ADRIANA APARECIDA FREGONESE Gestantes de Alto Risco com e sem histórico de óbito fetal ou neonatal: sintomas de ansiedade e depressão, capacidade para o relacionamento com o feto e estratégias de enfrentamento Tese apresentada ao Curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de Doutora em Ciências da Saúde. SÃO PAULO 2014 ADRIANA APARECIDA FREGONESE Gestantes de Alto Risco com e sem histórico de óbito fetal ou neonatal: sintomas de ansiedade e depressão, capacidade para o relacionamento com o feto e estratégias de enfrentamento Tese apresentada ao Curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de Doutora em Ciências da Saúde. Área de Concentração: Ciências da Saúde (versão corrigida) Orientadora: Profa. Dra. Wilma Carvalho Neves Forte Coorientadora: Profa. Dra. Wilze Laura Bruscato SÃO PAULO 2014 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Fregonese, Adriana Aparecida Gestantes de alto risco com e sem histórico de óbito fetal ou neonatal: sintomas de ansiedade e depressão, capacidade para o relacionamento com o feto e estratégias de enfrentamento./ Adriana Aparecida Fregonese. São Paulo, 2014. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientadora: Wilma Carvalho Neves Forte Co-orientadora: Wilze Laura Bruscato 1. Psicologia 2. Gravidez de alto risco 3. Ansiedade 4. Depressão 5. Enfrentamento BC-FCMSCSP/34-14 . Dedicado a todas as gestantes de alto risco Para retribuir um pouco de tudo que aprendo com elas Sempre presente, que tudo impregna, Que tudo conhece, eterno, sem motivo ou causa. Maior que os maiores. Menor que os menores. Começas tua jornada como uma partícula de inteligência. Alimento, imagens, lembranças e desejos, Transformam-te em células, olhos, ouvidos e carne. Curvando-te para trás dentro de ti mesmo, Crias sempre, vez após vez. Deepak Chopra Agradecimentos À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, pela possibilidade de praticar os desafios da ciência. À minha orientadora Prof.ª Drª Wilma Carvalho Neves Forte, pela disponibilidade em investir e acreditar em meus projetos de pós-graduação, sempre cuidadosa, dedicada ao trabalho, com quem aprendo a alimentar sonhos e manter o foco. Como pessoa e profissional é indispensável em minha caminhada. À minha coorientadora Prof.ª Drª Wilze Laura Bruscato, pela dedicação minuciosa na elaboração de todas as etapas desse trabalho. Por ter me ensinado a pensar grande e a trabalhar nos detalhes para atingir o objetivo. Simplesmente, uma pessoa imprescindível para o meu crescimento pessoal e profissional. À equipe médica da Gestação de Alto Risco, em especial ao Profº Drº José Júlio de Azevedo Tedesco (in memoriam), que me acolheram efetivamente como membro da equipe, dividindo reflexões, discussões, informações, conhecimento teórico e experiência prática. Às psicólogas Prof.ª Drª Maria Lúcia Livramento e a Prof.ª Drª Glaucia Rosana Guerra Benute que gentilmente aceitaram participar da banca no exame de qualificação desse trabalho, com muita habilidade e profissionalismo me conduziram para a organização, primeiramente interna, e posteriormente do conteúdo e forma dessa pesquisa. À Prof.ª Drª Lilian de Paiva Rodrigues Hsu que, além de suas contribuições para a lapidação desse trabalho no exame de qualificação, compartilha comigo diariamente experiências emocionais, espirituais e reflexões sobre a vida. Ao Serviço de Psicologia que me oferece possibilidades infinitas de aprendizado e crescimento. Às queridas colegas psicólogas com quem compartilho grandes reflexões e pequenos detalhes: Ana Paula Sabatini de Melo Braga, Andrea Cristina Silva, Danielle Lopes Palermo, Flavia Fusco Barbour, Renata Pereira Condes, Sandra Rodrigues dos Reis e Vivian Azevedo Amaral Braguini, agradeço o todo o apoio logístico e afetivo durante a elaboração desse trabalho. Sem vocês teria sido muito difícil. À principal fonte promotora da minha vida em todos os sentidos: meus amados pais Inês Marinelli Fregonese e José Antônio Fregonese, que me sustentaram em seus desejos e permitiram o aparecimento dos meus. Ao meu irmão Anderson José Fregonese e meu sobrinho Lucas Fregonese, pelo incentivo e reconhecimento dos meus esforços. À Rodrigo Nalio Pricoli que me ensinou a não temer meus desejos, a aquietar a ansiedade e apostar na grandiosidade das sementes. À amiga Carolina Castelli de Paula, que vivenciou comigo os momentos de intenso investimento no percurso da pós-graduação, sempre me motivando e ajudando a pensar sobre as questões envolvidas no mundo materno infantil. À Profª Drª Maria Luisa Louro de Castro Valente, que me apresentou e me conduziu rumo aos conhecimentos da Psicologia da Gestação durante a graduação. Admirável como pessoa, professora e orientadora. SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO 01 2 – REVISÃO DE LITERATURA 03 2.1 – Gestação de Alto Risco 03 2.2 – Quando a morte acontece no lugar do nascimento 07 2.3 – Ansiedade e Depressão 16 2.4 – Capacidade para o relacionamento com o feto (Relações objetais) 20 2.5 – Estratégias de enfrentamento 28 2.6 – Comunicação psicofisiológica entre mãe e feto 31 3 - OBJETIVOS 36 3.1 - Geral 36 3.2 - Específicos 36 4 – CASUÍSTICA E MÉTODO 36 4.1 - Desenho de estudo 36 4.2 - Amostra 36 4.3 - Critérios de inclusão 36 4.4 - Critérios de exclusão 37 4.5 - Instrumentos 37 4.6 - Procedimentos 39 4.7 - Tratamento dos Dados 39 5 - RESULTADOS 41 5.1 – Dados sociodemográficos 41 5.2 – Antecedentes obstétricos 46 5.3 – Gestação atual 48 5.4 – Histórico e repercussões frente à perda 65 5.5 – Ansiedade, depressão, relações objetais e recursos de enfrentamento 73 6 – DISCUSSÃO 77 7 – CONCLUSÕES 93 ANEXOS 95 8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 107 RESUMO ABSTRACT LISTA DE TABELAS APROVAÇÃO ÉTICA 1 – INTRODUÇÃO A maternidade compõe a história temporal e atemporal de cada gestante com inúmeras particularidades. Cada relato de paciente convoca vários saberes e a compreensão demanda aspectos distintos e ao mesmo tempo integrados, é necessário analisá-los em um universo de variáveis. O presente estudo é fruto de profundas inquietações a respeito de cada história que ouvi ao longo de muitos anos trabalhando com ginecologia, obstetrícia e pediatria. Eu me recordo do primeiro contato com a enfermaria obstétrica, ainda na graduação, em um hospital público. Uma paciente muito jovem me questionou porque ela ainda tinha “barriga de grávida” se o bebê já havia nascido. Naquele momento, percebi que informação ou orientação não bastavam para amenizar a expressão de choque daquela paciente. Fui buscar as respostas na literatura científica e percebi que essa busca não se finda, outras perguntas surgem e alimentam o desejo por outras descobertas. Assim, essa temática tão complexa e desafiadora foi se configurando em minha vida profissional. Diante da grande demanda de uma instituição hospitalar, a Psicologia necessita criar possibilidades de atuação e assistência que contemplem parte das necessidades das equipes multiprofissionais, contribuindo com intervenções associadas com o tratamento médico. Considerando que a etiologia das doenças é multifatorial a abordagem terapêutica também depende da integração dos aspectos emocionais e físicos. A gestação de alto risco envolve muitos sentimentos, crenças, anseios, medos e expectativas e o trabalho psicológico com essa população pode contribuir, preventivamente, para a saúde física e mental da futura criança e da relação que cada mãe irá estabelecer com seu filho. No contexto prático da minha atuação assistencial com essa população específica, algumas questões ganharam relevância quando percebi que elas se repetiam, sendo comuns para muitas mulheres. Frequentemente as pacientes com histórico de perda fetal ou neonatal me surpreenderam com relatos de dor frente à perda, ou várias perdas, concomitantes com a alegria da gestação atual, extremamente idealizada. O pouco tempo transcorrido entre uma gestação malograda e a gestação atual chamou minha atenção inúmeras vezes. Outro fator 2 que também se destacou foi a religiosidade como suporte e depositária de todas as esperanças. Para outras pacientes as relações familiares e sociais pareciam fornecer esse suporte. Assim, como pesquisadora, percebi a necessidade de compreender como as reações emocionais em gestação, subsequente ao óbito fetal ou neonatal, se manifestam e as relações existentes com características de personalidade e a utilização de estratégias de enfrentamento. O objetivo deste estudo foi de investigar sintomas de ansiedade e depressão em gestantes de alto risco com e sem histórico de óbito fetal, a capacidade para o relacionamento com o feto atual e as estratégias de enfrentamento diante do alto risco. Para construir o entendimento teórico das questões observadas na prática assistencial foi realizado um levantamento de literatura contemplando as repercussões emocionais frente ao alto risco, hospitalização e perda, ansiedade e depressão em gestantes, a formação da capacidade para o relacionamento e estratégias de enfrentamento. A teoria psicanalítica e os modelos psicodinâmicos derivados dela foram utilizados para a compreensão e interpretação dos dados obtidos nessa pesquisa. 3 2 – REVISÃO DE LITERATURA A maternidade é um direito, um dever, uma obrigação? Poderá existir uma humanidade sem filhos? Raquel Soifer 2.1 - Gestação de Alto Risco Toda gestação traz em si risco para a mãe ou para o feto. Quando esse risco é potencialmente maior ocorrem as chamadas gestações de alto risco. O Ministério da Saúde define a gestação de alto risco como aquela na qual a vida ou saúde da mãe e/ou feto e/ou do recém-nascido, têm maiores chances de serem atingidas que as da média da população considerada (Brasil, 2000). Os fatores geradores de risco podem ser agrupados em quatro grandes grupos: o primeiro engloba as características individuais e condições sóciodemográficas desfavoráveis como idade menor que 17 e maior que 35 anos, situação ocupacional que gera esforço físico, carga horária intensa, rotatividade de horário, exposição a agentes físicos, químicos e biológicos nocivos e estresse. A situação conjugal insegura, baixa escolaridade e condições ambientais desfavoráveis também influenciam. Assim como, altura menor que 1,45 m, e peso inferior a 45 kg ou acima de 75 kg e dependência de drogas lícitas ou ilícitas (Brasil, 2000). O segundo grupo de fatores de risco contempla a história reprodutiva anterior à gestação atual como morte perinatal explicada e inexplicada, recém-nascido com crescimento retardado, pré-termo ou malformado, abortamento habitual, esterilidade/infertilidade. Também são considerados o intervalo interpartal menor que 2 anos ou maior que 5 anos, a nuliparidade e multiparidade, síndrome hemorrágica ou hipertensiva e cirurgia uterina anterior (Brasil, 2000). As doenças obstétricas na gestação atual caracterizam o terceiro grupo de fatores de risco. Os diagnósticos importantes são: desvio do crescimento uterino, número de fetos e volume de líquido amniótico, trabalho de parto prematuro, 4 gravidez prolongada, ganho ponderal inadequado, pré-eclâmpsia, eclâmpsia, diabetes gestacional, amniorrexe prematura, hemorragias da gestação, aloimunização e óbito fetal (Brasil, 2000). No quarto grupo de fatores de risco estão as intercorrências clínicas, tais como a hipertensão arterial, cardiopatias, pneumopatias, nefropatias, endrocrinopatias, hemopatias, epilepsia, doenças infecciosas, doenças autoimunes e ginecopatias (Brasil, 2000). Segundo Jackson, Ganiats (1999) os óbitos fetais a partir da 22a semana de gestação são considerados como natimortalidade e os óbitos neonatais menores que sete dias de vida são denominados de neomortalidade precoce. Contudo, outras definições são usadas para definir nascido vivo e natimorto (Cartlidge, Stewart, 1995; Gourbin, Masuy-Stroobant, 1995; Richardus et. al, 1997). Para natimorto são usados dois critérios: idade gestacional de 24 semanas ou 28 semanas e/ou peso a partir de 500g, fetos com peso inferior a 500g são considerados como aborto (Richardus et. al, 1997). Quanto ao óbito neonatal, a maioria dos estudos considera apenas aqueles com menos de sete dias, havendo, no entanto, autores que advogam a inclusão de todos os óbitos neonatais (menos de 28 dias) no cálculo da mortalidade perinatal (Cartlidge, Stewart, 1995). Jackson, Ganiats (1999) levantaram a discussão sobre a extinção do termo mortalidade perinatal já que, pelo menos nos países desenvolvidos, os determinantes da natimortalidade vêm-se distinguindo cada vez mais dos da neomortalidade. Toda gestação também traz em si um desafio emocional adaptativo. Para que o processo se desenvolva saudavelmente a gestação demanda que a mulher realize a ligação afetiva com o feto e encontre gratificações no processo gestacional. O ciclo gravídico-puerperal constitui-se em um período crítico e biologicamente determinado de transição e potencial desenvolvimento psíquico da mulher. Caracteriza-se pelo estado temporário de instabilidade devido às grandes perspectivas de mudanças envolvidas (Tedesco, 1997; Quayle, 1997; Maldonado, 2000). A maternidade é momento de transição, de mudança de identidade, que faz parte do processo normal do desenvolvimento, é período crítico de passagem e acompanhado biologicamente por mudanças metabólicas complexas. Essas transformações acompanham-se de equilíbrio instável devido às grandes 5 perspectivas de alterações, havendo necessidade de novas adaptações e reajustamentos interpessoais e intrapsíquico. A solução elaborada pelo indivíduo para superar uma crise pode ser saudável ou doentia, implicando em um novo nível de integração e amadurecimento da personalidade, ou maior grau de desintegração, desorganização e desajustamento da personalidade (Maldonado, 2000). O rótulo de gestação de alto risco representa maior problema emocional e pessoal para a grávida, a família e a equipe de saúde. A identificação de fator de risco intensifica as dificuldades de adaptação e acrescenta inúmeras outras emoções ao quadro. Frente ao fator de risco surge o medo em relação ao filho e a si própria. Como consequência, altera-se o nível de satisfação e envolvimento com os cuidados médicos, comportamentos aflorando regressivos, atitudes negativas, hostilidade, exigências, ansiedade controles elevada, excessivos, desinteresse ou passividade frente ao tratamento. A ansiedade é favorecedora do aparecimento de problemas relacionados com a evolução clínica da gravidez e parto. Quando não controlada também dificulta o ajustamento emocional e propicia efeitos indesejáveis na dupla mãe e bebê, que repercutem no desenvolvimento emocional e cognitivo da futura criança (Tedesco, 1997). A maternidade é adiada muitas vezes em detrimento de outros desejos e como consequência entram em cena os fatores de risco, como a idade materna avançada. A mulher contemporânea vive em um mundo que a obriga a grandes e constantes transformações e como consequência, também necessita aprender a lidar com suas dificuldades e potencialidades em direção a um amadurecimento e evolução psíquica (Soifer, 1980; Macedo,1987; Souza, 1997; Maldonado, 2000). As evoluções tecnológicas e científicas das ciências médicas diminuíram a mortalidade materna e perinatal, no entanto a morbidade para os aspectos psicológicos aumentou muito. As internações sucessivas, por vezes prolongadas, o repouso no leito e os controles rígidos com dieta e cuidados físicos levam à melhora do quadro clínico materno e fetal, mas podem alterar drasticamente o equilíbrio emocional, as relações interpessoais e a dinâmica familiar. Na gravidez de alto risco afloram emoções como censura (a si mesma ou a outros pelos problemas atuais), punição (por acontecimentos do passado), sentimentos de falha e incapacidade (para desenvolver o papel de mãe). Negar a realidade também é um recurso 6 emocional freqüentemente utilizado pelas pacientes, principalmente porque o feto corre riscos de não sobreviver. Da mesma forma o sentimento de culpa é frequente e decorrente da crença de que a própria gestante é responsável pela situação de risco, principalmente se a mulher apresentava fator de risco pré-existente à gestação. Nesse contexto de doença pré-existente a mulher passa a se ver como diferente em relação a outras grávidas e, como consequência, há perda da autoestima. A gestante com baixa autoestima pode sentir-se incompetente e incapaz de manter o desenvolvimento saudável da gravidez (Tedesco, 1997; Quayle, 1997). Considerando toda intensidade emocional que permeia o processo gestacional, qualquer fator de risco diagnosticado pode se configurar como um evento estressor. Na análise dos aspectos emocionais envolvidos na assistência à gestação de alto risco, outros fatores também são considerados como agentes estressores: a hospitalização, a família e a equipe de saúde. A hospitalização pode ser tomada como o principal dos cuidados obstétricos e representa verdadeiro desafio adaptativo para a mulher e sua família, representa a conscientização da doença e suas conseqüências, o que gera medo em relação à sua saúde e em relação à saúde e desenvolvimento do feto. Quando a mulher tem outros filhos, emerge a culpa por deixá-los sozinhos ou submetidos aos cuidados de outros, e o sentimento de incapacidade de desempenhar o papel de mãe. Ao longo do processo pode surgir raiva em relação ao feto, pois a ligação afetiva com outros filhos é ainda muito mais forte. Essas reações emocionais fazem ressurgir a ambivalência entre querer e não querer a gestação, movimento este comum no início da gestação, mas que pode se reinstalar de forma ampliada. Para as mulheres com fator de risco préexistente a hospitalização confronta suas condições clínicas estáveis anteriormente e reacende ansiedade, desconfiança e raiva e, muitas vezes, essas reações são direcionadas para a equipe de saúde. As mulheres sem fator de risco prévio são surpreendidas com o diagnóstico no curso da gestação e, caracteristicamente, podem exibir os sinais clássicos de reação de luto. Na gravidez de alto risco, o luto resulta da “morte” da gravidez idealizada e livre de intercorrências (Tedesco, 1997; Quayle, 1997). No que se refere à família como fator de estresse, além do distanciamento dos filhos, a grávida hospitalizada ainda precisa administrar, em maior ou menor grau, as reações do companheiro. Por vezes, ele sente-se excluído do processo, 7 recebe poucas informações e pouca atenção da equipe de saúde, pode também reagir com ansiedade, culpa, raiva, ressentimento, censura e preocupação, muitas vezes exerce resistência ao tratamento e solicita alta ou troca de equipe atendente. Soma-se a esse cenário a alteração da dinâmica familiar. Com a ausência da companheira o pai assume a responsabilidade pelas tarefas domésticas, cuidados com outros filhos e eventuais dificuldades financeiras quando a mulher é também provedora da casa. Todas essas reações, maternas e paternas, podem gerar desacertos e desencontros desestabilizando a dinâmica familiar (Tedesco, 1997; Quayle, 1997). Frente a todo esse contexto se encontra a equipe de saúde que necessita amparar e administrar a paciente em todos os sentidos. Inúmeras dificuldades surgem na rotina dos profissionais de saúde: problemas no trato com a paciente/familiares, reações de agressividade, censura e hostilidade que podem ser projetados nos profissionais, demandas administrativas e institucionais, gravidade de cada paciente, desfecho feliz ou triste dos casos, tomada de decisões, comunicação de notícias difíceis, dentre outras. O estresse da gestante/familiares se sobrepõe, muitas vezes, ao estresse da equipe de saúde, fechando-se, assim, um círculo que constringe e imobiliza a todos (Tedesco, 1997; Quayle, 1997). Em geral, as reações emocionais frente ao diagnóstico de alto risco podem ser transitórias, decorrentes do processo de adaptação. No entanto, o não ajustamento mobiliza mecanismos de defesa como a negação, a regressão e a racionalização que podem dificultar a adesão ao tratamento e a piora do nível de estresse (Tedesco, 1997; Quayle, 1997). 2.2 - Quando a morte acontece no lugar do nascimento Logo no início da gravidez a mulher se depara com uma criança imaginada. Isto geralmente ocorre a partir do segundo trimestre da gestação quando é possível perceber os movimentos fetais. O filho imaginário nasce do pensamento materno, sendo portador de “mensagens” e de valores transmitidos de geração em geração. Como exemplo citamos a escolha do nome, que não foge a essa regra. Quando se escolhe um nome de um personagem amado ou tido como herói, admirado, ou até 8 mesmo o nome de outra criança já falecida ou de um parente, o filho imaginário se reveste dessa identidade emprestada e se torna um portador desse personagem. Também ocorre freqüentemente, com muitos casais, o desejo de ter um filho como solução para uma crise conjugal, ou seja, a futura criança já vem ao mundo com uma missão que também não lhe compete: unir os pais. Portanto, quando a criança nasce, os pais se confrontam com o bebê e com uma dupla referência: o imaginado e o real. As futuras crianças podem chegar ao mundo com uma responsabilidade que não pertence a elas, já que serão depositárias das fantasias idealizadas dos pais. Os pais inundam-se de esperanças e podem pensar que todos os seus problemas se resolverão com a chegada do futuro filho, que aparece como um salvador, quase como divino. O investimento emocional no filho pode vir a ser muito grande. A futura criança é extremamente idealizada e a quebra repentina desta idealização, pode trazer consequências muito sérias para a vida psíquica dos pais e da criança. Os novos pais identificam-se com o bebê gerando expectativas e anseios com relação ao papel de pais e às características da criança (Soifer, 1980; Costa, Katz, 1992; Rosenberg, 1994). Quando há óbito concreto do feto ou do neonato, assim como em situações de abortamento, fica impossível aplicar a capacidade materna. A morte acontece no lugar do nascimento. Morte do bebê concreto e da mãe daquele bebê. É necessário fazer novas adaptações. A realidade é recebida com grande choque. Os pais podem sentir mais do que a perda do filho, também podem perder a fé na medicina e nos médicos e em sua própria capacidade de produzir um bebê normal. Aumentando ainda mais as dificuldades, as sociedades industrializadas perderam a familiaridade diária com a morte e o luto, tornando os cidadãos mal preparados para lidar com essa situação trágica. A morte de fetos ou natimortos costuma ser tratada como um não evento, não há velório e nem rituais de despedida. (Bowlby 1985; Quayle, 1997; Enkin et al, 2005; Parkes, 2009). É comum mulheres não divulgarem a gravidez antes das doze semanas de gestação. Caso sofram abortamento, o sigilo as protege da exposição do sofrimento. A mulher pode ainda nunca superar o luto, considerando a tristeza como fidelidade ao filho morto. O fracasso na elaboração do processo de luto é frequente e conduz a severas dificuldades. Do mesmo modo é necessário considerar as características de personalidade do enlutado antes da perda, como aspectos de fragilidade emocional 9 e dificuldades de suportar frustrações que podem intensificar o processo de luto. A expressão dos sentimentos nessas situações é fundamental para o desenvolvimento do processo de luto. Somente existirá luto quando tiver existido um vínculo que tenha sido rompido. O luto é a resposta da separação, o rompimento do laço afetivo (Bowlby 1985; Quayle, 1997; Enkin et al, 2005; Parkes, 2009). A morte de alguém se configura como a vivência da morte em vida. É vivenciar a experiência de morte que não é a própria, mas é sentida como se uma parte da pessoa morresse, uma parte ligada pelos vínculos estabelecidos. A perda e a sua elaboração são elementos contínuos no processo de desenvolvimento humano, de forma irreversível rompe os vínculos e evoca sentimentos fortes. A perda é vivenciada conscientemente e muitas vezes mais temida do que a própria morte. A morte de maneira inesperada apresenta a potencialidade de desorganização, paralisação e impotência (Kovács, 2002). Não é correto afirmar que luto é uma doença, já que será vivido por todos, mais cedo ou mais tarde. O luto é classificado como um processo e não como um estado, o que dificulta colocá-lo entre as categorias de doenças. O luto pode não causar dor física, mas causa desconforto e geralmente altera funções e comumente é confundido com depressão (Parkes, 1998). O processo de luto é definido por um conjunto de reações diante de uma perda. Bowlby (1985) elencou quatro fases do processo de luto: 1) Fase de choque com duração de algumas horas ou semanas, que pode vir acompanhada de manifestações de desespero ou raiva. 2) Fase de desejo e busca do objeto perdido, com duração de meses ou anos. A raiva também pode estar presente provocando o desespero, inquietação, insônia e preocupação. A raiva pode ser potencializada quando o enlutado se sente responsável pela perda. Manifestações como irritabilidade ou profunda amargura expressam a raiva. Enquanto persistir a raiva é sinal de que a perda não foi aceita. Essa raiva pode ser transferida para a equipe médica que confirma a realidade da perda. 3) Fase de desorganização e desespero. A tristeza profunda é sentida quando ocorre a constatação da perda definitiva, muitas vezes acompanhada de desejo de morte, desinteresse pela vida sem o objeto perdido. 