1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS-INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ORIENTADORA MARIA DA CONCEIÇÃO MAGGIONI POPPE ANA CARLA MARQUES DA SILVA OS MALEFÍCIOS DO ÁLCOOL NA ESTRUTURA FAMILIAR. LINHARES 2011 2 ANA CARLA MARQUES DA SILVA OS MALEFÍCIOS DO ÁLCOOL NA ESTRUTURA FAMILIAR Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do Grau de PósGraduação de Especialista em Saúde da Família. Sob orientação da Professora Maria da Conceição Maggioni Poppe. LINHARES 2011 3 AGRADECIMENTO Á Deus, Criador de todas as coisas, e que sem ele não somos nada, que me concedeu a vida, principio fundamental para a realização de qualquer plano humano. Á minha família. Pela compreensão das ausências e pelo incentivo. Venho também agradecer ao companheirismo de meu esposo, pessoa que amo e divido os mais diversos momentos de minha vida. Sinto-me grata pela compreensão, força e carinho que meus pais sempre buscaram me proporcionar, desde meus primeiros passos dependentes quando criança, até atualmente. E ... As famílias que acompanhei durante a realização desta monografia. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos que das mais diversas formas acreditaram, acreditam e acreditarão apoiando-me durante minha caminhada pela vida, contribuindo para a realização de minhas conquistas, profissionais e pessoais. A Todos os envolvidos direta ou indiretamente o meu muito Obrigado. 5 RESUMO Hoje se discute muito dentro da sociedade brasileira o uso de drogas, e o álcool comprovadamente é um dos maiores causadores de problemas sociais, físicos e psíquicos de toda a história da humanidade ele, tendo em vista que é aceita em âmbito legal. O uso descontrolado do álcool, bem como de diversas drogas, vem aumentando muito nos últimos anos, principalmente nas camadas mais pobres da sociedade, durante as atividades do Centro de Referência da Assistência Social de Linhares, foi possível perceber que grande parte das 100 famílias atendidas diretamente pelo Serviço Social tem algum de seus membros utilizando o álcool em grande quantidade e trazendo transtornos para seus entes, principalmente, para o desenvolvimento das crianças e adolescentes. Com base no contexto do alcoolismo como forma de desestruturação será desenvolvida este trabalho de pesquisa. Sendo a pesquisa inicialmente realizada com um levantamento de dados bibliográfico abordando o tema questionado. Para que se estabeleça uma compreensão do álcool como doença patológica, ver como ele age no corpo humano, ou seja, a intoxicação, e como se chega realmente ao alcoolismo sempre tendo como contextualização o acompanhamento dentro das famílias envolvidas no assunto que está sendo abordado e principalmente as formas de se chegar ao tratamento, nunca perdendo a linha existente entre os objetivos propostos e sendo o Objetivo Principal: Verificar os tipos de desestrutura que o álcool provoca nas famílias. E Objetivos Específicos: Verificar o grau de escolaridade dos usuários de álcool; Constatar o nível de desemprego entre os usuários; Verificar o grau de desestrutura das crianças e adolescentes; Verificar o nível de violência familiar. Espera-se que este trabalho possa de alguma maneira ajudar na problemática abordada. Palavras-chave: Dependência do álcool; apoio familiar, tratamento. 6 METODOLOGIA O contexto de pesquisa são as famílias residentes em áreas de risco social, localizadas na área de abrangência do Centro de Referência Social do Município de Linhares – ES. O CRAS atende atualmente a 500 famílias cadastradas nos vários projetos previstos pelo Programa de Atenção Integral à Família, tais como orientações, encaminhamentos, atendimentos individuais e grupais, cursos de geração de emprego e renda, oficinas de artesanato para crianças e adolescentes; e busca resgatar os vínculos de famílias em situação de risco e vulnerabilidade pessoal e social. Dentre as famílias atendidas diretamente pelo Serviço Social foi percebido que muitas enfrentam problemas com o uso do álcool. A pesquisa delimitou como sujeitos os usuários de álcool e suas respectivas famílias, objetivando conhecer os impactos provocados pelo alcoolismo em suas vidas. Na construção da análise teórica, foi realizado um levantamento bibliográfico que esteve pautado principalmente nos autores Ross Fisham, G. EDWARDS e Edson Ferrarini. Para a construção do perfil das famílias foi utilizada a pesquisa documental no CRAS de Linhares. O serviço social ao atender a demanda realiza o cadastro familiar que contém uma série de dados sobre sua composição. Através dos cadastros das famílias observaram-se os aspectos sócio-econômicos tais como: renda, escolaridade, ocupação, constituição familiar e outros que constituem a etapa de perfil dos pesquisados. A segunda etapa foi de um levantamento feito no projeto, de acordo com os princípios éticos informando aos usuários de álcool aspectos relacionados à 7 pesquisa e mostrando o quanto é de fundamental importância à colaboração de todos para chegarmos aos resultados que serão descritos. Além disso, foram informados que após a pesquisa o texto resultante não traria em nenhuma hipótese aspectos relacionados à privacidade e identidade do entrevistado. A delimitação dos entrevistados que equivalem a 05% da demanda do projeto, foi realizada pela Assistente Social que acompanha as famílias em questão, serão escolhidas 05 famílias de usuários de álcool a serem entrevistados. A pesquisa utilizou procedimentos metodológicos que envolvem abordagens qualitativo-quantitativas por amostragem. A abordagem quantitativa será utilizada com o levantamento do perfil dos usuários de álcool e suas famílias, considerando que esta abordagem permite visualizar o fenômeno em sua extensão, ou seja, permite obter generalização. A abordagem qualitativa será o procedimento que envolverá a entrevista, onde se pretende buscar com os sujeitos envolvidos, a concepção acerca do projeto; esta abordagem terá seu conteúdo analisado, propiciando o conhecimento através do significado que os sujeitos atribuíram ao objeto do estudo, onde se enfatizou e considerou o olhar de cada família e sua subjetividade, pois a pesquisa será constituída do universo a ser estudado e também da interação deste estudo com as relações sociais existentes, ou seja, não se trata de um fenômeno isolado, é indispensável considerar a realidade existente. Foi informado aos envolvidos que após a conclusão e apresentação da pesquisa, o trabalho ficará na Universidade Cândido Mendes e uma cópia ficará para o pesquisador, podendo essa ser doada para a Biblioteca Pública de Linhares ou ao CRAS onde foi desenvolvido todo o contexto da temática. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................09 CAPÍTULO I.......................................................................................................11 BREVE HISTÓRICO SOBRE O ALCOOLISMO CAPÍTULO II......................................................................................................16 COMO AGE O ÁLCOOL NO CORPO HUMANO, OU SEJA, A INTOXICAÇÃO CAPÍTULO III.....................................................................................................21 IMPORTANCIA DE FAMILIA PARA O SER HUMANO CAPÍTULO IV....................................................................................................26 CONHECENDO A CONCEPÇÃO DOS ALCOLATRAS E SUAS FAMÍLIAS CAPÍTULO V.....................................................................................................30 TRATAMENTO DO ALCOOLISMO CONCLUSÃO....................................................................................................35 REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS....................................................................37 ANEXO..............................................................................................................39 ROTEIRO DE ENTREVISTA 9 INTRODUÇÃO O presente estudo contém os elementos teóricos de análise que envolve a temática a cerca dos malefícios do álcool na estrutura familiar e os resultados da pesquisa empreendida como exigência da monografia de conclusão da pósgraduação em Saúde da Família da Universidade Cândido Mendes. O estudo procura apresentar como problemática uma abordagem referente aos males intrafamiliares dos alcoólatras e seus familiares do município de Linhares – ES. Com o apoio da pesquisa bibliográfica foram estudadas algumas categorias teóricas que permitiram maior entendimento sobre toda a contextualização do tema e o atendimento especifico desta demanda no CRAS. O álcool é uma droga socialmente permitida. Os benefícios e danos ao organismo são imensamente discutidos. Muitas drogas já foram utilizadas para minimizar os efeitos não desejados do álcool, seja a curto ou longo prazo. Existe a frase do AA - Associação dos Alcoólatras Anônimos, se você esta preocupado com a sua maneira de beber ou de algum amigo ou conhecido, procure-nos. Para frear a dependência do álcool sempre surgem novas propostas, além de ser um assunto que tem sempre despertado a atenção de grande parte da sociedade. Quando uma pessoa consome regularmente bebida alcoólica, o melhor caminho é o tratamento. Pode-se dizer que o alcoolismo tornou-se uma sombra em nossa sociedade. As transformações culturais de 20 anos atrás, ao mesmo tempo em que reforçam a derrubada de tabus e preconceitos, tiveram também o poder de produzir e prolongar a existência do alcoolismo. Após leituras e análises, 10 percebe-se que a expectativa das pessoas em relação ao ato de beber é um dos fatores psicológicos que desempenha importante papel de desenvolvimento do hábito, seja qual for à idade, classe social, gênero, raça, escolaridade. Experiências complexas e detalhadas demonstram-nos que os efeitos que as pessoas esperam da bebida nem sempre coincidem com seu verdadeiro efeito orgânico. O tema estudado pretende contribuir para o registro de informações sobre a demanda dos alcoolistas e considerando que essa já é uma nova perspectiva da realidade brasileira, ou seja, garantir o resgate de todos os dependentes do álcool e demais drogas na sociedade brasileira, bem como de suas famílias drasticamente afetadas por eles. No capítulo um será feito um breve histórico sobre o alcoolismo, suas concepções e reações nos indivíduos, como agem e reagem. No capítulo dois serão abordados os efeitos do álcool no corpo, doenças e alterações do sistema nervoso, psicológico dentre outros. No capítulo três fica claro a importância familiar na vida dos usuários de álcool e o suporte necessário para a cura desta doença. No capítulo quatro serão abordados os usuários pesquisados suas vivencias e sua estrutura familiar. No capítulo cinco o tratamento atual existente e os meios de ser acesso do usuário e seus familiares. Após, o quinto capítulo terá uma consideração final sobre o tema abordado em todo esse trabalho. 11 CAPÍTULO I BREVE HISTÓRICO SOBRE O ALCOOLISMO Toda a história da humanidade está permeada pelo consumo de álcool. Registros arqueológicos revelam que os primeiros indícios sobre o consumo de álcool pelo ser humano datam de aproximadamente seis mil antes de cristo, sendo, portanto, um costume extremamente antigo e que tem persistido por milhares de anos. A noção de álcool como uma substância divina, por exemplo, pode ser encontrada em inúmeros exemplos na mitologia, sendo talvez um dos fatores responsáveis pela manutenção do hábito de beber ao longo do tempo, hábito que persiste até os dias atuais dilacerando as famílias (Barsa, 2000). A partir da Revolução Industrial, registrou-se um grande aumento na oferta deste tipo de bebida, contribuindo para um maior consumo e, conseqüentemente, gerando um aumento no número de pessoas que passaram a apresentar algum tipo de problema devido ao uso excessivo de álcool (Barsa, 2000). A crise econômica, o desemprego, os problemas emocionais, entre outros fatores, têm levado um número cada vez maior de pessoas a buscar refúgio no álcool. O alcoolismo é considerado na atualidade, um dos principais problemas de saúde pública em todo o mundo. São crescentes os números sobre doenças graves provocadas pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas, bem como a incidência de mortes decorrentes destas doenças. O álcool também assusta como causa básica de acidentes de trânsito, crimes e suicídios. 