Ética e Auto-Ética Karina Araújo Campos. Psicóloga do Trabalho. “O Homem é a medida de todas as coisas; da existência das que existem e da não existência das que não existem”. Protágoras. A Ética, segundo o autor Edgar Morin, manifesta-se de forma imperativa como uma exigência moral. Para Morin, a Ética é originada numa fonte interior do indivíduo, como uma obrigação imposta, portanto, trata-se de uma exigência subjetiva. Morin, nos trás que, embora haja a tríade indivíduosociedade-espécie, que podem ser distintas, mas não isoladas uma das outras: são três fontes que se encontram na qualidade própria de cada sujeito. Dessa maneira, a proposta de Morin, é uma ética do gênero humano; essa ética supõe decisão de assumir a complexidade da condição humana, buscando a compreensão da humanidade na consciência de cada ser. O autor Morin trás para nosso cotidiano que a cultura passa a ser compreendida como a ação gerada por todos os seres humanos e que através dessa ação estão saberes produzidos pela humanidade desde os primórdios até a atualidade; sendo assim, a sociedade é definida por ele como uma complexidade de sujeitos humanos que, cada vez mais, buscam uma forma singular de ser. Nessa singularidade de cada sujeito, nessa auto-afirmação de cada sujeito, existe o princípio da exclusão e o princípio da inclusão. Morin nos ajuda a construir a concepção de ética e nos mostra o caminho apontado por ele para se alcançar à auto-ética. Vázquez, em sua concepção, nos coloca a ética como ciência da moral, isto é, de uma esfera do comportamento humano. É a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. O autor José Renato Nalini nos coloca que a manifestação mais comum da ética é o subjetivismo, pois consiste em cada indivíduo adotar para si a conduta ética mais convincente com sua escala de valores. Nalini baseia-se na teoria de Protágoras, onde “o homem é a medida de todas as coisas; da existência das que existem e da existência das que não existem”. Portanto, coloca que a aplicabilidade da ética se aplica à verdade de cada um, ou seja, da própria subjetividade; só terá valor para um indivíduo aquilo que ele entender como valioso; onde cada homem é a medida do bem e do mal em seu próprio parâmetro. Para a construção da auto-ética o indivíduo perpassa da exclusão (que significa que ninguém pode ocupar o espaço egocêntrico onde o EU individual se exprime) e pelo princípio da inclusão (que permite incluir o EU em NÓS). “O princípio da exclusão garante a identidade singular do indivíduo; o princípio de inclusão inscreve o Eu na relação com o outro”. (Morin. 2003. P. 20). Consequentemente, o fechamento egocêntrico faz com que o outro seja estranho e a abertura altruísta o torna um sujeito fraterno. Como Morin e Molini nos colocam, é a questão da subjetividade, pois existem alguns mais egoístas e outros mais altruístas. “Ser sujeito é associar egoísmos e altruísmos”. (Morin. 2003. P. 21) Através dessa colocação, Morin expõe que todo aspecto ético deve reconhecer o aspecto vital do egocentrismo e a potencialidade do desenvolvimento altruísta. Morin faz uma comparação entre a ética subjetiva com o aspecto místico , onde o dever ético emana de uma ordem de realidade superior à realidade objetiva, pois parece derivar de uma injunção sagrada, o que remete a uma herança de ascendência religiosa ética. A sustentabilidade dessa defesa está explícita na frase: “A fé inerente ao dever experimentado interiormente, no caso em que a ética não tem mais fundamento exterior, é a fé na própria ética”. A construção da auto-ética está ligada à religação com o outro, com a comunidade, com a sociedade e com a espécie humana, pois trata-se de uma religação individual, passando pelo processo de inclusão e exclusão. O ato de religar impõe um ato moral, que segundo Morin, é inato ao ser humano, ou seja, natural do ser humano; pois o indivíduo tende a religar com o outro e consequentemente criar a afetividade, levando o altruísmo, valor da religação. O princípio da religação altruísta é inerente ao ser humano e também o egocentrismo, que estimula o egoísmo. Essa relação altruísmoegocentrismo é a causa da relação de interesse humanos. O indivíduo altruísta trás para si a responsabilidade e a solidariedade, que são fontes éticas. A ética provém do surgimento de uma consciência moral individual, segundo Morin, também emergente da história do homem e do desenvolvimento complexo da relação indivíduo-espécie-sociedade. Essa consciência moral é individual, portanto relativamente, autônoma, o que exigiu grande progresso dessa individualidade historicamente. Morin faz uma importante ressalva quando coloca que essa universalização ética, seja qual for a identidade, começa à partir das grandes religiões, como o budismo, o islamismo, o universalismo europeu, o cristianismo, mas que trata-se de um universalismo limitado, devido a fanatismos religiosos e etnocentrismos nacionais. Os tempos modernos, para Morin, romperam com a ética em vários sentidos. A própria falta de ética está gerando um retorno à ética. Algumas universidades estudam a ética, não uma ética das profissões e sim uma ética do viver. Apesar de algumas atitudes éticas serem básicas para a própria sobrevivência do homem, alguns continuam agindo de forma vergonhosa. Por exemplo, é um absurdo ter que escrever um código de ética para dizer que devemos ter respeito à ecologia, ao meio ambiente, que não devemos poluir,l desmatar, que não podemos construir onde queremos, e ter que respeitar uma série de situações que estamos vivendo. Assim como Morin, Foucault coloca que o mundo moderno é uma consequência de processos descontínuos da história. O mundo vive uma conturbada crise de descoberta e prática do eu, do individual, quer dizer a prioridade de tudo gira em torno dos desejos do homem moderno, pois ele descobre que é sujeito do seu próprio desejo. Em conseqüência da descoberta do homem moderno, o homem inteiro vive uma falta de ética. Esta falta de ética resulta da necessidade de satisfazer os desejos de cada SER. O egoísmo ganha terreno. Para satisfazer os desejos, se necessário, os indivíduos atropelam outros e deixam o respeito, a solidariedade, a justiça em último plano ou após a satisfação do EU. Morim defende a idéia que para a construção da auto-ética é imprescindível um trabalho constante de auto-conhecimento, de autoelucidação e acima de tudo, de autocrítica. E que se trata de um caminho longo a percorrer, pois a própria autonomia individual acarretou a autonomia e a privatização da ética. A auto-ética precisa ser construída, processo esse de subjetivação, sendo essa a diferença entre a ética individual e ética social. Concluindo, a auto-ética é construída através da individualização da ética, onde o indivíduo é o próprio registro de seus valores, concebendo, portanto a auto-ética; onde a autonomia, do ser como senhor de si mesmo, singulariza sua existência ética. Criada à partir das próprias vivências existenciais, das próprias verdades e dos valores introjetados ao EU individual. Referências Bibliográficas Artigo: O pensamento da Ética. Edgar Morin. NALINI, José Renato. Ética Geral e Profissional. 4a Edição. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 2004. VAZQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 21a Edição. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2001.