CENTRO UNIVERSITÁRIO POSITIVO PROJETO DE UM ELEMENTO DE FIXAÇÃO DE PEÇAS COM ALIMENTAÇÃO HIDRÁULICA PARA O PROCESSO DE USINAGEM CURITIBA 2006 FILIPE DE CARVALHO DANTAS RICARDO MUNHOZ DA ROCHA CARREIRO PROJETO DE UM ELEMENTO DE FIXAÇÃO DE PEÇAS COM ALIMENTAÇÃO HIDRÁULICA PARA O PROCESSO DE USINAGEM Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Engenheiro pelo Curso de Engenharia Mecânica, do Setor de Ciências Exatas e de Tecnologias do Centro Universitário Positivo. Orientador: Prof. Emílio Eiji Kavamura CURITIBA 2006 ii SUMÁRIO LISTA DE TABELAS........................................................................................................ iii LISTA DE FIGURAS .........................................................................................................iv LISTA DE SIGLAS..............................................................................................................v RESUMO.............................................................................................................................vi 1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................1 1.1 IMPORTÂNCIA DO TRABALHO..................................................................................2 1.2 OBJETIVO DO TRABALHO ..........................................................................................2 1.3 ESCOPO ..........................................................................................................................2 1.4 COMPOSIÇÃO DO TRABALHO ...................................................................................3 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.......................................................................................3 2.1 SISTEMAS DE FIXAÇÃO ..............................................................................................4 2.1.1 Fixação mecânica versus fixação hidráulica...................................................................7 2.1.2 Dispositivos de fixação..................................................................................................9 2.2 USINAGEM ..................................................................................................................11 2.3 HIDRÁULICA...............................................................................................................13 2.3.1 Circuitos hidráulicos....................................................................................................13 2.3.2 Tipos de fluidos hidráulicos.........................................................................................14 2.3.3 Seleção de fluidos hidráulicos......................................................................................19 2.4 VEDAÇÃO ....................................................................................................................23 3 O CILINDRO HIDRÁULICO.....................................................................................26 3.1 DIMENSIONAMENTO.................................................................................................27 3.2 SELEÇÃO DO MATERIAL DOS COMPONENTES ....................................................28 3.2.1 Material do Pistão........................................................................................................ 29 3.2.2 Material da Camisa e Tampa .......................................................................................31 3.3 ESFORÇOS SOBRE OS COMPONENTES...................................................................32 3.3.1 Esforços Estáticos........................................................................................................ 32 3.3.2 Esforços Dinâmicos.....................................................................................................42 4 ANÁLISE DE RESULTADOS ....................................................................................46 4.1 AVALIAÇÃO DE CUSTOS ..........................................................................................53 5 CONCLUSÃO ..............................................................................................................54 APÊNDICES ......................................................................................................................58 ii iii LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Dados de testes realizados......................................................................................8 Tabela 2 - Análises efetuadas .................................................................................................8 Figura 4 - Opções de fixação ................................................................................................ 10 Tabela 3 - Classificação de óleos industriais (viscosidade) ...................................................21 Tabela 5 - Características de fluidos .....................................................................................23 Tabela 6 - Descrição de aços para cementação......................................................................30 Tabela 7 - Composição química do aço ABNT 8620 ............................................................30 Tabela 8 - Composição química do aço ABNT 1045 ............................................................31 Tabela 9 - Resistência de parafusos ISO classe 12.9 .............................................................39 Tabela 10 - Fator do tamanho e limite de fadiga corrigido ....................................................44 Tabela 11 - Constantes para cálculo de resistência à fadiga...................................................44 Tabela 12 - Características do ABNT 8620 para CAE ..........................................................47 Tabela 13 - Características para análise CAE........................................................................ 48 iii iv LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Fixação no processo de usinagem...........................................................................5 Figura 2 - Dispositivo hidráulico ............................................................................................6 Figura 3 - Dispositivo mecânico .............................................................................................6 Figura 4 - Opções de fixação ................................................................................................ 10 Figura 5 - Cilindros de dupla e simples ação......................................................................... 10 Figura 6 - Conjunto montado do cilindro hidráulico .............................................................26 Figura 7 - Ilustração do sistema de alimentação....................................................................27 Figura 8 - Giro do pistão ...................................................................................................... 28 Figura 9 - Haste do cilindro ..................................................................................................33 Figura 10 - Círculo de mohr para cilindro 60x30 ..................................................................35 Figura 11 - Círculo de mohr para cilindro 50x25 ..................................................................36 Figura 12 - Círculo de mohr para cilindro 30x20 ..................................................................37 Figura 13 - Considerações de análise estática. ...................................................................... 47 Figura 14 - Deformação em pistão 30x20 ............................................................................. 49 Figura 15 - Análise de acúmulo de tensão em pistão 30x20 ..................................................49 Figura 16 - Deformação em pistão 50x25 ............................................................................. 50 Figura 17 - Análise de acúmulo de tensão em pistão 50x25 ..................................................51 Figura 18 - Deformação em pistão 60x30 ............................................................................. 52 Figura 19 - Análise do acúmulo de tensões em pistão do 60x30............................................ 52 iv v LISTA DE SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas CAD – Computered Aided Design (Desenho Assistido por Computador) CAE – Computered Aided Engineering (Engenharia Assistida por Computador) CNC – Computered Numeric Control (Controle Numérico Computadorizado) DIN – Deutsche Industrie Normen (Norma da Indústria Alemã) GLP – Gás Liquefeito de Petróleo ISO – International Standard Organization (Organização Internacional de Normas) PVC – Policloreto de vinila SAE – Society of Automotive Engineers (Sociedade dos Engenheiros Automotivos) v vi RESUMO Avaliando o comércio de componentes de fixação de peças para o processo de usinagem, percebe-se a carência de produtos nacionais com qualidade nivelada com a de produtos importados. É conciliando tal deficiência com o consumo de produtos dessa natureza, que nasce este projeto, com o enfoque de projetar um componente que atenda as necessidades do processo, podendo assim estar disponibilizando um produto para fabricação que descarte a necessidade da importação de cilindros importados. Isso favorece diretamente o consumidor, já que esse terá como vantagens uma redução nos custos de importação, menores prazos de entrega e uma maior facilidade para reposição. Para esse desenvolvimento foram estudados tópicos como usinagem, hidráulica, sistemas de fixação, materiais mecânicos e resistência dos materiais. Enfim, este trabalho foi executado no âmbito do projeto de um componente mecânico que possui como objetivo fixar peças em dispositivos no processo de usinagem seriada, utilizando um fluido hidráulico de alimentação. vi 1 INTRODUÇÃO Na prestação de serviços de usinagem seriada, três são as variáveis que influenciam diretamente na estabilidade do processo: dispositivos de fixação, ferramentas de corte e centro de usinagem CNC. Essas características dependem uma da outra, pois de nada é útil um centro de usinagem de ultima geração com ferramentas de corte com alta tecnologia se o dispositivo de fixação não for construído para atender o que for preciso. Da mesma maneira não é conveniente superdimensionar um dispositivo de fixação se o mesmo irá trabalhar em centro de usinagem precário e com ferramentas de baixa qualidade. (SANDVIK COROMANT, 2005). As máquinas vêm apresentando freqüentes inovações tecnológicas em velocidade nos eixos e na rotação do eixo-árvore, precisões nos movimentos, maior agilidade em troca de ferramentas de corte, menos vibração, CNC mais desenvolvidos; por isso é imprescindível que tanto os dispositivos de fixação quanto as ferramentas de corte acompanhem essa tendência inovadora para que seja possível aproveitar todos os recursos do centro de usinagem disponível. No processo de usinagem, toda peça que for usinada precisa de algum meio de fixação na máquina. Em equipamentos de usinagem convencionais, é utilizado com freqüência morsas ou em caso de tornos placas com castanhas. Já quando se trata de alta produtividade utilizando equipamentos CNC, geralmente é viabilizado o desenvolvimento de sistemas especiais de fixação, dedicados a um único tipo de peça. Neste trabalho são tratados exclusivamente conceitos de fixação em dispositivos de usinagem, bem como as necessidades que o processo de usinagem exige dos componentes de fixação. Não é o foco deste aprofundar em conceitos de ferramentas de corte ou em centros de usinagem. A empresa CR Usinagem, disponibilizou sua estrutura de engenharia para auxiliar no desenvolvimento do projeto. Instalada na Cidade Industrial de Curitiba atua na área de soluções em fixações para usinagem há 12 anos e atende consumidores nacionais e internacionais. Foram utilizados os softwares de CAD (SOLIDWORKS,2005) e CAE (COSMOSXPRESS,2005) da empresa, além de todo material bibliográfico (catálogos, livros e manuais) que a companhia dispõe em seu departamento de engenharia de produto. 