R$ 10,00 A REVISTA DO INVESTIDOR NA BOLSA CHINA NOV 09 #20 www.revistainvestmais.com.br Até que ponto o grande dragão influencia nossa economia? Confab: Investimentos em petroquímica garantem destaque no setor Livro ensina como identificar uma small capS que pode virar “cisne” Nutriplant: Perspectivas para crescer com o agronegócio Pirâmides financeiras: Você está livre delas? MRV X Gafisa: Quem irá aproveitar melhor o crescimento previsto para a construção civil? ETFs iShares: Descubra uma inovadora maneira de investir e diversificar na bolsa EXEMPLAR DO ASSINANTE Brasil Foods – A fusão que abriu o apetite do investidor I P O s Nutriplant Perspectivas de longo prazo para crescer com o agronegócio p o r A d riano K o e h l e r 22 INVESTMAIS Foto: Divulgação Falar que o Brasil é uma potência no agronegócio é um chavão. Falar que há muitas oportunidades de investimento no setor também. O que talvez poucas pessoas saibam é que o Brasil é um dos países que menos consome fertilizantes no mundo e que a maior parte dos utilizados aqui é importada. Esses dois fatos, aliados a uma profissionalização cada vez maior da agricultura no País, faz com que empresas como a Nutriplant Indústria e Comércio S.A. (NUTR3M) sejam avaliadas como uma possível alternativa de investimento com retorno a longo prazo. A Nutriplant é uma das quatro empresas de fertilizantes brasileiras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) – as outras são a Fertilizantes Heringer, Fosfertil e Yara Fertilizantes. Das quatro, é a única listada no Bovespa Mais, segmento do mercado voltado para empresas de menor porte que desejam entrar no mercado de capitais e com as mesmas exigências de governança corporativa do Novo Mercado. Histórico A Nutriplant foi criada em 1979 pela Frit Industries e pela Ferro Corporation com o objetivo de produzir e comercializar fertilizantes agrícolas específicos, chamados hoje de micronutrientes. O início das operações na sua planta industrial aconteceu em 1980, e a Nutriplant foi a pioneira na produção desse produto no Brasil. Em 1986, a empresa iniciou a produção de micronutrientes granulados, também chamados de FTE (Fritted Traced Elements), tornando a sigla referência para esse produto. Em 1993, a Frit Industries adquiriu as ações detidas pela Ferro Corporation e iniciou uma nova etapa de lançamento de produtos, com duas novas linhas de produção: uma de Fertilizantes Totalmente Solúveis (FTS) e outra de micronutrientes foliares, chamada de Green Top. A acionista controladora da empresa, a Tripto Participações Ltda., adquiriu, em 2004, 50% das ações que pertenciam à Frit Incorporated. O restante das ações foi comprado pela Eborio S.A. Em 2007, em duas operações, a Tripto adquiriu as ações detidas pela Eborio e passou a ter 100% de posse das ações representativas do capital social da Nutriplant. Com a abertura do capital dela, a Tripto permaneceu com 55,6% de suas ações, com 39,7% em free float no mercado e 4,7% na mão de outros acionistas. Entre os clientes da empresa estão grandes misturadores e produtores de fertilizantes, como a Bunge Fertilizantes e a Fertilizantes Heringer. A Nutriplant também faz venda direta a produtores rurais, empresas agrícolas e comerciais e cooperativas de diferentes áreas agrícolas do País por meio de uma rede de vendas exclusiva. A Nutriplant conta também com um serviço de suporte técnico pré e pós-venda feito por uma equipe técnica própria. A maior parte dos consumidores atuais da empresa está no estado de São Paulo. Cenário de mercado atual Este ano não tem sido bom para o agronegócio brasileiro. Depois de ter crescido 7,89% em 2007, na comparação com 2006, e 6,95% em 2008, em relação ao ano anterior, há uma perspectiva de redução para o agronegócio em 2009. No primeiro trimestre deste ano, a redução foi de 0,1% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já, no segundo trimestre, a redução foi ainda maior, de 