10 4) Fase de início de organização. Constata-se a perda definitiva e a necessidade de recomeçar uma nova vida. Podem ocorrer novas escolhas baseadas nas características do objeto perdido. O processo de luto é gradual, o tempo é variável de pessoa para pessoa e, em alguns casos, pode durar anos. Todos os aspectos e reações descritos nas quatro fases podem se apresentar concomitantemente, independentemente da fase vivenciada, e retornar mesmo no período de organização. Com o passar do tempo essas reações e sentimentos tendem a ocorrer com menos freqüência. O final do processo é a possibilidade de sentir paz e disponibilidade para novos investimentos. A perda é considerada um momento de crise, que será enfrentada de acordo com as características de personalidade que o indivíduo já possuía (Bowlby 1985). Kovács (2002) alerta que, durante o período de elaboração do luto, podem ocorrer distúrbios na alimentação ou sono, quadros somáticos e doenças graves podendo se configurar como depressão reativa ou até um quadro mais grave. Em alguns casos o processo de luto pode muito tempo dependendo do investimento afetivo no objeto perdido. Quanto maior o investimento afetivo maior será a energia necessária para o desligamento. Outros fatores psicológicos e sociais podem afetar o desenvolvimento da elaboração do luto, como as condições sócio-econômicas, ausência de companheiro e de rede de apoio familiar, no caso de gestantes a existência ou não de outros filhos, a idade reprodutiva que a mulher se encontra e as condições clínicas para futura gestação. Um processo de luto pode ocorrer por morte de um ser humano, de um animal de estimação, por separação conjugal, amputação de um membro do corpo, doença incurável, doença degenerativa, aposentadoria, demissão, envelhecimento, catástrofes. Duas vertentes implicam no processo de luto: tempo e intensidade. Não há tempo certo para um processo de luto se finalizar e também não existe tipo de luto pior, ou melhor, que outro (Bromberg, 1994; Kovács, 2002). O luto normal ou saudável se define pela aceitação e modificação do mundo externo e a conseqüente modificação do mundo interno com a reorganização dos vínculos que permaneceram. Para Kovács (2002) quando os processos patológicos assumem caráter irreversível tornam-se parte integrante da vida do indivíduo. Pessoas com características de personalidade de dependência nas relações com outras pessoas são mais predispostas ao luto patológico, quando sofrem uma perda 11 de alguém significativo, experienciam uma mudança na autoimagem, fragilizando-se e sentindo desamparo. Quando ocorre aborto, óbito fetal ou neonatal o luto frequentemente não é reconhecido, muitas vezes pela própria equipe de saúde que “esconde” o feto para que a mãe não o visualize, principalmente quando há malformação fetal ou prematuridade extrema. É comum as pacientes serem “consoladas” com falas que tentam diminuir a intensidade da dor destacando a não existência de vínculo ou convivência com o feto/bebê. No caso de abortamento há a crença errônea de que a dor é proporcional ao tempo de gestação. Mesmo no processo de luto normal há uma dinâmica mais profunda relacionada com a qualidade e a intensidade dos sentimentos presentes nesse momento, produzindo sofrimento e ansiedade. Considerando o feto como parte do corpo da grávida, é pertinente destacar o narcisismo presente nesse contexto (Quayle, 1997; Freitas, 2000). Narcisismo é uma característica normal de todos os seres humanos, está relacionado com o desenvolvimento da libido e com o processo pelo qual o indivíduo assume a imagem de seu próprio corpo como sua. Trata-se de um aspecto fundamental para a constituição de sujeito é a forma como uma pessoa trata a si mesma baseada nos cuidados que foram apreendidos na relação com sua mãe. O narcisismo é muito importante durante o processo gestacional, pois o amor e outros sentimentos direcionados ao feto são narcísicos, o bebê faz parte do corpo materno. A ocorrência de aborto ou óbito fetal provoca uma profunda dor narcísica. Muitas mulheres não visualizam e nem tocam em seus filhos, filhos que foram objetos concretos de investimento narcísico, tão internalizados e tão imateriais quando se vão. A perda da autoestima é ligada à dor narcísica ou luto narcísico (Mathelin, 1999). Para Mathelin (1999) Quando a grávida prepara o enxoval para seu bebê ela “fabrica, para além da roupa, os braços, as pernas, a imagem do corpo do bebê na cabeça da mãe, o que lhe permite conceber uma representação de seu filho. A criança toma corpo, cresce, cria formas, não só no ventre da mãe, mas na sua fala, no seu desejo” (p.66). Se houver uma gestação subsequente à perda, sem elaboração da perda, pode ser bem difícil criar esse corpo de bebê. Para se defender do sofrimento, a grávida pode negar ao feto atual o espaço para ele tomar corpo em seu imaginário. O nascimento de um filho saudável alimenta o 12 investimento da mãe em si mesma, enquanto a perda fere narcisicamente. No caso de perdas consecutivas o luto é ainda mais difícil. Quando o feto atual se encontra em situação de risco e a medicina não consegue lhe dar a garantia desejada, a grávida reencontra o “fantasma” e o trauma se instala ou é revivido. Quando uma pessoa se encontra frágil narcisicamente ela vivencia o desamparo. “Para que o bebê deseje viver é preciso que sua mãe o deseje primeiro” (p.66). No Brasil, os autores que investigaram as repercussões emocionais do óbito fetal ou neonatal, concordam que o processo de construção da identidade materna sofre brusca interrupção gerando sentimentos de fracasso e impotência. O projeto de vida, os desejos, as fantasias relacionadas ao bebê dão lugar a outros sentimentos quando ocorre a perda: vazio, culpa e fracasso. Nasce não o filho, mas o inesperado e necessário processo de luto. A antecipação de nova gestação é frequentemente utilizada como estratégia de elaboração do luto, acompanhada da fantasia de que outra gestação trará a sensação de casais saudáveis física e emocionalmente, capazes de gerar filhos. Todos os autores concordam que o adiamento da próxima gestação, pelo menos por um ano, pode proporcionar maior bem estar psicológico devido à diminuição de sintomas do luto (Kennell, Klaus, 1992; Quayle, 1997; Bartilotti, 1998; Neto, Aquino, 2000; Santos et al, 2004; Binotto, 2005; Enkin et al, 2005; Goulart et al, 2005; Meyer, Carvalho, 2007). Na literatura internacional as pesquisas concluem que pais e mães vivenciam a perda de forma dolorosa, mas para as mulheres a angústia aparenta ser de maior intensidade. Os homens tendem a ignorar a situação, o quê pode levá-los ao isolamento e à não comunicação entre o casal. A mulher tende a recorrer ao pensamento positivo e à religião, podendo ser vista pelo homem como extremamente emocional. O descompasso de expectativas entre o casal pode levar ao rompimento matrimonial. Os indicadores de sintomatologia depressiva também são maiores para a população de mulheres. Todos os autores concordam que há grande probabilidade do aparecimento de sintomas depressivos e ansiosos intensos até seis meses após a perda, tanto para mulheres como para os homens, e a necessidade de tratamento especializado. Outros sintomas predominantes são: insônia, medos persistentes, cansaço excessivo, dores de cabeça, pesadelos e medo de colapso emocional. Os estudos mostram sentimentos de culpa e de 13 responsabilidade pessoal pelo óbito associados aos sintomas de ansiedade e depressão. Por outro lado, mulheres com boa autoestima demonstram significativamente baixo sentimento de culpa e de responsabilidade pelo óbito. A ausência da criança é profundamente sentida como se fosse retirada uma parte do corpo. Ocorrem também as dificuldades de separação entre mãe e bebê morto, saúde e doença, produções boas e ruins. É consenso entre os autores que o processo de indução do parto não deve ser apressado, o transcorrer natural desse procedimento proporciona a adaptação emocional da mulher para conhecer e se despedir do bebê. Familiares e amigos não sabem como dar suporte ao casal enlutado, fato que acarreta o isolamento social e sentimento de inadequação ao casal, ou tratam a perda como insignificante e subvalorizada. A perda por aborto espontâneo é usualmente vista como natural e incapaz de promover tensão emocional. É como se a mulher devesse sentir alívio por expulsar um feto que seria malformado. Normalmente os sintomas não são expressos de imediato, por isso, seguem após alta hospitalar trazendo riscos maiores de desequilíbrio psicológico futuro. A dor física que normalmente acompanha a experiência de perda desaparece dentro de alguns meses, a dor emocional, no entanto, pode prosseguir por anos (Klock et al, 1997; Nikcevic et al, 1998; Brier, 1999; Franche, Mikail, 1999; Andajani-Suthahjo, Manderson, 2004; Hsu et al, 2004; Trulson, Radestad, 2004; Burgoine et al, 2005; St John et al, 2006; Badenhorst, Hughes, 2007). Os estudos científicos, tanto nacionais quanto internacionais, sinalizam que são imprescindíveis, para o tratamento dos pais, informações detalhadas sobre as causas do óbito fetal ou perinatal, incluindo os problemas fisiológicos e psicológicos implicados em futura gestação. Uma gestação subseqüente pode ser exaustiva do ponto de vista psicológico, os pais necessitam de orientação quanto ao alto grau de ansiedade envolvida nesse momento. A ansiedade é um fator psicológico importante que aumenta as chances de novas perdas. A construção de vínculos afetivos fica comprometida principalmente se ocorreram perdas subsequentes. A expressão dos sentimentos em relação à morte e a participação nos rituais de despedida estão intimamente relacionadas com o decorrer do processo de enlutamento adequado, independentemente do contexto social ou cultural dos países (Neto, Aquino, 2000; Andajani-Suthahjo, Manderson, 2004; Hsu et al, 2004; Santos et al, 2004; Trulson, 14 Radestad, 2004; Binotto, 2005; Burgoine et al, 2005; Enkin et al, 2005; Goulart et al, 2005; Meyer, Carvalho, 2007; St John et al, 2006; Badenhorst, Hughes, 2007). Heller (1999) defende que as mães implicadas na situação de luto narcísico apresentam risco potencial de perturbações no vínculo afetivo com os bebês nascidos subsequentemente. A relação entre perda perinatal e as gestações subseqüentes foi publicada, primeiramente, por Bourne, Lewis (1984), ponderando suas observações clínicas sobre os riscos psicológicos ligados a questões emocionais maternas observadas na interação com o bebê nascido. Os autores afirmam que o contato com a realidade ajuda na futura aceitação da perda, desde que respeitado o desejo e o preparo da mãe para esse momento de visualizar o filho. As emoções, nesse encontro, podem ser muito intensas porque ele envolve grande sofrimento. De qualquer forma, é importante para as mães conhecerem seus filhos. O fato de não terem gerado um bebê com êxito ataca a autoestima e pode criar, no imaginário, a imagem de um bebê feio e deformado. Mesmo quando os bebês apresentam malformação, a imagem mental pode ser muito pior e aterrorizante não condizente com a realidade. É comum a comparação entre a dor da perda do bebê com a perda de algum membro da família, é o luto não por alguém concretamente conhecido, mas por um bebê imaginário, que já possui laços afetivos e espaço na composição familiar. Os familiares mais próximos, como os avós, podem ser convidados a ter contato com o bebê, já que todos precisam elaborar o luto. Poznanski (1972) descreveu o termo “Síndrome da Criança de Substituição” após ter estudado famílias com gestações subseqüentes à perda de uma criança. A nova criança pode nunca ser capaz de atender às expectativas dos pais e corre o risco de se tornar o alvo de qualquer raiva não resolvida dos mesmos. Desses estudos se derivou outro termo: “Síndrome da Criança Vulnerável” decorrente da distorção da percepção materna que produz superproteção e hipervigilância em relação à saúde e segurança da criança. Esse contexto espelha as dificuldades emocionais presentes nos processos de separação e individuação desses pais para com seus filhos. Por sua vez, as dificuldades emocionais implicam em repercussões diretas no desenvolvimento da autonomia da criança. Com relação às mulheres gestantes com histórico de perdas fetais, aborto ou neonatais Couto, et al (2009) estudaram 240 gestantes, na cidade de Campinas, 15 divididas em 120 mulheres com antecedentes gestacionais adversos (aborto espontâneo recorrente, óbito fetal, prematuridade ou óbito neonatal precoce) e 120 sem esses antecedentes. O estudo investigou a qualidade de vida, ansiedade e depressão. Os autores concluíram que mulheres com antecedentes adversos parecem ter pior qualidade de vida e mais sintomas de ansiedade e depressão durante a gestação subseqüente quando comparadas com mulheres sem antecedentes. Freire, Chatelard (2009) publicaram o resultado da experiência clínica em atendimentos grupais de sala de espera, com gestantes, com histórico de perda anterior à gestação atual, que aguardavam consulta de pré-natal. As autoras narram as experiências de perda dessas mulheres e fazem uma reflexão de como elas podem superar o luto e se tornar aptas a investir em nova gestação. Elas concluem que por defesa, medo de reviver a perda anterior, estas mulheres não apresentam envolvimento afetivo com a gravidez, com os bebês e consigo mesmas. Esses mecanismos de defesa são acompanhados por sintomas como fantasias em relação ao bebê, baixa autoestima e traços melancólicos. Algumas mulheres se negam a comprar o enxoval ou escolher o nome e não “conversam” com seus bebês. As autoras concluem que há explicitamente falta de investimento neste objeto “bebê”. Por necessidade de defesa as pacientes fazem uso dos mecanismos como a negação, formação reativa e racionalização. Alguns autores defendem, para essa população de mulheres, o seguimento assistencial em quatro eixos: o efeito do processo de enlutamento na gravidez atual; os mecanismos de enfrentamento utilizados durante a gravidez; a formação da identidade parental e os riscos para a síndrome da criança de substituição ou criança vulnerável. Todos concordam que o luto não resolvido ou não vivenciado de forma adequada influencia diretamente as relações de parentalidade da futura criança. Identificaram altos índices de sintomas ansiosos e depressivos nas gestantes de seus estudos. No entanto, para as perdas precoces (abortamento) os níveis foram menores em comparação com gestantes com perdas tardias, após 22 semanas de gestação (Cote-Arsenault, Mahlangu, 1999; Franche, Mikail, 1999; Condon, 2000; Armstrong, 2002). 16 Blackmore et al (2011) em estudo longitudinal com gestantes com histórico de perda em gestação anterior, avaliaram sintomas de ansiedade e depressão durante a gestação, oito semanas após o nascimento e trinta e três meses após o parto. Todas as gestações foram bem sucedidas e os bebês nascidos a termo. Os autores concluíram que os níveis de ansiedade e depressão se mantiveram durante todo o estudo, se mostrando um padrão persistente que continua após o nascimento de uma criança subsequente saudável. 2.3 - Ansiedade e Depressão Diante do contexto de desequilíbrio psicológico entram em cena com maior intensidade os sintomas ansiosos e ou depressivos. A ansiedade é um sinal de alerta frente à sensação de uma ameaça de perigo. Ela faz parte da vida e é experimentada de modo singular e pessoal frente às situações novas e desconhecidas. A ansiedade é uma reação natural frente ao adoecimento, ou seja, é uma resposta temporária esperada diante do estresse (Botega et al, 2002; Cabrera, Sponholz, 2002). No entanto, em determinadas condições ela se traduz como um sintoma patológico mental ou orgânico podendo chegar aos transtornos de ansiedade (Cabrera, Sponholz, 2002). Para Dalgalarrondo (2000) ansiedade é um estado de humor desconfortável, uma inquietação interna desagradável, um malestar físico e psíquico e que muitas vezes não se apresenta visível. Também se caracteriza pela apreensão negativa em relação ao futuro e pode se intensificar à medida do desenrolar de exames e diagnósticos no caso de doença física. Historicamente a saúde mental da gestante nunca foi assistida com muita atenção pelos profissionais da saúde, certamente devido à crença popular de a gravidez ser um período de bem estar e tranquilidade para as mulheres e baixo risco para doenças psiquiátricas. No entanto, dados epidemiológicos apontam que a prevalência de transtornos de humor e ansiosos são maiores no período gestacional em relação ao período pós-parto, com isso a gravidez não protege as mulheres do adoecimento mental. A ansiedade pode ser patológica quando é desproporcional à situação que a desencadeia, ou quando não existe um motivo específico para o seu aparecimento, ou ainda, quando é uma resposta inadequada à determinada 17 ameaça, em virtude de sua intensidade ou duração (Evans et al, 2001; Heron et al, 2004; Limlomwongse et al, 2006). Frente ao desequilíbrio psicológico e fisiológico destaca-se também a depressão, que atualmente é um problema de saúde pública, que afeta 50 milhões de pessoas no mundo todo e representa a primeira causa de incapacidade entre todos os problemas de saúde. É considerada patológica quando aparecem sinais e sintomas com duração e gravidade que levam a uma perda significativa da capacidade funcional do indivíduo. Caracteriza-se por uma multiplicidade de sintomas afetivos (tristeza, choro fácil, apatia, irritabilidade e desesperança), instintivos e neurovegetativos (fadiga, desânimo, insônia ou hipersonia, perda ou aumento de apetite, diminuição da libido e da resposta sexual e perda de prazer), ideativos (pessimismo, ideias de culpa, ideias de morte e ideação suicida) e cognitivos (déficit de atenção, concentração e memória). Estão envolvidos também a autovaloração (baixa autoestima, sentimento de insuficiência e autodepreciação) e a psicomotricidade (lentificação do movimento, diminuição da fala, tendência a permanecer na cama o dia todo, recusa à interação pessoal). As pessoas depressivas têm visões pessimistas do futuro, manifestam maior submissão e uma predominância marcante de sentimentos de culpa, inutilidade e derrota, com alteração global das atividades e ideação de atos autolesivos ou de suicídio. Sintomas psicóticos, idéias delirantes de culpa e ideação paranóide podem estar presentes (Dalgalarrondo, 2000). Diversos pesquisadores, nacionais e internacionais, investigaram a associação entre complicações obstétricas e sintomas de ansiedade e depressão em mães de bebês nascidos a termo. As mulheres diagnosticadas com desordem de ansiedade pré-natal apresentaram maior probabilidade de complicações obstétricas durante a gravidez. Por sua vez, as complicações atuaram como estressores crônicos durante a gestação. A ansiedade materna foi considerada como fator de risco ao desenvolvimento normal do feto. Fetos de mães com alto nível de ansiedade apresentaram altas taxas de batimentos cardíacos quando comparados aos fetos de mães com baixo nível de ansiedade. A ansiedade materna pré-natal e a depressão materna pós-natal contribuíram na predição de problemas comportamentais e emocionais em crianças avaliadas aos quatro anos de idade. Também, mães que apresentaram ansiedade e depressão em níveis altos, tiveram 18 filhos com maior probabilidade para desenvolver depressão e transtornos de comportamento na adolescência. Em relação à ansiedade materna e desenvolvimento do bebê, os estudos apontaram que quanto mais alto os escores maternos mais baixos são os escores de desenvolvimento dos bebês. Além disso, altos níveis de ansiedade pré-natal foram associados a pensamentos negativos e preocupações, estresse elevado e dificuldades de manejo do mesmo. Mães apresentaram maiores índices de ansiedade quando comparados com os índices dos pais. Altos níveis de ansiedade parecem interagir com altos níveis de depressão, potencializando, assim, as dificuldades emocionais na dupla mãe e bebê (Allen, et al, 1998; Ponirakis et al, 1998; Feldman et al, 1999; Monk et al, 1999; Pinelli, 2000; Zanardo, Freato, 2001; O’Connor et al, 2002; Verdoux et al, 2002). A gestação e o puerpério são períodos caracterizados por inúmeras alterações, de todas as ordens, que podem refletir diretamente na saúde mental das mulheres. Diversas questões ainda estão em aberto no que se refere a um tema tão amplo. É sabido que a presença de ansiedade e depressão na gestação está associada a sintomas depressivos no puerpério. Durante a gestação os níveis de estrógeno e progesterona são superiores àqueles vistos nas mulheres fora do período gestacional e esse fator pode estar envolvido nas alterações de humor que ocorrem nessa fase. A queda brusca desses hormônios no pós-parto estaria envolvida na etiologia da depressão puerperal (Bloch et al, 2003; Faisal-Cury, Rossi, 2007). A instabilidade de humor e o surgimento de ansiedade são comuns durante a gravidez, quase todas as mulheres admitem preocupações relativas ao desenvolvimento do bebê, de maneira especial quando há histórico de aborto, malformações ou natimorto. Além disso, o maior ou menor grau de aceitação da gravidez por parte do ambiente social reforça ou não a tendência da mulher para a maternidade. As náuseas e vômitos evidenciam a gestação e adquirem maior ou menor intensidade de acordo com o grau de aceitação da maternidade em si e podem esconder ansiedades específicas como sentimento de incapacidade da mulher em assumir o papel materno. A grávida pode experimentar ampla variedade de emoções que incluem introversão, passividade, mudanças bruscas de humor, inquietação, irritabilidade e preocupação, todas elas reflexos da ansiedade instalada. Em geral esses sintomas são transitórios na medida em que a gestação avança, no 19 entanto, a ansiedade não controlada pode levar a desajustamento emocional para com a gravidez e a relação mãe e filho com efeitos indesejáveis no desenvolvimento emocional e cognitivo da criança (Soifer, 1980; Langer, 1981; Tedesco, 1997; Botega, Dias, 2006). Estudos mostram que durante a gestação até 70% das pacientes apresentam sintomas depressivos, sendo que de 10 a 16% realmente desenvolvem a doença. O início da depressão durante a gravidez é habitualmente não identificado devido à sobreposição de sintomas gestacionais. São comuns sintomas de fadiga, alterações do sono, de peso e da libido, tanto na depressão quanto na gestação. A depressão pós-parto pode ser a continuação de uma doença com início na gestação, no entanto, grande número de estudos enfoca a depressão no puerpério e poucos trabalhos estudam a depressão durante a gestação. Associada à dificuldade de identificação de sintomas, as mulheres apresentam tendência a não aderirem ao tratamento. Quando a mãe não é tratada pode acarretar prejuízo ao desenvolvimento fetal, pois se a mulher apresenta diminuição de apetite, consequentemente o ganho de peso pode ficar abaixo do esperado, acarretando, entre outras coisas, baixo peso fetal ao nascer. Quando a gestante apresenta doença crônica prévia à gestação, muitas vezes, as alterações fisiológicas podem se exacerbar, como conseqüência, altera-se o nível de satisfação frente à gestação e afloram atitudes negativas. Ter dois ou mais filhos foi apontado como fator de risco, assim como a situação conjugal das gestantes, especificamente o fato de ser solteira e não morar com um companheiro, é um fator de risco para a depressão durante a gestação, interpretado pelas mulheres como ausência de suporte social do pai da criança. Também foi encontrada associação entre ocupação e transtornos depressivos em gestantes (Nonacs, Cohen, 2002; Ryan et al, 2005; Botega, Dias, 2006; Rich-Edwars et al, 2006; Grant et al, 2008; Vesga-Lopez et al, 2008; FaisalCury et al, 2009; Pereira et al, 2009; Lancaster et al, 2010; Almeida et al, 2012). Diante disso, o sofrimento emocional materno repercute em seu entorno, na família e na equipe de saúde que necessitam administrar todas essas variáveis. Quando a grávida traz consigo a vivência de luto, concomitante com a gestação, pode ser difícil para a equipe de saúde identificar e diferenciar os sintomas de ansiedade e depressão. 20 2.4 - Capacidade para o relacionamento com o feto (Relações objetais) É primordial para o processo gestacional que a mulher se relacione com o feto, considerando seus pensamentos e sentimentos, bons e ruins, suas expectativas, positivas e negativas e a evolução da gravidez, com ou sem intercorrências. Assim, entra em cena o modo como os sujeitos se relacionam com o mundo externo por meio de suas características individuais internas. É importante ressaltar, para esse estudo, a influência do modo de relação que cada indivíduo estabelece com seu mundo. Esse modo de relação estará envolvido no processo gestacional e excepcionalmente no processo de luto quando houver perda do filho. O termo relação aqui trata da interação entre o indivíduo e outra pessoa, logo um relacionamento interpessoal. Considerando os pressupostos da Psicanálise cada indivíduo desenvolve sua capacidade para relacionamentos indicando atitudes e comportamentos que podem se referir a pessoas reais ou imagens mentais. A Psicanálise reconhece que as primeiras relações do ser humano, quando bebê, compõem a pedra fundamental da personalidade. A interação da figura materna com o bebê é que propicia toda a organização das estruturas psíquicas (Bruscato, 2001). A vida de interação com a figura materna se inicia imediatamente após o nascimento. A vida do bebê varia entre a fome, o frio e outros estímulos desagradáveis e o sono e a saciedade. Os estímulos desagradáveis geram um estado de tensão que cessa quando o bebê é atendido em suas necessidades. O bebê, no primeiro momento, não percebe o mundo externo, e sim, apenas, sua própria tensão ou o aumento e a diminuição desta. A manutenção de sua vida depende integralmente dos cuidados maternos (Fenichel, 2000). De início o bebê perceberá a tensão como “alguma coisa dentro”, posteriormente, com a percepção de que existe um objeto para acalmar essa tensão haverá também a percepção de “alguma coisa fora”. O termo objeto é usado para designar uma pessoa ou coisa física, real. O objeto pode ser animado ou inanimado, mas é externo. Sua contrapartida na mente do sujeito é um objeto interno, com atributos do objeto externo, que também é chamado de representação objetal. Quando o bebê desejar algo capaz de gratificar suas necessidades, mas ausente naquele momento, acontecerá a primeira percepção de um objeto. Portanto, a fome 21 e a saciedade são responsáveis pelos primeiros sinais de representação objetal (Fenichel, 2000; Bruscato, 2001). O termo relacionamento objetal pode ser usado para distinguir o que é externo e o que é interno na interação entre o indivíduo e outra pessoa, ou seja, no relacionamento interpessoal. A experiência que se tem do objeto interno é profundamente dependente da experiência que se tem do objeto externo, o objeto interno é como espelho da realidade. A interação entre mãe e bebê cria na mente da criança a primeira representação interna, não só de uma outra pessoa, mas da própria relação. A qualidade dessa relação materno filial se tornará a matriz para o desenvolvimento das futuras estruturas psíquicas. O termo relação objetal pode ser reservado para o fenômeno psicológico relacionado às representações de objeto na mente humana. Deste modo, as relações objetais estão presentes desde as relações primitivas da criança até os relacionamentos complexos do adulto. Os aspectos de relacionamentos de satisfação de necessidades do bebê, tanto bons como ruins, proporcionados pela mãe, são preservados pelo bebê tornando-se parte do seu eu. Esse processo é chamado de internalização. A partir das internalizações o indivíduo gradualmente assumirá as funções originalmente supridas por outros, da dependência total do bebê para a independência total do adulto. Quando a diferenciação da mãe é alcançada, a criança pode formar outras identificações, com outras pessoas e ou objetos, preparando o terreno para a autonomia e independência. A identificação é o processo pelo qual a criança adquire as técnicas que a mãe utiliza para cuidar dela, antes de conseguir separar-se dela e tornar-se um indivíduo independente (Mahler, Gosliner, 1955; Ainsworth, 1969; Bruscato, 2001). A Teoria das Relações Objetais constitui um sistema de explicação baseado na premissa de que a mente é constituída de elementos tomados de fora, primariamente aspectos do relacionamento com outras pessoas. O desenvolvimento do ego (eu) e a maturação dos relacionamentos objetais são dependentes um do outro. O bebê, e seu cérebro em desenvolvimento, deve interagir com um ambiente responsivo para que o desenvolvimento do cérebro e da personalidade ocorra satisfatoriamente (Kandel, 1999; Bruscato, 2001). 