UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA PATRÍCIA APARECIDA DOS SANTOS COIMBRA VIVIAN CAMPOS DAMASCENO RELAÇÃO ENTRE O DESEQUILÍBRIO ESTÁTICO E O GRAU DE DEGENERAÇÃO ARTICULAR NO JOELHO DO MEMBRO INTACTO DE INDIVÍDUOS COM AMPUTAÇÃO UNILATERAL JUIZ DE FORA 2009 PATRÍCIA APARECIDA DOS SANTOS COIMBRA VÍVIAN CAMPOS DAMASCENO Laboratório de Pesquisa em Reabilitação Musculoesquelético RELAÇÃO ENTRE O DESEQUILÍBRIO ESTÁTICO E O GRAU DE DEGENERAÇÃO ARTICULAR NO JOELHO DO MEMBRO INTACTO DE INDIVÍDUOS COM AMPUTAÇÃO UNILATERAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade de Medicina, Departamento de Fisioterapia, da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, como pré-requisito para a conclusão de curso. Orientador: Prof. Dr. Eduardo José Danza Vicente Co-orientadora: Profa. Jennifer Granja Peixoto Juiz de Fora 2009 PATRÍCIA APARECIDA DOS SANTOS COIMBRA VÍVIAN CAMPOS DAMASCENO Laboratório de Pesquisa em Reabilitação Musculoesquelético RELAÇÃO ENTRE O DESEQUILÍBRIO ESTÁTICO E O GRAU DE DEGENERAÇÃO ARTICULAR NO JOELHO DO MEMBRO INTACTO DE INDIVÍDUOS COM AMPUTAÇÃO UNILATERAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade de Medicina, Departamento de Fisioterapia, da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, como pré-requisito para a conclusão de curso. Aprovado em BANCA EXAMINADORA _________________________________________ Eduardo José Danza Vicente Prof. do Departamento de Fisioterapia _________________________________________ Cláudia Helena Cerqueira Mármora Fisioterapeuta _________________________________________ Rosa Maria de Carvalho Fisioterapeuta Coimbra, Patrícia Aparecida dos Santos Relação entre o desequilíbrio estático e o grau de degeneração articular no joelho do membro intacto de indivíduos com amputação unilateral / Patrícia Aparecida dos Santos Coimbra, Vívian Campos Damasceno – 2009. 67 f. : il. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Fisioterapia)–Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2009. 1. Amputação - Reabilitação. 2. Articulação. I. Damasceno, Vivian Campos. II. Título. CDU 616-089.873 A Deus: Obrigada por me dar o dom da fortaleza, porque assim eu pude enfrentar as dificuldades com uma força que não sabia ter, obrigada pelo dom da paciência, só assim fui capaz de enxergar minhas potencialidades e limitações, obrigada ainda por não ter me deixado sozinha e por ter colocado anjos aqui para me ajudar. À minha Família: Mãe, Pai (in memória) minha irmã e irmãos, Obrigada por terem me dado tanto amor e carinho, por toda a dedicação e momentos de anulação para que os filhos seguissem adiante a procura de um futuro melhor. Vocês me fizeram entender para viver agente precisa lutar, enfrentar desafios, conviver com dificuldades e com as diferenças. Deram-me irmãos fantásticos dos quais eu me orgulho tanto, cada um com sua forma peculiar, mas todos amados com a mesma intensidade. Obrigada por sempre estarem presentes, me apoiando e me incentivando em tudo que me proponho a fazer, AMO TODOS VOCÊS! Á minha família de coração: Obrigada pelo acolhimento, por sempre me tratarem como uma filha, por confiarem em mim e nas minhas potencialidades... Juntos conseguimos seguir adiante, ainda que nossos planos não sejam concretizados nessa vida! Celsinho, “Tudo o que amamos profundamente se torna parte de nós” você sempre será uma presença marcante mesmo na ausência física, se fechar meus olhos sou capaz de sentir sua vibração e seu amor protetor, você sempre esteve e estará comigo me ajudando nessa caminhada de duras provações, obrigada por sempre ter acreditado em mim, por ter me ajudado tanto durante a faculdade e por ter repartido comigo seus conhecimentos, jamais vou me esquecer da nossa historia! A maior conquista da minha vida foi ter você a meu lado. Certa de que um dia nos reencontraremos jamais me despedirei de você,.... até breve... TE AMO Vivian sua presença nessa monografia foi fundamental, você fez muita diferença, rende mais quem trabalha em parceria! Valeu a pena todo trabalho que tivemos, as inúmeras reuniões em sua casa, dias de semana emendados aos finais de semana para que pudéssemos terminar o trabalho no prazo correto. Dessa parceria nasceu uma amizade para vida toda! Obrigada minha amiga, missão cumprida! Meninas...Lidy, começarei Isa, pelo Pri, final, Isuda, obrigada Dai, Carol, por TUDO! Quando digo tudo, quero dizer obrigada por vocês serem fiéis amigas de todas as horas: de alegria e de dificuldade, vestiram minha camisa e não me deixaram desistir, sempre a dizer ”Veja, você não está só....estamos aqui para o que der e vier...você vai conseguir...não desista....” Agradeço à Deus o presente de ter vocês comigo! A todos amigos, sem exceção, obrigada! Aos meus amados pais, Elismar e Fátima, pelo amor incondicional, pelos conselhos e carinho nos momentos de dúvida, tristeza, dificuldade e pelo apoio sempre conferido a mim permitindo com que eu alcançasse meus objetivos e realizasse os meus sonhos. Obrigada pelos ensinamentos, incentivos, orações e, sobretudo, por confiarem e acreditarem em mim. Vocês são grandes exemplos! Aos meus amados irmãos, Vanessa e Vinícius, que me acompanharam nesta conquista, presenciando meu crescimento e fornecendo apoio e ânimo sempre que necessário. Obrigada pelo amor e amizade! Agradeço muito a Deus por ter nascido em uma família tão cheia de luz e amor. Devo a vocês tudo o que sou hoje! Ao meu grande amor, Johnny. Pessoa encantadora e admirável que têm feito dos meus dias mais felizes desde que entrou em minha vida. Obrigada pelo companheirismo, amor, carinho, confiança e respeito. A queridíssima amiga Patrícia, minha super dupla! Obrigada por ter me acolhido, pela paciência e pelo carinho. Muitos foram os contratempos, as dificuldades, mas graças à nossa relação de amizade e respeito tudo ficou mais fácil. Maiores ainda foram os momentos de alegria e descontração. Lembra? Quantas risadas! Sentirei saudades... Saiba que você sempre poderá contar com a minha sincera amizade! Às grandes amigas da “Liga”: Camila, Daniella, Denise e Jaqueline pelo carinho e amizade sincera. Amigas que ajudaram a superar e a suavizar os momentos de tristeza e dificuldade, que me deram o apoio e incentivo necessário fazendo desta longa caminhada mais prazerosa e divertida. Peço a Deus que ilumine todas vocês e que esta nossa união jamais se perca! Liga, Liga, Liga!... Aos queridos avós, tios e grandes amigos. Vocês que torcem por mim e que estiveram ao meu lado me dando suporte, força e carinho durante toda esta jornada. Obrigado por se fazerem presentes em minha vida de uma forma tão especial. A Deus, que se fez presente a todo o momento me abençoando e me guiando sempre para o melhor caminho. Obrigado meu Deus por todas as pessoas maravilhosas colocadas em minha vida e por ter me feito, mais uma vez, vitoriosa! Ao querido Prof. Dr. Eduardo Com profunda generosidade gratidão em dividir agradecemos seu tempo sua e conhecimento para que pudéssemos concluir esse trabalho. Ao longo desses anos de convivência passamos por momentos difíceis e, por muitas vezes, de dúvidas também. Felizmente, por termos tido ao nosso lado não somente um professor, mas sim um exemplo de Educador, pudemos contar também com seus conselhos, com sua amizade. Obrigada pela confiança depositada em nós, pela oportunidade ímpar de enriquecimento curricular, e, sobretudo, obrigada pelos ensinamentos além do âmbito acadêmico, que certamente nos acompanharão durante o dia a dia daqui para frente. Às queridas professoras, Cláudia e Rosa, por terem aceitado gentilmente o convite para serem banca do nosso trabalho de conclusão de curso. Ao fisioterapeuta Anderson Daibert, por disponibilizar cordialmente o seu laboratório para a realização da coleta de dados e atenção concedida em todos os momentos da pesquisa. Aos voluntários da pesquisa, por permitirem a realização deste trabalho contribuindo para ampliação do conhecimento científico. Ao médico Reumatologista Rafael Fraga, por contribuir para a concretização desse trabalho. A Coordenação e ao Departamento de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Imagem 1 – Sistema de baropodometria eletrônica, marca IST Informatique, modelo Footwork...............................................23 Fotografia 1 – Indivíduo protetizado no membro inferior esquerdo, sobre o baropodômetro, com os pés posicionados funcionalmente........................................................................25 Imagem 2 – Menor (A) e maior (B) valor da média do pico de pressão plantar no membro intacto de dois indivíduos estudados...............................................................................33 Imagem 3 – Menor (A) e maior (B) valor da média do pico de pressão plantar no membro amputado de dois indivíduos estudados..............................................................34 Imagem 4 – Menor (A) e maior (B) valor da área