CPV O cursinho que mais aprova na GV
FGV – ADM – Objetiva – 13/dezembro/2009
LÍNGUA PORTUGUESA, LITERATURA e INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Texto para as questões de 16 a 21.
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O Colocador de Pronomes (excerto)
Havia em Itaoca um pobre moço que definhava de tédio no fundo de um cartório.
Escrevente. Vinte e três anos. Magro. Ar um tanto palerma. (...)
Vivia em paz com as suas certidões quando o flechou venenosa seta de Cupido. Objeto
amado: a filha mais moça do coronel Triburtino, o qual tinha duas, essa Laurinha, do
escrevente, então nos dezessete, e a do Carmo, encalhe da família (...).
Triburtino não era homem de brincadeira. (...) Toda gente lhe tinha um vago medo; mas o
amor, que é mais forte que a morte, não receia sobrecenhos enfarruscados nem tufos de
cabelos no nariz.
Ousou o escrevente namorar-lhe a filha, apesar da distância hierárquica que os separava.
Namoro à moda velha, já se vê, pois que nesse tempo não existia a gostosura dos cinemas.
Encontros na igreja, à missa, troca de olhares, diálogos de flores — o que havia de inocente e
puro. (...) Depois, a serenata fatal à esquina, com o “Acorda, donzela…” sapecado a medo num
velho pinho de empréstimo. Depois, bilhetinho perfumado.
Aqui se estrepou…
Escrevera nesse bilhetinho, entretanto, apenas quatro palavras, afora pontos exclamativos
e reticências: “Anjo adorado! Amo-lhe!”
Para abrir o jogo bastava esse movimento de peão. Ora, aconteceu que o pai do anjo
apanhou o bilhetinho celestial e, depois de três dias de sobrecenho carregado, mandou
chamá-lo à sua presença, com disfarce de pretexto — para umas certidõezinhas, explicou.
(...) Mal o pilhou portas aquém, o coronel trancou o escritório, fechou a carranca e disse:
— A família Triburtino de Mendonça é a mais honrada desta terra, e eu, seu chefe natural,
não permitirei nunca — nunca, ouviu? — que contra ela se cometa o menor deslize.
Parou. Abriu uma gaveta. Tirou de dentro o bilhetinho cor-de-rosa, desdobrou-o.
— É sua esta peça de flagrante delito?
O escrevente, a tremer, balbuciou medrosa confirmação.
— Muito bem! Continuou o coronel em tom mais sereno. Ama, então, minha filha e tem a
audácia de o declarar… Pois agora…
O escrevente, por instinto, ergueu o braço para defender a cabeça e relanceou os olhos
para a rua, sondando uma retirada estratégica.
— … é casar! Concluiu de improviso o vingativo pai.
O escrevente ressuscitou. Abriu os olhos e a boca, num pasmo. Depois, tornando a si,
comoveu-se e com lágrimas nos olhos disse, gaguejante:
— Beijo-lhe as mãos, coronel! Nunca imaginei tanta generosidade em peito humano! Agora
vejo com que injustiça o julgam aí fora!…
Velhacamente o velho cortou-lhe o fio das expansões.
— Nada de frases, moço, vamos ao que serve: declaro-o solenemente noivo de minha filha!
E voltando-se para dentro, gritou:
— Do Carmo! Venha abraçar o teu noivo!
O escrevente piscou seis vezes e, enchendo-se de coragem, corrigiu o erro.
— Laurinha, quer o coronel dizer…
O velho fechou de novo a carranca.
— Sei onde trago o nariz, moço. Vassuncê mandou este bilhete à Laurinha dizendo que
ama-“lhe”. Se amasse a ela deveria dizer amo-“te”. Dizendo “amo-lhe” declara que ama a uma
terceira pessoa, a qual não pode ser senão a Maria do Carmo. Salvo se declara amor à minha
mulher… Monteiro Lobato, Negrinha.
