Insper Instituto de Ensino e Pesquisa
Faculdade de Economia e Administração
Renan Criscio
ANALISANDO ANALISTAS: ATE QUE PONTO
RECOMENDAÇÕES GERAM VALOR?
São Paulo
2014
Renan Criscio
Analisando analistas: Até que ponto recomendações geram valor?
Monografia apresentada ao curso de Ciências
Econômicas, como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel do Insper Instituto
de Ensino e Pesquisa.
Orientador:
Prof. Michael Viriato Araújo – Insper
São Paulo
2014
1
Criscio, Renan
Analisando analistas: Até que ponto recomendações geram
valor? / Renan Criscio. – São Paulo: Insper, 2013.
32 f.
Monografia: Faculdade de Economia e Administração. Insper
Instituto de Ensino e Pesquisa.
Orientador: Prof. Michael Viriato Araújo
1.Investimento 2. Analistas de Investimento 3. Finanças 4.
Recomendações
2
Renan Criscio
Analisando analistas: Até que ponto recomendações geram valor?
Monografia apresentada à Faculdade de
Economia do Insper, como parte dos requisitos
para conclusão do curso de graduação em
Economia.
Aprovado em Junho 2014
EXAMINADORES
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Michael Viriato Araújo
Orientador
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Maria Kelly Venezuela
Examinador(a)
Prof. Dr. Marco Túlio Pereira Lyrio
Examinador(a)
3
Resumo
CRISCIO, Renan. Até que ponto recomendações de analistas geram valor para as ações?. São
Paulo, 2013. 37p. Monografia – Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de
Ensino e Pesquisa.
O presente estudo almeja analisar o valor criado pelas recomendações de analistas de
investimento. Esses profissionais são foco de estudos principalmente relacionados a: (i)
acurácia das previsões de resultados, (ii) a tendência do analista em recomendar mais a
compra de ações do que venda e (iii) que tipo de valor essas recomendações geram para as
ações, este último sendo o foco principal do presente estudo.
A conclusão que se chega é que, de fato, recomendações de analistas geram valor no Brasil.
Em um mercado repleto de assimetria de informações e pouco líquido, a recomendação de um
analista, que possui reputação e estudo de informações que muitas vezes possuem acesso
restrito por serem pouco conhecidas ou pagas, tem capacidade de guiar o mercado, gerando
retornos anormais para quem os acompanha.
Palavras-chave: analistas, viés, acurácia, valor, recomendações.
4
Sumário
1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2 Revisão Bibliográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.1 A Acurácia dos analistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Viés de recomendação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3 Recomendações de analistas têm valor?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
3.1 Apresentação da base de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.2 Abordagem metodológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.3 Tópicos adicionais a serem analisados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
4 Análise de Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
5 Conclusão . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25
6 Limitações da análise e oportunidades para futuras pesquisas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Apêndice. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30
5
Lista de tabelas
Tabela 1: Número de recomendações em vigor dentro do índice. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17
Tabela 2: Retorno Excedente: Horizonte de 3 dias após a recomendação . . . .. . . . . . . . . .21
Tabela 3: Retorno Excedente: Horizonte de 5 dias após a recomendação . . . .. . . . . . . . . .21
Tabela 4: Retorno Excedente: Horizonte de 10 dias após a recomendação . . . .. . . . . . . . . .22
Tabela 5: Retorno Excedente: Horizonte de 30 dias após a recomendação . . . .. . . . . . . . . .22
Tabela 6: Retorno Excedente: Horizonte de 60 dias após a recomendação . . . .. . . . . . . . . .22
Tabela 7: Retorno Excedente: Horizonte de 120 dias após a recomendação . . . .. . . . . . . . . 23
Gráfico 1: Evolução das recomendações em vigor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . 18
6
1 Introdução
O presente estudo tem como objetivo principal pesquisar se recomendações de
analistas de investimentos geram valor no mercado brasileiro. O investidor de carteira ativa
almeja retornos, no mínimo, iguais aos retornos obtidos pela carteira de mercado e é
importante estudar se, para esse investidor de carteira ativa, vale a pena seguir e alocar seus
ativos com base nas recomendações de consenso dos analistas de investimento. Dessa forma,
o presente estudo levanta as seguintes questões: portfolios montados com base em
recomendações de analistas estão gerando mais retorno do que o mercado? Até que ponto
essas recomendações geram valor?
Os analistas de investimento são responsáveis por estudar informações públicas tanto
macro quanto micro-setoriais e utilizá-las como base para projeção de resultados financeiros
futuros de empresas. Uma vez projetado os resultados, o analista utiliza técnicas de avaliação
para encontrar um valor justo para as ações dessas empresas e, com isso, chegar a uma
recomendação de compra, venda ou manutenção da posição na ação. Diz-se que é uma
profissão responsável por minimizar a assimetria de informação para guiar o mercado em uma
direção eficiente, com a precificação justa dos ativos em negociação. Vale lembrar que, por
"precificação justa", entende-se que o ativo reflete o valor presente de todos os fluxos de
caixa gerados por ele, descontados à taxa de risco deste ativo (para mais informações sobre a
profissão de analistas de investimento, ver Apêndice 1).