de superfície de contato plantar no membro intacto de dois indivíduos estudados..............................................................37 Imagem 5 – Menor (A) e maior (B) valor da área de superfície de contato plantar no membro amputado de dois indivíduos estudados..............................................................38 Fotografia 2 - Radiografias em incidência ântero-posterior da articulação do joelho no membro intacto de dois indivíduos amputados. Em A pode-se observar o espaço articular preservado, sem sinais de degeneração articular. Em B nota-se uma diminuição do espaço articular e degeneração......................42 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Tabela utilizada na avaliação radiológica da articulação do joelho do membro intacto dos indivíduos amputados.............................................................26 Tabela 2 - Tabela utilizada na avaliação reumatológica da articulação do joelho do membro intacto dos indivíduos amputados............................................................27 Tabela 3 – Média, desvio padrão (DP), valor mínimo e máximo da idade, em anos, índice de massa corpórea, em Kg/m² e tempo de protetização, em anos, dos 12 indivíduos estudados .................................30 Tabela 4 – Valores da variável média do pico de pressão plantar, em Kgf/cm², nos membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudado...................................31 Tabela 5 – Média e desvio padrão (DP), valores de p, valores mínimo, máximo da média do pico de pressão plantar, em Kgf/cm², nos membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados..................32 Tabela 6 – Valores da variável área de superfície de contato plantar, em cm², nos membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados .................................................35 Tabela 7 - Média, desvio padrão, valores de p, mínimo e máximo da área de superfície de contato plantar, em cm², nos membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados.................................36 Tabela 8 – Valores da variável força de reação do solo, em Kgf, sobre os membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados..................................................39 Tabela 9 – Média, desvio padrão, valores de p, mínimo e máximo da força de reação do solo, em Kgf, sobre os membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados..............................................................40 Tabela 10 – Valores da variável descarga de peso em porcentagem (%), nos membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados.................................41 Tabela 11 –Média, desvio padrão, valores de p, mínimo e máximo da descarga de peso em porcentagem (%), nos membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados..............................................................41 Tabela 12- Resultado da avaliação radiológica da articulação do joelho do membro intacto dos indivíduos amputados, de acordo com o grau de degeneração e/ou diminuição do espaço articular...............................................43 Tabela 13 - Resultado da avaliação clínica reumatológica da articulação do joelho do membro intacto dos indivíduos amputados, de acordo com os sinais de dor, crepitação, rigidez matinal e sinovite, associados aos achados radiográficos..................................43 RESUMO Os indivíduos amputados de membro inferior apresentam desequilíbrio na distribuição do peso durante a postura ortostática. Em decorrência desse desequilíbrio, o membro intacto desses indivíduos acaba sendo sobrecarregado, o que pode ocasionar dor, degeneração articular e, conseqüentemente, osteoartrite (OA). O objetivo do trabalho foi quantificar o desequilíbrio estático nos membros inferiores de indivíduos com amputação unilateral transfemoral ou transtibial e o grau de degeneração articular no joelho do membro intacto, relacionando com o tempo de protetização e com a idade. Para o experimento, foram avaliados 12 indivíduos, de ambos os sexos, protetizados após amputação transtibial ou transfemoral unilateral, com idade variando de 20 a 65 anos. No dia da coleta dos dados os indivíduos tiveram que caminhar, por duas vezes, até o baropodômetro, onde permaneciam parados com os pés em posição funcional para captação da porcentagem da descarga de peso, da média do pico de pressão e da área de superfície de contato plantar no membro protetizado e no membro intacto. Os valores da força de reação do solo foram encontrados a partir das variáveis supracitadas quando empregadas na fórmula de Pascal (P=F/A). Após a coleta, os indivíduos tiveram o joelho do membro intacto radiografado, em incidência anteroposterior, avaliado por um médico radiologista e, clinicamente, por um reumatologista. Pode-se observar que em 50% (6/12) dos indivíduos a porcentagem da descarga de peso foi maior sobre o membro intacto enquanto que, nos 50% (6/12) restantes, esta foi maior sobre o membro protetizado. A área de superfície de contato plantar foi maior no membro intacto em 100% (12/12) e a média do pico depressão plantar foi maior no membro protetizado em 100% (12/12). A diferença entre os valores da força de reação do solo para o membro intacto e o membro protetizado não foi estatisticamente significativa. Dessa forma, concluímos que não há relação entre o desequilíbrio estático e o grau de degeneração articular no joelho do membro intacto de indivíduos com amputação unilateral transtibial ou transfemoral. No entanto, há uma relação direta entre a idade e o grau de degeneração articular no joelho do membro intacto desses indivíduos. Palavras-chave: amputados, descarga de peso, osteoartrite de joelho ABSTRACT Background: Individuals of lower limb amputees have imbalance in the weight distribution during the orthostatic posture. As a result of imbalance, the intact limb of these individuals is overloaded, which can cause pain and joint degeneration as osteoarthritis. Objective: Quantify the static imbalance in the lower limbs of individuals with transtibial or transfemoral amputations and the degree of joint degeneration in the knee intact limb, linking these with the time of prosthesis use and age. Materials and methods: Were evaluated 12 adults of both sexes, prosthesis after unilateral transtibial or transfemoral amputation, with age ranging from 20 to 65 years. On the day of data collection, the individuals had to walk twice, on the baropodômetro (pressure plate), where they remained standing with the feet in functional position to capture the percentage of weight-bearing, the foot maximum mean pressure and the foot contact surface area of the prosthesis limb and intact limb. The values of the ground reaction force were found from the variables already mentioned when they were inserted in the Pascal’s formula (P = F / A). After collection, the individuals had the intact limb knee X-rayed, in the anteroposterior position, and evaluated by a radiologist. The clinical evaluation for diagnosis of osteoarthritis in the knee was made by a rheumatologist. Outcomes: It was observed that in 50% (6 / 12) of individuals the percentage of weight-bearing was greater on the intact limb whereas, in 50% (6 / 12) remaining, it was greater on the prosthesis limb. The foot contact surface area was greater on the limb intact in 100% (12/12) and the foot maximum mean pressure was higher on the prosthesis limb in 100% (12/12). The difference between the values of the ground reaction force to the intact limb and to the prosthesis limb was not statistically significant. Conclusion: There is not relation between the static imbalance and the degree of joint degeneration in the intact knee of individuals with unilateral transtibial or transfemoral amputation. However, the degree of joint degeneration is directly related to their age. Keywords: amputees, weight-bearing, osteoarthritis SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO......................................................................................14 2. OBJETIVO............................................................................................20 3. MATERIAIS E MÉTODOS....................................................................22 3.1. Materiais....................................................................................23 3.1.1. Permanentes...................................................................23 3.2. Aspectos éticos.........................................................................23 3.3. Indivíduos..................................................................................23 3.4. Procedimento............................................................................24 3.5. Análise Estatística.....................................................................27 4. RESULTADOS......................................................................................28 