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DESAFIOS PARA A INCLUSÃO DOS HOMENS NOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO
PRIMÁRIA À SAÚDE
CHALLENGES FOR INCLUSION OF WOMEN IN THE SERVICES OF PRIMARY
HEALTH CARE
Bruno Ramos Albano
Graduado em enfermagem pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG.
[email protected]
Marcio Chaves Basílio
Graduado em enfermagem pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG.
[email protected]
Jussara Bôtto Neves
Enfermeira. Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Especialista em administração pública com
aprofundamento em gestão pública e em formação pedagógica em educação na área de saúde.
Docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste-MG. [email protected]
RESUMO
Incluir os homens na atenção primária à saúde é um desafio às políticas públicas, pois estes não
reconhecem a importância da promoção da saúde e prevenção de doenças como questões
associadas ao homem. Muitas são as suposições e justificativas para a pouca presença masculina
nos serviços de atenção primária à saúde. Os objetivos que nortearam esta pesquisa foram:
identificar as necessidades de saúde dos homens, a percepção deles sobre o que é saúde, verificar
se há mitos que impedem a adesão às intervenções de saúde e as justificativas apresentadas com
relação à procura ou não pelos serviços de saúde. Realizou-se uma pesquisa exploratória com
abordagem qualitativa, com uma amostra aleatória de 59 homens residentes no município de
Coronel. Fabriciano, tendo como instrumento de coleta de dados um roteiro de entrevista. Os
resultados demonstraram que cada homem participante conceitua a saúde de uma forma diferente,
dos participantes 57, 62 % têm medo de adoecer e seguem a terapêutica prescrita no tratamento até
o fim, no entanto procuram pouco os serviços de saúde, limitando a procura à presença de doenças.
Os resultados alcançados evidenciam que a entrada dos homens nos serviços é difícil, pois muitas
vezes se acham invulneráveis aos agravos ou buscam formas mais rápidas para resolução dos
problemas que os afligem.
PALAVRAS-CHAVE: Saúde do Homem. Atenção Primária a Saúde. Acesso aos Serviços de
Saúde.
ABSTRACT
It has been a challenge to include men in primary care, because they don´t recognize the prevention
and the health care like a question related to men. There are many assumptions and justifications for
the low men´s participations in the primary health care services. The goals that guide this research
are: Identify the men´s health needs , their perception about health, check if there are myths that don´t
let them look for health interventions, and the reasons they think about searching or not the health
services. It was made a exploratory reseach with a qualitative aproach, having a random sample of 59
men, the instrument used to collect data was a interview guide with open questions and multiple
choices questions. The research showed that each one think about health in a diferent way, 57.62% of
participants are afraid of getting sick and follow prescribed therapy in the treatment until the end,
however they look for health services rarely, only when they have some desease.
The results shows that is not usual a man entering on the services health because many times they
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think they are not vulnerable to the injuries and only look for help when already sick, or look for fast
ways to solve the problems that afflict them.
KEY WORDS: Men's Health. Primary Health Care. Health Services Accessibility.
INTRODUÇÃO
No Brasil é bastante disseminada a idéia de que as unidades de atenção
primária a saúde (UAPS) são serviços destinados quase que exclusivamente para
mulheres, crianças e idosos. Muitas são as suposições e justificativas para a pouca
presença masculina nos serviços de atenção primária à saúde (FIGUEIREDO,
2005). Segundo Schraiber et al. (2005), a inclusão dos homens em ações de saúde
é desafiadora, por estes não reconhecerem a importância do cuidado e a
valorização do corpo no sentido da saúde como questões sociais do homem.
De acordo com Figueiredo (2005), nota-se que na atenção primária a demanda
dos homens por atendimento é inferior à das mulheres, devido a diferentes variáveis
(citadas no parágrafo anterior), uma delas aponta a prevalência masculina na
procura de serviços emergenciais, tais como farmácias e pronto-socorro, pois nestes
serviços poderiam expor melhor seus problemas e serem atendidos mais
rapidamente. Essa busca por esses serviços de saúde se opõe ao preconizado por
Brasil (2006) uma vez que a atenção básica é a porta de entrada e o principal
contato dos usuários com os serviços de saúde, independente de sexo ou idade.
