A ENFERMAGEM E O SABER DAS GESTANTES EM ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL ACERCA DA SÍFILIS E SÍFILIS CONGÊNITA SIMOURA, Adriana Aparecida COELHO, Michelle Matos COELHO, Suellen Matos HERNANDEZ, Daniel Pinheiro ALBUQUERQUE, Verônica Santos RESUMO O objeto deste estudo foi a investigação do grau de orientação de gestantes, acerca da sífilis e sua forma congênita. Estas clientes se encontravam em assistência pré-natal, em uma Unidade Básica de Saúde do município de Teresópolis. Os objetivos foram: avaliar o nível de conhecimento e orientação das gestantes e identificar o grau da necessidade de orientação no pré-natal, quanto às formas da sífilis, realização de exames diagnósticos, tratamento e prevenção. Na fase exploratória, foi observado déficit no conhecimento das clientes em relação a sífilis, formas de transmissão, métodos diagnósticos e de prevenção, contrapondo-se ao saber cientifico do enfermeiro; razão pela qual, foi adotado uma abordagem metodológica qualitativa fundamentada nos princípios da dialética. As clientes foram submetidas a entrevista semi-estruturada e os dados foram organizados em categorias, que, por sua vez, foram analisadas à luz do referencial teórico. Os resultados relevaram que a maioria das mulheres apresentavam conhecimentos ausentes deficientes e/ou equivocados acerca da sífilis/sífilis congênita, formas de transmissão, métodos diagnósticos e prevenção. Foi evidenciado,ainda, grande interesse, manifestado pelas gestantes entrevistadas, em receber orientações da enfermagem sobre a sífilis e sua forma congênita. Palavras-chave: Sífilis, Sífilis Congênita, Gestação, Pré-natal, Enfermagem Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version ABSTRACT The object of this study was the knowledge level of pregnant women about syphilis and congenital syphilis. These patients were in pre-natal aid on a healthcare basic unit in Teresópolis. The aims of this study were: to evaluate the knowledge level of these pregnant women and to identify the needs of information required on pre-natal period about syphilis, its transmission, diagnosis, treatment and prevention. On explorer stage, I observed that women showed lack of guidence about syphilis and congenital syphilis features, contrasted with nursing scientific knowledge. So, I chose a qualitative methodological approach based on dialectics principles. Women were submitted to an interview with objectives and subjectives questions. Data were organized into categories, which were analysed based on theoretical references. Results revealed that the majority of women showed absent, deficient or not appropriate knowledge about syphilis, congenital syphilis, their transmission, diagnosis, treatment and prevention. These pregnant women showed many doubts about those diseases and they showed, also, much interest in information reception from nurses. Key-Words: Syfhilis, Congenital syphilis, Pregnancy, Pre-natal, Nursing Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version A ENFERMAGEM E O SABER DAS GESTANTES EM ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL ACERCA DA SÍFILIS E SÍFILIS CONGÊNITA SIMOURA, Adriana Aparecida COELHO, Michelle Matos COELHO, Suellen Matos HERNANDEZ, Daniel Pinheiro ALBUQUERQUE, Verônica Santos INTRODUÇÃO A sífilis, também chamada de lues, é uma doença sexualmente transmissível, infectocontagiosa, pandêmica, que se inicia por cancro de inoculação, evoluindo de forma crônica com períodos de silêncio clínico e podendo atingir vários sistemas orgânicos.1 É causada pelo Treponema pallidum, uma bactéria pertencente à ordem das espiroquetas. Sua forma em espiral lhe permite boa mobilidade. O T. pallidum é um microrganismo muito frágil, que apresenta deficiência para sobreviver em ambientes secos, sendo afetado pela maioria dos detergentes e anti-sépticos. Tem no homem um hospedeiro obrigatório e único.2 A sífilis pode ser adquirida ou congênita.3 A sífilis no adulto é adquirida pelo contágio direto inter-humano, quase sempre genital e, mais raramente, cutâneo