>>De 1967 até hoje
Design com Dimensão
O nome Dimensão é sobejamente conhecido. Por trás dele, ergue-se uma história com mais de 40 anos. Tudo
começou em 1967. Por esses anos, viviam-se as primeiras euforias da Pop, do Flower Power, vestia-se mini
saia e conduziam-se automóveis ‘mini’. Ondas de cor, de esperança e de música galvanizavam parte importante
da população do mundo. Mas em Portugal, o quotidiano permanecia cinzento. Eram ainda os tempos do Estado
Novo. Da Guerra Colonial. Da polícia política. Do medo. Porém, entre aqueles que desejavam a mudança, em
tertúlias de café e sonhos de uma geração, inscreveu-se um grupo e depois um nome. Dimensão. Uma nova
dimensão para o quotidiano, numa vontade diferente de habitar e recriar espaços e viveres, que continua até
hoje.
Texto: Emília Ferreira
O lançar de um sonho
Com o nome da Dimensão criada em 1967, por Sérgio Guerra, funde-se, desde logo, o da sua principal designer: Ângela
Ladeiro, uma das primeiras designers profissionais formada em Portugal. Mais do que boa criadora e "interiorista", Ângela
Ladeiro foi sempre um espírito determinado. Só assim se compreende a sua relação com a escassa indústria nacional,
parcamente desenvolvida no plano tecnológico e ainda menos apostada na inovação, com a qual conseguiu, apesar de tudo,
estabelecer um global trabalho de equipa. Nos anos setenta a Dimensão torna-se uma das empresas que aposta na
dinamização desses recursos, recorrendo ao trabalho de pequenas unidades fabris do Norte, para a produção de mobiliário
destinado a um público classe média, com capacidade económica e gosto conservador. Ângela Ladeiro tem, neste
momento, o seu grande ponto de partida como designer industrial, colaborando com fábricas com as quais consegue uma
verdadeira parceria.
Uma revolução e muitas mudanças
Com o 25 de Abril de 1974 e as alterações sociais,
económicas e culturais, foi necessário fazer um balanço,
responder aos novos desafios. Mudado o gosto dos
portugueses, que entretanto, após tempos economicamente
mais difíceis, adquirem maior poder de compra, e num
momento em que as importações são complicadas, a
Dimensão reinveste no ‘made in Portugal’. Sob a marca
Dimensão, as criações próprias, inspiradas nas mais
recentes tendências internacionais, introduzem conceitos
inovadores entre nós, como a modularidade, a importância
da cor e a sua relação com a forma. Os materiais escolhidos
dirigem-se ao aproveitamento dos conhecimentos da
indústria com que trabalhava e exploram ainda um sector
de mercado aberto à simplicidade: a madeira (sobretudo o
pinho, frequente em Portugal, e com excelente relação
qualidade/preço), o bambu, o metal e os têxteis — neste
caso, investindo em estampados modernos e aproveitando
também os bons conhecimentos técnicos, na criação de
estofos, de algumas empresas do Norte.
A pouco e pouco, com a recuperação do país, a abertura ao
estrangeiro e a alteração dos hábitos de consumo, a
Dimensão investe num marketing mais complexo, iniciando
uma política de participação em feiras e certames internacionais. Entrevêem-se já novos tempos.
As novidades dos anos 80
Em Novembro de 1982, o lançamento da revista ‘Dimensão’ assinala um momento fulcral na vida da empresa,
assumindo-se como vector de marketing. Entrevistas com designers, arquitectos e artistas, notícias sobre lançamentos
de novos produtos e ideias e informações sobre feiras, documentam os clientes e um público mais vasto, ao qual se dá
a ver o trabalho projectual da Dimensão.