2 1.1 IMPORTÂNCIA DO TRABALHO Quando se trata de fixação de peças em processo de usinagem seriada, muitos conceitos devem ser considerados, por exemplo, tipo de alimentação do dispositivo, número de fixadores, disposição de peças no dispositivo, entre outros. Os dispositivos de usinagem devem acompanhar a propensão de diminuir ao máximo o contato humano no processo de fabricação, tendência esta que vem aumentando a cada dia na indústria em geral. Com a visão de alta produtividade, a mínima interferência do operador da máquina durante a usinagem deve ser considerada. Para tal aplicam-se sistemas de fixação automáticos (cilindros) para fixar as peças no processo de usinagem. Existem cilindros comerciais, porém eles possuem elevados preço e prazo de entrega, por serem importados. O desenvolvimento deste trabalho é importante para o consumidor final deste tipo de produto, uma vez que a intenção é disponibilizar o componente com menores preço e prazo de entrega. 1.2 OBJETIVO DO TRABALHO Projetar um componente mecânico com a finalidade de fixar peças mecânicas em dispositivos de usinagem utilizando um sistema hidráulico de alimentação. Esse componente, chamado de cilindro hidráulico, é aplicado em estruturas (dispositivos) construídas para receber a peça dentro do centro de usinagem. 1.3 ESCOPO O projeto do componente deve seguir alguns tópicos que devem ser levados em consideração durante o desenvolvimento. São eles: • O projeto deve seguir padrões de funcionamento de componentes que já existem no mercado, já que será usado em conjunto com equipamentos já existentes no mercado (centro de usinagem); 3 • O custo final de fabricação do componente não pode ultrapassar o valor dos atualmente encontrados no mercado, uma vez que há a preocupação com o valor final do produto; • O prazo de fabricação e entrega deve ser significativamente menor do que a aquisição de um produto importado com a mesma funcionalidade; • Os materiais comerciais aplicados (vedações e parafusos) devem seguir um padrão nacional que seja facilmente encontrado no mercado para caso de reposição; • O fluido utilizado para a alimentação do sistema hidráulico deve ser óleo mineral, uma vez que todos os equipamentos de usinagem que possuem unidade hidráulica para dispositivos são projetados para trabalhar com esse fluido. 1.4 COMPOSIÇÃO DO TRABALHO O desenvolvimento desse documento está dividido em seis partes, conforme descrição a seguir: • Sistemas de fixação: apresentação de conceitos e tipo de sistemas de fixação, comparação entre sistemas manuais e automáticos, testes realizados e dispositivos de fixação; • Usinagem: variáveis de definição e esforços de corte; • Hidráulica: tipos de fluidos hidráulicos, características, aplicações, seleção de fluidos hidráulicos e classificações; • Vedações hidráulicas: seleção de vedação hidráulica; • Cilindro hidráulico: conceitos, apresentação do modelo, análises de cargas, materiais aplicados, dimensionamento; • Análise dos resultados: avaliação geral dos resultados obtidos e conclusões. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Neste capítulo é apresentado o resultado de pesquisas realizadas a fim de definir o conceito do componente, conceitos básicos de usinagem, informações sobre hidráulica e vedações hidráulicas. 4 2.1 SISTEMAS DE FIXAÇÃO A utilização de grampos de fixação em qualquer tipo de produção, seja ela de uma única peça ou de uma série de peças, automatizada ou manual, contribui significativamente para a obtenção de melhoria nos seguintes aspectos: qualidade, tempo de fabricação, repetibilidade, redução da fadiga do operador e sem dúvida a segurança da operação. A seleção correta do tipo de fixação a ser utilizada é de fundamental importância para obtermos os resultados desejados. A busca de soluções baratas via de regra não leva em conta os tempos de set-up, carga e descarga, além de tornar o processo inseguro para o homem e para a máquina, aumentando consideravelmente o custo final do produto. Os tempos não produtivos afetam de forma substancial os custos de produção, e podem ser reduzidos sem grande esforço técnico e com baixo investimento. A repetibilidade é uma das variáveis de maior importância para a garantia de um processo de fabricação lucrativo. Para chegar à estabilidade o dispositivo de fixação deve ser preciso e muito bem projetado, prevendo os esforços de corte, vibrações, tempo de troca de peça, balanceamento do número de peças no dispositivo com o tempo do ciclo de usinagem, entre outros (SPARFIX, 2006). A Figura 1 ilustra a fixação de uma peça utilizando dois cilindros hidráulicos durante o processo de usinagem. Vale observar na figura que ambos os cilindros estão alojados em uma estrutura (dispositivo) assim como a peça a ser usinada. O esforço de corte gerado pela ferramenta deve ser suportado pelos cilindros hidráulicos para evitar que a peça movimente-se durante a usinagem. Usualmente são empregados dois conceitos diferentes de fixação de peças para o processo de usinagem: fixação manual (citada como mecânica) ou fixação hidráulica. Em dispositivos com sistema de fixação mecânica a obtenção de estabilidade do processo torna-se mais difícil. Por se tratar de um sistema de fixação manual, o operador da máquina é o responsável pela fixação da peça no dispositivo. O maior problema é garantir que o dispositivo esteja posicionando a peça sempre da mesma maneira e que esteja distribuindo a carga de fixação correta e de maneira uniforme sobre os pontos de aperto. Quando se trata de dispositivos que fixam mais de uma peça por vez, a situação é ainda mais crítica. Existe a possibilidade do operador da máquina liberar o dispositivo para a usinagem com alguma peça solta, o que pode provocar danos irreparáveis ao equipamento. 5 Figura 1 – Fixação no processo de usinagem Fonte: RÖEMHELD, 2001 Já em dispositivos com sistema de fixação hidráulico a repetibilidade do aperto torna-se mais acessível. Através de cilindros automáticos (seja ele hidráulico ou pneumático), todo o sistema de fixação pode ser controlado pelo CNC (ou por outro controlador de produção), não dependendo mais do operador para fixar a peça. Com a possibilidade de controle por meio de válvulas e pressostatos, não é preciso alocar responsabilidades essenciais do processo ao operador, cabendo ao mesmo apenas fazer a troca de peças prontas por peças que serão usinadas. É possível ainda a aplicação de anti-vibratórios em pontos críticos da peça juntamente com uma seqüência de fixação. Nesse conceito de fixação são utilizados cilindros hidráulicos para prender a peça e para absorver vibrações da mesma quando necessário. Além disso, pode-se prever fixação em pontos onde seriam inacessíveis no caso de dispositivos mecânicos por falta de espaço para chaves e manuseio dos fixadores manuais. Fora esses benefícios, há a questão do tempo de fixação. As figuras 2 e 3 ilustram exemplos de dispositivos de usinagem com sistemas mecânico e hidráulico de fixação. Ao implantar na linha de manufatura dispositivos mecânicos que possuam vários fixadores, há um grande tempo de fixação já que o operador tem que apertar cada fixador individualmente. 6 Figura 2 – Dispositivo hidráulico Fonte: O autor Figura 3 – Dispositivo mecânico Fonte: O autor São cinco as vantagens do sistema de fixação hidráulico e pneumático: 1. Ganho de tempo – o maior benefício do sistema automático de fixação é o tempo economizado na fixação e liberação das peças do dispositivo. Menos tempo de máquina parada significa maior capacidade de produção; 2. Repetibilidade – forças de fixação consistentes proporcionam precisão e repetibilidade na fixação; 3. Ganho de espaço – componentes de fixação quando projetados compactos podem reduzir o espaço necessário quando comparado com sistemas de fixação mecânicos, já que não há a necessidade do aperto com chaves. Desta maneira 7 mais itens podem ser fixados no mesmo dispositivo e usinados simultaneamente em apenas uma fixação; 4. Segurança – menor interferência do operador significa menor chance de acidentes de trabalho; 5. Automação – automatizando parte do processo de fabricação, no caso fixação, o operador fica livre para desenvolver outras atividades. 2.1.1 Fixação mecânica versus fixação hidráulica Muitos fatores devem ser levados em consideração na decisão de usar fixadores mecânicos ou hidráulicos nas peças. Em geral, o sistema hidráulico deve ser usado em aplicações de grandes volumes de fabricação, ou quando tolerâncias críticas devem ser mantidas. Cilindros de fixação mecânica podem ser usados em aplicações de menor volume, ou em procedimentos de desbaste. Por exemplo, o uso de produtos de fixação de peças hidráulicas vai permitir que se mantenha a precisão 1% na força de fixação (ENERPAC, 2002). Isto é obtido com a utilização de pressostatos, bombas com acionamento elétrico e cilindros de fixação e apoio. Esta precisão pode ser necessária quando se faz a usinagem de uma superfície exigindo tolerância rígida, de menos de 0,025mm. A menor variação na força de fixação pode resultar em movimentação ou deflexão maiores do que a tolerância total permitida. Em situações como esta, o investimento em fixação hidráulica é irrecusável, já que na aplicação mecânica existe a dependência do operador da máquina posicionar corretamente a peça, o que para algumas tolerâncias de fabricação foge da repetibilidade de posicionamento. Dispositivos de fixação manual são suficientes quando tolerâncias rígidas não são exigidas, ou quando a peça fundida é grande e nenhuma quantidade de força excessiva de fixação vai causar distorção da peça. Um operador de máquina pode apertar uma porca do prisioneiro sobre o grampo num valor específico de torque com no máximo 10% de precisão, utilizando uma chave manual (ENERPAC, 2002). Isto poderia resultar em diferenças significativas no posicionamento e altura da peça no dispositivo. Entretanto, com uma peça fundida, onde o acabamento exigido não é crítico, isto pode ser aceitável. Ao se comparar os custos de fixação mecânica e fixação hidráulica (Tabela 1), torna-se fácil escolher a opção 8 mais vantajosa. A quantidade de peças no lote de produção também deve ser levada em consideração, juntamente com a economia de tempo e custo dos materiais. A fixação mecânica é mais barata, porém mais demorada quando comparada com a hidráulica. A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos após teste realizado na empresa CR Usinagem no período de 20/03/2005 à 25/03/2005 