Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul O TANGRAM como objeto de aprendizagem interdisciplinar no ensino da Língua Portuguesa, utilizando os recursos tecnológicos da mídia impressa Luciane Demiquei Gonzatti Universidade Federal de Pelotas - [email protected] Janice de Freitas Pires Universidade Federal de Pelotas - [email protected] Eixo temático: Teoria e Prática da Interdisciplinaridade Resumo A escola atualmente se depara com a facilidade de acesso as informações, proporcionada pelos avanços das tecnologias de informação as quais os usuários ficam expostos, gerando desafios aos gestores e docentes estar atentos a este novo processo de comunicação. Neste contexto, leitura e escrita continuam primordiais na formação do ser humano, ao ingressar no mercado de trabalho, no entanto, observam-se os desvios na construção da linguagem motivados pelo uso excessivo de linguagem abreviada, reduzida, e até mesmo errada possibilitada pela comunicação online, constatada também pelo precário nível de leitura. Com o objetivo de enfrentar os problemas gerados a partir desta realidade, propõem-se um trabalho interdisciplinar, através do uso de um objeto de aprendizagem, o Tangram composto por sete peças, para trabalhar habilidades em Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Matemática e Artes. Apoiando-se no conceito de objetos de aprendizagem a proposta buscou estimular a compreensão dos docentes sobre como reutilizar tais materiais adaptando-os ao seu contexto e objetivos de aprendizagem. Os resultados apontaram que o projeto TANGRAM promoveu o interesse, rendimento, envolvimento, dedicação, emoção e satisfação dos estudantes por terem aprendido amplamente os temas tratados por diferentes maneiras, ou seja, metodologias usadas em cada disciplina, embora usando o mesmo objeto de estudo. Na Língua Portuguesa, através da produção individual e um trabalho de autoria com a confecção de um livro de histórias por cada estudante, foram intensificados essencialmente os processos de aprendizagem de produção e escrita de textos. Palavras-chave: Tangram, Leitura, Escrita, Autoria e Tecnologia. 1. Introdução A escola atualmente vive um período de adaptação devido à chegada das tecnologias de informação e comunicação (TICs) que cada vez mais influenciam na interação/comunicação dos estudantes. Os profissionais da educação nas escolas passam a buscar conhecer tais tecnologias, para receber essa nova geração de estudantes, poder acompanhá-los, e assim orientá-los sobre o seu uso mais adequado. Neste contexto, a leitura e escrita continuam sendo primordiais na formação de todo ser humano, no momento em 1 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul que o mercado de trabalho se caracteriza muito mais por atividades que exigem conhecimento. De acordo com um novo conceito de leitura e escrita, Almeida (in: Folha online, 2009) se refere: “Ler, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação. Ler é tomar consciência. A leitura é antes de tudo uma interpretação do mundo em que se vive. Mas não só ler. É também representá-lo pela linguagem escrita. Falar sobre ele, interpretá-lo, escrevê-lo. Ler e escrever, dentro desta perspectiva, é também libertar-se. Leitura e escrita como prática de liberdade.” Dessa maneira, no processo de aprendizagem da leitura, o estudante deve ser visto como um sujeito agente do processo de aprendizagem, motivado a ler e escrever, como autor de suas criações, e sentindo-se livre para produzir, inventar. O professor ainda tem um papel importante de nortear, direcionar, orientar seus estudantes sobre a influência de tais tecnologias, ou seja, permitindo que se adquiram certos vícios de escritas e uso incorreto da língua, desprezando-se a formalidade da língua escrita e promovendo o acesso livre aos mais diversos sites com todo tipo de conteúdo e informação. Rorig e Backes (2008) afirmam que o professor deva ser um mediador, um facilitador do processo de ensino aprendizagem como também é importante que seja um bom pesquisador para assumir o compromisso de ampliar a socialização do conhecimento. Já para Silva (2008) além de pesquisador é necessário também ser um bom transmissor de conhecimentos. Berlitz (2005-1) destaca que para Vygotsky (1994) o professor tem a função de agente mediador, que, por meio da linguagem intervém e auxilia na construção e reelaboração do conhecimento do aluno, contribuindo para o desenvolvimento deste. Por sua teoria, o conhecimento é sempre mediado, ou seja, a interação com o meio está diretamente relacionada com a aquisição de conhecimento. Conforme Martins (1989, p. 111-112): A organização do trabalho docente nesta perspectiva é diferente a partir do momento em que estamos apontando que é possível