Esse fato é associado à própria socialização dos homens, em que o cuidado
não é visto como uma prática masculina, e também outros fatores como horários de
atendimento das UBS, medo de descobrirem outras doenças e a questão de muitas
vezes o atendimento ser feito por pessoas do sexo feminino, o que cria uma barreira
a mais na questão do cuidado (COURTENAY, 2005 apud GOMES; NASCIMENTO;
ARAUJO, 2007). A compreensão dessas barreiras é importante para a criação de
medidas que possam promover o acesso desta população aos serviços de atenção
primária com o intuito de garantir a prevenção e a promoção de saúde (BRASIL,
2008).
Gomes, Nascimento e Araujo (2007) afirmam que o homem é visto como
invulnerável forte e viril, sendo essas características abaladas pela procura dos
serviços de saúde o que demonstra sinais de fraqueza, medo e insegurança. Essa
pouca demanda masculina na atenção primária contribui para que os homens
desenvolvam patologias passíveis de prevenção e tratamento eficiente quando
diagnosticadas precocemente, porém com o diagnóstico tardio têm mal prognóstico
(COURTENAY, 2005 apud GOMES; NASCIMENTO; ARAUJO, 2007).
A população masculina geralmente é acometida por condições severas e
crônicas de saúde, tendo índice de mortalidade pelas mesmas causas maior que as
mulheres (LAURENTI, 2005 apud GOMES; NASCIMENTO; ARAUJO, 2007), pois a
população masculina não se reconhece como alvo do atendimento de programas de
saúde, devido às ações preventivas serem dirigidas quase que exclusivamente para
mulheres (SCHARAIBER; GOMES; COUTO, 2005).
Há um preconceito em relação ao gênero masculino, pois a saúde do homem
ao longo dos anos foi pouco discutida e abordada, implicando ao mesmo de não ser
assistido e de não se cuidar (BRAZ, 2005). Sendo necessário que os serviços de
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saúde considerem e enfrentem esta situação identificando as necessidades de
saúde dos homens e intervindo com ações preventivas e de promoção à saúde
(FIGUEIREDO, 2005).
De acordo com Gomes, Nascimento e Araujo (2007), Braz (2005) os serviços
de saúde têm uma deficiência em absorver a demanda apresentada pelos homens,
proporcionada pela organização dos serviços que não estimula o acesso destes
homens e, pelo fato das próprias campanhas de saúde pública não se voltarem para
este segmento da população. Assim, são necessárias mudanças nas estratégias dos
serviços de saúde e no enfoque relacionado ao gênero masculino.
De acordo com Brasil (2008), para mudar esta realidade, o Ministério da Saúde
apresenta a Política Nacional de Atenção Integral à saúde do Homem objetivando
promover ações de saúde voltadas para a população masculina adulta, que
compreende 20% da população total do Brasil.
Segundo Brasil (2008), as principais causas de internações do gênero
masculino com faixa etária entre 25-59 anos em 2007 foram por: doenças do
aparelho digestivo; doenças do aparelho circulatório; doenças do aparelho
respiratório; tumores; outras causas (Asma, DPOC, Pneumonia, Hipertensão arterial,
coronarioapatias, etc) e causas externas (acidentes e violência). Cerca de 80% das
internações no Sistema Único de Saúde (SUS) são em conseqüência das causas
externas, destacando a faixa etária dos 20 aos 29 anos, sendo os acidentes de
transporte os de maior magnitude. Os acidentes coronarianos (40,5%) e hipertensão
arterial (18,7%) são as principais doenças do aparelho circulatório que motivaram
internações masculinas. De acordo com os percentuais de internações por doenças
do aparelho digestivo destacaram-se as doenças ácido-pépticas, doenças do fígado,
colelitíase e colecistite.
Dentre as causas de morbidade masculina destacaram-se as doenças dos
aparelhos respiratório, circulatório e digestivo. Nas doenças respiratórias
destacaram-se: a pneumonia, responsável por 43% das internações, seguida por
outras causas: 29% por Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) 12%, asma
11% e tuberculose 5% (BRASIL, 2008).
Segundo o INCA (2008), entre as patologias exclusivas do homem, o câncer de
próstata é o alvo das políticas públicas tendo altas taxas de incidência e mortalidade,
o que faz deste câncer, o segundo mais comum entre a população masculina, sendo
superado apenas pelo câncer de pele não-melanoma.
De acordo com Vieira et al. (2008), um a cada doze homens poderá
apresentar o câncer de próstata ao longo da vida. Para Hollander e Diokno (2002) a
incidência desta doença aumentou muito pelo fato de existirem novas formas de
diagnóstico e também pelo maior número de pessoas informadas sobre a doença.
