Os
sertões
Portinari
Cangaceiros, 1951
Interpretações do Brasil
A guerra de Canudos
(1896-1897)
 Muita turbulência na passagem do Império para a República
-Contexto: Abolição (1888), Proclamação da República (1889),
Constituição Republicana inspirada no modelo federalista
presidencialista norte-americano (1891), separação Estado e Igreja,
crise financeira -especulativa “Encilhamento” (1889-1891), Revolta da
Armada (1893-1894), Revolução Federalista (RS, 1893-1895)
Interpretações do Brasil
A guerra de Canudos
(1896-1897)
 Rebelião de cunho religioso (contra o casamento civil), anti-republicana
(contra impostos e “imoralidades” da República) e em favor de maior
igualdade social, liderada pelo beato Antonio Conselheiro.
=> Situação do NE: fome, seca, violência, desemprego, abandono das
autoridades
 Conflito irrompe no sertão da Bahia e os combatentes são seguidores de
Antonio Conselheiro, Jagunços e sertanejos sem emprego
Interpretações do Brasil
A guerra de Canudos (1896-1897)
Os jornais, as elites e a população urbana interpretaram o episódio como uma luta em
prol da restauração monárquica.
“Doente grave só lhe pode ser
aplicado o conceito da paranóia de
Tanzi e Riva (...) Foi um documento
raro de atavismo. A constituição
mórbida levando-o a interpretar
caprichosamente as condições
objetivas (...) traduz-se
fundamentalmente como uma
regressão ao estágio mental dos
tipos ancestrais da espécie. (....)
Antonio Conselheiro foi um gnóstico
bronco” Os Sertões
caricatura
publicada
na
Revista
Ilustrada, retrata Antônio Conselheiro,
com um séquito de bufões armados com
bacamartes em luta contra a República
Interpretações do Brasil
A guerra de Canudos (1896-1897)
 Arraial de Canudos é fundado em 1893,
às margens do Rio Vaza Barris por Antonio
Conselheiro.
 A comunidade atraiu pessoas carentes por lá
haver trabalho e acesso a terra, sem a
exploração dos fazendeiros.
Um desentendimento com um lugarejo vizinho
foi o pretexto para intervenção militar, enviada
em novembro de 1896 . 100 praças são
derrotados pelos jagunços.
Interpretações do Brasil
A guerra de Canudos (1896-1897)
“A partir dos restos de uma fazenda abandonada
em pleno sertão baiano, Canudos brotou e
cresceu tão rápido quanto um cogumelo depois da
chuva. Gentes vinham de todos os quadrantes do
interior nordestino, atraídas pela comunidade que
prosperava sob as bênçãos de um líder inspirado.
Em menos de uma década o povoado já havia se
tornado a terceira maior cidade da Bahia.
Alarmados, fazendeiros e autoridades se viam na
iminência de perder sua mão-de-obra devido ao
êxodo em massa para o novo arraial. Um relatório
da polícia alertou o governo federal de que "um
indivíduo pregando doutrinas subversivas fazia
grande mal ao Estado, distraindo o povo e
arrastando-o após si, procurando convencer de
que era o Espírito Santo".
Nicolau Sevcenko
Interpretações do Brasil
A guerra de Canudos (1896-1897)
Vista Geral de Canudos
Fotos Flávio de Barros,1897
 Canudos foi abatido após 4
expedições militares, a última com
quase 5 mil homens
 Antônio Conselheiro, morto em 22
de setembro de 1897, teve seu corpo
exumado e sua cabeça decepada
para estudos frenológicos.
No final, 300 mulheres, velhos e
crianças se renderam.
 Os 5.200 casebres foram
pulverizados a dinamite.
Interpretações do Brasil
A guerra de Canudos (1896-1897)
Mulheres e crianças
– Prisioneiros de guerra
O corpo de Antonio
Conselheiro
Fotos Flávio de Barros,1897
Interpretações do Brasil
A guerra de Canudos (1896-1897)
Ruínas
de Canudos
Fotos Flávio de Barros,1897
Interpretações do Brasil
O Jagunço
“O Jagunço não é tão somente
O matuto fanático e mau
Que nos ínvios sertões mata a gente
Escondido por trás de um bom pau
O jagunço o palúrdio parola,
Que o progresso não quer da nação
E, sem ter convicções na cachola,
Prega idéias de restauração
(....)