construir relações válidas e importantes em sala de aula; cada um tem o seu lugar neste processo, e o aluno é alguém com quem o professor pode e deve contar, resgatando a sua autoestima e capacidade de aprender. Valores e desejos estão sempre permeando as relações entre as pessoas; ao conseguirmos não marcar as relações com preconceitos que mascaram todas as possibilidades de conhecimento real, estaremos abrindo um campo interativo entre nosso aluno e todo o grupo que o rodeia. Neste trabalho buscou-se compreender de que maneira o professor pode ter um papel de agente motivador e transformador, mediador no ensino e aprendizagem dos estudantes, em um contexto de ensino de Língua Portuguesa do 6º ano do ensino fundamental. A leitura e a escrita correta foram pauta de um processo motivacional para produção de textos atrelados ao aspecto visual do Tangram, um tipo de quebracabeça que serviu de material didático para a realização de um projeto da leitura e escrita correta. Este tipo de quebra cabeça foi encontrado em um repositório de materiais didáticos disponibilizado no laboratório virtual – Estação Ciência da USP (http://www.ideiasnacaixa.com/laboratoriovirtual/), e analisado sob o conceito de objetos de aprendizagem (Polsani, 2003, e Willey, 2000), em um processo de formação, no curso Mídias em Educação, da Universidade Federal de Pelotas. O encantamento por este objeto de aprendizagem ser trabalhado na Língua Portuguesa foi pela possibilidade de usar a criatividade, o 2 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul pensamento, o discernimento, os sentimentos, a emoção e imaginação, junto ao aspecto lúdico e também associada à produção textual, ao raciocínio e a escrita. De acordo com Delors (2000, p. 100) Mais do que preparar as crianças para uma dada sociedade, o problema será, então, fornecerlhes constantemente forças e referências intelectuais que lhe permitam compreender o mundo que as rodeia e comportarem-se nele como atores responsáveis e justos. Mais do que nunca a educação parece ter, como papel essencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos do seu próprio destino. No ambiente escolar é importante a parceria entre todos os membros que o compõem, porém é imprescindível a cooperação entre direção, professores e estudantes pois é mais fácil alcançar resultados positivos quando há apoio mútuo. A proposta foi de desenvolver um trabalho interdisciplinar, envolvendo os professores de português, matemática, arte e inglês, oportunizando aos discentes momentos de estudos e aprendizagem utilizando um mesmo objeto de estudo, o Tangram. Durante as aulas de língua portuguesa fui percebendo a gravidade dos erros ortográficos, linguagem simplificada, codificada como, por exemplo, “que” escrito apenas com a letra “k”, palavras abreviadas, com sinais gráficos, símbolos indicando interpretação, tais como, ( :) ) cara feliz, com animações , como também, “casa” escrita “kza”, “demais” indicado por “d+”, exemplos que configuram uma linguagem verbal, não-verbal, e mista. A linguagem verbal é a escrita, ou a falada, para esta não é o caso. A linguagem-não verbal é representada por desenhos, e a mista é quando ocorre a mistura da linguagem verbal e não verbal, nesse caso é a utilizada pelos estudantes internautas nas redes sociais. Dessa maneira, surgiu a necessidade de trabalhar a leitura e linguagem escrita formal explorando recursos adicionais aos materiais didáticos usados tradicionalmente. Neste cenário, identificou-se que o objeto de aprendizagem TANGRAM poderia apoiar atividades didáticas para o desenvolvimento da leitura e escrita da Língua Portuguesa. Neste processo, a indagação permanente foi como despertar no estudante o gosto pela leitura e escrita correta, tirando partido de uma mídia digital? A comunicação escrita é uma maneira que o ser humano tem para se comunicar com o mundo, consigo mesmo e com o seu redor, permitindo assim a linguagem de códigos símbolos e signos linguísticos ao entendimento, à interpretação e comunicação entre os indivíduos. Nas palavras de Jakobson (2003, p.37), “falar implica a seleção de certas entidades linguísticas e sua combinação em unidades linguísticas de mais alto grau de complexidade. Isto se evidencia imediatamente ao nível lexical; quem fala seleciona palavras e as combina em frases, de acordo com o sistema sintático da língua que utiliza; as frases, por sua vez, são combinadas em enunciados. Mas o que fala não é de modo algum um agente completamente livre na sua escolha de palavras: a seleção (exceto nos raros casos de efetivo neologismo) deve ser feita a partir do repertório lexical que ele próprio e o destinatário da mensagem possuem em comum”. A linguagem escrita é um conhecimento linguístico que