4.1. Característica dos indivíduos.....................................................29 4.2. Análise da média do pico de pressão........................................31 4.3. Análise da área de superfície de contato plantar......................35 4.4. Análise da força de reação do solo...........................................39 4.5. Análise da porcentagem da descarga de peso.........................40 4.6. Dados radiográficos e clínicos...................................................42 4.6.1. Análise radiográfica.........................................................42 4.6.2. Avaliação clínica reumatológica.......................................43 5. DISCUSSÃO..........................................................................................44 5.1. Discussão dos métodos.............................................................45 5.2. Discussão dos resultados..........................................................47 6. CONCLUSÃO........................................................................................55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................57 ANEXOS....................................................................................................63 Anexo 1......................................................................................................64 Anexo 2......................................................................................................67 1. INTRODUÇÃO A remoção cirúrgica, total ou parcial, de um membro é denominada por Buccolini, (2001) como amputação. A utilização da prótese vem com o propósito de oferecer uma imagem corporal próxima a normal, a fim de ajudar o individuo a desenvolver maior confiança e habilidades físicas, bem como promover uma melhora em sua qualidade de vida (Barauna et al., 2005). Durante a primeira e a segunda guerra mundial, no início e em meados do século XX, respectivamente, houve um grande aumento no número de amputados que necessitavam de protetização, o que acabou por estimular o desenvolvimento de materiais e de técnicas para os diversos tratamentos, proporcionando assim uma melhora na reabilitação funcional (Pastre et al., 2005). No entanto, hoje em dia, os indivíduos amputados ainda enfrentam alterações físicas e desafios emocionais conseqüentes de suas amputações (Norvell et al., 2005). Atualmente a osteoartrite (OA) tem atingido proporções epidêmicas (Symmons, 2001). Segundo Emrani, (2007) somente nos EUA é possível encontrar mais de 21 milhões de pessoas afetadas por esta doença, sendo que 36% dos idosos apresentam algum grau de degeneração na articulação do joelho (D'ambrosia, 2005). De acordo com Andrews, (1996) 80% da população acima dos 65 anos apresenta pelo menos uma doença crônica, sendo a OA a mais comum dessas desordens (Davis et al., 1991). Indivíduos na faixa etária dos 35 aos 54 anos estão ligeiramente mais predispostos a desenvolverem essa condição quando comparados a adultos jovens. Quando a faixa etária é de 55 a 74 anos as chances de desenvolver a OA aumentam de forma significativa, apresentando uma porcentagem de acometimento nas articulações de joelho, sacrilíaca e quadril, em 150%, 360 e 800% respectivamente (Robbins et al., 2001). Baliunas et al., (2002) concluíram que adultos com idade acima de 55 anos têm a articulação do joelho acometido em 10% dos casos. Dentre as articulações do membro inferior, que podem sofrer esse processo de degeneração, o acometimento do joelho apresenta-se como a forma mais incapacitante (Davis et al., 1991). Um dos prováveis fatores que favorecem o desenvolvimento da OA é o incremento brusco nas forças de impacto durante a locomoção, que ocorre em indivíduos não amputados em torno dos 50 anos em virtude do ajustamento postural, conseqüente da instabilidade gerada pela diminuição da sensibilidade plantar tátil (Robbins et al., 2001). Nos indivíduos amputados o que ocorre não é uma diminuição da sensibilidade plantar táctil, mas sim uma perda total dessa sensibilidade no antímero protetizado. Para a descrição, bem como a classificação, da OA é utilizado um critério padrão sensível e específico estabelecido pela American College of Rheumatology (ACR). Além de incluir a avaliação clínica (Bellamy et al., 1999), a confirmação da OA se da pelos sinais radiográficos (Hungerford e Cockin, 1975; Lemaire e Fisher, 1994; Melzer et al., 2001). Peat et al., (2001) observaram que 50% dos pacientes que apresentavam OA no joelho, diagnosticada através do exame radiológico, não relatavam dor como sintomatologia, haja vista que o grau de degeneração articular, observado nestes exames, não correspondia de forma diretamente proporcional aos relatos de dor desses pacientes (Maly et al., 2008). Nolan et al., (2002) acreditam que quaisquer assimetrias que promovam um aumento na descarga de peso sobre o membro intacto, independentemente da causa, ocasionam alterações degenerativas articulares sobre o membro contra lateral. Isso ocorre em virtude de uma alteração patológica na biomecânica dos membros inferiores resultando em uma descarga assimétrica, gerando uma excessiva e anormal sobrecarga em um dos membros (Maly et al., 2008). Estudos comprovam que, tanto na marcha quanto em repouso, a descarga de peso ocorre, principalmente, sobre o compartimento medial do joelho. Essas cargas compressivas, sendo excessivas e repetitivas, podem contribuir significantemente para o desenvolvimento e a progressão da degeneração articular (Croft et al., 1992; Norvell et al., 2005). As mudanças fisiológicas normais da idade, que acompanham de forma diretamente proporcional às alterações biológicas, em geral, convergem para uma condição que resulta em diminuição e até a ausência das atividades físicas. Dessa forma, pode-se observar, com o sedentarismo, um aumento da massa corporal de 20 a 30% entre os 30 e 80 anos de idade que é decorrente da atrofia muscular e do aumento da deposição do tecido adiposo (Andrews, 1996). Nos indivíduos amputados essas alterações ocorrem de forma precoce ou mais acentuada. Por tornarem-se sedentários ao diminuírem suas atividades físicas, e ou muitas vezes interromperem a prática de esportes, acabam por obter um aumento no índice de massa corpórea (IMC). Dessa forma, pode-se observar uma sobrecarga e, conseqüentemente, a degeneração articular no membro intacto que fica mais susceptível a apresentar a OA no joelho (Norvell et al., 2002). Em contra partida, indivíduos que apresentam alto IMC e praticam atividades físicas de repetição, também estão substancialmente expostos a esta condição (Maly et al., 2008). Norvell et al., (2005) observaram que, em indivíduos sem amputação, tanto o joelho direito como o esquerdo são igualmente susceptíveis a desenvolver OA, pois a descarga de peso entre os membros inferiores acontece de forma mais equilibrada. No entanto, tal afirmação não pode ser aplicada quando se trata de indivíduos que utilizam próteses. Nos amputados, pode-se observar na maioria das vezes um desequilíbrio na descarga de peso entre o membro íntegro e o membro amputado. Normalmente, o membro íntegro é sobrecarregado, diminuindo de forma significativa a chance das articulações do membro amputado desenvolverem e apresentarem a sintomatologia da OA. Essa sobrecarga imposta de forma constante sobre o membro intacto pode acometer tanto a articulação do joelho quanto a articulação do quadril, ou até mesmo as duas articulações (Burke, Roman e Wright, 1978). Há evidência de que nos amputados o risco de surgimento de OA aumenta com o nível de amputação (Norvell et al., 2005), com o tempo de protetização (Kulkarni et al., 1998), com a idade do amputado (Kulkarni et al., 1998), com a diminuição da mobilidade associada ao aumento do IMC (Davis et al., 1991; Kulkarni et al., 1998; Kaufmana, 2001; Peat et al., 2001; Norvell et al., 2005) e com as alterações biomecânicas nos joelhos em virtude dos vários tipos de próteses (Kulkarni et al., 1998). A assimetria no comprimento dos membros inferiores também proporciona um aumento no estresse articular, por gerar um desequilíbrio na descarga de peso sobre o membro intacto (Dixon & Campbell-Smith, 1969), o que favorece o desenvolvimento de OA na articulação do quadril e do joelho no membro íntegro. No entanto, são poucos os trabalhos encontrados na literatura que descrevem, de forma quantitativa, o desequilíbrio ou a assimetria na descarga de peso entre os membros inferiores dos amputados (Rossi et al., 2008; Barbosa e Bernardes, 2009; Noronha, 2009). Em um estudo realizado por Melzer et al., (2001) pode-se observar que 65% dos amputados de membro inferior possuíam graus diferenciados de degeneração na articulação do joelho do membro intacto, sendo essa incidência altamente significante em relação aos indivíduos sem amputação. Lemaire & Fisher, (1994) relatam que amputados transtibiais acima dos 