12 O consumo do bebedor comum e a sua escolha da bebida variam de um dia para o outro e de semana para semana; um dia ele pode beber uma cerveja no almoço, nada no outro dia, ou dividir uma garrafa de vinho com amigos. À medida que a dependência avança os estímulos para beber relacionam-se ao alívio dos sintomas de abstinência e o padrão de beber tornase cada vez mais rígido, estreitado e estereotipado, já que os dias de abstinência ou de consumo baixo vão se tornando mais raros. O paciente passa a beber o dia inteiro com vista a manter um nível alcoólico no sangue que previna a instalação de uma síndrome de abstinência. As influências sociais e psicológicas que o fariam beber começam a não ser levadas em consideração. Muitas pessoas que sofrem do alcoolismo escondem o problema, se afastam de amigos e familiares e são incapazes de buscar ajuda ou se autoajudarem. Existem métodos alternativos como os Alcoólatras Anônimos e o CVV (Centro da Valorização da Vida) onde os dependentes do álcool e drogas falam de seus problemas a pessoas dispostas a ouvir e ajudar. De qualquer maneira, a vontade própria é o requisito básico para deixar o vício. Observa-se que a família exerce, sem dúvida nenhuma, o papel mais importante na formação do caráter do indivíduo. O stress decorrente da competição, seja no setor profissional ou pessoal, o desemprego e problemas sentimentais, influencia cada vez mais o consumo do álcool. No Brasil, os problemas relacionados com o abuso e dependência do álcool são cada vez mais objetos de preocupação por parte das autoridades governamentais, profissionais de saúde, da educação, da família e principalmente da sociedade, haja vista que em decorrência do crescente 13 aumento do consumo alcoólico pela população, atinge de forma indiscriminada, homens, mulheres, adolescentes e idosos, independentemente de classe social muitas vezes acarretando transtornos irreversíveis. A Nova Enciclopédia Barsa (2001), nos apresenta que as causas do alcoolismo podem ser esquematicamente divididas em: 1) ocasionais – quando determinadas pelo próprio meio ambiente; 2) secundárias – quando a ocorrência do hábito se faz após um transtorno mental, como a epilepsia e a arteriosclerose cerebral; 3) alcoolismo de causa psicopatia – quando disposições caracterológicas congênitas facilitam o vício; 4) alcoolismo por conflito neurótico – o desenvolvimento neurótico da personalidade é que vai condicionar o aparecimento do hábito. Segundo Losovski (1998, p. 65): O alcoolismo não atinge apenas um indivíduo, mas sim toda a família. O desajuste que provoca no lar, o drástico impacto na formação da personalidade dos filhos, mostra que nós não estamos diante de um indivíduo enfermo, mas de uma família que adoeceu e é ela em conjunto que deve ser recuperada. A gravidade da dependência alcoólica é uma dimensão necessária em todas as avaliações principalmente para direcionar o enfoque do tratamento, porém não é fácil estabelecer regras absolutas para a graduação da severidade desta dependência. Segundo Edwards, Marshal e Cook (1999, p.49), "quando uma pessoa vivência sintomas de abstinência diariamente por 6 a 12 meses, e bebe para obter alívio a esses sintomas durante o mesmo período, esta pessoa estará gravemente dependente do álcool. Quanto mais um indivíduo tiver repetidos ciclos de abstinência e alívio, mais grave será sua dependência". 14 A Síndrome de abstinência é um conjunto de sinais e sintomas físicos e psíquicos que aparecem em decorrência da diminuição ou interrupção do uso do álcool. Inicialmente, os sintomas de abstinência são leves e intermitentes. Posteriormente, com agravamento da síndrome de dependência, a freqüência e a gravidade dos sintomas aumentam, passando a ser persistentes. Conforme Caldeira (1999 p.16), as primeiras contestações, geralmente, ocorre no ambiente familiar, onde o adolescente começa a questionar comportamentos que lhes são impostos como se fossem leis e passa a exigir da família e do ambiente que o cerca, respostas coerentes aos seus questionamentos. Isso significa a entrada do indivíduo numa nova realidade, com a qual ele vai se relacionar de forma particular e que lhe permitirá reconhecer-se enquanto sujeito. É nessa tentativa que o indivíduo se permite experimentar diversas situações, abstraindo dessas experiências para si, um novo sentido para a sua vida, redefinindo sentimentos e valores. É claro que essa nova consciência de si traz consigo uma série de experiências primeiras que, consciente e/ou inconscientemente, marcaram o vivido na infância desse indivíduo. E é esse novo sujeito que, dentro do contexto em que vive, assumirá novas formas de se posicionar diante da vida e de responsabilizar-se por si mesmo. Constata-se que Alcoolismo é uma intoxicação aguda ou crônica provocada pelo consumo de bebidas alcoólicas, que chega a criar hábito e dependência ou toxicomania. É uma doença progressiva, incurável e fatal se o alcoólatra não parar de beber. Pode ser detida, mas se não for, levará suas vítimas a doenças físicas, loucura ou morte prematura. Além disso, os alcoólicos poderão se envolver em situações psicossociais desagradáveis 15 como: desestruturação familiar, desestruturação psíquica, desemprego, solidão, crime e marginalidade. A grande maioria dos usuários de álcool que procuram ou são encaminhados para tratamento encontram-se extremamente ambivalentes quanto à suspensão do consumo: ao mesmo tempo em que desejam parar com o uso porque está lhes causando problemas, desejam continuar usando, porque lhes causa prazer. A ambivalência é um conflito psicológico que precisa ser superado durante o tratamento. 16 CAPÍTULO II COMO AGE O ÁLCOOL NO CORPO HUMANO, OU SEJA, A INTOXICAÇÃO. Apesar do desconhecimento por parte da maioria das pessoas, o álcool também é considerado uma droga psicotrópica, pois ele atua no sistema nervoso central, provocando uma mudança no comportamento de quem o consome, além de ter potencial para causar dependência. O álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo admitido e até incentivado pela sociedade. Esse é um dos motivos pelo qual ele é encarado de forma diferenciada, quando comparado com as demais drogas. Apesar de sua ampla aceitação social, o consumo de bebidas alcoólicas, quando excessivo, passa a ser um problema. Além dos inúmeros acidentes de trânsito e da violência associada a episódios de embriaguez, o consumo de álcool em longo prazo, dependendo da dose, freqüência e circunstâncias, podem provocar um quadro de dependência conhecido como alcoolismo. Desta forma, o consumo inadequado do álcool é um importante problema de saúde pública, especialmente nas sociedades ocidentais, acarretando altos custos para sociedade (gastos com acidentes de