ou bucal.3 A fase primária da doença inicia-se após período de inoculação de três semanas, com o surgimento do cancro duro, e tem duração de três a seis semanas. Já a fase secundária é determinada pela disseminação do T. pallidum que leva ao aparecimento de exantema e linfadenopatia, com duração de uma a oito semanas. A doença, quando não tratada, progride para uma fase de latência precoce (menos de um ano) ou tardia (mais de um ano) e, após um período de vários anos, aparecem as formas terciárias com as gomas e o comprometimento neurológico e cardiovascular.4 A penicilina é o fármaco de escolha para o tratamento da sífilis. É treponemicida e, até o momento, não há relatos de cepas de T. pallidum resistentes à este antimicrobiano. Outros esquemas antibióticos são propostos para terapêutica mas nenhum se mostrou superiormente eficaz ao uso da penicilina .3 Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version Segundo normas do Ministério da Saúde, na sífilis primária indica-se penicilina benzatina 2.4 milhões UI, intramuscular, em dose única (1.2 milhão U.I. em cada glúteo). Na sífilis recente secundária e latente, prescreve-se penicilina benzatina 2.4 milhões UI, intramuscular, que deve ser repetida após uma semana, totalizando 4.8 milhões UI. Já na sífilis tardia, a indicação é de penicilina benzatina 2.4 milhões UI, intramuscular, semanal, durante três semanas, totalizando 7.2 milhões UI.5 Após a dose terapêutica inicial, em alguns casos, poderá surgir a reação febril de Jarisch Herxheimer, com exacerbação das lesões cutâneas, geralmente exigindo apenas cuidados sintomáticos; ocorre involução espontânea em 12 a 48 horas. Não se justifica a interrupção do esquema terapêutico. Essa reação não significa hipersensibilidade à droga, entretanto, todo paciente com sífilis submetido à terapêutica penicilínica deve ser alertado quanto à possibilidade de desenvolver tal reação.5 Além da indicação do tratamento de primeira escolha, o Ministério da Saúde, traçou algumas recomendações para acompanhamento de pacientes em terapia para sífilis:5 ü Os pacientes com manifestações neurológicas e cardiovasculares da sífilis devem ser hospitalizados e receber esquemas especiais de penicilinoterapia. ü Com o objetivo de prevenir lesões irreversíveis da sífilis terciária, recomendase que os casos de sífilis latente com o período de evolução desconhecido e os portadores do HIV sejam tratados como sífilis latente tardia. ü Os pacientes com história comprovada de alergia à penicilina podem ser dessensibilizados ou então receberem tratamento com eritromicina 500mg, via oral, de 6/6 horas, por 15 dias, para a sífilis recente, e por 30 dias para a sífilis tardia. A tetraciclina pode ser indicada na mesma dosagem. Também pode ser usada a doxiciclina, 100mg, via oral, de 12/12 horas, por 15 dias, na sífilis recente, e por 30 dias na sífilis tardia. Porém, com exceção do estereato de eritromicina, os demais agentes alternativos no tratamento da sífilis estão contra-indicados em gestantes e nutrizes. E, ainda, todas estas drogas exigem estreita vigilância, por apresentarem menor eficácia. ü Após o tratamento da sífilis, recomenda-se o seguimento sorológico quantitativo de três em três meses durante o primeiro ano e, se ainda houver reatividade em titulações decrescentes, deve-se manter o acompanhamento de Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version seis em seis meses. Elevação a duas diluições acima do último título do VDRL, justifica novo tratamento, mesmo na ausência de sintomas. A forma congênita da sífilis é uma infecção causada pela disseminação hematogênica do T. pallidum, transmitida pela gestante infectada para seu concepto, o que chamamos de transmissão vertical. A transmissão materna pode ocorrer em qualquer fase gestacional.6 A maioria das crianças com infecção congênita são assintomáticas ao nascimento. Os primeiros sintomas podem surgir meses mais tarde. A manifestação congênita pode ser classificada em recente ou tardia. A forma precoce acontece quando as manifestações