Neste ponto, vale uma nota para definir "Eficiência de Mercado". Fama (1965)
disserta que um mercado é dito eficiente se os preços sempre refletem toda a informação
disponível. Existem três formas de eficiência de mercado: (i) fraca, em que os preços refletem
apenas a informação sobre os preços passados, (ii) semi-forte, em que os preços incorporam
toda a informação pública disponível e (iii) forte, em que os preços dos ativos refletem toda a
informação disponível, tanto pública, quanto privada (também chamada de informação
privilegiada). De maneira geral, investidores no mercado não possuem acesso a toda a
informação pública disponível (seja porque algumas informações são providenciadas por
consultorias que cobram pelos dados setoriais ou porque as informações não foram
amplamente divulgadas e absorvidas pelo mercado). Dado que nem todos os investidores
possuem acesso a essa informação, o analista de investimento seria, então, o responsável por
providenciar toda a informação pública, com as respectivas análises conjunturais, para que
essa informação seja incorporada nos preços dos ativos. Vale lembrar que o analista guia o
10
mercado em direção a eficiência semi-forte pois, mesmo se tiverem algum tipo de informação
privilegiada, não são autorizados a divulgarem aos investidores.
O estudo se destina principalmente a acadêmicos de finanças e analistas de
investimento. Para esse público alvo, o estudo se faz relevante pois apresenta uma análise
sobre o tipo de valor que os profissionais agregam ao mercado financeiro no Brasil. Ainda, é
importante detectar se esse valor é resultado de um mercado financeiro menos desenvolvido e
com mais assimetria informacional (quando comparado com o mercado americano, por
exemplo).
Observando a literatura, é possível encontrar diversos estudos, que serão discutidos ao
longo do projeto, testando (i) a qualidade das projeções de lucros/fluxos de caixa das
empresas realizadas pelos profissionais, (ii) a acurácia na previsão do target price1 das ações e
(iii) o viés decisório pelo qual eles passam no momento em que realizam uma recomendação.
Entretanto, poucos são os que fizeram um estudo mais aprofundado sobre se as
recomendações de fato geram valor para o mercado.
Ao longo deste estudo, além da análise principal dos retornos das recomendações, será
discutida brevemente e com base na literatura a acurácia dos analistas em suas projeções.
Lang, Lins et al.(2003) mostram que, quanto mais precisas forem as estimativas, menores são
as incertezas quanto ao futuro das companhias e maior o valor das empresas, através da
redução da assimetria de informação e redução do risco de investimento (que reduziria a taxa
de desconto).
Outro ponto discutido é o processo de decisão do analista e a tendência de um
profissional fazer mais recomendações de compra do que recomendações de venda. O que se
conclui com base em artigos que serão discutidos na Seção 2 é que analistas possuem um viés
positivo na hora de prever resultados futuros das empresas. Dessa forma, o resultado que se
tem é um número maior de recomendações de compra do que recomendações de venda no
mercado. Os motivos para esse viés, segundo os artigos são: (i) gerar mais negócios para a
corretora, isto é, promover mais corretagem/receita e (ii) promover e divulgar um ambiente
externo otimista, assim, o mercado pode se animar com a atmosfera e aumenta a vontade de
realizar mais fusões e aquisições, o que geraria mais receita para os bancos.
Schipper (1991) foca em um outro ponto sobre esses incentivos e afirma que os
analistas tendem a sobrevalorizar as companhias para manter um bom relacionamento com os
executivos das mesmas e, assim, conseguir ter acesso a mais informação.
1
Target Price é o termo designado para o valor justo que os analistas atribuem para determinada ação, o target
pode ser o valor justo da ação hoje ou ao final de determinado período
11
Na Seção 2, encontra-se uma revisão bibliográfica que cobrirá não só o assunto
central do estudo, mas também tópicos que são complementares ao tema. Posteriormente, na
Seção 3, será apresentada a metodologia utilizada, bem como a base de dados para auxiliar na
tomada de decisão e na conclusão do trabalho. A Seção 4 apresentará os resultados obtidos na
implementação do modelo, contendo tabelas e interpretação do autor para tais resultados. Por
fim, na Seção 5, a conclusão terminará o trabalho e passará por todas as teses desenvolvidas
durante o estudo e suas respectivas conclusões para cada uma delas.
12
2 Revisão Bibliográfica
Quando se fala de analistas de investimento, três tópicos são comumente levantados:
(i) a qualidade e acurácia dos analistas quanto as suas projeções de resultados, (ii) o viés de
recomendação enfrentado pelos analistas, que tendem a gerar mais recomendações de compra
do que de venda e (iii) questionamentos sobre o valor que as recomendações geram para as
ações, que será o foco de estudo do presente trabalho. Esta seção tratará destes três temas
separadamente, levando em conta trabalhos acadêmicos:
2.1 A acurácia dos analistas
A importância da profissão de analista está no sentido de guiar o mercado em
direção a eficiência, providenciando toda a informação disponível no mercado para
seus clientes, reduzir a assimetria de informação no mercado e fazer com que todos os
ativos sejam negociados de forma que todos os participantes do mercado possuam
toda a informação disponível, e chega-se ao mercado dito eficiente na forma semiforte (Fama, 1965). Lang, Lins et al. (2003), acrescenta mais ainda na análise e
disserta que quanto mais precisas forem as projeções dos analistas, menores serão as
incertezas, o que reduz o custo de capital das empresas e aumenta o valor de mercado
das mesmas.
Sendo assim, muitos destes estudos focam na qualidade e na acurácia das suas
projeções. Thomas (1993), por exemplo, destaca que o método pelo qual o analista
realiza suas projeções depende de uma série de fatores, incluindo (i) a influência que o
analista tem sobre o investidor marginal; (ii) se o analista procura chegar a uma
previsão de lucro exato, que persistirá futuramente e (iii) se há incentivos para que o
analista estime os lucros mais exatos possíveis.
No mercado brasileiro, um dos primeiros estudos sobre os analistas e sua
eficácia na previsão de retornos é o trabalho de Da Silva (1998), que destacou a maior
qualidade das previsões dos analistas quando comparadas com modelos estatísticos
(em seu estudo, utilizou um modelo de série temporal, isto é lucro passado explicando
o lucro futuro).