transito decorrentes do uso de álcool e gastos hospitalares principalmente) e envolvendo questões, médicas, psicológicas, profissionais e principalmente as questões familiares, que em muitos casos ultrapassam as paredes do convívio familiar, tornando-se um problema social. O álcool age no organismo provocando os malefícios abaixo descritos: Sistema Nervoso - Amnésias nos períodos de embriaguez acontecem em 30 a 40% das pessoas no fim da adolescência e início da terceira década 17 de vida: provavelmente o álcool inibe algum dos sistemas de memória impedindo que a pessoa se recorde de fatos ocorridos durante o período de embriaguez. Induz a sonolência, mas o sono sob efeito do álcool não é natural, tendo sua estrutura registrada no eletro encefalograma alterada. Entre 5 e 15% dos alcoólatras apresentam neuropatia periférica. Este problema consiste num permanente estado de hipersensibilidade, dormência, formigamento nas mãos, pés ou ambos. Nas síndromes alcoólicas podem-se encontrar quase todas as patologias psiquiátricas: estados de euforia patológica, depressões, estados de ansiedade na abstinência, delírios e alucinações, perda de memória e comportamento desajustado, ou seja, estará afetado psicologicamente. Sistema Gastrintestinal - Grande quantidade de álcool ingerida de uma vez pode levar a inflamação no esôfago e estômago o que pode levar os sangramentos além de enjôo, vômitos e perda de peso. Esses problemas costumam ser reversíveis, mas as varizes decorrentes de cirrose hepática além de irreversíveis são potencialmente fatais devido ao sangramento de grande volume que pode acarretar. Pancreatites agudas e crônicas são comuns nos alcoólatras constituindo-se uma emergência à parte. A cirrose hepática é um dos problemas mais falados dos alcoólatras; é um problema irreversível e incompatível com a vida, levando o alcoólatra lentamente à morte. Câncer - Os alcoólatras estão 10 vezes mais sujeitos a qualquer forma de câncer que a população em geral tende a desenvolver por conseqüência do uso continuo de álcool provocando o Sistema Cardiovascular - Doses elevadas por muito tempo provoca lesões no coração provocando arritmias e outros problemas como trombos e derrames conseqüentes. É relativamente comum a ocorrência de um acidente vascular cerebral após a ingestão de grande quantidade de bebida seja ela de baixo ou alto teor alcoólico. 18 Hormônios Sexuais - O metabolismo do álcool afeta o balanço dos hormônios reprodutivos no homem e na mulher. No homem o álcool contribui para lesões testiculares o que prejudica a produção de testosterona e a síntese de esperma. Já com cinco dias de uso contínuo de 220 gramas de álcool os efeitos acima mencionados começam a se manifestar e continua a se aprofundar com a permanência do álcool. Essa deficiência contribui para a feminilização dos homens, com o surgimento, por exemplo, de ginecomastia (presença de mamas no homem), causando muitas vezes a baixa estima. Hormônios Tireoidianos - Não há evidências de que o alcoolismo afete diretamente os níveis dos hormônios tireoidianos. Há pacientes alcoólatras que apresentam alterações tanto para mais como para menos nos níveis desses hormônios; presume-se que quando isso ocorre seja de forma indireta por afetar outros sistemas do corpo em desenvolvimento ou não. Hormônio do crescimento - Alterações são observadas em indivíduos que abusam de álcool, mas essas alterações não provocam problemas detectáveis como inibição do crescimento ou baixa estatura, pelo menos até o momento. Hormônio Antidiurético - Esse hormônio inibe a perda de água pelos rins, o álcool inibe esse hormônio: como resultado a pessoa perde mais água que o habitual, urina mais, o que pode levar a desidratação. Ociticina - Esse hormônio é responsável pelas contrações do útero no parto. O álcool tanto pode inibir um parto prematuro como atrapalhar um parto a termo, podendo tanto ser terapêutico como danoso, mas na maioria das vezes tornase danoso tendo em vista a incidência de partos prematuros por causa do alcoolismo. . 19 Insulina - O álcool não afeta diretamente os níveis de insulina: quando isso acontece é por causa de uma possível pancreatite que é outro processo distinto. Gastrina - Este hormônio estimula a secreção de ácido no estômago preparando-o para a digestão. O principal estímulo para a secreção de Gastrina é a presença de alimentos no estômago, principalmente as proteínas. É controverso o efeito do álcool sobre a Gastrina, alguns pesquisadores dizem que o álcool não provoca sua liberação, outros dizem que provoca o que levaria ao aumento da acidez estomacal. Segundo EDWARDS, 1997, p. 5. A dependência da substância psicoativa, por ter suas características peculiares em graus de severidade ao longo de um continuum, torna – se uma situação delicada e relevante a ser considerada na realização de seu diagnóstico por parte dos profissionais de saúde que prestam atendimento ambulatorial e/ou hospitalar. Esses quando não capacitados, podem avaliar a dependência como uma entidade única, da qual todas as pessoas sofrem e direcionam - o a um objetivo unilateral, não ajustando as suas abordagens adequadamente. Os transtornos psíquicos convenientes do alcoolismo, conforme sua intensidade e ocorrência configuram quadros psiquiátricos gravíssimos. Um deles é a chamada embriagues patológica, que constitui uma forma especial de intoxicação alcoólica aguda, onde o indivíduo é levado a estados de excitação psicomotores, alucinações ou fabulações. A embriagues patológica é uma intoxicação alcoólica seguida de agressividade e violência, não rotineiramente apresentadas pela pessoa. Em pacientes dependentes mais suscetíveis, esse tipo de reação pode ocorrer com a ingestão de pequenas quantidades de álcool, que seriam insuficientes para produzir intoxicação na maioria das pessoas (Edwards e col., 1999). O 20 comportamento violento e agressivo geralmente se inicia de forma súbita, após o consumo de álcool. Outras características importantes são: a) amnésia para os eventos que ocorreram, durante o estado de intoxicação; b) longo período de sono, que se instala após o episódio de agressividade; c) perda do controle dos impulsos (Laranjeira, 1996). Alguns estudos enfatizam anormalidades eletroencefalográficas e outros sinais de dano cerebral, principalmente disfunção do lobo frontal. Outras possíveis causas subjacentes são a hipoglicemia induzida pelo álcool ou transtornos da personalidade (Edwards, 1999). Somente com novas pesquisas nesta área, torna-se possível que tenhamos, cada vez mais, um maior arsenal terapêutico para que assim possamos tratar o alcoolista, de uma forma mais efetiva, respeitando, acima de tudo, a sua individualidade, o seu desejo e a sua prontidão à mudança. 