X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 LINGUAGEM NO ENSINO DE MATEMÁTICA: EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DA 1ª SÉRIE DO EM NO ESTUDO DE FUNÇÕES Saymon Michel Sanches Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Ponta Grossa [email protected] Rita de Cássia da Luz Stadler Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Ponta Grossa [email protected] Guataçara dos Santos Júnior Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Ponta Grossa [email protected] Resumo: Desenvolver o hábito de leitura nos alunos é uma obrigação de todas as pessoas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem, afinal de contas essa é necessária em todas as áreas específicas e facilita o desenvolvimento do estudante que se torna culturalmente mais preparado para se posicionar perante aos seus direitos e deveres como cidadão. Levando em consideração tais obrigações para com o desenvolvimento da educação, a experiência relatada buscou aproximar o aluno ainda mais do processo de aprendizagem objetivando desenvolver no mesmo o costume de relacionar e utilizar os conceitos matemáticos em situações diversas. Através de uma atividade experimental envolvendo situações de escoamento de água, se desenvolveram conceitos referentes às relações entre variáveis e de como tais relações podem ser descritas matematicamente por meio de uma relação ou modelo genérico. A partir da produção de relatórios pelos estudantes verificou-se que as ligações existentes entre o conteúdo e o contexto diários são grandes e podem ajudar muito na questão da conscientização e bom senso com relação ao desperdício de água. Palavras-chave: Ensino de matemática; Linguagem; Funções. INTRODUÇÃO Durante o processo de ensino de matemática se faz necessária, em determinados momentos, a utilização de estratégias didáticas que propiciem a interação do aluno com o objeto a ser estudado, com o intuito de aproximá-lo dos conceitos pertinentes a tal conteúdo de forma diferenciada, propiciando ao discente um novo olhar para o assunto ou o tema de estudo. Tal observação deve se desenvolver de maneira natural, contando com a participação do professor que encaminha e dá respaldo quando do surgimento dúvidas e questionamentos referentes ao processo de aquisição do conhecimento. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Relato de Experiência 1 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 Observando os métodos desenvolvidos por vários docentes durante as aulas de Matemática, constatou-se que o processo de ensino passa por uma infinidade de problemas que vem sendo acumulados desde o início da vida escolar. A não resolução dessas lacunas talvez seja o maior problema para relacionado ao não desenvolvimento de estruturas efetivamente sólidas em matemática, levando-se em consideração que boa parte dos conceitos necessários para o desenvolvimento de conteúdos em uma determinada série ou ciclo depende em grande parte dos conhecimentos adquiridos em etapas anteriores, e que já deveriam estar fixados para utilização dos mesmos como auxiliadores em conhecimentos novos que se processarão em conhecimentos a serem adquiridos futuramente. Percebe-se também que muitas vezes professores não buscam despertar no estudante o interesse em descobrir como a matemática pode ser útil em várias situações cotidianas e em como a mesma é utilizada como ferramenta indispensável em vários ramos da ciência, ensinando os conceitos matemáticos de maneira vaga, sem mostrar suas possíveis utilizações nas mais diversas situações. Analisando os problemas existentes no ensino da disciplina, buscou-se introduzir uma atividade na qual se desenvolveu o conceito de função de tal forma que fosse observada a importância deste conhecimento em situações nas quais há vazamento em redes de encanamentos, determinação de quantidades de água desperdiçadas por uma torneira ou chuveiro aberto ininterruptamente por um determinado espaço de tempo, e demais conceitos observados pelos alunos no texto entregue como etapa final do desenvolvimento do projeto. Integradas à idéia do projeto foram desenvolvidas aulas de leitura e interpretação de textos componentes de enunciados de questões nas quais em linguagem corrente eram descritas situações nas quais os estudantes deveriam interpretar tais situações e transpor para a linguagem matemática transpondo termos escritos em operações matemáticas e equações. REFERENCIAL TEÓRICO As palavras a seguir de refletem um pensamento bastante interessante no que diz respeito á comunicação oral, escrita e/ou visual em matemática: Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Relato de Experiência 2 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 A palavra comunicação esteve presente durante muito tempo ligada a áreas curriculares que não incluíam a Matemática. Pesquisas recentes afirmam que, em todos os níveis, os alunos devem se comunicar matematicamente e que os educadores precisam estimular o espírito de questionamento e levar seus educandos a pensar e comunicar idéias. (Smole e Diniz, 2009, P. 144) O passo inicial necessário para que o aluno seja estimulado a se comunicar, é desenvolver o hábito de interpretar e questionar