Contos de Aprendiz – 15 contos Realizam-se sobre: recordações dos tempos infantis (com suaves toques emocionais e cenário de cidadezinhas do interior, ou na vida cotidiana carioca); há uma presença do tom irônico e humorístico característico do autor. Traços modernistas: -Presença do cotidiano; -Linguagem coloquial; -Nacionalismo (cor local); -Fantástico. Contos de Aprendiz (Carlos Drummond de Andrade) 15 contos que se realizam sobre: recordações dos tempos infantis (com suaves toques emocionais e cenário de cidadezinhas do interior, ou na vida cotidiana carioca); há uma presença do tom irônico e humorístico característico do autor. O textos podem ser divididos em 04 temáticas: A infância: reminiscências, o comportamento infantil e o contraste com o adulto, a imaginação. “A salvação da Alma”; “O sorvete”; “A doida”; “Nossa amiga” e “Conversa de velho com criança” Impressões: o comportamento de certas personagens e o “mergulho” em seu estado de espírito e ânimo ante as inquietações da vida. “O presépio”; “Extraordinária conversa com uma senhora de minhas relações” e “Meu companheiro” Questões sociais: a força opressora do capitalismo, o valor humano relegado a um segundo plano. “Câmara e cadeia”; “Beira-rio” e “Um escritor nasce morre” Universo fantástico, surreal, macabro: situações misteriosas, histórias do sobrenatural, atitudes absurdas e insólitas do homem. “Flor, telefone, moça”; “A baronesa”, “O gerente” e “Miguel e seu furto”. Narradores: 1ª pessoa: “A salvação da Alma”; “O sorvete”; “Meu companheiro”; “Conversa de Velho com Criança”; “Extraordinária conversa com uma senhora de minhas relações”; “um escritor nasce e morre”. 3ª pessoa: “A doida”; “Presépio”; “Câmara e Cadeia”; “Beirario”; “Flor, Telefone, Moça”; “A Baronesa”; “O gerente”; “Nossa amiga”; “Miguel e seu furto” (Este conto inicia-se com um narrador de 1ª pessoa do plural, em seguida troca para a 3ª) Os textos de Drummond têm a estrutura dos contos tradicionais modernistas, apesar de se perceber em alguns a proximidade com a crônica, pois estes focam lapsos do cotidiano. É o que ocorre em “Conversa de Velho com Criança”. 1- “A salvação da Alma” Narrado por Augusto (1ª. pessoa) – 30 anos depois evoca alguns episódios de infância, ao lado dos 4 irmãos: Édison, Miguel, Tito e Ester. Principal flagrante evocado: as brigas entre eles. (especialmente a briga dele com Tito, um ano mais velho) Cotidiano de cidade do interior. Conto faz uma evocação da infância e mostra a seriedade grave de uma criança, empenhada em salvar sua alma das garras do demônio e de pecados inculcados por uma religião de concepção medieval. 2- “O sorvete” Evoca cenas e sensações da infância: dois meninos da roça – o narrador de 11 anos e Joel de 13, que pela primeira vez, atacam um sorvete, na cidade grande. Alunos internos que viviam desse cotidiano. As fugas eram “catarse”. Cinema a sensação mais picante. Depois de um almoço na casa de Tio Lucas, indo ao cinema, encontram o anúncio do sorvete de abacaxi. Tomados pelo desejo do sorvete, perdem a atenção ao cinema. Compram o sorvete, mas vem a decepção. Sonho é belo, enquanto sonho; a realidade é dolorosa e chocante,e quase sempre traz decepção e frustração. 3- “A Doida” Sem nome das personagens (nem da doida, nem das três crianças que queriam apedrejá-la, no abandono de um chalé, à margem de uma rua e da vida, esquecida da compreensão e lucidez humana). A doida, outrora bela, tivera família, amor, mas o destino a enxotara para a margem da vida e dos homens, exatamente no dia de seu casamento. A loucura é encarada pelas pessoas como castigo divino. Um criança rompe os hábitos de apedrejar e ousa a entrar na casa. Criança rende-se à solidariedade humana. 