22 O conceito de escolha de objeto foi descrito primeiramente por Freud (1905) para descrever que ao objeto cabe uma única condição que é proporcionar alívio das tensões (fome, frio, desconfortos do bebê). No decorrer de sua obra Freud fez vários acréscimos à Teoria das Relações Objetais. No texto Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905) discute detalhadamente as relações mãe e filho como uma relação complementar, o crescimento e desenvolvimento psicológico do bebê são essencialmente dependentes do estabelecimento e progressivo desdobramento das relações objetais. No texto Inibições, Sintomas e Ansiedade (1926) Freud acrescenta ao objeto a tarefa de regular a ansiedade no bebê. E em Luto e Melancolia (1917) ele descreve como após uma perda, busca-se continuar recebendo gratificação do objeto perdido, internalizando-o. Desta forma o sujeito continua a se relacionar com o objeto, agora como um objeto interno. O enlutado não só internaliza o objeto, mas se identifica com ele, faz da imagem do objeto uma parte de si mesmo, desta forma desenvolvendo a sua identidade. A Teoria das Relações Objetais foi muito bem definida na Psicanálise Freudiana clássica e todas as outras teorias partiram daí, seja em oposição ou em extensão das ideias de Freud. Assim, o conceito de estruturas psíquicas operando em um mundo interno, como resultado das relações com os objetos externos, constitui a base sobre a qual todas as sucessivas contribuições para essa teoria foram desenvolvidas. Desde a década de 30 especialmente na Grã-Bretanha, as relações objetais tornaram-se o enfoque principal da Escola de Relações Objetais, tendo como sua principal representante Melanie Klein. Klein e seus seguidores reforçaram a importância das relações precoces para o desenvolvimento humano. Heinz Hartmann também contribuiu na modificação do modelo pulsional para acomodar novas informações sobre o papel das relações objetais. Em 1946, Anna Freud dedicou sua atenção ao ego e às suas tentativas de lidar com os conflitos e manter sua integridade através de um aumento crescente de séries elaboradas de mecanismos de defesa. William Ronald Dodds Fairbairn, nas décadas de 50 e 60, propôs novos entendimentos sobre o direcionamento da libido, constituição da personalidade, estados psicopatológicos, objetos internos e relação com os objetos (Fairbairn, 1980; Hamilton, 1989; Tyson, Tyson, 1993; Greenberg, Mitchell, 1994; Mitchell, 2000; Bruscato, 2001; Figueiredo, 2003). 23 Donald Woods Winnicott, também nas décadas de 50 e 60, contribuiu para o desenvolvimento da Teoria das Relações Objetais com os conceitos de ambiente assegurador (holding), de objeto transitório (transitional object) e de mãe suficientemente boa (good enough mother) que reflete o reconhecimento da importância da mãe para o desenvolvimento do bebê. Winnicott defende que o bebê é intensamente relacionado com o objeto desde o nascimento, entretanto nasce com o potencial para uma individualidade singular de personalidade que pode ser desenvolvida no contexto de um ambiente assegurador. O ambiente assegurador deve ser proporcionado por uma mãe suficientemente boa, cuja função é de propiciar ao bebê uma proximidade continente enquanto lhe permite o desenvolvimento da autonomia. Winnicott é concordante com as ideias de Otto Kernberg sobre a qualidade das relações objetais que depende em grande parte da integração da identidade, o que engloba o conceito de continuidade temporal que um indivíduo tem de si mesmo e dos outros. Os dois autores defendem a importância das relações objetais para o desenvolvimento saudável ou patológico do bebê (Kernberg, 1980; Winnicott, 2000). Winnicott considera os objetos internos como representações mentais, a criança internaliza as funções maternas de tal forma que pode se autoconfortar e se separar de seus pais. Para ele o objeto não se trata de mecanismo de descarga pulsional e sim de uma questão de relacionamento. Ele cria o conceito de “unidade mãe/bebê” e afirma que o ponto de referência de estudo não devem ser os processos que ocorrem apenas dentro da criança, mas no campo relacional entre a criança e o cuidador (Winnicott, 1975). Em suma, as primeiras relações objetais são interações entre as necessidades desenvolvimentais da criança e os cuidados maternos oferecidos pela figura de cuidado, separados de satisfação pulsional. Sendo extremamente imaturo, o bebê é pressionado por suas necessidades existenciais a buscar algo que ele não sabe o que é; no entanto, como nada existe para além dele, o que ele procura é algo nele mesmo. Quando o ambiente, em comunicação eficaz com o bebê, fornece aquilo que atende às suas necessidades, a criança vivencia a experiência ilusória de que criou um objeto adequado às suas necessidades. Assim, do ponto de vista do bebê o mundo é criado por ele (Winnicott, 2000). 24 Logo, a Teoria das Relações Objetais ganha força sobre a concepção na qual o indivíduo adquire capacidade de criar significados de acordo com seus próprios padrões de vinculação, se engajando nas relações com um outro (Ogden, 1983). René A. Spitz, na década de 50, foi o pioneiro nas pesquisas sobre observação de bebês. Considerando os pressupostos de Freud e os estudos de Hartmann, Spitz se baseou em observações diretas e experimentais com crianças para construir suas ideias sobre a Teoria das Relações Objetais. Dedicou-se com muita atenção aos estágios precoces das relações de objeto chamando de gênese das relações objetais. No início o recém nascido está em estado de não diferenciação ou estágio não objetal “não há distinção clara entre psique e soma, entre dentro e fora, entre pulsão e objeto, entre “eu” e “não eu” (Spitz, 1991, p.32). O ciclo seqüencial de ação-reação-ação no quadro das relações mãe e filho cria no mundo exclusivo do bebê um clima emocional específico, uma experiência singular para cada ser humano. A reciprocidade mãe e bebê é um processo não verbal complexo e significativo, com influências tanto para a mãe como para o bebê, insere um diálogo afetivo de duas vias que irá além da ligação da díade (Spitz, 1991). Spitz (1991) também enfatizou o tema das relações objetais do ponto de vista da anormalidade. Primeiramente, vale resumir a definição de normalidade nas relações objetais. As relações entre mãe e filho envolvem dois indivíduos completamente diferentes, o que satisfaz a mãe é completamente diferente do que satisfaz a criança. Para o conceito de relações objetais normais é importante destacar que tanto a mãe quanto a criança sejam satisfeitas. O fato de a mulher gerar, dar à luz e criar um bebê a coloca em um relacionamento diferente de todos os outros, o investimento no feto é ao mesmo tempo um investimento reservado ao próprio corpo da mãe, denominado de catexia narcisista. Após o parto a mãe deve passar por um processo gradual de separação de seu próprio corpo com o bebê. “Por muito tempo, qualquer conquista do bebê será sua própria realização e qualquer deficiência do bebê será seu fracasso” (p.151). Os desconfortos do puerpério, traduzidos pelas dores, decorrentes do parto, mais as dificuldades frente à amamentação, entrarão direta ou indiretamente nos sentimentos maternos em relação ao bebê. Esses eventos normalmente 25 representam uma vantagem ou desvantagem na relação da dupla, tudo irá depender da dinâmica de personalidade da mãe e dos significados que serão atribuídos a tais eventos. Além disso, um número grande de fatores contribui para esse quadro: idade materna, relação com seus pais, o sexo da criança e também, tão importante quanto, sua relação com o pai do bebê. Para Spitz “o pai do bebê é o ponto culminante da primeira relação objetal da mãe. Ele é, em última instância, o produto das vicissitudes das relações objetais vividas pela mãe, desde as primeiras relações pré-objetais dela com o seio, desde a formação do objeto libidinal na pessoa da mãe dela e a transposição para o pai na fase edipiana, até sua plena realização, seu amante e marido, o pai da criança” (p.152). Esse relacionamento com o pai do bebê pode sofrer alterações após o nascimento. Com a presença real do filho os pais podem competir entre si, o pai se sentir rejeitado e excluído da dupla ou a mãe ter a necessidade de excluir o pai. O bebê é para a mãe o principal objeto de amor e, antes de tudo, uma fonte de satisfação. As satisfações que a mãe pode obter são determinadas por vários elementos, desde a personalidade da mãe até a capacidade do bebê em adaptar-se às circunstâncias da realidade exterior. O bebê está em rápido processo de desenvolvimento, passando por várias mudanças. Assim a natureza e a forma de satisfação que as relações objetais são demandadas mudarão gradualmente em cada nível sucessivo do desenvolvimento. Nos recém-nascidos as relações satisfatórias serão satisfações de necessidades mais próximas da fisiologia do que da psicologia. À medida que o bebê cresce as respostas da mãe facilitam e possibilitam a integração do processo de amadurecimento. Por sua vez, esse desenvolvimento expande as exigências da criança em relação às satisfações ofertadas pelas relações objetais, sob a forma de interações circulares, segundo Spitz (1991). “Nunca é demais frisar nem repetir que as relações objetais ocorrem como uma interação constante entre dois parceiros diferentes, mãe e filho; que um provoca a resposta do outro; que essa relação interpessoal cria um campo de forças constantemente em mudança. Talvez se possa dizer que as relações objetais que satisfazem mãe e filho são relações nas quais operam forças, no sentido de ambos se completarem, de maneira não só a se proporcionarem satisfação, mas também de modo que um deles, ao obter a satisfação, possa proporcioná-la ao outro. O que é o relacionamento amoroso senão 26 a satisfação completa das relações objetais?”. Essa proposição também é transposta para os relacionamentos entre o casal na vida adulta (Spitz, 1991, p.153). Assim, mãe e bebê, unidos por tantas coisas tangíveis e intangíveis estão expostos à possibilidade de uma quebra de sintonia. Quando a mãe, por quaisquer motivos, ficar em desarmonia com seu ambiente, será inevitável que seu próprio desacordo se reflita no desenvolvimento do bebê, dado que ela é o parceiro ativo e dominante e a criança, pelo menos no início, é a receptora passiva. Spitz considera que as “influências psicológicas prejudiciais são a conseqüência de relações insatisfatórias entre mãe e filho” (p.154). Por sua vez, as relações insatisfatórias são patogênicas. Spitz (1991) dividiu em duas categorias as relações insatisfatórias: a) Relações inadequadas entre mãe e filho: do ponto de vista qualitativo a mãe não seria capaz de oferecer ao filho uma relação normal, principalmente por conta de suas características de personalidade, significado do filho, aceitação ou rejeição da maternidade, comportamento materno que expressa hostilidade com a criança, superpermissividade ou “superproteção” ansiosa da mãe, momento de vida da mãe, maior ou menor ansiedade em ser assertiva como mãe, capacidade de estabelecer regras e limites à criança, alterações cíclicas de humor da mãe, capacidade de interpretar as necessidades da criança, entre outras. Ele denominou esse grupo de “distúrbios das relações objetais” e suas conseqüências como “doenças psicotóxicas da primeira infância”. b) Relações insuficientes entre mãe e filho: do ponto de vista quantitativo quando a criança é privada de suas relações com sua mãe, por ausência física dela, sem um substituto adequado, é privada, portanto, de relações objetais com prejuízo direto no desenvolvimento. Spitz denominou essa categoria de “doenças de carência psicogênica” ou “doenças de carência afetiva”. Nesse contexto os primeiros sintomas que a criança apresenta são: comportamento de retraimento choroso, perda de peso, insônia e suscetibilidade a resfriados. Após três meses, em média, o choro é substituído por um tipo de rigidez da expressão facial. Para Sptiz a sintomatologia e a expressão facial lembram muito adultos com diagnóstico de depressão, razão pela qual ele denominou esse conjunto de reações de “depressão anaclítica”. Se a criança retorna aos cuidados maternos em um período de três a cinco meses é possível recuperar esse estado. No entanto, se no decorrer do 27 primeiro ano de vida as crianças forem privadas de todas as relações objetais, por um período maior que cinco meses, elas apresentarão sintomas irreversíveis. Outro autor de destaque nesse cenário foi John Bowlby. Apesar de ter sido supervisionado por Melanie Klein e influenciado principalmente por Freud e Spitz, desenvolveu uma visão diferente da concepção psicanalítica sobre a Teoria das Relações Objetais. Bowlby, insatisfeito com as teorias tradicionais, buscou nova compreensão em campos como a biologia, a psicologia do desenvolvimento e a etiologia. Apresentou um modelo teórico que enfatiza que as crianças reagem a eventos da vida real e não a fantasias inconscientes. Foi influenciado pelos estudos de Mary Ainsworth, psicóloga norte-americana que se dedicou ao estudo da psicologia do desenvolvimento e ficou conhecida por seu trabalho em apego emocional. Posteriormente Bowlby desenvolveu a chamada “Teoria do Apego” e publicou um estudo completo em três volumes “Apego, Separação e Perda”. O apego estaria ligado não apenas às possibilidades da mãe em nutrir o bebê, não só à satisfação como parte de uma herança arcaica cuja função é a sobrevivência da espécie. Sugere que há reações de luto por parte da criança quando ocorre a separação com a mãe, e essas reações seriam a demonstração explícita do surgimento do apego primário (Greenberg, Mitchell, 1994). Para Bowlby (1985) os padrões de relacionamento com os cuidadores gerarão “modelos de apego”, que por sua vez, são desenvolvidos em nossa história e integrados em nossa estrutura de personalidade na forma de modelos internos de funcionamento. Esse modelo interno de funcionamento determinará as características que um indivíduo utiliza para reagir a determinadas situações de vida. Esse fato reforça a existência, na visão de Bowlby, de forte ligação entre as experiências do indivíduo com seus pais e a capacidade para estabelecer vínculos afetivos na vida adulta (Greenberg, Mitchell, 1994). A teorização de Bowlby foi criticada pelos psicanalistas. No entanto, Golse (2004) defende que o apego representa o papel de ponte entre a teoria das pulsões e a teoria das relações de objeto. Bowlby e Winnicott são concordantes ao tratar da importância das experiências de aproximação e distanciamento na formação do psiquismo e diferenciação eu-outro. Abreu (2005) revisando a teoria do apego também frisa a importância da experiência física da criança pequena com relação 28 aos cuidados maternos, fato que influencia diretamente na construção do “eu corporal” e está associado ao seu “eu psíquico”. A história da Psicanálise vem beneficiando temas diferentes de acordo com os acontecimentos sociais e culturais ao longo das décadas, vários movimentos psicanalíticos deixaram de lado a ênfase freudiana à sexualidade para focalizar outros temas, como as relações de objeto. É fato que os modelos de funcionamento emocional da criança tendem a se repetir durante toda a sua vida adulta. A soma das experiências infantis, das características de personalidade de cada indivíduo e do contexto de vida se sobrepõem no processo de construção da identidade materna e nas respostas às separações ou perda de algo (Soifer, 1980). Na vida adulta, durante a gestação, a mulher passa por um processo natural de revisão dos modelos de relação com as figuras materna e paterna. Essa revisão das relações é imprescindível para a futura relação que será estabelecida com o filho. São avaliados os aspectos satisfatórios e os insatisfatórios (ganhos e perdas) do relacionamento com os próprios pais e sobrepostos na relação com o filho. A maternidade é o momento de mudança de identidade e envolve a necessidade de reajustes (Soifer, 1980). A repercussão emocional decorrente de uma situação de óbito fetal ou neonatal dependerá da intensidade do investimento afetivo que a mulher depositou no bebê. Ou seja, durante o processo gestacional o bebê caracteriza-se por um novo objeto de relação, na vida subjetiva da mulher, que será internalizado de acordo com os padrões de relações objetais estabelecidos na dinâmica psíquica de cada mulher. Assim, o significado do filho, as reações frente às frustrações e a dinâmica das relações objetais determinarão o desenrolar do processo gestacional e do processo de luto quando houver perdas. No processo de luto entra em cena um modelo de relação não com o bebê, mas com a dor pela ausência deste. 2.5 – Estratégias de enfrentamento No contexto social a gravidez é associada a expectativas alegres e considerada como um momento de plenitude na vida da mulher. As mulheres surpreendidas com o diagnóstico de gestação de alto risco passam por um processo 29 adaptativo constante, em muitos casos, com internações sucessivas, dietas rigorosas e repouso prolongado. A gestante necessita mobilizar recursos psicossociais em esforço adaptativo para lidar com o estresse decorrente do adoecimento e hospitalização. Esse processo de mobilização emocional é chamado de enfrentamento e seu objetivo é promover a adaptação às situações que se modificam conforme a doença e as etapas do tratamento. Vale conceituar que o estresse psicológico se caracteriza como a relação entre o indivíduo e o contexto ambiental, quando é percebida por ele como indo além daquela possível de ser suportada, excedendo seus recursos pessoais e ameaçando seu bem estar. Por sua vez o estresse pode se tornar positivo (eustresse) ou negativo (distresse) de acordo com a percepção e a interpretação de cada pessoa. O eustresse motiva e estimula o indivíduo a lidar com a situação. O distresse pode intimidar o indivíduo promovendo a fuga das situações estressoras (Folkman, 1984). O modo como cada pessoa lida com o estresse tem importância crucial na busca e manutenção do equilíbrio emocional. Esse processo é denominado como coping, termo de origem na língua inglesa que foi traduzido para o português como respostas de enfrentamento. Para alguns autores o estudo do enfrentamento ou coping constitui uma área problemática pela falta de clareza conceitual e por problemas metodológicos. Não há consenso entre os estudiosos sobre o conceito de enfrentamento (Gimenes, 1997; Cerqueira, 2000; Peçanha, 2008). Uma das definições mais utilizadas é a de Folkman, Lazarus (1985) que se refere ao enfrentamento como um conjunto de estratégias utilizadas pelos indivíduos com o objetivo de manejar situações estressantes. Todos concordam que há uma complexidade envolvida nesse construto multidimensional. Por ser coping um processo de interação entre indivíduo e ambiente, sua função é administrar (reduzir/minimizar/tolerar) a situação estressora, mais que controlá-la ou dominá-la. A exposição freqüente, intensa e crônica ao estresse está associada a numerosos efeitos diversos na saúde física e mental. O processo de enfrentamento do estresse tem duas importantes funções que merecem destaque, embora os autores tenham nomeado um número maior de funções: regular a resposta emocional aos eventos estressantes - este é o enfrentamento focado na 30 emoção; e controlar ou alterar o problema que causou o distresse - este é o enfrentamento focado no problema. As estratégias centradas na emoção englobam mecanismos de defesa como a negação, a repressão, o isolamento e a fuga por se tratar de esforços intrapsíquicos. Nenhuma estratégia de enfrentamento é superior a outra na lida com o estressor, cada uma apresenta vantagens e desvantagens que dependem do indivíduo, de seu grupo social e de sua doença (Folkman, 1984; Folkman, Lazarus, 1985; Gimenez, Queiros, 1997). Beutler, Moos (2003) relacionam enfrentamento ao estresse considerando duas formas de concepção, como situacional e como traço. Na forma situacional, o enfrentamento aparece como resposta frente ao contexto de estresse, que pode variar ao longo do tempo e de acordo com as situações vivenciadas. Essa concepção se fundamenta na teoria cognitiva. Na forma de traço, prevalece a ideia de uma disposição para responder de determinada maneira reportando a uma característica de permanência como estilo de personalidade. A teoria psicanalítica fundamenta essa concepção. Para pesquisadores as estratégias de enfrentamento colocadas em prática no processo de adaptação ao estresse são inúmeras. A compreensão da experiência do adoecimento, em estudos científicos, demanda do pesquisador uma avaliação ampla. É necessário ponderar a natureza do evento estressor, os recursos disponíveis para lidar com a situação, os fatores pessoais de história de vida, as crenças religiosas, suas relações familiares, o contexto sociocultural e os fatos relacionados à doença em questão, como tratamento, prognóstico e relacionamento com a equipe de saúde. As pesquisas na área tendem a focalizar processos de enfrentamento apoiados na teoria cognitiva, por sua vez, estudos sobre estilos ou traços de enfrentamento costumam ser fundamentados de acordo com a teoria psicanalítica. Não há superioridade de um referencial teórico sobre o outro, o que importa é avaliar a funcionalidade das estratégias de enfrentamento no contexto de cada pessoa e sua doença (Gimenes, 1997; Cerqueira, 2000; Peçanha, 2008). Os autores também divergem quanto à classificação e função das estratégias de enfrentamento, na literatura elas são divididas em duas amplas categorias que fazem referência a padrões diretos ou indiretos. As estratégias diretas se relacionam com a utilização de habilidades para resolução de problemas e envolve o indivíduo 31 em alguma ação, focalizando no problema. As estratégias indiretas, por sua vez, agem mentalmente modificando a forma do indivíduo as experimenta no mundo interior, focalizando na emoção. Nem sempre as estratégias diretas são melhores do que as indiretas, essas últimas podem ser funcionais quando o indivíduo se ajusta a situações que não podem ser resolvidas de imediato. Em geral, há concordância no sentido de que o enfrentamento é efetivo quando serve para amenizar os sentimentos desconfortáveis, associados a ameaças ou perdas. As condições crônicas de saúde são fontes de vários estressores sobrepostos à gestação como regime de tratamento e mudanças no estilo de vida. Os estressores são enfrentados de acordo com o significado que eles têm para os envolvidos, e a saúde emocional dessas mulheres dependerá também do resultado do processo de enfrentamento. Na teoria de estresse e enfrentamento, estima-se que o segundo amenize os efeitos do primeiro e favoreça o processo adaptativo. Fatores que trazem alto grau de estresse numa gestação são: gravidez extremamente desejada ou indesejada, infertilidade prévia, abortamento e perdas fetais, histórico de perdas significativas ao longo da vida, mulheres sem filhos vivos, ausência de suporte social e mau enfrentamento de perdas (Folkman, Lazarus, 1985; Miller, 1992; Trentini, Silva, 1992; Brier, 1999). Na busca dos estudos publicados sobre o tema dessa pesquisa não foram identificados trabalhos relacionando gestantes de alto risco hospitalizadas, com e sem histórico de perdas, com recursos de enfrentamento. 