O malandro que come do Estado
Que só sabe dizer ´venha a nós´
E não está da República ao lado,
É jagunço, e jagunço feroz”
Portinari
Cangaceiros, 1951
Revista de ano “O Jagunço” de Arthur Azevedo, representada pela 1ª vez em
fevereiro de 1898
Interpretações do Brasil
Caricatura de Euclides da Cunha
por Raul Pederneiras, 1903
 Euclides da Cunha escreve para O Estado de S.
Paulo dois artigos sobre a campanha de Canudos,
publicados respectivamente em 14 de março e 17 de
julho de 1897. Em "A nossa Vendéia“ ( o 1º artigo),
compara a primeira batalha de Canudos com a
“vendéia”, rebelião ocorrida na Bretanha- França,
em 1793, entre republicanos jacobinos e
camponeses católicos, padres e nobres defensores
da monarquia.
 A convite de Júlio de Mesquita é enviado como
correspondente de guerra do O Estado de S. Paulo e
segue em 4 de agosto para os sertões da Bahia.
Passa dois meses em campo e envia regularmente
suas notas de repórter para o jornal.
Interpretações do Brasil
Fonte: Site da ABL
http://www.euclidesdacunha.org.br/
Caricatura de Euclides da Cunha
por Raul Pederneiras, 1903
 Em 26 de outubro, de volta a São Paulo,
publica em O Estado de S. Paulo o último
artigo da série "Diário de uma expedição",
intitulado "O Batalhão de São Paulo".
 A série sobre a campanha de Canudos
constituiu-se na matriz de Os Sertões,
publicado em 1902 pela Ed. Laemmert
Fonte: Site da ABL
http://www.euclidesdacunha.org.br/
Interpretações do Brasil
Euclides da Cunha
(1866, Cantagalo,RJ- 1909,RJ)
 Engenheiro, professor, jornalista
 Em 1884, matriculou-se na Escola Politécnica e
dois anos depois assenta praça na Escola Militar
 Em 1888, foi desligado do Exército por um ato de
indisciplina, sendo a ele reintegrado quando da
Proclamação da República
 Em 1890, conclui o curso da Escola Superior de Guerra como primeiro-tenente e vai
trabalhar como engenheiro na Estrada de Ferro Central do Brasil em SP
 Em 1896 deixa o Exército, por divergir de Floriano Peixoto e vai trabalhar na
Superintendência de Obras Públicas do Estado de SP, como engenheiro civil
 Em 1897 cobre jornalisticamente a Campanha de Canudos para o jornal O Estado de
São Paulo
 Publica Os Sertões em 1902 e em 1903 é eleito para Academia Brasileira de Letras
(ocupa cadeira de Valentim Magalhães)
 Entre 1904-1906 chefia a missão diplomática na Amazônia para resolver as questões
de fronteira entre o recém incorporado Acre e o Peru
Interpretações do Brasil
Interpretações do Brasil
Pela defesa falou o advogado Delamare Garcia e, em seguida, Evaristo de
Moraes.
Falou do exercício de legítima defesa por parte do réu, não só em relação à sua
própria pessoa, como em defesa da adúltera.
Justificou a impossibilidade de Dilermando fugir, alegando o ridículo do aspirante a
oficial fugir em trajes menores, pés nus, dando as costas ao agressor de sua
própria casa. A própria lei - argumentou Evaristo de Moraes - sustenta que não se
pode fugir, sempre que essa fuga seja vergonhosa e perigosa.
Analisou a alegada condescendência de Euclides da Cunha com o adultério,
alegada pelo promotor, aludindo que o grupo social repelia essa condescendência,
que seria um verdadeiro menage à trois, só sustentável quando a família estivesse
destruída pelo amor livre.
Argumentou que a condenação, ainda que mínima, seria um absurdo, dentro das
circunstâncias. Ou tudo ou nada! Se o Júri reconhecesse a culpabilidade do réu,
como assassino perverso, ingrato, miserável, que traiu seu protetor que o
condenasse; caso contrário, estava na obrigação moral de absolvê-lo. Evaristo de
Moraes conclamou os jurados a exercer a sua nobre função, sem medo da opinião
alheia e apreciações de censura ou de aplauso.
O Conselho de Sentença reconheceu a legítima defesa adotada pelos defensores
e absolveu Dilermando de Assis, em 5 de maio de 1911. Foi posto em liberdade.
Ana de Assis
Dilermando de Assis
Interpretações do Brasil
 Quais são as
principais idéias de
Euclides da Cunha
em Os Sertões?
 Como é
representado o
sertanejo?
 Quais são os
dilemas do Brasil?