4- “Presépio” Cidadezinha do interior. Personagem central: Dasdores (divida entre ir à missa do galo e montar o presépio, se fizesse a segunda não veria o namorado) Crítica à condição feminina, quando ela se desdobra com os serviços de casa. (“trabalharás dia e noite”) Dasdores voa para o outro lado da rua onde está Abelardo – fumando e alisando o cabelo – Desdobra-se entre o presépio e Abelardo – sagrado e profano – Uso da metalinguagem – conversar com o leitor e questiona sua personagem 5- “Câmara e Cadeia” Conto com acentuado humor: em cima, vereadores na câmara que discutiam um meio de cobrar mais impostos; em baixo, numa miséria sórdida, a cadeia com 5 presos em situação deplorável. Prefeitura com déficit, por isso teria que arrumar meio de ganhar dinheiro. O preso mais perigoso entra na câmara, ele decrépito – mal conseguia ficar de pé -. Pânico entre todos. Valdemar, zeloso, tenta agarrar o preso. Não consegue, o preso desaparece. O farmacêutico(vereador) tentar impedir Valdemar. Sátira e denúncia ao tratamento imundo dado aos presos. 6- “Beira-Rio” A exploração do homem pelo homem. Cidade – Capitão Borges, situada à beira-rio, do lado leste. Do outro lado do rio, a oeste, seria instalada uma grande indústria estrangeira a que se sacrificariam muitos homens, que serão explorados pela companhia. “O hotel é da Companhia; o cinema é da Companhia; o armazém é da Companhia. O posto policial foi instalado a expensas da Companhia, e a capela e o cemitério constituem doações amáveis da Companhia.” De um lado técnicos americanos (bem dormidos); do outro os operários(explorados). Para esquecer somente a bebida. Narrador de 3ª pessoa faz intervenções irônicas. Negro Simplício, vindo de Pirapora, pretende montar sua bitácula, venda de cigarros, pastéis e aguardente. Desafia o poder da Companhia. Simplício representa a dignidade do homem na luta contra a opressão. 7- “Meu companheiro” Professor Motinha – o narrador conta seu relacionamento com o cão Pirolito (vira-lata comprado naquela cidade do interior) Nome de uma música infantil cantada pela vizinha “pirolito que bate-bate” A esposa do narrador, Margarida, e seus filhos recebem bem o cão, que passou a existir como parte da família. Pirolito passa a ser confidente do narrador. A voz de sua consciência. Desaparece o cão, Motinha desconfia de Margarida, que uma vez dera sumiço em um gato; mas conclui que muitas pessoas somem sem explicação. O cão exerce função moral de consciência ao narrador, e recupera sua infância e o autoriza a praticar atos que a condição de adulto não permita. 8- “Flor, telefone, moça” Conto narrado pelo telefone por “uma amiga” do interlocutor que se identifica como Carlos. Ela conta uma espantosa história sucedida no rio, com uma moça que morava perto do cemitério São João Batista. Sua única distração era passear entre os túmulos, lendo as inscrições, observando os anjos de mármore. Caminhando um dia pela parte nova do cemitério, onde havia as covas das pessoas pobres, apanha uma flor de uma sepultura e depois a joga fora. Chegando a casa, o telefone tocou e uma voz pediu a flor que a moça tirara da sepultura. A moça pensa que é trote, mas o telefone continua a chamar, a mesma voz fria e longínqua suplicando pela florzinha bem coloquial “Quede a flor que você tirou da sepultura” Pai e irmão tenta descobrir. Mas nada. A moça comenta que a polícia estava mais preocupada em prender comunista (anos 30) Apelou-se para o espiritismo, nada, meses depois, exausta a moça morre. E a voz não incomoda mais. 9- “A Baronesa” Passa-se no Rio de Janeiro (São Cristóvão). Narrador de 3ª pessoa. Conto inicia-se com o senador dando notícia de falecimento de Ana Clementina de Soromenho Pinheiro Lobo e Figueiredo Moutinho, viúva de um barão, dama do segundo império. Quem recebe a notícia é Luis, amigo de Renato, sobrinho neto da baronesa. É cômico o contraste de linguagem do senador e de Luís, aquele formal, este só usando gírias. Outro contraste é o quarto da baronesa com objetos dos tempos remotos e o apartamento de móveis modernos. Interesse de Renato pela Herança. Narrativa com característica de humor negro, pelo tom satírico e irônica, em que se opõe, entre outras coisas, a nobreza e a avareza. 