2.6 - Comunicação psicofisiológica entre mãe e feto Outro ponto que merece destaque é a comunicação psicofisiológica entre mãe e feto que acontece durante todo o período gestacional. No cenário científico despontam estudos, acerca do psiquismo pré-natal, que buscam ampliar os conhecimentos sobre a vida emocional do ser humano, principalmente no que se refere ao feto, dando origem a um ramo denominado de Psicologia Pré-Natal. O ambiente intrauterino é fonte constante de estimulação fetal, sendo passível de sofrer influências maternas. Com o advento da ultrassonografia, da fotografia intrauterina e o desenvolvimento da psiconeuro-endócrino-imunologia, modificou-se 32 a visão de que o feto vive isolado em um estado de satisfação e felicidade plena indiferente ao mundo externo (Golfeto, 1993; Piontelli, 1995; Wilheim, 1997; Caron et al, 2000). É importante destacar que, desde as primeiras descrições dos movimentos fetais, realizadas pelo obstetra austríaco Emil Reinold, em 1971, vários aspectos do comportamento fetal passaram a ser observados e analisados. Percebeu-se que o feto não é um ser passivo, interage com seu meio mediante atividades que não são desprovidas de objetivos e o preparam, em certa medida, para a vida extrauterina. Estudos realizados na década de 80 apontam a continuidade de funções neurais da vida pré-natal à pós-natal decorrente da ampla gama de funções previamente adaptadas, sobretudo durante a primeira metade da gestação. O feto responde a estímulos táteis, de pressão, cinestésicos, gustativos e dolorosos, sobretudo a capacidade e a sensibilidade auditiva são utilizadas para o estabelecimento de perfis de reatividade no diagnóstico pré-natal. O feto não só ouve como discrimina diferentes síbalas, memoriza sons e músicas, prefere a voz da mãe em detrimento a de outras pessoas (Bunduki, Quayle, 1997; Busnel, 2002). Os estudos sugerem a existência de uma continuidade, entre as vidas intra e extrauterina, maior do que se supunha. Freud (1926), embora não tenha abordado diretamente a temática, faz menção à existência de fantasias relacionadas com a vida intrauterina e com o nascimento. Ele afirma que “há muito mais continuidade entre a vida intrauterina e a primeira infância do que nos permite saber a impressionante censura do nascimento” (p.162). Posteriormente, outros psicanalistas também contribuíram para a discussão assinalando a existência de inscrições pré-natais no psiquismo (Rascovsky, 1960; Rank, 1961; Bion, 1992). Segundo Piontelli (1995), desde o início da vida intrauterina é possível observar a presença de padrões comportamentais e, inclusive, evidências de elementos interacionais entre pares de gêmeos, que se mantêm de forma característica após o nascimento. A autora realizou estudo longitudinal descritivo do comportamento fetal, em exames ultrassonográficos, durante todo o período gestacional e seguiu com observações comportamentais e psicanalíticas depois do nascimento até, aproximadamente, os quatro anos de vida das crianças. O objetivo do estudo foi de integrar dados observacionais e psicanalíticos e investigar a 33 existência ou não de padrões reativos e comportamentais antes e após o nascimento. Souza-Dias (1995) também relata a existência de vida emocional no feto. Acrescenta que o estado emocional da gestante e a qualidade do vínculo com seu parceiro exercem grande influência nas reações motoras fetais, sendo os movimentos fetais tomados como forma de comunicação não verbal. Para Golfeto (1997) a personalidade se desenvolve em função da sequência de acontecimentos pré e perinatais, sendo que “há evidência que a história de cada ser humano se inicia a partir do nascimento de cada célula germinativa que traz em si registros feitos por meio de memórias bioquímicas” (p.35). O autor considera ainda que o feto não é um ser reflexivo, mas que percebe os estímulos internos e externos e que há uma relação entre ele, a mãe e o ambiente. E, ainda, nem tudo que acontece com a mãe no período gestacional determina de maneira decisiva o futuro da criança. O feto, com suas potencialidades inatas, pode, de certa forma, se defender das agressões maternas e do meio extrauterino. Wilheim (1997) argumenta que, atualmente, são os aspectos traumáticos da vida intrauterina que despertam o interesse dos psicanalistas, que entendem ser este o lugar gênese de diversas psicopatologias. O feto é capaz de expressar seus sentimentos de agrado e desagrado a partir de seus comportamentos, movimentando-se. A comunicação mãe e feto é uma via de mão dupla, uma vez que os movimentos do bebê ganham interpretação e sentido para a mãe, como exemplo: chutes são entendidos como agressão ou como sinal de vitalidade do feto. A autora descreve que a comunicação mãe e feto se dá por meio de três vias: a fisiológica, a via empática e a do comportamento. A via fisiológica é responsável por veicular as emoções maternas ao bebê. Quaisquer substâncias ingeridas pela mãe são passadas ao feto pela placenta, assim como as alterações neuro-hormonais ou de pressão arterial também irão repercutir sobre o estado neurofisiológico do feto. Em outras palavras, seu estado emocional é semelhante ao estado emocional da mãe. Os neuro-hormônios, genericamente também chamados de catecolaminas, são lançados na corrente sanguínea da mãe e chegam ao feto pelo cordão umbilical. Quando a mãe se encontra em estado emocional de maior tensão ou estresse, produz maiores quantidades de adrenalina, serotonina, oxitocina, epinefrina e dopamina, 34 substâncias chamadas de catecolaminas. As catecolaminas uma vez lançadas na corrente sanguínea produzem sensações psicológicas associadas ao temor e à angústia. O feto sentirá a mesma perturbação emocional sentida pela mãe: temor e angústia (Wilheim, 1997). Outros estados emocionais maternos também são responsáveis por alterações neuro-hormonais que irão afetar o bebê, são eles: tristeza profunda, depressão ou melancolia. Nesse caso as alterações bioquímicas atuam principalmente na elevação do cortisol. Nos estados de depressão e de melancolia, além do feto ser afetado fisiologicamente/emocionalmente, ocorre outro agravante que é a entrega da mãe à depressão. Assim, entra em cena a via empática de comunicação, a mãe em tristeza profunda deixa de estar afetivamente disponível para investir em seu bebê. Se o estado emocional da mãe não favorece a disponibilidade afetiva, ela retira sua libido do contato com o feto, deixando-o só. “A disponibilidade afetiva da mãe é fundamental para que ocorra o desenvolvimento psicoafetivo do indivíduo, de célula a feto, de feto a bebê, de bebê a criança” (p.66). Para a autora as falhas na comunicação durante o período pré-natal irão construir imprints traumáticos e seus efeitos se propagarão vida afora (Wilheim, 1997). Wilheim (1997) defende que as perturbações emocionais são inevitáveis e fazem parte do processo adaptativo de qualquer gestante. Mas é importante que as mesmas desenvolvam recursos para abrandar ou neutralizar os efeitos negativos. Esses recursos se efetivam pela via empática de comunicação entre mãe e bebê. Eles se traduzem pela dedicação, em algum momento do dia, da mãe para seu bebê, em ações como: acariciar a barriga, cantarolar, ouvir música relaxante para ambos, contar histórias para o feto, tomar um banho de banheira, ou seja, qualquer ação que produza uma intimidade e cumplicidade da dupla, portanto, momentos de tranquilidade sem os efeitos do estresse. Quando a mãe vivencia perturbações constantes ou estresse crônico, o feto é tomado por sensações de pânico ou angústia profunda e como ainda não possui recursos para discriminar, ele fica entregue às sensações de ameaça de aniquilamento. A comunicação empática é imprescindível para restituir ao feto a sensação de segurança, otimismo e esperança, reassegurando, desde esse momento, a existência de vínculo de vida entre ambos. Em resumo, o investimento libidinal da mãe é imprescindível para o bebê desde o início da vida biológica. “Os sentimentos negativos de abandono, 35 desamparo, pessimismo, desesperança, desconfiança têm suas raízes fincadas na experiência pré-natal” (p.68). Para Wilheim (1997) as marcas deixadas se constituem em imprints negativos ou “núcleos geradores de pessimismo e desesperança” (p.68). As repercussões desse episódio de início da vida serão sentidas ao longo do desenvolvimento, a angústia registrada no pré-natal será reproduzida em sinais negativos do tipo: “não sou desejado”, “não sou querido”, “não sou aceito”, “não sou acolhido”, “não pertenço”. Apesar de todo esse pano de fundo, vale lembrar, segundo Spitz (1991) que o afeto materno é capaz de criar um clima favorável, um mundo completo de experiências vitais para a criança, “portanto a atitude emocional materna, seus afetos, é que servirão para orientar os afetos do bebê e conferir a qualidade de vida à experiência do bebê” (p.155). Contudo, o período de instabilidade ou de crise durante a gestação, principalmente no alto risco, não termina no parto. Estende-se ao puerpério, pois esse é o momento que ocorre a assimilação e o desempenho do papel e da função materna. A vivência do puerpério proporciona o estabelecimento da relação com o bebê e com todos os ajustamentos e tarefas que lhe são peculiares. Quando ocorre a interrupção abrupta da gestação, o concepto prematuro ou sem vida corresponde à quebra de todas as expectativas. A ausência do filho concreto confirma fantasias de incapacidade de gestar e albergar a vida. Frequentemente ficam as marcas e as cicatrizes emocionais. A maioria das mulheres não se lembra ou não valoriza tal acontecimento porque teme expor sua dor e ser responsabilizada pelo fato. Porém, esse sofrimento se prolonga pelo tempo dificultando o processo de luto (Quayle, 1997). Todo esse panorama teórico descrito é vivenciado na rotina hospitalar, pelas equipes de saúde, e se soma a outras dificuldades enfrentadas na assistência direta a essa população específica. Esse estudo pretende investigar elementos que orientem a assistência dos profissionais da saúde e os auxiliem a elaborar intervenções mais eficazes e profiláticas. 36 3 - OBJETIVOS 3.1 - Geral: - Investigar sintomas de ansiedade e depressão em gestantes de alto risco com e sem histórico de óbito fetal ou neonatal, a capacidade para o relacionamento com o feto e as estratégias de enfrentamento diante do alto risco. 3.2 - Específicos: - Caracterizar sociodemograficamente a amostra; - Avaliar e comparar a associação entre as variáveis sociodemográficas, sintomas de ansiedade e depressão, capacidade para o relacionamento com o feto atual e estratégias de enfrentamento entre as gestantes com histórico de perda fetal ou neonatal e as gestantes sem histórico de óbito fetal ou neonatal. 4 – CASUÍSTICA E MÉTODO 4.1 - Desenho do estudo: quantitativo, transversal e descritivo. 4.2 - Amostra: Participaram do estudo 56 gestantes, como amostra de conveniência, hospitalizadas em Enfermaria de Alto Risco do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo - Hospital Central. As 56 gestantes foram divididas em dois grupos: 24 pacientes com histórico de aborto, óbito fetal ou neonatal, em gestação anterior, para composição do Grupo 1 e 32 pacientes sem histórico de aborto, óbito fetal ou neonatal para composição do Grupo 2. 4.3 – Critérios de inclusão: Grupo 1: gestantes hospitalizadas em enfermaria de alto risco, acima de 18 anos; com no mínimo uma gestação anterior; com histórico de aborto, óbito fetal, natimorto ou óbito neonatal (até 28 dias de vida) de gestação anterior; independentemente da idade gestacional da perda; independentemente do tempo transcorrido do óbito; independentemente do tempo de hospitalização e da idade gestacional atual; com diagnóstico de doença obstétrica ou pré-existente, exceto 37 doença oncológica; independentemente do grau de instrução, todavia com condições de expressar seu consentimento por meio de assinatura. Grupo 2: gestantes hospitalizadas em enfermaria de alto risco, acima de 18 anos; com no mínimo uma gestação anterior; sem histórico de aborto, óbito fetal, natimorto ou óbito neonatal (até 28 dias de vida); independentemente do tempo de hospitalização e da idade gestacional atual; com diagnóstico de doença obstétrica ou pré-existente, exceto doença oncológica; independentemente do grau de instrução, todavia com condições de expressar seu consentimento por meio de assinatura. 4.4 - Critérios de exclusão: Foram excluídas as gestantes com funções psíquicas comprometidas; gestantes com diagnóstico de malformação fetal na gestação atual ou doença oncológica, as primigestas, as gestantes que não desejaram participar do estudo e aquelas sem condições de expressar seu consentimento por meio de assinatura. 4.5 - Instrumentos: a) Ficha sociodemográfica: elaborada para esta finalidade específica, baseada na ficha de uso de rotina do Serviço de Psicologia da Santa Casa de São Paulo. A ficha sociodemográfica recolheu informações como idade, escolaridade, estado civil, composição familiar, antecedentes obstétricos, reações emocionais frente ao adoecimento, hospitalização e gestação (Anexo I). b) HAD - Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (Hospital Anxiety and Depression Scale – HAD, Zigmond, Snaith, 1983). A HAD possui sua versão em português validada por Botega et al (1998). É um instrumento utilizado tanto para rastreamento diagnóstico, quanto para medir a gravidade de ansiedade e depressão. É uma escala de auto-preenchimento com sete itens para ansiedade e sete para depressão. A pontuação em cada subitem pode ir de 0 a 21. As pontuações acima de sete são sugestivas de quadros de ansiedade e depressão (Anexo II). c) EMEP - Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas: elaborada por Vitaliano et al (1985), adaptada para a população brasileira por Gimenes, Queiroz (1997) e validada por Seidl, Trócolli, Zannon (2001). A EMEP mensura estratégias de enfrentamento em relação a estressores específicos, englobando pensamentos e 38 ações das quais as pessoas fazem uso para lidar com as demandas internas ou externas. Contém 45 itens, distribuídos em quatro fatores: enfrentamento focalizado no problema, enfrentamento focalizado na emoção, busca de práticas religiosas e busca de suporte social. As respostas são dadas em escala Likert que variam de 1 a 5 pontos (1 = Eu nunca faço isso; 5 = Eu faço isso sempre). Os escores mais elevados indicam maior utilização de determinada estratégia de enfrentamento (Anexo III). d) Teste BORRTI – Forma O (Bell Object Relations and Reality Testing Inventory, Bell, 1995), com versão em português validada por Bruscato (1998). Trata-se de um inventário baseado em pressupostos psicanalíticos, planejado para ser usado em indivíduos acima de 16 anos, que avalia relações objetais. O BORRTI – Forma O é um instrumento planejado para ser autoadministrável. Ele consiste de 45 itens, nos quais o sujeito responde “Verdadeiro” ou “Falso”, de acordo com sua experiência mais recente. É composto por quatro subescalas: - Alienação: indica falta de confiança básica nos relacionamentos, perda do valor do relacionamento interpessoal, falta de habilidade para conseguir proximidade, crença de que os relacionamentos são desagradáveis e que os outros lhe desapontarão, crença de não ter com quem compartilhar os sentimentos e os pensamentos mais íntimos. - Vinculação Insegura: indica sofrimento nas experiências de relacionamento interpessoal, insegurança nos relacionamentos próximos, sensibilidade à rejeição, preocupações em ser amado ou aceito, desejo desesperado de proximidade. Os relacionamentos podem surgir como resultado de uma busca dolorosa de segurança e não do prazer de conviver com um outro separado e único, culpa, preocupação e ciúme levam a vínculos intensamente sado masoquistas. - Egocentrismo: indica a desconfiança da motivação do outro, os outros podem ser manipulados para objetivos próprios, crença em que a cooperação para objetivos comuns é impossível, porque cada um só pensa em si mesmo e alguém tentará humilhar e derrotar qualquer um outro se tiver a oportunidade. Ver a si mesmo alternadamente ou como onipotente ou como impotente e sob o controle da alguma força invencível. 39 - Incapacidade Social: indica timidez, nervosismo, incerteza sobre como agir com pessoas do sexo oposto, inabilidade para fazer amigos, insegurança social, ausência de relacionamentos próximos, ajustamento sexual insatisfatório, relacionamentos, principalmente com pessoas do sexo oposto, imprevisíveis e desconcertantes (Bruscato, 1998) (Anexo IV). 4.6 - Procedimentos: A coleta de dados foi iniciada após a avaliação do Projeto pela Comissão Científica do Serviço de Psicologia, pela Comissão Científica do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. As pacientes foram selecionadas de acordo com os critérios de inclusão a partir da admissão na enfermaria de Patologia Obstétrica. Foram convidadas a participar do estudo e receberam informações sobre os objetivos da pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo V), elaborado conforme a Resolução NO 196 de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, em duas vias, sendo uma via entregue à paciente. Após a concordância em participar do estudo e assinatura do TCLE cada paciente foi submetida aos instrumentos. A ficha sociodemográfica foi aplicada pela pesquisadora. O Teste BORRTI, as escalas HAD e EMEP são autoaplicáveis, mas a pesquisadora acompanhou passo a passo todas as pacientes para esclarecer as dúvidas. Para as pacientes semialfabetizadas a pesquisadora fez a leitura e auxiliou na compreensão dos instrumentos, para garantir o mesmo entendimento das questões para todas as pacientes. 4.7 - Tratamento dos dados: Os dados foram analisados primeiramente de acordo com a recomendação dos autores dos instrumentos, posteriormente foram organizados em banco de dados do pacote estatístico SPSS Windows (Statistical Package for Social Scienes), versão 13.0. A análise estatística foi realizada em dois estágios com níveis crescentes de dificuldade. Inicialmente, através da estatística descritiva, foi realizada uma análise exploratória para verificar as medidas de tendência central e de dispersão, averiguando se a distribuição da amostra era normal em todas as variáveis analisadas, para que os pressupostos para testes paramétricos fossem compatíveis e para que as inferências feitas a partir dos dados fossem válidas. Este procedimento forneceu ainda a análise descritiva das frequências. Em seguida, 40 análises univariadas foram utilizadas explorando cada uma das variáveis sociodemográficas relevantes para o estudo, em relação às variáveis psicológicas contidas em todos os instrumentos: HAD, EMEP e BORRTI – Forma O, para verificar a distribuição destes em cada uma delas e para estudos de estatística inferencial das amostras. O teste t de Student foi usado para comparar as médias de cada um dos escores para os dois grupos (com perda e sem perda). A análise de variância (ANOVA) foi utilizada como uma extensão do teste t, com o objetivo de testar a hipótese de que as várias médias obtidas em algumas das variáveis eram iguais para cada grupo e para examinar o relacionamento entre os escores dos instrumentos e um conjunto de variáveis sociodemográficas, na tentativa de verificar as contribuições individuais de cada uma destas variáveis nos escores e estabelecer se o valor das variáveis resposta era função dos valores de uma ou mais das variáveis preditoras ou explicativas. Para todos os testes estatísticos deste estudo, arbitrou-se o nível de significância em ≤ 0,05. 41 5 - RESULTADOS 5.1 – Dados sociodemográficos Com relação aos dados sociodemográficos coletados, temos que, a média de idade das pacientes do Grupo 1 (com perda) é de 34,3 anos (DP=5,9), variando entre idade mínima de 22,7 anos e idade máxima de 42,1 anos. Três pacientes (12,5%) se encontram na faixa etária entre 19 e 25 anos, uma paciente (4,2%) está entre 26 e 30 anos, sete pacientes (29,2%) se concentram na faixa etária entre 31 e 35 anos, nove pacientes (37,5%) estão entre 36 e 40 anos e quatro pacientes (16,7%) acima de 40 anos. Para o Grupo 2 (sem perda) a média de idade é de 33,5 anos (DP=6,3), variando entre idade mínima de 19,1 anos e idade máxima de 44,3 anos. Quatro pacientes (12,5%) estão na faixa etária entre 19 e 25 anos, cinco pacientes (15,6%) se encontram entre 26 e 30 anos, dez pacientes (31,3%) compreendem a faixa etária entre 31 e 35 anos, oito pacientes (25%) estão entre 36 e 40 anos e cinco pacientes (15,6%) acima de 40 anos. Esses dados podem ser visualizados na tabela 1. Tabela 1: Idade Grupo 1 (n=24) (com perda) Variáveis Categorias Média de idade Entre 19 e 25 anos 03 Entre 26 e 30 anos G1 = 34,3 (DP=5,9) Frequência Grupo 2 (n=32) (sem perda) % Frequência % 12,5 04 12,5 01 4,2 05 15,6 Entre 31 e 35 anos 07 29,2 10 31,3 Entre 36 e 40 anos 09 37,5 08 25 Acima de 40 anos 04 16,7 05 15,6 Idade mínima = 22,7 Idade máxima = 42,1 G2 = 33,5 (DP=6,3) Idade mínima = 19,1 Idade máxima = 44,3 42 Para o Grupo 1 (com perda) duas pacientes (8,3%) são naturais da região norte do Brasil, três (12,5%) são da região nordeste, dezessete (70,8%) são provenientes da região sudeste e duas pacientes (8,4%) são naturais da região sul do país. Quanto à raça, catorze pacientes (58,3) são brancas, quatro pacientes (16,7%) são negras e seis pacientes (25%) são pardas. Com relação à escolaridade sete pacientes (29,2%) possuem ensino fundamental incompleto, seis pacientes (25%) cursaram até o ensino fundamental completo, sete pacientes (29,2%) possuem ensino fundamental incompleto, duas (8,3%) apresentam ensino médio completo e duas pacientes (8,3%) possuem ensino superior incompleto. Cinco pacientes (20,8%) se declaram solteiras quanto ao estado civil, doze pacientes (50%) estão casadas, cinco pacientes (20,8%) são conviventes e duas (8,4%) são divorciadas. Quanto ao número de uniões conjugais doze pacientes (50%) estão na primeira união, sete pacientes (29,2%) se encontram na segunda união, quatro pacientes (16,7%) estão na quarta união e uma paciente (4,2%) possue mais de quatro uniões conjugais. No Grupo 2 (sem perda) catorze pacientes (43,8%) são naturais da região nordeste, quinze (46,9%) são provenientes da região sudeste e três pacientes (9,4%) são naturais da região sul do Brasil. Para a cor da pele, dezessete pacientes (53,1%) são da raça branca, seis (18,8%) são negras e nove pacientes (28,1%) são pardas. Quanto à escolaridade, quatro pacientes (12,5%) são semialfabetizadas, dez pacientes (31,3%) possuem ensino fundamental incompleto, cinco (15,6%) cursaram o ensino fundamental completo, nove pacientes (28,1%) apresentam ensino médio incompleto, uma (3,1%) completou o ensino médio e três pacientes (9,4%) possuem ensino superior incompleto. Oito pacientes (25%) afirmaram serem solteiras quanto ao estado civil, oito (25%) estão casadas, onze pacientes (34,4%) são conviventes e cinco (15,6%) estão divorciadas. Para o número de uniões conjugais, temos que, dezesseis (50%) estão na primeira união, quatro pacientes (12,5%) se encontram na segunda união conjugal, nove (28,1%) referiram três uniões conjugais, duas pacientes (6,3%) estão na quarta união e uma paciente (3,1%) possui mais de quatro uniões. A tabela 2 mostra esses dados. 43 Tabela 2: Naturalidade, raça, escolaridade, estado civil e número de uniões conjugais G1 (n=24) G2 (n=32) (com perda) (sem perda) Variáveis Categorias Naturalidade Norte 02 8,3 - Nordeste 03 12,5 14 43,8 Sudeste 17 70,8 15 46,9 Sul 02 8,4 03 9,4 Branca 14 58,3 17 53,1 Negra 04 16,7 06 18,8 Parda 06 25 09 28,1 - - 04 12,5 Ensino fundamental incompleto 07 29,2 10 31,3 Ensino fundamental completo 06 25 05 15,6 Ensino médio incompleto 07 29,2 09 28,1 Ensino médio completo 02 8,3 01 3,1 Ensino superior incompleto 02 8,3 03 9,4 Solteira 05 20,8 08 25 Casada 12 50 08 25 Convivente 05 20,8 11 34,4 Divorciada 02 8,4 05 15,6 Uma 12 50 16 50 Duas 07 29,2 04 12,5 Três - - 09 28,1 Quatro 04 16,7 02 6,3 Mais de quatro 01 4,2 01 3,1 Raça Escolaridade Estado civil Uniões conjugais Semialfabetizada Frequência % Frequência % - Quanto à situação ocupacional, no Grupo 1 cinco pacientes (20,8%) estão desempregadas, nove pacientes (37,5%) se encontram empregadas, duas pacientes 44 (8,3%) exercem atividade autônoma, sete pacientes (29,2%) são do lar e uma paciente (4,2%) obtém renda por outras atividades. Para a variável número de pessoas residentes na casa, para duas pacientes (8,3%) são apenas duas pessoas, para três pacientes (12,5%) são três pessoas, para seis pacientes (25%) residem quatro pessoas na mesma casa, para sete pacientes (29,2%) são cinco pessoas e seis pacientes (25%) convivem com mais de cinco pessoas na casa. A renda familiar para duas pacientes (8,3%) está em até um salário mínimo, dez pacientes (41,7%) vivem com a renda familiar entre dois e três salários mínimos, onze pacientes (45,8%) contam com a renda familiar entre três e cinco salários mínimos e uma paciente (4,2%) relata mais de cinco salários mínimos de renda familiar. Para a variável religião quatro pacientes (16,7%) se dizem indefinidas, onze pacientes (45,8%) são católicas, seis pacientes (25%) se declaram evangélicas e três pacientes (12,6%) se referem em outras religiões. Quanto ao tabagismo, quinze pacientes (62,5%) não fazem uso de tabaco e nove pacientes (37,5%) são fumantes. Para o Grupo 2 (sem perda) a situação ocupacional de distribui da seguinte forma: cinco pacientes (15,6%) estão desempregadas, treze pacientes (40,6%) se encontram empregadas, sete pacientes (21,9%) extraem renda de atividade autônoma, cinco pacientes (15,6%) são do lar e duas pacientes (6,3%) conseguem renda por outras atividades. Quanto ao número de pessoas residentes na casa, duas pacientes (6,3%) residem em apenas duas pessoas, outras duas pacientes (6,3%) residem em três pessoas na mesma casa, cinco pacientes (15,6%) moram em quatro pessoas, oito pacientes (25%) estão em até cinco pessoas na mesma casa e para quinze pacientes (46,9%) são mais de cinco pessoas. Para seis pacientes (18,8%) a renda familiar é de um salário mínimo, dezessete pacientes (53,1%) possuem renda entre dois e três salários mínimos e nove pacientes (28,1%) contam com renda entre três e cinco salários mínimos. Quanto à religião, seis pacientes (18,8%) se dizem indefinidas, doze pacientes (37,5%) são da religião católica, sete pacientes (21,9%) são evangélicas e sete pacientes (21,9%) são distribuem em outras religiões. Para a variável tabagismo, dezessete pacientes (53,1%) se dizem não fumantes e quinze pacientes (46,9%) admitem o consumo de cigarros. Esses dados podem ser visualizados na tabela 3. 45 Tabela 3: Situação ocupacional, número de pessoas residentes na casa, renda familiar, religião e tabagismo Variável Categorias Situação ocupacional Pessoas residentes na casa Renda familiar Religião Tabagismo G1 (n=24) G2 (n=32) (com perda) (sem perda) Frequência % Frequência % Desempregada 05 20,8 05 15,6 Empregada 09 37,5 13 40,6 Autônoma 02 8,3 07 21,9 Do lar 07 29,2 05 15,6 Outros 01 4,2 02 6,3 Duas pessoas 02 8,3 02 6,3 Três pessoas 03 12,5 02 6,3 Quatro pessoas 06 25 05 15,6 Cinco pessoas 07 29,2 08 25 Mais de cinco pessoas 06 25 15 46,9 Até um salário mínimo 02 8,3 06 18,8 Entre dois e três salários mínimos 10 41,7 17 53,1 Entre três e cinco salários mínimos 11 45,8 09 28,1 Mais de cinco salários mínimos 01 4,2 - Indefinida 04 16,7 06 18,8 Católica 11 45,8 12 37,5 Evangélica 06 25 07 21,9 Outras 03 12,6 07 21,9 Não 15 62,5 17 53,1 Sim 09 37,5 15 46,9 - Para os dados sociodemográficos, descritos até o momento, não houve significância estatística na comparação das médias entre Grupo 1 (com perda) e Grupo 2 (sem perda). Com relação aos dados com significância estatística na comparação de médias entre os grupos, destacou-se a variável cohabita com o pai do bebê. Para o Grupo 1 (com perda) a média é de 1,83 (DP=0,38) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,59 (0,50). A tabela 4 mostra esses dados. 