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16. É coerente com o que se narra no texto a frase que está em:
a) O “pobre moço” de Itaoca enganou-se na hora de indicar
o destinatário de sua mensagem amorosa.
b) Triburtino valeu-se dos termos em que foi redigida a
mensagem do escrevente, para forçá-lo a se casar com
a “do Carmo”.
c) O escrevente, graças à força de seu amor, foi corajoso
o suficiente para enviar o bilhete à sua amada por
intermédio do pai dela.
d) O temido coronel entendeu de forma equivocada o que
dizia o bilhete enviado pelo jovem apaixonado.
e) A má reputação de Triburtino entre os itaoquenses foi
desmentida pela sua maneira de agir com o namorado
de sua filha.
Resolução:
Com a finalidade de fazer casar sua filha mais velha que, no
início do texto, o autor apresenta como o "encalhe da família",
Triburtino espertamente se utilizou de um erro de regência verbal
que o escrevente cometera, pois o verbo amar é transitivo direto;
então o escrevente deveria ter usado "amo-te" como bem claro
está na explicação da personagem, no final do texto: "Dizendo
'amo-lhe' declara que ama a uma terceira pessoa".
Alternativa B
17. Considere as seguintes afirmações acerca de elementos
linguísticos do texto:
I. Diferentemente do que ocorre em “Amo-lhe” (L.16), o
pronome “lhe” tem valor possessivo no trecho “Beijolhe as mãos” (L. 33).
II. “Mal” (L. 20) introduz uma oração que dá ideia de
tempo.
III. A palavra “então” tem o mesmo sentido, tanto no trecho
“então nos dezessete” (L. 5) quanto em “Ama, então,
minha filha” (L. 26).
Tendo em vista o contexto, está correto apenas o que se
afirma em:
a)
b)
c)
d)
e)
Resolução:
Apenas as assertivas I e II estão corretas.
Em I, o pronome lhe, em "Amo-lhe", é objeto — incorretamente
empregado — do verbo amar, enquanto tem valor possessivo em
"beijo-lhe as mãos" (semelhante a "beijo as mãos dela").
Em II, o advérbio mal introduz uma oração temporal, podendo
ser substituído por "logo que", "assim que".
A alternativa III é incorreta porque a palavra então marca
temporalidade em "então nos dezessete" e conclusão ou certeza
em "Ama, então, minha filha".
Alternativa D
CPV
I.
II.
III.
I e II.
II e III.
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18. Apesar de ter apontado um erro gramatical no bilhete escrito
pelo namorado de sua filha, o coronel não seguiu a norma
culta em uma das suas falas, como se pode verificar em:
a)
b)
c)
d)
e)
“É sua esta peça de flagrante delito?”
“Ama, então, minha filha e tem a audácia de o declarar…”
“declaro-o solenemente noivo de minha filha!”
“Do Carmo! Venha abraçar o teu noivo!”
“Se amasse a ela deveria dizer ‘amo-te’.”
Resolução:
A alternativa que contém um desvio gramatical é a D. Nela,
há mistura de tratamento, porque "venha" é a forma verbal do
imperativo afirmativo de "vir", 3a pessoa do singular; "teu" é
pronome possessivo de 2a pessoa do singular, sendo que ambos
os termos fazem referência à mesma personagem.
Alternativa D
19. Monteiro Lobato antecipou algumas ideias defendidas
pelos modernistas, mas também adotou posição contrária
à arte moderna. Em sua obra, exemplificam essas atitudes
antagônicas, respectivamente, a:
a) sátira ao purismo linguístico e a crítica a Anita Malfatti.
b) valorização da influência estrangeira e o estímulo do
espírito crítico das crianças.
c) predileção pelos temas do passado histórico e a
preocupação com as relações sociais no meio rural.
d) adoção de modelos do Naturalismo e a tematização do
folclore brasileiro.
e) defesa da correção gramatical e as adaptações de
clássicos da literatura universal.