exige muita atenção e cuidado no momento de sua execução. Em virtude disso, o aluno sofre reveses no momento de produção textual ao por em prática a escrita, pois se ele não for bem motivado à leitura diariamente, não vai desenvolver com facilidade o gosto de ler e interpretar, tão pouco escrever correto. Não conseguirá ser muito criativo, pois uma produção textual 3 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul de qualidade é consequência de processos intensivos de leitura. Quem lê sabe, conhece, escreve bem e consegue organizar melhor as ideias. Tem facilidade e interpreta com propriedade qualquer situação aparente e conflituosa. Dessa maneira, buscou-se com o uso de um objeto de aprendizagem, o Tangram, na disciplina de Língua Portuguesa, na Escola Perpétuo Socorro, Encantado, RS, motivar os estudantes a despertarem mais o gosto pela leitura e produção de textos atraídos pelo aspecto estético e visual das formas geométricas deste quebra cabeça. Com o avanço das tecnologias de informação e comunicação, desenvolveram-se novas formas de comunicação, que não excluíram as já existentes no meio social. Percebe-se que ainda há sintonia entre as mesmas, especificamente quando se referem às mídias impressas. Certamente as TICs chegaram para facilitar em todos os aspectos a vida social e profissional das pessoas. Na escola, portanto, não foi diferente com a chegada das mídias digitais. O professor tem importante papel de mediar e propagar conhecimentos utilizando as tecnologias que estiverem a sua disposição com objetivo de contribuir em sua prática pedagógica. Isso deve envolver um repensar sobre suas práticas. Na atualidade, educadores têm disponíveis ambientes online (repositórios de objetos de aprendizagem) que permitem acessar materiais didáticos em formato digital, facilitando o compartilhamento dos mesmos. Segundo Willey (2000) estes materiais podem ser reusados em novos contextos e situações didáticas. A motivação desse trabalho foi de usar tal tipo de material didático digital como recurso de aprendizagem. Moran (2000, página xx) destaca: Na sociedade da informação, todos estamos reaprendendo a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar; reaprendendo a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social. É importante conectar sempre o ensino com a vida do aluno. Chegar ao aluno por todos os caminhos possíveis: pela experiência, pela imagem, pelo som, pela representação (dramatizações, simulações), pela multimídia, pela interação on line e off line. Considera-se, frente ao exposto, a importância do papel do professor para selecionar, reestruturar e reutilizar materiais didáticos visando ao processo de ensino aprendizagem. O professor deve ser dessa maneira um mediador e nortear entre o conhecimento do aluno e o uso adequado da tecnologia, o que é proposto nesse trabalho. Este trabalho tem o objetivo de trabalhar habilidades de leitura e produção de escrita através de uma proposta lúdica, que desperte o gosto pela leitura e explore a criatividade na produção escrita. Com esta prática didática têm-se o propósito de: inserir atividades de produção de textos com o TANGRAM, que estimulem para o processo de ensino aprendizagem da Língua Portuguesa; Oportunizar ao educando a produção escrita colocando-o na posição de um ser pensante no processo de ensino aprendizagem do próprio conhecimento; Tornar a prática pedagógica mais enriquecedora explorando os conhecimentos interdisciplinares. O estudo se insere no tema pedagogia e interdisciplinaridade, considerando-se o tipo de abordagem didático-pedagógica a ser adotada, tal como previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. O trabalho busca ampliar a discussão sobre a associação entre metodologia e prática da interdisciplinaridade, como estratégia didática. 4 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul 2. O TANGRAM como jogo didático Como anteriormente referido, ao identificar-se o Tangram como um objeto de aprendizagem, e analisar-se este jogo sob os pressupostos da aprendizagem da língua portuguesa, o que chamou atenção foi a quantidade de objetos que poderiam ser representados com apenas sete pedaços de papel recortados em linha reta. Poderiam se gerar gravuras em movimento ou também estáticas. Causando assim uma impressão de mobilidade ao observar e montar as imagens, possibilitando a inclusão das mesmas no mundo real e em perfeita harmonia com a natureza e em sintonia com a vida. Este jogo poderia assim instigar os estudantes a transformar o Tangram de uma linguagem completamente não-verbal para uma linguagem verbal. O Tangram foi visto como uma forma de linguagem para representar, registrar, documentar intenções, e de acordo com o que se refere o autor espanhol