clínicas se apresentam logo após o nascimento ou pelo menos durante os dois primeiros anos de vida. Já na sífilis congênita tardia os sinais e sintomas surgem a partir dos dois anos de vida.6 O exame laboratorial mais utilizado para detectar tanto a sífilis como sua forma congênita é o VDRL (Venereal Disease Research Laboratory), uma pesquisa sorológica não treponêmica, uma vez que não detecta anticorpos anti-antígenos do T. pallidum e sim anticorpos contra a cardiolipina, um antígeno lipoidal oriundo da interação do Treponema com o tecido do hospedeiro.3 O tratamento da sífilis congênita varia de acordo com o período de vida, sendo, atualmente, indicado o esquema que se segue: 6 ü Nos recém-nascidos de mães com sífilis não tratada ou inadequadamente tratada, com alterações clínicas, sorológicas e/ou radiológicas, mas não liquóricas, o tratamento no período neonatal deverá ser feito com penicilina cristalina na dose de 100.000UI/Kg/dia, endovenosa, duas vezes por dia (se tiver menos de uma semana de vida) ou três vezes (se tiver mais de uma semana de vida), por dez dias; ou penicilina G procaína 50.000UI/Kg, intramuscular, por dez dias. ü Já se houver alterações liquóricas, o tratamento deverá ser feito com penicilina G cristalina, na dose de 150.000UI/Kg/dia, endovenosa, duas vezes por dia (se tiver menos de uma semana de vida) ou três vezes (se tiver mais de uma semana de vida), por quatorze dias. ü Se não houver alterações clínicas, radiológicas e/ou liquóricas, e a sorologia for negativa no recém-nascido, dever-se-á proceder ao tratamento com penicilina G benzatina, intramuscular, na dose única de 50.000UI/Kg. O Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version acompanhamento é mandatório, incluindo o seguimento com VDRL sérico, após conclusão do tratamento. Sendo impossível garantir o acompanhamento, o recém-nascido deverá ser tratado com o primeiro esquema. ü Nos recém-nascidos de mães adequadamente tratadas, se houver alterações radiológicas, sem alterações liquóricas, o tratamento deverá ser feito com penicilina G cristalina, na dose de 100.000UI/Kg/dia, endovenosa, em duas ou três vezes, dependendo da idade, por dez dias; ou penicilina G procaína, na dose de 50.000UI/Kg, intramuscular, por dez dias. ü Se houver alteração liquórica, o tratamento deverá ser feito com penicilina G cristalina, na dose de 150.000 UI/Kg/dia, endovenosa, duas ou três vezes, dependendo da idade, por quatorze dias. ü Nos recém-nascidos assintomáticos de mães adequadamente tratadas, VDRL não reagentes em amostra de sangue periférico e com raio X de ossos longos sem alterações, procede-se apenas o seguimento ambulatorial. ü No período pós-natal, após o 28º dia de vida, crianças com quadro clínico sugestivo de sífilis congênita, devem ser cuidadosamente investigadas. Confirmando-se o diagnóstico, procede-se o tratamento conforme está preconizado, observando o intervalo das aplicações da penicilina G cristalina, que nestas crianças deve ser de quatro em quatro horas. Para penicilina G procaína, o intervalo entre as doses deverá ser de doze horas, mantendo-se as mesmas dosagens preconizadas. Cabe ressaltar que no caso de interrupção do tratamento por mais de um dia, o mesmo deverá ser reiniciado e que o seguimento ambulatorial deve ser mensal, no primeiro ano de vida, com repetições do VDRL nos meses um, três, seis, doze e dezoito, interrompendo quando negativar. Diante das elevações de títulos sorológicos, ou da sua nãonegativação até os dezoito meses, se deve reinvestigar o paciente. Recomeda-se, ainda acompanhamento oftamológico, neurológico e audiológico semestral e nos casos onde o líquor estiver alterado, deve-se proceder a reavaliação liquórica a cada seis meses e até a normalização do mesmo.6 Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version Os índices de sífilis congênita nos dias atuais vêm aumentando significativamente, devido a comportamentos sexuais de risco, que incluem multiplicidade de parceiros e relações sem utilização de preservativos. Locais onde a pobreza