UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CURSO: BIBLIOTECONOMIA DISCIPLINA: ESTÁGIO SUPERVISIONADO ALESSANDRA DA SILVA GALVÃO A IMPORTÂNCIA DE ATIVIDADES LÚDICAS PARA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DAS CRIANÇAS RECIFE 2006 ALESSANDRA DA SILVA GALVÃO A IMPORTÂNCIA DE ATIVIDADES LÚDICAS PARA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DAS CRIANÇAS Monografia apresentada à Professora Josefa Pereira Barbosa do Departamento de Ciência da Informação objetivando a obtenção de nota da Disciplina Estágio Supervisionado, para a conclusão do Curso de Biblioteconomia. RECIFE 2006 DEDICATÓRIA À meu pai (IN MEMORIAN), minha mãe e toda a minha família, que sempre me apoiou incondicionalmente. À meus amigos. Aos professores que contribuíram para a minha formação. Às crianças que participaram do Projeto Ler na Praça. AGRADECIMENTOS À minha família que sempre acompanhou meus passos e da qual recebi apoio fundamental para alcançar meu objetivo. À meus amigos, pelo apoio recebido. À Professora e orientadora Necy, pelo empenho e dedicação. Aos Professores Cecília Prysthon e Aldo de Lima, pela atenção e incentivo. À Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, pelo apoio para a execução do Projeto Ler na Praça. “Antes eu desenhava como Rafael, mas precisei de toda uma experiência para aprender a desenhar como as crianças”. Picasso RESUMO O trabalho aborda a importância da realização de atividades lúdicas para o público infantil, um mecanismo imprescindível para seu desenvolvimento cognitivo e indispensável para a socialização. O tema abordado trata a importância do incentivo à leitura como um instrumento para mudar a realidade social e o papel da Biblioteca Pública neste contexto. Nesta esfera, as atividades lúdicas foram realizadas no Projeto Ler na Praça, da Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, desenvolvido no estágio supervisionado. PALAVRAS-CHAVE: ATIVIDADES LÚDICAS; DESENVOLVIMENTO COGNITIVO-CRIANÇAS; CONTO DE FADAS; SOCIALIZAÇÃO-CRIANÇAS; PROJETO LER NA PRAÇA. SUMÁRIO INTRODUÇÃO....................................................................................................7 1 O CONTO DE FADAS E LITERATURA INFANTIL..................................8 1.1 A importância do incentivo à leitura............................................................10 2 A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS .............................................................11 2.1 A importância do desenho para as crianças................................................13 2.2 As brincadeiras e a infância..........................................................................15 3 AS ATIVIDADES LÚDICAS COMO MECANISMO PARA A SOCIALIZAÇÃO x O ISOLAMENTO CAUSADO PELO USO EXCESIVO DOS MEIOS ELETRÔNICOS....................................................16 4 O PROJETO LER NA PRAÇA......................................................................18 5 CONCLUSÃO...................................................................................................20 REFERÊNCIAS...................................................................................................21 ANEXO A.............................................................................................................23 ANEXO B.............................................................................................................24 . 7 INTRODUÇÃO A Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco situada no Centro do Recife foi fundada a 153 anos, funcionando como um espaço de cultura, informação e lazer. A missão da Instituição é suprir as necessidades informacionais dos usuários, e preservar a memória cultural e editorial do estado. A inclusão social está entre as principais diretrizes da BPE, que é freqüentada por um público diversificado, prestando atendimento a estudantes de escolas circunvizinhas e de todo o estado, pesquisadores, deficientes físicos e público em geral. A Biblioteca Púbica divide-se em vários setores para dar suporte às suas pesquisas. O Projeto Ler na Praça foi criado objetivando levar à leitura ao público da Praça Treze de Maio, dinamizando as atividades da Instituição e realizando a inclusão social através do incentivo à leitura. O Projeto estava desativado desde 1992, devido à escassez de recursos humanos. Em Outubro de 2005, surgiu a reativação do Projeto, sendo realizada por quatro estudantes do 8º Período do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Pernambuco, para a efetivação da Disciplina Estágio Supervisionado. O intuito da reativação do Projeto Ler na Praça é promover o acesso à leitura proporcionando a inclusão social pela Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, despertar o prazer pelo hábito de leitura no público em geral, realizar atividades lúdicas direcionadas ao público infanto-juvenil a fim de despertar o interesse pela leitura e proporcionar benefícios em vários âmbitos, contar histórias proporcionando momentos de lazer e utilizar o espaço público como um instrumento para e realização de atividades sócio-culturais. 