Portinari
Cangaceiros, 1951
Interpretações do Brasil
Os artigos publicados no O Estado de S. Paulo
14 de março de 1897 o artigo intitulado "A Nossa Vendéia”
“Identificados à própria aspereza do solo em que nasceram, educados numa rude escola de
dificuldades e perigos, esses nossos patrícios do sertão, de tipo etnologicamente indefinido
ainda, refletem naturalmente toda a inconstância e toda a rudeza do meio em que se
agitam
(...) Como na Vendéia o fanatismo religioso que domina as suas almas ingênuas e simples é
habilmente aproveitado pelos propagandistas do império.A mesma coragem bárbara e
singular e o mesmo terreno impraticável aliam-se, completam-se. (...)
A justeza do paralelo estende-se aos próprios revezes sofridos. A Revolução Francesa que se
aparelhava para lutar com a Europa, quase sentiu-se impotente para combater os
adversários impalpáveis da Vendéia - heróis intangíveis que se escoando céleres através
das charnecas prendiam as forças republicanas em inextricável rede de ciladas...
Entre nós o terreno, como vimos, sob um outro aspecto embora, presta-se aos mesmos
fins.Este paralelo será, porém, levado às últimas consequências. A República sairá
triunfante desta última prova”
Interpretações do Brasil
 Quais são as
principais idéias de
Euclides da Cunha
em Os Sertões?
 Como é
representado o
sertanejo?
 Quais são os
dilemas do Brasil?
Portinari
Cangaceiros, 1951
Interpretações do Brasil
 Os Sertões marco no país, aclamado pela intelectualidade e sucesso
editorial – 3 edições entre 1902 e 1909
 Obra influenciada pelo positivismo de Taine, que propunha a trilogia – meio,
raça e circunstâncias – na interpretação dos fatos históricos
 Imerso nas teorias científico-racialistas da época, se vale de argumentos de
Nina Rodrigues sobre a inferioridade do mestiço
Mas não vê a mestiçagem apenas como negativa ou como fator
determinante para o atraso ( o isolamento do sertanejo é a causa da clivagem
entre litoral e sertão): o sertanejo era um retrógado, não um degenerado por
isso era ambiguamente um forte e um fraco (Hércules-Quasímodo)
 Canudos é explicada como resultado do choque entre “dois processos de
mestiçagem”: a litorânea e a sertaneja
 O mestiço do sertão era superior ao mestiço “raquítico e neurastênico” do
litoral
Interpretações do Brasil
 É o primeiro a enunciar o dualismo litoral X sertão/interior, a chamar a
atenção para os dramas do sertão e a defender à integração do interior no
processo de construção da nação
 oposição entre os intelectuais afrancesados da rua do Ouvidor,
“trogloditas completos” , “enluvados e encobertos de tênue verniz”
versus os atávicos, fanáticos e desbravadores da natureza do Sertão de
Canudos
 Para o autor, a “marcha do progresso, no entanto era inexorável. O
sertanejo seria absorvido pelas “raças superiores”
“ A civilização avançará nos sertões impelida por essa ‘força motriz da
História’” Os Sertões, página 9
Fonte: “O Brasil como sertão” de Nísia Trindade Lima. In: BOTELHO, André e SCHWARCZ, Lilia. Um enigma chamado
Brasil. SP, Cia das Letras, 2009.
“Os sertões entre dois centenários” de Roberto Ventura. In:MADEIRA, Angélica e VELOSO, Mariza (orgs). Descobertas
do Brasil. Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 2001.
Interpretações do Brasil
 Os Sertões é dividido em 3 partes
- A Terra
* análise das condições da terra do sertão(geológicas e
geográficas), do clima e do seu principal problema (a seca e o
deserto)
“Realmente, entre os agentes determinantes da seca se intercalam,
de modo apreciável, a estrutura e conformação do solo. (...) O
martírio do homem , ali, é o reflexo de tortura maior, mais ampla,
abrangendo a economia geral da vida. Nasce o martírio secular da
Terra...” (Os Sertões)
Interpretações do Brasil
 O homem
* o homem como produto do meio , etnico e das circunstâncias
sociais. Descrição do tipo sertanejo, suas características,
mentalidade e costumes.
Divisão do vaqueiro em dois tipos: jagunço e gaúcho - antíteses
provocadas pela interação homem-meio.