10- “O Gerente” 3ª pessoa, uso do discurso indireto livre. Narrador faz algumas intervenções metalinguísticas, realçando a suavidade do comportamento de Samuel. Abre-se com uma epígrafe bíblica. “o que é verdade?” Gerente de banco, Samuel, que havia morrido há 1 ano,era extremamente polido, que comia (ou não?) dedos de senhoras ilustres, ao oscular-lhes, suavemente, as mãos. Rio de Janeiro – “Viera do norte, morava em Laranjeiras, chegara a gerente de banco. Distinguia-se pela correção de maneiras e pelo corte a um tempo simples e elegante da roupa”. Era solteiro, mas tivera muitos casos sentimentais, os quais eram anotados em um caderninho. Primeiro ao beijar a mão de uma dama (Madama Sousa) a quem cumprimentava essa começou a sangrar, outra vez depois do jockey (D. Guiomar, mulher de seu amigo Tancredo) novamente quando ia beijar a dama em despedida passou correndo em um cavalo um homem e logo se viu a Mão da mulher sangrando. O médico avaliou que o dedo tinha perdido sua ponta através de uma mordida e logo acusaram Samuel, a polícia o questionou mas em nada resultou. Em uma festa, novamente ao cumprimentar uma dama (Sra. Figueiroa), ao mesmo tempo em que um garçom passava a ponta do dedo lhe foi arrancada. A essa altura as mulheres temiam os cumprimentos de Samuel. Teve por fim uma última dama (D. Deolinda) com quem tomara um sorvete e conversara sobre o inventário e outra coisa, quando foi se despedir entrou um homem vendendo lâminas e o dedo da viúva sangrou depois do beijo. Com isso, Samuel foi afastado do banco e foi morar em São Paulo, trabalhando no banco de lá, anos depois voltou ao Rio e se encontrou com a viúva que perdera a ponta do dedo, porém ela tinha adquirido uma infecção e teve o braço amputado. Os dois continuaram o encontro, porém apenas bebendo muito. Na manhã seguinte Samuel voltou a São Paulo sem finalizar o negócio que tinha levado ao Rio. 11- “Nossa amiga” Uma menina (Luci) de três anos vivia entre duas casas, para as quais ia sozinha mesmo. Para evitar a mão bisbilhoteira criaram Catarina, uma menina que por brincar com um cachorrinho de vidro que a mãe não tinha permitido, quebrou-o e virou uma borboleta “bruxa”. E Pepino que era um velho bêbado e curvado que pegava as crianças. Às vezes a menina não queria ir embora de uma casa para outra com medo do Pepino, falavam que iriam dar uma festa e chamar Pepino só para a menina ver como ele era bonzinho e ela com raiva ia embora dizendo que não viria à festa, mas logo voltava arrumada e de banho tomado. Festas era o motivo pelo qual ela tomava banho. Por fim, brincava também de mamãe, usando frases colhidas da conversa dos adultos. Valoriza “as campinas da imaginação”, o “elemento poetizável” do mundo infantil. No final uma intertextualidade bíblica, que coloca o conto no sentido da compaixão humana. 12- “Miguel e seu furto” Miguel se tornou um homem simpático, porém nunca assumira uma posição na vida e agora, findado o seu sustento, dormia em jornais. E foi lendo as manchetes desses que teve a grande ideia de roubar o mar. E assim o fez, mesmo que o mar ficasse no mesmo local novas regras tinham sido estabelecidas, como o imposto pago a Miguel e a proibição dos banhos para manter a moralidade. Ele se tornou tão rico que queimava sua riqueza para ter onde guardar as coisas que constantemente adquiria. Porém, um dia um menininho saiu correndo e arrancando suas roupas corajosamente nadou no mar e logo o povo juntou pra ver, e outro menino entrou e de repente todos se apoderavam novamente do mar. Miguel depositou sua fortuna em bancos seguros e passou a colecionar conchinhas para se lembrar de sua ex-propriedade. Troca da 1ª pessoa do plural para a 3ª. 13- “Conversa de velho com criança” Ele observa o velho e a menina no ônibus. A menina, como descobriu perguntando, chamava Maria de Lourdes e o velho descobriu que chamava-se Ferreira ouvindo a conversa dos dois. A menina trazia um pacote de balas como a um tesouro e o velho vinha carregado de compras e em pé. Quando o cobrador veio, com dificuldade o velho arrancou do bolso uma moeda para pagar a passagem, porém essa lhe caiu das mãos indo parar na rua. Pararam o bonde e procuraram a moeda e como não a acharam o velho não teve que pagar. A menina ofereceu uma bala a Ferreira que aceitou, ambos eram amigos, notava-se só de olhar, percebia-se também que a menina só oferecera a bala para ela também poder comer. Quando o bonde parou os dois desceram e o homem ficou a se perguntar se eram grandes amigos ou apenas vô e neta muito amigos. 