4,2%, de acordo com dados da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), e a entidade não projeta grandes melhoras para o restante do ano. Os números adversos, aliados a uma comparação com um ano atípico, o de 2008, fizeram com que os resultados da Nutriplant não fossem tão bons no primeiro semestre de 2009. No balanço divulgado em 14 de agosto, a empresa registrou uma receita operacional líquida nos seis primeiros meses de 2009 de R$6,7 milhões, valor NOV 09 23 I P O s “Investidor deve pensar em retornos a longo prazo para investir em ações de empresas do agronegócio devido aos altos e baixos característicos do setor.” quase 20% menor que os R$8,4 milhões registrados no mesmo período de 2008. O volume de fertilizantes vendido apresentou uma redução de 16,2% do segundo trimestre de 2008 para o mesmo período deste ano, passando de 7,1 mil para 5,9 mil toneladas vendidas. “Em 2008, o agricultor antecipou as compras de fertilizantes para o primeiro semestre, algo que não coincide com a sazonalidade típica do setor. Se no primeiro trimestre de 2008 houve resultados razoáveis de vendas e, no segundo vendas medianas, este ano tivemos vendas muito fracas nesses períodos, o que se refletiu nos resultados da empresa, não só da Nutriplant, mas de todo o segmento”, comenta Sandro Henrique Peixoto Saboia, diretor financeiro e de relações com investidores da Nutriplant. Para o executivo, 2009 deve ser comparado com 2007, um ano “normal” em termos de sazonalidade na venda de fertilizantes. Dados da Associação Nacional para a Difusão dos Adubos (Anda), entidade que reúne as empresas do setor, mostram que um terço da produção nacional é vendido no primeiro semestre e o restante no segundo, quando começa a ser plantada a safra de verão, e que essa distribuição de vendas, que não aconteceu em 2008, deve ser registrada este ano. Na avaliação da Nutriplant, o mercado de fertilizantes no Brasil começou a perder o ritmo de crescimento a partir de setembro de 2008, um reflexo direto da crise financeira mundial, que impactou também os mercados de commodities agrícolas. A retração do mercado foi ainda maior nos últimos meses do ano passado. Além disso, os altos estoques de fertilizantes nas mãos dos clientes finais da Nutriplant e a postergação das compras por esses mesmos clientes contribuíram para o resultado adverso do período. No mercado nacional, a redução no consumo de fertilizantes no período foi de 10,2%, de acordo com a 24 INVESTMAIS Anda. “Este ano, por exemplo, já não temos estoque nas mãos de produtores ou misturadores, o que pode significar maiores volumes de vendas”, diz Saboia. No primeiro semestre de 2009, a empresa registrou um aumento do prejuízo Ebitda (lucro antes de investimentos, impostos, depreciação e amortização) de 198,9%, passando de R$0,6 milhão para R$1,8 milhão. O prejuízo líquido subiu 357,1% no período, de R$751 mil para R$3,4 milhão. Saboia esclarece que os números, ainda que negativos, não são ruins para a empresa. “O prejuízo em 2008 se deveu às despesas com abertura de capital, ou seja, àquelas não recorrentes. Excluídas essas despesas, estamos reduzindo o prejuízo, trabalhando para aumentar o faturamento e os volumes vendidos, para vender mais produtos que tenham maior margem e mantendo um controle rígido de despesas. Os resultados virão, mas não é algo imediato”. O balanço reflete o que o executivo diz. A Nutriplant conseguiu reduzir o seu endividamento bancário líquido e obter uma geração positiva de caixa de R$142 mil, mesmo registrando prejuízo. As dívidas totais da empresa baixaram de R$ 15,5 milhões em 31 de março de 2009 para R$ 9,1 milhões em 30 de junho deste ano. Os custos dos produtos vendidos também registraram leve melhora, uma redução de 2,1% na comparação dos seis primeiros meses de 2009 com o mesmo período de 2008. Um dos fatores que afeta diretamente o resultado das empresas de fertilizantes é o