8 1 O CONTO DE FADAS E A LITERATURA INFANTIL Os contos surgiram na Antigüidade e originaram-se a partir de narrativas maravilhosas. Foram divididos em contos maravilhosos, cuja origem é oriental, e contos de fadas, de origem celta. O conto de fadas pode ter ou não a presença destes seres. Coelho (1987,p.13) afirma: Com ou sem a presença de Fadas (mas sempre com o maravilhoso), seus argumentos desenvolvem-se dentro da magia feérica (reis, rainhas, príncipes, princesas, fadas, gênios, bruxas, gigantes, anões, objetos mágicos, metamorfoses, tempo e espaço fora da realidade conhecida etc.) e têm como eixo gerador uma problemática existencial. Os contos de fadas e os contos maravilhosos caracterizam-se pela presença do onirismo, e a literatura geralmente classifica ambos como contos de fadas. O conto maravilhoso não inclui a presença de fadas e está inserido num universo de magia. Coelho (1987, p.14) afirma que: São narrativas que, sem a presença de fadas, via de regra se desenvolvem no cotidiano mágico (animais falantes, tempo e espaço reconhecíveis ou familiares, objetos mágicos, gênios, duendes, etc.) e têm como eixo gerador uma problemática social ( ou ligada a vida prática,concreta). Ou melhor, trata-se sempre do desejo de auto realização do herói (ou antiherói) no âmbito sócio econômico, através da conquista de bens , riquezas, poder material, etc. A civilização Celta foi caracterizada pela ascensão cultural, sabedoria popular e religião politeísta, na qual animais e natureza eram venerados, praticavam-se rituais para conseguir uma boa colheita. Neste contexto de magia e misticismo nasceu o conto de fadas. Os romanos dominaram os celtas, e com isso, divulgaram sua cultura, que foi assimilada por povos de várias regiões. Os contos de fadas [...] são de origem celta, e surgiram como poemas que revelavam amores estranhos, fatais, eternos... Poemas que são apontados como células independentes mais tarde integradas no ciclo novelesco arturiano, essencialmente idealista e preocupado com os valores eternos do ser humano: os do seu espírito. (COELHO, 1987, p.13-14) 9 A palavra fada provém do latim fatum, que significa destino. As fadas são seres encantados, com poderes mágicos e admirável beleza, tem o poder de interferir no destino dos seres humanos, ajudando-os em situações críticas de sua vida. Personificam a valorização do amor, presenteando as pessoas com este sentimento. Os contos de fadas são uma analogia às dificuldades encontradas pelo ser humano na vida real, entre vários significados simbolizam que se tivermos perseverança, conseguiremos realizar nossos sonhos e trazem uma mensagem que gera reflexões. Esta é exatamente a mensagem que os contos de fada transmitem a criança de forma múltipla: que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana, - mas que se a pessoa não se intimida e se defronta de modo firme com as opressões inesperadas e muitas vezes injustas, ela dominará todos os obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa. (BETTELHEIN, 1980, p.14) A história dos contos de fadas assemelha-se à história da literatura infantil. Em sua origem, os contos de fadas eram voltados para os adultos. A literatura infantil surgiu oficialmente com o francês Charles Perrault e suas primeiras obras fazem apologia as causas feministas de sua época. Posteriormente, a publicação do conto Pele de Asno aborda este tema, nota-se uma preocupação em instruir as meninas. O marco inicial da literatura infantil dá-se com a publicação de Os oito contos da mãe Gansa em 1697, com os contos Chapeuzinho Vermelho, a Bela Adormecida, O Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, A Gata Borralheira, Henrique no Topete e O pequeno Polegar. No século XIX, os irmãos folcloristas alemães Jacob e Wilhelm Grimm, buscaram lendas e narrativas obtidas através de pesquisas realizadas com camponeses. Em 1812 foram publicados Os contos de Fadas para Crianças e Adultos. Suas publicações assemelham-se as de Perrault. Coelho (1987, p.75) afirma que: “Tanto em Grimm como em Perrault predomina a atmosfera de leveza, bom humor e alegria, que neutraliza os dramas ou medos existentes na raiz de todos os contos. Daí essa literatura entender-se tão bem com o espírito das crianças.”