Villalobos (2005), em sua dissertação, conclui que os analistas no Brasil não
parecem prever melhor do que modelos estatísticos. Ela também ressalta que a
instabilidade econômica no Brasil (país em desenvolvimento) pode influenciar no
tamanho do erro de projeção. Em países mais desenvolvidos, como por exemplo os
13
Estados Unidos, ela afirma que a estabilidade econômica permite que os analistas
errem menos nas previsões. Ainda, observando o mercado brasileiro, Martinez (2004)
conclui que os analistas de empresas brasileiras foram otimistas em termos médios,
isto é, de maneira geral, sobrevalorizavam os resultados das empresas analisadas no
período de 1995-2002. Esse resultado é importante pois levanta a questão sobre o viés
de recomendação dos analistas, tema que será discutido na próxima seção.
2.2 Viés de recomendação
Outro ponto relevante quando se trata de recomendações de analistas está
relacionado ao suposto viés decisório que os analistas enfrentam, em que há uma
preferência por parte dos profissionais em recomendar a compra de ações.
Kothari (2001) destaca dois motivos principais para esse comportamento por
parte dos profissionais:
(i) há incentivos econômicos para os agentes agirem dessa forma. O analista de
investimentos trabalha para um banco de investimento, que ganha receita (entre
outras atividades) através de emissão de títulos e realização de fusões e aquisições.
Dessa forma, projeções mais otimistas podem ajudar o banco a fazer mais negócios
e gerar mais receita. Em linha com esse raciocínio, Lin & McNichols (1998)
também concluem que um analista que trabalha um banco de investimentos tende a
emitir previsões mais otimistas. O autor ressalta, ainda, que analistas podem emitir
projeções otimistas sobre as empresas de cobertura para manter o bom
relacionamento com a diretoria da empresa e obter acesso a informações
importantes sobre as ela, corroborando com Schipper (1991) em sua análise.
(ii) Viés comportamental - cognitivo: a tese do autor é a de que os analistas tendem
a ter uma resposta a notícias positivas maior do que a resposta a notícias negativas.
Eames, Glover et al. (2002) afirma que o analista, quando realiza suas projeções, já
tem em mente a recomendação.
14
2.3 Recomendações de analistas têm valor?
Este tema já foi amplamente abordado por autores mundo afora. Cowles
(1933), por exemplo, conclui que recomendações de analistas não geram retornos.
Shukla & Trzcinka (1992) explicitam evidências de que gerentes de fundos não
desempenham melhor do que benchmarks passivos.
Por outro lado, Womack (1996) e Elton et al. (1986) encontraram retornos
maiores (menores) em papeis que receberam recomendação de compra (venda) num
horizonte de um a seis meses após a recomendação. Barber et al. (2001) avançou a
análise um pouco mais e conseguiu encontrar retornos maiores ainda quando se adota
uma estratégia de investimento no qual se compra as ações altamente recomendadas e
vende as ações com recomendação de venda. Stickel (1991) demonstra que as
empresas que tiveram previsões revisadas para cima conseguem obter um retorno
anormal durante os próximos 3 a 12 meses.
A respeito da reação do mercado às revisões de recomendações, é razoável
pensar que a reputação do analista em questão é algo relevante, isto é, quanto
melhores forem as previsões do analista no passado, mais o mercado responderá em
direção ao que o profissional recomenda. Entretanto, Clement & TSE (2003)
concluem que o mercado não leva em conta o passado do analista. É possível que isso
aconteça porque os investidores confiam mais nas instituições que empregam os
analistas (bancos ou corretoras) do que no analista em si. O trabalho de Barber et al.
(2000) estuda essa tese e conclui que recomendações de compra feitas pelas maiores
corretoras geram maior desempenho do que recomendações de pequenas corretoras. O
resultado foi inverso para recomendações de vendas, nesse caso, as menores corretoras
promoveram um retorno anormal superior.
A literatura apresenta-se aparentemente dividida com relação aos retornos
gerados pelas recomendações. Assim, o objetivo do presente trabalho é aplicar a
questão do valor das recomendações para o mercado brasileiro. Ao final desse estudo,
é esperado concluir: (i) se os analistas de investimento agregam valor às ações no
mercado brasileiro, (ii) se uma carteira ativa composta por ações recomendadas por
analistas geram retornos acima dos retornos de mercado e (iii) se as conclusões desse
estudo são reflexo de alguma característica do mercado financeiro brasileiro.
15
3 Metodologia
De maneira geral, um investidor se preocupa sempre em assegurar retornos. O
investidor de carteira ativa, que tende a prestar atenção nas recomendações de analistas,
espera obter retornos acima daqueles obtidos por uma carteira passiva (normalmente indexada
por índices de mercado). Dessa forma, é importante começar a seção metodológica
introduzindo o conceito de retornos ajustados pelo mercado.
Retorno ajustado pelo mercado será o retorno excedente de uma ação
comparativamente com o retorno de mercado. O racional, basicamente, está relacionado com
o fato de que, se o mercado está com retornos positivos, os preços das ações de maneira geral
estão subindo e as recomendações só gerariam valor se os retornos das ações positivamente
recomendadas superarem o retorno do mercado. Supondo uma situação em que uma ação
produza um retorno de 10% em um mês após a recomendação de compra de um analista. Pode
parecer que a recomendação efetivamente gerou valor, entretanto, se o mercado no mesmo
período subiu 15%, o investidor ativo não conseguiu obter retornos maiores do que o mercado
e, portanto, a recomendação dos analistas não foram suficiente para o investidor conseguir
retornos anormais. Sendo assim, é interessante para o investidor que, em média, carteiras com
recomendação de compra tenham retornos acima do mercado.