Gomes et al. (2008) recomendam ações que sensibilizem os homens sobre a
possibilidade da detecção precoce da neoplasia, além de esclarecer sobre as formas
existentes de detecção, incentivando a procura pela atenção primária. De acordo
com Vieira et al. (2008), os exames de prevenção do câncer de próstata são
disponíveis gratuitamente na rede pública de saúde, mas a demanda é baixa, devido
ás barreiras construídas no imaginário masculino que os impedem a realizar tais
exames.
O enfermeiro como profissional que atua na educação para a saúde, pode
desenvolver um papel importante nesse contexto através de ações educativas de
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promoção da saúde e prevenção de doenças, esclarecendo dúvidas e incentivando
a população masculina a se cuidar, assim como é desenvolvido com crianças,
mulheres e idosos através de programas e outras atividades.
Esta pesquisa é fruto da curiosidade em aprofundar o conhecimento que foi
visto pela primeira vez numa disciplina da graduação. Justifica-se pelo alto índice de
morbi-mortalidade do sexo masculino por causas evitáveis. Apesar de existirem
muitas discussões na área da saúde acerca da masculinidade ainda verifica-se uma
lacuna acerca da procura dos homens pelo serviço de saúde com a finalidade de
promoção da saúde para melhoria da qualidade de vida. A partir desta perspectiva
procurou-se gerar a possibilidade de uma reflexão para a melhoria na organização
dos serviços de saúde para possibilitar maior acessibilidade a população masculina
de Coronel Fabriciano.
Os objetivos que norteiam este estudo foram: identificar as necessidades de
saúde dos homens, percepção deles sobre o que é saúde, verificar se há mitos que
impedem a adesão às intervenções de saúde e as justificativas apresentadas com
relação à procura ou não pelos serviços de saúde.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa
desenvolvido no período de janeiro a abril de 2010, no município de Coronel
Fabriciano/MG, localizado no Vale do Aço, região leste do estado de Minas Gerais.
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009)
para o ano de 2009 o município apresentou uma população residente de 102.042
habitantes, dos quais 51.059 são do sexo masculino.
A pesquisa teve uma amostra composta por 59 homens selecionados de forma
aleatória entre os moradores do município de Coronel Fabriciano – Minas Gerais,
sendo que eles foram abordados nas ruas próximas às Unidades de Atenção
Primária a Saúde (UAPS) dos bairros: Caladinho de Cima, São Domingos e Santa
Cruz. Estas unidades foram escolhidas por possuírem equipes da Estratégia da
Saúde da Família (ESF).
Como critérios de inclusão foram estabelecidos: ser do sexo masculino, ter
idade igual ou superior a 20 anos e ser residente no município de Coronel
Fabriciano.
Para cada participante foi explicado o objetivo da pesquisa e aqueles que
aceitaram participar foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
– TCLE, que depois de lido foi assinado, em duas vias, sendo que uma ficou com o
participante da pesquisa e a outra com os pesquisadores.
Para a realização da coleta de dados, foi utilizado um roteiro de entrevista
contendo 17 perguntas, abertas e fechadas.
As entrevistas forneceram dados que foram tratados, analisados e
apresentados sob a forma de tabelas para facilitar a interpretação e destacados os
relatos que davam ênfase a temática abordada. Foram transcritos corrigindo erros
de grafia e concordância verbal. Na discussão dos resultados, foram utilizadas
literaturas referentes à temática.
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A pesquisa foi desenvolvida de acordo com a Resolução n˚. 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde (CNS), que descreve os padrões éticos e morais de
pesquisa envolvendo seres humanos, garantindo os direitos do sujeito de pesquisa e
deveres da comunidade científica (BRASIL, 1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Considerando a necessidade de conhecer quais os desafios de incluir a
população masculina nos serviços de atenção primária à saúde foram apresentados
os resultados e a discussão do estudo realizado, centrado nos depoimentos colhidos
e complementado com a literatura que trata do assunto.
Com a análise dos relatos das entrevistadas realizadas, foi possível identificar
respostas em comum entre os participantes, referentes à identificação das
necessidades de saúde dos homens, a percepção deles sobre o que é saúde, a
presença de mitos que impedem a adesão às intervenções de saúde e as
justificativas apresentadas com relação à procura ou não pelos serviços de saúde.
Nas tabelas a seguir observa-se a caracterização da amostra pesquisada.