utilizando uma mandriladora CNC Zocca MF80Z. Foram usinadas peças utilizando dois sistemas de fixação: hidráulico e mecânico. As características controladas nas duas situações foram às mesmas. Tabela 1 - Dados de testes realizados Variável Parâmetro Fixação hidráulica A B C D E F G Quantidade para produção Custo do material da peça Custo do tempo de máquina Custo do dispositivo hidráulico Peça por dispositivo Tempo de carga e descarga Tempo de usinagem Fixação mecânica 60.000 peças R$25,00 R$150 por hora R$30.000,00 4 20 segundos 720 segundos 60.000 peças R$25,00 R$150 por hora R$5.000,00 4 240 segundos 720 segundos Fonte: O Autor Tabela 2 - Análises efetuadas Variável Característica H Tempo (usinagem + carga/descarga) por peça I Fixação Hidráulica Fixação Mecânica G+F E 185 s 240 s Produção diária em função do tempo 8 ⋅ 3600 H 155 peças 120 peças J Custo operacional por peça 8 ⋅ 150 I R$ 7,74 R$10,00 K Custo dispositivo por peça D A R$ 0,50 R$ 0,08 R$ 8,24 R$ 10,08 L Custo produtivo por peça Fonte: O Autor Fórmula de cálculo J + K Avaliando a Tabela 2 (foi considerada 8 horas diárias de trabalho) conclui-se que para dispositivos hidráulicos os tempos de usinagem e carga/descarga são equivalentes a 185 segundos do tempo da máquina por peça. Estes 185 segundos, por peça, são equivalentes à 9 produção de 155 peças por dia de 8 horas, a um custo adicional de R$7,74 por peça em função do custo da máquina de R$150,00 por hora. O custo do dispositivo hidráulico é de R$0,50 por peça. Desta maneira, foi adicionado ao custo da peça apenas R$8,21 ou um aumento aproximado de 33%. Fazendo a mesma análise para um dispositivo com sistema de fixação mecânico, tem-se que os tempos de usinagem e carga/descarga são equivalentes há 240 segundos por peça. Esse tempo equivale à produção de 120 peças por dia de 8 horas, a um custo adicional de R$10,00 por peça, com o custo da hora máquina a R$150,00. O custo do dispositivo mecânico é de R$0,08 por peça. Ou seja, foi adicionado ao custo da peça R$10,06 ou um aumento de aproximadamente 40%. Como visto, partindo de uma visão superficial do problema, a implementação de um sistema mecânico de fixação parece mais acessível, entretanto após uma análise mais profunda, considerando a alta produção, o contrário fica comprovado. 2.1.2 Dispositivos de fixação Dispositivos de fixação são utilizados para posicionar peças em centros de usinagem, seja este horizontal ou vertical. Os fixadores que são acoplados a este dispositivo, podem ser classificados pelas seguintes características: Quanto à alimentação: para que o grampo de fixação automático seja acionado, é necessário alimentá-lo com algum fluido para sua movimentação. Essa alimentação pode ser hidráulica ou pneumática. Quanto ao mecanismo de retorno: os cilindros de fixação podem ser classificados em cilindros de simples e de dupla ação quando observado o mecanismo de retorno do êmbolo. Cilindros de simples ação funcionam com a pressão no embolo (fixação) acionado pelo fluido de alimentação e o retorno (liberação) acionado por uma mola, como ilustra a Figura 3. Já em cilindros de dupla ação tanto a pressão quanto o retorno são acionados pelo fluido. Por se tratar de um componente automático, há a possibilidade de fazer com o que o cilindro gire automaticamente ao se movimentar, facilitando assim a retirada da peça do dispositivo. Avaliando a figura 4 é possível saber como podem ser classificadas as opções de fixação de uma peça durante o processo de usinagem. 10 Figura 4 – Opções de fixação Fonte: O Autor A figura 5 a seguir mostra, basicamente, diferença construtiva entre um cilindro de simples ação e um de dupla ação. O de simples ação possui o retorno do cilindro acionado mecanicamente por uma mola, enquanto o de dupla ação o mesmo fluido que aciona a fixação deve acionar o retorno. Figura 5 – Cilindros de dupla e simples ação Fonte: O Autor 11 2.2 USINAGEM Neste processo de fabricação, duas das mais importantes variáveis são reduções do tempo de preparação e repetibilidade do processo. A primeira refere-se a tempos de troca de ferramentas de corte, troca de dispositivos de fixação, troca de peças no dispositivo, ou seja, todo tempo morto da máquina (tempo em que a máquina fica parada). A segunda depende principalmente de três itens: máquina, ferramenta de corte e dispositivo de fixação. É nos dispositivos de fixação onde é encontrada a maioria das razões da falta de repetibilidade do processo. Um dos aspectos mais importantes do tempo de ciclos na usinagem é o tempo de posicionamento, fixação e liberação de peças. O tempo destas operações pode ser melhorado com o uso de componentes hidráulicos de fixação de peças, permitindo maior eficiência e menores custos. A compreensão do comportamento e da grandeza dos esforços de corte no processo de usinagem é de fundamental importância, pois eles afetam diretamente vários fatores, entre eles a carga necessária para a fixação da peça para o processo. Teoricamente a força de usinagem equivale à força resultante que atua sobre a cunha cortante durante a usinagem. Nem a direção nem o sentido da força de usinagem são conhecidos, tornando-se impossível medí-la. Desta maneira não se trabalha com a força de usinagem propriamente, mas sim com seus componentes segundo diversas direções conhecidas (DINIZ, 2000). Para o dimensionamento de dispositivos de usinagem, no cálculo da força de fixação são consideradas as fórmulas de cálculo utilizadas pela fabricante de cilindros hidráulicos de fixação (ENERPAC, 2002): Fc = Pot ⋅ 48000 Vc Onde: Fc = Força de corte [N] Pot = potência da máquina com 80% de eficiência [kW] Vc = velocidade de corte [m/min] (1) 12 MRR = W ⋅ D ⋅ R ⋅ N ⋅ RPM 1000 (2) Onde: MMR = taxa de remoção do material [cm3/min] W = largura do corte [mm] D = profundidade do corte [mm] R = avanço por dente [mm] N = número de dentes na ferramenta RPM = velocidade do fuso da máquina RPM f = MPM ⋅ 1000 π ⋅d (3) Onde: RPM f = rotação da ferramenta de corte [rpm] MPM = velocidade de superfície da ferramenta de corte [m/min] d = diâmetro da ferramenta [mm] Fabricantes internacionais de cilindros de fixação (ENERPAC e RÖEMHELD) indicam que para sistemas de fixação mecânica é usual um coeficiente de segurança igual a 2 enquanto que para sistemas hidráulicos o valor é de 1,5; isso devido a uma maior confiabilidade no sistema hidráulico. A força necessária para fixar a peça com segurança é igual ao produto da força de corte pelo coeficiente de segurança determinado. As equações 1, 2 e 3 são utilizadas para quantificar a força de corte. Ainda, ao se projetar um sistema de fixação hidráulico, deve-se considerar o seu funcionamento utilizando apenas 50 a 75% de sua pressão máxima de trabalho (ENERPAC, 2002). Isto deixa reserva para uma futura otimização do processo, quando houver necessidade de mais força de fixação para mais avanço e maiores velocidades. Isto porque se o dispositivo for projetado para valores máximos, não existe qualquer reserva, limitando o sistema. 13 2.3 HIDRÁULICA A hidráulica é o ramo da ciência que estuda os fluidos em movimento e suas aplicações práticas. A transmissão de força ou movimento, através de um fluido sob pressão em um sistema hidráulico, é empregada em uma grande variedade de aplicações. Nenhum outro meio combina o mesmo grau de versatilidade de utilização, precisão, segurança e flexibilidade de controle de pressão e seqüência, com a capacidade de transmitir forças muito grandes, por sistemas leves e compactos (FOX, 2001). O princípio básico que rege a hidráulica é a Lei de Pascal: “A pressão aplicada sobre um ponto de equilíbrio, confinado num recipiente fechado, se transmite integralmente em todas as direções dentro da massa fluida”. Na prática, isso significa que os líquidos, por serem incompressíveis, podem transmitir e multiplicar forças e realizar trabalho. Isso é realizado através dos componentes de um sistema hidráulico. Existem duas formas básicas de transmissão de força hidráulica: hidrostática e hidrodinâmica (IPIRANGA, 1988). Os sistemas hidrostáticos utilizam uma bomba de deslocamento positivo que pressiona o fluido para dentro do sistema. A força é transmitida pela pressão do fluido, sem grandes alterações na velocidade do mesmo. Este tipo de sistema é empregado basicamente para transmissão e multiplicação de forças, havendo grande variedade de formas e funções, sendo usado para operar e controlar máquinas, praticamente em todos os segmentos da indústria. Os sistemas hidrocinéticos ou hidrodinâmicos utilizam a energia cinética gerada pelo movimento do fluido em um sistema, para obter trabalho útil. A velocidade do fluido aciona as partes de um motor ou turbina hidráulica, obtendo-se assim força e energia. Os acoplamentos fluidos e conversores de torque utilizam este tipo de sistema. Como este projeto trata do desenvolvimento de um cilindro hidráulico que deve ser alimentado com o fluido por meio de uma bomba hidráulica, este sistema é considerado hidrostático. 2.3.1 Circuitos hidráulicos Muitos sistemas hidráulicos parecem extremamente complicados, porém, sua configuração básica é bastante simples. A despeito de sua complexidade ou simplicidade, os 14 circuitos hidráulicos possuem quatro componentes essenciais: um tanque (reservatório) que armazena o fluido; uma bomba para fornecer ao fluido, energia e pressão, que serão transformados em energia mecânica pelo atuador (a bomba é acionada por um motor elétrico ou outra fonte de energia mecânica); válvulas que controlam a vazão e pressão do fluido; um atuador que transforma energia de pressão em energia mecânica (cilindro ou pistão para fornecer força ou movimento linear, atuador rotativo ou motor para produzir torque e movimento rotativo). Os sistemas hidráulicos podem ser projetados de forma a produzir praticamente qualquer combinação de forças ou movimentos. Desta maneira, a quantidade de componentes utilizados e o arranjo do mesmo no circuito, variam conforme a aplicação e efeitos de trabalho desejados. 2.3.2 Tipos de fluidos hidráulicos Existem diversos tipos de fluidos utilizados em sistemas hidráulicos. A seguir é apresentada uma breve introdução de cada tipo e o foco em óleo mineral, que é o fluido utilizado no acionamento do componente projetado. 2.3.2.1 Água A água é excelente fluido quanto à transmissão de energia (elevado coeficiente volumétrico), com um alto poder refrigerante. É inerte e não contaminante do ambiente nos casos de vazamento, sendo quimicamente compatível com quase todos os materiais dos retentores, além de ser absolutamente não inflamável. A água continua sendo um recurso lógico para os sistemas que não reciclam ou que necessitam de um volume muito grande de fluido, para sistemas com perdas inerentes e muito elevadas e para condições que implique em risco de segurança na operação (inflamabilidade, toxides e contaminação), como por exemplo os sistemas hidráulicos de alguns equipamentos que operam em minas subterrâneas. Entretanto, não é adequado para ambientes com temperaturas elevadas, devido ao seu baixo ponto de ebulição e grande velocidade de evaporação. Principais inconvenientes da água: a) Não possui características lubrificantes; 15 b) Provoca a corrosão dos componentes e das tubulações; c) Tem uma viscosidade muito baixa, dificultando a estanqueidade e reduzindo o rendimento do sistema; d) Possui um ponto de congelamento elevado (0º C), podendo causar danos consideráveis no caso de congelamento, devido à dilatação do fluido no sistema; e) Possui baixo ponto de ebulição, limitando a faixa de operação. Os três primeiros inconvenientes citados podem ser compensados através de aditivos, embora não se deva considerar a água um fluido adequado para os sistemas hidráulicos atuais, a não ser para casos excepcionais citados e para os especialmente projetados e construídos para o seu uso, tanto pelos seus inconvenientes próprios como pelo menor rendimento obtido em comparação com outros tipos de fluidos hidráulicos. 