Argan (apud BARROS, 2012, p. 316) ”... um projeto cujo desenho é, antes de tudo, uma síntese de ideia e coisa.” Segundo este autor, “quem projeta, utiliza linguagem para representar, documentar”, ainda diria registrar suas intenções. A representação visual tem no desenho seu principal meio de comunicação”. Neste trabalho o Tangram foi uma forma de transformar os desenhos em uma forma de comunicação que servisse como instrumento interpretativo conforme a impressão de cada estudante. Ainda o autor reforça que um desenho pode mostrar um determinado conteúdo sem necessariamente utilizar outra forma de comunicação como as palavras. Cita como exemplo o Tangram. Barros (2012) conta a história “A lenda do Tangram” usando as sete peças do jogo através de uma dinâmica de adição das palavras-figuras mostrando buscar semelhanças e diferenças na interpretação das imagens geradas com as peças do Tangram. Ainda fala da importância da história criada e os resultados obtidos pela associação a palavra-figura, que permitem a autora afirmar que o desenho vale mais do que mil palavras. O Tangram é um quebra cabeça composto por sete peças, cinco triângulos, um quadrado e um paralelogramo (figura 1). Surgiu na China, sendo mais utilizado nos estudos da matemática, por desenvolver o raciocínio lógico, na geometria, por praticar as relações espaciais e as estratégias de resolução de problemas, e na arte, pela percepção à forma e à sensibilidade. Figura 1: O TANGRAM e as figuras que podem ser montadas com suas sete peças. Fonte: http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/como-construir-tangram.htm; http://portalcrescer.blogspot.com.br/2011/02/tangram.html Quanto ao uso deste objeto de aprendizagem na língua portuguesa visualizou-se uma forma didática e pedagógica de seu uso nas aulas desta disciplina, do ponto de vista do desenvolvimento da criatividade, do 5 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul estudo da arte e literatura. Sob o olhar da criatividade levaria o estudante a pensar, utilizando sua inteligência para a capacidade e habilidade conforme ”(PONTY, 1963, p. 120) “mistério da aparição de alguém na natureza, renovando a cada vez que olhamos” causando a possibilidade de explorar o poder de discernir, raciocinar sobre o quebra-cabeça sobrepondo-os a indagações, questionamentos associados aos trabalhos exigidos na língua portuguesa. Aos olhos da arte observariam as formas, movimentos, cores, linhas, assim submeteriam os estudantes a colocar as imagens dentro de um contexto social e cultural, porém real. Quanto ao olhar da literatura exploraria a capacidade de ler e bem escrever, a fim de perceberam a importância do tempo, do conhecimento, do pensar até elaborar o trabalho, portanto esse envolvimento possibilitaria a valorização de todo fazer pedagógico, percebendo a importância do aprendizado e passando por um processo de construção no qual eles seriam os protagonistas, os escritores, os autores de suas próprias criações. 3. Metodologia 3.1 Proposição do Projeto TANGRAM A proposta considerou a possibilidade de estimular a criatividade, o pensamento, o discernimento, os sentimentos, a emoção e imaginação, o aspecto lúdico, associados à produção textual, ao raciocínio e a escrita. Identificou-se a riqueza do jogo e a possibilidade de um desafio a ser trabalhado interdisciplinarmente, com a intenção de atrair os estudantes e envolvê-los em um jogo essencialmente matemático. A partir desta identificação do jogo TANGRAM como objeto de aprendizagem para uma experiência interdisciplinar, buscou-se inicialmente solicitar uma reunião com demais professores da instituição de ensino o qual está inserido este estudo, e a direção da escola, para expor a proposta do projeto Tangram e convidar os mesmos a participarem, a fim de desenvolver trabalhos interdisciplinares com uma turma da 6º série de ensino. Nesta reunião descreveu-se aos demais docentes como o projeto Tangram seria trabalhado interdisciplinarmente nas disciplinas de Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Arte e Matemática. Foi exposto que tal projeto foi pensado a partir de um processo de formação realizado pela autora deste estudo, o curso de Pós-graduação em Mídias na Educação, o qual, através de uma disciplina, possibilitou o contato e conhecimento sobre o objeto de aprendizagem ou jogo TANGRAM. Logo, foram apresentados os motivos de desenvolver um projeto e o porquê da escolha dessa turma, devido a um contato inicial com um docente, da disciplina de Matemática, o qual considerou a importância desta ideia, especificamente para o estudo dos polígonos, definindo de imediato pelo início do projeto para abordar tal conteúdo. Como a proposta exigiria buscar referências através da Internet, a