciantes fazem parte da historia da revista há anos, como por exemplo, a marca brasileira de sandálias de borracha, Havaianas. Mas o fato, é que há uma grande variedade de anúncios publicitários divididos em diversos segmentos para alcançar todos os leitores da revista, então varia entre anúncios de alimentos, cosméticos, automóveis até imóveis, procurando alcançar os desejos de todos os segmentos. E acaba se tornando muito importante para uma marca anunciar de 5 em uma revista de grande porte, pois acaba gerando uma visão melhor do publico em relação à marca. Campanha Havaianas e Semiótica: Havaianas, marca brasileira conhecida por suas sandálias de borracha que são produzidas pela São Paulo Alpargatas, uma empresa do grande Grupo Camargo Corrêa. A marca possui participação considerável no mercado brasileiro de seu segmento, comercializando cerca de 162 milhões de sandálias. Estima-se que a cada três brasileiros, dois consomem um par de Havaianas por ano. A sandália demorou até ganhar o status de fashion. Esse percurso começou em 1994, com a marca em crise e com queda de vendas. A empresa reagiu e lançou a Havaianas Top com uma grande campanha de marketing. De 1994 a 2000 o produto foi se tornando mais sofisticado. Foi nesse momento que modelos e celebridades começaram a usar a sandália. As exportações aumentaram e a marca ganhou espaço e importância em revistas e nas vitrines do mundo A campanha “Havaianas e as artes visuais” analisada no presente artigo, foi lançada em 2009 pela agencia AlmapBBDO e veiculada em diversos canais impressos de comunicação, inclusive na revista Veja. As peças da campanha mencionada têm como influencia direta diversos movimentos artísticos e mostra claramente suas referencias e características. A campanha que une a marca Havaianas às artes visuais é composta de dez peças publicitárias de pagina dupla e menciona, na primeira peça (anexo 1) traz referencias do abstracionismo geométrico, que é um movimento onde as cores apresentadas as linhas horizontais em ângulo reto resulta na impressão de concepção geométrica e na imagem há uma clara citação as cores primarias que eram utilizadas pelo artista Piet Mondrian. A segunda peça (anexo 2) utiliza-se da teoria de similaridade proposto por Gestalt, onde os objetos de mesma cor (listras) são compostos de tal forma que as linhas azuis passam a impressão de se agruparem assim como as verdes, brancas e azuis, tornando possível a impressão de proximidade da peça e as cores utilizadas fazem referencia a bandeira brasileira, ressaltando o patriotismo da marca anunciante. A terceira peça (anexo 3) segue a vertente de percepção visual da anterior e faz uma menção à técnica de pontilhismo, que mais explorada no movimento impressionista, faz uma justaposição de pequenos pontos de diferentes cores criando uma mistura ótica a quem observa a imagem. Na quarta peça (anexo 4) optou-se pela referencia à arte de rua, denominada grafite que é uma forma de artes produzida em ruas e muros antes como protesto, mas hoje em dia menos marginalizada é também considerado arte. A quinta peça (anexo 5) explora os pigmentos e assim fazendo uma referência a ideia de luz transmitida através da cor e as diversas cores apresentadas mencionam também as cores disponíveis para o 6 produto a ser vendido e a ideia de luminosidade, brilho e contraste com a luz, e no caso do Brasil que é um país tropical, com o Sol. A sexta imagem (anexo 6) tem como tema o movimento impressionista, e se utiliza das cores pastel que referenciam a natureza e as técnicas de pintura que valoriza a luz, a decomposição das cores e as pinceladas rápidas com falta de linhas delimitando o desenho. A sétima peça (anexo 7) sugere o neoimpressionismo que utiliza as cores complementares de uma forma sistematizada e ainda faz referencia a técnica do pontilhismo que é representado pelos diversos mosaicos de pequeno porte, a oitava peça (anexo 8)menciona técnicas do movimento futurista, então o intuito não é apensar mostrar o produto, mas sim destacar os efeitos causados no produto ao ser envolto por elásticos, e assim acaba ressaltando a qualidade da borracha, sua maciez e qualidade. A nona peça (anexo 9) possui referencias dadaísta mencionando o objeto, que no caso é a sandália Havaianas, inserido em um contexto artístico compondo uma obra de arte, então é o uso da técnica do ready-made para compor a obra a partir do produto já existente e que faz parte do nosso cotidiano, a imagem ainda faz menção com suas formas e cores a peça denominada “Tabua com Ovos” por Hans Arp, e por fim, a ultima peça (anexo 10) menciona o cubismo analítico onde a imagem é composta sob um outro plano e são utilizadas formas geométricas para tal composição assim como cores semelhantes; a peça da Havaianas optou pelas formas cúbicas e cores pasteis. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Ao analisar a campanha da marca brasileira de sandálias de borracha Havaianas, veiculadas na revista Veja durante o período do ano de 2009 de acordo com teorias semióticas e que mencionasse diversas referências artísticas, identificamos que a influencia das artes visuais está explicitamente presente de diferentes maneiras em uma quantidade considerável de anúncios publicitários apresentados para vários segmentos, principalmente como referencia direta a um estilo artístico. O grau de conhecimento e interesse do publico ainda não é vasto por falta de estudos principalmente no campo das artes e da cultura então ao fazer uma menção a um movimento artístico, para pelo entendimento do publico é necessário que tal menção seja clara, explicita e previsível até porque assim o publico não se sente inferior à qualidade do anuncio por falta de entendimento. Mas as artes estão presentes também no meio publicitário, porém nem tanto na zona de conhecimento do publico em geral. 7 ANEXOS: Anexo 1 Anexo 2 Anexo 3 8 Anexo 4 Anexo 5 Anexo 6 9 Anexo 7 Anexo 8 Anexo 9 10 Anexo 10 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS: COLI, Jorge. O que é arte?. 15 ed. São Paulo: Brasiliense. 1995 GUIMARÃES, J.C. Publicidade e arte: tão perto, tão longe. Disponível em: < http://www.revistabula.com/posts/colunistas/publicidade-e-arte-taoperto-tao-longe>. 04/03/2008 às 23h20min. HAVAIANAS E AS ARTES VISUAIS. Disponível em: <http://eduideia51.blogspot.com.br/2009/04/havaianas-e-as-artesvisuais.html>. 25/04/2009 às 17h37min. HEGEL, Georg W. Friedrich. Estética. São Paulo: Abril Cultural, 1991. HUISMAN, Denis. A estética. São Paulo: Edição 10, 1994. SANTAELLA, Lucia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983. VILALBA, Rodrigo. Teoria da Comunicação: conceitos básicos. São Paulo: Ática, 2006. 12 INDICE: ABSTRACT.................................................................................................. 1 RESUMO...................................................................................................... 1 INTRODUÇÃO.............................................................................................2 Arte e Estética................................................................................................ 2 Semiótica e Publicidade..................................................................................3 Revista Veja e a Publicidade......................................................................... 4 Campanha Havaianas e Semiótica................................................................. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................6 ANEXOS........................................................................................................8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS .......................................................11