1ª pessoa - Carlos – Rio de Janeiro 14- “Extraordinária Conversa com uma senhora de minhas relações” Ele estava em pé no ônibus se segurando pelas argolas que ficam no teto, ela estava sentada e, como eram conhecidos, sorriram. Ele não se lembrou da imagem dela, até porque a via de cima pra baixo, então quando ela o cumprimentou com um bom dia tentou decifrar quem era através da lembrança da voz. Não conseguiu e se pôs em avaliações sobre o vestido dela, o valor que dava as curvas certas e os limites que impunha. Ela lhe perguntou como ia e só na segunda vez que ele a respondeu com versos, segundos depois corrigidos pela pergunta certa, “Vou bem. E a senhora como vai?”, ao que ela lhe falou sobre sua preocupações com um gato, eletrocardiogramas e etc. No entanto, ele não a ouvia pois se questionava sobre ultrapassar ou não os limites. Depois disso o ônibus parou e ela desceu, sendo para ele essa a mais extraordinária conversa que tivera com damas de sua relação. A conversa que sugere um diálogo é mais um monólogo em que o narrador analisa com muita acuidade psicológica, os gestos e movimentos de “uma senhora de suas relações”. Narrado com muita ironia e humor, o conto é bem um retrato de situações formais e corteses que nada dizem e que nada exprimem, além de banalidade e formalidade que mascara as pessoas. Evoca versos de poetas franceses Mallarmé e Paul Valery, alusivos à beleza feminina. Digressões sobre a beleza. Estabelece, o narrador, um contato com o leitor “Descreve-nos o vestido – pedireis.” Referência a uma pintura de Salvador Dali 15- “Um escritor nasce e morre” Ele morava em uma cidadezinha pequena e em uma aula de geografia a professora falava sobre países longes e citou o Pólo Norte, foi ali que o escritor nasceu. Escreveu a viagem da sua cidadezinha ao Pólo Norte, a professora tomou o texto e o afirmou como um grande escritor. Foi assim que ele cresceu e foi embora, escreveu contos e poesias, não gostava de se achar um escritor literato e fazia críticas aos outros. Ao fundo ouvia uma voz que lhe afirmava ser um artista nato. Então aos trinta anos morreu. Conto dividido em 4 partes e narrado em 1ª pessoa. Juquita é o narrador personagem, o escritor que nasce em uma cidade do interior (Turmalinas), sob o estímulo da professora D. Emerenciana. Escritores em torno dele discutiam assuntos literários, ele vai caindo em profunda solidão. Sátira literária Reflexão sobre a literatura engajada. 1ª Pessoa: A salvação da alma; o sorvete; meu companheiro; conversa de velho com criança; extraordinária conversa com uma senhora de minhas relações; um escritor nasce e morre. 3ª pessoa A doida; presépio, câmara e cadeia, beira-rio, flor telefone moça, a baronesa; o gerente; nossa amiga; Miguel e seu furto O comentário dos contos de Drummond foi feito corretamente em a) A beleza irrompe-se em um ônibus e é meditada em “conversa de velho com criança” e “meu companheiro” b) A criança desmorona o poder abstrato de um ambicioso e interrompe uma série de crimes em “nossa amiga” e “o gerente” c) O rito de passagem marcando experiência infantis está presente em “o sorvete” e “a doida” d) A presença do extraordinário, do assombramento que não tem explicação ocorre em “flor, telefone, moça” e “salvação da alma” A alternativa que traz afirmação correta sobre os contos é a) Há aspectos de poesia e de pungente humanidade b) As personagens são seres com problemas existenciais c) Valorizam-se mais o enredo, o desfecho e a moralidade das histórias d) A linguagem é marcada pelo experimentalismo Assinale a relação incorreta entre os contos e as respectivas características a) “presépio” – conflito entre o sagrado e o profano b) “a baronesa” – oposição entre a nobreza e a sordidez humana c) “beira-rio” – tema da repressão e da evasão d) “um escritor nasce e morre” – dilema entre o amor e a política