21 CAPÍTULO III IMPORTÂNCIA DE FAMÍLIA PARA O SER HUMANO É de fundamental importância para o estudo à abordagem acerca da temática família, ao tratar-se dos acompanhamentos aos participantes do CRAS de Linhares - ES (especificamente aos referidos a problemática) tornase inviável analisar o impacto que trouxe à vida destes indivíduos, sem considerar o espaço familiar. Ao analisar de forma concreta a família é visto que esta é considerada um espaço de convívio, que dá ao indivíduo uma referencia que o acompanha em sua vida social e o prepara para a vivencia exterior. É importante destacar que pensar em família hoje pressupõe considerala dentro de uma grande diversidade, essas mudanças na estrutura familiar, tais como famílias sem laços de consangüinidade e mono parentais, além de aspectos sociais, culturais e demográficos, trazem consigo a decadência do modelo hegemônico de família tradicional. Atualmente, podemos observar as mais diversas formas de organização familiar, onde existem casais que se separam e após a separação constituem uma nova família e a união de homossexuais. Os casamentos são motivados não mais pela união de gênero e sim pelo afeto, carinho, paixão ou amor. Podemos relacionar família como local em que nascemos em que nos criamos e desenvolvemos nossas vocações é, verdadeiramente, o núcleo social mais forte. Nela, somos acolhidos de maneira especial, reconhecida por nós mesmos, porque a relação é de amor puro, sincero, duradouro e enraizado tão fortemente que não podemos, mesmo que queiramos romper os seus laços estreitos. 22 A família nuclear moderna surge como uma categoria interpretativa, de maneira que o tipo ideal era compreendido como real, e os modelos eram categoricamente definidos como famílias boas, certas e estruturadas, e os novos arranjos eram vistos como disfuncionais, gerando grande crise de interpretação. O controle social exercido pela família, em algumas situações abarca sérios conflitos de gerações entre pais e filhos, na qual estes não conseguem absorver as heranças de costumes, crenças, valores e relações sociais da estrutura familiar, os conflitos tendem a se intensificar quando há um membro usuário de álcool. É fato que a família é um dos aparelhos ideológicos mais eficazes na vida dos indivíduos, sendo ela, segundo Reis, "mediadora entre os indivíduos e sociedade... é a formadora da nossa primeira identidade social" (2004, p.99). Porém, também é fato que a família contemporânea tem relação cada vez mais estreita com o consumismo capitalista, onde este molda de formas intrínsecas as reproduções ideológicas nos lares de todo mundo. Este tem a mídia e outros meios de comunicações como principal mecanismo de sedução e desenvolvimento de súbitos desejos de consumir. Ainda segundo Reis (2004), o que antes era função quase exclusiva da família, é hoje disseminado por uma vasta gama de agentes sociais, que vão desde a pré-escola até os meios de comunicação em massa, que utilizam à persuasão na imposição de padrões de comportamento, veiculados como normais, dificultando a identificação do agente repressor. Algumas vezes é necessário fazer um contato com a família sobre o andamento do tratamento, porque pacientes pouco motivado podem estar bebendo e tendo problemas em casa, quando isso acontece, o médico deve 23 abordar a questão de forma objetiva e clara sem medo de dizer o que se está percebendo ou o que a família está dizendo. Deve-se tomar o cuidado para não confrontar paciente e família. É na família que encontramos o apoio necessário e, talvez, único, quando a vida nos reserva situações desagradáveis, perdas inesquecível e ou irreparáveis. No convívio com os nossos familiares é que a vida, nos seus melhores momentos, fica ainda melhor e merece ser vivida a cada minuto. No nascimento de um filho, no casamento de um irmão, nas festas tradicionais ou religiosas, no sucesso de um vestibular, na formatura de uma filha, no sucesso de uma intervenção cirúrgica de risco, na compra de uma casa ou no nascimento de um neto, é na família que somos gente. Da família sempre vem o apoio e incentivo quando estamos realizando um grande projeto, quando estamos desanimados e infelizes ou perseguimos uma meta para efetivar os nossos mais caros desejos. È na família que esta o apoio, o incentivo, os valores e a moral. Já nas famílias dos alcoolistas muito dessa convivência harmoniosa e necessária é trocada por conflitos gerados pelo uso do álcool. È no espaço doméstico (família), onde se da grande parte das experiências familiares (boas ou ruins) é onde se compartilha todos os acontecimentos, e onde se da e recebe exemplos. Muitas vezes, os alcoólicos não deixam transparecer aos estranhos que estão alcoolizados. Já no ambiente familiar, quando sentem que há certo medo da família frente a sua pessoa, tornam-se cada vez mais competidores e agressivos, chegando, inclusive, a cenas de quebra-quebra e agressões físicas em que, nesses conflitos, geralmente as crianças e adolescentes são as 24 principais vítimas por assistirem brigas e discussões, e serem violentadas emocionalmente e por vezes até fisicamente. Há alguns casos em que se torna comum às famílias terem em casa um "barzinho" com vários tipos de bebidas, na qual as pessoas vão tomando, muitas vezes sem controle ou, pensando numa solução rápida para os seus problemas ou simplesmente para relaxar. O álcool desta forma costuma ser usado pelas famílias no diminutivo como cervejinha, uisquinho entre outros, como forma de amenizarem os seus males. Esses elementos não são encarados como drogas. Conforme afirma Scivoletto (2002 p.72) em seus estudos acerca do tratamento psiquiátrico de usuários de álcool e do papel da família neste tratamento, o núcleo familiar geralmente está assustado e desorientado quanto à abordagem do problema. Nery Filho e Torres (2002 p.29) completam dizendo: "... Além de sentimentos de angústia, desespero e impotência nos familiares, busca-se um culpado para o que, em geral, passa a