Além de observar o retorno excedente comparado com o mercado, também seria
importante controlar os retornos das carteiras recomendadas pelos riscos. Uma relação básica
que se tem no mercado financeiro é que quanto maior o risco, maior será o retorno desejado
pelo investidor. Sendo assim, supondo o seguinte cenário: uma carteira com a recomendação
de compra e um beta2 de 2 (𝛽! = 2), tenha um retorno de 15% enquanto o mercado (𝛽! = 1)
como um todo apresentou um retorno de 10%. Por mais que a carteira tenha obtido um
retorno 5% maior do que o retorno de mercado, não parece que esse retorno tenha remunerado
o risco maior dentro de um cenário em que as taxas livre de risco do país giram em torno de
10%. Dessa forma, a recomendação de compra gerou um ganho acima do mercado, mas não
remunerou o risco do investidor.
Os retornos calculados nessa seção também são feitos supondo que não há custos de
transação.
2
Beta de uma carteira é o indicador de risco sistemático utilizado no modelo de precificação de ativos CAPM. A
medida é o que define a relação entre o retorno de um ativo e o retorno de mercado. Quanto maior for o beta de
um ativo, maior deve ser o retorno deste ativo com relação ao retorno de mercado para recompensar esse risco
maior. O Beta de uma carteira de mercado é igual a 1 (Ξ² = 1). O retorno de um ativo é definido por: 𝑅! = π‘Ÿ! +
𝛽! (𝑅! βˆ’ π‘Ÿ! )
16
Finalmente, o estudo conta com a base de dados histórica de recomendações de
consenso coletadas na Bloomberg para ações que compunham o índice Ibovespa até o
momento de início do projeto. É importante que sejam empresas que estejam dentro do índice
pois a liquidez é um fator importante para as ações quando se analisa os retornos acumulados
das mesmas.
3.1 Apresentação da base de dados
O estudo que segue se baseia na coleta do histórico de recomendações de
consenso do início de 2007 ao final do ano de 2012, coletada na Bloomberg, para um
grupo de 72 ações que contemplam a última carteira do índice Ibovespa divulgada até
o dia 27 de Setembro de 2013 (veja Apêndice 2 para empresas que faziam parte do
índice na época). Caso uma ação esteja com dois tickers (códigos) dentro do Ibovespa,
será utilizado o código que contém o maior número de recomendações.
As estatísticas das recomendações colhidas seguem:
Tabela 1: Número de recomendações em vigor dentro do índice
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Total 484 629 802 900 1.129 1.156 1.136 1.065 Comprar 309 (64%) 410 (65%) 489 (61%) 501 (56%) 617 (55%) 643 (56%) 475 (42%) 514 (48%) Manter 146 (30%) 180 (29%) 238 (30%) 323 (36%) 419 (37%) 406 (35%) 493 (43%) 426 (40%) Vender 30 (6%) 39 (6%) 75 (9%) 76 (8%) 93 (8%) 107 (9%) 168 (15%) 125 (12%) Dentro do índice Ibovespa, para as 66 ações estudadas (excluindo as
repetições), o número encontrado para o total de recomendações em vigor no ano de
2006 foi de 484, dentre as quais 309 eram recomendações de compra (64%), 146
recomendações de manutenção de posição (30%) e apenas 30 recomendavam venda
das ações (6%). Com o passar dos anos, nota-se que, ao final do ano de 2013, o
número de recomendações chegaram a 1065, sendo que 514 eram de compra (48%),
426 de manutenção (40%) e 125 de venda (12%). Apesar de a participação da
recomendação de "Manter" ter aumentado nos números observados, ainda pode ser
notada uma clara preferência dos analistas pela recomendação de compra. A exceção
do ano de 2012, todos os outros anos foram marcados por uma maioria de
17
recomendações de compra. O maior número de recomendações de manutenção que
aconteceu no ano de 2012 pode ser explicada pelo fraco desempenho da economia
brasileira no ano, com crescimento de apenas 0.9%. Essa desaceleração pode ter
encorajado os analistas a revisarem (para baixo) suas estimativas futuras de
crescimento da economia e consequente revisão para baixo de lucro das empresas, o
que prejudicaria a geração de caixa futura das mesmas e, reduziria o valor das
empresas no presente, acarretando em maiores recomendações de manutenção ou até
mesmo, venda.
Gráfico 1: Evolução das recomendações em vigor
700 Comprar Buy Hold Manter Sell Vender 600 514 500 426 400 300 200 125 100 0 Outra maneira de observar esse avanço das recomendações de manter, mas que
ainda pode confirmar o viés otimista dos analistas é através do gráfico 1, que mostra
como se comportou a evolução das recomendações dos analistas a cada mês dos anos
analisados. Novamente, se observa uma trajetória em que a recomendação de compra
compõe a grande parte das recomendações dos analistas. Também é interessante
observar o período destacado que contém a trajetória das indicações dos analistas no
período de emergência da crise de 2008. No período, as recomendações de compra,
que somavam 494 entre as ações do Ibovespa em Outubro de 2008, caíram para 376
em maio de 2009. Recomendações de manter avançaram de 228 para 306 e as
recomendações de venda, de 60 para 104. Os motivos para esse movimento são claros,
uma vez que o cenário econômico se deteriorou e impacta negativamente as projeções
de lucros para a maioria das empresas.
18
3.2 Abordagem metodológica
A metodologia aplicada pode ser definida passo-a-passo da seguinte forma:
(i) Para cada uma das ações, será observado o retorno ajustado pelo mercado após
a recomendação em cinco períodos distintos: 3, 5, 10, 30 e 60 dias. O objetivo
dessa análise é observar se há diferença em média no valor agregado pelas
recomendações em diferentes prazos de investimentos. A base de dados para a
coleta de preços também é a Bloomberg. Ainda, será analisado os resultados para
os anos de 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013. O racional também
está em analisar eventuais diferenças de resultados das recomendações nos
diferentes períodos.