A TAB. 1 demonstra que 42% da amostra têm idade entre 20 e 30 anos, o
que corrobora com o IBGE (2009) que aponta que a maior parte da população
masculina do município de Coronel Fabriciano situa-se na faixa etária encontrada na
pesquisa. Considerando apenas a idade adulta, estes homens são os mais
vulneráveis a morte por causas externas, entre elas os homicídios e acidentes de
trânsito (BRASIL, 2008).
TABELA 1 Idade / Estado Civil / Uso de Preservativo
Variáveis
Freqüência (N)
Percentual (%)
Idade
20 - 30
31 - 40
41 - 50
51 - 60
61 - 70
71 - 80
25
10
7
13
1
3
42,37
16,94
11,87
22,04
1,70
5,08
Estado Civil
Solteiro
Casado / União Estável
Outros (viúvo, separado)
21
35
3
35,59
59,32
5,09
Uso de Preservativo
Sim
Não
Total
26
33
59
44,06
55,94
100
Em relação ao estado civil destacam-se os casados e solteiros, 59,32% e
35,59% respectivamente. Quanto ao uso de preservativos, 55,94% dos participantes
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afirmaram não usar preservativo nas relações sexuais e destes, 75,75% justificaram
o não uso ao fato de serem casados.
Ainda existe a percepção de que doenças como a AIDS se limitam a
determinados grupos e sendo assim medidas de prevenção acabam sendo abolidas
devido ao fato destes homens considerarem estar fora destes grupos. Isto também
contribui para a pouca discussão sobre este tema entre casais casados ou com
união estável (BRASIL, 2008).
Os homens na adolescência e jovens adultos são mais vulneráveis ao risco e
de infecção pelo HIV/AIDS, por acreditarem numa invulnerabilidade e não adotarem
pratica preventivas como o não uso de preservativos, sendo necessárias ações
efetivas voltadas para o reconhecimento desta população sobre a vulnerabilidade a
esses agravos (BRASIL, 2008).
A TAB. 2 mostra que 35,59% dos participantes da pesquisa não concluíram o
ensino fundamental e apenas 5,09% concluíram algum curso superior.
TABELA 2 Escolaridade / Renda Mensal / Plano de Saúde
Variáveis
Freqüência (N)
Percentual (%)
Escolaridade
Ensinofundamental incompleto
Ensino fundamental completo
Ensino médio completo
Ensino médio incompleto
Ensino superior incompleto
Ensino superior completo
21
5
2
18
10
3
35,59
8,48
3,39
30,50
16,95
5,09
Renda Mensal
Menos de 01 Salário Mínimo
De 01 a 03 Salários Mínimos
Mais de 04 Salários Mínimos
6
44
9
10,16
74,58
15,26
Plano de Saúde
Possui
19
Não Possui
40
Total
59
* Fonte: Dados obtidos em entrevista com os participantes do estudo.
32,2
67,8
100
No estudo realizado por Romeu Gomes (2007) sobre a pouca procura dos
homens pelos serviços de saúde apontou-se que os homens que têm curso superior
têm uma maior capacidade de problematização do tema, tendo idéias corretas,
entretanto não colocando em prática este conhecimento.
Entre os participantes 67,8% não possuíam plano de saúde, o que não difere
dos percentuais nacionais que apontam que em 2002 apenas 18,59% da população
possui planos de saúde (PINTO; SORANS, 2004).
Como pode ser visualizado na TAB. 3 dos participantes da pesquisa 20,33%
são tabagistas e 28,31% se declaram etilistas.
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TABELA 3 Problemas de Saúde / Tabagismo / Etilismo
Variáveis
Freqüência (N)
Percentual (%)
Problemas de Saúde
Possui
Não Possui
20
39
33,89
66,11
Tabagista
Sim
Não
12
47
20,33
79,67
Etilista
Sim
17
Não
42
Total
59
* Fonte: Dados obtidos em entrevista com os participantes do estudo.
28,81
71,19
100
Os homens consomem bebidas alcoólicas e tabaco em maior freqüência em
relação às mulheres o que denota maior agravo à saúde como doenças
cardiovasculares, pulmonares, câncer, dentre outras (BRASIL, 2008).
No grupo de homens pesquisados prevaleceram as doenças do aparelho
circulatório destacando-se a Hipertensão Arterial.