2.3.2.2 Emulsões de água e óleo São usados em sistemas que normalmente são projetados para usar água como fluido hidráulico. A adição de óleo solúvel na água, normalmente na proporção de 1 a 5% de óleo em volume, serve para melhorar as propriedades lubrificantes e proteger componentes do sistema contra a ferrugem (IPIRANGA, 1988). Os sistemas que utilizam emulsões de óleo em água requerem bombas, válvulas e outros componentes especiais, estando sua faixa de temperatura de operação limitada até 65ºC as considerações deste tipo de fluido no que diz respeito às aplicações e às restrições são as mesmas comentadas anteriormente para a água (IPIRANGA, 1988). 2.3.2.3 Óleos Minerais Os óleos minerais a base de petróleo são os mais utilizados em circuitos hidráulicos. Normalmente são óleos fabricados a partir de básicos selecionados, que passam por processos de refinação e tratamento, podendo ser utilizados nos mais diversos tipos de sistemas e nas mais exigentes condições operacionais, com as seguintes características principais (IPIRANGA, 1988): a) São compatíveis com a maioria dos materiais comumente utilizados nos sistemas; 16 b) Possuem características de viscosidade que satisfazem os requisitos exigidos pela bomba hidráulica e os outros componentes do sistema; c) São utilizados em ampla faixa de temperatura; d) Têm boas características lubrificantes, suportando altas cargas e evitando o desgaste das partes móveis; e) Protegem as superfícies metálicas contra a corrosão e ferrugem; f) São resistentes à formação de espuma e à absorção do ar, separando-se facilmente da água; g) Possuem boa estabilidade química em altas temperaturas, trabalhando por longos períodos no sistema sem deterioração ou formação de borras e depósitos prejudiciais; h) São de baixo custo relativo. Além disso, aos óleos minerais podem ser adicionados aditivos químicos que permitem adaptá-los para utilização em condições especiais de serviço, assegurando uma melhor performance ao sistema hidráulico. Os principais tipos de óleos hidráulicos minerais são: a) Óleos não aditivados: Devido a seu menor custo, são normalmente usados em sistemas onde existem grandes perdas de óleo, em serviços de baixas pressões e onde não exista severidade ou responsabilidade na operação. Sua característica de desgaste em comparação com os óleos aditivados é uma maior oxidação quando sujeitos às altas temperaturas. A qualidade destes óleos pode variar conforme o tipo de óleo básico utilizado e o processo de refrigeração e tratamento utilizados. b) Óleos aditivados: São os tipos de fluidos hidráulicos mais utilizados. Apresentam um custo maior que os óleos não aditivados, pois são produzidos a partir de óleos básicos selecionados e altamente refinados, além de possuírem aditivos antiferrugem, anti-oxidante, anti-espumante, antidesgaste e desumidificante. Em alguns tipos, utilizam-se também aditivos abaixadores de pontos de fluidez, melhorador do índice de viscosidade, detergente/dispersante e antigotejante. A qualidade e performance desses óleos podem variar conforme o óleo básico, os tipos e a quantidade dos aditivos utilizados. c) Óleos tipo automotivo: Este tipo de óleo é normalmente usado em equipamentos tipo Móbile (tratores e caminhões) onde, por conveniência e condições 17 operacionais, utiliza-se o mesmo tipo de óleo lubrificante do motor ou da transmissão, na viscosidade adequada. Também são utilizados como fluido hidráulico industrial, como alternativa na falta do óleo hidráulico industrial regular. 2.3.2.4 Fluidos Água-Glicol As soluções de água-glicol da mistura de 30 a 60% de água com etileno ou propileno glicol estão sendo utilizadas em sistemas onde existam riscos de incêndio ou que operem em temperaturas muito baixas. A resistência ao fogo e ao congelamento desta solução é proporcional a quantidade de água. Com menor proporção de água, a resistência ao fogo decresce, e a viscosidade e a resistência ao congelamento aumentam. Desta forma, devem ser feitas análises freqüentes do fluido, para que não seja afetado o funcionamento do sistema. A vida útil deste fluido é menor do que a do óleo mineral ou dos fluidos sintéticos. 2.3.2.5 Emulsões de Óleo em Água São usadas em sistemas hidráulicos onde existam riscos de incêndio, sendo o fluido resistente ao fogo mais barato. Este tipo de fluido, também conhecido como “emulsão invertida”, consiste basicamente numa solução de óleo mineral, água na proporção de 40 a 60% e um agente emulsificante. Pequenas variações na percentagem de água acarretam grandes variações na viscosidade da solução e na sua capacidade de extinguir chamas. Em geral, suas aplicações são limitadas a sistemas ou componente que não possuem grandes tensões de deslizamento localizado, como por exemplo, bombas de palhetas de alta velocidade e grandes pressões ou mancais de rolamentos. A vida útil dos componentes é menor do que quando se usam óleos minerais, dependendo esta redução do ciclo de trabalho, temperatura e percentagem de água contida no fluido (IPIRANGA, 1988). 2.3.2.6 Fluidos Sintéticos Os fluidos sintéticos, normalmente a base de fosfato de ésteres, ésteres complexos, aromáticos de alto peso molecular, cloridratos de hidrocarbonetos, possuem estruturas 18 químicas que oferecem resistência à propagação do fogo. Possuem boas propriedades de lubrificação, sendo comparáveis aos óleos minerais quanto às características de desempenho hidráulico. Os fluidos sintéticos têm um coeficiente volumétrico mais elevado que os outros fluidos, sendo mais resistentes quanto aos efeitos da compressibilidade em altas pressões. Geralmente não são corrosivos, mas sob certas condições atacam o alumínio e suas ligas; não protegem contra a oxidação das superfícies de metais ferrosos tanto quanto os óleos minerais (IPIRANGA, 1988). Os fluidos sintéticos indicados para sistemas que operam em altas temperaturas, podendo trabalhar até 150ºC sem degradação. Possuem grande vida útil, com baixo custo de manutenção. Os princípios inconvenientes dos fluidos sintéticos é o seu elevado custo de aquisição e sua incompatibilidade com a maioria dos tipos de elastômeros utilizados em vedações e juntas, pinturas e materiais isolantes do sistema elétrico (IPIRANGA, 1988). Os fluidos sintéticos são empregados principalmente em sistemas hidráulicos de aviação, onde o custo adicional do produto é secundário frente a resistência ao fogo no caso de vazamentos ou avarias do sistema. Normalmente são indicados para sistemas hidráulicos que trabalham em condições severas ou de grande precisão, pois o custo elevado do fluido requer um sistema absolutamente livre de vazamentos em condições normais de funcionamento (IPIRANGA, 1988). 2.3.2.7 Fluidos de Silicone Os silicones são fluidos bastante caros, quase proibitivos para aplicações que não são muito especializadas. São adequados para trabalho em altíssimas temperaturas (até 360 ºC), além de possuírem um índice de viscosidade muito elevado, que mantém sua viscosidade a níveis aceitáveis nas temperaturas mais altas. Os fluidos exclusivamente a base de silicones apresentam grandes limitações quanto as propriedades lubrificantes e antidesgaste, assim como certo grau de incompatibilidade com alguns metais em altas temperaturas e com alguns tipos de elastômeros. Para trabalhar em temperaturas superiores a 150 ºC são os únicos fluidos disponíveis no mercado. Todos os fluidos de silicone são resistentes ao fogo, porém, por seu custo ser maior que dos fluidos sintéticos, sua escolha não deve ser baseada exclusivamente nesta propriedade (IPIRANGA, 1988). 19 2.3.2.8 Óleos Vegetais O uso de óleos vegetais a base de mamona ou ricínio em sistemas que trabalham em baixas temperaturas já foi muito difundido. A razão era que tais fluidos podiam ser utilizados com juntas e vedações de borracha natural, sem deterioração das mesmas. Como as atuais vedações a base de elastômeros possuem melhores características em baixas temperaturas, esta vantagem não é mais levada em conta, embora fluidos a base de óleos vegetais ainda sejam utilizados em determinados sistemas (por exemplo, como fluido de freio para veículos) (IPIRANGA, 1988). Os fluidos a base de óleos vegetais oferecem a vantagem de possuírem um elevado coeficiente volumétrico (baixa compressibilidade), sendo indicados para aplicações onde existam pressões muito elevadas. Também são bons lubrificantes, ainda que não melhores que os óleos minerais ou sintéticos (IPIRANGA, 1988). 2.3.3 Seleção de fluidos hidráulicos A seleção correta de um fluido hidráulico para um determinado sistema, deve-se basear no conhecimento prévio do tipo de bomba, nas condições de funcionamento, características operacionais e de projeto e aplicações do sistema. Normalmente, os fabricantes dos sistemas hidráulicos já determinam em projeto o tipo e as características que o fluido deverá possuir para fazer o sistema funcionar em condições ideais. Na prática, devido às condições ambientais, operacionais e de manutenção, torna-se necessário adequar o fluido para se obter melhor rendimento. As características dos fluidos têm um importante efeito sobre a seleção do fluido adequado, sendo que cada característica particular de um determinado fluido pode alterar ou influenciar as condições de projeto, operação, manutenção e rendimento global dos sistemas. Os principais requisitos que um fluido hidráulico deve possuir são (IPIRANGA, 1988): a) Boa fluidez a baixas temperaturas; b) Não se inflamar em altas temperaturas; c) Ter a mínima variação de viscosidade com a temperatura; d) Proteger superfícies metálicas contra a corrosão e ferrugem; 20 e) Ser quimicamente estável; f) Lubrificar e proteger contra o desgaste as partes em movimento; g) Ser compatível com os materiais componentes do sistema; h) Alto coeficiente de transferência de calor; i) Custo acessível; j) Separar-se com facilidade da água; k) Não formar espuma; l) Liberar o ar absorvido rapidamente; m) Não ser tóxico ou poluente. A consideração básica na seleção de um fluido hidráulico é a sua qualidade, conforme aspectos citados acima. Deve manter-se por um longo período em serviço e possuir características que reduzam a manutenção e aumentem o desempenho do sistema. A qualidade do fluido é fundamental nas instalações criticas e de alta confiabilidade; em instalações não criticas e onde existam grandes perdas, a utilização de um fluido mais econômico ou com características intermediárias, pode ser a escolha mais adequada. 