crédito ao agricultor, responsável pela compra dos insumos para suas plantações. Para não depender de iniciativas do governo, a Nutriplant lançou, no dia 9 de setembro, um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Agroindustriais (FIDC). O fundo de R$14 milhões tem como objetivo a aquisição de direitos creditórios oriundos de operações de compra e venda mercantil a prazo de produtos fabricados e vendidos pela Nutriplant. Seu objetivo é financiar a venda dos produtos Nutriplant para seus clientes. “Vimos que o crédito do Plano Safra demora a chegar, e precisamos financiar a venda ao agricultor em prazo safra, ou seja, dar prazo para ele. Com o fundo, teremos capital para poder fazer mais financiamento e vender mais”, explica Saboia. O fundo ainda depende de registro da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Perspectivas de mercado Para o setor de agronegócios, com a recuperação dos preços nos mercados internacionais, o fim da crise, a expansão da produção agrícola e a recuperação dos preços do petróleo, há uma perspectiva de crescimento do PIB do agronegócio de 1,2% este ano, 4,36% em 2010 em mas temos sido auxiliados pela condução cautelosa dos negócios e pelo andamento do mercado internacional de alimentos e nacional de energia. A médio e longo prazos não há riscos para o setor”, comenta o diretor da Anda. Para ele, os investimentos em fosfato, matéria-prima para fertilizantes, seguem seu ritmo normal no Brasil. Em relação ao câmbio, o executivo diz que a valorização do real diante do dólar tem um lado bom e outro ruim. “É bom para quem exporta, mas ruim para a indústria que importa matérias-primas para fertilizantes, o que eleva os custos”, explica. Para ele, o ideal seria a manutenção das cotações médias tanto do real diante do dólar como também do petróleo, que afeta o preço dos nitrogenados que são seus derivados. Com o preço do petróleo em alta, o dos fertilizantes sobe, o que pode aumentar a receita na venda, mas gerar mais custos na compra da matéria-prima. Como ponto a ser avaliado para o futuro, está o fato de que o Brasil ainda usa muito pouco fertilizante, na comparação com outros países que possuem o agronegócio desenvolvido. Para modificar esse cenário, as empresas do setor atuam também como consultoras dos produtores, explicando os benefícios do uso. Além disso, o Brasil também deverá aumentar a área plantada. Atualmente, o País ainda tem cem milhões de hectares de área agricultável não utilizada. Projeções da IFA apontam que o Brasil deverá acrescentar 15 milhões de hectares até 2015, o que resultará em um mercado de 30 Números da IPO Estreia na Bovespa: 13 de fevereiro de 2008 Valor obtido na IPO: R$20,7 milhões Preço por ação na IPO: R$10,00 Fonte: GuiaInvest (16/9/2009) Segmento de listagem: Bovespa Mais Nutriplant em números Valor da ação: R$2,90 Oscilação em 12 meses: -75,3% Máxima em 12 meses: R$10,00 Fonte: GuiaInvest (16/9/2009) relação a 2009 e 5,6% em 2011 em comparação ao ano anterior. Nesse ponto, o mercado nacional representa um grande potencial a ser explorado pelas empresas que possuem fábricas no Brasil. Do total de 22,5 milhões de toneladas consumidas em 2008, 68,7% foram atendidos por importações. Além disso, o já anunciado Plano Safra 2009/2010 promete colocar nas mãos dos agricultores R$107,5 bilhões em financiamentos. “O fertilizante é o primeiro insumo que o agricultor deixa de lado quando não tem dinheiro. Mas, com o crédito garantido, ele compra, pois vê a diferença que faz na produção final”, diz o analista Luiz Augusto Pacheco, da Omar Camargo Corretora de Valores. No setor específico de fertilizantes, a consultoria Lafis projeta uma queda no faturamento de 1,3% em reais na comparação com 2009, devido principalmente à queda dos preços do produto registrada até março. Em dólares, a queda no faturamento é ainda maior, de 11%. Para 2010, a consultoria projeta um crescimento de 3,6% no