ser um drama familiar". Assim ao pensarmos família, podemos ter como exemplo não somente pessoas interligadas por laços sanguíneos, mas em muitos casos uma ligação de respeito mútuo entre as partes envolvidas. Culturalmente vivemos em uma sociedade que por um lado promove um conjunto de normas bem definidas, comportamentos rigidamente moldados e dogmas incontestáveis. Por outro, ostenta uma política de pretensa aceitação e acolhimento de toda uma cultura jovem. Este tipo de dualidade forja profundas desorientações no núcleo familiar, de maneira que a cada tentativa de trazer as 25 claras sua expressão renovada, levanta-se contra ele um leque de pressões e imposições. O alcoolista precisa encontrar um ambiente familiar capaz de suportar as crises que vivencia, onde este não seja propício a resistências excessivas ás suas proporções e impulsos ainda tão desordenados. Independente do caso, a abordagem familiar é parte integrante e indispensável no tratamento de alcoolismo. Não só do tratamento do dependente, mas como suporte de apoio para a melhora. Frequentemente, o problema acaba gerando fortes sentimentos de culpa e frustrações em todos os membros da família. Torna-se necessário uma comunicação clara, na busca de soluções satisfatórias para todos, é dessa forma que se recuperam valores perdidos e se ajuda o usuário. . 26 CAPÍTULO IV CONHECENDO A CONCEPÇÃO DOS ALCOÓLATRAS E SUAS FAMÍLIAS A segunda fase da pesquisa de campo constitui-se de entrevistas com famílias atendidas pelo CRAS de Linhares – ES. Os alcoólatras foram entrevistados de acordo com seu consentimento e aceitação que apresentaram ao serem contatados, sendo necessário para participar de a entrevista ter ao menos 01 ano de permanência no CRAS de Linhares - ES, assim chegou-se à amostra de 05 alcoólatras, que corresponde a 05% da demanda atendida. Através da pesquisa documental foi possível ter acesso ao endereço das famílias e as realizações das entrevistas aconteceram no domicílio destes. A partir das entrevistas aos alcoólatras percebeu-se que cada um deles apresentou aspectos distintos e relevantes. A seguir será feito um relatório onde constaram os dados relevantes levantados durante as entrevistas aos alcoólatras e seus familiares. O perfil das famílias pesquisadas se deu como segue: dividimos em família 01, família 02, família 03, família 04 e família 05, de modos a preservar os entrevistados. A família 01 é composta por 06 pessoas, pai (36 anos), mãe (30 anos), dois filhos (09 e 11 anos), e duas filhas (07 e 13 anos). A família 02 é composta por 05 pessoas, pai (30 anos), mãe (27 anos), dois filhos (08 E 10 anos), e uma filha (05 anos). A família 03 é composta por 07 pessoas, pai (32 anos), mãe (31 anos), irmão do ai (27 anos) duas filhas (08 E 11 anos), e um filho (13 anos). 27 A família 04 é composta por 09 pessoas, pai (36 anos), mãe (30 anos), irmão da mãe (24 anos) três filhos (10, 12 e 16 anos), e duas filhas (08 e 14 anos), e o pai da mãe (66 anos) A família 05 é composta por 06 pessoas, pai (30 anos), mãe do pai (60 anos), pai do pai (61 anos), irmão do pai (36 anos), um filho (12 anos), e uma filha (09 anos). Dos pais pesquisados 03 possuem somente o ensino fundamental, 01 é analfabeto, e 01 possui ensino médio completo. Do ponto de vista empregatício somente 01 possui emprego fixo, 01 encontra-se desempregado e os outros 03 estão subempregados na lavoura, como carregadores e outros bicos. Durante a pesquisa todos os pais, mesmo que sem demonstrarem acreditar no que estavam falando, negaram que tem problemas com o álcool, dizem que bebem “socialmente” e que param de beber assim que quiserem, mas não sabem responder porque não param, ficam confusos e aborrecidos com a pergunta. Os pais dizem que o fato de beberem não traz nenhum tipo de transtornos na educação de seus filhos, pois sempre presenciaram o uso de álcool quando crianças/adolescentes e, na perspectiva deles, nesse fato não lhe trouxe nenhum tipo de problemas, ou seja, negam os transtornos causados por seu uso de álcool e negam que o exemplo que estes tiveram na infância tenha influenciado suas atitudes e seu vicio no presente, despreocupando-se com os exemplos que dão aos filhos. Já na analise das esposas/companheiras 02 são do lar, e 02 são faxineiras, todas só estudaram o ensino fundamental e são unânimes em dizer que os companheiros são alcoólatras e que bebem diariamente, o que gera violência através de brigas, discussões, quebra-quebra e que o fato de os maridos gastarem grande parte da renda familiar com o vicio torna as 28 condições socioeconômicas da família ainda mais precária, e que por isso por vezes ficam com contas a pagar. Durante as entrevistas pode-se também perceber que todas parecem desmotivadas e não acreditam em melhoras de seus companheiros. Na pesquisa com os filhos foi verificado que das 17 crianças/adolescentes todas estão com a escolaridade defasada. E durante as entrevistas relatarem que principalmente nos fins de semana é mais difícil a convivência familiar, tendo em vista que devido à bagunça (cantam, dança, gritam, brigam) é difícil dormir e muitas vezes sentem-se envergonhados. Segundo eles na casa não existe rotina, e nunca sabem o que esperar do pai. Do ponto de vista profissional essas crianças /adolescentes são expostas diariamente à violência emocional e a uma mudança de valores que se mostraram quando estes forem adultos e se tornarem alcoolistas baseados nas experiências adquiridas com seus pais. Durante as entrevistas as crianças/adolescentes mostraram-se bastante desestruturadas quanto ao que almejam para o futuro, somente 03 dos 17 entrevistados disseram que querem estudar e seguir uma profissão, os outros disseram não saber o que querem, ou esperam do futuro. Quando alguns autores dizem que em uma família com um alcoolista, toda a família esta doente e necessita de tratamento, é bastante correto já que os efeitos do álcool envolvem toda a família. Através das entrevistas fica constatado de forma efetiva todo o embasamento teórico contido neste trabalho, pois se o usuário não dispuser de um tratamento e apoio familiar não conseguirá alcançar um resultado positivo, podendo até mesmo em vez de melhorar entrar em um grau de dependência 29 muito maior, trazendo para si e para seus familiares conseqüências muitas vezes irreversíveis. 