e a má qualidade de assistência à saúde são fatores marcantes contribuem, ainda, para ineficácia no diagnóstico, demora e, até mesmo, ausência de tratamento.6 Em nosso meio, a sífilis, especialmente a forma congênita, representa, muitas vezes, falhas no sistema de saúde, bem como traduz enorme deficiência no processo educacional da população, sendo, ainda, considerado um dos graves problemas de Saúde Pública.6 A prevenção da sífilis é uma estratégia básica para o controle da transmissão para o feto e deve ser realizada por meio de constante informação para a população feminina em geral, em especial mulheres em assistência pré-natal. As atividades educativas devem priorizar os fatores de risco, as mudanças de comportamento sexual e a promoção e adoção de medidas preventivas com ênfase na utilização adequada de preservativo. Cabe ressaltar a importância de atividades de aconselhamento das mulheres e de seus parceiros durante a sala de espera e/ou consulta pré-natal, no sentido de sensibilizá-los para que percebam a necessidade de maior cuidado, protegendo a si e suas parceiras. A promoção e distribuição de preservativos devem ser função de todos os serviços que prestam este tipo de assistência.5 A participação dos enfermeiros e da equipe de enfermagem é excepcionalmente importante neste contexto, pois, somos educadores e devemos atuar com ênfase no aconselhamento, detecção de situações de risco e a educação para a saúde, evitando desta forma, a transmissão e evolução dos casos de sífilis/sífilis congênita.5 OBJETO DO ESTUDO Com base no exposto, o presente estudo teve como objeto a investigação do grau de orientação de gestantes em assistência pré-natal, em uma unidade básica de saúde, acerca de aspectos da sífilis e da sua forma congênita. QUESTÕES NORTEADORAS DO ESTUDO: Na fase exploratória deste estudo, foi observado um déficit de conhecimento das clientes com relação à sífilis/sífilis congênita, contrapondo-se com o saber científico da enfermagem, sendo de extrema importância a atuação desta como educadora. Sendo assim, foram formulados os seguintes questionamentos: Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version - As gestantes em assistência pré-natal possuem conhecimento adequado sobre a sífilis/sífilis congênita no que diz respeito à transmissão, diagnóstico e prevenção? - As gestantes assistidas na consulta de pré-natal manifestam déficit de conhecimento e dúvidas em relação à sífilis/sífilis congênita que poderiam ser prontamente solucionadas pela enfermagem? - O planejamento de atividades, onde enfermeiro e gestante possam trocar informações sobre aspectos terapêuticos e preventivos da sífilis, propiciando um meio para manifestação de dúvidas, dificuldades e anseios, pode contribuir para um melhor conhecimento e controle da doença? JUSTIFICATIVA DO ESTUDO Como referido anteriormente, com base no déficit de conhecimento identificado na fase exploratória, o presente estudo pretende contribuir para melhoria da qualidade de assistência prestada a estas gestantes, propiciando orientações claras e, conseqüentemente, maior segurança nas formas de prevenção. Este estudo torna-se relevante à medida que ao favorecer a conscientização do profissional de enfermagem sobre a sua importância como educador, busca melhorar a qualidade da assistência, através de um movimento de maior aproximação entre enfermeiros e clientes. OBJETIVOS DO ESTUDO: Sendo assim, foi traçado o seguinte objetivo geral: - Avaliar o nível de conhecimento/orientação das gestantes sobre a sífilis/sífilis congênita. Seguiu-se, então, a delimitação dos objetivos específicos: - Avaliar o nível de conhecimento das gestantes com relação às formas de transmissão da sífilis e de sua forma congênita. - Avaliar o nível de conhecimento das gestantes acerca das condutas e métodos para prevenção da sífilis/sífilis congênita. Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version - Avaliar o nível de conhecimento das gestantes sobre os métodos diagnósticos para sífilis/sífilis congênita. - Identificar o grau de necessidade de orientações no pré-natal, quanto às formas da sífilis, realização de exames diagnósticos, tratamento e prevenção. METODOLOGIA O presente estudo foi desenvolvido sob uma abordagem qualitativa, uma vez que a investigação direcionada a valores, significados e conhecimentos das clientes acerca da sífilis e da sua forma congênita conferem um caráter estritamente qualitativo a esta pesquisa. Para realização deste estudo foi escolhida uma Unidade Básica de Saúde, situada no município de Teresópolis. A escolha da unidade supra citada como campo de pesquisa, justifica-se pois esta realiza consultas de pré-natal, incluindo diagnóstico por VDRL e acompanhamento dessas gestantes, uma vez ao mês até oitavo mês de gestação, de quinze em quinze dias no oitavo mês e uma vez por semana no último mês de gestação. Foram entrevistadas vinte gestantes em acompanhamento pré-natal na instituição escolhida. Os dados referentes ao grau de conhecimento destas clientes acerca da sífilis/sífilis congênita foram colhidos através de entrevista individual semi-estruturada, contendo perguntas fechadas sobre dados de identificação social e perguntas abertas, buscando identificar qual o grau de conhecimento destas gestantes acerca do significado, transmissão, prevenção, diagnóstico da sífilis/sífilis congênita. Atendendo o parágrafo da resolução 196/96 do Ministério da Saúde foram respeitados os princípios éticos relativos à pesquisa com seres humanos.7 Após a coleta, os dados foram organizados em categoria que, por sua vez, foram analisadas a luz do referencial teórico e da minha própria avaliação dos relatos obtidos. A estruturação de categorias permitiu uma observação de fenômenos comuns e relevantes e uma análise científica de verbalizações empíricas. Com relação a este tipo de análise, MINAYO infere que: "O método científico permite que a realidade social seja reconstruída enquanto um objeto do conhecimento, através de um processo de categorização que une dialeticamente o teórico e o empírico".7 Por fim, com base nos resultados obtidos, foram propostas estratégias de orientação para estas clientes, baseadas no déficit de conhecimento e dúvidas por elas expressadas. Assim, buscamos oferecer um retorno prático desta pesquisa às clientes e ao Serviço de Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version Enfermagem da unidade escolhida, estreitando laços entre a atividade de pesquisa da Faculdade e a prática assistencial da unidade em questão. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistadas 20 gestantes em assistência pré-natal em Unidade Básica de Saúde, localizada no município de Teresópolis. Das entrevistadas, 60% tinham de 20 a 30 anos, 25% eram menores de 20 anos e 15% tinham mais de 30 anos. A maioria das gestantes entrevistadas relatou união estável com seu parceiro (55%); as demais eram casadas (30%) e solteiras (15%). Com relação ao número de filhos e gestações, a maioria das clientes já possuíam um ou mais filhos (85%), sendo apenas 15% das entrevistadas nulíparas. Com relação ao grau de escolaridade, 15% das entrevistadas possuíam nível médio, 50% nível fundamental, 30% nível elementar e uma delas era analfabeta. Das gestantes entrevistadas, 70% não possuíam atividade profissional, relatando estarem envolvidas apenas com as tarefas domésticas; as demais referiram trabalhar como babá, agente de saúde, cozinheira, doméstica, balconista e professora. Concluída a fase de coleta de dados, passamos ao registro e organização das informações colhidas. Através da análise das entrevistas foi possível constatar a existência de quatro categorias relevantes, delimitadas pela congruência nos relatos das entrevistadas: três delas evidenciaram o déficit de conhecimento apresentado pelas gestantes relacionado à sífilis, sua forma congênita, vias de transmissão e métodos preventivos. A categoria final referiu-se ao desconhecimento por parte destas clientes acerca da realização do exame para sífilis durante o atendimento pré-natal. A primeira categoria traz os principais discursos onde evidencia-se déficit de conhecimento das entrevistadas quando questionadas sobre o que é sífilis e como se transmite. Categoria 1: Conhecimento ausente, insuficiente e/ou equivocado relacionado à sífilis e sua forma de transmissão. Gestante 3: “Não sei não, da outra vez eu vi uma palestra falando de doenças que a mulher pega, mas dessa eu não lembro. Nunca ouvi falar de como transmite”. Gestante 6: “É um tipo de infecção, mas não sei qual”. Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version Gestante 7: “Não sei o que é sífilis nem como é transmitida”. Gestante 8: “É uma doença na vagina, corrimento e pode causar coceira. É uma doença que passa do homem para mulher”. Gestante 12: “Acho que é uma doença que dá no homem e é transmitida através do homem fazendo sexo sem camisinha”. Gestante 13: “É uma doença que dá bolinha, brota no corpo. Não imagino como seja transmitida”. A sífilis é considerada doença sexualmente transmissível, infecto-contagiosa, pandêmica, que freqüentemente se inicia por cancro de inoculação, evoluindo de forma crônica com períodos de silêncio clínico e podendo atingir vários sistemas orgânicos. A sífilis é adquirida, quase exclusivamente, por contato sexual. 1 Podemos verificar que esse grupo de gestantes, em seus relatos demonstraram ausência, déficit de conhecimento e, ainda, conceitos errados acerca da sífilis e sua forma de transmissão. Foi dito: “É uma doença que passa do homem para a mulher”. Devo ressaltar que a transmissão ocorre tanto do homem para a mulher como da mulher para o homem. As gestantes entrevistadas demonstraram, ainda, déficit de conhecimento em relação aos sinais e sintomas, como foi citado: “É uma doença que dá bolinha, brota no corpo”. E, por fim, algumas apresentaram ausência total de conhecimento como no relato: “Não sei o que é sífilis nem como é trasmitida”. Esses relatos são preocupantes, pois são provenientes de gestantes em assistência prénatal. Logo, estas já deveriam estar orientadas sobre doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), principalmente aquelas que possuem forma congênita, podendo ser transmitidas para seus conceptos. Sem conhecimento com relação à transmissão, fica inviável a adoção de comportamentos de prevenção. O enfermeiro deve exercer um papel importante como educador, uma vez que ele é o profissional de saúde mais apto a fornecer às orientações a esta clientela, pois além de possuir Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version os conhecimentos científicos necessários, é o profissional que realiza a sala de espera, estabelecendo assim, na maioria das vezes, uma relação de cumplicidade com as gestantes. A segunda categoria traz os principais discursos, onde percebe-se déficit de conhecimento das gestantes quando questionadas sobre o que é sífilis congênita e como é transmitida. Categoria 2 :Conhecimento ausente, insuficiente e/ou equivocado relacionado à sífilis congênita e sua forma de transmissão. Gestante 2: “Sífilis congênita? Não sei o que é nem como se passa”. Gestante 6 : “Não faço idéia do que seja sífilis congênita, mas também deve ser transmitida pela relação sexual”. Gestante 7 : “É alguma coisa genital, que se transmite através do sexo”. Gestante 10 : “Não sei, deve ser uma inflamação talvez que se transmite vestindo a peça de roupa de outra pessoa, em assentos, bancos...” Gestante 11: “Não sei o que é sífilis congênita, não sei se é transmitida através do beijo”. Gestante 12: “Não faço a mínima idéia, seria transmitida pela mesma forma, sem o uso de preservativo?" Gestante 19: “É transmitida da mãe para o filho, mas só através do nascimento. O único contato que a criança tem com a doença é só no parto normal, pois cesárea é por cima”. A sífilis congênita é uma infecção causada pela disseminação hematogênica do T. pallidum da gestante infectada para seu concepto .5 Baseado nos relatos citados acima, podemos perceber que as gestantes demonstraram ausência, grande déficit de conhecimento e, ainda, conhecimentos equivocados relacionados à sífilis