Resolução:
Situando-se na encruzilhada de elementos passadistas e
vanguardistas, a obra de Monteiro Lobato oscila, estilística e
tematicamente, entre esses dois ideários. As ironias à linguagem
acadêmica e ao português castiço (não obstante se valha de termos
arcaicos) antecipam atitudes típicas da iconoclastia do primeiro
tempo modernista; já a famigerada crítica à incorporação de
elementos impressionistas, cubistas e tutti quanti, por parte de
Anita Malfatti, ilustra a resistência a preceitos estéticos do mesmo
Modernismo.
Alternativa A
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TEXTO TRABALHADO EM CLASE
na semana de 07 a 11 de dezembro
20. Quanto aos procedimentos de construção, o discurso do
narrador caracteriza-se pela:
Resolução:
No texto há o predomínio da norma culta. No entanto, é possível
identificar elementos coloquiais e regionais, como, por exemplo,
nos excertos: "a gostosura dos cinemas" (L. 11), "sapecado a medo
num velho pinho" (L. 12 e 13), "se estrepou" (L. 14), "vassuncê"
(L. 42). Alternativa B
Esboroou-se o balsâmico indianismo de Alencar ao advento
dos Rondons. (...)
Não morreu, todavia.
Evoluiu.
O indianismo está de novo a deitar copa, de nome mudado.
Crismou-se de “caboclismo”. O cocar de penas de arara
passou a chapéu de palha rebatido à testa; (...) Mas
o substrato psíquico não mudou: orgulho indomável,
independência, fidalguia, coragem, virilidade heroica, todo
o recheio em suma, sem faltar uma azeitona, dos Peris e
Ubirajaras.
A comparação de “caboclismo” com “indianismo”, feita
por Lobato no trecho citado, objetivava criticar, nessas
correntes literárias, uma visão do índio e do caboclo que
se caracterizava pela:
a) animalização. c) idealização. e) marginalização.
Resolução: O indianismo alencariano tornou-se notório pelos
traços de idealização, tanto do aspecto físico e do caráter do
índio, como do espaço físico (a natureza). Desse modo, os índios
parecem um pastiche do cavaleiro medieval; as índias lembram
Dianas caçadoras e outras deusas da mitologia pagã; a natureza
é bela, exuberante e acolhedora, como se fora um decalque da
pintura clássica.
Monteiro Lobato contrapõe essa idealização ao conhecimento
in loco possibilitado pelo desbravamento e pesquisa dos Irmãos
Rondom. No entanto, apesar de um conhecimento real do índio
e da natureza brasileiros, a literatura continuou a distorcer
a representação do interior, agora na visão dos escritores
modernistas voltados para o regionalismo. Alternativa C
CPV
Vila Rica
O ouro fulvo* do ocaso as velhas casas cobre;
Sangram, em laivos* de ouro, as minas, que ambição
Na torturada entranha abriu da terra nobre:
E cada cicatriz brilha como um brasão.
O ângelus plange ao longe em doloroso dobre,
O último ouro de sol morre na cerração.
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,
O crepúsculo cai como uma extrema-unção.
Agora, para além do cerro, o céu parece
Feito de um ouro ancião, que o tempo enegreceu...
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,
Como uma procissão espectral que se move...
Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu...
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.
a) preferência por verbos na voz passiva, a fim de indicar
a indeterminação do autor da ação.
b) fusão de vocabulário culto com expressões de uso
coloquial e da variedade regional.
c) incorporação, por meio do discurso indireto, da maioria
das falas das personagens.
d) ausência de linguagem figurada visando dar maior
objetividade à narrativa.
e) omissão dos nexos entre termos e orações, especialmente
nos trechos que contêm reflexões sobre sentimentos.
21. Em um dos seus primeiros artigos, no qual foi criada a
personagem Jeca Tatu, Monteiro Lobato escreveu:
Texto para as questões de 22 a 27.
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Olavo Bilac
*Glossário:
fulvo: de cor alaranjada.
laivos: marcas; manchas; desenhos estreitos e coloridos nas pedras;
restos ou vestígios.
22. Tendo em vista as imagens usadas pelo poeta na descrição
de Vila Rica, pode-se afirmar corretamente que, nela, é
dominante a ideia de:
a) decadência. b) opulência.
c) indiferença. d) aversão.
e) euforia.
b) ridicularização.
d) socialização.