65 anos, que tenham feito uso de prótese por mais de 25 anos, apresentam uma incidência altamente significante de OA na articulação do joelho do membro intacto. Hungerford & Cockin, (1975) comparando indivíduos com amputação transfemoral, com indivíduos com amputação transtibial e com indivíduos sem nenhuma amputação, observou alterações degenerativas nas articulações do joelho do membro íntegro em 63% dos amputados transfemorais, em 41% dos amputados transtibiais e, finalmente, em 21% nos indivíduos sem amputações. Concluindo que, quanto maior o nível da amputação maior a chance do surgimento de alterações degenerativas. A dor no joelho intacto, que ocorre em ate 71% dos amputados transtibiais ou transfemorais, acaba por dificultar o desempenho na realização das atividades de vida diária reduzindo, dessa forma, a qualidade de vida destes indivíduos (Nolan et al., 2002). Norvell et al., (2005) acreditam que é possível que amputados participem menos de atividades recreacionais em virtude dessa condição. As anormalidades da marcha, resultantes do uso da prótese para membros inferiores, têm sido documentadas incluindo o aumento do gasto energético metabólico, redução na velocidade da marcha (Zuniga et al., 1972; Hershler & Milner., 1980; Czerniecki, 1996; Seroussi et al., 1996), redução na fase de balanço, aumento do tempo da fase de apoio e das forças de reação do solo no membro intacto (Hershler & Milner, 1980; Czerniecki, 1996; Seroussi et al., 1996). Tendo em contrapartida, o aumento na fase de balanço, redução do tempo da fase de apoio e menor força de impulsão no membro protetizado (Zuniga et al., 1972; Czernieck et al., 1996; Seroussi et al., 1996; Nolan et al., 2002). Esse aumento da fase de apoio no membro intacto de indivíduos amputados, durante uma das fases da marcha, faz com que a maior parte das forças de reação do solo seja absorvida pelo mesmo (Norvell et al., 2005), gerando uma maior sobrecarga na articulação do joelho e, conseqüentemente, uma maior exigência desse membro (Robbins et al., 2001). Essas assimetrias podem ocorrer devido a uma combinação de fatores como diminuição na força da musculatura do membro inferior, déficit na percepção sensorial e instabilidade ou dor na porção em que ocorre a descarga de peso no membro acometido (Royer e Wsilewski, 2005; Al-Zahrani e Bakheit, 2002). É de conhecimento, diz Baraúna et al., (2005), que esses indivíduos apresentam alterações de equilíbrio tanto na marcha quanto em repouso, sendo maiores as oscilações sobre o antímero do corpo de maior massa, ou seja, o antímero intacto, o que implica em maior descarga de peso nas articulações desse membro. Ao relacionar as oscilações com a idade e com o tempo de protetização, pode-se observar que essas são maiores em indivíduos com idade avançada e que haviam sido reabilitados e protetizados há pouco tempo. Segundo Royer e Koenig, (2005) ao se reduzir as forças de impacto e a sobrecarga sobre a articulação do joelho do membro intacto é possível se obter uma redução no risco de desenvolver um processo degenerativo. Melhorando-se o conforto, a estabilidade e a propriocepção no membro protetizado é provável que a demanda muscular e a sobrecarga sobre o membro intacto seja reduzida. Royer e Koenig, (2005) concluíram que a sobrecarga articular, em indivíduos amputados, acomete as articulações tanto em repouso quanto durante a marcha. No entanto, a maioria dos trabalhos descritos estuda somente as alterações durante a marcha, de forma dinâmica, enquanto que a avaliação quantitativa da descarga de peso entre o membro protetizado e o intacto em posição de repouso, ou seja, na postura ortostática, é negligenciada. 2. OBJETIVO O objetivo desse trabalho foi quantificar, por meio das variáveis baropodométricas, o desequilíbrio estático nos membros inferiores de indivíduos com amputação unilateral transfemoral ou transtibial e o grau de degeneração articular no joelho do membro intacto, relacionando com o tempo de protetização e com a idade. 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Materiais 3.1.1. Permanentes: Foi utilizado o sistema de baropodometria eletrônica, marca IST Informatique, modelo FootWork, pertencente ao Laboratório Anderson Daibert (Imagem 1). Imagem 1 - Sistema de baropodometria eletrônica, marca IST Informatique, modelo FootWork. 3.2. Aspectos éticos O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora, (Parecer nº 190/2008) (Anexo 1). Em um primeiro contato com os participantes, foi realizada a conscientização e o esclarecimento da natureza e do propósito da pesquisa. Os participantes do estudo fizeram a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2) e assinaram o mesmo concordando em participar da pesquisa. 3.3. Indivíduos A amostra selecionada foi de 12 indivíduos adultos, de ambos os sexos, com idade variando de 20 a 65 anos com amputações transfemorais e transtibiais de membro inferior, reabilitados das amputações no serviço de Fisioterapia do Centro de Atenção à Saúde (HU-/CAS/UFJF) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com radiografia recente (em incidência antero-posterior), de no máximo dois meses, do joelho do membro não amputado. Os critérios de exclusão foram: uso de medicamentos para problemas neuromusculares ou outras patologias significantes (Hsu et al., 2006), como doenças reumáticas, presença de lesões significantes no joelho do membro intacto (Imeokparia et al.,1994; Coggon et al., 2000; Lau et al., 2000), bem como indivíduos já submetidos à qualquer tipo de procedimento cirúrgico, (Burke, Roman e Wright, 1978), os quais levem ao desequilíbrio entre membros inferiores . 3.4. Procedimento No dia da coleta, os indivíduos caminharam até o baropodômetro (plataforma de pressão) duas vezes, onde permaneceram por 30 segundos, para a captação dos dados nos membros protetizado e intacto. Por meio do baropodômetro, foi possível obter os dados das seguintes variáveis: porcentagem da descarga de peso, da média do pico de pressão e a área de superfície plantar no membro amputado e no membro intacto, por meio de 2074 captadores, trabalhando a uma freqüência de 150Hz. Os valores da força de reação foram encontrados a partir das variáveis supracitadas quando empregadas na fórmula de Pascal (P=F/A) (Fotografia 2). . * Fotografia 2 – Indivíduo protetizado no membro inferior esquerdo (*), sobre o baropodômetro (seta preta grande), com os pés posicionados funcionalmente. O baropodômetro encontra-se conectado a um computador por meio de um cabo USB localizado na porção superior esquerda (seta preta pequena). Após a coleta dos dados, os indivíduos foram submetidos a uma avaliação por um médico radiologista e a uma avaliação clínica por um médico reumatologista, pertencentes ao serviço de Clínica médica do HU/CAS/UFJF para diagnóstico de OA de acordo com os critérios da American College of Rheumatology (ACR), que é o critério padrão para classificação da OA de mão, joelho e quadril e é sensível e específico (Bellamy et al, 1999). Para que a avaliação da articulação do joelho ficasse mais objetiva, criou-se uma tabela de pontos de forma que o médico radiologista classificou o espaço articular e a degeneração no joelho do membro intacto em: 0 (sem diminuição e/ou degeneração), 1 (leve diminuição e/ou degeneração), 2 (moderada diminuição e/ou degeneração) e 4 (intensa diminuição e/ou degeneração) (Tabela 1). Tabela 1 - Tabela utilizada na avaliação radiológica da articulação do joelho do membro intacto dos indivíduos amputados, de acordo com o grau de degeneração e/ou diminuição do espaço articular. Indivíduos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Pontuação para degeneração e/ou diminuição do espaço articular 0 - Sem diminuição do espaço articular e/ou presença de degeneração 1 - Grau leve de diminuição do espaço articular e/ou presença de leve degeneração. 2 – Grau moderado de diminuição do espaço articular e/ou presença de moderada degeneração. 3 – Grau intenso de diminuição do espaço articular e/ou intensa presença de sinais degenerativos. Da mesma forma, o médico reumatologista, de acordo com os critérios do ACR, analisou durante a avaliação clínica a presença de dor, crepitação, rigidez matinal e sinovite, associando esses dados ao diagnóstico radiográfico. A pontuação ao final foi de 0 para ausência de OA de joelho; 1, 2 e 3 para leve, moderada e intensa OA de joelho, respectivamente (Tabela 2). Tabela 2 - Utilizada na avaliação reumatológica da articulação do joelho do membro intacto dos indivíduos amputados, de acordo com os sinais de dor, crepitação, rigidez matinal e sinovite, levando ao diagnóstico de osteoartrite. Indivíduos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Pontuação da avaliação clínica reumatológica 0 - Ausência de osteoartite na articulação do joelho. 