congênita. Ressalto que a via sexual de transmissão está implicada na sífilis, porém, na Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version forma congênita, a transmissão é vertical. Não há transmissão através de roupas, assentos nem beijo! E, ainda, a criança é contaminada intra-útero em qualquer fase gestacional, não apenas no momento do parto, como foi referido por uma das entrevistadas. Esses conceitos errados se tornam altamente prejudiciais quando da tentativa de minimizar os casos da sífilis congênita, pois, sem o conhecimento da doença e sua forma de transmissão, fica difícil o reconhecimento da importância da prevenção, realização de exames e, se for o caso, tratamento durante o pré-natal. A terceira categoria traz os principais discursos onde nota-se déficit de conhecimento das gestantes quando questionadas sobre como prevenir a sífilis e sua forma congênita. Categoria 3: Conhecimento ausente, insuficiente e/ ou equivocado relacionado aos métodos preventivos para a sífilis e sua forma congênita. Gestante 7 : “Deve ser usando camisinha. Sífilis é a mesma coisa que AIDS?” Gestante 11: “Tem que usar camisinha. Eu mesma nunca usei, pois tenho marido. Mas quem não tem precisa prevenir”. Gestante 13: “Não sei como prevenir. É o que passa do homem, da mulher. Sei lá”. Gestante 16: “Seria usando camisinha? Receber sangue pega também?”. Gestante 19: “Usando camisinha, tomando anticoncepcional e evitar o sexo oral”. A prevenção da sífilis na população feminina em geral deverá ser realizado com o uso regular de preservativos, redução do número de parceiros sexuais, diagnóstico precoce em mulheres em idade reprodutiva e seus parceiros, realização do teste de VDRL em mulheres que manifestam intenção de engravidar e tratamento imediato dos casos diagnosticados de sífilis em mulheres e seus parceiros. A melhor forma de prevenir a sífilis congênita é a detecção e tratamento no pré-natal.6 Nessa categoria, as gestantes mostraram muitas dúvidas e também déficit de conhecimento em relação a métodos preventivos para a sífilis e sua forma congênita. Fizeram Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version confusão entre duas DSTs completamente diferentes, sífilis e SIDA, o que torna inviável a prevenção. Muitas entrevistadas falaram do preservativo como forma de prevenção, mas nenhuma relatou a prevenção da transmissão vertical. Por serem gestantes em pré-natal, podemos detectar que elas não possuem conhecimento adequado acerca do risco para seus filhos. A pílula não previne a sífilis, ao contrário do que foi relatado por uma das gestantes e, ainda, é válido ressaltar que mulheres casadas não estão protegidas das DSTs. É muito importante que essas gestantes sejam orientadas quanto a prevenção das DSTs, através da realização de palestras ou até mesmo na sala de espera, para que conheçam sobre os métodos preventivos das DSTs e os coloquem em prática. Sendo assim, é fundamental que o enfermeiro possua conhecimentos e desenvolva sensibilidade para orientar. Com relação ao papel do enfermeiro como educador8 afirma que: “Para ser um eficiente educador, o enfermeiro deve fazer mais do que simplesmente passar adiante os fatos; o enfermeiro deve determinar cuidadosamente o que os clientes precisam saber e julgar a hora em que estiverem prontos para aprender”. A quarta categoria traz relatos sobre o desconhecimento quanto a realização do exame de sífilis no pré-natal. Categoria 4: Desconhecimento quanto à realização do exame da sífilis no prénatal. Gestante 1: “Olha, eu não sei se fiz. Veio alguma coisa escrito assim: não reagente, sei lá. Eu não entendo muito. Eu até fiquei preocupada e perguntei para médica o que era o resultado.” Gestante 3: “Eu já fiz um monte de exames, mas não sei se é esse”. Gestante 4: “Não sei se já fiz”. Gestante 13 : “Não sei. Seria o preventivo? Gestante 20 : “Acho que sim. Quando eu faço o pré-natal eu faço tudo quanto é tipo de exames. Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version Os principais exames para detecção da sífilis são o VDRL, uma sorologia não-treponêmica e o FTA-Abs, uma sorologia treponêmica.3 O VDRL é o exame preconizado no pré-natal.5 Na análise dos relatos desta categoria, verificamos que há ausência de um processo eficaz e satisfatório de orientação das gestantes, pois, elas estão sendo assistidas em pré-natal, possivelmente fizeram o exame, porém não sabem; confundem as sorologias para sífilis com outros exames, como o preventivo. Estes dados nos levam a refletir sobre o fato destas gestantes não terem recebido orientação nem para realização, nem sobre o resultado do VDRL. Ficou claro a imensa necessidade de orientação apresentado por essas mulheres, o que pode ser satisfatoriamente contemplado por ações educativas realizadas pela enfermagem. A responsabilidade do enfermeiro é ensinar a informação de que as clientes e suas famílias necessitam. O enfermeiro esclarece a informação provida pelos médicos e pode torna-se a primeira fonte de informação para o ajuste dos problemas de saúde.8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A realização deste trabalho teve como propósito avaliar o nível de conhecimento das gestantes sobre a sífilis/sífilis congênita quanto à transmissão, realização de exames diagnósticos e prevenção. Além de identificar o grau de necessidade de orientação para as gestantes no pré-natal. Concluída a pesquisa, todos os objetivos traçados foram alcançados e os resultados apontaram para significativo déficit de conhecimento das gestantes em pré-natal entrevistas referentes a diversos aspectos da Sífilis/Sífilis congênita. Esta pesquisa levou à reflexão sobre o saber empírico destas clientes que se contrapôs ao saber científico da enfermagem, bem como na importância do papel educador do profissional enfermeiro e na contribuição que a enfermagem tem a oferecer para as clientes inscritas no pré-natal. Pude perceber que o papel de educador, inerente ao enfermeiro, não apareceu no relato das gestantes entrevistadas. Muitas pareciam não ter recebido em nenhum momento qualquer tipo de informação acerca da importância da investigação e prevenção da sífilis, muito menos das conseqüências da forma congênita desta DST para seus conceptos. Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version Ficou clara a necessidade do profissional de enfermagem atuando na acolhida destas gestantes e promovendo atividades educativas e trocando experiências com elas em ambiente tão propício, que é uma Unidade Básica de Saúde. Buscando otimizar a assistência de enfermagem a estas gestantes, foi sugerido a formação de grupos de orientações, conduzidos por profissionais de enfermagem e criação de espaços para aconselhamento individual e a elaboração de um manual ilustrado, procurando esclarecer as principais dúvidas evidenciadas na presente pesquisa. AGRADECIMENTOS: À Profª. Ms. Verônica Santos Albuquerque, Prof. Ms. Daniel Pinheiro Hernandez e ao Prof. Ms. Luis Cláudio da Rocha Fraga. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PASSOS, Mauro. Doenças sexualmente transmissiveis.4.ed., Rio de Janeiro: Cultura Médica, 1995. VERONESI, Ricardo. Tratado de Infectologia. 2.ed , São Paulo: Atheneu, 1996. GOMES, José Carlos Gonçalves Jr. Sífilis. In Batista RS et al. Medicina Tropical : Abordagem Atual das Doenças Infecciosas e Parasitária. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2001. MARANGONI, Denise Vantil & SCHESTER, Mauro. Doencas infecciosas: Conduta diagnóstica e terapêutica. 2.ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Controle das doenças sexualmente transmissíveis. 3.ed., 1999. RIO DE JANEIRO, Secretaria Municipal de Saúde (SMS-RJ). Sífilis na Gravidez. In: Saúde em foco, 2000, 24: 22-32. Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version MINAYO, Maria Cecília. Pesquisa social. 6.ed., Petrópolis: Vozes, 1995. POTTER, Patricia e Perry, Anne Griffin. Fundamentos de Enfermagem: conceitos, processo e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. Create PDF with PDF4U. If you wish to remove this line, please click here to purchase the full version