46 Tabela 4: Dados sociodemográficos com significância estatística Variável Cohabita com o pai do bebê G1 (com perda) G2 (sem perda) n=24 (42,9%) n=32 (57,1%) Média (DP) Média (DP) 1,83 (0,38) 1,59 (0,50) t Teste p 2,038 0,046 5.2 – Antecedentes obstétricos Com relação ao número de gestações para o Grupo 1 (com perda), temos que, treze pacientes (54,2%) são tercigestas, sete pacientes (29,2%) estão na quarta gestação, uma paciente (4,2%) é quintagestas, duas pacientes (8,3%) são sextigestas e uma paciente (4,2%) é septigesta. Quanto ao histórico de doenças anteriores à gestação atual dezoito pacientes (75%) não possuem histórico de adoecimento e seis (25%) adoeceram antes da gestação atual. Quanto à doença obstétrica em gestação anterior dezessete pacientes (70,8%) não adoeceram durante a gestação e sete (29,2%) possuem histórico de adoecimento durante a gestação anterior. Para o Grupo 2 (sem perda) o número de gestações de distribui da seguinte forma: sete pacientes (21,9%) estão na segunda gestação, onze pacientes (34,4%) se encontram na terceira gestação, cinco pacientes (15,6%) são quartagesta, cinco pacientes (15,6%) vivenciam a quinta gestação, uma paciente (3,1%) se encontra na sexta gestação e três pacientes estão acima de sete gestações. Para a variável histórico de doenças anteriores à gestação atual dezenove pacientes (59,4%) não possuem histórico de adoecimento e treze (40,6%) apresentam histórico de adoecimento antes da gestação atual. Quanto à doença obstétrica em gestação anterior vinte e duas pacientes (68,8%) não adoeceram durante a gestação e dez (31,3%) referem adoecimento durante a gestação anterior. Esses dados podem ser visualizados na tabela 5. 47 Tabela 5: Número de gestações, histórico de doenças anteriores à gestação e doença obstétrica em gestação anterior Variável Categorias Número de gestações (incluindo a atual) Secundigesta anteriores à Doença obstétrica em gestação anterior G2 (n=32) (com perda) (sem perda) Frequência % Frequência % - - 07 21,9 Tercigesta 13 54,2 11 34,4 Quartagesta 07 29,2 05 15,6 Quintagesta 01 4,2 05 15,6 Sextigesta 02 8,3 01 3,1 Septigesta 01 4,2 - - - 03 9,4 Não 18 75 19 59,4 Sim 06 25 13 40,6 Não 17 70,8 22 68,8 Sim 07 29,2 10 31,3 Acima de sete Histórico de doenças gestação atual G1 (n=24) - Para a variável número de filhos vivos, catorze pacientes (58,3%), do Grupo 1 (com perda), possuem pelo menos um filho vivo, quatro pacientes (16,7%) têm dois filhos vivos, duas pacientes (8,3%) apresentam três filhos vivos, uma paciente (4,2%) têm quatro filhos vivos, uma paciente (4,2%) possui mais de cinco filhos vivos e duas pacientes (8,3%) não possuem filhos vivos. Para vinte e duas pacientes (91,7%) não consta histórico de tentativa de aborto ao longo da vida reprodutiva (sem sucesso), duas pacientes (8,3%) tentaram praticar aborto pelo menos uma vez. Para o Grupo 2, quanto ao número de filhos vivos, oito pacientes (25%) possuem pelo menos um filho vivo, onze pacientes (34,4%) têm dois filhos vivos, quatro pacientes (12,5%) apresentam três filhos vivos, cinco pacientes (15,6%) têm quatro filhos vivos, uma paciente (3,1%) possui cinco filhos vivos e três pacientes (9,4%) possuem mais de cinco filhos vivos. Para trinta pacientes (93,8%) não consta histórico de tentativa de aborto ao longo da vida reprodutiva (sem 48 sucesso), uma paciente (3,1%) tentou praticar aborto pelo menos uma vez e uma paciente (3,1%) tentou a prática de aborto duas vezes ao longo da vida reprodutiva. Esses dados estão organizados na Tabela 6. Tabela 6: Número de filhos vivos e tentativa de aborto ao longo da vida reprodutiva Variáveis Categorias Número de filhos vivos Um Tentativa de aborto ao longo da vida reprodutiva (sem sucesso) G1 (n=24) G2 (n=32) (com perda) (sem perda) Frequência % Frequência % 14 58,3 08 25 Dois 04 16,7 11 34,4 Três 02 8,3 04 12,5 Quatro 01 4,2 05 15,6 Cinco - - 01 3,1 Mais de cinco 01 4,2 03 9,4 Nenhum 02 8,3 - - Nenhuma 22 91,7 30 93,8 Uma 02 8,3 01 3,1 Duas - - 01 3,1 Para os dados sobre os antecedentes obstétricos não houve significância estatística na comparação das médias entre Grupo 1 (com perda) e Grupo 2 (sem perda). 5.3 - Gestação atual Quanto à doença obstétrica atual, para o Grupo 1 (com perda), oito pacientes (33,3%) apresentaram a doença antes de engravidarem e dezesseis (66,7%) adoeceram durante a gestação atual. Com relação à idade gestacional, quatro pacientes (16,7%) estão entre vinte e vinte e cinco semanas de gestação, onze pacientes (45,9%) se concentram entre vinte e seis e trinta semanas 49 gestacionais e nove pacientes (37,6%) estão entre trinta e uma e trinta e nove semanas de gestação. Oito pacientes (33,3%) apresentaram diagnóstico de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), cinco pacientes (20,8%) foram diagnosticadas com trabalho de parto prematuro, três pacientes (12,5%) possuem alteração no volume de líquido aminiótico, duas pacientes (8,3%) apresentam doença respiratória, duas pacientes (8,3%) foram hospitalizadas devido à doença autoimune, uma paciente (4,2%) apresenta doença infecciosa, cinco pacientes (20,8%) foram diagnosticadas com Diabetes Mellitus e duas pacientes (8,3%) com cardiopatias. Ainda quanto ao diagnóstico, vinte pacientes (83,3%) apresentam apenas um diagnóstico e quatro pacientes (16,7%) sobrepõem mais de um diagnóstico na gestação atual. Com relação à presença de sintomas, nove pacientes (37,5%) não apresentam sintomas e quinze pacientes (62,5%) relatam a presença de sintomas. Para o Grupo 2 (sem perda), quanto à variável doença obstétrica atual, doze pacientes (37,5%) apresentaram a doença antes de engravidarem e vinte (62,5%) adoeceram durante a gestação atual. Com relação à idade gestacional, cinco pacientes (15,6%) se encontram entre vinte e vinte e cinco semanas de gestação, onze pacientes (34,4%) estão entre vinte e seis e trinta semanas gestacionais e dezesseis pacientes (50%) se concentram entre trinta e uma e trinta e nove semanas de gestação. Para dez pacientes (31,3%) o diagnóstico de alto risco foi Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), cinco pacientes (15,6%) foram diagnosticadas com trabalho de parto prematuro, cinco pacientes (15,6%) apresentam alteração no volume de líquido aminiótico, uma paciente (3,1%) foi hospitalizada por doença respiratória, seis pacientes (18,8%) apresentam doença autoimune, uma paciente (3,1%) foi diagnosticada com doença infecciosa, três pacientes (9,4%) apresentam Diabetes Mellitus e uma paciente (3,1%) com diagnóstico de cardiopatia. Ainda quanto ao diagnóstico, vinte e oito pacientes (87,5%) apresentam apenas um diagnóstico e quatro pacientes (12,5%) sobrepõem mais de um diagnóstico na gestação atual. Com relação à presença de sintomas, treze pacientes (40,6%) não 50 apresentam sintomas e dezenove pacientes (59,4%) relatam a presença de sintomas. Esses dados podem ser visualizados na tabela 7. Tabela 7: Doença obstétrica atual, idade gestacional, diagnóstico e presença de sintomas Variável Categorias Doença obstétrica atual Idade gestacional Diagnóstico Presença de sintomas G1 (n=24) G2 (n=32) (com perda) (sem perda) Frequência % Frequência % Prévia à gestação 08 33,3 12 37,5 Gestacional 16 66,7 20 62,5 De 20 a 25 semanas 04 16,7 05 15,6 De 26 a 30 semanas 11 45,9 11 34,4 De 31 a 39 anos 09 37,6 16 50 HAS 08 33,3 10 31,3 Trabalho de parto prematuro 05 20,8 05 15,6 Volume de líquido amniótico 03 12,5 05 15,6 Doença respiratória 02 8,3 01 3,1 Doença autoimune 02 8,3 06 18,8 Doença infecciosa 01 4,2 01 3,1 Diabete Mellitus 05 20,8 03 9,4 Cardiopatia 02 8,3 01 3,1 Apenas um diagnóstico 20 83,3 28 87,5 Mais de um diagnóstico 04 16,7 04 12,5 Não 09 37,5 13 40,6 Sim 15 62,5 19 59,4 Para o Grupo 1 (com perda) a compreensão do diagnóstico e consequências para a saúde materna se apresenta da seguinte forma: seis pacientes (25%) compreendem adequadamente, dezesseis pacientes (66,7%) apresentam compreensão parcial e duas pacientes (8,3%) apresentam compreensão inadequada. Com relação à compreensão do diagnóstico e 51 consequências para a saúde do bebê nove pacientes (37,5%) compreendem adequadamente, doze pacientes (50%) apresentam compreensão parcial e três pacientes (12,5%) compreendem inadequadamente. Para dezessete pacientes (70,8%) a adesão ao tratamento é adequada, seis pacientes (25%) aderem parcialmente ao tratamento e para uma paciente (4,2%) a adesão ao tratamento é inadequada. Quanto ao pré-natal atual dezessete pacientes (70,8%) realizam adequadamente, cinco pacientes (20,8%) realizam de forma parcial e duas pacientes (8,3%) realizam de forma inadequada. Para o Grupo 2 (sem perda) a compreensão do diagnóstico e consequências para a saúde materna, cinco pacientes (15,6%) compreendem adequadamente, dezessete pacientes (53,1%) apresentam compreensão parcial e dez pacientes (31,3%) apresentam compreensão inadequada. Com relação à compreensão do diagnóstico e consequências para a saúde do bebê sete pacientes (21,9%) compreendem adequadamente, dezessete pacientes (53,1%) apresentam compreensão parcial e oito pacientes (25%) compreendem inadequadamente. Para dezesseis pacientes (50%) a adesão ao tratamento é adequada, catorze pacientes (43,8%) aderem parcialmente ao tratamento e para duas pacientes (6,3%) a adesão ao tratamento é inadequada. Quanto ao pré-natal atual dezessete pacientes (53,1%) realizam adequadamente, doze pacientes (37,5%) realizam de forma parcial e três pacientes (9,4%) realizam de forma inadequada. Para a variável compreensão do diagnóstico e consequências para a saúde materna e para a saúde do bebê foi solicitado às pacientes um relato conforme seu próprio entendimento, cada relato foi comparado com o diagnóstico da paciente e avaliado pela pesquisadora quanto à adequação. As variáveis adesão ao tratamento e pré-natal atual foram caracterizadas pelas próprias pacientes quanto à adequação. Foi solicitado às pacientes uma análise considerando a frequência nas consultas de pré-natal, a realização dos exames solicitados, os cuidados com a dieta alimentar, o uso de medicamentos e as dificuldades de seguir as orientações médicas. A tabela 8 mostra esses dados. 52 Tabela 8: Compreensão do diagnóstico, adesão ao tratamento e pré-natal atual G1 (n=24) G2 (n=32) (com perda) (sem perda) Variável Categorias Compreensão do diagnóstico e consequências para a saúde materna Adequada 06 Parcial Compreensão do diagnóstico e consequências para a saúde do bebê Adesão ao tratamento Pré-natal atual Frequência % Frequência % 25 05 15,6 16 66,7 17 53,1 Inadequada 02 8,3 10 31,3 Adequada 09 37,5 07 21,9 Parcial 12 50 17 53,1 Inadequada 03 12,5 08 25 Adequada 17 70,8 16 50 Parcial 06 25 14 43,8 Inadequada 01 4,2 02 6,3 Adequado 17 70,8 17 53,1 Parcial 05 20,8 12 37,5 Inadequado 02 8,3 03 9,4 Para onze pacientes (45,8%) do Grupo 1 (com perda) a gestação para a mãe foi planejada e desejada, para doze pacientes (50%) a gestação não foi planejada, mas é desejada e para uma paciente (4,2%) a gestação não foi planejada e não é desejada. Quanto à gestação para o pai do bebê, na visão da mãe, dez pacientes (41,7%) relatam que a gestação foi planejada e desejada, uma paciente (4,2%) afirma que a gestação foi planejada e é indesejada pelo pai do bebê, para onze pacientes (45,8%) a gestação não foi planejada, mas é desejada pelo pai do bebê e para duas pacientes (8,3%) a gestação não foi planejada e não é desejada pelo pai do bebê. No Grupo 2 (sem perda) a gestação para a mãe foi planejada e desejada, para quinze pacientes (46,9%) a gestação não foi planejada, mas é desejada e para treze pacientes (40,6%) e a gestação não foi planejada e não é desejada para 53 quatro pacientes (12,5%). Quanto à gestação para o pai do bebê, na visão da mãe, dez pacientes (31,3%) relatam que a gestação foi planejada e desejada, doze pacientes (37,5%) afirmam que a gestação não foi planejada, mas é desejada pelo pai do bebê e para dez pacientes (31,3%) a gestação não foi planejada e não é desejada pelo pai do bebê. A tabela 9 organiza esses dados. Tabela 9: Planejamento e desejo pela gestação Variável Gestação para a mãe Gestação para o pai do bebê Categorias G1 (n=24) G2 (n=32) (com perda) (sem perda) Frequência % Frequência % Planejada e desejada 11 45,8 15 46,9 Não planejada e desejada 12 50 13 40,6 Não planejada e indesejada 01 4,2 04 12,5 Planejada e desejada 10 41,7 10 31,3 Planejada e indesejada 01 4,2 - - Não planejada e desejada 11 45,8 12 37,5 Não planejada e indesejada 02 8,3 10 31,3 No Grupo 1 (com perda), para a variável sentimentos autoidentificados frente à evolução da gestação, temos que, oito pacientes (33,3%) não se sentem confiantes e dezesseis pacientes (66,7%) apresentam confiança frente à evolução da gestação, dezesseis pacientes (66,7%) não sentem angústia e oito pacientes (33,3%) relatam esse sentimento, quinze pacientes (62,5%) não referem tristeza frente à evolução da gestação e nove pacientes (37,5%) apresentam tristeza, dezenove pacientes (79,2%) não se sentem tranquilas e cinco pacientes (20,8%) referem tranquilidade, dezesseis pacientes (66,7%) não apresentam dúvidas frente à evolução da gestação e oito pacientes (33,3%) demonstram dúvidas. No Grupo 2 (sem perda) dezessete pacientes (53,1%) não se sentem confiantes e quinze pacientes (46,9%) apresentam confiança frente à evolução da gestação, vinte e três pacientes (71,9%) não referem angústia e nove pacientes (28,1%) relatam esse sentimento, vinte e uma pacientes (65,6%) não sentem tristeza frente à evolução da 54 gestação e onze pacientes (34,4%) apresentam tristeza, vinte e uma pacientes (65,6%) não se sentem tranquilas e onze pacientes (34,4%) relatam tranquilidade, vinte e três pacientes (71,9%) não apresentam dúvidas frente à evolução da gestação e nove pacientes (28,1%) possuem dúvidas. Esses dados podem ser visualizados na tabela 10. Tabela 10: Sentimentos autoidentificados frente à evolução da gestação Variável Categorias Confiança Não Angústia Tristeza Tranquilidade Dúvidas G1 (n=24) G2 (n=32) (com perda) (sem perda) Frequência % Frequência % 08 33,3 17 53,1 Sim 16 66,7 15 46,9 Não 16 66,7 23 71,9 Sim 08 33,3 09 28,1 Não 15 62,5 21 65,6 Sim 09 37,5 11 34,4 Não 19 79,2 21 65,6 Sim 05 20,8 11 34,4 Não 16 66,7 23 71,9 Sim 08 33,3 09 28,1 Com relação aos dados sobre os sentimentos autoidentificados frente à evolução da gestação obtivemos significância estatística na comparação de médias entre os grupos, em duas variáveis: Para a variável medo a média é de 1,71 (DP=0,46) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,41 (DP=0,50). Para a variável ansiedade a média é 1,79 (DP=0,41) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é 1,47 (DP=0,51). Os dados podem ser visualizados na tabela 11. 55 Tabela 11: Sentimentos autoidentificados frente à evolução da gestação com significância estatística Variável Medo Ansiedade G1 (com perda) G2 (sem perda) n=24 (42,9%) n=32 (57,1%) Média (DP) Média (DP) 1,71 (0,46) 1,41 (0,50) Média (DP) Média (DP) 1,79 (0,41) 1,47 (0,51) t Teste p 2,333 0,024 2,619 0,011 Quanto aos dados sobre os sentimentos autoidentificados frente à movimentação fetal, três pacientes (12,5%) do Grupo 1 (com perda) não sentem alegria e vinte e uma pacientes (87,5%) relatam alegria frente à movimentação fetal, dezessete pacientes (70,8%) não sentem tristeza e sete pacientes (29,2%) apresentam esse sentimento, dezoito pacientes (75%) não referem angústia e seis pacientes (25%) confessam sentir angústia frente à movimentação fetal, cinco pacientes (20,8%) não apresentam felicidade e dezenove pacientes (79,2%) se sentem felizes, vinte e duas pacientes (91,7%) não referem solidão e duas pacientes (8,3%) sentem solidão frente a movimentação fetal, dezoito pacientes (75%) não apresentam tranquilidade e seis pacientes (25%) se sentem tranqüilas, dezenove pacientes (79,2%) não demonstram irritação e cinco pacientes (20,8%) se sentem irritadas quando o bebê se movimenta. Para o Grupo 2 (sem perda) sete pacientes (21,9%) não sentem alegria e vinte e cinco pacientes (78,1%) relatam alegria frente à movimentação fetal, vinte e oito pacientes (87,5%) não sentem tristeza e quatro pacientes (12,5%) apresentam esse sentimento, vinte e sete pacientes (84,4%) não relatam angústia e cinco pacientes (15,6%) referem sentir angústia frente à movimentação fetal, dez pacientes (31,3%) não apresentam felicidade e vinte e duas pacientes (68,8%) se sentem felizes, vinte e nove pacientes (90,6%) não referem solidão e três pacientes (9,4%) sentem solidão frente a movimentação fetal, dezoito pacientes (56,3%) não apresentam tranquilidade e catorze pacientes (43,8%) se sentem tranqüilas, vinte e sete pacientes (84,4%) não demonstram irritação e cinco pacientes (15,6%) se 56 sentem irritadas quando o bebê se movimenta. Os dados estão organizados na tabela 12. Tabela 12: Sentimentos autoidentificados frente à movimentação fetal Variáveis Alegria Tristeza Angústia Felicidade Solidão Tranquilidade Irritação Categorias G1 (n=24) G2 (n=32) (com perda) (sem perda) Frequência % Frequência % Não 03 12,5 07 21,9 Sim 21 87,5 25 78,1 Não 17 70,8 28 87,5 Sim 07 29,2 04 12,5 Não 18 75 27 84,4 Sim 06 25 05 15,6 Não 05 20,8 10 31,3 Sim 19 79,2 22 68,8 Não 22 91,7 29 90,6 Sim 02 8,3 03 9,4 Não 18 75 18 56,3 Sim 06 25 14 43,8 Não 19 79,2 27 84,4 Sim 05 20,8 05 15,6 Com relação aos dados sobre os sentimentos autoidentificados frente à movimentação fetal que apresentam significância estatística, na comparação de médias entre os grupos, se destacaram três variáveis. Para a variável ansiedade a média é de 1,83 (DP=0,38) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,53 (DP=0,51). Para a variável medo a média é de 1,79 (DP=0,41) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,25 (DP=0,44). 57 Para a variável incerteza a média é de 1,58 (DP=0,50) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,31 (DP=0,47). A tabela 13 mostra os dados. Tabela 13: Sentimentos autoidentificados frente à movimentação fetal com significância estatística Variável G1 (com perda) G2 (sem perda) n=24 (42,9%) n=32 (57,1%) Média (DP) Média (DP) 1,83 (0,38) 1,53 (0,51) Média (DP) Média (DP) 1,79 (0,41) 1,25 (0,44) Média (DP) Média (DP) 1,58 (0,50) 1,31 (0,47) Ansiedade Medo Incerteza t Teste p 2,547 0,014 4,671 0,000 2,067 0,043 Quanto aos dados sobre o investimento afetivo no bebê, no Grupo 1 (com perda) dez pacientes (41,7%) demontram investimento no bebê, catorze pacientes (58,3%) apresentam investimento afetivo parcial (dados obtidos por meio de observação direta da pesquisadora durante a aplicação dos instrumentos). Com relação ao preparo de enxoval onze pacientes (45,8%) investem no preparo, onze pacientes (45,8%) o realizam parcialmente e duas pacientes (8,3%) não preparam enxoval para seu bebê. Dezesseis pacientes (66,7%) apresentam sentimentos de segurança e capacidade para cuidar do bebê e oito pacientes (33,3%) demonstram parcialmente (dados obtidos por meio de observação direta da pesquisadora durante a aplicação dos instrumentos). Com relação ao desejo de ter outros filhos, nove pacientes (37,5%) não apresentam esse desejo e quinze pacientes (62,5%) idealizam uma futura gestação. 58 Para quinze pacientes (62,5%) o relacionamento com a figura materna é satisfatório, para sete pacientes (29,2%) o relacionamento é parcialmente satisfatório e para duas pacientes (8,3%) é insatisfatório. Quanto às alterações negativas no relacionamento conjugal após a concepção, sete pacientes (29,2%) negam alterações negativas e para dezessete pacientes (70,8%) há presença de alterações negativas. No Grupo 2 (sem perda) a variável investimento afetivo no bebê se apresenta da seguinte forma: dezesseis pacientes (50%) demonstram esse investimento no bebê, quinze pacientes (46,9%) apresentam investimento afetivo parcial e uma paciente (3,1%) não demonstra investimento afetivo no bebê. Com relação ao preparo de enxoval dezenove pacientes (59,4%) investem no preparo, dez pacientes (31,3%) o realizam parcialmente e três pacientes (9,4%) não preparam enxoval para seu bebê. Vinte e uma pacientes (65,6%) apresentam sentimentos de segurança e capacidade para cuidar do bebê, nove pacientes (28,1%) demonstram parcialmente e para duas pacientes (6,3%) é ausente. Com relação ao desejo de ter outros filhos, dezenove pacientes (59,4%) não apresentam esse desejo e treze pacientes (40,6%) idealizam ter outros filhos. Para vinte pacientes (62,5%) o relacionamento com a figura materna é satisfatório, para cinco pacientes (15,6%) o relacionamento é parcialmente satisfatório e para sete pacientes (21,9%) é insatisfatório. Quanto às alterações negativas no relacionamento conjugal após a concepção, onze pacientes (34,4%) afirmam não haver alterações negativas e vinte e uma pacientes (65,6%) reconhecem a presença de alterações negativas. A tabela 14 expõe esses dados. 59 Tabela 14: Relação afetiva com o bebê, com a figura materna e com o pai do bebê Variáveis Categorias Investimento afetivo no bebê Presente Parcial Sentimentos de segurança e capacidade para cuidar do bebê Relacionamento com a figura materna Alterações negativas no relacionamento conjugal após a concepção (com perda) (sem perda) Frequência % 10 41,7 16 50 14 58,3 15 46,9 - - 01 3,1 Existente 11 45,8 19 59,4 Parcial 11 45,8 10 31,3 Inexistente 02 8,3 03 9,4 Presente 16 66,7 21 65,6 Parcial 08 33,3 09 28,1 - - 02 6,3 Não 09 37,5 19 59,4 Sim 15 62,5 13 40,6 Satisfatório 15 62,5 20 62,5 Parcial 07 29,2 05 15,6 Insatisfatório 02 8,3 07 21,9 Não 07 29,2 11 34,4 Sim 17 70,8 21 65,6 Ausente Desejo de ter outros filhos G2 (n=32) % Inexistente Preparação de enxoval G1 (n=24) Frequência Com relação aos dados sobre relação afetiva com o bebê, com a figura materna e com o pai do bebê obtivemos significância estatística na comparação de médias entre o Grupo 1 (com perda) e Grupo 2 (sem perda), em duas variáveis. Para a variável relacionamento satisfatório com o pai do bebê a média é de 1,54 (DP=0,93) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 2,28 (DP=1,20). Para a variável categorias de alterações no relacionamento conjugal, temos três sub categorias: distanciamento afetivo, diminuição do sentimento de 60 confiança no parceiro e diminuição do sentimento de união. Para distanciamento afetivo a média é de 1,17 (DP=0,38) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,47 (DP=0,51). Para diminuição do sentimento de confiança no parceiro a média é de 1,33 (DP=0,48) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,06 (DP=0,025). Para diminuição do sentimento de união a média é de 1,17 (DP=0,38) para o Grupo 1 (com perda). Para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,41 (DP=0,50). A tabela 15 mostra esses dados. Tabela 15: Relacionamento satisfatório com o pai do bebê e alterações no relacionamento com o pai do bebê com significância estatística Variável G1 (com perda) G2 (sem perda) n=24 (42,9%) n=32 (57,1%) Média (DP) Média (DP) 1,54 (0,93) 2,28 (1,20) Alterações no relacionamento conjugal: distanciamento afetivo Média (DP) Média (DP) 1,17 (0,38) 1,47 (0,51) Alterações no relacionamento conjugal: diminuição sentimento de confiança no parceiro Média (DP) Média (DP) 1,33 (0,48) 1,06 (0,25) Alterações no relacionamento conjugal: diminuição sentimento de união Média (DP) Média (DP) 1,17 (0,38) 1,41 (0,50) Relacionamento satisfatório com o pai do bebê t Teste p -2,599 0,012 -2,547 0,014 2,745 0,008 -2,038 0,046 Outra categoria de dados coletados diz respeito às reações emocionais frente ao diagnóstico de alto risco. No Grupo 1 (com perda) catorze pacientes (58,3%) não apresentam irritação frente ao diagnóstico e dez pacientes (41,7%) reagem com irritação. Seis pacientes (25%) não sentem medo e dezoito pacientes (75%) demonstram reação de medo. Nove pacientes (37,5%) não sentem ansiedade frente ao diagnóstico de alto risco e quinze pacientes (62,5%) reagem com ansiedade. Vinte e uma pacientes (87,5%) não relatam solidão e três pacientes (12,5%) sentem solidão. Vinte e uma pacientes (87,5%) não reagem com tranquilidade e três pacientes (12,5%) demonstram tranqüilidade frente ao 61 diagnóstico de alto risco. Para o Grupo 2 (sem perda) vinte e seis pacientes (81,3%) não referem irritação frente ao diagnóstico e seis pacientes (18,8%) reagem com irritação. Dezesseis pacientes (50%) não sentem medo e dezesseis pacientes (50%) demonstram essa reação. Onze pacientes (34,4%) não sentem ansiedade frente ao diagnóstico de alto risco e vinte e uma pacientes (65,6%) reagem com ansiedade. Vinte e oito pacientes (87,5%) não relatam solidão e quatro pacientes (12,5%) sentem solidão. Vinte e seis pacientes (81,3%) não reagem com tranquilidade e seis pacientes (18,8%) demonstram tranquilidade. Esses dados podem ser visualizados na tabela 16. Tabela 16: Reações emocionais frente ao diagnóstico de alto risco Irritação G1 (n=24) G2 (n=32) (com perda) (sem perda) Frequência % Frequência % Não 14 58,3 26 81,3 Sim 10 41,7 06 18,8 Não 06 25 16 50 Sim 18 75 16 50 Não 09 37,5 11 34,4 Sim 15 62,5 21 65,6 Não 21 87,5 28 87,5 Sim 03 12,5 04 12,5 Não 21 87,5 26 81,3 Sim 03 12,5 06 18,8 Medo Ansiedade Solidão Tranquilidade Com relação aos dados sobre reações emocionais frente ao diagnóstico de alto risco obtivemos significância estatística na comparação de médias entre o 62 Grupo 1 (com perda) e Grupo 2 (sem perda), em três variáveis. Para a variável incerteza a média é de 1,79 (DP=0,41) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,53 (DP=0,51). Para a variável tristeza a média é de 1,63 (DP=0,49) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,19 (DP=0,40). Para a variável angústia a média é de 1,58 (DP=0,50) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,22 (DP=0,42). Esses dados estão dispostos na tabela 17. Tabela 17: Reações emocionais frente ao diagnóstico de alto risco com significância estatística Variável Incerteza Tristeza Angústia G1 (com perda) G2 (sem perda) n=24 (42,9%) n=32 (57,1%) Média (DP) Média (DP) 1,79 (0,41) 1,53 (0,51) Média (DP) Média (DP) 1,63 (0,49) 1,19 (0,40) Média (DP) Média (DP) 1,58 (0,50) 1,22 (0,42) t Teste p 2,112 0,039 3,560 0,001 2,951 0,005 Quanto às reações emocionais frente à hospitalização, vinte e duas pacientes (91,7%) do Grupo 1 (com perda) referem não sentir alegria frente à hospitalização e duas pacientes (8,3%) se sentem alegres. Quatro pacientes (16,7%) não reagem com ansiedade e vinte pacientes (83,3%) demonstram ansiedade frente à hospitalização. Vinte e duas pacientes (91,7%) não sentem felicidade e duas pacientes (8,3%) se sentem felizes. Quinze pacientes (62,5%) não se sentem solitárias e nove pacientes (37,5%) relatam solidão frente à hospitalização. Vinte pacientes (83,3%) não reagem com tranquilidade e quatro pacientes (16,7%) demonstram tranqüilidade. Vinte e uma pacientes (87,5%) não se irritam frente à hospitalização e três pacientes (12,5%) apresentam irritação. No Grupo 2 (sem perda) vinte e sete pacientes (84,4%) referem não sentir alegria frente à hospitalização e cinco pacientes (15,6%) se sentem alegres. Cinco pacientes (15,6%) não reagem com ansiedade e vinte e sete pacientes (84,4%) demonstram 63 ansiedade frente à hospitalização. Trinta pacientes (93,8%) não sentem felicidade e duas pacientes (6,3%) se sentem felizes. Dezessete pacientes (53,1%) não se sentem solitárias e quinze pacientes (46,9%) relatam solidão frente à hospitalização. Vinte e sete pacientes (84,4%) não reagem com tranquilidade e cinco pacientes (15,6%) demonstram tranqüilidade. Vinte e sete pacientes (84,4%) não se irritam frente à hospitalização e cinco pacientes (15,6%) apresentam irritação. Esses dados podem ser visualizados na tabela 18. Tabela 18: Reações emocionais frente à hospitalização Alegria G1 (n=24) G2 (n=32) (com perda) (sem perda) Frequência % Frequência % Não 22 91,7 27 84,4 Sim 02 8,3 05 15,6 Não 04 16,7 05 15,6 Sim 20 83,3 27 84,4 Não 22 91,7 30 93,8 Sim 02 8,3 02 6,3 Não 15 62,5 17 53,1 Sim 09 37,5 15 46,9 Não 20 83,3 27 84,4 Sim 04 16,7 05 15,6 Não 21 87,5 27 84,4 Sim 03 12,5 05 15,6 Ansiedade Felicidade Solidão Tranquilidade Irritação 64 Com relação aos dados sobre reações emocionais frente à hospitalização obtivemos significância estatística na comparação de médias entre o Grupo 1 (com perda) e Grupo 2 (sem perda), em quatro variáveis. Para a variável tristeza a média é de 1,79 (DP=0,41) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,22 (DP=0,42). Para a variável angústia a média é de 1,63 (DP=0,49) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,28 (DP=0,46). Para a variável medo a média é de 1,71 (DP=0,46) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,44 (DP=0,50). Para a variável incerteza a média é de 1,88 (DP=0,34) para o Grupo 1 (com perda) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 1,41 (DP=0,50). Os dados estão organizados na tabela 19. Tabela 19: Reações emocionais frente à hospitalização com significância estatística Variável Tristeza Angústia Medo Incerteza G1 (com perda) G2 (sem perda) n=24 (42,9%) n=32 (57,1%) Média (DP) Média (DP) 1,79 (0,41) 1,22 (0,42) Média (DP) Média (DP) 1,63 (0,49) 1,28 (0,46) Média (DP) Média (DP) 1,71 (0,46) 1,44 (0,50) Média (DP) Média (DP) 1,88 (0,34) 1,41 (0,50) t Teste p 5,078 0,000 2,659 0,009 2,082 0,042 3,966 0,000 Quanto à observação da paciente sobre atitudes de familiares durante a hospitalização, para o Grupo 1 (com perda) temos que, vinte e uma pacientes (87,5%) não sentem distanciamento afetivo de familiares e três pacientes (12,5%) se lamentam dessa atitude. Seis pacientes (25%) não se sentem superprotegidas e dezoito (75%) relatam superproteção de familiares. Dez pacientes (41,7%) não referem acolhimento afetivo por parte de familiares e catorze pacientes (58,3%) se sentem acolhidas. Vinte e três pacientes (95,8%) não se sentem banalizadas por 65 familiares e uma paciente (4,2%) percebem essa banalização durante a hospitalização. No Grupo 2 (sem perda) vinte e oito pacientes (87,5%) não sentem distanciamento afetivo de familiares e quatro pacientes (12,5%) se lamentam dessa atitude. Doze pacientes (37,5%) não se sentem superprotegidas e vinte (62,5%) relatam superproteção de familiares. Onze pacientes (34,4%) não referem acolhimento afetivo por parte de familiares e vinte e uma pacientes (65,6%) referem acolhimento. Vinte e nove pacientes (90,6%) não se sentem banalizadas por familiares e três paciente (9,4%) percebem essa banalização durante a hospitalização. Tabela 20: Atitudes de familiares durante a hospitalização Distanciamento afetivo G1 (n=24) G2 (n=32) (com perda) (sem perda) Frequência % Frequência % Não 21 87,5 28 87,5 Sim 03 12,5 04 12,5 Não 06 25 12 37,5 Sim 18 75 20 62,5 Não 10 41,7 11 34,4 Sim 14 58,3 21 65,6 Não 23 95,8 29 90,6 Sim 01 4,2 03 9,4 Superproteção Acolhimento afetivo Banalização 5.4 – Histórico e repercussões frente à perda (Grupo 1) Para o Grupo 1, com histórico de aborto, óbito fetal, natimorto e óbito neonatal, temos que, duas pacientes (8,3%) apresentam histórico de aborto espontâneo uma única vez, doze pacientes (50%) tiveram óbito fetal uma vez, duas pacientes (8,3%) vivenciaram óbito fetal duas vezes, sete pacientes (29,2%) 66 tiveram a experiência de natimorto, cinco pacientes (20,8%) apresentaram óbito neonatal uma vez, uma paciente (4,1%) vivenciou óbito neonatal duas vezes. Quanto às causas de óbito fetal, uma paciente (4,1%) atribuiu à síndrome fetal, três pacientes (12,5%) à doença materna e dez pacientes (41,6%) não souberam responder. Para as causas de natimorto, cinco pacientes (20,8%) atribuíram a causa do óbito à prematuridade e duas pacientes (8,3%) não souberam responder. Para as causas de óbito neonatal, duas pacientes (8,3%) justificam o óbito por doença materna e quatro pacientes (16,7%) não souberam responder. Esses dados estão apresentados na tabela 21. Tabela 21: Histórico de aborto, óbito fetal, natimorto e óbito neonatal (n=24) Aborto espontâneo Frequência % 02 8,3 Uma vez 12 50 Duas vezes 02 8,3 07 29,2 Uma vez 05 20,8 Duas vezes 01 4,1 Síndrome fetal 01 4,1 Doença materna 03 12,5 Não sabe 10 41,6 Prematuridade 05 20,8 Não sabe 02 8,3 Doença materna 02 8,3 Não sabe 04 16,7 Uma vez Óbito fetal Natimorto Uma vez Óbito neonatal Causas de óbito fetal Causas de natimorto Causas de óbito neonatal 67 Com relação à perda na gestação anterior, doze pacientes (50%) apresentaram óbito fetal, sete pacientes (29,2%) tiveram óbito neonatal e cinco pacientes (20,8%) relatam natimorto como perda anterior. Quanto ao contato com o bebê após o óbito, onze pacientes (45,8%) não tiveram contato, oito pacientes (33,4%) realizaram apenas contato visual com o bebê e cinco pacientes (20,8%) realizaram contato físico. Com relação ao motivo do não contato, sete pacientes (29,2%) não desejaram o contato, três pacientes (12,3%) justificam o não contato por impedimento da equipe de saúde, dez pacientes (41,6%) relatam que não foram consultadas e também não se manifestaram e para quatro pacientes (16,7%) o não contato se justifica pelo baixo peso e tamanho do bebê. Os dados podem ser visualizados na tabela 22. Tabela 22: Perda na gestação anterior, contato com o bebê após o óbito e motivo do não contato (n=24) Perda na gestação anterior Frequência % Óbito fetal 12 50 Óbito neonatal 07 29,2 Natimorto 05 20,8 Nenhum 11 45,8 Visual 08 33,4 Físico 05 20,8 Não desejou 05 20,8 Equipe não permitiu 03 12,5 Não foi consultada e não se manifestou 08 54,2 Bebê menor que 500g 03 12,5 Contato com o bebê após o óbito Motivo do não contato 68 Para a variável tempo transcorrido da última perda até a gestação atual, dez pacientes (41,6%) engravidaram em menos de seis meses após a perda, doze pacientes (50%) engravidaram entre seis meses e um ano após a perda e duas pacientes (8,2%) engravidaram pelo menos um ano após a perda. Quanto ao período em que a paciente se sentiu em luto, seis pacientes (25%) relatam que em nenhum momento se sentiram enlutadas, nove pacientes (37,5%) se sentiram em luto entre três e seis meses após a perda, seis pacientes (25%) se sentiram em luto até um ano após a perda e três pacientes (12,5%) permaneceram enlutadas por mais de um ano. Os dados estão organizados na tabela 23. Tabela 23: Tempo transcorrido entre a última perda até a gestação atual e período que a paciente se sentiu em luto (n=24) Tempo transcorrido entre a última perda até a gestação atual Frequência % Menos de seis meses 10 41,6 Entre seis meses e um ano 12 50 Mais de um ano 02 8,2 Em nenhum momento 06 25 Entre três e seis meses 09 37,5 Até um ano 06 25 Mais de um ano 03 12,5 Período em que a paciente se sentiu em luto Com relação às repercussões após a perda, na variável desejo de engravidar imediatamente, vinte pacientes (83,4%) apresentaram esse desejo e quatro pacientes (16,6%) não desejaram engravidar imediatamente. Quanto à variável desejo concretizado, catorze (58,3%) não concretizaram a gravidez imediatamente e dez pacientes (41,6%) engravidaram logo após a perda. Quanto às alterações na vida após o óbito, dez pacientes (41,6%) relatam que não sentiram alterações e catorze pacientes (58,3%) afirmam que ocorreram alterações em suas vidas após o óbito. A tabela 24 mostra os dados. 69 Tabela: 24: Repercussões após a perda (n=24) Desejo de engravidar imediatamente Frequência % Presente 20 83,4 Ausente 04 16,6 Não 14 58,3 Sim 10 41,6 Não 10 41,6 Sim 14 58,3 Desejo concretizado Alterações na vida após o óbito Dentre as alterações na vida após o óbito, a variável relacionamento conjugal não sofreu modificações para dezoito pacientes (75%) e para seis pacientes (25%) houveram alterações no relacionamento conjugal. Para a variável sexualidade, sete pacientes (29,2%) não sentiram alterações e dezessete pacientes (70,8%) afirmam alteração na vida sexual. Para a variável dificuldade de concentração, treze pacientes (54,2%) não apresentaram alteração e onze pacientes (45,8%) sentiram dificuldade de concentração após o óbito. Quanto às dores de cabeça e no corpo, dezoito pacientes (75%) não apresentam essa queixa e para seis pacientes (25%) esses sintomas se fizeram presente após a perda. Com relação à variável sono, seis pacientes (25%) afirmam nenhuma alteração no sono e dezoito pacientes (75%) constataram alteração. Para a variável relacionamento familiar, quinze pacientes (62,5%) não sentiram alteração após o óbito e nove pacientes (37,5%) sofreram alterações no relacionamento familiar após o óbito. Com relação à adaptação ao trabalho, treze pacientes (54,2%) não identificaram diferença e onze pacientes (45,8%) relatam que houve dificuldades de adaptação ao trabalho. Para dezesseis pacientes (66,6%) não consta alteração na variável cansaço constante e para oito pacientes (33,4%) há alteração quanto à sensação de cansaço constante após a perda. Esses dados estão apresentados na tabela 25. 70 Tabela 25: Alterações na vida após o óbito (n=24) Relacionamento conjugal Frequência % Não 18 75 Sim 06 25 Não 07 29,2 Sim 17 70,8 Não 13 54,2 Sim 11 45,8 Não 18 75 Sim 06 25 Não 06 25 Sim 18 75 Não 15 62,5 Sim 09 37,5 Não 13 54,2 Sim 11 45,8 Não 16 66,6 Sim 08 33,4 Sexualidade Dificuldade de concentração Dores de cabeça e no corpo Sono Relacionamento familiar Adaptação ao trabalho Cansaço constante Onze pacientes (45,8%) não identificam outras alterações na vida após o óbito e treze pacientes (54,2%) relatam outras alterações após o óbito, além das descritas na tabela anterior. Com relação à variável alterações persistentes há mais de seis meses, dez pacientes (41,6%) não sentiram alterações por mais de 71 seis meses após o óbito e catorze pacientes (58,4%) afirmam que as alterações persistiram por mais de seis meses. Os dados podem ser visualizados na tabela 26. Tabela 26: Outras alterações na vida após o óbito e tempo de duração (n=24) Alterações na vida após o óbito – outras Frequência % Não 11 45,8 Sim 13 54,2 Não 10 41,6 Sim 14 58,4 Alterações persistentes há mais de seis meses Quanto aos recursos utilizados no processo de luto, para seis pacientes (25%) a religião não foi um recurso utilizado e para dezoito pacientes (75%) a religião foi um recurso utilizado no processo de luto. A variável apoio familiar não foi um recurso utilizado para oito pacientes (33,4%) e para dezesseis pacientes (66,6%) foi utilizado como recurso no luto. Com relação ao apoio social vinte pacientes (83,4%) não utilizaram esse recurso e quatro pacientes (16,6%) utilizaram o apoio social como recurso para o luto. Quatro pacientes (16,6%) não utilizaram o recurso não pensar nem falar e vinte pacientes (83,4%) empregaram esse recurso no processo de luto. Engravidar novamente não foi um recurso utilizado para onze pacientes (45,8%) e para treze pacientes (54,2%) esse recurso foi empregado. Para a variável intensificar o trabalho, dezenove pacientes (79,2%) não fizeram uso desse recurso e cinco pacientes (20,8%) empregaram esse recurso no processo de luto. Os dados estão organizados na tabela 27. 72 Tabela 27: Recursos utilizados no processo de luto (n=24) Recursos utilizados no processo de luto – religião Frequência % Não 06 25 Sim 18 75 Não 08 33,4 Sim 16 66,6 Não 20 83,4 Sim 04 16,6 04 16,6 20 83,4 Não 11 45,8 Sim 13 54,2 Não 19 79,2 Sim 05 20,8 Recursos utilizados no processo de luto – apoio familiar Recursos utilizados no processo de luto – apoio social Recursos utilizados no processo de luto – não pensar nem falar sobre Não Sim Recursos utilizados no processo de luto – engravidar novamente Recursos utilizados no processo de luto – intensificar o trabalho Com relação à variável culpabilidade pelo ocorrido, doze pacientes (50%) não apresentam sentimento de culpa pelo óbito e doze pacientes (50%) se sentem culpadas pelo ocorrido. Nove pacientes (37,5%) acreditam que não poderia ter feito algo para evitar a perda e quinze pacientes (62,5%) referem que poderiam ter feito algo para evitar a perda. Vinte pacientes (83,4%) relataram não sentir raiva do bebê e para quatro pacientes (16,6%) esse sentimento esteve presente após o óbito. Dez pacientes (41,7%) alegam não sentir raiva do destino e catorze pacientes (58,3%) confessam sentir raiva do destino. Para dezoito pacientes (75%) não é presente o sentimento de raiva de si mesma e para seis das pacientes (25%) há presença do sentimento de raiva de si mesma. A tabela 28 organiza esses dados. 73 Tabela 28: Sentimento de culpa e raiva pelo óbito (n=24) Culpabilidade pelo ocorrido Não 12 50 Sim 12 50 Não 09 37,5 Sim 15 62,5 Não 20 83,4 Sim 04 16,6 Não 10 41,7 Sim 14 58,3 Não 18 75 Sim 06 25 Poderia ter feito algo para evitar a perda Raiva do bebê Raiva do destino Raiva de si mesma 5.5 – Ansiedade, Depressão, Capacidade para o Relacionamento e Recursos de Enfrentamento. Com relação aos dados sobre Ansiedade e Depressão obtivemos significância estatística na comparação de médias entre os grupos. Para o Grupo 1 (com perda), para a variável Ansiedade, a média é de 12,00 (DP=3,93) e para o Grupo 2 (sem perda) a média é de 8,41 (DP=5,35). Para a variável Depressão, o Grupo 1 (com perda) obteve média de 10,29 (DP=3,91) e para o Grupo 2 (sem perda) a média foi de 7,09 (DP=3,11). A tabela 29 mostra esses dados. 74 Tabela 29: Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD) Variável G1 (com perda) G2 (sem perda) n=24 (42,9%) n=32 (57,1%) Média (DP) Média (DP) 12,00 (3,93) 8,41 (5,35) Média (DP) Média (DP) 10,29 (3,91) 7,09 (3,11) Ansiedade Depressão t Teste p 3,397 0,001 2,545 0,011 Para a variável Capacidade para o Relacionamento, temos quatro fatores que agrupam as categorias não patológico e patológico para as relações objetais, são eles: Alienação, Vinculação Insegura, Egocentrismo e Incapacidade Social. Para o Grupo 1 (com perda), no Fator Alienação, dezesseis pacientes (66,7%) não apresentam relações objetais patológicas. No Fator Vinculação Insegura quinze pacientes (62,5%) pontuaram relações objetais patológicas. No Fator Egocentrismo treze pacientes (54,2%) apresentam relações objetais patológicas. No Fator Incapacidade Social doze pacientes (50%) não demonstram relações objetais patológicas e as outras doze pacientes (50%) demonstram relações objetais patológicas. Para o Grupo 2 (sem perda), no Fator Alienação, dezenove pacientes (59,4%) apresentam relações objetais patológicas. No Fator Vinculação Insegura dezesseis pacientes (50%) não apresentam relações objetais patológicas e dezesseis pacientes (50%) pontuaram relações objetais patológicas. No Fator Egocentrismo vinte e três pacientes (71,9%) demonstram relações objetais patológicas. No Fator Incapacidade Social vinte e duas pacientes (68,8%) não indicam relações objetais patológicas. Para esses dados sobre Capacidade para o Relacionamento não houve significância estatística na comparação das médias entre Grupo 1 (com perda) e Grupo 2 (sem perda). Os dados estão apresentados na tabela 30. 75 Tabela 30: Teste BORRTI – forma O (Relações objetais) Categorias Grupo 1 (n= 24) Grupo 2 (n= 32) (com perda) (com perda) Frequência % Frequência % Fator Alienação Não patológico 16 66,7 13 40,6 Patológico 08 33,3 19 59,4 Não patológico 09 37,5 16 50 Patológico 15 62,5 16 50 Não patológico 11 45,8 09 28,1 Patológico 13 54,2 23 71,9 Não patológico 12 50 22 68,8 Patológico 12 50 10 31,3 Fator Vinculação Insegura Fator Egocentrismo Fator Incapacidade Social Quanto aos dados sobre Recursos de Enfrentamento, não obtivemos significância estatística na comparação de médias entre os grupos. Como resultados verificamos que, para o Grupo 1 (com perda), uma paciente (4,2%) utiliza o recurso de enfrentamento focalizado no problema, oito pacientes (33,3%) fazem uso do recurso de enfrentamento focalizado na emoção, onze pacientes (45,8%) utilizam o recurso de enfrentamento focalizado no pensamento fantasioso/religiosidade e quatro pacientes (16,7%) recorrem ao recurso de enfrentamento focalizado na busca por suporte social. Para o Grupo 2 (sem perda), duas pacientes (6,3%) fazem uso do recurso de enfrentamento focalizado no problema, dezoito pacientes (56,3%) utilizam o recurso de enfrentamento focalizado na emoção, seis pacientes (18,8%) empregam o recurso de enfrentamento focalizado no pensamento fantasioso/religiosidade e seis 76 pacientes (18,8%) recorrem ao recurso de enfrentamento focalizado na busca por suporte social. Esses dados podem ser visualizados na tabela 31. Tabela 31: Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP) Categorias de enfrentamento Grupo 1 (n= 24) Grupo 2 (n= 32) (com perda) (sem perda) Frequência % Frequência % Focalizado no problema 01 4,2 02 6,3 Focalizado na emoção 08 33,3 18 56,3 Focalizado no pensamento fantasioso / religiosidade 11 45,8 06 18,8 Focalizado na busca por suporte social 04 16,7 06 18,8 77 6 – DISCUSSÃO No contexto prático da minha atuação assistencial fui surpreendida, frequentemente, por pacientes com histórico de perda fetal ou neonatal, relatando a dor da perda anterior e as estratégias utilizadas como recurso para suportar e administrar as reações emocionais que surgiam no decorrer do processo gestacional. Na minha leitura, como psicóloga, o desejo de a nova gestação terminar com sucesso ressoava como uma exigência dessas mulheres em provar a si mesmas sua capacidade em ser mãe, ao mesmo tempo em que sucumbiam frente às intercorrências. Somado a isso, observei que muitas pacientes recorriam à religiosidade com uma conotação de súplica frente ao desespero. Além disso, a maioria das pacientes com histórico de perda se apresentava visivelmente mais fragilizada emocionalmente, com autoestima prejudicada, em comparação com as pacientes sem histórico de perda. O processo de adaptação emocional se mostrava mais difícil para as pacientes com histórico de perda. O pouco tempo transcorrido entre uma gestação malograda e a gestação atual também ganhou destaque, com frequência, no relato dessas pacientes. Sabendo que muitas reações são consideradas normais e esperadas frente ao alto risco e hospitalização e de maior intensidade em comparação com a gestação de baixo risco, escolhi estudar essa população dividindo as pacientes em um grupo com histórico de perda e outro grupo sem histórico de perda. O intuito foi comparar essas reações emocionais e obter elementos para refletir sobre como uma perda em gestação anterior pode repercutir na vida emocional dessas mulheres. As estratégias relatadas por elas para suportar e amenizar o sofrimento eram as mais variadas possíveis e não se mostravam funcionais no processo adaptativo. Uma possível explicação poderia ser apoiada em características de personalidade envolvidas na eleição dessas estratégias de enfrentamento, dificultando o equilíbrio emocional e intensificando os sintomas de ansiedade e depressão. Na literatura psicológica é mais do que consagrada a importância da relação mãe e filho e suas vicissitudes para o desenvolvimento emocional do 78 bebê até a fase adulta. A teoria das Relações Objetais, há mais de cem anos, abarca o estudo da capacidade para o relacionamento humano desde as primeiras relações no início da vida. No que diz respeito às pesquisas científicas com gestantes de alto risco, considerando esse corpo teórico da Psicologia, não foram encontrados estudos publicados que investigaram a capacidade para o relacionamento humano nessa população. Da mesma forma as pesquisas publicadas sobre estratégias de enfrentamento em gestantes de alto risco não contemplam as pacientes em gestação subsequente à perda. Os estudos publicados fazem referência à gestação de alto risco decorrente de diagnóstico de mal formação fetal. Diante disso foram selecionados os instrumentos de investigação, adaptados e validados para a população brasileira e considerados adequados para investigação em Psicologia Hospitalar, e que pudessem responder às questões não encontradas nas publicações científicas. Considerando os dados coletados que apresentam significância estatística na comparação de médias entre o Grupo 1 (com perda) e Grupo 2 (sem perda), o primeiro tema que se apresenta nos dados sociodemográficos é o fato das pacientes cohabitarem ou não com o pai do bebê. Foi observado que no Grupo 1 (com perda) as mulheres cohabitam mais com os parceiros do que no Grupo 2 (sem perda). Esse dado nos reporta para outra variável, também com significância estatística, que diz respeito ao relacionamento com o pai do bebê. As mulheres do Grupo 1 (com perda) apresentam um relacionamento com o pai do bebê menos satisfatório do que as mulheres do Grupo 2 (sem perda). Esse estudo não pretendeu investigar as particularidades desses relacionamentos, no entanto podemos refletir sobre esse dado. Somado a isso mulheres do Grupo 1 (com perda) apresentam outro dado que nos chama a atenção, apesar de não apresentar significância estatística, julgamos pertinente para essa reflexão, do ponto de vista de dinâmica emocional. No teste BORRTI que mede a capacidade para os relacionamentos (relações objetais) o Grupo 1 (com perda) apresentou relações objetais patológicas, para a maioria das pacientes, no fator Vinculação Insegura. Esse fator indica sofrimento nas experiências de relacionamento 79 interpessoal, insegurança nos relacionamentos próximos, sensibilidade à rejeição, preocupações em ser amado ou aceito, desejo desesperado de proximidade e os relacionamentos podem surgir como resultado de uma busca dolorosa de segurança e não do prazer de conviver com um outro separado e único, culpa, preocupação e ciúme que levam a vínculos intensamente sado masoquistas (Bruscato, 2001). Diante disso, parece-nos que esses relacionamentos ganham significados ou necessidades para o Grupo 1 (com perda), do ponto de vista da dinâmica emocional, de se manterem mesmo que insatisfatoriamente. As relações objetais patológicas também indicam que essas mulheres possuem poucos recursos emocionais para ajustar esses relacionamentos de forma mais adequada. Essa dinâmica emocional é responsável por mantê-las insatisfeitas, ao mesmo tempo em que sofrem para manter esse relacionamento insatisfatório. Outro dado importante, com significância estatística, no Grupo 1 (com perda) é a diminuição do sentimento de confiança no parceiro após a descoberta da gestação atual. A gestação se configura como um processo de alterações e ajustes em vários níveis, emocionalmente a descoberta da gestação remete imediatamente às relações que se sobrepõem no psiquismo feminino, filhamulher-mãe. Esses papéis são reconsiderados e analisados resultando na aceitação da gravidez e na tendência da mulher para a maternidade (Soifer, 1980). Nesse momento também entra em cena uma nova relação: com o feto. Um novo objeto estampa o cenário e os modos de se relacionar com o mundo e com as coisas, de cada mulher. O fato de a gestação acontecer no corpo feminino traduz para a mulher que esse novo objeto de relação faz parte dela. Considerando que, para as mulheres do Grupo 1 (com perda) seus relacionamentos com os companheiros são insatisfatórios, a gravidez pode ser a possibilidade de uma nova relação com maior grau de satisfação e, sintomaticamente, diminui o sentimento de confiança no parceiro com a expectativa de que a nova relação possa lhe 80 ofertar menos frustrações e mais gratificações de acordo com as demandas e expectativas maternas em seus relacionamentos interpessoais. Além disso, essa dinâmica emocional materna tentará conduzir essa relação com o bebê após o nascimento de acordo com suas necessidades particulares de relacionamento. De acordo com Spitz (1991) o que satisfaz a mãe é completamente diferente do que satisfaz a criança. Para o conceito de relações objetais normais é muito importante que tanto a mãe quanto a criança sejam satisfeitas. O investimento no feto, durante a gestação, é ao mesmo tempo um investimento no próprio corpo. Após o parto a mãe deve passar por um processo gradual de separação de seu próprio corpo com o bebê. Tudo dependerá da dinâmica de personalidade da mãe e dos significados atribuídos a todos os eventos que surgirão dessa nova relação. A relação com o pai do bebê é produto das relações objetais vivenciadas pela mãe ao longo de sua história, se esse relacionamento sofre alterações significativas ainda no processo gestacional, o vínculo com o bebê pode ganhar um status de que o bebê trará as satisfações e gratificações que estão ausentes no relacionamento com o pai do bebê. As alterações no relacionamento com o pai do bebê são mais comuns de acontecer após o nascimento, o pai pode se sentir rejeitado ou excluído da dupla. O bebê é para a mãe o principal objeto de amor. No entanto, as relações objetais patológicas no Fator Vinculação Insegura nos sugerem que essas mulheres apresentam dificuldades e inseguranças em ponderar suas reações e atitudes frente ao companheiro, buscando sempre no outro as respostas para suas necessidades de forma dependente. A mutualidade no relacionamento fica comprometida quando se espera que o outro conduza a relação. A diminuição do sentimento de confiança sugere que a gestação promova e oferte essa “garantia” de retorno afetivo de forma mais intensa, porque o feto é parte do corpo da grávida e, após o nascimento, poderá ser o filho que atenderá às necessidades maternas. Ao contrário do Grupo 1 (com perda) as mulheres do Grupo 2 (sem perda) cohabitam menos com o pai do bebê, novamente outro dado nos chama 81 a atenção com relação à variável relacionamento com o pai do bebê. As mulheres do Grupo 2 (sem perda) apresentam maior distanciamento afetivo e diminuição do sentimento de união com o parceiro, com significância estatística em comparação com o Grupo 1 (com perda). Recorremos novamente ao teste BORRTI para refletir sobre o Grupo 2 (sem perda), a maioria das mulheres do Grupo 2 apresentam relações objetais patológicas em dois Fatores importantes para essa questão envolvendo o companheiro. Um dos Fatores é Alienação, as relações objetais patológicas nesse Fator podem ser entendidas como falta de confiança básica nos relacionamentos, perda do valor do relacionamento interpessoal, falta de habilidade para conseguir proximidade, crença de que os relacionamentos são desagradáveis e que os outros lhe desapontarão, crença de não ter com quem compartilhar os sentimentos e os pensamentos mais íntimos. O outro Fator do BORRTI que indica relações objetais patológicas é o Egocentrismo. Esse Fator representa a desconfiança da motivação do outro, os outros podem ser manipulados para objetivos próprios, crença em que a cooperação para objetivos comuns é impossível, porque cada um só pensa em si mesmo e alguém tentará humilhar e derrotar qualquer um outro se tiver a oportunidade, ver a si mesmo alternadamente ou como onipotente ou como impotente e sob o controle de alguma força invencível (Bruscato, 2001). Esses dados podem estar sobrepostos na dinâmica emocional da maioria das mulheres do Grupo 2 (sem perda) produzindo as resposta com relação ao companheiro. Spitz (1991) defende que o relacionamento com o pai do bebê é o ponto culminante das relações objetais vividas pela mulher ao longo de sua história. Se esse relacionamento não é satisfatório, decorrente das relações objetais patológicas, ele será um padrão de escolhas e repetições na vida dessas mulheres. Repetições inclusive com o futuro bebê. No entanto, a gestação é o momento de investimento em si mesma, porque o bebê está no corpo da mãe. No início a mãe se depara com uma criança imaginada, o filho nasce do pensamento materno e adquire característica de acordo com o desenvolvimento da gestação e do ideais maternos (Winnicott, 1975; Spitz, 1991). 