escolha da turma deu-se pelo fato de ser a menor da escola, já que há limitação no número de computadores no laboratório de informática e pela capacidade limitada dos mesmos para as pesquisas. A ideia de desenvolver um projeto, tomando como objeto de aprendizagem o TANGRAM surgiu após trabalhar uma disciplina sobre Objeto de Aprendizagem: Questões Pedagógicas, Metodológicas e Tecnológicas, onde foi elaborado um pré-projeto sobre a utilidade deste jogo nos estudos da língua portuguesa. Percebeu-se a riqueza do jogo e a possibilidade de um desafio a ser trabalhado explorando a criatividade, o imaginário, levando o aluno pensar mais sobre o fazer pedagógico. A intenção foi de atrair os estudantes pela emoção e envolvê-los com um jogo essencialmente matemático, para as aulas de português, mas com amplo potencial pedagógico, na tentativa de encantá-los pelo diferente, pelo aspecto 6 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul visual e pelas formas do quebra-cabeça com possibilidades múltiplas de montar imagens, conforme ilustrado anteriormente na figura 1. Considerando-se, assim, a possibilidade de fazer os estudantes pensar e refletir quanto à produção de textos, principalmente no momento de criar as histórias e seus personagens. Foi também explanada a ideia de desenvolver um trabalho de autoria através da produção de um livro para registrar as histórias produzidas pelos estudantes. Nesta proposta, para cada obra produzida, o estudante seria o autor e o ilustrador de suas criações e as histórias deveriam ser inéditas e embasadas em outras obras já publicadas. 3.2 A caracterização da metodologia adotada em cada disciplina A partir da reunião entre os professores envolvidos no projeto ficaram estabelecidas as diretrizes a serem traçadas para a experimentação em cada disciplina. Foram caracterizados os conteúdos, elementos e habilidades a serem trabalhados em cada disciplina, tais como: - Em Artes, os elementos básicos da linguagem visual, tais como cor, forma, ponto, luz e contraste, os quais permitem estabelecer relações de composição; A metodologia proposta foi de abordar a leitura de imagens de forma contextualizada, percebendo relações na produção artística usando o Tangram e suas condições de produções poéticas. A partir da seleção de imagens do pontilhismo, deve ser realizada uma leitura das mesmas e iniciada a prática. A proposta de utilização de tinta têmpera constitui-se como meio para representar e estabelecer relações com a vida, considerando que a imagem torne-se algo real, uma arte viva. - Em Língua Estrangeira, a produção escrita, a criatividade do desenho de formas geométricas, e os conhecimentos vocabulares associados a estas, através da escrita e oralidade pela pronúncia correta; - Na Matemática o reconhecimento das figuras geométricas, e processos compositivos entre estas figuras, considerando-se a valorização do uso de estratégias pessoais e de conhecimentos prévios como meio de resolução aos problemas apresentados. A competência considerada nesta atividade é a de resolução de problemas. - Na Língua Portuguesa a criação de textos, considerando à ortografia e coerência das ideias, com o propósito de fazer o estudante pensar nas obras que irão escrever, pois a exigência não é de apenas criar um texto, mas acima de tudo criar com a intenção de que sua produção seja uma arte. 3.3 O desenvolvimento do Projeto TANGRAM interdisciplinarmente A primeira etapa foi de pesquisa na internet sobre a história do TANGRAM, a sua origem e seus usos e aplicações. Logo, foram desenvolvidas as propostas traçadas em cada disciplina. Em relação ao trabalho coletivo foi possível verificar diversas maneiras de resolver um mesmo problema e de validar tais formas de resolução e seus resultados. Na disciplina de Língua Portuguesa, os estudantes selecionaram os autores que tomariam como referencial para suas histórias, produzindo-as e os próprios TANGRANS. 7 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul A prática foi desenvolvida abarcando em torno de dois meses de aula. Durante a prática proposta na disciplina de Língua Portuguesa, buscou-se responder as dúvidas que surgiram e oferecer uma orientação individual na medida em que surgiam as problematizações. Muitas vezes solicitou-se que os textos fossem refeitos por não estarem com a escrita adequada, ou seja, por conter muitos erros ortográficos, apresentarem fuga do assunto e pela ausência de uma sequência cronológica. Durante o processo ocorria o acompanhamento individual, em que a professora efetuava a correção dos textos. Observou-se que os estudantes já conheciam o Tangram. Sabiam que este jogo era utilizado na matemática, mas não sabiam que poderia ser utilizado em outras disciplinas, principalmente