Momento Entrevista
Mackenzista
reestrutura a Fiat
“Aos futuros administradores, lembro que é preciso gostar
da profissão e agir sempre com ética e determinação”
E
m fevereiro de 2004, o cargo
de diretor-superintendente
da Fiat Automóveis para a
América Latina foi ocupado pela
primeira vez por um brasileiro, o
paulista de 54 anos Cledorvino
Belini, formado em Administração
de Empresas na Universidade
Presbiteriana Mackenzie -- fluente
em inglês, espanhol e italiano –,
com a missão nada fácil de ajudar a
empresa a retomar sua boa performance, em tempos que até a matriz
italiana passa por dificuldades.
O começo da carreira foi na
década de 60, nas Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, como
auxiliar de escritório, passando
pelas funções de selecionador de
pessoal, analista de cargos e salários, subchefe de RH, da divisão alimentícia, analista de Organização e
Métodos, posteriormente supervisor do mesmo setor. A partir de
1973, na Fiat Allis, ocupou cinco
cargos de comando – gerência geral
de materiais, de vendas de tratores,
de peças de reposição e supervisor
de sistemas e métodos. Em 1987, na
Fiat Automóveis S/A, passou pelas
funções de diretor-comercial e diretor-geral, conseguindo grande aumento na cota de mercado e da
imagem Fiat no Brasil. Foi o responsável pela introdução dos sistemas
de vendas “Mille on-line”, campa10
Mackenzie
nhas publicitárias e lançamento do
Fiat Palio, o carro mundial da Fiat.
Foi ainda, de 1987 a 1993, diretor
de compras da Fiat Automóveis, e
de 1997 a 2004, presidente da
Cofap e diretor de Relações com o
Mercado. Participou do processo
de aquisição da Cofap, pela Magneti
Marelli, e, a partir de então, executou a reorganização societária,
administrativa e operacional do
grupo Cofap. Foi professor universitário na Universidade São Marcos,
lecionando as matérias Análise de
Custos e Organização, Sistemas e
Métodos (1975 a 1982). Ainda no
início da década de 90, foi vicepresidente da Associação Nacional
dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Em entrevista à revista Mackenzie, Cledorvino Belini fala da época
em que cursou a faculdade e um
pouco de como era a vida de estudante, nos anos de crescimento e
do “milagre econômico” brasileiro.
Revista Mackenzie - Quais os
fatos marcantes, as boas lembranças de sua época no Mackenzie?
Cledorvino Belini - Eu estava
no penúltimo ano de faculdade
(1973), quando comecei a trabalhar
na Fiat. Naquela época, nosso
escritório ficava no Edifício Itália,
na Avenida São Luís com a Ipiranga.
De lá, eu seguia para o Mackenzie,
na Rua Maria Antônia. Estava começando minha carreira profissional e
precisava conciliar trabalho e estudo, o que sempre exige muito
esforço e dedicação.A fase de estudante é uma das mais excitantes da
vida. É quando começamos a construir tudo aquilo que sonhamos na
juventude. E é a base para que, no
futuro, possamos consolidar nossos
projetos. Hoje, relembro com carinho esse período da minha vida,
porque sei que, ali, estava lançando
as bases da futura carreira.
Da época, o que vem à sua
mente com mais clareza?
O Brasil vivia o auge do crescimento econômico, com taxas do
PIB superiores a 7%. Estávamos
em pleno “milagre econômico”,
com inúmeras oportunidades se
abrindo. Esse era o grande diferen-
De quais professores lembra-se?
Professor que me marcou muito
– e é um grande amigo até hoje –
José Pascoal Rosseti. Dava aulas de
Introdução à Economia. O aprendizado que obtive com ele foi útil
em toda a minha carreira. É até hoje.
Que matérias preferia?
Gostava muito de Administração
Geral, Marketing e Finanças, bem
como das demais ligadas a essas
áreas. A que menos me atraía era
Direito Administrativo.
Lembra de algum fato curioso ou engraçado do tempo da
faculdade?
A época era muito divertida,
sem dúvida. Lembro-me de que, de
vez em quando, entravam morcegos no prédio da Administração,
por causa das muitas árvores que,
até hoje, existem em Higienópolis.
As calouradas também são memoráveis. Eram brincadeiras muito
saudáveis, sem o caráter agressivo
que têm hoje. Entrávamos nas salas
de aula dos calouros como se fôssemos professores, enchíamos o
quadro-negro com matéria, para
que os alunos copiassem. Lembrome de um colega que se passou por
professor em uma turma de
calouros e deu uma aula inteira, de
50 minutos, sobre “Administração
da Abobrinha”. Eram brincadeiras
sem maldade, que marcavam de
forma divertida a chegada dos
novos alunos.
cial: as empresas faziam fila para
buscar os alunos na faculdade.
Você podia escolher onde trabalhar – uma situação muito diferente da que temos hoje. Mas
ainda há muitas oportunidades
atualmente, em novos setores que
se abriram, principalmente na área
de tecnologia. Mas as vagas estão
mais disputadas.
Por que preferiu o Universidade Mackenzie?
O Mackenzie tinha renome
internacional, com nível de ensino
equiparado às melhores instituições, como a FGV e a USP, o que é
uma realidade até hoje.Além disso,
sua localização, no bairro de Higienópolis, facilitava para mim, pois
ficava entre o meu trabalho na Fiat
(Edifício Itália) e a minha residência, no bairro do Sumaré.
Qual a influência do Mackenzie em sua vida? Que marcas a universidade deixou?
Fiz um curso muito bom, com
sólida base de aprendizado. Ali
começou minha carreira. Trabalhava na área de Administração e
Sistemas da Fiat e logo fui promovido a gerente da Divisão de Peças
de Reposição da Fiat Allis, ainda
em São Paulo. Estudava-se muito, o
que exigia de nós grande dedicação. Lembro que tínhamos aulas
também aos sábados à tarde – de
Microeconomia e Custos –, o que
não é nada fácil. Depois de formado, fiz o mestrado na USP, o que
ampliou meus horizontes. Dessa
época, porém, ficaram os valores,
os exemplos que os mestres nos
deram. Das marcas que adquiri,
destaco a coragem e a determinação. Foi nesse período que aprendi – e esse é o meu lema até hoje
– que é preciso coragem e determinação na condução das atividades profissionais e na própria
vida.
Quer dar alguma dica ou conselho aos estudantes de hoje?
Quando penso na trajetória que
tive, na condução da vida pessoal e
profissional, concluo que se tivesse
que começar tudo de novo faria
exatamente o que fiz. Não sei se
posso dar conselhos aos mais
jovens, mas levo em consideração a
minha própria experiência para
dizer aos mais novos, aos futuros
administradores, que é preciso
gostar da profissão e agir sempre
com ética, coragem e determinação. É indispensável, também,
que estejam atentos às contínuas
mudanças que ocorrem no mundo
contemporâneo, para se adaptarem
com mais rapidez.
Mackenzie
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