2.3.3.1 Características físico-químicas para a seleção de um fluido hidráulico As características físicas químicas mais importantes para a seleção de um fluido hidráulico são viscosidade, índice de viscosidade, estabilidade à oxidação, demusibilidade, proteção antidesgaste, baixo ponto de fluidez, proteção contra corrosão e ferrugem (IPIRANGA, 1988). VISCOSIDADE: é a medida da resistência oferecida por qualquer fluído (líquido ou gás) ao movimento ou ao escoamento. É a propriedade principal de um lubrificante, pois está diretamente relacionada com a capacidade de suportar cargas, ou seja, quanto mais viscoso for o óleo, maior será carga suportada. A viscosidade é a conseqüência do atrito interno de um fluído, isto é, da resistência que um fluído oferece ao movimento, daí a sua grande influência na perda de potência e na intensidade de calor produzido nos mancais. A viscosidade de um óleo varia com a temperatura, sendo inversamente proporcional à mesma (LUBRINORTE, 2005). O fluido deve ter uma viscosidade alta o suficiente para prover uma lubrificação 21 adequada em temperaturas elevadas, sem causar funcionamento irregular do sistema pela perda de carga excessiva através dos componentes. Deve ter uma viscosidade baixa o suficiente para permitir um fluxo adequado nas partidas a baixas temperaturas e penetrar entre as folgas dos componentes para lubrificá-los sem causar perdas por vazamentos ou cavitação na aspiração da bomba. Como referência, a classificação de viscosidade ISO referente a óleos industriais estabelece uma série de 18 graus de viscosidade cinemática a 40ºC. Os números que designam cada grau de viscosidade ISO representam um ponto médio de uma faixa de viscosidade (Tabela 3). A faixa de temperatura de operação de um fluido hidráulico varia entre 15 a 65ºC. Se o fluido é submetido a temperaturas fora desta faixa, recomenda-se usar um aquecedor ou resfriador no sistema. O ideal é manter o fluido numa temperatura em torno de 40ºC. Como orientações gerais são recomendados e aceitos pela maioria dos fabricantes de bombas hidráulicas, os limites de viscosidade, mostrados na Tabela 4. Tabela 3 - Classificação de óleos industriais (viscosidade) Grau de viscosidade ISO – VG Limite de Viscosidade cSt a 40ºC Min Max Grau de viscosidade ISO – VG Limite de Viscosidade cSt a 40ºC Min Max 2 1,98 2,42 68 61,2 74,8 3 2,88 3,52 100 90 110 5 4,14 5,06 150 135 165 7 6,12 7,48 220 198 242 10 9 11 320 288 352 15 13,5 16,5 460 141 506 22 19,8 24,2 680 612 748 32 28,8 35,2 1000 900 1100 46 41,4 50,6 1500 1350 1650 Fonte: IPIRANGA, 1988 Tabela 4 - limite de viscosidade do fluido em bombas hidráulicas Mínima viscosidade do fluido na temperatura de operação 10 cSt Máxima viscosidade do fluido na temperatura de operação Bombas de pistões 65 cSt Bombas de engrenagens 215 cSt Máxima viscosidade do fluido na temperatura de partida Bombas de pistões axiais 215 cSt Bombas de pistões radiais, de engrenagens e de palhetas Fonte: IPIRANGA, 1988 860 cSt 22 O ÍNDICE DE VISCOSIDADE: é um valor numérico que indica a variação da viscosidade em relação à variação de temperatura. Fluidos com alto índice de viscosidade possuem uma pequena variação da viscosidade com a temperatura. O índice de viscosidade tem grande importância para fluidos que trabalham em sistemas que não possuem um controle adequado ou que estão sujeitos a grandes variações de temperatura (IPIRANGA, 1988). ESTABILIDADE À OXIDAÇÃO: oxidação é a causa principal da deterioração química de um óleo mineral ou sintético. A oxidação é ativada pelo calor, pela reação do oxigênio do ar (acelerada com a agitação do fluido) e pela presença de contaminantes e partículas metálicas, que podem atuar como agentes catalisadores. A resistência de um óleo mineral à oxidação varia muito conforme o tipo de óleo básico utilizado e os tratamentos de refino que ele recebe. Para uma longa vida em serviço, livre de problemas operacionais e de manutenção, um alto grau de estabilidade à oxidação é essencial num bom fluido hidráulico (IPIRANGA, 1988). DEMULSIBILIDADE: é a capacidade que um fluido tem de se separar rapidamente da água. Um fluido hidráulico deve possuir boa demulsibilidade, para que a água livre presente no sistema possa ser drenada. Água no sistema hidráulico provoca ferrugem e corrosão dos componentes, além de causar a separação dos aditivos, diminuindo a vida útil do fluido. (IPIRANGA, 1988). PROTEÇÃO ANTIDESGASTE: o fluido hidráulico deve lubrificar as partes em movimento dos componentes do sistema e reduzir o seu desgaste (IPIRANGA, 1988). BAIXO PONTO DE FLUIDEZ: a menor temperatura na qual o fluido escoa, é denominada ponto de fluidez. Em condições de operação em baixas temperaturas, um fluido hidráulico deve manter satisfatoriamente sua fluidez, a fim de não se congelar ou causar restrições a circulação da bomba aos componentes de trabalho. Para esta propriedade do fluido, deve-se levar em consideração a menor temperatura na qual o sistema irá operar e aí então selecionar um óleo hidráulico com ponto de fluidez inferior a esta temperatura (IPIRANGA, 1988). PROTEÇÃO CONTRA A CORROSÃO E A FERRUGEM: é muito difícil manter um sistema hidráulico convencional livre da água e de outros contaminantes. A maioria dos sistemas possui componentes feitos de materiais ferrosos, que tem tendência à oxidação e aos ataques corrosivos sob certas condições, ocasionando muitos problemas ao funcionamento do sistema. Os óleos minerais, entre todos os fluidos, são os que possuem as melhores características de prevenção da corrosão e ferrugem (IPIRANGA 1988). Para o acionamento de sistemas hidráulicos de fixação de peças no processo de usinagem seriada, é utilizado óleo hidráulico mineral, sem aditivos. Esse óleo é selecionado 23 partindo das características da tabela 5 abaixo. Destaca-se ainda a característica que a maioria dos atuadores hidráulicos (bombas) é projetada para trabalhar com esse tipo de fluido. Tabela 5 – Características de fluidos Fluido Preço Viscosidade Características lubrificantes Ponto de ebulição Rendimento Água Emulsões de água em óleo Óleos minerais Emulsões de óleo em água Fluidos sintéticos Fluidos de silicone Óleos vegetais Muito baixo Baixo Baixo Baixo Alto Muito Alto Baixo Muito Baixa Baixa Alta Baixa Alta Muito Alta Alta Muito Baixo Baixo Alto Muito Baixo Alto Alto Alto Muito Baixo Baixo Alto Baixo Alto Muito Alto Baixo Muito Baixo Baixo Alto Baixo Alto Muito Alto Baixo Fonte: O Autor 2.4 VEDAÇÃO Dentre os inúmeros tipos e variedades de borrachas existentes no mercado brasileiro, caracteriza-se a borracha nitrílica como a mais utilizada nos diversos setores da atividade industrial. É uma borracha sintética obtida da polimerização de Butadieno com o Nitril Acrílico. O termo Buna vem das iniciais de Butadieno e Nitrium (sódio), matéria prima e catalisador no processo original. Recomenda-se o uso de Buna-N nas vedações em geral, óleos à base de graxa, água, óleo de silicone, lubrificantes à base de éster, fluidos à base de etileno glicol, freon 11 e 12, GLP e gasolina (SAE J120R Classe 1) (GRUPO WEB MASTER, 2005). A borracha nitrílica começou a ser usada pela indústria devido a uma série de solicitações. Com a II Guerra Mundial, praticamente toda a produção ficou canalizada para fins militares, e hoje abrange todo parque industrial na fabricação de peças. A principal característica destes elastômeros é sua resistência ao óleo. Esta resistência refere-se à capacidade do produto vulcanizado em conservar suas propriedades físicas originais tais como tensão de ruptura, resistência à abrasão e estabilidade dimensional quando em contato com óleos e combustíveis de modo geral. Esses elastômeros nitrílicos, pelas suas características, são usados numa linha muito variável de produtos, como: mangueiras para óleos e solventes, retentores, gaxetas, juntas, tubos, anéis o-ring, revestimentos de cilindros e de tanques (RED, 2005). Quando misturados com PVC, apresentam propriedades interessantes para artigos que 24 requerem resistência a óleos, a intempéries e a abrasão. A associação com PVC é positiva, dado que as borrachas nitrílicas são de natureza polar e servem como adesivos de peça de PVC entre si e de PVC com metal e colagem de sapatos. Estas misturas são resistentes ao ozônio e às intempéries e apresentam maior brilho nos extrudados e moldados, bem como permitem obter cores brilhantes, além de resistirem à abrasão e a óleos. Os vulcanizados de borracha nitrílica são apropriados para desempenhos até 121ºC sob uso contínuo e em determinadas condições (imersão em óleo e ausência de ar) (ANEIS RCS, 2005). Para o bom desempenho dos vedadores, é de extrema importância, na especificação de seu material que o mesmo seja compatível com o fluido a ser vedado e que a temperatura de trabalho não ultrapasse os valores admissíveis. É importante lembrar que nos vedadores dinâmicos, no lábio de vedação há um acréscimo de temperatura provocado pelo atrito entre o lábio e a superfície deslizante, que para este projeto será considerado irrelevante, visto que o movimento do cilindro na camisa é de pequeno curso e não chega a provocar aquecimentos significativos nos componentes. Em sistemas onde o fluido a ser vedado não tem características de lubrificação recomenda-se projetar uma fonte de lubrificação. Em certos sistemas é preferível que haja uma pequena perda de lubrificante a deixar que o lábio de vedação trabalhe seco. A dureza do lábio de vedação também afeta o desempenho dos vedadores, uma vez que materiais com baixa dureza vedam mais facilmente em superfícies ásperas e melhor se amoldam ao sistema, embora sejam sensíveis ao desgaste, à abrasão e à extrusão. Portanto, a dureza tem valor significativo na adaptação do material de vedação ao tipo de vedador ou à determinada aplicação. Para a vedação do fluido será utilizado o vedador o’ring. Este tipo de anel é o mais versátil de todos os vedadores e estão presentes na maioria dos sistemas de vedação. As vedações com este tipo de vedador podem ser estáticas ou dinâmicas, estando as dinâmicas sujeitas a movimentos alternativos, a movimentos rotativos ou a uma combinação de ambos. São aplicados principalmente na hidráulica e na pneumática. São confeccionados em borracha nitrílica com dureza de 70 shore A, podendo trabalhar em temperaturas que variam de –50ºC a +110ºC. Este tipo de vedação suporta pressões de até 250bar. 25 2.5 ESCOLHA DE COMPONENTES COMERCIAIS Os componentes que não são detalhados no projeto de fabricação (parafusos, esferas, fluidos e vedações), são comerciais e encontrados facilmente em lojas especializadas. A escolha desses itens segue catálogos fornecidos pelos fabricantes dos respectivos produtos. Os itens comerciais e padronizados foram definidos somente através de especificações. O estudo mais aprofundado deles não faz parte do escopo do trabalho. No caso da vedação, a loja Anéis RCS fornece catálogo específico de todas as dimensões necessárias para especificação do tamanho da vedação bem como as dimensões dos alojamentos da vedação escolhida. Os anéis “o” não exigem tolerâncias construtivas dos alojamentos muito apertadas, ficando geralmente na faixa de décimo de milímetro. Esses anéis são fáceis de encontrar no mercado e possuem um custo reduzido comparado com demais vedações. O fluido hidráulico escolhido, óleo mineral, também é de fácil aquisição. Comparando com demais fluidos hidráulicos (sintéticos e de silicone) possui preço inferior e atende a todas as exigências do projeto (seção 2.3). Ressalta-se ainda que a maioria dos componentes hidráulicos comerciais (cilindros, bombas, etc.) trabalha com esse tipo de fluido. 