na língua portuguesa. Para eles, essa seria uma primeira experiência. Os estudantes pesquisaram na internet a história do Tangram, a sua origem e como se dão seus usos e aplicações. Acessaram sites de jogos interativos informados pela página do Google e tiveram a oportunidade de interagir com mais de mil imagens formadas com as sete peças do jogo. Cada aluno escolhia as imagens que desejassem e iam formando encaixes entre as peças, até gerar tal imagem. A partir disso orientava-se para que observassem as imagens e visualizassemnas como parte de uma história. Para isso foi necessário à utilização de vários recursos, através da internet como fonte para obter o conhecimento da história do mesmo, conforme ilustrado na figura 2. Foi assim reconhecida a prática do jogo utilizando as peças para a montagem e desmontagem de imagens de pessoas (ao centro e à direita da figura 2), objetos, animais, números, letras e diversas figuras. Figura 2: Etapa de reconhecimento do jogo TANGRAM, através da Internet. Fonte: Autora, 2012. Na quinta aula, foram disponibilizados livros de leitura e literatura infantil para que os estudantes manuseassem e escolhessem um autor(a) que tomariam como referencial para suas histórias (à esquerda da figura 3). Isso ocorreu em vários momentos, pois ao ler se davam conta de que não gostavam e trocavam por outro até estarem satisfeitos com a escolha. 8 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul Figura 3: Etapa de produção das histórias, a partir de referenciais e através do TANGRAM. Fonte: Autora, 2012. Quanto à seleção do gênero ficou a livre escolha respeitando a habilidade e preferência de cada estudante. A maioria decidiu entre o narrativo e o poético. A etapa mais demorada, mais difícil e que levou mais tempo foi a produção das histórias (ao centro da figura 3), a qual era necessária atenção especial ao aluno devido às dúvidas que surgiam durante a produção ou porque diziam estar sem ideias. Muitas vezes era solicitado para que refizessem e repensassem sobre a produção, isso então provocava certos conflitos. Aos poucos foram entendendo e desenvolvendo com mais ânimo. Este processo exigiu dos estudantes muita disciplina, e paciência. A turma por ser heterogênica, possuía, por um lado, alunos compreensivos, prestativos e muito dedicados e completamente envolvidos com essa atividade. Por outro, estudantes com dificuldades de aprendizagem que se dispersavam com conversas e atitudes comportamentais impróprias, interferindo muitas vezes no andamento das aulas. Alguns estudantes considerados especiais, segundo laudos médicos, exigiam atenção redobrada. Embora dificuldades e certas limitações, todos produziram suas obras. Para a confecção do livro de histórias, a grande maioria produziu os Tangrans (à direita da figura 3), necessários para montar na sequência os seus personagens. Representavam o traçado do quadrado, usando o papel quadriculado, pintavam com lápis de cor ou canetinhas hidrocor e em seguida recortavam as peças e deixavam reservadas para representar as personagens. Esta fase se desenvolveu em várias aulas. Para os alunos com mais dificuldades foi oferecido cópias impressas do Tangram. Cada aluno foi autor e ilustrador de seu livrinho (à esquerda da Figura 4). Todos trabalharam com folhas de desenho e montaram os livros parte a parte, folha a folha, como ilustrado ao centro da figura 4. Cada livro foi composto por uma parte escrita e outra ilustrada (á direita da figura 4). Nem todos aguardavam pela orientação e iam produzindo a sua maneira, de forma intuitiva. Devido a isso, muitas vezes o processo precisou ser repetido, mas foi importante terem a iniciativa, considerando-se que, quando necessário, refaziam as páginas do livro. Figura 4: Etapa de produção de um livro por cada estudante, que registra a história criada com o TANGRAM. Fonte: Elaboração da autora, 2012. Um fato inesperado e inusitado aconteceu durante a prática das atividades. Antes de dar início à confecção do livrinho, as histórias ainda nem estavam bem elaboradas, porém alguns estudantes já tinham 9 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul em mente o que iam desenvolver. Estes estavam tomados pela emoção e entusiasmo em produzir a sua própria obra, e assim preferiram começar pela capa do livro. Por instantes buscou-se reestabelecer a proposta traçada para a atividade, na qual, pela sequência lógica dos fatos, não deveria iniciar pela confecção da capa. Houve dessa maneira a preocupação de que os estudantes estariam dando maior importância à aparência do trabalho e menos valorização ao conteúdo. Frente a este fato, foi concedida autorização a esta solicitação. Avaliou-se por manter, naquele momento, a motivação, a harmonia e desenvolver