. O poeta dinamarquês Hans Cristian Andersen pesquisou com afinco dados da literatura popular nórdica, que inclui Dinamarca, Finlândia, Suécia e Noruega. Publicou centenas de contos infantis, intitulados Eventyr. Sua obra é um misto da literatura popular 10 já existente, com literatura de sua autoria. Andersen é considerado o grande criador da literatura infantil. Sua obra é repleta de sentimentalismo e expressa o ideal do romantismo da época e, ao contrário de Grimm e Perrault, há o predomínio da tristeza e alegria é escassa. Andersen, Perrault e os irmãos Grimm perceberam a importância de uma literatura especializada para crianças, acompanhando os valores de sua época. A literatura é um espelho que reflete o pensamento de uma época e seus valores sócioculturais. Anteriormente à Idade Moderna, não havia uma atenção especial voltada para a criança. Com a desarticulação do feudalismo, surgiu um novo modelo familiar burguês, houve uma valorização da infância, da relação mãe e filho, e o fortalecimento dos laços familiares. Neste contexto, percebe-se a necessidade de uma literatura especializada para crianças e surge a literatura infantil. Havia uma preocupação com a formação da criança. Várias obras impregnadas de valores morais, seguem uma linha de conduta apropriada. Atualmente há uma dualidade na literatura infantil. Há obras que têm a pretensão pedagógica. Alguns escritores infantis optaram por uma ruptura do modelo arcaico, suas obras estimulam a reflexão e o desenvolvimento do raciocínio crítico. A obra A Fada que Tinha Idéias da escritora Fernanda Lopez de Almeida, reflete a ruptura com o modelo anterior. A menina fada Cara Luz tinha idéias próprias, por isso recebeu a atenção especial dos adultos. O fascínio pelas fadas atravessou os séculos; elas são fonte de inspiração para escritores, poetas, cineastas e artistas. O conto de fadas, ao contrário de suas origens está atrelado à literatura para crianças. A literatura infantil é uma ponte para um mundo de sonho e fantasia, e um importante instrumento para o desenvolvimento das crianças. 1.1 A importância do incentivo à leitura O mundo atual está imerso em conflitos entre etnias e religiões, abuso de poder, violência e desigualdade social. O capitalismo, sistema político vigente, aguça as desigualdades sociais e nos países de terceiro mundo, o quadro é alarmante. 11 O Brasil possui um alto índice de analfabetismo. Segundo o IBGE, em 2004, 11,4% da população de quinze anos ou mais declarou não saber ler e escrever. Na região Nordeste, foram encontradas as taxas de analfabetismo mais elevadas, 29,5 % no estado de Alagoas. O país possui uma política educacional insatisfatória e não há uma cultura de leitura. A prática da leitura é fundamental para desenvolver o senso crítico nas pessoas, para que façam uma releitura da realidade, busquem melhores condições de vida, saibam tomar decisões, escolher seus representantes e reivindicar seus direitos. O incentivo ao hábito de ler na infância é fundamental. Mesmo criando as condições mais adequadas para favorecer o hábito leitura, muitas vezes nos escapam possíveis leitores_ sobretudo se o trabalho não for iniciado nas séries iniciais. Esta nos parece uma condição essencial: iniciar a criança o mais cedo possível no mundo da leitura; seduzi-la desde cedo para a riqueza interior que a leitura pode nos proporcionar [...]. (PINHEIRO, 2002, p. 29) O incentivo precoce à leitura é indispensável para realizar este trabalho de base. Pode-se estimular a criança através da escolha apropriada de livros infantis e outros recursos. Deve-se dar oportunidade para a criança se expressar, o que pode ser feito através de desenhos, sobre a história que foi lida. A criança se encanta com as gravuras em livros infantis, e chamar a atenção para a imagem é um meio para prender sua atenção. Nesta esfera, as bibliotecas dinamizam suas atividades e realizam Projetos de incentivo à leitura, contribuindo para o desenvolvimento do raciocínio crítico do público infantil, proporcionando benefícios em vários aspectos e realizando a inclusão social. 