26 3 CILINDRO HIDRÁULICO O cilindro hidráulico é um conjunto composto de diversos itens, alguns comerciais outros que necessitam ser fabricados. São eles: • Pistão (haste); • Camisa; • Tampa; • Parafusos de fixação; • Anéis de vedação; • Esferas A Figura 6 mostra uma imagem do conjunto montado e a uma vista de um corte no centro desse. Figura 6 – Conjunto montado do cilindro hidráulico Fonte: O Autor 27 3.1 DIMENSIONAMENTO Todos os componentes do conjunto foram dimensionados partindo do pistão, que foi definido em função de diâmetros de êmbolos já existentes. Como a intenção é projetar um componente que possua a mesma funcionalidade que os existentes no mercado industrial, tentou-se ao máximo manter as características dimensionais do cilindro com os padrões comerciais. No apêndice desse trabalho estão todos os desenhos técnicos dos cilindros. O dimensionamento do pistão, que é o componente que determina a força de fixação produzida pelo cilindro, baseou-se principalmente nos esforços produzidos pelo processo de usinagem. Os principais fabricantes de cilindros hidráulicos trazem em seus catálogos as cargas produzidas pelos seus cilindros. Foi baseado nessa informação, da necessidade de força, que foi dimensionado esse componente. Características como o curso do pistão e o giro do mesmo ao se movimentar também seguiram exemplos já existentes. Neste componente é montado apenas um anel de vedação, que seguiu parâmetros de catálogo do fabricante desse, que é alojado no êmbolo do pistão. A função deste anel é a de impedir que ocorra qualquer tipo de ligação entre a linha de pressão e a linha de retorno (Figura 7). Figura 7 – Ilustração do sistema de alimentação Fonte: O Autor 28 Do funcionamento do componente, está previsto no pistão a usinagem de três canais que determinarão o giro do pistão durante seu movimento. A esfera está montada entre a camisa e o pistão, sendo que nesse ela fica alojada dentro de um canal esférico. Conforme o fluido é injetado na câmara (pressão ou retorno) da camisa, a esfera fará com que o pistão gire seguindo o canal. Dependendo da necessidade pode-se montar a esfera em um dos três canais, escolhendo a melhor configuração em função da sua aplicação (ver Figura 8). Figura 8 – Giro do pistão Fonte: O autor. A camisa do cilindro foi dimensionada a partir do pistão. Como a função da mesma é alojar as galerias de alimentação do fluido e servir como guia do pistão, tentou-se compactar ao máximo as suas dimensões externas. Neste componente estão os furos por onde passa o fluido, o alojamento da esfera de giro, anel de vedação da haste do pistão, esferas de vedação e furos de fixação do cilindro para o dispositivo. A tampa foi projetada com a função de isolar a galeria interna da camisa com o meio externo. É por meio desse componente que é feita a alimentação do cilindro. A fixação da tampa à camisa do cilindro é feita por meio de parafusos comerciais. 3.2 SELEÇÃO DO MATERIAL DOS COMPONENTES A seleção do material aplicado aos componentes foi definida levando em consideração a necessidade especifica de cada item. Isto envolve características como, custo e 29 disponibilidade mais favoráveis, para incorporá-los num projeto que seja seguro, confiável e compatível com a necessidade de cada um. Além disso, foram levados em consideração propriedades como tratamento térmico, tratamento superficial, resistência mecânica, etc. 3.2.1 Material do Pistão Para o pistão algumas características foram consideradas como principais, para a seleção correta do material do qual o componente será fabricado: • Resistência à abrasão: como o pistão desliza no interior da camisa, o mesmo deve ser construído de um material resistente à abrasão e com determinada dureza superficial, para proteger contra o desgaste por abrasão e manter assim as dimensões originais por um longo tempo de trabalho. • Resistência mecânica: é para este componente que o grampo que prende a peça transfere todos os esforços. Para tanto, a haste do cilindro deve ter uma boa resistência à tração, à flexão e ainda uma dureza superficial elevada, para que ao fixar o grampo o mesmo não crave na haste nem a deforme. • Boa usinabilidade: esta característica é importante para todos os componentes do elemento, já que todas as peças serão usinadas e está sendo visado um componente de baixo custo (inclusive de produção). • Tratamento térmico: para se atingir a dureza superficial admitida, o cilindro deve passar por um processo de cementação (tratamento termoquímico em que se promove o enriquecimento superficial com carbono), dando assim maior dureza a camada superficial do mesmo. Com isso consegue-se uma maior resistência à abrasão. • Deformação: como durante o processo de usinagem o componente está sob forças de tração, o mesmo deve ter a resistência necessária para não se deformar durante o processo. A Tabela 6 a seguir mostra os aços recomendados para cementação, suas principais características e a aplicação. 30 Tabela 6 – Descrição de aços para cementação. Qualidades Características Equivalentes Aplicações ABNT 4320; AISI Boa forjabilidade e soldabilidade e má 4320; SAE 4320 usinabilidade. Aplicado na cementação. Temperabilidade alta, tenaz, utilizado em pinhões, coroas dentadas, cruzetas, capas de rolamento, terminais de direção. Boa temperabilidade e usinabilidade. Possui Engrenagens, eixos, parafusos, buchas, ABNT 8620; AISI ótima forjabilidade e soldabilidade. Núcleo acoplamentos, rolamentos de rolos, pinças 8620; SAE 8620 tenaz após cementação. Dureza na condição para máquinas-ferramenta, cruzetas, pinos temperada varia de 37 a 43 HRc. de pistão, diferenciais. Média temperabilidade. Forjável e soldável. Endurecimento superficial, eixo ranhurado. DIN 20MnCr5; Boa temperabilidade e usinabilidade. Possui Nos casos em que se deseja endurecimento ABNT 5119 ótima forjabilidade e soldabilidade. superficial por cementação. DIN 16MnCr5; ABNT 5115 Fonte: GERDAU, 2005. Levando em consideração as informações citadas foi desconsiderada a aplicação do aço ABNT 4320 devido à sua má usinabilidade. O aço ABNT 5115 e ABNT 5119 foram descartados devido ao elevado custo de aquisição ao se comparar com o aço ABNT 8620. Dentre os aços citados foi escolhido o aço ABNT 8620 devido à sua boa usinabilidade, facilidade de encontrar no mercado e, em comparação com os demais, o baixo custo de aquisição. A Tabela 7, a seguir, ilustra a composição química deste tipo de aço. Tabela 7 - Composição química do aço ABNT 8620 Elemento químico Porcentagem na composição química Carbono – C 0,18 a 0,23% Manganês – Mn 0,70 a 0,90% Fósforo máximo – P 0,035% Enxofre máximo – S 0,040% Silício – Si 0,15 a 0,35% Níquel – Ni 0,40 a 0,70% Cromo – Cr 0,40 a 0,60% Molibdênio – Mo 0,15 a 0,25% Fonte: LAMOTERMIC, 2005 31 Segundo a classificação ABNT NBR NM87/2000 este tipo de aço está classificado como um aço cromo-níquiel-molibdênio de baixa liga, pois possui menos que 0,25% de carbono em sua composição química. Este tipo de aço é recomendado quando há a necessidade de cementação, que aumenta a dureza superficial do material. Dentre os métodos para a transformação de superfícies de materiais metálicos, com o intuito de lhes atribuir maior desempenho quanto ao desgaste, os métodos difusivos são, sem dúvida, os mais usados e conhecidos no meio industrial. Entre esses métodos encontra-se o processo de cementação. 3.2.2 Material da Camisa e Tampa A camisa do cilindro é um dos componentes que não exige especificidades com relação a esforços mecânicos. Isso porque o componente que estará recebendo diretamente o esforço de fixação é o pistão. À camisa cabe a função de alojar o fluido de alimentação e servir como guia de deslizamento para o pistão. Na mesma condição de resistência se encontra a tampa do cilindro. Para esses componentes foi escolhido como material de fabricação o aço ABNT 1045. Segundo a classificação quanto à composição, este tipo de aço é considerado de médio carbono, pois tem em sua estrutura química um percentual de carbono entre 0,3 e 0,5%. (CALLISTER, 2002). Possui uso geral em aplicações que exigem resistência mecânica superior ao aço ABNT 1020. Possui tensão de escoamento entre 600 e 950MPa e dureza Brinell entre 179 e 280, quando laminado a frio e retificado. A Tabela 8 a seguir caracteriza a composição química deste tipo de aço. Tabela 8 - Composição química do aço ABNT 1045 Elemento químico Porcentagem na composição química Carbono – C 0,43 a 0,50% Manganês – Mn 0,60 a 0,90% Fósforo máximo – P Silício – Si Fonte: INTERLLOY, 2005 0,04% 0,10 a 0,35% 32 Esses componentes não são submetidos a nenhum tipo de tratamento térmico com a finalidade de melhor as propriedades mecânicas do material. É previsto apenas um tratamento superficial anticorrosivo: oxidação negra a quente. 3.3 ESFORÇOS SOBRE OS COMPONENTES O cilindro de fixação está submetido a cargas quando acionado. Quando for alimentado com o fluido, o mesmo tende a se movimentar até achar algum ponto fixo de resistência, e aí então sofre esforço. O cálculo dos esforços aos quais o componente está submetido está dividido em duas etapas, cálculos de esforços estáticos e esforços dinâmicos. Como o componente exerce sua função quando está em sua condição estática, as análises foram realizadas mais profundamente sobre essa situação. 3.3.1 Esforços Estáticos A Figura 9 (pág. 33) exemplifica o pistão isolado do restante do conjunto. Quando o conjunto está sob regime de fixação (quando a alimentação é feita na parte superior do êmbolo) o esforço considerado é na área do êmbolo e da haste (diferença de diâmetros). É nesta condição que o mesmo sofrerá maior esforço e é nesta condição também que o componente irá trabalhar (fixação de peças). O Gráfico 1 mostra os resultados dos esforços de fixação em função da pressão de alimentação bem como a relação com o diâmetro do embolo do cilindro. Por exemplo, o cilindro 30x20 refere-se a um cilindro hidráulico com o êmbolo do pistão com diâmetro de 30 milímetros e com uma haste do pistão com diâmetro de 20 milímetros. Para a construção do gráfico força de fixação versus pressão de alimentação, foi desconsiderada a parte de ligação do cilindro à fonte de alimentação (mangueiras, conexões, válvulas, etc.) que poderia gerar eventuais perdas de carga durante o trabalho. Uma vez isso definido, foi levado em consideração que trata-se de uma função linear (teórica) partindo da equação que a força de fixação será igual ao produto entre a área de contato do fluido (diferença de diâmetros entre a haste e o êmbolo) e a pressão de alimentação (ver equação 4, página 37). Neste projeto, foram desenvolvidos três modelos de cilindros (30x20, 50x25 e 60x30), variando a relação entre diâmetro do êmbolo e diâmetro da haste. 