Em 1985, é criado o Kit-Market, estrutura produtiva e de comercialização revolucionária entre nós: além de um mobiliário
modular e flexível, de cores saturadas e directas, com algumas analogias ao vestuário (velcros e fechos éclairs, usados
por exemplo nas assemblagens de sofás), dirigido a um público jovem, com algum poder de compra, propõe a montagem
por parte do consumidor. Sob o lema “compre, leve, monte você mesmo”, o Kit-Market tem enorme sucesso, sendo outro
importante elo na relação da Dimensão com a indústria nacional.
Nestes anos, o mobiliário Dimensão — que engloba as lojas da marca e os espaços Kit-Market — consolida-se no país.
Com o avançar da década, a adesão de Portugal à CEE e a nova abertura do mercado europeu, a Dimensão introduz entre
nós as mais conceituadas marcas europeias. Ciente de que a troca de ideias, a informação, a formação são da maior
importância para Portugal, em 1989 a Dimensão dá início a mais um importante acontecimento: o primeiro evento MID,
organizado no âmbito do 1º Forum da Qualidade. Além da exposição organizada a propósito, e subordinada ao tema
‘Design, Forma e Função’, trouxe a Portugal um número significativo de criativos espanhóis e italianos.
E nos anos 90?
Com a maior liberalização da actividade empresarial entre nós e a consolidação da União Europeia, a Dimensão aceita os
desafios do franchising e da internacionalização. Muda de imagem, reforça a estratégia de desenvolvimento e aposta em
criações próprias, na realização de projectos de design de interiores, e na divulgação e comercialização de editores e
autores estrangeiros. Datam de então o Atelier de Design Dimensão, a reestruturação da Revista e criação da Galeria de
Design Dimensão, que sublinha os já ‘clássicos’ pressupostos do tendencialmente cultural, inovador e diferenciado
Gabinete de Marketing, com os seus eventos culturais, exposições, debates, conferências e festas.
Atelier, site, revista
Coração formal da empresa, o atelier — começado com Ângela
Ladeiro, e prolongado em Helena e Nuno Ladeiro, seus filhos,
designers e arquitectos — acolhe uma equipa que integra também
António Lages e Isabel Raminhos. Cerne de uma actividade tão
vasta como a concepção de projectos de design, nas suas várias
áreas de intervenção quotidiana, do mobiliário aos objectos, do
grafismo, decoração e interiorismo, é ainda berço de designers
(destacando-se entre eles os nomes de Nuno Machado, Luís Royal
e Rita Melo), e ponte para o exterior. Gerando novas ideias e
projectos, o atelier estabelece ligações com outros editores e
criadores internacionais e mantém o pulsar da empresa atento
aos tempos e às suas exigências, respondendo a encomendas de
editores, coordenando o trabalho dos artistas e gráficos convidados,
pensando a imagem da casa e o site da empresa. Da sua
responsabilidade é o projecto da revista MID — que condensa em
sigla o conceito integrado no Movimento Internacional de Design e
se define na relação deste com a Arquitectura e Interiores. Nela se
seguem as mais recentes notícias de editores e criadores nacionais
e internacionais, de exposições de design, arquitectura, novidades
tecnológicas e novas correntes.
E nos últimos anos?
Não saímos dos anos 90 sem relembrar que nesta década a Dimensão volta
a editar. Parceira das grandes marcas internacionais, neste papel a Dimensão
não se limita a divulgar entre nós as grandes referências mundiais, como
Marcello Morandini, mas integra as suas próprias criações nos catálogos de
empresas de renome internacional, como a Ritzenhoff, Calligaris, Egízia,
Sintesi, Mesa, Legnoart e Rosendhal. Empresas inquestionáveis na edição de
design, são também dotadas de forte componente exportadora. Presentes em
mais de uma centena de países, de todos os continentes, colocam assim
objectos com a assinatura de Ângela Ladeiro, Ana Salazar, António Lages,
Álvaro Siza Vieira, Carlos Castanheira, Helena Ladeiro, Isabel Raminhos, José
de Guimarães, Manuel Graça Dias/Egas José Vieira, Nuno Ladeiro, Tomás
Taveira e Troufa Real em todo o mundo.
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