2 A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS A arte de contar histórias data de origens remotas. Os contos transmitidos de geração a geração através da memória popular foram alvo de estudo de folcloristas e estudiosos de várias áreas que os recolheram e transformaram em publicações impressas. 12 Nos velhos tempos, o povo assentava ao redor do fogo, para esquentar, alegrar, conversar, contar casos. Pessoas que viviam longe de suas pátrias contavam e repetiam histórias para guardar sua tradição e sua língua. Contar histórias tornou-se uma profissão em vários países, como na Irlanda e na Índia, Com o advento da imprensa, os jornais e os livros se tornaram o grande agente cultural dos povos. As fogueiras ficaram para trás. Os velhos contadores foram esquecidos, mas as histórias se incorporaram definitivamente a nossa cultura. Ganharam nossas casas através da doce voz materna, das velhas babás, dos livros coloridos para encantamento da criançada. E os pedagogos descobriram esta mina de ouro - as histórias. Os psicólogos aprovaram. Surgiu literatura infantil. Cassanata (apud BARCELLOS; NEVES, 1995, P. 12) A contação de história é um importante instrumento no incentivo ao hábito de leitura, pois desperta o prazer de ler na criança, que sente necessidade de conhecer outras histórias, em contato com este universo, desenvolve seu vocabulário lingüístico e poderá descobrir a Biblioteca, ampliando seus horizontes. Ao ouvir histórias a criança viaja num universo de sonho e fantasia. Ouvir histórias promove momentos de lazer e descontração, proporciona o desenvolvimento da imaginação, aguça o raciocínio e favorece o desenvolvimento cognitivo do público infantil. Nesta esfera, a utilização de Projetos Hora do Conto em Bibliotecas Públicas e escolares é freqüente, com o objetivo de proporcionar o entretenimento através do lúdico e incentivar o interesse pela leitura pela leitura. Chamamos de Hora do Conto uma seqüência de atividades realizadas por um grupo de crianças, coordenadas por um adulto (aqui chamado de coordenador). São atividades que envolvem necessariamente contato com o livro e procuram despertar interesse pela leitura. Campos & Bezerra (apud BARCELLOS; NEVES, 1995, p.15) Para selecionar histórias é necessário escolher histórias que tenham uma linguagem simples, para a compreensão da criança. Segundo Barcellos e Neves, (1995) há dois tipos de narrativa para a história, a narrativa simples, sem o livro nem recursos e a narrativa com livro. Para a narrativa com o livro é importante exibir as ilustrações do livro para as crianças, pois as imagens ajudam a despertar sua atenção para a história. O contador pode utilizar-se da criatividade para enriquecer a contação; recursos teatrais, usar um baú com objetos que caracterizem as personagens, fantasiar-se, pintar-se, utilizar fantoches, bonecos de dedo e recursos como a música e a dança. A utilização de 13 brincadeiras antes da realização da contação é um recurso para envolver as crianças num clima de alegria e descontração. Esta atividade foi descoberta pela psicanálise como um mecanismo eficaz na psicoterapia de crianças. Segundo Bettelheim (1980) o conto de fadas já era utilizado com pacientes da medicina hindu. Atualmente, vários profissionais utilizam este método para tratar crianças que sofrem de angústia, sofreram algum tipo de abandono ou tiveram de lidar com uma situação de luto. A experiência de Ateliê de Contos realizada na França pelo psicanalista brasileiro Celso Gutfreind e sua equipe comprovou através de resultados significativos a importância do conto para o tratamento de crianças. 2.1 A importância do desenho para as crianças O desenho sempre teve uma forte representatividade para o ser humano. Na PréHistória, a simbologia do desenho estava inserida num contexto de magia e misticismo, além do desejo de comunicação. O homem acreditava que ao desenhar um animal nas paredes das cavernas, teria mais chances de caçá-lo, acreditando assim, ter domínio sobre a natureza. A necessidade de representar sentimentos, sensações, atividades do seu cotidiano e o desejo de comunicar-se ocasionou o surgimento do desenho como a primeira forma de comunicação gráfica, antecedendo o surgimento da escrita. No Antigo Egito, onde havia o culto aos mortos o desenho era utilizado para a representação da