Resolução:
Tendo em vista as imagens usadas por Olavo Bilac na descrição
de Vila Rica, pode-se afirmar corretamente que, nela, é dominante
a ideia de decadência. O poeta descreve o pôr do sol na cidade
utilizando imagens relacionadas à morte: "o último ouro de sol
morre na cerração. / E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e
pobre, / O crepúsculo cai como uma extrema-unção.", bem como
associar essas imagens à ação destruidora do tempo: "Agora, para
além do cerro, o céu parece / feito de um ouro ancião, que o
tempo enegreceu...".
Alternativa A
23. Considerado o contexto, é correto afirmar que a polissemia
(multiplicidade de sentidos de uma palavra) está presente
em “laivos” e, de modo mais acentuado, na palavra:
a) “casas”. b) “minas”.
c) “ouro”. d) “urbe”.
e) “astros”.
Resolução: A palavra ouro apresenta polissemia por ter sido
usada, no poema, com diversos sentidos. Em sua forma denotativa,
o termo aparece em "ouro fulvo", "laivos de ouro" e "ouro ancião".
De forma conotativa, a palavra é usada como sinônimo de "raios"
em "ouro de sol", e como sinônimo de "luz" em "ouro dos astros".
"Ouro" ainda é usado como referência ao nome da cidade: "Ouro
Preto". Alternativa C
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24. Dentre os diversos recursos expressivos presentes no texto,
pode-se apontar o emprego concomitante de um verbo
onomatopaico e de aliteração no verso:
a)
b)
c)
d)
e)
dois.
onze.
oito.
catorze.
quatro.
Resolução:
O verbo ciciar (= murmurar) é o verbo ao mesmo tempo
onomatopaico e de aliteração utilizado no verso onze.
Alternativa B
25. Das características abaixo, todas presentes no texto, a que
ocorre mais raramente na poesia parnasiana é:
a)
b)
c)
d)
o rigor formal na estruturação dos versos.
o emprego de forma fixa, por exemplo, o soneto.
a sujeição às normas da língua culta.
o gosto pela rima rica (rima entre palavras de classes
gramaticais diferentes).
e) a visão subjetiva da realidade, embora desprovida de
sentimentalismo.
Resolução:
A estética parnasiana se insurge contra "o uso profissional das
lágrimas", no dizer de Leconte de Lisle, numa crítica explícita
aos procedimentos românticos fundamentados na emoção, no
sentimento, na inspiração. Protesta, enfim, contra o subjetivismo
eivado de sentimentalismo da escrita romântica.
Alternativa E
26. Leia esta estrofe, que faz parte do poema “Ouro Preto, livre
do tempo”, de Carlos Drummond de Andrade.
Ouro Preto, a se desprender
da sua história e circunstância,
é agora ser de beleza,
completo em si, de todo imune
ao que inflija o ser humano.
Comparando-se os versos de Drummond aos de Bilac,
pode-se afirmar, corretamente, que ambos os poetas:
a) mostram o efeito negativo da cidade sobre seus
habitantes.
b) estabelecem um mesmo tipo de relação entre Ouro Preto
e seu passado.
c) revelam-se indiferentes ao passado histórico da cidade.
d) referem-se à ação construtiva do homem sobre Vila
Rica.
e) apresentam a cidade histórica transfigurada pela
percepção estética.
Resolução:
No soneto de Olavo Bilac, o eu lírico contempla a cidade de Ouro
Preto distanciado da época áurea do seu ciclo econômico, como se
evidencia na oposição entre o título (Vila Rica) e a chanve de ouro
(Sobre a triste Ouro Preto). Aspectos arquitetônicos e heráldicos,
poesia e luta política, pujança econômica e religiosidade existem
agora apenas na memória transfigurada pela percepção estética.
O excerto do poema de Drummond realiza, por sua vez, a síntese
do conteúdo do soneto bilaquiano numa prosa poética.
A alternativa B, no entanto, também pode ser considerada correta.