30 CAPÍTULO V TRATAMENTO DO ALCOOLISMO A identificação precoce do alcoolismo geralmente é prejudicada pela negação dos pacientes quanto a sua condição de alcoólatras. Além disso, nos estágios iniciais é mais difícil fazer o diagnóstico, pois os limites entre o uso "social" e a dependência nem sempre são claros. Quando o diagnóstico é evidente e o paciente concorda em se tratar é porque já se passou muito tempo, e diversos prejuízos foram sofridos. É mais difícil de reverter o processo. Como a maioria dos diagnósticos mentais, o alcoolismo possui um forte estigma social, e os usuários tendem a evitar esse estigma. Esta defesa natural para a preservação da auto-estima acaba trazendo atrasos na intervenção terapêutica. Para se iniciar um tratamento para o alcoolismo é necessário que o paciente preserve em níveis elevados sua auto-estima sem, contudo, negar sua condição de alcoólatra, fato muito difícil de conseguir na prática. O profissional deve estar atento a qualquer modificação do comportamento dos pacientes no seguinte sentido: falta de diálogo com o cônjuge, freqüentes explosões temperamentais com manifestação de raiva, atitudes hostis, perda do interesse na relação conjugal. O álcool pode ser procurado tanto para ficar sexualmente desinibido como para evitar a vida sexual. No trabalho os colegas podem notar um comportamento mais irritável do que o habitual, atrasos e mesmo faltas. Acidentes de carro passam a acontecer. Quando essas situações acontecem é sinal de que o indivíduo já perdeu o controle da bebida: pode estar travando 31 uma luta solitária para diminuir o consumo do álcool, mas geralmente as iniciativas pessoais acabam fracassando. As manifestações corporais costumam começar por vômitos pela manhã, dores abdominais, diarréia, gastrites, aumento do tamanho do fígado. Pequenos acidentes que provocam contusões, e outros tipos de ferimentos se tornam mais freqüentes, bem como esquecimentos mais intensos do que os lapsos que ocorrem naturalmente com qualquer um, envolvendo obrigações e deveres sociais e trabalhistas. A susceptibilidade a infecções aumenta e dependendo da predisposição de cada um, pode surgir crises convulsivas. Nos casos de dúvidas quanto ao diagnóstico, deve-se sempre avaliar incidências familiares de alcoolismo porque se sabe que a carga genética predispõe ao alcoolismo. É muito mais comum do que se imagina a coexistência de alcoolismo com outros problemas psiquiátricos prévios ou mesmo precipitante. Os transtornos de ansiedade, depressão e insônia podem levar ao alcoolismo. Tratando-se a base do problema muitas vezes se resolve o alcoolismo. Já os transtornos de personalidade tornam o tratamento mais difícil e prejudicam a obtenção de sucesso. Segundo MOURA, 1992, p.16. o alcoolismo constitui a segunda principal causa de internações psiquiátricas e o quinto mais freqüente dos diagnósticos ambulatoriais. O alcoolismo, essencialmente, é o desejo incontrolável de consumir bebidas alcoólicas numa quantidade prejudicial ao bebedor. O núcleo da doença é o desejo pelo álcool; há tempos isto é aceito, mas nunca se obteve uma substância psicoativa que inibisse tal desejo. Como prova de que 32 inúmeros fracassos não desanimaram os pesquisadores, temos hoje já comprovadas, ou em fase avançada de testes, três substâncias eficazes na supressão do desejo pelo álcool, três remédios que atingem a essência do problema, que cortam o mal pela raiz. Estamos falando da naltexona, do acamprosatoe da ondansetrona. O tratamento do alcoolismo não deve ser confundido com o tratamento da abstinência alcoólica. Como o organismo incorpora literalmente o álcool ao seu metabolismo, a interrupção da ingestão de álcool faz com que o corpo se ressinta: a isto chamamos abstinência que, dependendo, do tempo e da quantidade de álcool consumidos pode causar sérios problemas e até a morte nos casos não tratados. As medicações acima citadas não têm finalidade de atuar nessa fase. A abstinência já tem suas alternativas de tratamento bem estabelecidas e relativamente satisfatórias. O dissulfiram é uma substância que força o paciente a não beber sob a pena de intenso mal estar: se isso for feito, não suprime o desejo e deixa o paciente num conflito psicológico amargo. Muitos alcoólatras morreram por não conseguirem conter o desejo pelo álcool enquanto estavam sob efeito do Dissulfiram. Mesmo sabendo o que poderia acontecer, não conseguiram evitar a combinação do álcool com o Dissulfiram, não conseguiram sequer esperar a eliminação do Dissulfiram. Fatos como esses servem para que os clínicos e os não-alcoólatras saibam o quanto é forte a inclinação para o álcool sofrido pelos alcoólatras, mais forte que a própria ameaça de morte. Serve também para medir o grau de benefício trazido pelas medicações que suprimem o desejo pelo álcool, atualmente disponíveis. Podemos fazer uma analogia para entender essa evolução. Com o Dissulfiram o paciente tem que fazer um esforço semelhante ao motorista que 33 tenta segurar um veículo ladeira abaixo, pondo-se à frente deste, tentando impedir que o automóvel deslanche, atropelando o próprio motorista. Com as novas medicações o motorista está dentro do carro apertando o pedal do freio até que o carro chegue ao fim da ladeira. Em ambos os casos, são possíveis chegar ao fim da ladeira (controle do alcoolismo). Numa o esforço é enorme causando grande percentagem de fracassos; noutro o esforço é pequeno, permitindo grande adesão ao tratamento. Na maioria dos casos, o tratamento do alcoolismo começa com a interrupção do ato de beber, de preferência por supervisão médica. Esse processo é conhecido como desintoxicação e normalmente demora cinco dias até que aconteça a abstinência caracterizada por tremores, alucinações e alterações de comportamento. A pessoa pode se internar numa clinica de reabilitação, se tiver condições financeiras para isso. Se não tiverem condições financeiras, devem recorrer ao apoio de amigos e parentes e ao aconselhamento de um profissional, seja médico, psicólogo ou assistente social. O paciente, mesmo desintoxicado, em ausência de sintomatologia clinica, continua sendo um etilista, enquanto ainda estivesse fisiologicamente dependente do álcool e sentisse o desejo incontrolável de ingerir bebidas alcoólicas (LECOEUR, 1992, p. 63). O tratamento deve resolver problemas físicos e mentais ligadas ao abuso do álcool. A terapia psicológica