33 Gráfico 1 - Força de fixação versus pressão de alimentação Gráfico Força versus Pressão 7000 6000 Força (N) 5000 4000 Cilindro 30x20 Cilindro 50x25 Cilindro 60x30 3000 2000 1000 0 0 25 50 75 100 125 150 175 Pressão (bar) Fonte: O Autor Figura 9 - Haste do cilindro Fonte: O Autor 200 225 250 275 300 34 A equação 4 é utilizada para calcular a força de fixação proporcionada pelo pistão em função da pressão hidráulica de alimentação. ( ) F = P ⋅ de 2 − di 2 ⋅ π ⋅ 1 4 (4) onde: F = força de fixação [N] P = pressão [MPa] de = diâmetro do embolo do cilindro [mm] di = diâmetro da haste do cilindro [mm] Fazendo os cálculos para o cilindro 60x30 com uma alimentação de 30MPa de pressão temos o resultado obtido na equação a seguir: ( ) F = 30 ⋅ π ⋅ 60 2 − 30 2 ⋅ 1 = 63.615,37 N 4 A tensão sobre o componente pode ser descrita pela equação 5: σ = F A (5) onde: σ = tensão no componente [MPa] F = força de fixação [N] A = área da seção analisada [mm2] A equação a seguir mostra os cálculos: σ= 63615,37 = 90 MPa 30 2 π⋅ 4 O cálculo do coeficiente de segurança é encontrado com a equação 6 para a aplicação. Para o aço SAE 8620 e SAE 1020 tem-se que tensão máxima à tração (σ max ) é igual a 393MPa (BEER,1995). CS = σ max σ (6) 35 Onde: CS = coeficiente de segurança Gerando assim, o resultado mostrado na equação a seguir: CS = 393 = 4,36 90 A Figura 10 mostra o círculo de Mohr para o componente avaliado 60x30, que é utilizado para avaliar as tensões máximas no elemento, bem como as tensões nos planos principais. Figura 10 - Círculo de mohr para cilindro 60x30 Fonte: O Autor O cálculo da força de fixação sobre o componente do cilindro 50x25 utilizando a equação 4 considerando a mesma pressão de alimentação (30MPa), pode ser observado na equação a seguir: 36 ( ) F = 30 ⋅ π ⋅ 50 2 − 252 ⋅ 1 = 44.177,34 N 4 Com o resultado e utilizando a equação 5 obtemos: σ = 44177,34 = 90 MPa 252 π⋅ 4 Cálculo do coeficiente de segurança para a aplicação, utilizando a equação 6. CS = 393 = 4,37 90 A Figura 11 a seguir mostra o círculo de Mohr para o componente avaliado 50x25, que é utilizado para avaliar as tensões máximas no elemento, bem como as tensões nos planos principais. Figura 11 - Círculo de mohr para cilindro 50x25 Fonte: O Autor 37 Cálculo da força de fixação sobre o componente do cilindro 30x20 utilizando a equação 4 considerando a mesma pressão de alimentação (30MPa). ( ) F = 30 ⋅ π ⋅ 30 2 − 20 2 ⋅ 1 = 11.780,63N 4 Utilizando a equação 5 obtemos: σ = 11780,63 = 37,50 MPa 202 π⋅ 4 Cálculo do coeficiente de segurança para a aplicação, utilizando a equação 6. CS = 393 = 10,48 37,50 A Figura 12 a seguir mostra o círculo de Mohr para o componente avaliado 30x20. Figura 12 - Círculo de mohr para cilindro 30x20 Fonte: O Autor 38 Para o regime de liberação do cilindro, que é quando o mesmo avança em sentido a liberar a peça fixada, os esforços não são consideráveis para o dimensionamento do pistão, já que esta carga será útil apenas para a movimentação do cilindro, a não ser para o dimensionamento da camisa. Nessa condição, o fluido está exercendo uma carga no fundo do êmbolo com força igual à: P ⋅ d e2 ⋅ π F= 4 (7) onde: F = força [N] P = pressão de alimentação [MPa] d e = diâmetro do êmbolo [mm] Os esforços sobre a camisa do cilindro, são considerados tensões em vasos de pressão de paredes finas. Como as paredes têm pequena espessura, elas oferecem pequena resistência à flexão, e pode-se considerar que os esforços internos que atuam em certa porção da parede são tangentes à superfície do vaso (camisa). Desse modo, as tensões resultantes no elemento de parede estão contidas em um plano tangente à superfície do vaso de pressão. Assim as tensões principais em um vaso de pressão são chamadas de tensão tangencial (σ 1 ) e tensão longitudinal (σ 2 ) (BEER, 1995). σ1 = P⋅r t (8) σ2 = P⋅r 2⋅t (9) Onde: P = pressão [MPa] r = raio da circunferência interna do tubo [mm] t = espessura da parede do tudo [mm] Como mostrado pelas equações 8 e 9, a tensão longitudinal é a metade da tensão tangencial. Por isso, para fins dimensionais, foi considerada apenas a tensão mais crítica, que no caso é a tensão tangencial. 39 Os parafusos utilizados na fixação da tampa na camisa do cilindro foram avaliados com relação à resistência a tração; tração essa ocasionada no momento em que o cilindro é alimentado na linha de retorno. Nessa situação os parafusos devem ser resistentes o suficiente para suportarem a carga provocada pela relação da pressão de alimentação pelo diâmetro de vedação da tampa. As equações utilizadas para o cálculo de resistência dos parafusos foram extraídas de NORTON, 2004. At = π dp + dr ⋅ 4 2 (10) 2 Onde: At = área total sob tração [mm2] dp = d − 0,649519 ⋅ p dr = d − 1,226869 ⋅ p d = diâmetro externo [mm] p = passo [mm] τt = (11) L At τ t = tensão no parafuso [MPa] L = carga axial de tração [N] A tabela 9 ilustra a resistência de parafusos ISO classe 12.9. Tabela 9 – Resistência de parafusos ISO classe 12.9 Diâmetro Externo Resistência At [mm2] Passo [mm] 5 mm 970 MPa 14,18 0,8 6 mm 970 MPa 20,12 1,0 8 mm 970 MPa 28,86 1,25 Fonte: NORTON, 2004 A força de tração para nos parafusos de fixação da tampa é obtida pela equação 12. 40 Fmax = P ⋅ Ar (12) Onde: Fmax = força de retorno [N] P = pressão do fluido [MPa] Ar = Área do êmbolo [mm2] Aplicando a equação 12 para o cilindro de 30x20, com uma pressão de 30MPa no fundo do êmbolo, tem-se: Fmax = 21205,125 N Aplicando quatro parafusos M5 classe 12.9 para a fixação, utilizando os dados da tabela 8, obtemos: At = 4 ⋅ 14,18 At = 56,72mm 2 τ= Fmax At (13) Onde: τ = tensão no parafuso [MPa] At = área total sob tração [mm2] Fmax = força de retorno [N] τ= 21205,125 56,72 τ = 373,86 MPa Para o cálculo do coeficiente de segurança dos parafusos, tem-se: CS = τ max τ (14) 41 Onde: CS = coeficiente de segurança τ max = resistência [MPa] τ = tensão no parafuso [MPa] CS = 970 373,86 CS = 2,59 Aplicando os mesmos cálculos para o cilindro 50x20, utilizando seis parafusos M6 classe 12.9, tem-se: Fmax = P ⋅ Ar (15) Fmax = 58903,125 N At = 6 ⋅ 20,12 At = 120,72mm 2 τ= τ= F max At (16) 58903,125 = 487,93MPa 120,72 CS = CS = τ max τ (17) 970 = 1,98 487,93 Aplicando os mesmos cálculos para o cilindro 60x30, utilizando seis parafusos M8 classe 12.9, tem-se: Fmax = 84820,5 N At = 6 ⋅ 28,86 = 173,16 mm2 τ= Fmax At (18) 42 τ= 84820,5 = 489,83MPa 173,16 CS = CS = τ max τ (19) 970 = 1,98 489,83 3.3.2 Esforços Dinâmicos Os esforços dinâmicos são considerados para a determinação do número de ciclos que o componente pode estar repetindo entre o soltar e o fixar. Variáveis como o tempo que leva para que o cilindro seja acionado depende da velocidade do fluxo na entrada do fluido no componente, ou seja, a vazão da bomba que está alimentando o circuito hidráulico. As determinações dinâmicas são de extrema importância para o conhecimento das possíveis falhas que podem ocorrer no cilindro. A falha avaliada neste projeto é a fadiga. A fratura por fadiga resulta do desenvolvimento progressivo de uma trinca sob a influência de aplicações repetidas de tensões, que são consideravelmente inferiores à tensão capaz de provocar fratura sob cargas monotonicamente crescente ou mesmo com valores nominais inferiores ao limite de escoamento do material. Como a função do cilindro é estar frequentemente sob carga alternada, variando de zero à tensão máxima de tração, há a necessidade dessa determinação. Classifica-se como falha por fadiga qualquer falha devido a cargas variantes no tempo (NORTON, 2004). As equações apresentadas nesse capítulo para cálculo de resistência à fadiga foram todas retiradas da bibliografia Elementos de Máquina (NORTON, 2004). Para o material selecionado, como sua resistência à tração (Sut) é inferior à 1400MPa, considera-se que a resistência à fadiga teórica (Se’) é igual à metade de Sut. S e ' = 0,5 ⋅ S ut (20) S e ' = 0,5 ⋅ 393 =196,5 MPa Diferenças de temperatura e de meio ambiente entre as condições do ensaio e as condições a que a peça estará submetida no futuro devem ser levadas em consideração. Esses 43 e outros fatores estão incorporados dentro de um conjunto de fatores de redução da resistência, que são multiplicados pela estimativa teórica para se obter a resistência à fadiga corrigida ou o limite de fadiga corrigido para uma aplicação em particular. S e = C carreg ⋅ C tamanho ⋅ C sup erf ⋅ C temp ⋅ C conf ⋅ S e ' (21) Onde: Se = limite de fadiga corrigido [MPa] Ccarreg = fator devido à solicitação Ctamanho = fator do tamanho Csuperf = fator de superfície Ctemp = fator de temperatura Cconf = confiabilidade Para a haste do cilindro, que é o componente que está sendo avaliado dinamicamente, tem-se os seguintes dados considerando que o componentes está sob força normal, diâmetro da seção analisada entre 8mm e 250mm, acabamento retificado, temperatura do componente inferior à 450ºC e confiabilidade de 99% assumindo desvio padrão igual a 8% da média (NORTON, 2004). Ccarreg = 0,7 (22) C tamanho = 1,189 ⋅ d −0, 097 (23) C sup erf = A ⋅ ( S ut ) b (24) A = 1,58 (25) b = -0,085 (26) C sup erf = 0,95 (27) Ctemp = 1 (28) Cconf = 0,814 (29) A tabela 10 mostra os valores para o fator do tamanho e limite de fadiga corrigido para cada tamanho de cilindro considerado. 44 Tabela 10 – Fator do tamanho e limite de fadiga corrigido Cilindro Ctamanho Se [MPa] 30x20 0,889 94,578 50x25 0,870 92,553 60x30 0,855 90,93 Fonte: O autor. Para o cálculo do número de ciclos de vida para os cilindros utiliza-se a equação 63 (NORTON, 2004). S m = 0,75 ⋅ S ut (30) Onde: Sm = Resistência do material a 103 ciclos Sut = Limite de resistência do material à tração. Para o material selecionado, o valor Sm será igual à 294,75 MPa. Sn = a ⋅ N b (31) Onde a e b são constantes definidas pelas equações 32 e 33 respectivamente (NORTON, 2004). log(a ) = log(S m ) − 3 ⋅ b (32) 1 S b = − log m 3 Se (33) Aplicando as equações 32 e 33, obtém-se os dados ilustrados pela tabela 11 abaixo. Tabela 11 – Constantes para cálculo de resistência à fadiga Cilindro a b 30x20 2,9629 -0,1645 50x25 2,9737 -0,1681 60x30 2,98 -0,1702 Fonte: O autor. 45 Baseado nos resultados obtidos e na curva S-N gerada, conclui-se que quando o componente estiver sob esforço de tração com valor inferior ao valor Se do gráfico, esse apresenta uma vida infinita. Quando o esforço for maior, o cálculo do número de ciclos obedece à equação 31 e considerando os coeficientes calculados. O Gráfico 2 ilustra a curva S-N estimada para o cilindro. Como não existe uma diferença significativa entre os valores de Se, a estimativa serve para os três cilindros hidráulicos. Gráfico 2 – Curva S-N estimada para o pistão Fonte: O Autor 46 4 ANÁLISE DE RESULTADOS Os cálculos realizados sobre os componentes comprovam que os mesmos estão bem dimensionados para resistir às solicitações do projeto. Isso pode ser confirmado avaliando os coeficientes de segurança encontrados nas análises estáticas dos componentes. O componente do conjunto que recebe os maiores esforços é o pistão. Foram feitas análises utilizando software de CAE CosmosXpress nos pistões dos três modelos de cilindros, onde foram avaliadas as regiões onde há o maior acúmulo de tensão utilizando o critério de Von Mises, e qual é o comportamento da deformação dos mesmos. As análises CAE realizadas possuem efeito apenas de comparação e verificação de falhas e a influência da carga sobre o componente, para que seja possível localizar as regiões mais solicitadas. Os resultados obtidos com as análises feitas pelo COSMOSXpress estão baseadas considerando que: • O material é isotrópico; • O comportamento do material é linear e segue a lei de Hooke; • Os deslocamentos induzidos são pequenos o bastante para ignorar mudanças na dureza devido ao carregamento; • Efeitos dinâmicos foram ignorados uma vez que as cargas foram aplicadas lentamente Para todas as análises foi considerado que o pistão está fixo na sua face superior e recebe uma carga de 30MPa no seu êmbolo, tracionando o mesmo simulando a fixação de uma peça durante o processo de usinagem (Figura 13). O critério de Von Mises, ou critério da máxima energia de distorção, se baseia na determinação da energia de distorção de certo material, quer dizer, da energia relacionada com mudanças na forma do material. Por esse critério um componente estrutural estará em condições de segurança enquanto o maior valor de energia em distorção por unidade de volume de o material permanecer abaixo da energia de distorção por unidade de volume necessária para provocar o escoamento no corpo de prova de mesmo material submetido a ensaio de tração (BEER, 1995). 