(ii) As ações serão separadas em grupos de recomendações: (a) compra, (b) manter
e (c) venda. Serão utilizadas aqui neste projeto as recomendações de consenso
(contemplam a opinião de mais do que um analista) pois são as que tem maior
capacidade de prever o desempenho futuro das ações, uma vez que a medida que
se aumenta o número de analistas, as recomendações tendem, em média, para as
expectativas efetivas do mercado. Ainda, supõe-se que as ações possuem o mesmo
peso na composição de cada uma das carteiras.
(iii) Por fim, os retornos excedentes das carteiras serão comparados através de um
teste de hipóteses. Em primeiro lugar, a carteiras com recomendação de compra e
venda terão seus retornos excedentes testadas para analisar se há retorno maior ou
menor do que zero. Em seguida, será verificado se uma estratégia de investimento
de (i) compra da carteira com recomendação de compra e (ii) venda da carteira
com tal recomendação produz algum tipo de retorno anormal (para mais
informações sobre a condução do teste de hipóteses, refira ao apêndice 3).
(iv) A análise dos resultados será feita com 95% de confiança.
3.3 Tópicos adicionais a serem analisados
Martinez (2004) acrescenta dois fatores importantes para adicionar na análise das
recomendações de analistas.
O primeiro deles diz respeito a diferença entre as recomendações de grandes
corretoras contra recomendações de pequenas corretoras. Barber et al. (2000) em seu
19
trabalho conclui que as recomendações de compra de grandes corretoras tem um
impacto maior do que as pequenas. Isso leva a concluir que o investidor não olha para
a reputação do analista para acreditar na sua recomendação, mas sim o tamanho da
corretora para o qual o analista trabalha que garante a credibilidade da recomendação.
O tamanho da empresa analisada também é um fator importante a ser levado em
conta. Martinez (2004) afirma que a disponibilidade de informação está diretamente
relacionada com o tamanho da firma. Dessa forma, uma empresa pequena é
acompanhada de pouca informação disponível e, quando aparece alguma informação
nova, esta tende a ser muito relevante e o impacto nos preços é maior do que o
impacto dos preços de informações novas sobre empresas grandes.
20
4 Análise de resultados
Com base nos dados obtidos, a seção de análise dos resultados pretende utilizar o
teste de hipóteses descrito no apêndice 3 (o Apêndice 3.1 se aplica às recomendações de
venda e o Apêndice 3.2, às recomendações de compra) sobre a base de dados coletada para
chegar a uma conclusão sobre a eficácia das recomendações dos analistas.
As tabelas a seguir serão divididas em 6 de forma a analisar o resultado das
recomendações para diverentes horizontes de investimento: 3, 5, 10, 30, 60 e 120 dias após a
recomendação, buscando identificar se há diferença nos resultados quando se compara
diferentes períodos de investimento. Intratabelas, os resultados serão divididos em anos para
detctar eventuais diferenças de resultados em períodos diferentes.
A tabela contém as estatísticas necessárias para a execução do teste de hipóteses:
média e desvio padrão amostral, estatística observada e p-valor associado à ela.
Compra
Tabela 2: Retorno Excedente: Horizonte de 3 dias após a recomendação
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
π‘₯
0.63%
-0.08%
0.50%
0.57%
0.62%
0.63%
0.93%
1.26%
𝑆!
4.21%
3.54%
5.28%
3.46%
3.28%
3.13%
3.89%
3.14%
# Recomendações
302
464
497
562
566
451
419
390
Tobs
2.61
(0.47)
2.12
3.92
4.48
4.25
4.89
7.93
0.48%
62.1%
1.71%
0.00%
0.00%
0.00%
0.00%
0.00%
π‘₯
-1.49%
-1.40%
-1.49%
-0.56%
-0.40%
-0.98%
-1.11%
-0.97%
𝑆!
3.71%
3.18%
9.38%
5.07%
3.28%
4.04%
4.88%
4.89%
52
47
112
146
155
133
265
131
Tobs
(2.89)
(3.02)
(1.68)
(1.33)
(1.51)
(2.80)
(3.70)
(2.27)
p-valor
0.28%
0.20%
4.81%
9.24%
6.71%
0.29%
0.01%
1.24%
Venda
p-valor
# Recomendações
Tabela 3: Retornos Excedentes: Horizonte de 5 dias após a recomendação
Compra
2006
Venda
2008
2009
2010
2011
2012
2013
π‘₯
0.90%
0.09%
0.59%
0.75%
0.64%
0.66%
1.09%
1.20%
𝑆!
4.87%
4.02%
6.49%
4.12%
3.91%
3.69%
4.69%
3.79%
# Recomendações
302
464
497
562
566
451
419
390
Tobs
3.21
0.51
2.02
4.33
3.88
3.83
4.75
6.24
0.07%
30.57%
2.19%
0.00%
0.01%
0.01%
0.00%
0.00%
π‘₯
-1.94%
-2.08%
-1.49%
-1.02%
-0.41%
-1.07%
-1.07%
-0.59%
𝑆!
4.74%
3.76%
9.16%
5.05%
3.45%
4.37%
5.64%
6.07%
52
47
112
146
155
133
265
131
Tobs
(2.96)
(3.80)
(1.73)
(2.45)
(1.48)
(2.81)
(3.10)
(1.11)
p-valor
0.23%
0.02%
4.36%
0.77%
7.04%
0.28%
0.11%
13.50%
p-valor
21
2007
# Recomendações
Tabela 4: Retornos Excedentes: Horizonte de 10 dias após a recomendação
Compra
2006
2008
2009
2010
2011
2012
2013
π‘₯
0.61%
-0.04%
0.63%
1.00%
1.02%
0.53%
1.27%
1.52%
𝑆!