1- Leve osteoartrite de joelho 2- Moderada osteoartrite de joelho 3- Intensa osteoartrite de joelho 3.5. Análise Estatística A análise estatística das variáveis coletadas foi realizada pelo teste “t” de Student, que é um teste paramétrico utilizado para avaliação de variáveis dependentes. 4. RESULTADOS 4.1. Características dos indivíduos A amostra foi composta por 12 indivíduos, sendo que 41,67% (5/12) eram protetizados após amputações transtibiais e 58,33% (7/12) indivíduos protetizados após amputações transfemorais. Desses indivíduos, 16,66% (2/12) eram mulheres, sendo uma com amputação transtibial e outra com transfemoral, e 83,34% (10/12) eram homens, sendo quatro com amputação transtibial e seis com transfemoral. A idade média foi de 51,33 anos (±13,62), tendo o voluntário mais jovem 20 anos e o mais velho, 65 anos. Esses indivíduos apresentaram índice de massa corpórea com média de 24,44 Kg/m² (±3,25), variando de 18,82 a 30,80 Kg/m² e média do tempo de protetização de 11,55 (±12,89) anos, variando de 1,42 a 33 anos (Tabela 3). Tabela 3 - Média, desvio padrão (DP), valor mínimo e máximo da idade, em anos, índice de massa corpórea, em Kg/m² e tempo de protetização, em anos, dos 12 indivíduos estudados. Indivíduos Idade (anos) Índice de massa Tempo de protetização corpórea (Kg/m²) (anos) 1 51 23,22 30 2 20 24,40 6 3 61 21,45 33 4 40 24,64 4,5 5 62 23,60 7 6 63 24,40 1,5 7 57 30,80 1,5 8 62 22,30 1,42 9 43 24,72 1,67 10 65 18,82 2 11 54 29,70 19 12 38 25,30 31 Média 51,33 24,44 11,55 DP 13,62 3,25 12,89 Mínimo 20 18,82 1,42 Máximo 65 30,80 33 4.2. Análise da média do pico de pressão plantar, no membro intacto e no membro amputado, por meio do baropodômetro Em relação à média do pico de pressão plantar, na posição ortostática, nos 12 indivíduos estudados, pode-se observar que 100% (12/12) deles apresentavam assimetria entre os membros inferiores (Tabela 4). No membro intacto pode-se observar uma média de 2,06 Kgf/cm² (± 1,05), variando de 0,85 Kgf/cm² a 4,08 Kgf/cm² (Figura 3), no membro amputado pode-se observar uma média de 4,83 Kgf/cm² (± 1,81), variando de 3,16 Kgf/cm² a 8,77 Kgf/cm² (Figura 4). Apresentando diferença estatisticamente significante (p<0,01) (Tabela 5). Tabela 4 – Valores da variável média do pico de pressão plantar, em Kgf/cm², nos membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados. Indivíduos Média do pico de pressão no Média do pico de pressão no membro intacto (Kgf/cm²) membro amputado (kgf/cm²) 1 1,26 5,78 2 4,08 7,77 3 2,85 5,31 4 4,07 8,77 5 1,7 3,37 6 0,85 3,16 7 1,49 4,74 8 1,49 4,23 9 1,99 3,48 10 1,39 3,2 11 1,82 4,12 12 1,77 4,09 Tabela 5 - Média, desvio padrão, valores de p, mínimo e máximo da média do pico de pressão plantar, em Kgf/cm², nos membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados. Média do pico de Média ± Desvio pressão plantar Padrão Valores de p Mínimo Máximo Membro intacto 2,06±1,05 P<0,01* 0,85 4,08 Membro amputado 4,83±1,81 P<0,01* 3,16 8,77 * Diferença altamente significante 3 A A B Imagem 2 – Menor (A) e maior (B) valor da média do pico de pressão plantar no membro intacto de dois indivíduos estudados. Pode-se observar as diferenças nas tonalidades das cores de acordo com os diferentes níveis de pressão. As cores quentes representam maiores pressões, as cores frias menores pressões. 44 4 A B Imagem 3 – Menor (A) e maior (B) valor da média do pico de pressão plantar no membro amputado de dois indivíduos estudados. Pode-se observar as diferenças nas tonalidades das cores de acordo com os diferentes níveis de pressão. As cores quentes representam maiores pressões, as cores frias menores pressões. 4.3. Análise da área de superfície de contato plantar, no membro intacto e no membro amputado Em relação à área da superfície de contato plantar na posição ortostática, dos 12 indivíduos estudados, pode-se observar que 100% (12/12) deles apresentavam assimetria entre os membros inferiores (Tabela 6). No membro intacto, pode-se observar uma média de 121,70 cm² (± 13,20), variando de 95,7 cm² a 142,1 cm² (Figura 5), no membro amputado pode-se observar uma média de 30,45 cm² (± 11,48), variando de 18,56 cm² a 60,32 cm² (Figura 6). Apresentando diferença estatisticamente significante (p<0,01) (Tabela 7). Tabela 6 – Valores da variável área de superfície de contato plantar, em cm², nos membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados. Indivíduos Área da superfície de contato Área da superfície de contato plantar no membro intacto plantar no membro amputado (cm²) (cm²) 1 122,38 27,84 2 114,84 35,38 3 142,1 34,22 4 95,7 27,84 5 109,04 40,02 6 136,88 20,88 7 127,6 25,52 8 121,22 20,3 9 122,38 23,2 10 120,64 18,56 11 110,78 60,32 12 136,88 31,32 Tabela 7 - Média, desvio padrão, valores de p, mínimo e máximo da área de superfície de contato plantar, em cm², nos membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados. Área de superfície Média ± Desvio de contato plantar Padrão Valores de p Mínimo Máximo Membro intacto 121,70 ± 13,20 P<0,01* 95,7 142,1 Membro amputado 30,45 ± 11,48 P<0,01* 18,56 60,32 * Diferença altamente significante 55 5 A B Imagem 4 – Menor (A) e maior (B) valor da área de superfície de contato plantar no membro intacto de dois indivíduos estudados. 6 A B Imagem 5 – Menor (A) e maior (B) valor da área de superfície de contato plantar no membro amputado de dois indivíduos estudados. 4.4. Análise da força de reação do solo, no membro intacto e no membro amputado Em relação à força de reação do solo na posição ortostática, dos 12 indivíduos estudados, pode-se observar que 100% (12/12) deles apresentavam assimetria entre os membros inferiores (Tabela 8). No membro intacto, a média foi de 46,96 (± 11,03) Kgf, variando de 30,53 Kgf a 69,62 Kgf, enquanto que no membro amputado, a média foi de 41,30 (± 13,34) Kgf, variando de 23,57 Kgf a 69,04 Kgf. Apresentando diferença não estatisticamente significante (p>0,05) (Tabela 9). Tabela 8 - Valores da variável força de reação do solo, em Kgf, sobre os membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados. Indivíduos Força de reação do solo Força de reação do solo sobre o membro intacto (Kgf) sobre o membro amputado (Kgf) 1 40,38 41,76 2 48,23 49,88 3 69,62 40,22 4 48,8 69,04 5 30,53 32,41 6 41,06 30,06 7 53,59 36,23 8 38,79 29,84 9 59,96 33,17 10 33,71 23,57 11 50,95 52,47 12 47,9 57 Tabela 9 - Média, desvio padrão, valores de p, mínimo e máximo da força de reação do solo, em Kgf, sobre os membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados. Força de Média ± Desvio Padrão Valores de p Mínimo Máximo 46,96 ± 11,03 P=0,135 30,53 69,62 41,30 ± 13,34 P=0,135 23,57 69,04 reação do solo Membro intacto Membro amputado 4.5. Análise da porcentagem da descarga de peso, no membro intacto e no membro amputado, por meio do baropodômetro Em relação à descarga de peso na posição ortostática, dos 12 indivíduos estudados, pode-se observar que 100% (12/12) deles apresentavam assimetria entre os membros inferiores (Tabela 10). No membro intacto, pode-se observar uma media de 53,5% (±7,48), variando de 41% a 64%, no membro amputado pode-se observar que a média foi de 46,5 (±7,48), variando de 36% a 59%. Apresentando diferença estatisticamente significante (p<0,05) (Tabela 11). Tabela 10 – Valores da variável descarga de peso em porcentagem (%), nos membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados. Indivíduos Descarga de peso no membro Descarga de peso no membro intacto em porcentagem (%) amputado em porcentagem (%) 1 49 51 2 49 51 3 64 36 4 41 59 5 48 52 6 57 43 7 60 40 8 56 44 9 64 36 10 59 41 11 49 51 12 46 54 Tabela 11 - Média, desvio padrão, valores de p, mínimo e máximo da descarga de peso em porcentagem (%), nos membros intacto e amputado dos 12 indivíduos estudados. Descarga de peso Média± Desvio Padrão Valores de Mínimo Máximo p Membro intacto Membro amputado 53,5 ± 7,48 P<0,05 41 64 46,5 ± 7,48 P<0,05 36 59 4.6. Dados radiográficos e clínicos 4.6.1. Análise radiográfica Pela análise radiográfica dos indivíduos protetizados pode-se observar que 75% (9/12) não apresentaram alteração degenerativa nem diminuição do espaço articular na articulação do joelho, não recebendo ponto algum. Os outros 25% (3/12) apresentaram um grau leve de diminuição do espaço articular e leve presença de degeneração, recebendo 1 (um) ponto (Figura 7) (Tabela 12). Nenhum indivíduo apresentou uma diminuição de espaço articular ou degeneração articular com um grau moderado ou intenso. A B Fotografia 2 – Radiografias em incidência ântero-posterior da articulação do joelho no membro intacto de dois indivíduos amputados. Em A pode-se observar o espaço articular preservado, sem sinais de degeneração articular. Em B nota-se uma diminuição do espaço articular e degeneração. Tabela 12– Resultado da avaliação radiológica da articulação do joelho do membro intacto dos indivíduos amputados, de acordo com o grau de degeneração e/ou diminuição do espaço articular. Indivíduos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 0 0 0 0 1 0 1 0 10 11 12 1 0 0 Pontuação para degeneração e/ou diminuição do espaço articular 0 - Sem diminuição do espaço articular e/ou presença de degeneração 1 - Grau leve de diminuição do espaço articular e/ou presença de leve degeneração 4.6.2. Avaliação clínica reumatológica A análise clínica reumatológica, realizada de acordo com os critérios do ACR incluindo os sinais radiográficos, demonstrou que 100% (12/12) dos indivíduos não apresentavam nenhum dos sinais que pudesse levar ao diagnóstico de OA como dor, crepitação, rigidez matinal e sinovite. Desta forma, de acordo com a tabela de pontuação, todos os indivíduos não receberam nenhum ponto (Tabela 13). Tabela 13 – Resultado da avaliação clínica reumatológica da articulação do joelho do membro intacto dos indivíduos amputados, de acordo com os sinais de dor, crepitação, rigidez matinal e sinovite, associados aos achados radiográficos. Indivíduos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Pontuação da avaliação 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 clínica reumatológica 0 - Ausência de osteoartite na articulação do joelho. 