Os dois poemas exploram uma dualidade temporal: o passado,
marcado pela grandeza econômica, e o presente, fixado pela
memória.
A rigor, a alternativa D, também não é totalmente errada, já que
o fazer poético pode ser entendido como uma "ação construtiva".
Alternativa E
27. No penúltimo verso, há uma referência ao pseudônimo árcade
de um poeta ligado à cidade descrita no poema. Trata-se do
autor da obra Marília de Dirceu, cujo nome é:
CPV
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a)
b)
c)
d)
e)
Gonçalves Dias.
Silva Alvarenga.
Basílio da Gama.
Cláudio Manuel da Costa.
Tomás Antônio Gonzaga.
Resolução:
Dirceu é o pseudônimo árcade de Tomás Antônio Gonzaga, autor
dos célebres poemas pastoris que constituem as Liras de Marília
de Dirceu.
Alternativa E
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Texto para as questões de 28 a 30.
Aprendizado de exílio
1 Cao Hamburger, diretor de O ano em que meus pais
saíram de férias, pertence a uma geração que viveu o
auge da ditadura num estado de relativa inconsciência,
tentando decifrar os acontecimentos pela ótica infantil.
Ele também foi goleiro na infância e seus pais, em algum
momento, “saíram de férias”. Trinta e cinco anos depois,
ele inseriu traços dessas memórias no seu segundo longametragem para cinema. De alguma maneira, é sua tentativa
de “compreender” artisticamente o que tanto afetou sua
família e o país.
11 Desde Pra frente Brasil (1980), a euforia da Copa de
70 e o chumbo grosso da repressão no governo Médici
se estabeleceram como polos dramáticos no cinema
brasileiro. Essa contradição, tantas vezes mencionada
em curtas e longas-metragens, não ganha um tratamento
exatamente novo em O ano em que meus pais saíram de
férias. Os gols da seleção, as ruas desertas e os militantes
espancados se repetem como clichês, amenizados apenas
pela abordagem oblíqua e “inocente”, fruto da visão de
Mauro, um menino de 12 anos.
21 De início, o filme requer uma certa boa vontade do
espectador para aceitar a história desse garoto deixado
pelos pais em fuga à porta da casa do avô, que justamente
acabara de falecer. Para que o resto do roteiro funcione,
os pais largam o garoto do lado de fora sem sequer
confirmar se ele entrou e foi recebido pelo avô. É preciso
também alguma boa vontade para apreciar uma narrativa
excessivamente bem-comportada e às vezes morosa. No
entanto, as discretas virtudes do roteiro aos poucos vão se
somando, na medida em que o filme explora a solidão de
Mauro no bairro judeu de São Paulo e a tensão da espera
por um retorno dos pais — em tudo análogas à solidão e
à tensão dos goleiros que tanto impressionam o menino.
34 É bem verdade que não estamos diante de mais um
“retrato da ditadura”, mas de uma crônica de perdas e
ganhos na passagem da infância para a adolescência, um
aprendizado do exílio. É assim que o filme acaba por se
impor sobre suas próprias limitações, produzindo empatia
e caminhando para um desfecho comovente.
Carlos A. Mattos, www.críticos.com.br. 1/11/2006. Adaptado.
CPV
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28. Considere as seguintes afirmações sobre diferentes trechos
do texto.
I. Em “Ele também foi goleiro na infância” (L. 5),
subentende-se, com a palavra “também”, que o diretor
do filme jogou, quando criança, em outras posições
do campo.
II. A frase “Os gols da seleção, (...) se repetem como
clichês” (L. 17 e 18) se opõe à afirmação anterior
de que o tema “repressão da ditadura militar e
euforia pela conquista da copa de 1970” “não ganha
um tratamento exatamente novo” no filme de Cao
Hamburger. (L. 15 e 16).
III. A palavra “empatia” (L. 38) pode ser entendida
como a faculdade de compreender emocionalmente
um objeto (um filme, p.ex.); capacidade de projetar
a personalidade de alguém num objeto, de se
identificar com ele.