5.55%
5.59%
9.38%
5.81%
4.64%
4.92%
6.65%
4.79%
# Recomendações
302
464
497
562
566
451
419
390
Tobs
1.92
(0.17)
1.49
4.07
5.25
2.29
3.92
6.25
2.77%
56.64%
6.88%
0.00%
0.00%
1.13%
0.01%
0.00%
π‘₯
-1.55%
-1.27%
-1.19%
-1.00%
-0.10%
-0.90%
-1.39%
0.01%
𝑆!
5.32%
4.79%
13.44%
6.52%
4.47%
6.07%
6.96%
7.63%
52
47
112
146
155
133
265
131
Tobs
(2.10)
(1.82)
(0.94)
(1.85)
(0.27)
(1.72)
(3.25)
0.02
p-valor
2.01%
3.76%
17.46%
3.32%
39.23%
4.42%
0.07%
50.63%
p-valor
Venda
2007
# Recomendações
Tabela 5: Retornos Excedentes: Horizonte de 30 dias após a recomendação
Compra
2006
2008
2009
2010
2011
2012
2013
π‘₯
1.46%
-1.02%
0.68%
1.71%
1.69%
0.56%
2.58%
2.33%
𝑆!
7.16%
8.28%
12.51%
9.17%
7.15%
8.10%
9.07%
8.82%
302
464
497
562
566
451
419
390
# Recomendações
Tobs
3.54
(2.66)
1.21
4.42
5.61
1.48
5.81
5.21
0.02%
99.59%
11.32%
0.00%
0.00%
7.01%
0.00%
0.00%
π‘₯
-3.00%
-3.70%
-3.72%
-0.40%
-0.20%
-1.10%
-2.68%
0.12%
𝑆!
8.97%
6.69%
19.20%
9.49%
6.69%
10.27%
12.08%
10.66%
52
47
112
146
155
133
265
131
Tobs
(2.41)
(3.79)
(2.05)
(0.50)
(0.36)
(1.24)
(3.61)
0.13
p-valor
0.97%
0.02%
2.13%
30.75%
35.84%
10.88%
0.02%
55.05%
p-valor
Venda
2007
# Recomendações
Table 6: Retornos Excedentes: Horizonte de 60 dias após a recomendação
Compra
2006
Venda
2008
2009
2010
2011
2012
2013
π‘₯
1.51%
-2.28%
0.43%
2.69%
1.70%
1.18%
3.59%
2.94%
𝑆!
9.52%
12.38%
18.76%
12.11%
10.12%
10.93%
12.12%
12.13%
# Recomendações
302
464
497
562
566
451
419
390
Tobs
2.77
(3.96)
0.51
5.27
4.01
2.30
6.06
4.79
0.30%
~100%
30.53%
0.00%
0.00%
1.09%
0.00%
0.00%
π‘₯
-2.71%
-5.09%
-3.40%
-0.49%
-0.21%
-0.70%
-2.07%
2.65%
𝑆!
10.40%
12.54%
22.36%
13.57%
8.70%
14.14%
16.04%
17.64%
52
47
112
146
155
133
265
131
Tobs
(1.88)
(2.78)
(1.61)
(0.44)
(0.30)
(0.57)
(2.10)
1.72
p-valor
3.29%
0.39%
5.52%
33.05%
38.12%
28.43%
1.85%
95.59%
p-valor
22
2007
# Recomendações
Table 7: Retornos Excedentes: Horizonte de 120 dias após a recomendação
Compra
2006
2008
2009
2010
2011
2012
2013
π‘₯
2.95%
-5.01%
-1.92%
3.12%
2.57%
2.66%
5.45%
3.47%
𝑆!
13.67%
17.32%
22.65%
17.11%
13.82%
15.1%
18.11%
15.87%
# Recomendações
302
464
497
562
566
451
419
390
Tobs
3.75
(6.23)
(1.89)
4.33
4.43
3.73
6.16
4.32
0.01%
~100%
97.05%
0.00%
0.00%
0.01%
0.00%
0.00%
π‘₯
-4.66%
-7.97%
-2.83%
4.1%
0.66%
-0.26%
-0.88%
8.95%
𝑆!
13.54%
18.88%
26.26%
21.19%
13.11%
21.25%
23.13%
43.69%
52
47
112
146
155
133
265
131
Tobs
(2.48)
(2.90)
(1.14)
2.34
0.63
(0.14)
(0.62)
2.34
p-valor
0.82%
0.29%
12.86%
98.97%
73.46%
44.44%
26.84%
97.66%
p-valor
Venda
2007
# Recomendações
De maneira geral, os resultados corroboram com as expectativas de forma que que as
ações com recomendações de compra geram retornos acima do retorno de. Quanto às
recomendações de venda, também de maneira geral observa-se que as ações que são
negativamente recomendadas geram retornos menores do que o de mercado. Dentro do limite
de significância estabelecido, o número de casos em em que as recomendações de venda
foram eficazes se mostrou menor do que o mesmo para recomendações de compra.