0 0 5. DISCUSSÃO 5.1. Discussão dos métodos Muitos autores descrevem que a causa da amputação não atua significantemente na porcentagem de descarga de peso distribuída entre os membros intacto e amputado dos indivíduos protetizados (Eberhart et al., 1954; Burke et al., 1978; Lemaire & Fisher, 1994; Kulkarni et al., 1998; Melzer et al., 2001; Nolan et al., 2002; Norvell et al., 2005; Royer e Koenig, 2005; Mussman et al., 1983). Dessa forma, em nosso estudo, não houve uma separação dos indivíduos em virtude da etiologia da amputação, de modo que amputados por trauma não foram divididos de amputados por problemas vasculares e alocados em grupos distintos. Baraúna et al., (2005) avaliaram indivíduos amputados somente por etiologia traumática, comparando com indivíduos sem amputações. A OA é a mais prevalente forma de artrite em idosos, sendo particularmente incapacitante quando os joelhos são afetados (Kaufman et al., 2001). É estimado que 9% dos homens e 18% das mulheres acima dos 65 anos tenham OA de joelho (Davis et al., 1991). Um estudo longitudinal sobre OA de joelho mostrou que mulheres apresentam um risco 1,8 vezes maior de desenvolverem esse processo degenerativo, quando comparado com os homens (Felson et al., 1997), de tal forma que Kaufman et al., (2001) descrevem que o sexo atua de forma determinante e significativa na AO. Vários trabalhos (Burke, Roman e Wright, 1978; Nolan et al., 2003; Royer e Koening, 2005; Schmid et al., 2004; Vrieling et al., 2008), utilizaram em seus estudos uma amostra composta por indivíduos tanto do sexo masculino quanto feminino. Em nosso experimento não houve diferença nos resultados quando analisados homens e mulheres separadamente, então optou-se por apresentar os resultados sem essa divisão. De acordo com Marks, (2007) a partir dos 40 anos, os indivíduos sem amputações já apresentam uma maior predisposição a desenvolver OA de joelho quando comparados com indivíduos com menos de 40 anos. Entretanto, na maioria dos estudos (Kulkarni et al., 1998; Al-Zahrani e Bakheit, 2001; Sadeghi et al., 2001; Royer e Koening, 2005; Royer and Wasilewski, 2005) a idade não é delimitada, uma vez que amostras homogêneas de indivíduos amputados de membros inferiores unilaterais ou bilaterais são difíceis de serem conseguidas. Nesse estudo, a idade dos 12 indivíduos amputados unilateralmente variou de 20 a 65 anos, sendo que 10 apresentaram idade superior a 40 anos e desses somente 3 demonstraram, pela análise radiográfica, sinais de leve degeneração e redução do espaço articular, sem diagnóstico clínico de OA. Sobrepeso é um forte fator de risco para a incapacitante OA de joelho (Manninem et al., 1996; McAlindon et al., 1996). Vários estudos têm demonstrado que indivíduos com alto IMC apresentam um maior risco de desenvolver OA de joelho (Shouten et al., 1992; Hochberg et al., 1995; Manninem et al., 1996; McAlindon et al., 1996; Felson et al., 1997). Esses indivíduos apresentaram um IMC com média de 24,44 Kg/m² (±3,25). Marks, (2007) em seu estudo, correlacionou IMC com a idade e observou que, dos 24 indivíduos com mais de 40 anos diagnosticados com OA de joelho, 80% apresentaram IMC maior que 25 Kg/m², classificando-os como indivíduos com sobrepeso ou obesos. Nesse estudo, 16,66% (2/12) indivíduos apresentaram IMC entre 25 Kg/cm² e 30 Kg/cm², ou seja, sobrepeso, não apresentando nenhuma degeneração ou redução no espaço articular. Apenas 8,33% (1/12) dos indivíduos apresentaram IMC maior que 30 Kg/cm², ou seja, obesidade grau I, não apresentando nenhuma degeneração ou redução no espaço articular, de acordo com a avaliação radiológica, não recebendo, portanto, diagnóstico de OA de joelho. O método utilizado para avaliação, a baropodometria computadorizada, mostrou-se adequada para analisar e quantificar os possíveis desequilíbrios na distribuição do peso entre os membros inferiores de indivíduos com amputações transtibiais ou transfemorais unilaterais, uma vez que se trata de uma plataforma que contêm 4.098 captadores que detectam a pressão exercida pelo membro sobre o solo, além de ser um método de coleta rápido, fácil e não invasivo. Durante a análise baropodométrica, os indivíduos ficavam em posição ortostática sobre a plataforma de pressão, durante 30 segundos, olhando para um ponto fixo imaginário localizado na parede. Esse tempo para coleta dos dados das variáveis baropodométricas foi o mesmo adotado por Baraúna et al., (2005) que, ao estudar as oscilações no plano sagital e no plano frontal em indivíduos amputados e não amputados, perceberam que as maiores oscilações do corpo ocorrem neste intervalo de tempo. 5.2. Discussão dos resultados O objetivo desse trabalho foi quantificar o desequilíbrio estático, por meio das variáveis baropodométricas, nos membros inferiores de indivíduos com amputação unilateral transfemoral ou transtibial e o grau de degeneração articular no joelho do membro intacto, relacionando com o tempo de protetização e com a idade. Para isso, foram coletados dados da porcentagem da descarga de peso, da média do pico de pressão plantar e da área de superfície de contato plantar dos membros intacto e amputado. Os valores da força de reação do solo, o dado mais discutido na literatura, foram encontrados a partir das variáveis supracitadas quando empregadas na fórmula de Pascal. Por meio da baropodometria computadorizada, pode-se observar uma média na porcentagem da descarga de peso no membro intacto de 53,5% (± 7,48), valor máximo de 64% e valor mínimo de 41%, e, no membro amputado, uma média de 46,5% (±7,48) com valor máximo de 59% e valor mínimo de 36%, apresentando diferença estatisticamente significativa (p<0,05). De acordo com Kulkarni et al., (1998) a marcha de um indivíduo amputado de membros inferiores é assimétrica, não importa o quanto de atenção for dada à reabilitação e à prótese. A marcha alterada dos amputados coloca uma maior quantidade de estresse sobre o membro intacto. Estes autores acreditam que o aumentado estresse é devido ao membro intacto ter uma maior proporção de carga vertical exercida sobre ele, além dele fornecer a maioria das forças ascendentes de reação do solo e gerar o movimento de impulsão. Sendo assim, a marcha alterada, bem como o uso de uma prótese, estariam alterando a distribuição da carga dentro da perna amputada. Essa alteração na descarga de peso não acontece somente durante a marcha, mas também em repouso, na posição ortostática. Em relação à média do pico de pressão plantar, no membro intacto, foi encontrada uma média de 2,06 Kgf/cm² (±1,05), com valor máximo de 4,08 Kgf/cm² e valor mínimo de 0,85 Kgf/cm², e, no membro amputado uma média de 4,83 Kgf/cm² (±1,8) com valor máximo de 8,77 Kgf/cm² e valor mínimo de 3,16 Kgf/cm². A diferença entre os valores encontrados para membro amputado e membro intacto foi estatisticamente significativa (p<0,01). Para a área de superfície de contato plantar, no membro intacto, pode-se observar uma média de 121,70 Kgf/cm² (±13,20) com valor máximo de 142,1 Kgf/cm² e valor mínimo de 95,7 Kgf/cm², e, no membro amputado uma média de 30,45 Kgf/cm² (±11,47), com valor máximo de 60,32 Kgf/cm² e valor mínimo de 16,56 Kgf/cm². A diferença entre os valores encontrados para membro amputado e membro intacto foi estatisticamente significativa (p<0,01). Ao relacionarmos os dados das variáveis supracitadas, pode-se observar que a média do pico de pressão é inversamente proporcional à área de superfície de contato plantar, ou seja, o maior valor para a variável média do pico de pressão sempre encontrada no membro amputado está diretamente relacionado a menor área de superfície de contato presente também neste lado. Ao calcularmos a força de reação do solo, para o membro intacto, encontramos uma média de 46,96 Kgf (±11,03), com valor máximo