o devido acompanhamento. Em duplas, ou pequenos grupos, cada um estava envolvido com o trabalho. Observavam os cuidados com a escolha dos tipos de papéis, tais como de dobradura, camurça, crepom, as canetinhas hidrocor, cola brilho, folhas de desenho e demais materiais utilizados para a confecção da capa. Para que não houvesse ruptura com a proposta traçada, nem divergências quanto ao andamento da prática, considerou-se a dinâmica estabelecida naquele momento e deixou-se a imaginação fluir, porém intervindo nos momentos necessários. Todos atingiram os objetivos propostos, levando-se em consideração as características pessoais e a limitação de cada estudante. Segundo o relato da professora de língua estrangeira, em suas aulas, no projeto com o Tangram, trabalhou-se basicamente a produção escrita, a criatividade ao desenhar as formas geométricas, a utilização das cores para colorir os objetos desenhados como os polígonos, conforme ilustrado à esquerda e ao centro da figura 5. À direita da figura 5 é ilustrado o trabalho de reconhecimento das cores e formas geométricas explorando a língua estrangeira através da escrita, tais como os polígonos (triângulo, quadrado, paralelogramo), entre outros termos. Figura 5: Reconhecimento do vocabulário relativo aos polígonos na Língua Inglesa. Fonte: Elaboração da autora, 2012. De acordo com o relato da professora de Matemática, as habilidades consideradas neste projeto, foram distinguir que diferentes figuras geométricas regulares podem ser unidas até formarem outras figuras irregulares. Também foi considerada a valorização do uso de estratégias pessoais e de conhecimentos prévios como forma de alcançar resultados e de elaborar estratégias de resolução de problemas. Já no trabalho coletivo foi possível verificar diversas maneiras de resolver um mesmo problema e de validar tais formas de resolução e seus resultados. A competência considerada nesta atividade diz respeito à resolução de problemas. 10 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul 3.4 Avaliação da prática Para avaliar a proposta didática, foram realizadas entrevistas com questões do tipo aberta, as quais visaram registrar as percepções dos estudantes, e aplicado um questionário, o qual se caracterizou por questões fechadas, neste caso admitindo como respostas „sim‟ ou „não‟, assinando respostas objetivas a respeito do trabalho desenvolvido sobre este projeto, e ainda, solicitando-se comentários adicionais quanto à questão. 4. Resultados e Discussão Durante a prática percebeu-se o interesse e encantamento dos estudantes por vivenciarem outras técnicas juntamente com o Tangram. No desenvolvimento das atividades, observou-se que houve o empenho, a dedicação, a criatividade, a emoção, a alegria ao desenvolver as atividades, principalmente, com a produção textual associada com a ilustração das imagens através das sete peças do Tangram, utilizando-as para representar. Cada estudante tornou-se um autor de sua própria criação, finalizando com a confecção do livrinho anteriormente referido. Trabalharam o conteúdo compartilhando o conhecimento adquirido. Quanto ao trabalho coletivo foi possível verificar diversas maneiras de resolver um mesmo problema e de validar tais formas de resolução e seus resultados. O interesse e empenho dos alunos estimulou o processo de criatividade nos mesmos. Através da análise sobre respostas obtidas em entrevista e questionário aplicado aos estudantes, avaliaram-se os resultados da investigação sobre a questão problema que teve como objetivo a aplicação de uma prática didática de produção de textos através de atividades com o Tangram, visando estimular para o processo de ensino aprendizagem da Língua Portuguesa. Como resposta a primeira questão relativa a importância do uso do Tangram na interdisciplinaridade, todos responderam positivamente destacando a importância do trabalho desenvolvido entre várias disciplinas, língua portuguesa, inglês, arte e matemática, usando o Tangram. Os estudantes questionados destacaram que aprenderam mais em comparação as aulas dadas de maneira tradicional e os conteúdos se tornaram mais significativos, o que possibilitou memorizálos com mais facilidade através da produção realizada com o jogo, recortando as peças, observando o formato e tamanho de cada uma delas, colorindo-as e montando as figuras conforme as instruções de cada professor dentro de sua disciplina. Os estudantes contaram que esse aprendizado interdisciplinar possibilitou o conhecimento sobre o estudo dos polígonos nas aulas de matemática (a esquerda da figura 6) para o aprendizado de geometria, os quais eram construídos a cada aula. Em seguida, passaram a representar letras e posteriormente figuras mais elaboradas, ou seja, de imagens humanas, (ao centro da figura 6), animais (a direita da figura 6) e de outros objetos mais complexos. Foi estimulado o uso do raciocínio lógico e a percepção quanto às formas e possibilidades de construir diferentes tipos de figuras. 