Um resultado que merece destaque diz respeito às recomendações de compra
realizadas em 2007. Nos períodos de investimento de 3, 5 e 10 dias as recomendações de
compra nesse ano para os respectivos horizontes de investimento não produziram retornos
ajustados pelo mercado maiores do que zero. Para os horizontes de 30, 60 e 120 dias, o
resultado observado foi de aproximadamente 100% de confiança de que os resultados não
foram maiores do que zero. Para esse valor, as ações com recomendação de compra
produziram retornos ajustados pelo mercado menores do que zero e estatisticamente
relevantes. Esses resultados mostram o quão difícil foi a profissão de analistas de
investimento no período de emergência da crise, em que os investidores avessos ao risco
fogem do risco e não seguem a recomendação de compra (eventualmente até vendem seus
ativos e pressionam os preços das ações para baixo). Em 2008, essa tendência continua e as
recomendações de compra só pareceram gerar retornos estatisticamente significativos em
horizontes de investimentos de curtíssimo prazo (3 ou 5 dias).
Seguir as recomendações de venda também se mostrou uma estratégia mais eficiente
quando o investimento é de curto prazo. Nos oito anos analisados, tanto para um horizonte de
3, quanto para o horizonte de 5 dias, seis anos apresentaram retornos excedentes de acordo
com o esperado (estatisticamente significantes e menores que zero). Para um horizonte de 10
23
dias, três dos oito anos apresentaram resultados que não significantes. Para 30 e 60 dias,
quatro dos oito foram estatísticamente insignificantes.
Por último, horizontes maiores de investimento por vezes divergem do esperado, dado
que segundo os resultados obtidos, tanto 2007 quanto 2008 produziram resultados inversos e
bem divergentes esperado para uma recomendação de compra. Quando se segue uma
recomendação venda por 120 dias, os resultados foram divergentes do esperado com uma
confiança relativamente alta em 2009 e 2013 (99% e 73%, respectivamente). Em 2008, 2011,
2012 e 2013, os resultados para recomendação de venda de mesmo horizonte não foram
estatisticamente significantes.
24
5 Conclusão
O estudo teve como objetivo avaliar o efeito que o profissional de analista de
investimentos gera no mercado brasileiro. Como apresentado anteriormente, gestores de
fundos de investimentos utilizam as recomendações dos analistas como uma das ferramentas
para tomar sua decisão de investimento. É, portanto, importante avaliar como essa profissão
vem performando no Brasil e até que ponto as suas recomendações estão informando o
mercado e gerando valor para os que as seguem.
As implicações observadas levam a crer que o analista em média tem acertado as suas
recomendações e gerado retornos acima do mercado. Com exceção de alguns anos atípicos
(caso de 2007 e 2008 talvez em função da crise), as recomendações de compra (e venda) em
um horizonte de investimento de curto prazo (3 a 10 dias) tendem a gerar retornos excedentes
positivos (negativos).
As recomendações pareceram gerar mais retornos para estratégias de investimento de
curto prazo. Olhando os resultados para o horizonte de investimento de 120 dias, observa-se
que é mais comum que o retorno excedente médio não seja maior do que zero para
recomendações de compra e nem menor do que zero para recomendações de venda. É
importante destacar que a profissão de analista no Brasil é mais desafiadora pois é um país
mais instável política e economicamente, o que torna as previsões de lucro e geração de caixa
futuros das empresas mais difícil em horizontes maiores. Sendo assim, o investimento de
longo prazo é mais incerto e as recomendações podem não surtir tanto efeito no médio-longo
prazo.
Os resultados encontrados neste estudo corroboraram com as expectativas. O mercado
de ações brasileiro é pouco líquido quando comparado aos mercados mais desenvolvidos (o
volume médio diário negociado nos EUA, por exemplo, é de aproximadamente US$60
bilhões, versus aproximadamente US$3 bilhões no Brasil) e sendo assim, a recomendação de
um analista gera maior movimentação no mercado e tende a gerar movimentação maior nos
preços e consequentemente nos retornos dos ativos em mercados menos líquidos.
O mercado também é assimétrico. Os investidores nem sempre tem acesso a toda
informação pública disponível pois parte dessas informações ou não são amplamente
divulgadas, ou são dados pagos e que o investidor não necessariamente tem acesso. O analista
de investimentos, então, tem o papel de eliminar essa assimetria divulgando essa informação
ao mercado para que ela possa ser incorporada aos preços dos ativos.
25
6 Limitações da análise e oportunidades para futuras pesquisas
(i)
Recomendações de manter
No presente estudo, foi analisado o efeito das recomendações de compra e
venda dos analistas e foi deixada de lado a recomendação de manutenção de posição
(manter) sob a suposição de que esta por si só não movimentaria preços. Apesar de a
teoria estar correta, na prática o que se observa é diferente. A recomendação "manter"
é tida como uma recomendação de venda disfarçada em outras palavras
principalmente para não afetar a relação do analista com os executivos das empresas
entre outros motivos previamente discutidos no estudo.
Sendo assim, pode ser que alguns investidores respondam a esse tipo de
recomendação como se fosse uma recomendação de venda e a relação oferta-demanda
pela ação diante desse conselho se desequilibre e os preços se movimentem para
baixo.
(ii)
Ajuste pelo risco
Como discutido na seção 3, o ajuste pelo risco seria o ideal quando forem
analisados os retornos excedentes das carteiras recomendadas. Exemplificando
novamente, uma ação com recomendação de compra deve proporcionar ao investidor
que segue essa recomendação não necessariamente um retorno superior ao retorno do
mercado, mas sim um retorno compatível com o risco que o investidor arca quando
adquire determinada ação.
(iii)
Timing das recomendações
Por vezes, as recomendações de analistas também podem não agregar nenhuma
informação nova ao mercado. Supondo a seguinte sequência de eventos: a empresa X
emite fato relevante ao mercado comunicando que pesquisas científicas descobriram
que os produtos fabricados pela empresa possuem substâncias extremamente benéficas
a saúde humana. As notícias são boas para a empresa, é esperada uma demanda maior
pelo produto de empresa X no futuro, que resulta em maiores lucros, maior geração de
caixa, maior valor presente dessa geração futura de caixa e, finalmente, maior o valor
justo das ações.