de 69,62 Kgf e valor mínimo de 30,53 Kgf, e, para o membro amputado, uma média de 41,30 Kgf (±13,34), com valor máximo de 69,04 Kgf e valor mínimo de 23,57Kgf. A diferença entre os valores encontrados para membro amputado e membro intacto não foi estatisticamente significativa (p=0,135). Embora haja evidências de que um aumento nas forças de reação do solo sobre o membro intacto, em decorrência da descarga de peso assimétrica, pode contribuir com OA em adultos de meia idade (Robins et al., 2001). Em nosso estudo, não foi possível relacionar a variável de força de reação do solo com a susceptibilidade a OA, uma vez que o nível de amputação em nossa amostra não foi homogêneo e a área de superfície de contato em que esta força é absorvida varia de um indivíduo para o outro não tendo, por esse motivo, como ser calculada. Royer e Koenig, (2005) estudando a densidade mineral óssea em indivíduos com amputações unilaterais transtibiais, por meio de radiografias específicas com e sem contraste, observaram que a diferença na carga mecânica entre os membros inferiores havia sido refletida na densidade mineral óssea da tíbia proximal no membro intacto, a qual foi 45% maior que no membro amputado. Concluíram, portanto, que o membro intacto, por receber maiores cargas mecânicas durante a marcha (Sanderson e Martin, 1997), apresenta maior densidade mineral óssea do que o membro amputado (George et al., 2001). Entretanto, de quanto seria esse desequilíbrio na descarga de peso, responsável por uma mineralização óssea quase 50% maior no membro intacto, sobre os membros inferiores de um indivíduo protetizado? Mussman et al., (1983) aplicando um questionário em 47 amputados protetizados de membro inferior observaram que 64% deles afirmavam descarregar mais o peso do corpo sobre o membro intacto, durante atividades físicas. Segundo Burke, Roman e Wright, (1978) o membro intacto carrega maiores cargas do que membro protetizado. Além disso, o tempo gasto sobre o membro amputado é marcadamente menor do que a gasta sobre o membro intacto, sendo essa a explicação para o desenvolvimento de OA em quadril e joelho de indivíduos amputados (Borgmann, 1960). A desigualdade do comprimento da perna pode também contribuir para o aumento do estresse sobre a perna intacta (Dixon e Campbell-Smith, 1969); para facilitar a fase de balanço na marcha a perna protetizada é feita niveladamente menor que a perna intacta. Não obstante, Baraúna et al., (2005) comparando as oscilações do centro de gravidade no plano sagital e no plano frontal, em indivíduos amputados de membro inferior e em indivíduos não amputados, observaram que os indivíduos amputados oscilam mais para o lado do membro intacto. Tais resultados podem ser facilmente compreendidos por Geurts e Mulder, (1994) os quais afirmam que amputados, quando adotam posição estática, tendem a ter desequilíbrios para o lado de maior massa, ou seja, para o lado do membro intacto. Isakov et al., (1992) também explicam este fato, quando compararam equilíbrio e descarga de peso entre amputados transtibiais com indivíduos não amputados, ao verificarem aumento das oscilações para o lado do membro intacto. De acordo com Baraúna et al., (2005) esses autores possibilitaram uma nova explicação acerca do desequilíbrio ao afirmarem que, em indivíduos amputados, ocorre uma perda da informação proprioceptiva da pele, tecido subcutâneo, cápsula articular, ligamentos, tendões e músculos, como resultado da amputação. Essa perda de informação faz com que os indivíduos sobrecarreguem, através da assimetria na distribuição do peso, o membro intacto. Por meio da análise radiográfica, percebeu-se que 75% (9/12) dos indivíduos estudados não apresentavam diminuição do espaço articular e/ou presença de degeneração na articulação do membro intacto. Os 25% (3/12) restantes demonstraram grau leve de diminuição do espaço articular e/ou presença de degeneração, recebendo 1 ponto na classificação de acordo com o médico radiologista. Burke et al., (1978) utilizaram um critério semelhante para avaliar o desgaste articular na articulação do joelho. Em seus resultados, pode-se observar que 26,21% (11/42) dos indivíduos estudados apresentavam desgaste articular. Entretanto, quando foi analisado a grau de desgaste nesses 11 indivíduos, encontrou-se degeneração articular grau 1, 2 ou 3. Esses autores concluíram que o membro intacto de indivíduos amputados unilaterais é mais susceptível à degeneração articular e, conseqüentemente, a OA. Norvell et al., (2005) utilizando o questionário de graduação de dor crônica, entrevistaram 62 indivíduos amputados e protetizados em vários níveis, sendo que 50% eram transfemorais, 36,4% eram transtibiais e os 13,6% restantes eram amputados em outros níveis de membro inferior. Esses autores observaram uma prevalência de dor no joelho contrário ao lado amputado em 40,3% desses indivíduos e afirmaram que a experiência de dor crônica após amputação de membros inferiores é complexa e multidimensional não sendo limitada ao membro amputado. Quando associamos a análise radiográfica com a avaliação clínica reumatológica, percebemos que nenhum dos 12 indivíduos estudados recebeu diagnóstico de OA no joelho contrário à amputação, não apresentando sinais radiográficos nem sintomas tais como dor, sinovite, rigidez matinal e crepitação. Peat et al., (2001) observaram que 50% das pessoas na população em geral que possui OA de joelho com diagnóstico radiográfico não apresentou dor. Peat et al., (2001) e Hannan et al., (2000) descrevem que não é incomum observar um sinal radiográfico de OA com ausência de sintomas de dor ou incapacidades. Contudo, indivíduos podem, também, apresentar OA sintomática no joelho quando exames radiológicos podem não demonstrar sinais de degeneração. Os estudos de Norvel et al., (2005) sugerem que os indivíduos que foram submetidos à amputação são mais que duas vezes susceptíveis a desenvolver dor no joelho do membro intacto do que indivíduos sem amputação. Essa associação é maior ainda entre amputados transfemorais. Nesse estudo, foi possível observar que 50% (6/12) dos indivíduos descarregavam a maior parte do peso sobre o membro intacto, enquanto que os outros 50% (6/12) restantes descarregavam sobre o membro amputado. Desses, 16,66% (2/12) dos indivíduos apresentaram grande assimetria, sendo a descarga sobre o membro intacto de 64% e sobre o membro amputado de 32%. No entanto, estes indivíduos apresentaram diferentes tempos de protetização correspondendo a 1,76 e 33 anos. Do mesmo modo, os 25% (3/12) dos indivíduos que apresentaram menores assimetrias, sendo a descarga de peso sobre o membro intacto de 49% e sobre o membro amputado de 51%, também apresentaram diferentes tempos de protetização correspondendo a 6, 19 e 30 anos. Dessa forma, não foi possível observar uma relação entre a assimetria na descarga de peso e o tempo de protetização. Dos 12 indivíduos estudados, 50% (6/12) foram protetizados antes dos 40 anos e os 50% (6/12) restantes foram protetizados com mais de 40 anos. Ao analisarmos a idade dos indivíduos estudados com a assimetria na descarga de peso entre seus membros inferiores, encontramos no indivíduo mais novo, com 20 anos, valores de 49% para o membro intacto e de 51% para o membro amputado e, no indivíduo mais velho, com 65 anos, valores de 59% para o membro intacto e 41% para o membro amputado. Embora Borer, (1995) ao revisar textos sobre o efeito do exercício no crescimento musculoesquelético, tenha identificado que a maturidade deste sistema é atingida em torno da terceira década de vida, não foi possível afirmar, no presente estudo, que indivíduos protetizados acima do 40 anos têm uma menor tendência a apresentar assimetria na descarga de peso, uma vez que a amostra não se mostrou homogênea em relação à idade, não apresentando relação entre essas variáveis. Lemaire e Fisher, (1994) descrevem um significante aumento na incidência de OA na articulação do joelho do membro intacto de indivíduos amputados transtibial acima dos 65 anos, os quais tinham usado prótese por ao menos 25 anos. Em contra partida, Kulkarni et al., (1998) encontrou uma maior incidência de OA no quadril do membro amputado quando comparado ao membro intacto entre veteranos da II Guerra Mundial. Baraúna et al., (2005) ao estudar as oscilações corporais dos indivíduos protetizados, observaram que estas são menores quanto maior for o tempo em anos de uso da prótese. Em nosso estudo, o indivíduo que apresentou maior tempo de protetização, o equivalente a 33 anos, não apresentou nenhuma alteração à avaliação radiológica. Em contra partida, o indivíduo que apresentou menor tempo de protetização, o equivalente a 1,42 anos, obteve pontuação 1 na avaliação radiológica, ou seja, grau leve de degeneração e/ou diminuição do espaço articular. Sendo assim, não foi possível observar uma relação entre o tempo de protetização e a susceptibilidade