47 Figura 13 – Considerações de análise estática. Parte fixa 30 MPa Fonte: O Autor Na análise do COSMOSXpress foram aplicadas as seguintes características para o material aço liga SAE 8620 (Tabela 12): Tabela 12 – Características do ABNT 8620 para CAE Propriedade Valor Unidade Módulo de Elasticidade 210 GPa Coeficiente de Poisson 0,28 - Densidade do Material 7700 Kg/m3 Tensão de Escoamento 351 MPa Fonte: GERDAU, 2005 Para a análise dos pistões foram considerados os dados da Tabela 13 para a análise CAE. 48 Tabela 13 – Características para análise CAE Cilindro Tipo de Malha 30x20 50x25 60x30 Malha Sólida Malha Sólida Malha Sólida Tamanho do Elemento 3,7943 mm 4,6 mm 5,3276 mm Tolerância 0,18971 mm 0,23 mm 0,26638 mm Qualidade Alta Alta Alta Número de Elementos 13.386 20.012 18.907 Número de Nós 20.186 29.265 27.559 FFE FFE FFE Tipo do Solucionador Massa 0,420189 kg 0,748788 kg 1,19356 kg Volume 5,45701 . 10-5 m3 9,72452 . 10-5 m3 1,51084 . 10-4 m3 Material Aço Liga SAE 8620 Aço Liga SAE 8620 Aço Liga SAE 8620 Linear Elástico Isotrópico Linear Elástico Isotrópico Linear Elástico Isotrópico Tipo de Modelo do Material Fonte: O Autor A Figura 14 ilustra o resultado obtido com a análise do comportamento da deformação do pistão 30x20. Avaliando esta figura é possível localizar onde estão os pontos com maior e menor deformação. A região onde se tem a maior deformação é exatamente onde o fluido exerce sua função principal, que é empurrar o pistão para baixo. Na região da face superior do êmbolo a deformação encontrada foi de 0,01267mm. A Figura 15 traz a imagem gerada pela análise de tensões no modelo 30x20. Esta ilustração revela que as maiores tensões superficiais estão na região onde termina a haste e começa o êmbolo. Outro ponto de grande acúmulo de tensões é na rosca que localizada na ponta da haste (furo superior). Como a utilização desta rosca depende da aplicação do componente que será montado, no momento não será considerado. 49 Figura 14 – Deformação em pistão 30x20 Fonte: O Autor Figura 15 – Análise de acúmulo de tensão em pistão 30x20 Fonte: O Autor 50 A Figura 16 representa o resultado obtido com a análise do comportamento da deformação do pistão 50x25. Nela é possível localizar onde estão regiões com maior e menor deformação. A região onde se tem a maior deformação é exatamente onde o fluido exerce sua função principal, que é empurrar o pistão para baixo. Na região da face superior do êmbolo a deformação encontrada foi de 0,02703 mm. A Figura 17 foi determinada pela análise de tensões ainda no modelo 50x25. Essa imagem expõe que as maiores tensões superficiais estão na região onde termina a haste e começa o êmbolo, assim como o cilindro 30x20. A mesma consideração é feita com relação à rosca. Figura 16 – Deformação em pistão 50x25 Fonte: O Autor 51 Figura 17 – Análise de acúmulo de tensão em pistão 50x25 Fonte: O Autor A Figura 18 mostra as deformações no cilindro 60x30. Como nos demais cilindros, a região onde se tem a maior solicitação é onde o fluido está exercendo sua função. Nesse modelo a deslocamento máximo, com a carga de 30MPa foi de 0,03065 mm. A Figura 19 mostra onde há o maior acúmulo de tensões no pistão do cilindro 60x30. Desconsiderando o furo roscado, a região onde se tem maior solicitação, como os demais modelos, é a região superior do êmbolo. 52 Figura 18 – Deformação em pistão 60x30 Fonte: O Autor Figura 19 – Análise do acúmulo de tensões em pistão do 60x30 Fonte: O Autor 53 Como a função do cilindro hidráulico é fixar peças em dispositivos de usinagem, dinamicamente o cilindro não possui grandes solicitações, haja vista que pelos cálculos realizados o componente não apresenta problemas com relação à fadiga. É por essa razão que não foram desenvolvidas análises dinâmicas utilizando CAE. 4.1 AVALIAÇÃO DE CUSTOS Como a partir deste projeto não foi construído nenhum protótipo físico, partiu-se para a análise do custo de fabricação de um conjunto da maneira como o mesmo foi desenhado. Os valores apresentados foram baseados em cotações solicitadas a fornecedores do respectivo tipo de material. A Tabela 14 mostra detalhadamente os custos de aquisição dos componentes comerciais e de fabricação em uma ferramentaria (dados obtidos em agosto de 2005). Tabela 14 – Custos de fabricação do componente Item Valor Fornecedor Tempo de Aquisição R$ 520,00 MaxxiMicron 5 dias Anéis O’Ring (conjunto) R$ 7,00 Voga Vedabras Pronta entrega Tratamento Térmico R$ 35,00 Incomap 1 dia Retífica após cementação (pistão) R$ 30,00 Limatec 1 dia Tratamento Superficial R$ 12,00 Oxiser 1 dia Parafusos e esferas (conjunto) R$ 2,90 Ferramentas Gerais Pronta entrega Tampa + Pistão + Camisa (inclui usinagem e matéria-prima) Fonte: O autor Avaliando a Tabela 14, chega-se a um custo de fabricação e aquisição total de R$ 606,90 e um prazo de entrega 8 dias fora a montagem. Essas considerações foram feitas para a confecção de apenas um conjunto. Um componente semelhante no comércio, de procedência importada, custa em média R$ 2.500,00 e um prazo de aquisição de 40 dias (RÖEMHELD, 2001). Ou seja, mesmo prevendo a incidência de impostos para a comercialização do novo componente projetado (estima-se 37,5%) e o lucro (em torno de 20%) o valor final fica em torno de R$ 1.000,39; ainda menos da metade do valor de aquisição do importado. 54 5 CONCLUSÃO Como citado no capítulo anterior, todos os cálculos no final demonstraram que os componentes estão dimensionados com um coeficiente de segurança satisfatório para a faixa de trabalho do componente. As análises realizadas, tanto estáticas como dinâmicas, mostraram que todos os componentes estão bem dimensionados e que teoricamente não apresentarão problemas no que diz respeito à resistência mecânica do conjunto. Todos os componentes comerciais aplicados ao conjunto (parafusos, anéis “o” e esferas) estão relacionados por fabricantes de qualidade e renome no mercado nacional, e são fáceis de encontrar em lojas do ramo. Todos os elementos projetados foram baseados em conceitos já existentes no mercado. Entretanto o conceito de projeto e funcionamento é diferente. Em todo o desenvolvimento do projeto foi visada a versatilidade da aplicação do componente e a simplificação do processo de fabricação. Não foi fabricado nenhum protótipo físico para testes práticos; contudo todos os componentes foram desenhados para facilitar a fabricação e simplificar ao máximo esse processo. A fabricação, tanto a tampa quanto a camisa do cilindro, pode ser feita em qualquer equipamento convencional de usinagem. Já para a produção da haste é recomendado que o canal que suporta a esfera de giro do cilindro seja usinada em equipamento de usinagem CNC, já que é uma área que deve ter um bom acabamento e uma usinagem contínua. Em cilindros hidráulicos de fixação não se costuma fazer manutenção. Em caso de colisões, os danos são irreparáveis e o cilindro deve ser substituído. As vedações dos furos feitos com esfera são realizadas por meio de prensagem da mesma no furo. Uma vez prensada, a mesma não pode ser desmontada. Foram aplicadas duas esferas, uma para a vedação do furo de alimentação da linha de pressão e outra para a vedação do furo que serve como alojamento para a esfera que proporciona o giro da haste quando essa se movimenta. A redução do custo também se mostrou um fator considerável para o projeto. Conforme mostrado na seção 4.1, o custo de aquisição de um componente comercial é de aproximadamente R$ 2.500,00 com prazo de entrega médio de 4 semanas. Quando comparado com o custo de aquisição dos componentes conforme o projeto detalhado 55 (aproximadamente R$ 1.000,00) e prazo de entrega de no máximo 10 dias, fica evidente a viabilidade do desenvolvimento. Como o objetivo do projeto foi atingido e todas as análises comprovam isso, a intenção é dar continuidade ao projeto com a intenção de, futuramente, poder disponibilizar para consumidores industriais os cilindros hidráulicos. Após o término deste projeto os autores começarão a avaliar a viabilidade de colocar alguns protótipos em teste. Essa possibilidade já foi estudada junto aos responsáveis da CR Usinagem e a princípio a empresa patrocinará a continuidade do projeto. 56 REFERÊNCIAS Materiais utilizados nas peças. Disponível ANEIS RCS. <http://www.aneisrcs.com.br/catalogo/materiais.htm> Acesso em: 22 jun. 05. em: BEER, Ferdinand P.; JOHNSTON, Russell E. Resistência dos materiais. 3. ed. São Paulo: Makron Books, 1995. CALLISTER, William D. Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução. 5 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. DINIZ, Anselmo Eduardo. Tecnologia da Usinagem dos Materiais. 3. ed. Rio de Janeiro: ARTLIBER, 2000. ENERPAC, 2002. Catálogo E212 FOX, Robert W.; MCDONALD, Alan T. Introdução a mecânica dos fluidos. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. Descrição aços para cementação. Disponível em: GERDAU. <http://www.comercialgerdau.com.br/produtos/acos_especiais_cementacao.asp> Acesso em 22 out. 05 GRUPO WEB MÁSTER. Borracha Nitrílica. Disponível <http://www.grupobemestar.com.br/jlch/borrachanitrilica.htm> Acesso em: 29 jun. 05. em: SAE 8620 case hardening steel. Disponível em: INTERLLOY. <http://www.interlloy.com.au/data_sheets/case_hardening_steels/8620.html> Acesso em: 24 mai. 05. IPIRANGA, 1988. Catálogo de Fluidos Hidráulicos 2A67.90 LAMOTHERMIC. Properties of some of the common alloys that we cast. Disponível em: <http://www.lamothermic.com/strength%20properties.htm> Acesso em: 25 mai. 05. LUBRINORTE. Características dos Lubrificantes – Físicas. <http://www.lubri-norte.com.br/fisica.html> Acesso em: 14 ago. 05. Disponível em: NORTON, Robert L. Projeto de máquinas: uma abordagem integrada. Porto Alegre: Bookman, 2004. RED. Técnico Red. Disponível em: <http://www.borrachared.com.br/ctudo-informativotecnico.html> Acesso em: 29 jun. 05. RÖEMHELD, 2001. Catálogo 1-2001 SANDVIK COROMANT,2005. Manual Técnico de Usinagem. SOLIDWORKS CORPORATION, SolidWorks2005. Concord, Ma. 3CDs; Software CAD. 57 SOLIDWORKS CORPORATION, CosmosXpress2005. Concord, Ma. 3CDs; Software CAE. SPARFIX. A importância do sistema de fixação de uma peça em sistemas de produção especial ou seriada. Disponível em: <http://sparkfix.com.br/ema/produtos/produtos.htm> Acesso em: 22 mai. 06. 58 APÊNDICES