O analista de investimentos também revisará suas estimativas de demanda,
lucro e geração de caixa da empresa X no futuro e provavelmente emitirá uma nova
recomendação para as ações da empresa. A partir do momento em que o analista
26
recomenda a compra das ações X e o ativo gera retornos anormais, fica difícil separar
até que ponto o analista de investimento colaborou para a geração de retornos
anormais das ações através da sua recomendação uma vez que a informação que ele
incorporou na sua análise era de conhecimento público.
27
Referências
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WOMACK, Kent. (1996) Do brokerage analysts’ recommendation have investment
value? Journal of Finance.Chicago, 51 (1): 137-167..
29
Apêndices
Apêndice 1: Conhecendo os analistas de investimento
Recomendar
com base na
avaliação
Converter
previsões em
recomendações
Formular as
previsões
Analisar as
informações
Conhecer
o negócio
No mercado financeiro, são encontrados dois tipos de analistas de ações: os chamados
analistas de sell-side e os analistas de buy-side. Os primeiros estudam todas as informações
públicas das empresas e do setor e são responsáveis por elaborar relatórios contendo as
projeções dos resultados dessas empresas e recomendações de compra/venda de ações e,
então, vendem essas ideias para seus clientes. O segundo grupo de analistas também estuda
empresas e realiza recomendações, mas se diferenciam do primeiro grupo na medida em que o
uso de suas recomendações é estritamente interno, ou seja, os investimentos são realizados
pela própria empresa/fundo em que trabalha, que tem como clientes os parceiros que
fornecem o capital para o fundo: endowments, fundos de pensão, investidores institucionais,
etc. Os clientes dos analistas de sell-side são corretoras, distribuidoras de valores mobiliários,
bancos de investimento e os próprios analistas de buy-side, que possuem acesso aos relatórios
e às recomendações por serem clientes da corretora em que os analistas trabalham, utilizam
essas recomendações como ponto de partida para a tomada de decisão de investimento.
Os relatórios de analistas de sell-side contemplam uma série de informações: (i) uma
análise detalhada do setor da empresa estudada, (ii) características do mercado, (iii) quais são
os fatores da economia que impulsionam aquele mercado, (iv) como esses fatores estão
alocados na economia e quais são as tendências deles para o futuro, (v) qual o modelo de
negócio da empresa, (vi) quais as vantagens competitivas da empresa, (vii) projeções de
lucro/fluxo de caixa, (viii) valor justo das ações, (ix) recomenção de
compra/manutenção/venda entre outras informações. Os relatórios contemplam uma análise
chamada de Análise Fundamentalista pois baseiam suas recomendações nos fundamentos das
empresas.
A coleta de informações e as despesas com pessoal tornam o processo custoso e,
portanto, os analistas tendem a dar prioridade para ações que possuem mais liquidez no
mercado, pois aumentam potencial de negociação. Dessa forma, algumas ações não são
cobertas pelos analistas por não serem muito negociadas.
30
Apêndice 2: Carteira teórica do Ibovespa
Código
Ação
Código
Ação
Código
Ação
ABEV3
AMBEV S/A
HYPE3
HYPERMARCAS
VAGR3
V-AGRO
AEDU3
ANHANGUERA
ITSA4
ITAUSA
VALE3
VALE
ALLL3
ALL AMER LAT
ITUB4
ITAUUNIBANCO
VALE5
VALE
BBAS3
BRASIL
JBSS3
JBS
VIVT4
TELEF BRASIL
BBDC3
BRADESCO
KLBN4
KLABIN S/A
BBDC4
BRADESCO
KROT3
KROTON
BISA3
BROOKFIELD
LAME4
LOJAS AMERIC
BRAP4
BRADESPAR
LIGT3
LIGHT S/A
BRFS3
BRF SA
LLXL3
LLX LOG
BRKM5
BRASKEM
LREN3
LOJAS RENNER
BRML3
BR MALLS PAR
MMXM3
MMX MINER
BRPR3
BR PROPERT
MRFG3
MARFRIG
BTOW3
B2W DIGITAL
MRVE3
MRV
BVMF3
BMFBOVESPA
NATU3
NATURA
CCRO3
CCR SA
OIBR3
OI
CESP6
CESP
OIBR4
OI
CIEL3
CIELO
PCAR4
P.ACUCAR-CBD
CMIG4
CEMIG
PDGR3
PDG REALT
CPFE3
CPFL ENERGIA
PETR3
PETROBRAS
CPLE6
COPEL
PETR4
PETROBRAS
CRUZ3
SOUZA CRUZ
RENT3
LOCALIZA
CSAN3
COSAN
RSID3
ROSSI RESID
CSNA3
SID NACIONAL
SANB11
SANTANDER BR
CTIP3
CETIP
SBSP3
SABESP
CYRE3
CYRELA REALT
SUZB5
SUZANO PAPEL
DASA3
DASA
TIMP3
TIM PART S/A
DTEX3
DURATEX
TRPL4
TRAN PAULIST
ELET3
ELETROBRAS
UGPA3
ULTRAPAR
ELET6
ELETROBRAS
USIM3
USIMINAS
ELPL4
ELETROPAULO
USIM5
USIMINAS
EMBR3
EMBRAER
GGBR4
GERDAU
ENBR3
ENERGIAS BR
GOAU4
GERDAU MET
FIBR3
FIBRIA
GOLL4
GOL
31
Apêndice 3: Dinâmica do Teste de Hipóteses
3.1 – Para Recomendações de Venda
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3.2 – Para Recomendações de Compra
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T Crítico Unicaudal
32
90%
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99%
1.29
1.65
2.35
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