em desenvolver OA no joelho do membro intacto. Contudo, ao observarmos a idade dos 3 indivíduos que apresentaram, a avaliação radiológica, grau leve de degeneração e/ou diminuição do espaço articular, encontramos que esses possuíam idades iguais a 62, 63 e 65 anos, sendo os indivíduos mais velhos da amostra. Dessa forma, foi possível relacionar a idade com a susceptibilidade em desenvolver OA no joelho do membro intacto. Royer e Koenig, (2005) sugerem que, embora exista uma plausível ligação entre as forças mecânicas e os danos articulares, é importante reconhecer que a OA é uma doença multifatorial e que a idade, o peso corporal, as lesões articulares e os fatores genéticos, entre outros, podem contribuir para a degeneração da cartilagem. Segundo Burger et al., (1997) aproximadamente 68% a 88% dos indivíduos amputados usam suas próteses mais de 7 horas diárias para auxiliar na mobilidade e atividades rotineiras, o que pode ser um fator que influencia na sobrecarga mecânica sobre o membro intacto e possível degeneração articular, e apenas um pequeno número de amputados não permanece com suas próteses a maior parte do dia. Melzer et al., (2001) ao comparar indivíduos amputados que praticavam ou não atividade física, concluiu que a incidência de OA na articulação do joelho do membro intacto foi 65% maior no grupo que praticava exercício em relação ao que não praticava. Em contra partida, Norvel et al., (2005) descreve que as alterações advindas da OA, no caso de indivíduos amputados, ocorrem de forma precoce ou mais acentuada. Por tornarem-se sedentários, ao diminuírem suas atividades físicas e ou muitas vezes interromperem a prática de esportes, acabam por obter um aumento no índice de massa corpórea (IMC). Dessa forma, estes aumentam também a sobrecarga e a degeneração articular no membro intacto ficando susceptíveis a OA de joelho. Segundo Burke, Roman e Wright, (1978) a osteoporose característica no membro amputado parece quase certamente representar uma forma da atrofia por desuso. Isto pode bem ter um efeito protetor, considerando a reduzida prevalência de OA nas articulações do membro amputado. Um número de fatores potencial pode influenciar, em longo prazo, no desenvolvimento de OA em indivíduos amputados, incluindo idade, imobilidade levando a um ganho de peso e biomecânica alterada, a qual pode ser influenciada pelo tipo da prótese (Kulkarni et al., 1998). Além disso, a assimetria na descarga de peso durante o equilíbrio na postura ortostática, que ainda não causou degeneração articular no joelho do membro intacto dos indivíduos estudados, pode já ter causado degenerações articulares no quadril desses indivíduos, o que não foi investigado no presente estudo. A literatura descreve uma incidência de OA de quadril consideravelmente maior do que OA de joelho em indivíduos sem amputações, com idade entre 55 a 74 anos (Robbins, Waked e Krouglicof, 2001) e, apesar de vários estudos enfatizarem a ocorrência de OA no joelho do membro intacto de indivíduos amputados, alguns autores também têm documentado sobre a incidência de OA no quadril desses indivíduos (Kulkarni et al., 1998; Burke, Roman e Wright, 1978). Um estudo realizado por Kulkarni et al., (1998) encontrou resultados de OA tanto no quadril do membro intacto quanto no do membro amputado. Portanto, seria sugestivo a realização de um novo estudo, com esses mesmos indivíduos, tendo o propósito de investigar a ocorrência de degeneração e/ou diminuição no espaço articular nos quadris ipsilateral e contra lateral à amputação. 6. CONCLUSÃO Não há relação entre o desequilíbrio estático e o grau de degeneração articular no joelho do membro intacto de indivíduos com amputação unilateral transtibial ou transfemoral. No entanto, há uma relação direta entre a idade e o grau de degeneração articular no joelho do membro intacto desses indivíduos. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Al-ZAHRANI, K. S.; BAKHEIT, A. M. O. A study of the gait characteristics of patients with chronic osteoarthritis of the knee. Disability and Rehabilitation, v. 24, n. 5, p.275-280, jul.2001. ANDREWS KL. Rehabilitation in Limb Deficiency. 3. The Geriatric Amputee. Arch Phys Med Rehabil 77:S-14-S-17, 1996. BALIUNAS, A. J. et al. Increased knee joint loads during walking are present in subjects with knee osteoarthritis. Osteoarthritis and Cartilage, Chicago, v.10, p.573-579, fev.2002. BARBOSA E BERNARDES, 2009. Análise da descarga de peso durante o apoio unipodal na marcha e das alterações degenerativas no joelho de indivíduos amputados. 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CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE FISIOTERAPIA Juiz de Fora/MG – Brasil, CEP: 36016-130 TEL: (32) 3229-3837 TELEFAX: (32) 3229-3843, E-mail: www.ufjf.br TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Nome do projeto: Relação entre o desequilíbrio estático e o grau de degeneração articular no joelho do membro intacto de indivíduos amputados unilaterais Responsável: Prof. Dr. Eduardo José Danza Vicente Eu, _______________________________________, RG N.º _____________, residente à _________________________________ n.º ______, bairro __________________, na cidade de _________________________, estado _______________________, declaro ser conhecedor das condições sob as quais me submeterei no experimento acima citado, detalhado a seguir: A) O objetivo desse trabalho foi quantificar o desequilíbrio estático, por meio das variáveis baropodométricas, nos membros inferiores de indivíduos com amputação unilateral transfemoral ou transtibial e o grau de degeneração articular no joelho do membro intacto, relacionando com o tempo de protetização e com a idade. B) Inicialmente serei submetido a uma avaliação clínica por um médico reumatologista, pertencente ao serviço de Clínica Médica do Centro de Atenção à Saúde – CAS/HU para diagnóstico da osteoartrite no joelho de acordo com os critérios da American College of Rheumatology. C) Num outro momento, serei submetido à avaliação numa plataforma, denominada baropodômetro, utilizada para avaliar a pressão sob os pés durante a postura ortostática. Terei que caminhar duas vezes sobre o baropodômetro, na primeira vez será coletada as variáveis baropodométricas no membro protetizado, e, na segunda vez, no membro intacto. D) Sei que os resultados dos testes serão disponibilizados para mim em qualquer etapa da pesquisa. F) Os dados obtidos neste trabalho, inclusive se houverem fotografias, serão mantidos em sigilo e não poderão ser consultados por outras pessoas sem a minha autorização por escrito. No entanto, poderão ser utilizados para fins científicos, desde que resguardada a minha privacidade. G) Minha identidade será preservada em todas as situações que envolvam discussão, apresentação ou publicação dos resultados da pesquisa, a menos que haja uma manifestação da minha parte por escrito, autorizando tal procedimento. H) Estou ciente que minha participação no presente estudo envolve risco mínimo, uma vez que nenhuma intervenção ou modificação intencional em minhas variáveis fisiológicas ou psicológicas ou que sejam invasivos à minha privacidade. Entretanto, as possíveis despesas de ressarcimento serão custeadas pelo pesquisador responsável em caso de ocorrer algum prejuízo, seja ele de ordem física, psicológica ou social. I) Minha participação nesse estudo é estritamente voluntária. Não receberei qualquer forma de remuneração pela minha participação no experimento, no entanto receberei vale transporte para as avaliações no CAS. Serei incluído nos agradecimentos, quando da publicação futura desse trabalho. Os resultados obtidos a partir do estudo não serão propriedades exclusivas dos pesquisadores, mas concordo que os pesquisadores divulguem os resultados da maneira que melhor convier ao meio científico, resguardando meu sigilo e privacidade. J) A minha recusa em participar do procedimento não me trará qualquer prejuízo, estando livre para abandonar o experimento a qualquer momento. Eu li e entendi todas as informações contidas neste documento, assim como as da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Juiz de Fora, _______ de _____________________ de 2009. _______________________________ Assinatura do Voluntário (a) Responsável: _________________________________________ Prof. Dr. Eduardo José Danza Vicente Coordenador do Projeto UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA PESQUISADOR RESPONSÁVEL: Prof. Dr. Eduardo José Danza Vicente ENDEREÇO: L a de ir a A l ex an dr e L eo n e l, 1 .0 1 0, a pt o 3 01 CEP: 36033-240 – JUIZ DE FORA – MG TELEFONE : 323 6- 27 8 0 E-MAIL: [email protected] Em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos deste estudo, você poderá consultar o CEP- COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA/UFJF CAMPUS UNIVERSITÁRIO DA UFJF PRÓ-REITORIA DE PESQUISA CEP 36036.900 FONE:32 3229 3788