vida cotidiana e para fins religiosos. Acreditava-se na vida após a morte e no retorno da alma ao mesmo corpo, que era embalsamado e colocado em uma câmara mortuária que possuía vários desenhos da pessoa para garantir a eternidade ao espírito e servir de guia para facilitar seu encontro ao corpo quando retornasse. Na cultura da Grécia Antiga predominava a valorização pela vida, o desenho estava direcionado para o estudo da anatomia e da beleza das formas. O desenho é um importante registro histórico que facilitou a compreensão da cultura de antigas civilizações. O desenho é a base mais importante para a representação de quase todas as formas de arte e evoluiu ao longo da história da arte, adquirindo uma diversidade de forma e 14 significados nas várias escolas artísticas. Surgiu uma valorização do desenho infantil, que serviu como fonte de inspiração para artistas como Picasso e Paul Klee. No final do século XIX, o desenho infantil despertou o interesse científico, sendo alvo de diversos estudos. Segundo Mèredieu (1987) no início, os estudos eram realizados na psicologia experimental, mas evoluíram , multiplicaram-se e foram inseridos na estética, psicologia, psicanálise, sociologia e pedagogia. O desenho foi introduzido no tratamento psicanalítico em 1926, na França, pela analista Sophie Morgenstern, que utilizou esse método para tratar uma criança de nove anos com mutismo. O tratamento através de desenhos foi bem sucedido e resultou na cura do distúrbio. Todos os analistas acreditavam que o desenho é fruto do inconsciente e possui uma estreita relação com o sonho. Atualmente, diversos médicos psicanalistas utilizam-se do desenho em ação conjunta com outros modos de expressão para tratar crianças. Através do desenho entramos no cerne das representações imaginativas do sujeito, de sua afetividade, de seu comportamento interior e seu simbolismo. Este nos serve para a orientação das conversas com a criança, depois de o termos tacitamente compreendido. F.Dolto (apud MEREDIÉU, 1974 p. 77) O desenho superou a visão de ser apenas uma atividade recreativa e possui aplicações na psicoterapia, psicopedagogia e educação. A primeira fase do desenho infantil é a fase do rabisco, pré-figurativa. A utilização da prática do desenho em Projetos A Hora do Conto é um método utilizado freqüentemente por contadores de história. Após ouvir a história, são utilizados papel e lápis de cor e a criança tem um período de tempo para o desenho livre. Esta utilização conjunta de atividades lúdicas têm resultados bastante significativos. A contação de história proporciona uma viagem ao mundo de fantasia e o encantamento da criança. Ao desenhar, esta tem a oportunidade de se expressar, exteriorizar seus sentimentos, o que ela captou da história e realizar uma atividade de lazer. Para Mèridieu (1974, p.6) “Na criança, o desenho é antes de mais nada motor; a observação de uma criança pequena desenhando mostra bem que o corpo inteiro funciona e que a criança sente prazer nesta gesticulação.” O desenho é uma forma de expressão muito importante para o desenvolvimento infantil e oferece vários benefícios; o desenvolvimento cognitivo e psicomotor, o desenvolvimento da imaginação, oferece bases para o desenvolvimento da escrita, desenvolvimento da auto-estima, favorece o contato com as cores, aguça o amadurecimento 15 emocional, o desenvolvimento da expressividade, exteriorização de sentimentos e promove o desenvolvimento da criatividade. 2.2 As brincadeiras e a infância Brincar faz parte da vida da criança desde cedo. A primeira experiência acontece quando o bebê descobre seu corpo e os objetos. Posteriormente, o nenê repete a experiência por acaso e surge uma maneira intencional de se relacionar com seu corpo e os objetos a seu redor. Com o crescimento, a criança desenvolve sua percepção e ocorre uma evolução natural do brincar, surgindo uma diversidade de formas e temáticas. A brincadeira é uma das formas de expressão mais importantes da infância e reflete a percepção da criança. A idade infantil é uma fase de aprendizado construção da personalidade. Os valores da infância estão incutidos na simbologia da brincadeira, e através dela a criança exterioriza seus anseios, medos, alegria e sentimentos. A criança usa a imaginação, cria, e usa a lógica ao brincar. A brincadeira é uma ponte de acesso ao universo infantil e tornou-se um importante instrumento na psicoterapia da criança. A psicanalista