VARIEDADES
CORREIO DO POVO
DOMINGO, 15 de maio de 2005 — 15
SOCIEDADE
FOTOS ABELARDO MARQUES
Eduardo Conill
Comemoração
A artista plástica Beth
Duarte, Sirley Dias Gomes, Ana Dotto e Élson
Furini, Sérgio Maia, Vanessa e Clóvis Duarte, Rosa Lubisco, Elenita Lewin
e Gustavo Ortiz, o bonitão
Ricardo Vieira, Marcelo
Gonçalves e Zilaine Vieira
estavam entre os que foram abraçar Antonella e
Fernando Vieira pelo aniversário dele, uma bela
festa em sua morada, com
mesa de doces preparada
em casa a quatro mãos pela Leila Vargas e por sua
querida mamãe, Pepa.
PA I N E L
Lygia Fagundes Telles
ganha Prêmio Camões
A escritora paulista Lygia Fagundes Telles é a vencedora do Prêmio
Camões, o mais importante na literatura em língua portuguesa. A decisão foi anunciada no Rio de Janeiro, na última sexta-feira, por um júri integrado por vários escritores
portugueses e brasileiros.
A autora de “As meninas” (1973),
um de seus principais títulos, acaba
de lançar o livro “Meus contos esquecidos” e já está trabalhando num
novo romance. Lygia, nascida na cidade de São Paulo em 19 de abril de
1923, faz parte, desde 1985, da Academia Brasileira de Letras
(ABL). Entre
seus títulos estão “Ciranda de
pedra” (1954),
adaptado para
televisão, “Verão no aquário”
(1963) e “As hoLygia Fagundes Telles ras
nuas”
(1989). Alguns de seus livros foram
traduzidos para inglês, espanhol,
francês, alemão, italiano e polonês.
O Prêmio Camões foi adotado em
1989 pelos governos de Portugal e
Brasil para distinguir, anualmente,
um escritor que “contribua com sua
obra para enriquecer o patrimônio
literário da língua portuguesa”. O
vencedor recebe 100 mil euros (cerca de R$ 300 mil). O primeiro brasileiro a ganhá-lo foi o poeta João Cabral de Melo Neto, em 1990. Depois
vieram Rachel de Queiroz (1993),
Jorge Amado (1994), Autran Dourado (2000) e Rubem Fonseca (2003).
O prêmio deverá ser entregue em
Portugal, ainda no primeiro semestre, dependendo da agenda de Lygia.
Ela também recebeu os prêmios
Afonso Arinos (1948), concedido pela ABL; Instituto Nacional do Livro
(1958); Boa Leitura (1964); e Guimarães Rosa (1971), entre outros.
Carmem Cabeda e Inge Ciulla
Heloísa
Ribeiro Braga
Arte
As psicólogas Adriana Teixeira e Denise
Souza estão retornando de Florença, onde
participaram do Congresso Imagem Corporal
na Psicanálise e Arte. Ambas são coordenadoras do Projeto Maturarte, que vem envolvendo
aqui aproximadamente cem mulheres das
mais diversas faixas etárias em encontros,
nos quais são debatidos os preconceitos do
envelhecimento e os processos criativos e anticriativos na fase da mulher madura. O congresso aconteceu entre os dias 6 e 8 no Palácio Vecchio, abordando novas experiências
nessa área, que serão repassadas pelas psicólogas, no seu retorno, às participantes do Projeto Amadurecendo com Arte.
Náutica
O craque André Streppel, o charmoso Bizu, está participando da equipe olímpica brasileira de vela, no lugar de Robert Scheidt, que está migrando para outra categoria do esporte. Segunda, Bizu embarca para a Holanda, onde participará de dois campeonatos, sendo que um é dos mais
importantes do mundo. Ele representará o Brasil e seu clube, Veleiros do
Sul. Até setembro, quando competirá
no mundial, em Fortaleza, terá outros
em São Paulo, Rio e Espanha.
Maria
Luiza
Fleck
Saibro
Celulite
A médica Dóris Hexsel fará intervalo em sua programação científica para comemorar aniversário dia 20, 50 aninhos cheios de vigor e
em plena forma, no Rio de Janeiro. Depois, volta ao batente e preside
o I Simpósio Internacional de Celulite, dias 3 e 4 de junho, no Plaza
São Rafael. O simpósio, que desperta o interesse de toda a dermatologia brasileira, está programado para ter versões nos Estados Unidos e
na Europa. Este, em Porto Alegre, terá presenças da Itália, da França,
do Chile e dos Estados Unidos, além dos 20 brasileiros.
Yara e Jorge Nunes Dias
E-mail: [email protected]
JUREMIR MACHADO
DA
S I LVA
E-mail: [email protected]
Política
m cronista objetivo nunca deveria escrever
“eu”. Mas um cronista nunca é objetivo.