faturamento em reais em relação a 2009, devido principalmente à maior expansão da produção agrícola e da recuperação dos preços das commodities relacionadas aos insumos da indústria. Para 2011, a projeção de crescimento do setor é de 4,6%. Pacheco explica que os preços dos fertilizantes são diretamente ligados aos das commodities minerais – matéria-prima dos produtos – e da cotação do dólar: “As empresas devem estar preparadas para enfrentar essas oscilações”. As empresas do setor sofrem também, pois compraram matéria-prima quando o preço dos minérios estava em alta. “Depois, os preços baixaram, os dos fertilizantes também diminuíram e, em alguns casos, foi necessário vender com prejuízo. Mas agora os preços estão se normalizando”, analisa Pacheco. Eduardo Daher, diretor da Anda, conta que estudos feitos por economistas ligados à Agriconsult e RC Consultores, entre outros estimam um volume de comércio de fertilizantes idêntico ao obtido em 2008, de 22,3 milhões de toneladas. “Principalmente devido aos preços atuais das commodities, sobretudo do açúcar”, diz Daher. Para 2010, as previsões internacionais da International Fertilizer Association (IFA) apontam um crescimento de 2,3%. Já o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é mais otimista e diz que o crescimento pode ser de 4,2%. Para isso acontecer, há duas varíaveis de difícil controle: o clima e a rapidez com que a economia global sairá da crise. Para Daher, ela afetou todas as atividades econômicas, até mesmo a de fertilizantes. “A crise teve impactos no crédito rural, para o negociante e para os misturadores, Mínima em 12 meses: R$2,00 Valor de mercado: R$15,1 milhões NOV 09 25 I P O s ao se conceder crédito aos clientes, entre outros. A médio e longo prazos, as perspectivas do setor como um todo são de crescimento, até pela necessidade de produções agrícolas sempre maiores para atender a demanda global, mas é um setor sujeito a variações bruscas de tempos em tempos. milhões de toneladas de adubo, comparados com os 22,4 milhões registrados em 2008. Mesmo sem uso intensivo, o País é hoje o quarto maior consumidor mundial de nutrientes para a formulação de fertilizantes. Um último fator a ser levado em consideração são as intenções do Governo Federal de reduzir a concentração no setor – seis empresas apenas concentram 85% do mercado, sendo que a Nutriplant não é uma delas – e a dependência de matérias-primas estrangeiras na fabricação de fertilizantes. O governo está estimulando as empresas do setor a fazerem novos investimentos para aumentar a produção e, ao mesmo tempo, Vale e Petrobras iniciaram trabalhos de busca de matériasprimas no Brasil e Peru. Todos os indicadores apontam o setor como de grande potencial de crescimento. No entanto, ele é de grande volatilidade, pois há a dependência de diversos fatores que não estão no controle das empresas, como: renda do agricultor e intenção de plantio, o que depende das cotações internacionais das commodities agrícolas; preço dos insumos metálicos envolvidos na produção, que são cotados na Bolsa de Metais de Londres; o risco cambial, por ser um mercado cotado internacionalmente; o perigo “Brasil utiliza pouco fertilizante na comparação com a média mundial e ainda tem 100 milhões de hectares de terras agriculturáveis para serem explorados.” Fonte: www.guiainvest.com.br Nutriplant Dados 9/2008 12/2008 6/2009 16/9/2009 -16,9 -15,8 -4,2 -1,7 Preço/Valor Patrimonial 2,2 1,5 1,9 0,8 Price Sales Ratio 1,4 1,0 1,6 0,7 - - - - Valor de mercado 61,3 M 39,1 M 36,5 M 15,1 M Div Br/Patrim 76,6% 80,9% 61,8% - - - Preço/Lucro Dividend yield Dividendo/Ação US$ - Fonte: www.guiainvest.com.br Balanço 26 Dados 6/2008 12/2008 6/2009 Ativo total 59,6 M 55,6 M 50,1 M Patrimônio líquido 28,0 M 26,0 M 19,6 M Receita líquida operacional 25,1 M 37,6 M 10,5 M Lucro operacional Ebitda - 223,0 k - 674,0 k -4,3 M Lucro líquido - 194,0 k - 2,5 M - 6,4 M INVESTMAIS