Tendo em vista o contexto, está correto apenas o que se
afirma em:
a)
b)
c)
d)
e)
Resolução:
Esta questão foi apresentada com três afirmações para serem
analisadas, a fim de se assinalar a alternativa correta. Quanto à
primeira afirmativa, não se pode afirmar que a palavra "também"
faz entender que o diretor do filme jogou em outras posições do
campo, mas que ele foi goleiro como a personagem retratada
no filme.
Na segunda afirmativa, não há oposição entre a frase das linhas
17 e 18 e a frase das linhas 15 e 16.
Como a palavra "empatia" da linha 38 pode ser entendida como
a faculdade de compreender emocionalmente alguma coisa,
esta é a única assertiva correta.
Alternativa C
I.
II.
III.
I e II.
II e III.
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CPV o cursinho que mais aprova na GV
29. O que justifica o emprego de mas, no último parágrafo,
é a oposição que aí se estabelece entre as noções de:
a)
b)
c)
d)
e)
coletividade e indivíduo.
espaço e tempo.
passado e presente.
alegria e tristeza.
louvor e crítica.
Resolução:
A conjunção mas estabelece, no último parágrafo, a oposição
entre a noção de coletividade, representada pela ideia genérica de
"retrato da ditadura", e a noção de individualidade, representada
pela transição da infância para a adolescência do garoto Mauro.
Alternativa A
30. Se o verbo da frase “o filme requer uma certa boa vontade
do espectador” for alterado quanto ao modo ou ao tempo,
estará correta apenas a frase:
a) O filme requis uma certa boa vontade do espectador.
b) O filme requisera uma certa boa vontade do espectador.
c) Talvez o filme requera uma certa boa vontade do
espectador.
d) Se o filme requeresse uma certa boa vontade do
espectador...
e) Quando o filme requiser uma certa boa vontade do
espectador...
Resolução:
Se alterarmos o verbo "requerer", utilizado no exemplo em
questão, quanto ao modo ou ao tempo, teremos como correta
a frase "Se o filme requeresse uma certa boa vontade do
espectador...". O verbo requerer tem algumas formas idênticas
às do verbo "querer", mas não é derivado deste.
Alternativa D
COMENTÁRIO DO CPV
Língua Portuguesa
Literatura
As seis questões referentes a Literatura possuíam nível de
dificuldade elementar.
As questões 19, 20 e 21 exploraram as famosas polêmicas
entre as inovações modernistas e a manutenção de posturas
conservadoras na obra do escritor pré-modernista Monteiro
Lobato.
A questão 25 abordou elementos óbvios da estética parnasiana.
Intertextualidades bastante claras entre Olavo Bilac, Drummond
e Tomás Antônio Gonzaga configuraram as questões 26 e 27.
É lamentável, no entanto, a falta de rigor da banca na elaboração
das alternativas da questão no 26, a qual admite três respostas:
B, D e E. Por qual delas o candidato deve optar? Por qual a
banca optará? Múltipla escolha ou advinhação?
Gramática
A prova apresentou oito questões de Gramática, versando
sobre temas recorrentes, como a Regência, a Concordância e
a prática com Verbos.
Das quinze questões, 80% delas eram de nível de dificuldade
médio e 20% eram de nível de dificuldade de médio a elevado
(como no caso das questões 19, 24 e 28, da prova A). No
entanto, não houve surpresas ou questões elaboradas de forma
inusitada, criativa ou brilhante.
Apesar de razoavelmente bem elaborada, a prova trouxe
questões (como a 29 da prova A) capazes de suscitar sérias
dúvidas de interpretação, devido a descuidos na formulação
das alternativas.
Da mesma forma, constatamos que alunos com nível mais
elevado de conhecimento (exatamente aqueles que a FGV quer
selecionar) sentiram-se frustrados em suas expectativas, pois
o exame de Língua Portuguesa, Literatura e Interpretação de
Textos da FGV/ADM, histórica e tradicionalmente conhecido
pela sofisticação de suas questões, parece estar desaparecendo.
CPV
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