Todo cronista é um falsário em potencial. Portanto, “eu” passei a semana preocupado com
três coisas: um romance de Adam Thirlwell; a
briga entre Brasil e Argentina; saber se é um
ato moral sair de algum lugar com o guardachuva de outra pessoa por incapacidade de
identificar o próprio no meio de uma infinidade de objetos iguais e perfeitamente intercambiáveis na mesma função. Desde que a função
de um guarda-chuva seja a de proteger da
chuva. Sabe-se que alguns tratam um guardachuva como objeto de estimação, têm afeto por
ele e aí a questão pode ganhar uma dimensão
metafísica ou romântica.
O romance de Thirlwell chama-se “Política”
e não trata de política, mas de um ménage à
trois, da higiene do presidente Mao, do egoísmo da rainha-mãe, de Stalin ao telefone, do
fim de Casablanca e da teoria da hegemonia
de Antonio Gramsci. O livro apresenta questões cruciais como estas: “Como dormir a três
numa cama de casal?”, “é educado ler enquanto duas pessoas fazem amor ao seu lado?” ou “é elegante sentir ciúme?”. Thirlwell
tem 25 anos e pretende ter escrito um romance universal. Deliciosamente inglês. Como todos sabem, o universal já foi inglês. Depois,
U
ganhou o nome de globalização e tornou-se
norte-americano.
Certo é que, enquanto a classe média globalizada lê as reflexões estratosféricas de Paulo Coelho e de Dan Brown, uma penca de escritores geniais enterra a idéia nostálgica de
que o melhor da literatura ficou para trás. Michel Houellebecq, Chuck Palahniuk, Colum
McCann, Fred Vargas e o próprio Thirlwell
provam que criatividade não é monopólio da
modernidade. Depois, vem um segundo time,
liderado por Paul Auster. O desempenho do
Brasil na literatura mundial de qualidade é semelhante ao nosso número de medalhas nas
Olimpíadas ou, segundo os mais ponderados,
equivalente ao nosso papel internacional nas
competições de beisebol. Não se deve levar essa afirmação muito a sério, pois pode esconder
algum ressentimento ou um tanto de afetação.
O essencial do livro de Thirlwell é uma nova leitura do final de Casablanca. Quem tem
mais de 40 anos quase com certeza ouviu falar
desse filme em que Bogart “generosamente”
estimula a linda amante, Ingrid Bergman, a
embarcar num avião com o marido. Quem tem
de 50 anos a 100 anos certamente chorou com
essa cena. Quem tem menos de 30 anos, chorou com a Xuxa. Afinal, por que sofremos ao
ver Ingrid Bergman abandonar um medíocre
dono de bar para expatriados, no Marrocos,
para ir embora com seu marido, Victor Laszlo,
um corajoso judeu resistente tcheco? A hipótese de Thirlwell é de que não se trata de um
fim trágico como juram os românticos, mas de
um fim alegre. Um fim moral. Ainda que os
mais moralistas sejam paradoxalmente os românticos. Não se deve crer no cinema.
Caso a hipótese de Thirlwell não pareça
convincente, o seu romance permanece útil,
pois traz um alívio para quem sofre de ejaculação precoce: os surrealistas, conforme eles
mesmos declararam, gozavam numa velocidade incomparável. Exemplos. André Breton: 2
minutos e 20 segundos. O cara foi o papa do
surrealismo! Raymond Queneau, um grande
romancista: menos de um minuto. Benjamin
Péret: entre as carícias preliminares e o gozo,
ou seja, a relação sexual completa: em torno
de cinco minutos.
Observem o quanto o livro de um jovem pode ser decisivo para a vida das pessoas no
mundo inteiro. O leitor aprende brincando
(pedagogia lúdica), participa (interatividade
que, neste caso, não detalharemos por pudor)
e tira proveito (utilidade irrefutável). Fica sexualmente mais feliz (auto-ajuda).
Resolvido o problema Thirlwell, passo ao
segundo assunto, menos relevante, mas in-
fluenciado pelo anterior: Argentina e Brasil.
Kirchner é o grande estadista latino-americano do momento e está coberto de razão. A turma do Lulla vem sacaneando a Argentina desde o tempo em que tentou impedi-la de renegociar a sua dívida com o FMI, sugerindo que
seria um calote.
O Brasil faz o papel de puxa-saco dos americanos e condena os argentinos por não se
dobrarem. Nada mais moral do que dar o troco. Além disso, ter de suportar Hugo Chávez
como mediador de alguma coisa deve ser mais
insuportável do que ouvir Nando Reis em versão para jovens adultos vestidos de velhos
adolescentes. Fez bem o Kirchner de sair antes do tempo do Brasil. Imagino que tenha ido
para casa ler o romance de Adam Thirlwell.
Lulla foi jogar bola.
Dito isso, se o guarda-chuva for exatamente igual ao seu e não houver nenhuma vantagem em levá-lo (pegar um novo e deixar um
quebrado), esse ato pragmático não será moral nem imoral. Mas somente uma demonstração de espírito prático e idealista. Nem Kant
nem o seu vizinho poderão acusá-lo de ter
desrespeitado um imperativo categórico. Antes de qualquer atitude, não faça nada com o
guarda-chuva dos outros que não desejasse
que fizessem com o seu. É uma boa política.
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JUREMIR MACHADO DA SILVA SOCIEDADE