Melanie Klein realizou diversos estudos que inovaram a psicologia infantil, e utilizando a brincadeira para a psicoterapia da criança, surgiu a ludoterapia. Atualmente esta técnica possui aplicações na psicanálise, psicologia e psicopedagogia. A brincadeira é um mecanismo para a desinibição da criança. Promove a interação com as outras crianças, auxiliando no seu processo de socialização, imprescindível para que ela aprenda desde cedo a lidar com dificuldades que poderá enfrentar ao longo de sua vida. A utilização de brincadeiras em Projetos Hora do conto é fundamental. Este recurso é utilizado para criar a interação entre as crianças e o contador, envolvendo-a num clima propício de alegria e descontração e despertar sua atenção para a história a ser contada. A brincadeira é uma forma de expressão e entretenimento imprescindível para o bem estar físico e emocional da criança, beneficiando-a em vários âmbitos; estimula o raciocínio, favorece o desenvolvimento cognitivo, a socialização, o amadurecimento emocional e proporciona o desenvolvimento da imaginação e da criatividade. 16 3 AS ATIVIDADES LÚDICAS COMO INSTRUMENTO PARA A SOCIALIZAÇÃO x O ISOLAMENTO CAUSADO PELO USO EXCESIVO DOS MEIOS ELETRÔNICOS O desenvolvimento tecnológico promoveu um intenso avanço no campo da informação, comunicação e entretenimento. O surgimento da Internet representa um grande marco na era da tecnologia, visto que proporcionou o acesso a informação com eficiência e eficácia. Através da web, é possível falar com alguém de qualquer parte do mundo utilizando programas ou chats, visitar museus de arte, pesquisar sobre determinado assunto, e ter acesso a um universo de informação em sites de busca. A TV é um importante mecanismo para adquirir informação, diversão e cultura. Os seriados e desenhos animados estão mais complexos e seu elevado nível de elaboração exige o raciocínio do telespectador para entendê-los. Os jogos eletrônicos são um dos veículos de entretenimento mais utilizados, movimentando uma indústria milionária. Os games de computador e videogames são uma febre entre crianças e jovens, e a atividade de jogar pode ajudar a desenvolver o raciocínio. Entretanto, vários estudos comprovaram que o uso excessivo dos meios eletrônicos pode tornar-se um vício prejudicial ao desenvolvimento da criança e contribuir para o seu isolamento. O descontrole na exposição de crianças a TV pode resultar na absorção de conteúdo programático impróprio para sua faixa etária, além de desnorteá-las. A superexposição aos programas de televisão pode se transformar num vício que resulta na falta de interesse pela leitura. Segundo o consultor na área de educação Magno de Aguiar Maranhão, uma pesquisa realiza da pelo Instituto Americano de pesquisas IPSOS envolvendo dez países, entre eles EUA, china e Espanha, contatou que 43% das crianças brasileiras não lêem livros e 43% não brincam com amigos. A pesquisa também indicou que, entre os países pesquisados, crianças e adolescentes brasileiros são os mais expostos à TV. Independente do conteúdo veiculado já é um consenso que a televisão (assim como o computador) é capaz de exercer efeitos negativos sobre qualquer indivíduo se usada como principal ponte para o mundo, desestimulando-o a vivenciar as próprias experiências (o que mantém a mente em letargia e embota o senso crítico) tornando-o um mero voyer e fechando seus olhos a outras alternativas de entretenimento e informação. (MARANHÃO, 2005) 17 Quando o uso excessivo da internet e jogos torna-se um vício para as crianças, além de prejudicar sua alimentação e horário de dormir, pode prejudicar seu interesse pela prática de esportes e suas atividades cotidianas, e resultar em seu isolamento , levando-a a fechar-se num mundo particular. O quadro referente ao uso descontrolado dos jogos é preocupante. Diversos estudos comprovaram que o vício em jogos eletrônicos gera problemas psicológicos em crianças e adolescentes, além do risco de obesidade. Além disso, acredita-se que o excesso de violência em alguns jogos, podem exercer influência negativa sobre o seu comportamento. Ocorre a banalização da violência em alguns jogos, e controlar seu uso buscando a classificação por faixa etária não é tarefa fácil, visto que muitos jogos comercializados em lojas estão disponíveis na Internet. O uso excessivo dos games, Internet e TV pode contribuir para o isolamento das crianças, sobretudo as tímidas, prejudicando