todo tipo de afirmação que lhe é exposta, e tal hábito se processa quando o mesmo entende que a etapa da leitura é a mais importante de todas, pois quando o aluno lê, ele processa as informações e tem a capacidade de julgar e interpretar aquilo que está lendo e utilizar partes do texto que lhe sejam interessantes ou úteis para uma utilização posterior, sendo despertada no mesmo a vontade de descobrir fatos novos com os quais poderá interligar de maneira efetiva conceitos e idéias pertinentes a determinada situação. Sabe-se que a típica aula de matemática no nível de primeiro, segundo ou terceiro graus ainda é uma aula expositiva, em que o professor passa para o quadro negro aquilo que ele julga importante. O aluno, por sua vez, copia da lousa para o seu caderno e em seguida procura fazer exercícios de aplicação, que nada mais são do que uma repetição na aplicação de um modelo de solução apresentado pelo professor. Essa prática revela a concepção de que é possível aprender matemática através de um processo de transmissão de conhecimento. Mais ainda, de que a resolução de problemas reduz-se a procedimentos determinados pelo professor. (D’Ambrósio, 1989, P. 15) Observando o posicionamento da autora, percebe-se que grande parte dos professores age de tal forma pelo fato de não perceberem que podem tornar as aulas muito mais ricas e produtivas para ambas as partes, se os mesmos deixarem de lado o papel de transmissores de conteúdos, e dividir com os estudantes a tarefa de adquirir novos conhecimentos tornando-os participantes ativos do processo de aprendizagem e propiciando aulas nas quais se processam questionamentos, que virão a gerar descobertas com as quais haverá enriquecimento do conteúdo e maior aproximação entre professor e alunos. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Relato de Experiência 3 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 Uma maneira interessante de desenvolver tal aproximação durante as aulas de matemática é incentivar o aluno a se integrar ao processo, seja por meio de experimentações feitas pelo mesmo nas quais observará regras e regularidades das quais nem sempre se dá conta quando simplesmente observa o professor desenvolver os algoritmos no quadro negro, ou por projetos variados que venham a enriquecer o processo de aprendizagem, produzindo assim suas próprias respostas e concluindo que pode desenvolver suas conclusões sem que o professor necessariamente mostre os caminhos que o estudante deve seguir. Smole e Diniz (2009) relatam em seu texto referente à comunicação em matemática a importância que a escrita e a oralidade tem no desenvolvimento do conhecimento matemático que o aluno processa no que diz respeito apropriação de conceitos, sugerindo atividades diversas em que o cognitivo do aluno entrará em ação para o desenvolvimento do espírito investigativo e descobridor, no qual a matemática deve estar totalmente inserida para deixar de ter a imagem de que é ciência pronta e acabada, permitindo-se a ela uma flexibilidade quando se observa idéias incoerentes, tornando-as mais próximas de uma solução aceitável para determinados problemas. A humanidade está imersa em uma sociedade caracterizada pela história e pelas relações sociais, existindo uma interação permanente entre os indivíduos, que em cada época compartilham um sistema de princípios sociais, conhecimentos, tradições, superstições, linguagens, leis e vários outros costumes. Esse sistema, por sua vez, é transmitido de uma geração para outra, utilizando diversos meios, sendo a educação formal um deles. (Camargo e Nardi, 2006, P. 117) Se a educação formal ocupa um lugar no papel de desenvolver tais princípios nos estudantes, cabe ao professor promover meios para o desenvolvimento de tais características, utilizando-se dos métodos que achar mais pertinentes em cada momento do seu encaminhamento pedagógico. Então se devem promover conhecimentos com os quais o aluno desenvolva aspectos relacionados à sua vida extraclasse e consiga perceber as relações com o aprendido na escola. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Relato de Experiência 4 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 O PROJETO O projeto foi desenvolvido em duas etapas. Uma experimental e outra teórica com o registro dos conceitos investigados durante a primeira. Foi solicitado aos alunos, um mês antes da execução da parte experimental do projeto, que formassem grupos de cinco integrantes e providenciassem os seguintes materiais: - Três latas de metal (Nescau, Óleo de soja, Leite Ninho ou similares) de mesmo tamanho. - Um recipiente com graduação em litros. - Uma bacia. - Um prego. - Um cronômetro. Os alunos nesse momento demonstraram bastante curiosidade com relação ao motivo da solicitação de tais materiais, e qual seria a utilização do material a ser providenciado. Durante o mês que se transcorreu foram desenvolvidos os mais variados conceitos de função, e qual a aplicabilidade que as funções têm nos campos da matemática e de outras ciências. Discussões diversas durante as aulas compuseram os primeiros momentos da parte teórica do experimento tais como a leitura e interpretação de problemas envolvendo funções nos quais a escrita inicial era em linguagem corrente e eram discutidas as transposições para a escrita matemática, e as mais variadas possibilidades de resolução dos problemas expostos. Os problemas discutidos envolviam os mais variados assuntos e eram colocadas em questão situações reais sobre os referidos temas. Por exemplo na atividade a seguir, em: Num posto de combustível, o preço único da gasolina é R$ 2,20. I. Responda: a) O valor a ser pago pelo proprietário de um carro a gasolina que abastece nesse posto é função de quê? b) Duas pessoas pagaram a mesma quantia após colocarem gasolina em seus carros, nesse posto. O que podemos afirmar sobre as quantidades de litros de combustível colocadas nesses carros? Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Relato de Experiência 5 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 c) O valor a ser pago pela gasolina colocada num carro varia de forma diretamente proporcional à quantidade de litros colocados? II. Complete a tabela abaixo, relacionando as grandezas número de litros de gasolina e o preço a ser pago por eles, nesse posto. Litros 10 20 25 40 50 Preço (R$) III. Escreva a fórmula que define essa função, representando por y a quantia a ser paga pelo combustível, nesse posto, e por x a quantidade de litros de gasolina. IV. Determine quantos litros de gasolina, no máximo, uma pessoa poderá colocar em seu carro nesse posto, com R$ 50,00. (Lima, 2008, P. 2) Num primeiro momento eram discutidos aspectos referentes à questão em si e de como os modelos matemáticos de função poderiam ajudar a descrever a generalização de tais situações. Após isso os alunos eram incentivados a pesquisar outros conceitos pertinentes ao assunto em questão, buscando novas informações sobre o assunto e tornando mais estreita a relação entre os conceitos matemáticos e a vida fora da sala de aula. Após todas as discussões e questionamentos, os alunos desenvolveram a parte experimental do trabalho que consistia de um experimento referente à observação da vazão de água em determinadas situações. Prepararam-se inicialmente as latas nas quais os alunos efetuaram três, seis e nove furos respectivamente utilizando o prego e o martelo oferecido pelo professor. Após isso se iniciaram as contagens de tempo para observar qual o a vazão de água quando despejada nos recipientes com as diferentes quantidades de furos e também muito bem observado pelos estudantes de que à medida que a quantidade de água diminuía dentro do recipiente, o escoamento era mais lento registrando-se aí um questionamento de que a pressão exercida pela água restante na lata era menor a cada espaço de tempo. Para cada lata o experimento foi realizado cinco vezes, registrando-se as passagens de tempo para o escoamento de 200, 400, 600, 800 e 1000 ml de água e posteriormente calculadas as médias de tempo do escoamento de cada quantidade de água. Com base nos experimento foram desenvolvidos questionários referentes à experiência e observados textos elaborados pelos integrantes dos grupos nos quais Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Relato de Experiência 6 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 relatavam as experiências vividas durante o período de desenvolvimento do experimento e quais aspectos foram considerados positivos ou negativos para possíveis discussões em sala de aula. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pretendeu-se com o projeto nomeado “proporcionalidade no laboratório” incentivar o desenvolvimento de novos métodos que propiciem uma melhor relação entre professores e alunos, gerando nos últimos uma vontade maior de estudar, crescer e se desenvolver como cidadãos e profissionais que defenderão seus pontos de vistas enriquecerão seu poder de argumentação não só em Matemática, mas também em toda área em que forem encaminhar suas vidas. Os professores devem ter consciência de que nesse tão crítico momento vivido na vida familiar, eles tem papel na formação dos indivíduos que lhes são confiados, e promover o desenvolvimento dos estudantes da melhor forma possível tornando-os capazes de se “defender” no mundo no qual serão inseridos futuramente. REFERÊNCIAS SMOLE, Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ignez. Comunicação em Matemática: instrumento de ensino e aprendizagem. Curitiba: Associação de ensino Senhor Bom Jesus – Plano de atividades, 2009. P. 144-146. D’AMBROSIO, Beatriz Silva. Como ensinar matemática hoje? Temas e Debates. Brasília: SBEM, Ano II, N2, 1989. P. 15-19. CAMARGO, Sérgio; NARDI, Roberto. A linguagem no ensino de Física: interpretação de discursos de licenciados num estágio supervisionado de regência. Analogias, leituras e modelos no ensino de ciência: a sala de aula em estudo. São Paulo: Escrituras Editora, 2006. P. 117-139. LIMA, Maria Cristina Ponciano de; TINANO, Marilene Turíbia de Rezende. Matemática: 9º ano/8ª série ensino fundamental, livro 2. Belo Horizonte: Editora Educacional, 2008 89 p. Menezes, Luís. Matemática, Linguagem e Comunicação. Encontro Nacional de Professores de Matemática. Portimão, 1999. Disponível em: <http://www.ipv.pt/millenium/20_ect3.htm> Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Relato de Experiência 7