frequentemente inclui aconselhamento individual ou em grupo (seções de psicoterapia). "Quando isso é conveniente ou solicitado pelo alcoólatra, membros da família ou amigos podem comparecer às reuniões e serem estimulados a fornecer apoio moral e psicológico" (FERRARINE, 1982). Segue exemplo de instituição que fornece apoio aos alcoólatras: 34 ORGANIZAÇÃO DOS ALCOOLATRAS ANÔNIMOS (AA) Segundo a própria AA, ela foi fundada em 1935 e passou a desempenhar um papel crucial na aceitação do alcoolismo como uma doença. Como uma organização de ajuda, os AA foram formados para possibilitar e encorajar os alcoólatras a se auxiliarem mutuamente a fim de vencer o vício do álcool. A filosofia fundamental do AA é estabelecer que o alcoolismo seja uma doença do corpo e da mente, não uma fraqueza mora, e que os alcoólatras precisam se abstiver completamente da bebida para conseguirem lidar com esta doença. É louvável a existência desta irmandade mundial de homens e mulheres alcoólatras, pois desempenham um trabalho extremamente eficiente. O grande desejo deste grupo de ajuda coletiva é de que todos aqueles que ainda não encontraram uma solução para seus problemas com a bebida, unem-se para que, juntos, alcancem o caminho para libertarem-se do vício. 35 CONCLUSÃO Através de estudos, notamos que o alcoolismo se expande de forma crescente, impedindo, dessa forma, que conheçamos todos os males por ele causados. O alcoolismo encontra-se em todas as camadas sociais, disfarçado ou explicito, mas, nas camadas mais pobres da sociedade vem aumentando muito nos últimos anos e sempre interfere na saúde física e mental, e principalmente, na moral e na decência do indivíduo. Por isso, precisamos de uma maior postura dos governantes no combate das causas desta doença. Pois os gastos com seus efeitos, especificamente na saúde pública, são elevados. E a ciência, com sua importância, dinamizam pesquisas na procura de substancias capazes de bloquear a dopamina, quando se ingere o álcool. Quanto aos pais, que não fujam da responsabilidade, pois são os principais construtores da personalidade dos filhos. Os pais de hoje devem saber que a instituição familiar perdeu muita força. É necessário, portanto, um maior engajamento, uma postura mais ativa de permanente busca dos filhos e do estimulo para a construção de um mundo de valores compatíveis com a natureza humana. Ficou constatado que o alcoolismo é o conjunto de problemas relacionados ao consumo excessivo e prolongado do álcool; é entendido como o vício de ingestão excessiva e regular de bebidas alcoólicas, e todas as conseqüências decorrentes. O alcoolismo é, portanto, um conjunto de diagnósticos. Dentro do alcoolismo existe a dependência, a abstinência, o abuso (uso excessivo, porém não continuado), intoxicação por álcool (embriaguez). Síndromes amnésicas (perdas restritas de memória), demências, 36 alucinatória, delirante, de humor. Distúrbios de ansiedade, sexuais, do sono e distúrbios sem especificação. Por fim o delirium tremens, que pode ser fatal. Assim o alcoolismo é um termo genérico que indica algum problema, mas precisamente, é necessário apontar quais ou quais distúrbios estão presentes, pois geralmente há mais de um. O estudo verificou o padrão de uso de álcool pelas famílias de baixa renda e a relação com os comportamentos violentos. Foram entrevistadas 05 famílias que fazem acompanhamento no CRAS de Linhares – ES. A violência pode ser causada por fatores sociais, econômicos, culturais, psicológicos e situacionais. E em relação à família, a violência é geralmente causada por fatores como o uso de álcool e drogas e pode ser intrafamiliar (entre os membros da família) principalmente onde é feito o uso indiscriminado de bebidas alcoólicas por membros que deveriam estar ocupando a posição de autoridade no seio familiar. A pesquisa realizada deixou claro que o uso de álcool nas famílias, alcança níveis significativos, equivalentes aos encontrados em outros trabalhos de investigação em todo o país. O estudo mostrou também que as maiorias das famílias encontram-se desmotivadas e sem esperança quanto ao futuro. E considerando que juntamente com o alcoolista toda a família adoece, toda a família deve ser tratada de modo a minimizar os transtornos desse uso do álcool. 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALCOOLICOS ANÔNIMOS. A História de milhares de homens e mulheres que se recuperam do alcoolismo. São Paulo: Formar, 1980. BARSA, ENSICLOPÉDIA. Brasília: Àtica, 2000. CALDEIRA, Zélia Freire. Drogas, indivíduo e família: um estudo de relações singulares. [Mestrado] Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública; 1999. Disponível em http://portalteses.cict.fiocruz.br. Acesso em 07 de fevereiro de 2011. EDWARDS, G. & Dare, C. (1997). Psicoterapia e tratamento de adições. São Paulo, SP: Artes Médicas. 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F. Diagnóstico de alcoolismo. Inf Psiq.v.11, n.1, p.15-18. 1992. 38 REIS, José Roberto Tozoni. Família, emoção e ideologia. IN: LANE, Silvia Tatiana Maurer; CODO, Wanderley. (org). Psicologia Social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 2004. SCIVOLETTO, Sandra. A adolescência. IN: BELYK, B; BACY, Fleitlich [et al]. Saúde mental do jovem brasileiro. São Paulo: EI – Editora Inteligente, 2002. SILVA, Maria de Lourdes et. al. Alcoolismo: o problema com a qual muitos convivem e poucos conhecem. São Paulo: ADCON, 1987. VIZZOLTO. Salete Maria. Uma onda perigosa: fumo – álcool – drogas. Petrópolis, 1991. 39 ANEXO ROTEIRO PARA ENTREVISTA 1 – RESPONSÁVEL PELA FAMÍLIA NOME DATA DE NASCIMENTO ESCOLARIDADE NATURALIDADE/ ESTADO SEXO IDADE ESTADO CIVIL PROFISSÃO/ OCUPAÇÃO RENDA R$ CIDADE DE ORIGEM/ ESTADO 2– COMPOSIÇÃO FAMILIAR NOME SEXO PARENTESCO IDADE ESCOLARIDADE OCUPAÇÃO RENDA MENSAL CARTEIRA ASSINADA 3 – INFORMAÇÕES RELATIVAS À UNIDADE HABITACIONAL CONDIÇÃO DE OCUPAÇÃO DO IMÓVEL N° DE COMODOS □Próprio □Cedido □Com Familiares □Ocupado □Alugado valor R$ 4 – INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES Entrevista com a esposa do alcoolista: (questionamentos: como é a convivência, o que sente) Entrevista com a os filhos do alcoolista: (questionamentos: como é a convivência, como é o rendimento escolar, o que sente) Entrevista com o alcoolista: (questionamentos: por que beber, beber prejudica a sua família, e seus filhos não influencia)