seu processo de socialização, imprescindível na infância, seu desenvolvimento e ocasionando que se tornem possíveis portadoras de doenças psicossomáticas.A realização de atividades lúdicas é um instrumento para a socialização da criança e traz benefícios ao seu desenvolvimento cognitivo. Neste sentido, as Bibliotecas Públicas dinamizam suas atividades e realizam Projetos de incentivo à leitura associados a atividades lúdicas. A utilização de atividades como a Hora do Conto é freqüente em Bibliotecas Públicas e escolares. A contação de história tem o intuito de despertar na criança o prazer pela leitura e proporcionar momentos de descontração. A prática de atividades lúdicas como a contação de história, as brincadeiras, o desenho, etc. promove benefícios para o público infanto-juvenil em vários âmbitos; através da contação de história ocorre a interação entre as crianças . A atenção que elas recebem é um passo importante para sua socialização, pois a experiência emocional está incutida neste processo. No convívio social, a criança aprende a lidar com situações difíceis que possam surgir ao longo de sua vida. O lúdico exerce um papel indispensável para o desenvolvimento do raciocínio, pois aguça a imaginação da criança, o desenvolvimento da coordenação motora e desenvolvimento da criatividade, fundamental para que sejam bem sucedidas posteriormente. É imprescindível incentivar a presença em bibliotecas desde cedo para que as crianças conheçam este universo de informação, entretenimento e interação com a sociedade. Os meios eletrônicos devem ser utilizados adequadamente como um complemento para o aprendizado e entretenimento de crianças e adolescentes e não como fonte única para este processo. 18 4 O PROJETO LER NA PRAÇA A Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco foi fundada a 153 anos, funcionando como uma Instituição de informação e cultura. Sua missão é suprir as necessidades informacionais dos usuários e preservar a memória editorial e cultural do Estado. A Biblioteca Pública possui uma política voltada para a inclusão social e seu público freqüentador é diversificado. Nesta esfera, a biblioteca está dividida em vários setores para dar suporte as suas pesquisas com qualidade e eficácia. O setor infanto-juvenil realiza atividades lúdicas objetivando estimular o hábito de leitura. Entre os trabalhos de incentivo à leitura realizados pela Biblioteca Pública, destaca-se o Projeto Ler na Praça, que estava desativado desde 1992, devido à escassez de recursos humanos. Em outubro de 2005 surgiu a reativação do Projeto, realizada por quatro estudantes do oitavo período do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Pernambuco, para a efetivação da Disciplina Estágio Supervisionado. Foram realizadas reuniões com a diretora da BPE, Gleide Costa Vitor, a orientadora do estágio supervisionado e a chefe do Setor de Atendimento ao Público Erilene Parísio, nas quais estabeleceu-se que as estudantes seriam responsáveis pela reativação do Projeto Ler na Praça. O objetivo da realização do Projeto Ler na Praça é promover o acesso à leitura, dinamizar as atividades da Biblioteca Pública realizando a inclusão social, despertar o interesse pela leitura no público em geral, e estimular a freqüência à biblioteca, realizar atividades lúdicas direcionadas ao público infanto-juvenil para despertar o prazer pela leitura e beneficiar seu processo de desenvolvimento. A participação da BPE na "V Bienal Internacional do Livro em Pernambuco", realizada no período de 09 a 16 de outubro, incluiu diversas atividades lúdicas e contações de história, o que proporcionou a observação e participação como ouvinte. A renomada escritora Leda Maia deu-nos orientações acerca de como proceder nas contações de história e seu trabalho serviu de fonte de inspiração. A "V Bienal do livro em Pernambuco” surtiu efeito de laboratório para a posterior realização do Projeto Ler na Praça. As reuniões durante a execução do Projeto foram realizadas no Setor Infanto-Juvenil da Biblioteca e as atividades de contação de história foram realizadas na Praça 13 de Maio nas sextas Feiras pela manhã, às 10:00h e à tarde, às 15:00h. A metodologia utilizada na primeira etapa foi a seleção de livros observando alguns aspectos; a linguagem das histórias deveria ser simples, as histórias selecionadas deveriam 19 seguir um padrão que podessem ser contadas tanto para crianças menores quanto para outras