82 As satisfações que a mãe pode obter na relação com o bebê serão determinadas por vários elementos incluindo a capacidade do bebê em se adaptar às circunstâncias da realidade exterior. Isso significa que a mãe não está no controle total do bebê. Como exemplo, algumas mães oferecem a ponta do cobertor para a criança na esperança que ela se “apegue” ao objeto, muitas vezes a criança elege outro objeto de “apego”. Da mesma forma, a função da amamentação também ganha significados à medida que a mãe interpreta o filho, como mais preguiçoso ou mais voraz, como aceitação ou rejeição do leite materno. Uma mãe com as características de relações objetais patológicas, nos Fatores Alienação e Egocentrismo, pode interpretar as reações do bebê como muito frustrantes ou permeadas por raiva, porque o bebê não corresponde às expectativas maternas e ao bebê imaginado. As relações inadequadas entre mãe e filho, do ponto de vista qualitativo, poderão levar o bebê ao desenvolvimento de relações objetais patológicas (Winnicott, 1975; Spitz, 1991). É importante destacar que a dinâmica emocional da mãe é permeada por muitas variáveis e depende tanto do contexto vivenciado nesse momento, como da frequência desses acontecimentos. As patologias nas relações objetais ganham maior ou menor intensidade de acordo com todas as variáveis atuantes. O ciclo sequencial de ação-reação-ação das relações mãe e bebê é um processo não verbal, complexo e significativo (Winnicott, 1975; Spitz, 1991). Esse padrão de repetições da mãe nos relacionamentos pode, por um lado dificultar o investimento adequado no bebê reproduzindo as características das relações objetais patológicas, por outro lado pode ser a possibilidade da mulher reavaliar suas relações interpessoais. Toda gestação se configura como um período de crise, a solução elaborada pelo indivíduo pode ser saudável ou doentia, implicando em maior ou menor grau de organização e ajustamento da personalidade (Soifer, 1980; Maldonado, 2000). Em síntese, tanto as mães do Grupo 1 (com perda) como as do Grupo 2 (sem perda) apresentam prejuízos em seus relacionamentos interpessoais com 83 companheiros, diferentes em conteúdo e forma, mas de maneira semelhante as deixam vulneráveis a sofrimentos, que podem se repetir na relação com o bebê. Contudo, a identificação do fator de risco na gestação e a hospitalização como fato concreto do adoecimento intensificam as dificuldades de adaptação emocional. A relação que a mãe estabelece com o feto pode ficar abalada porque altera o nível de satisfação buscado na gestação. Diante disso, os dados sobre sentimentos autoidentificados frente à evolução da gestação, demonstram significância estatística na comparação entre as médias dos Grupos. O Grupo 1 (com perda) demonstra maior sentimento de medo e ansiedade, frente à evolução da gestação, do que o Grupo 2 (sem perda). O medo é decorrente do histórico da perda anterior e da ameaça de novo acontecimento, a ansiedade (declarada pela paciente) diz respeito à necessidade de sair com rapidez dessa situação desconfortável. De acordo com a literatura as mulheres com histórico de perda apresentam maior fragilidade emocional com relação à evolução da gestação. À medida que a gestação evolui, o medo e a ansiedade podem diminuir, possibilitando o ajustamento emocional. Mas, para essas pacientes do Grupo 1 (com perda), nos parece que esses sentimentos as acompanha durante todo o processo gestacional (Matheli, 1999; Aquino, 2000; Santos et al, 2004; Binotto, 2005; Enkin et al, 2005; Goulart et al, 2005; Meyer, Carvalho, 2007). Da mesma forma, os resultados para os sentimentos autoidentificados frente à movimentação fetal, que apresentam significância estatística, nos chamam a atenção para o Grupo 1 (com perda). A maioria dessas mulheres apontam a ansiedade, o medo e a incerteza como reações frente à movimentação fetal em comparação com o Grupo 2 (sem perda). O fato do bebê se movimentar pode desencadear interpretações diversas para a mãe, assim como os momentos de baixa movimentação fetal. Pode trazer à tona as lembranças do bebê anterior, quanto ao padrão de movimentação ser parecido ou não. A ansiedade, o medo e a incerteza são as respostas frente a essa lembrança, mas que estão sobrepostas na relação que a grávida estabelece 84 com esse bebê atual. A relação pode ser permeada pela dúvida e, como não há garantias para o sucesso dessa gestação, essas mulheres podem referenciar o bebê de forma ambígua, buscando sinais ou padrões de comportamento fetal diferentes daqueles que o bebê perdido apresentava. Quando esses padrões são parecidos podem potencializar a ansiedade, o medo e a incerteza como um ciclo vicioso. O tempo entre o último óbito até a gestação atual também é significativo para diminuir ou intensificar essas reações. A maioria das pacientes do Grupo 1 (com perda) engravidou novamente antes de completar um ano da perda anterior. A literatura indica que uma nova gestação antes de um ano após o óbito pode ser exaustiva do ponto de vista emocional. A perda de um bebê deixa uma ferida narcísica que impede a mãe de se ligar adequadamente com o novo bebê porque se encontra fragilizada. O fruto do investimento narcísico pode ser sentido, pela mãe, como uma produção ruim, alimentando a dinâmica das relações objetais patológicas (Matheli, 1999; Aquino, 2000; Santos et al, 2004; Binotto, 2005; Enkin et al, 2005; Goulart et al, 2005; Meyer, Carvalho, 2007). Com relação às reações emocionais frente ao diagnóstico de alto risco, o Grupo 1 (com perda) também apresentou respostas, com significância estatística, em comparação com o Grupo 2 (sem perda). A incerteza, a tristeza e a angústia predominam frente ao diagnóstico de alto risco para essas mulheres. A identificação do fator de risco é a sinalização de que “algo saiu da normalidade” e as intercorrências podem surgir no curso da gestação, inclusive uma repetição da perda. Quanto às reações emocionais frente à hospitalização, o Grupo 1 (com perda) também apresentou significância estatística. Tristeza, angústia, medo e incerteza permeiam a hospitalização para o Grupo 1 (com perda), em maior frequência, em comparação com o Grupo 2 (sem perda). A hospitalização somada ao diagnóstico de alto risco pode ganhar a conotação de alto risco de tudo dar errado, alto risco de falhar como mãe ou alto risco da doença materna interferir no desenvolvimento do bebê e no sucesso da gravidez. O momento da hospitalização pode representar um processo de luto pela perda da gestação idealizada e livre de 85 intercorrências. Além disso, o distanciamento da família e do trabalho intensifica as reações emocionais. As emoções da última gestação são revividas e sobrepostas à gestação atual, inclusive, quanto ao processo de luto. É importante destacar que todo esse cenário se configura em estresse psicológico para as gestantes. A forma como cada paciente lida, com a situação estressante, também se configura em um relacionamento e as características da capacidade para o relacionamento entram em cena novamente. A Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP) não apresentou significância estatística, porém achamos importante resgatar seus resultados para uma reflexão acerca do enfrentamento da situação de estresse. Para o Grupo 1 (com perda) a maioria das pacientes enfrenta seu estresse utilizando o recurso de enfrentamento focalizado no pensamento fantasioso / religiosidade. Segundo Gimenez, Queiroz (1997) essa estratégia de enfrentamento pode não ser a mais adequada como recurso para minimizar a situação estressora, justamente porque a paciente permanece em posição passiva frente ao tratamento. Deixar para o outro resolver a situação estressante retira dela sua responsabilidade pessoal sobre a situação. A responsabilidade pessoal é deslocada para a sorte, o destino ou para Deus. Isso vem ao encontro, novamente, com as características encontradas no teste BORRTI, no fator Vinculação Insegura, que indica pessoas com postura dependente, com presença de medo de perda do objeto, que interfere na autonomia. Com isso, a escolha das estratégias de enfrentamento sofre influência dessa dinâmica emocional que pode resultar no enfrentamento disfuncional. Essas pacientes se relacionam com o estresse da mesma forma, dependentes de algo ou alguém para aliviar o desconforto. A equipe de saúde se encontra, também e ao mesmo tempo, nesse relacionamento. Na medida em que a paciente deposita suas expectativas, quanto ao tratamento, na equipe, também poderá depositar toda culpa caso acorra um insucesso. Ou irá se sentir inteiramente responsável e culpada, mantendo e alimentando, assim, 86 o sofrimento. Podemos observar isso na variável Culpabilidade pelo ocorrido, na qual metade das mulheres apresenta sentimento de culpa pelo óbito. Imputar a culpa ao destino, à equipe de saúde ou a Deus as deixa em situação de impotência frente ao ocorrido, se sentindo, até mesmo, merecedoras dos fracassos. É sabido na comunidade científica que o fator religiosidade fala a favor dos indivíduos frente ao adoecimento e tratamento, como estratégia de enfrentamento positiva. No entanto, vale ressaltar que esse recurso necessita estar associado com uma postura mais ativa do paciente frente à situação. O pensamento fantasioso / religiosidade deixa a paciente entregue a algo de natureza mágica que não demanda implicação pessoal dela, diferentemente de um indivíduo que faz uso da religiosidade, mas comprometido com seu tratamento e com pensamentos mais direcionados para a realidade. Em síntese, essa dinâmica se sobrepõe às suas posturas frente à vida, aos fatos e aos relacionamentos, com reflexos na autoestima e na perpetuação de relações insatisfatórias geradoras de sofrimento. Quanto menos assertivas as pacientes se apresentam frente ao estresse, aumentam as chances de transtornos ansiosos, depressivos e de prejuízos no desenvolvimento emocional do bebê. Outro dado que se soma a esse cenário diz respeito à variável Raiva do destino, que não apresentou significância estatística, mas considerando as dinâmicas emocionais das pacientes dos dois grupos nos parece pertinente trazê-lo para a discussão. Com relação ao Grupo 1 (com perdas) mais da metade das pacientes relataram sentir raiva do destino, fato que se coaduna com o recurso de enfrentamento utilizado e com as relações objetais patológicas, no Fator Vinculação Insegura. Reforçando tudo isso, o luto por perda gestacional é considerado um luto não reconhecido em nossa sociedade e, não havendo permissão social para expressar a perda, são comuns os sentimentos de raiva, tristeza e isolamento. A raiva também é o sentimento da primeira fase do processo de luto, a fase de choque ou de constatação, e poderá ser sentida durante o desenrolar de outras fases do processo. A 87 constatação do alto risco pode reavivar essa vivência como se fosse a constatação do óbito anterior. Para os estudiosos em luto, enquanto persistir a raiva a perda não foi aceita. Essa raiva também pode ser entendida, na perspectiva da dinâmica emocional dessas mulheres, como reação materna ao sentimento de abandono gerado pelo óbito do bebê. O objeto bebê, tão investido narcisicamente, se separa dessa mãe deixando-a com o vazio (Bowlby, 1985; Kovács, 2002). Por sua vez o Grupo 2 (sem perda) lida com situações estressoras utilizando o recurso de enfrentamento focalizado na emoção. Essa estratégia se relaciona à expressão de auto-regras negativas relacionadas ao tratamento, à culpabilização de outros ou à auto-culpabilização, ao afastamento do problema ou expressão de emoções negativas. As pessoas tendem a ficar impactadas e não partem para a ação (Gimenez, Queiroz, 1997). Esse recurso de enfrentamento utilizado pode ser potencializado pelas características encontradas no teste BORTTI. As pacientes do Grupo 2 (sem perda) apresentam características patológicas, nas relações objetais, como ver a si mesmas como onipotentes ou como impotentes e sob o controle de alguma força invencível. Diante disso, o resultado do relacionamento com o estresse é permanecerem impactadas e sem ação, fato que predispõe o aumento da ansiedade e ou aparecimento de sintomas depressivos. Com relação ao instrumento HAD (Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão) obtivemos significância estatística na comparação entre as médias dos dois grupos. É significativo, para esse estudo, que as mulheres do Grupo 1 (com perda) apresentam mais sintomas de ansiedade e depressão do que as mulheres do Grupo 2 (sem perda). Assim, como na literatura revisada, é fato que os transtornos ansiosos e depressivos estão presentes nessas mulheres da amostra com histórico de perda. Podemos inferir que, frente a essa fragilidade emocional, durante o processo gestacional, aumentam as chances dessas mulheres desenvolverem depressão pós-parto, ainda mais se a gravidez caminhar novamente para o insucesso (Kennell, Klaus, 1992; Quayle, 1997; Bartilotti, 1998; Neto, Aquino, 88 2000; Santos et al, 2004; Binotto, 2005; Enkin et al, 2005; Goulart et al, 2005; Meyer, Carvalho, 2007). As mulheres desse estudo vivenciam perturbações constantes, ou estresse crônico, com risco de se perpetuarem no puerpério. Dessa forma, a comunicação delas com o feto o expõe, ao longo do processo gestacional, aos efeitos fisiológicos da ansiedade e depressão, nos indicando que é por meio dos medos, da incerteza e da dúvida, que essas mulheres constroem sentido para a gestação atual, subsequente à perda. O investimento afetivo no bebê é parcial para a maioria das mulheres desse estudo, ou seja, permeado por dúvidas. O fato de estarem hospitalizadas, em situação de risco, aproxima a gestação atual da anterior malograda, o trauma se instala ou é revivido frente à iminência de nova perda. A comunicação com o feto é cruzada constantemente pelo medo da perda. Considerando as dificuldades emocionais observadas no estudo, a utilização das estratégias de enfrentamento, mais as relações objetais patológicas, podemos inferir que as pacientes do Grupo 1 (com perda) apresentam dificuldades para abrandar ou neutralizar os efeitos do estresse para si próprias e para seus bebês. Frente à fragilidade emocional elas podem vivenciar o desamparo, que por sua vez, trará reflexos na relação que elas estabelecem com o feto. Mães em situação de desamparo emocional deixam seus bebês “desamparados” também, pois seus recursos para restabelecer o equilíbrio estão comprometidos. A capacidade de exercitar a maternagem pode ficar comprometida também após o nascimento do bebê e as mães podem se sentir inseguras ou pouco assertivas, frente às demandas do filho. Com o desenvolvimento saudável do bebê essas fragilidades podem se minimizar, porém os efeitos, principalmente da ansiedade, deixarão imprints negativos no bebê que, segundo Wilheim (1997), potencializam o pessimismo e a desesperança. Os imprints ganharão força ao longo do desenvolvimento dos filhos se essas mães continuarem se relacionando de forma patológica em suas relações objetais. Além disso, Blackmore et al (2011) identificaram que os 89 níveis de ansiedade e depressão se mantém após o parto de bebês subsequentes saudáveis. As relações objetais estarão sobrepostas na dinâmica entre mãe e filho, principalmente quando esses filhos galgarem autonomia e caminharem para uma identidade diferenciada das mães. Para essas mães, nesse momento do estudo, a tentativa do outro de atingir uma identidade diferenciada, companheiro ou filhos, são vistas como muito ameaçadoras. A questão da perda na gestação anterior pode reforçar essa dinâmica porque instala o trauma configurado pelo medo da perda do objeto. Para essas mulheres, podemos inferir que os primeiros sinais de autonomia da criança poderão ser interpretados como ameaçadores e serem até boicotados pelas mães na tentativa de postergar esse movimento no filho. O bebê que recebe os imprints relacionados ao medo, que serão reforçados ao longo da convivência com a mãe, pode se tornar uma criança insegura e futuramente um adulto inseguro e pouco assertivo frente a situações geradoras de ansiedade. A superproteção pode expressar um sintoma dessa dinâmica que impedirá a criança de se desenvolver e ganhar autonomia. Com relação ao processo de luto que essas pacientes vivenciaram após a última gestação, podemos inferir que esse modo de relação patológica também se sobrepõe nessa vivência. A permanência no sofrimento é uma característica na dinâmica emocional delas, o processo de luto pode ser potencializado nesse contexto. E, como o recurso de enfrentamento utilizado também não contribui para o restabelecimento do equilíbrio, podemos dizer que essas mulheres demandariam mais tempo para amenizar os efeitos da perda anterior. Como a maioria engravidou antes de completar um ano após a perda a questão que se configura é que essa gestação está justaposta ao processo de luto, talvez pouco elaborado ainda. A assistência psicológica atua na dinâmica patológica das relações objetais, promovendo relações mais saudáveis e menos sofridas. A sintomatologia ansiosa e depressiva ganha intensidade na gestação de alto risco porque pode ser resultado da vivência do luto. Conforme a 90 literatura pesquisada, esses sintomas podem aparecer até seis meses após a perda, ou seja, muitas pacientes desse estudo já estavam grávidas novamente seis meses após a perda (Neto, Aquino, 2000; Andajani-Suthahjo, Manderson, 2004; Hsu et al, 2004; Santos et al, 2004; Trulson, Radestad, 2004; Binotto, 2005; Burgoine et al, 2005; Enkin et al, 2005; Goulart et al, 2005; Meyer, Carvalho, 2007; St John et al, 2006; Badenhorst, Hughes, 2007). A gestação atual pode representar a tentativa dessas mulheres de superação da perda anterior, mas a movimentação fetal, o fator de risco e a hospitalização trazem à tona essa perda a todo o momento. A construção da parentalidade, em situação de risco, produz questionamentos e avaliações entre o que se idealiza e o que é possível de ser realizado, transpassada pelas dificuldades emocionais apresentadas pelas mulheres desse estudo. O luto não resolvido proporciona sofrimento prolongado e prejuízos no desenvolvimento do futuro filho, na medida em que resulta em vazio, culpa, fracasso e impotência na identidade materna (Kennell, Klaus, 1992; Quayle, 1997; Bartilotti, 1998; Neto, Aquino, 2000; Santos et al, 2004; Binotto, 2005; Enkin et al, 2005; Goulart et al, 2005; Meyer, Carvalho, 2007). O processo de luto é gradual e variável de pessoa para pessoa, o luto por um filho não nascido pode ser sentido com a mesma intensidade como se fosse a perda de um ente querido, isso dependerá do investimento afetivo que a mãe realizou nesse bebê. O final do processo é a possibilidade de sentir paz e disponibilidade para novos investimentos (Bowlby, 1985; Kovács, 2002). É fato que as mães do Grupo 1 (com perda) não demonstram disponibilidade afetiva, nesse momento, para realizar um investimento afetivo no feto livre das intensidades do processo de luto. O luto é classificado como um processo e não como um estado e não é considerado uma doença. No entanto, as consequências de um processo de luto não elaborado podem agravar as condições físicas e emocionais das gestantes, com prejuízos igualmente para o feto. Todas as pacientes desse estudo foram submetidas à assistência psicológica que acontece de forma rotineira na enfermaria de Gestação de Alto Risco. Quando recebem alta 91 médica são encaminhadas para o seguimento psicológico no ambulatório de Psicologia em Gestação de Alto Risco. As dificuldades emocionais e as relações objetais patológicas, apresentadas pelas mulheres desse estudo, são passíveis de tratamento especializado, visando a melhor qualidade afetiva na dupla mãe e filho e nos relacionamentos maternos como um todo. Quanto às pacientes que, infelizmente, recebem alta após uma gestação fracassada, o Serviço de Psicologia oferece assistência psicológica em ambulatório específico para Luto. Para as equipes de saúde, atuantes em gestação de alto risco, cabe a árdua tarefa de ajudar as pacientes a minimizar os riscos de disfuncionalidade no processo adaptativo. É fundamental a qualidade dessa ajuda que se oferece, pois os profissionais de saúde podem ser agentes de apoio ou fonte de dificuldades. Em casos de comunicação de notícias difíceis, como em óbito fetal, não é possível prever a reação de quem recebe a notícia, o momento é imprevisível, demanda do profissional de saúde conhecimento das reações típicas e disponibilidade para deixar a paciente se expressar da maneira como se sentir melhor. Uma atitude de ajuda, nesse momento, se expressa pela disponibilidade do profissional em acolher o sofrimento da paciente e saber manejá-lo. O manejo adequado se traduz em ouvir mais e falar menos e, principalmente, não sugerir soluções como “você é nova pode ter outros filhos ainda”, “não fique triste foi melhor assim, seria um bebê malformado”, “Deus sabe o que é melhor para cada um”, “se eu fosse você adotaria uma criança”. O fato de apenas permanecer ao lado da paciente pode gerar no profissional a sensação de que não está fazendo nada para aliviar o sofrimento, mas proporcionar esse espaço o faz praticar outra possibilidade de intervenção em saúde: a continência e o acolhimento. Além disso, a decisão de entrar em contato com o bebê morto deve ser sempre da mãe, os profissionais não devem julgar o que é melhor ou pior para a paciente. É importante, para o desenrolar do processo de luto, que a equipe ofereça a possibilidade para a mulher, a qualquer momento, de visualizar e até 92 mesmo poder acolher nos braços seu bebê. As instituições de saúde podem criar espaços para despedidas com rituais religiosos de acordo com as crenças dos familiares e incluir o pai, os irmãos e avós do bebê, isso permite que a paciente compartilhe sua dor com outros membros da família e vice e versa. A resolução obstétrica não encerra o caso, apenas dá o início ao trabalho emocional dessas pacientes no âmbito pessoal, familiar e social em busca da ressignificação de suas vidas. O reconhecimento do luto no ambiente hospitalar é importante para a saúde mental das pacientes e para o processo de adaptação às mudanças. 93 7 – CONCLUSÕES ♦ Sintomas de Ansiedade e Depressão As pacientes do Grupo 1 (com perda) apresentam mais sintomas de Ansiedade e Depressão, com significância estatística, em relação ao Grupo 2 (sem perda). ♦ Capacidade para o relacionamento com o feto atual As gestantes dos dois Grupos do estudo apresentam relações objetais patológicas que influenciarão o relacionamento com o feto atual e no desenvolvimento emocional do futuro bebê. ♦ Estratégias de Enfrentamento As gestantes dos dois Grupos do estudo utilizam recursos de enfrentamento pouco eficazes para amenizar ou neutralizar os efeitos do estresse, frente ao adoecimento e hospitalização. Quando o enfrentamento se apresenta ineficiente para garantir o bem estar aumentam as chances de transtornos ansiosos e depressivos. As mulheres do Grupo 1 (com perda) demonstram maior fragilidade emocional, medo e incerteza são sentimentos presentes durante todo o processo gestacional. Essas gestantes não apresentam disponibilidade afetiva, nesse momento, para realizar um investimento afetivo no feto livre das intensidades do processo de luto, demandariam um intervalo maior de tempo para recuperarem o equilíbrio emocional, entre uma gestação e outra. Como a maioria engravidou antes completarem um ano após a perda a questão que se configura é que essa gestação está justaposta ao processo de luto, talvez pouco elaborado ainda. As reações emocionais, frente ao adoecimento e hospitalização, presentes nas mulheres de ambos os grupos, sofrem forte influência das características de personalidade. Apresentam prejuízos em seus relacionamentos interpessoais que as deixam vulneráveis a sofrimentos, com 94 dificuldades em escolher estratégias de enfrentamento funcionais no processo de adaptação. A assistência psicológica, em pré-natal de alto risco, pode amenizar os efeitos negativos da dinâmica das relações objetais patológicas, promovendo relações mais saudáveis e menos sofridas. O trabalho preventivo com gestantes de alto risco pode minimizar os efeitos desagradáveis do estresse em eventuais intercorrências. 95 IRMANDADE DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO PAULO SERVIÇO DE PSICOLOGIA ANEXO I – Ficha sociodemográfica I - Identificação Protocolo n.