“O jagunço é menos teatralmente heróico, é mais tenaz; é mais
resistente, é mais perigoso; é mais forte; é mais duro”
Vivendo em um meio adverso, “o sertanejo é antes de tudo, um
forte”, um “hércules-quasímodo”, feio, com aparência débil e
preguiçosa, como uma “simplicidade a um tempo adorável e
ridícula”,crédulo, “eivado de misticismo”, mas quando surge um
incidente “tranfigura-se”
Interpretações do Brasil
“ O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos
mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, torto,Hércules-Quasímodo, reflete um aspecto a
fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase
gigante e sinuoso, aparenta a transição de membros desarticulados. Agravao a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá
um caráter de humildade deprimente. (....) [Mas] basta o aparecimento de
qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear de energias adormidas. O
homem transfigura-se” (pág 77)
“ O vaqueiro, porém, criou-se em condições opostas, em uma intermitência,
raro perturbada, de horas felizes e horas cruéis, de abastanças e misérias.
(....) Atravessa a vida entre ciladas (...). É o batalhador perenemente
combalido e exausto, perenemente audacioso e forte. (...) Viver é adaptarse. Ele talhou-o a sua imagem:bárbaro, impetuoso, abrupto...” (págs 79-80)
Interpretações do Brasil
 Os Sertões é dividido em 3 partes
- A Luta
Discorre com riqueza de detalhes sobre a Campanha de Canudos
Cantadores popular – quadrinha
“Eu tava na ponta da rua
Eu vi a rua se fechar
Eu vi a fumaça da pólvora
Eu via a corneta bradar
Eu vi Antônio Conselheiro
Lá no Alto do Tambor
Com 180 praças
É amor, é amor, é amor” (Domínio público)
Foto: Flávio de Barros - 1897
Interpretações do Brasil
A cinqüentenária Brasília:
o marco da conquista do Oeste
 A idéia de Brasília nasce muito antes de JK
assumir a presidência do país (1956-1960)
 A construção de uma nova capital no
Interior do país estava prevista desde a
constituição de 1891 (artigo 3º )
“fica pertencente à União, no Planalto Central da
República, uma zona de 14 mil Km2, que será
oportunamente demarcada, para nela
estabelecer-se a futura Capital Federal”
1ª idéia de transferência é de José Bonifácio
(1763-1863) em 1822, propondo uma capital no
centro do país recém independente
JK chega à capital em 2 de fevereiro de 1960,
vindo do Rio de Janeiro em uma Romiseta, carro
totalmente fabricado no Brasil.
 A partir de trabalhos da “Comissão Cruls”, exploradora do Planalto Central do Brasil
(1892-1893) que demarcou uma área adequada à futura capital, em 1922 aparece
Brasília no mapa do Brasil, no interior de Goiás, perto da cidade de Planaltina
Interpretações do Brasil
A cinqüentenária Brasília:
o marco da conquista do Oeste
 A idéia de construção de nova capital no interior volta à tona na constituição de
1934, mas não avança. Voltando a figurar nas disposições transitórias da
Constituição de 1946
 A idéia de uma conquista para o Oeste se fortalece no Estado Novo (1937-1945),
cuja intenção era construir uma nova sociedade e fortalecer o sentimento nacional
=> “Marcha para o Oeste” lançada em
1940 => diretriz de integração
Territorial para o país
Incentivava o desbravamento
(imagem dos bandeiras) e a ocupação
dos espaços vazios territoriais
(“os sertões”,denunciados por
Euclides da Cunha)
Fonte site CPDOC e Lúcia Lippi “A Conquista do Oeste”
Interpretações do Brasil
A cinqüentenária Brasília:
o marco da conquista do Oeste
Getulio Vargas em
Campo Grande
(MT), 1941.
Arquivo CPDOC
Interpretações do Brasil
O Brasil
da Fome
Portinari
Retirantes, 1944
Interpretações do Brasil
Morte e Vida Severina _ João Cabral de Melo Neto
Escrito em 1954-55 e publicado em 1966
O meu nome é Severino
Não tenho outros de pia
Como há muitos Severinos que é santo de Romaria
Resolveram me chamar
Severino de Maria
Como há muitos Severinos com mães chamadas Maria,
Fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias
Mas isso ainda diz pouco
Há muitos na freguesia
Por causa de um coronel que se chamou Zacarias
E que foi o mais antigo senhor desta sesmaria (...)
Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida,
Morremos de morte igual mesma morte severina
Que é morte que se morre de velhice antes dos trinta
De emboscada antes dos vinte
De fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença que é morte severina, ataca em qualquer idade até gente
não nascida)
Interpretações do Brasil
Portinari-1944
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media:Os sertões Euclides da Cunha