11 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul Figura 6: Representação de polígonos, imagens humanas e animais. Fonte: Autora, 2012. Quanto ao ensino da língua inglesa os estudantes apontaram que foi possível aprender como escrever e ler os nomes dos polígonos e de linhas curvas, sinuosas, retas e etc., das cores e das imagens explorando os conhecimentos da língua estrangeira. A importância deste trabalho foi levar o estudante perceber a importância de ler e utilizar a escrita correta quando se trata da linguagem formal e a importância que deve ser dada no ato de escrever. Através deste conhecimento interagiram se envolvendo no trabalho de forma que se sentiram autores protagonizando a própria obra de arte. O Tangram no ensino da língua portuguesa foi visto como um recurso envolvente para que servisse como apoio didático, lúdico e pedagógico para inspirar o discente quanto à criatividade e liberdade do imaginário na elaboração dos textos (figura 7, à esquerda), na ilustração das personagens (figura 7, ao centro) e montagem do livrinho (figura 7, à direita). Figura 7: Elaboração de textos, ilustração de personagens e montagem dos livros. Fonte: Autora, 2012. O jogo TANGRAM e a proposta didática foram vistos pelos estudantes como um recurso pedagógico para a construção do conhecimento de maneira lúdica e interativa, desenvolvendo assim o raciocínio lógico, a percepção e o equilíbrio. Observou-se que os estudantes estiveram concentrados e ativos durante todo o processo e a cada instante deste. 12 Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul 5. Considerações finais A proposta deste trabalho foi de utilização das sete peças do Tangram como objeto de estudo para a produção de textos na Língua Portuguesa e aquisição de conhecimentos interdisciplinares. Em relação às situações didáticas propostas com o jogo, destacam-se, principalmente a diversidade e possibilidades que são proporcionadas na montagem das imagens, formando figuras ilustrativas e tecendo formas concretas. Tornando possível a personificação das personagens dos textos produzidos pelos estudantes. As atividades aplicadas à turma do 6º ano, ao utilizar o quebra-cabeça Tangram como objeto de aprendizagem aos estudos interdisciplinares do português, arte, inglês e matemática, envolveram os professores dessas disciplinas em uma proposta didática que exigiu ampliar o conhecimento sobre o jogo e como poderia ser utilizado, para que fosse possível estruturar situações didáticas em cada área de conhecimento integrante do projeto. O projeto TANGRAM promoveu o interesse, rendimento, envolvimento, dedicação, emoção e satisfação dos estudantes por terem aprendido amplamente os temas tratados por diferentes maneiras, ou seja, metodologias usadas em cada disciplina, embora usando o mesmo objeto de estudo. Na disciplina de língua portuguesa foi proposta uma prática envolvendo a leitura e escrita correta, sugerindo como objetivo a produção e confecção de um livrinho de história, em que os estudantes usaram as peças do Tangram para fazerem a representação das imagens e dos personagens de suas histórias. Possibilitando ao discente assumir o papel de autoria, pensando, escrevendo, organizando e produzindo sua obra de arte. Intensificando-se, dessa maneira, os processos de aprendizagem de produção de textos. Agradecimentos Agradecemos à Direção da Escola Perpétuo Socorro, RS, por não medir esforços, dando total apoio para que as atividades se concretizassem com sucesso. Todos os colegas professores que de alguma forma também contribuíram para a realização deste trabalho. Em especial às professoras Naídes, Maria Luisa e Claudia pela parceria, cooperação e compreensão durante todo processo de aplicação, pois foram imprescindíveis no desenvolvimento dos trabalhos nesta nova experiência. Aos alunos do 6º ano por aceitarem um novo desafio encarando tudo com carinho e atenção oportunizando a aplicação desta pesquisa de formação no curso de Mídias na Educação. Ao reitor, coordenadores, orientadores, coorientadores e professores da Universidade Federal de Pelotas, RS, pelo carinho, atenção, paciência e sabedoria ao conduzirem todas as atividades, tornando possível o desenvolvimento deste estudo e formação em nível de especialização. Referências ALMEIDA, Fernando José de. Paulo Freire desenvolveu novo conceito de leitura e escrita. Folha online. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u643944.shtml> acesso em 27/4/13. 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