pessoas, tendo em vista a diversidade do público alvo. As histórias deveriam ser engraçadas e despertar a imaginação proporcionando uma viagem ao mundo da fantasia. Para a realização das contações de história foi escolhido um local estratégico, perto de brinquedos, onde há geralmente uma grande quantidade de crianças, perto do portão de entrada a fim de despertar a atenção do público que ingressa no parque. A divulgação foi realizada através da confecção de materiais, visando realizar o marketing da BPE e divulgar o Projeto, entre eles, camisas, banners, panfletos, cartazes e marcadores de página. O Projeto Ler na Praça foi divulgado na mídia, em matéria do Jornal Folha de Pernambuco. Buscou-se parcerias objetivando a doação de livros para estimular o hábito de leitura. A princípio, surgiram dificuldades. Posteriormente, conseguiu-se parcerias com a Caixa Econômica (confecção de camisas), a Editora Ática e a Livraria Luz e Vida (doação de livros). No início, foram selecionadas as histórias Deu a Luca no computador do céu, (Jafe Borges), Chapeuzinho Vermelho, (Chico Buarque), Strega Nona a avó feiticeira (Tomie de Paola) e o Gato de botas (Irmãos Grimm). As quatro histórias formaram a programação do mês de novembro. Antes da contação de história foram feitas chamadas convidando as pessoas presentes no parque a participar, objetivando alcançar um público maior. Para enriquecer a atividade, foram utilizados vários recursos teatrais, fantoches, um baú e objetos que caracterizavam os personagens e a história. Ao término da história, foram oferecidos papel e lápis de cor e as crianças tiveram tempo para o desenho livre. No encerramento da atividade, foram distribuídos livros, para estimular o hábito de leitura. No mês de dezembro, a diretora da Biblioteca Pública Gleide Costa Vitor ficou responsável pela seleção de histórias as quais foram contadas pelas escritoras infantis convidadas Luciana Mendonça e Cristiane Quintas. O Projeto Ler na Praça alcançou um grande público, de várias idades e classes sociais e contribuiu para a formação do público infantil. 20 5 CONCLUSÃO O Projeto Ler na Praça da Biblioteca Publicado Estado de Pernambuco foi reativado em outubro de 2005, objetivando incentivar o prazer pela leitura e estimular a freqüência no Setor Infanto-Juvenil da Instituição, dinamizando suas atividades e exercendo a inclusão social. As atividades realizadas no Parque Treze de Maio comprovaram que a unidade de informação é forte e atuante, e presta serviços à comunidade independente do espaço físico. A contação de história realizada às sextas-feiras alcançou um grande público infantil e pessoas de várias faixas etárias. O incentivo à leitura é imprescindível na infância, visto que quanto mais precocemente a criança for incentivada, mais chance terá de desenvolver o hábito de leitura. Neste sentido, foram distribuídos livros para as crianças, obtidos através de parcerias, para que conhecessem a literatura infantil e se encantassem com este universo de sonho e fantasia. As crianças se encantaram com as contações, das quais participaram ativamente. Gostaram muito da prática do desenho e das brincadeiras, utilizadas para descontrair e enriquecer a atividade, e dar-lhes oportunidade de livre expressão. Várias crianças passaram a freqüentar o Parque para participar das contações de história. A reativação do Projeto Ler na Praça deu uma nova visibilidade a Biblioteca Pública do Estado,utilizando o lúdico como instrumento de incentivo à leitura e contribuindo para a formação do público infantil. Atualmente, o Projeto é realizado pela equipe de funcionários do Setor Infanto-Juvenil da Instituição. 21 REFERÊNCIAS BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. 6. ed. São Paulo: Ática,1995.109p. BARCELLOS, Gládis Maria Ferrão; NEVES, Iara Conceição Bitencourt. Hora do Conto: da fantasia ao prazer de ler: subsídios para a sua realização em Bibliotecas Públicas e escolares. Porto Alegre: Sagra_DC Luzatto, 1995.136p. BETTELHEIN, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 13. ed. Tradução Arlene Caetano. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.366p. (Literatura e teoria literária, v.24). CASTRO, Daniel. TV e infância. Folha de São Paulo, São Paulo, 17 out. 2004. Disponível em: < http:// observatório. ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp? cod= 299 Asp020 >. Acesso em 02 mar.2006. 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