º __________________________ Data: ___________________________ Nome da Paciente ____________________________________________________________ Endereço:___________________________________________________________________ Complemento:__________________________ Bairro:________________________________ Cep: ____________Cidade: _____________________ Estado: ________________________ Telefone:____________________________________________________________________ II – Dados sócio demográficos 1) Idade: ________________________________________________________________ 2) Naturalidade:___________________________________________________________ 3) Data de admissão na enfermaria: __________________________________________ 4) Idade Gestacional: ______________________________________________________ 5) Cor da pele: (1) branca (2) negra (3) amarela (4) parda (5) outros 6) Escolaridade: (1) analfabeta (2) ensino fundamental incompleto (3) ensino fundamental completo (4) ensino médio incompleto (5) ensino médio completo (6) ensino superior incompleto (7) ensino superior completo 7) Estado civil: (1) solteira (2) casada (3) convivente (4) divorciada (5) viúva 8) Número de uniões conjugais: (1) uma (2) duas (3) três (4) quatro (5) mais de quatro 9) Co-habita com o pai do bebê: (1) não (2) sim 10) Situação ocupacional: (1) desempregada (5) pensionista (2) empregada (3) autônoma (6) outros 11) Número de pessoas residentes na casa: (1) duas (2) três (3) quatro (4) cinco (5) mais de cinco pessoas (4) do lar 96 12) Renda mensal familiar: (1) até um salário mínimo (2) dois a três salários mínimos (3) três a cinco salários mínimos (4) mais de cinco salários mínimos 13) Religião: (1) indefinida (5) espírita (2) testemunha de Jeová (3) católica (4) evangélica (6) protestante (7) outras (8) atéia 14) Tabagismo: (1) não (2) sim 15) Etilismo: (1) não (2) sim 16) Outras drogas: (1) não (2) sim 17) Antecedentes psicológicos e/ou psiquiátricos: (1) não (2) sim Qual? __________________________________________________ 18) Histórico de doenças crônicas anteriores à gestação atual: (1) não (2) sim III – Antecedentes Obstétricos 19) Número de gestações incluindo atual: (1) primigesta (2) secundigesta (3) tercigesta (6) sestigesta (7) setegesta (8) acima de sete 20) Número de filhos vivos: (1) um (4) quartigesta (5) quintigesta (2) dois (3) três (4) quatro (5) cinco (6) mais de cinco 21) Histórico de doenças obstétricas em gestações anteriores: (1) não (2) sim 22) Tentativas de aborto: (1) nenhuma (5) quatro 23) Aborto espontâneo: (1) nenhum (6) cinco (2) um (3) dois (6) cinco (2) um (4) três (7) mais de cinco (3) dois (4) três (5) quatro (7) mais de cinco IV - Gestação atual: 24) Pré-natal: (1) adequado (2) parcialmente adequado (3) inadequado 25) Gestação para a mulher: (1) planejada e desejada (2) planejada e indesejada (3) não planejada e desejada 26) Gestação para o pai do bebê: (1) planejada e desejada (4) não planejada e indesejada (2) planejada e indesejada (3) não planejada e desejada (4) não planejada e indesejada 97 27) Sentimentos frente à evolução da gestação e do bebê em função da patologia: Medo (1) não (2) sim Ansiedade (1) não (2) sim Confiança (1) não (2) sim Tristeza (1) não (2) sim Angústia (1) não (2) sim Outros (1) não (2) sim Tranqüilidade (1) não (2) sim Dúvidas (1) não (2) sim 28) Sentimentos frente à movimentação fetal: Alegria (1) não (2) sim Felicidade (1) não (2) sim Irritação (1) não (2) sim Tristeza (1) não (2) sim Solidão (1) não (2) sim Medo (1) não (2) sim Angústia (1) não (2) sim Tranqüilidade (1) não (2) sim Incerteza (1) não (2) sim Ansiedade (1) não (2) sim Outros (1) não (2) sim 29) Investimento afetivo no bebê: (1) adequado (2) parcialmente adequado (3) inexistente 30) Preparação de enxoval para o bebê: (1) existente (2) parcialmente existente (3) inexistente 31) Sentimentos de segurança e capacidade para cuidar do bebê: (1) presente (2) parcialmente presente 32) Desejo de outros filhos futuramente: (1) não (3) ausente (2) sim 33) Relacionamento afetivo com o pai do bebê: (1) satisfatório (2) parcialmente satisfatório (3) insatisfatório 34) Alterações no relacionamento conjugal após a concepção: O relacionamento se manteve sem alterações (1) não (2) sim Maior sentimento de confiança (1) não (2) sim Maior sentimento de união (1) não (2) sim Melhora na sexualidade (1) não (2) sim Distanciamento afetivo (1) não (2) sim Diminuição da confiança (1) não (2) sim Diminuição do sentimento de união (1) não (2) sim Distanciamento sexual (1) não (2) sim Outro (1) não (2) sim 35) Relacionamento com a figura materna: (1) satisfatório (2) parcialmente satisfatório (3) insatisfatório (4) inexistente 98 V – Adoecimento e hospitalização 36) Patologia obstétrica atual: Prévia à gestação (1) não (2) sim Gestacional (1) não (2) sim 37) Diagnóstico: HAS (1) não (2) sim DM (1) não (2) sim TPP (1) não (2) sim Doenças do trato urinário (1) não (2) sim Volume de líquido amniótico (1) não (2) sim Hemorragias (1) não (2) sim Doenças respiratórias (1) não (2) sim Cardiopatias (1) não (2) sim Nefropatias (1) não (2) sim Endocrinopatias (1) não (2) sim Doenças autoimunes (1) não (2) sim Ginecopatias (1) não (2) sim Doenças infecciosas (1) não (2) sim Câncer (1) não (2) sim Outros (1) não (2) sim 38) Presença de sintomas: (1) não (2) sim 39) Reações frente ao diagnóstico de alto risco: Irritação (1) não (2) sim Tristeza (1) não (2) sim Solidão (1) não (2) sim Medo (1) não (2) sim Angústia (1) não (2) sim Tranqüilidade (1) não (2) sim Incerteza (1) não (2) sim Ansiedade (1) não (2) sim Outro (1) não (2) sim 40) Sentimentos que prevalecem frente à hospitalização: Alegria (1) não (2) sim Felicidade (1) não (2) sim Irritação (1) não (2) sim Tristeza (1) não (2) sim Solidão (1) não (2) sim Medo (1) não (2) sim Angústia (1) não (2) sim Tranqüilidade (1) não (2) sim Incerteza (1) não (2) sim Ansiedade (1) não (2) sim Outros (1) não (2) sim 41) Compreensão da paciente sobre o diagnóstico e conseqüências para sua saúde: (1) adequado (2) parcialmente adequado (3) inadequado 42) Compreensão da paciente sobre o diagnóstico e conseqüências para o bebê: (1) adequado (2) parcialmente adequado 43) Adesão ao tratamento: (1) adequada (3) inadequado (2) parcialmente adequada (3) inadequada 44) Percepção da paciente sobre a atitude de familiares durante a hospitalização: Distanciamento afetivo (1) não (2) sim Acolhimento afetivo (1) não (2) sim Superproteção (1) não (2) sim Banalização (1) não (2) sim Outros (1) não (2) sim 99 VI – Histórico de óbito fetal ou neonatal 45) Número de óbitos fetais: (1) um (2) dois (3) três (4) quatro (5) cinco (6) mais de cinco 46) Causa do último óbito fetal: (1) malformação fetal (2) síndrome fetal (3) doença materna (4) não sabe (5) outro 47) Número de óbitos neonatais: (1) um (2) dois (3) três (4) quatro (5) cinco (6) mais de cinco 48) Causa do último óbito neonatal: (1) malformação fetal (3) doença materna (2) síndrome fetal (4) não sabe (5) outro 49) Número de natimortos: (1) um (2) dois (3) três (4) quatro (5) cinco (6) mais de cinco 50) Causa do último óbito do natimorto: (1) prematuridade (2) malformação (4) outro (3) síndromes (5) não sabe 51) Contato com o bebê após o óbito: (1) nenhum (2) visual (3) físico 52) Motivo do não contato com o bebê: (1) não desejou (2) a equipe não permitiu (3) a família não permitiu (4) não foi consultada e não se manifestou (5) menor que 500 gramas 53) Tempo transcorrido do último óbito até gestação atual: (1) menos de seis meses (2) entre seis meses e um ano (3) mais de um ano 54) Período que a paciente se sentiu em luto: (1) em nenhum momento (2) um mês (3) entre um e três meses (4) entre três e seis meses (5) até um ano (6) mais de um ano 55) Desejo de engravidar imediatamente após o óbito: (1) presente 56) Desejo concretizado: (1) não (2) sim 57) Alterações na vida após o óbito: Sem alterações (1) não (2) sim Relacionamento conjugal (1) não (2) sim Sexualidade (1) não (2) sim Dificuldades de concentração (1) não (2) sim (2) ausente 100 Dores de cabeça ou dores pelo corpo (1) não (2) sim Dificuldades para dormir (1) não (2) sim Relacionamento familiar (1) não (2) sim Adaptação ao trabalho (1) não (2) sim Cansaço (1) não (2) sim Outros (1) não (2) sim 58) Alterações persistentes há mais de seis meses: (1) não (2) sim 59) Recursos utilizados no processo de luto Religião – espiritualidade (1) não (2) sim Apoio familiar (1) não (2) sim Apoio social – amigos (1) não (2) sim Não pensar e falar sobre o assunto (1) não (2) sim Engravidar novamente (1) não (2) sim Intensificar o trabalho (1) não (2) sim Nenhum recurso foi utilizado (1) não (2) sim 60) Sentimento de culpa pelo ocorrido: (1) não (2) sim 61) Poderia ter feito algo para evitar a perda: (1) não (2) sim 62) Sentimento de raiva: Do bebê (1) não (2) sim Do destino (1) não (2) sim De si mesma (1) não (2) sim 101 ANEXO II – ESCALA DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO – HAD Por favor, leia todas as frases. Marque com um X a resposta que melhor corresponde a como você tem se sentido na última semana. Não é preciso ficar pensando muito em cada questão. Vale mais a sua resposta espontânea. A Eu me sinto tenso ou contraído 3 ( ) A maior parte do tempo 2 ( ) Boa parte do tempo 1 ( ) De vez em quando 0 ( ) Nunca D Eu ainda sinto gosto (satisfação) pelas mesmas coisas de que costumava gostar 0 ( ) Sim, do mesmo jeito que antes 1 ( ) Não tanto quanto antes 2 ( ) Só um pouco 3 ( ) Já não sinto mais prazer em nada A Eu sinto uma espécie de medo, como se alguma coisa ruim fosse acontecer 3 ( ) Sim, de um jeito muito forte 2 ( ) Sim, mas não tão forte 1 ( ) Um pouco, mas isso não me preocupa 0 ( ) Não sinto nada disso D Dou risada e me divirto quando vejo coisas engraçadas 0 ( ) Do mesmo jeito que antes 1 ( ) Atualmente um pouco menos 2 ( ) Atualmente bem menos 3 ( ) Não consigo mais A Estou com a cabeça cheia de preocupações 3 ( ) A maior parte do tempo 2 ( ) Boa parte do tempo 1 ( ) De vez em quando 0 ( ) Nunca D Eu me sinto alegre 3 ( ) Nunca 2 ( ) Poucas vezes 1 ( ) Muitas vezes 0 ( ) a maior parte do tempo A Consigo ficar sentado à vontade e me sentir relaxado 0 ( ) Sim, quase sempre 1 ( ) Muitas vezes 2 ( ) Poucas vezes 3 ( ) Nunca D Estou lento (lerdo) para pensar e fazer as coisas 3 ( ) Quase sempre 2 ( ) Muitas vezes 1 ( ) De vez em quando 0 ( ) Nunca A Tenho uma sensação ruim de medo ( como um frio na espinha, ou um aperto no estômago...) 0 ( ) Nunca 1 ( ) De vez em quando 2 ( ) Muitas vezes 3 ( ) Quase sempre D Eu perdi o interesse em cuidar de minha aparência 3 ( ) Completamente 2 ( ) Não estou mais me cuidando como deveria 1 ( ) Talvez não tanto quanto antes 0 ( ) Me cuido do mesmo jeito que antes A Eu me sinto inquieto, como se eu não pudesse ficar parado em lugar nenhum 3 ( ) Sim, demais 2 ( ) Bastante 1 ( ) Um pouco 0 ( ) Não me sinto assim D Fico esperando animado as coisas boas que estão por vir 0 ( ) Do mesmo jeito que antes 1 ( ) Um pouco menos do que antes 2 ( ) De vez em quando 3 ( ) Quase nunca A De repente, tenho a sensação de entrar em pânico 3 ( ) A quase todo momento 2 ( ) Várias vezes 1 ( ) De vez em quando 0 ( ) Não sinto isso D Consigo sentir prazer ao assistir a um bom programa de TV, de rádio, ou quando leio alguma coisa 0 ( ) Quase sempre 1 ( ) Várias vezes 2 ( ) Poucas vezes 3 ( ) Quase nunca 102 ANEXO III Escala Modo de Enfrentamento de Problemas (EMEP) As pessoas reagem de diferentes maneiras a situações difíceis ou estressantes. Para responder a este questionário, pense sobre como você está lidando com a sua enfermidade, neste momento do seu tratamento. Concentre-se nas coisas que você faz, pensa ou sente para enfrentar esta condição, no momento atual. Veja um exemplo: Eu estou buscando ajuda profissional para enfrentar o meu problema 1 Eu nunca faço isso 2 Eu faço isso um pouco 3 Eu faço isso às vezes 4 Eu faço isso muito 5 Eu faço isso sempre Você deve assinalar a alternativa que corresponde melhor ao que você está fazendo quanto à busca de ajuda profissional para enfrentar o seu problema de saúde. Se você não está buscando ajuda profissional, marque com um X ou um círculo o número 1 (nunca faço isso); se você está buscando sempre esse tipo de ajuda, marque o número 5 (eu faço isso sempre). Se a sua busca de ajuda profissional é diferente dessas duas opções, marque 2, 3 ou 4, conforme ela está ocorrendo. Não há respostas certas ou erradas. O que importa é como você está lidando com a situação. Pedimos que você responda a todas as questões, não deixando nenhuma em branco. Muito brigado pela sua participação! Registro:_________________ Nome do paciente:________________________Data de nascimento:___/___/___Idade:_____ Escolaridade:_________________________________Profissão:________________________ Procedência:_____________________________ 1 Eu nunca faço isso 2 Eu faço isso um pouco 3 Eu faço isso às vezes 4 Eu faço isso muito 5 Eu faço isso sempre 1. Eu levo em conta o lado positivo das coisas. 1 2 3 4 5 2. Eu me culpo. 1 2 3 4 5 3. Eu me concentro em alguma coisa boa que pode vir desta situação. 1 2 3 4 5 4. Eu tento guardar meus sentimentos para mim mesmo. 1 2 3 4 5 5. Procuro um culpado para a situação. 1 2 3 4 5 6. Espero que um milagre aconteça. 1 2 3 4 5 7. Peço conselho a um parente ou a um amigo que eu respeite. 1 2 3 4 5 103 8. Eu rezo/ oro. 1 2 3 4 5 9. Converso com alguém sobre como estou me sentindo. 1 2 3 4 5 10. Eu insisto e luto pelo que eu quero. 1 2 3 4 5 11. Eu me recuso a acreditar que isto esteja acontecendo. 1 2 3 4 5 12. Eu brigo comigo mesmo; eu fico falando comigo mesmo o que devo fazer. 1 2 3 4 5 13. Desconto em outras pessoas. 1 2 3 4 5 14. Encontro diferentes soluções para o meu problema. 1 2 3 4 5 15. Tento ser uma pessoa mais forte e otimista. 1 2 3 4 5 16. Eu tento evitar que os meus sentimentos atrapalhem em outras coisas na minha vida. 17. Eu me concentro nas coisas boas da minha vida. 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 18. Eu desejaria mudar o modo como eu me sinto. 1 2 3 4 5 19. Aceito a simpatia e a compreensão de alguém. 1 2 3 4 5 20. Demonstro raiva para as pessoas que causaram o problema. 1 2 3 4 5 21. Pratico mais a religião desde que tenho esse problema. 1 2 3 4 5 22. Eu percebo que eu mesmo trouxe o problema para mim. 1 2 3 4 5 23. Eu me sinto mal por não ter podido evitar o problema. 1 2 3 4 5 24. Eu sei o que deve ser feito e estou aumentando meus esforços para ser bem sucedido. 25. Eu acho que as pessoas foram injustas comigo. 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 26. Eu sonho ou imagino um tempo melhor do que aquele em que estou.. 1 2 3 4 5 27. Tento esquecer o problema todo. 1 2 3 4 5 28. Estou mudando e me tornando uma pessoa mais experiente. 1 2 3 4 5 29. Eu culpo os outros. 1 2 3 4 5 30. Eu fico me lembrando que as coisas poderiam ser piores. 1 2 3 4 5 31. Converso com alguém que possa fazer alguma coisa para resolver o meu problema. 32. Eu tento não agir tão precipitadamente ou seguir minha primeira idéia. 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 33. Mudo alguma coisa para que as coisas acabem dando certo. 1 2 3 4 5 34. Procuro me afastar das pessoas em geral. 1 2 3 4 5 35. Eu imagino e tenho desejos sobre como as coisas poderiam acontecer. 1 2 3 4 5 36. Encaro a situação por etapas, fazendo uma coisa de cada vez. 1 2 3 4 5 104 37. Descubro quem mais é ou foi responsável. 1 2 3 4 5 38. Penso em coisas fantásticas ou irreais (como uma vingança perfeita ou achar muito dinheiro) que me fazem sentir melhor. 39. Eu sairei dessa experiência melhor do que entrei nela. 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 40. Eu digo a mim mesmo o quanto já consegui. 1 2 3 4 5 41. Eu desejaria poder mudar o que aconteceu comigo. 1 2 3 4 5 42. Eu fiz um plano de ação para resolver o meu problema e o estou cumprindo. 1 2 3 4 5 43. Converso com alguém para obter informações sobre a situação. 1 2 3 4 5 44. Eu me apego à minha fé para superar esta situação. 1 2 3 4 5 45. Eu tento não fechar portas atrás de mim. Tento deixar em aberto várias saídas para o problema. 1 2 3 4 5 Resultados Enfrentamento focalizado no problema Enfrentamento focalizado na emoção Enfrentamento focalizado no pensamento fantasioso/religiosidade Enfrentamento focalizado na busca por suporte social 105 ANEXO IV BORRTI - FORMA O Leia cada item com cuidado, então assinale a letra que mostra sua resposta. Responda de acordo com sua experiência mais recente. Se uma afirmação tende a ser verdadeira para você, assinale na coluna classificada como Verdadeiro (V). Se a afirmação tende a ser falsa para você, assinale na coluna classificada como Falso (F). Assinale apenas uma letra para cada afirmação. Por favor, tente responder a todas as afirmações. BORRTI Form O copyright _ 1995 by Western Psychological Services. Translated and reprinted by Wilze Laura Bruscato for limited research use by permission of the publisher, Western Psychological Services, 12031 Wilshire Boulevard, Los Angeles, California 90025-1251, USA .All rights reserved. No reprodution without the prior written authorization of Western Psychological Services.BORRTI Form O copyright _ 1995 by Western Psychological Services. Traduzido e reimpresso por Wilze Laura Bruscato para uso limitado em pesquisa com permissão do editor, Western Psychological Services, 12031 Wilshire Boulevard, Los Angeles, California 90025-1251, USA. Todos os direitos reservados. Não é permitida a reprodução sem autorização prévia do Western Psychological Services. 106 ANEXO V TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO O Serviço de Psicologia da Santa Casa de São Paulo, na responsabilidade da pesquisadora Adriana Aparecida Fregonese, está realizando uma pesquisa, que não inclui medicamentos ou qualquer outra forma de intervenção sobre os participantes, denominada: “Gestantes de alto risco com e sem histórico de óbito fetal ou neonatal: capacidade para relacionamento com o feto, repercussões emocionais e estratégias de enfrentamento” e que se destina investigar as reações emocionais diante da gestação. Ao aceitar participar deste estudo, a participante será abordada pela pesquisadora do Serviço de Psicologia que realizará entrevistas e lhe fornecerá alguns questionários de avaliação, que constam de itens que não implicam em risco, e que podem ser respondidos em cerca de 40 minutos. As participantes têm a liberdade de retirar o seu consentimento a qualquer momento e abandonar o estudo, sem que isto lhes traga qualquer prejuízo quanto ao seu tratamento na Instituição. Os dados obtidos serão mantidos em lugar seguro, codificados e a identificação só será realizada pela pesquisadora. Caso o material venha a ser utilizado para publicação científica ou atividades didáticas, não serão utilizados nomes que possam vir a identificá-los, estando garantidos a confidencialidade, o sigilo e a privacidade conforme a Resolução N.º 196 de 10 de Outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde. As pessoas que aceitarem participar da pesquisa podem receber resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento de qualquer dúvida acerca dos assuntos a ela relacionados. A pesquisadora estará à disposição no telefone 2176-7980, no Serviço de Psicologia da Santa Casa, situado à Rua Santa Isabel, 305, 7º andar, Bairro de Santa Cecília, São Paulo/SP. Declaro que li as informações e recebi todos os esclarecimentos necessários junto à pesquisadora e concordo em participar do estudo. Recebi uma via deste documento, que ficará em meu poder. Data: São Paulo, de de 20 . Nome do participante: _______________________________________________________ Documento de identificação: (RG) _____________________________________________ Assinatura: ________________________________________________________________ Assinatura do pesquisador: _____________________________________________ 107 8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abreu, C. N. Fundamentos, pesquisas e implicações clínicas. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2005. Ainsworth, MDS. Object relations, dependency and attachment: a theoretical review of the infant-mother relationship. Child Development. 1969;40:969-1025. Almeida, MS; Nunes, MA; Camey, S; Pinheiro, AP; Schmidt, MI. Transtornos mentais em uma amostra de gestantes da rede de atenção básica de saúde no Sul do Brasil. 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A antecipação de nova gestação é frequentemente utilizada como estratégia de elaboração do luto, acompanhada da fantasia de que outra gestação trará a sensação de casais saudáveis física e emocionalmente. Considerando esse panorama teórico essa pesquisa teve como objetivos investigar a capacidade para o relacionamento com o feto atual, em gestantes de alto risco com e sem histórico de óbito fetal ou neonatal, os sintomas de ansiedade e depressão e as estratégias de enfrentamento diante do alto risco. A mostra foi composta por 56 gestantes hospitalizadas, divididas em dois grupos, Grupo 1 com histórico de aborto, óbito fetal ou neonatal em gestação anterior e Grupo 2 sem histórico de aborto, óbito fetal ou neonatal em gestação anterior. Foram utilizados como instrumentos de investigação uma Ficha Sociodemográfica, Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão – HAD, Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas – EMEP e Teste BORRTI – Forma O. Por meio da análise quantitativa dos dados foi possível concluir que as gestantes dos dois Grupos apresentam relações objetais patológicas que influenciarão o relacionamento com o futuro bebê. As pacientes do Grupo 1 apresentam mais sintomas de ansiedade e depressão, com significância estatística, em relação ao Grupo 2. As gestantes de ambos os Grupos utilizam recursos de enfrentamento pouco eficazes para amenizar os efeitos do estresse, frente ao adoecimento e hospitalização. As mulheres do Grupo 1 demonstram maior fragilidade emocional e disponibilidade afetiva comprometida para realizar um investimento afetivo no feto livre das intensidades do processo de luto. Unitermos: psicologia, enfrentamento. gravidez de alto risco, ansiedade, depressão, High-risk pregnants with and without a history of fetal or neonatal death: ability to the relationship with the fetus, anxiety and depression and coping strategies, Fregonese, A.A., thesis, 2014, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. ABSTRACT Every pregnancy brings with it an adaptive emotional challenge. The process to develop healthily the pregnancy demands that women develop an affective bond with the fetus and find gratification in the gestational process. The identification of the risk factor intensifies the difficulties of adaptation and adds numerous other emotions to the clinic status. When there is a concrete death of the fetus or neonate it is impossible to apply the maternal ability. The process of the development of maternal identity suffers sudden interruption generating failure feelings and impotence. The anticipation of a new pregnancy is often used as a strategy of elaborate of mourning, accompanied by the fantasy that another pregnancy will bring a sensation of couples physically and emotionally healthy. Considering these theoretical background this research aimed to investigate the ability of the relationship with the current fetus in high-risk pregnancies with and without a history of fetal or neonatal death, symptoms of anxiety and depression and the coping strategies in the presence of high risk . The research consisted of 56 hospitalized pregnants divided into two groups, Group 1 with a history of miscarriage, fetal or neonatal death in previous pregnancy and Group 2 with no history of miscarriage, fetal or neonatal death in previous pregnancy. As research tools were used a Sociodemographic form, Hospital Scales of Anxiety and Depression – HAD, Scales of Ways of Facing Problems - EMEP and BORRTI Test- O Form. Through the quantitative analysis of the data it was concluded that the two groups of pregnants showed pathological objectal relations that influence the relationship with the unborn baby. The patients in Group 1 had more symptoms of anxiety and depression, with significant statistical compared to Group 2. Pregnants from both groups used ineffective coping resources to mitigate the effects of stress,to confront the illness and hospitalization. Women in Group 1 showed greater emotional fragility and emotional availability committed to make an emotional investment in the fetus free from the intensities of the grieving process. Keywords: psychology, high-risk pregnants, anxiety, depression, coping. LISTA DE TABELAS Tabela 1: Idade 41 Tabela 2: Naturalidade, raça, escolaridade, estado civil e número de uniões conjugais 43 Tabela 3: Situação ocupacional, número de pessoas residentes na casa, renda familiar, 45 religião e tabagismo Tabela 4: Dados sociodemográficos com significância estatística 46 Tabela 5: Número de gestações, histórico de doenças anteriores à gestação e doença 47 obstétrica em gestação anterior Tabela 6: Número de filhos vivos e tentativa de aborto ao longo da vida reprodutiva 48 Tabela 7: Doença obstétrica atual, idade gestacional, diagnóstico e presença de sintomas 50 Tabela 8: Compreensão do diagnóstico, adesão ao tratamento e pré-natal atual 52 Tabela 9: Planejamento e desejo pela gestação 53 Tabela 10: Sentimentos autoidentificados frente à evolução da gestação 54 Tabela 11: Sentimentos autoidentificados frente à evolução da gestação com significância 55 estatística Tabela 12: Sentimentos autoidentificados frente à movimentação fetal 56 Tabela 13: Sentimentos autoidentificados frente à movimentação fetal com significância 57 estatística Tabela 14: Relação afetiva com o bebê, com a figura materna e com o pai do bebê 59 Tabela 15: Relacionamento satisfatório com o pai do bebê e alterações no 60 relacionamento com o pai do bebê com significância estatística Tabela 16: Reações emocionais frente ao diagnóstico de alto risco 61 Tabela 17: Reações emocionais frente ao diagnóstico de alto risco com significância 62 estatística Tabela 18: Reações emocionais frente à hospitalização 63 Tabela 19 Reações emocionais frente à hospitalização com significância estatística 64 Tabela 20: Atitudes de familiares frente à hospitalização 65 Tabela 21: Histórico de aborto, óbito fetal, natimorto e óbito neonatal 66 Tabela 22: Perda na gestação anterior, contato com o bebê após o óbito e motivo do não 67 contato Tabela 23: Tempo transcorrido entre a última perda até a gestação atual e período que a 68 paciente se sentiu em luto Tabela 24: Repercussões após a perda 69 Tabela 25: Alterações na vida após o óbito 70 Tabela 26: Outras alterações na vida após o óbito e tempo de duração 71 Tabela 27: Recursos utilizados no processo de luto 72 Tabela 28: Sentimento de culpa e raiva pelo óbito 73 Tabela 29: Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão 74 Tabela 30: Teste BORRTI – forma O 75 Tabela 31: Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP) 76