Segundo Brasil, 2008 as
patologias e os agravos da população masculina adulta estão concentrados nas
áreas de cardiologia, urologia, gastroenterologia, saúde mental e pneumologia
sendo as doenças do aparelho circulatório e digestivo juntamente com as causas
externas as principais causas de morbidade.
De acordo com os relatos obtidos nas entrevistas observa-se que cada
participante da pesquisa conceitua a saúde de uma forma diferente, o que vai de
acordo com Scliar (2007) que diz que o conceito de saúde não é o mesmo para
todas as pessoas sendo influenciado por fatores como condição social, época, lugar
e cultura. Desta forma, cita-se alguns relatos que reafirmam isto:
P. 21: Saúde é quando não sentimos nada.
P. 32: Estado de bem estar físico, mental e social e não simplesmente estar
livre de doença.
P. 03: Estar em plena atividade física, fazer tudo o que eu preciso.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1946), o conceito de saúde
não se resume apenas na ausência de enfermidades, sendo uma associação entre
bem-estar físico, mental e social que constitui um dos direitos fundamentais do ser
humano.
Quando questionados sobre o medo de adoecer, 57,62% dos participantes
admitiram esse sentimento apresentando como justificativa as conseqüências do
adoecimento como dependência de terceiros e ausência nas atividades laborativas
que podem interferir no sustento da família. Os demais, que correspondem a 42,38%
dos entrevistados relataram não temer a doença, pois acreditam ser um processo
natural que todos estão submetidos em algum momento de sua vida. A seguir
alguns dos relatos apresentados:
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P. 01: Sim, tenho filhos, tenho medo de ficar de cama e deixar meus filhos
passando necessidade.
P. 52: Não, porque todos nós passamos por um momento de adoecimento,
é um processo natural da vida.
P. 13: Sim. Porque posso precisar de alguém e eu não gosto de depender
de ninguém.
O medo de adoecer é comum, independente do gênero, esse medo influencia
na adesão aos serviços de saúde uma vez que as pessoas têm medo de receber um
diagnóstico de doença e terem que fazer tratamento (GOMES; NASCIMENTO;
ARAUJO, 2007).
Quando questionado o participante sobre em quais circunstancias ele procura
os serviços de saúde, destacaram-se os relatos:
P. 11: Só quando estou passando muito mal. Quando preciso mesmo.
P. 22: Venho trazer minha mulher e filha e pegar remédio de hipertensão.
P. 03: Quando o agente de saúde marca a consulta... isso é muito bom.
Nem preciso procurar.
Constata-se que a procura pelos serviços de saúde pelos homens é devido à
presença de alguma doença, a busca de medicamentos e como acompanhante dos
filhos ou esposas, ignorando as consultas de caráter preventivo. Segundo Gomes,
Nascimento e Araújo (2007), essa busca ocorre quando estes sentem dores
insuportáveis ou quando se vêem incapazes de exercerem as atividades labor ativas
sendo relevante também a procura para exames adicionais exigidos pelas
empresas,
Em geral, os homens procuram menos os serviços de saúde quando
comparados às mulheres e crianças, uma vez que a prevenção de doenças está
mais associada ao sexo feminino. A baixa demanda dos homens nos serviços de
saúde está ligada ao fato dos mesmos se sentirem invulneráveis aos agravos, à
ocupação do tempo com o trabalho e também o medo de descobrirem alguma
doença, entre outros motivos (COURTENAY, 2005 apud GOMES; NASCIMENTO;
ARAUJO, 2007). Abaixo relatos que justificam essa afirmação:
P. 41: Só vou quando me acidento mesmo. Quando estou gripado... essas
coisas.
P. 25: Raramente. Sou uma pessoa saudável graças a Deus.
P. 39: Demoro muito tempo. Só quando estou passando mal mesmo.
Outros fatores que influenciam a baixa demanda e são utilizados como
justificativa são o horário de funcionamento das UAPS e o horário de trabalho.
Quando procuram preferem a atenção secundária que a primária, ficando as ações
restritas à recuperação e não à prevenção e promoção de saúde (BRASIL, 2008).
CONCLUSÃO
Esta pesquisa destacou a baixa procura pelos serviços de atenção primária à
saúde pelo gênero masculino, devido a falta de sinais e sintomas característicos de
alguma doença.
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A demanda dos homens nos serviços limita-se a ações de cunho curativo a
partir de alguma doença já instalada como diabetes e hipertensão. Diferentemente
de crianças, mulheres e idosos que comparecem aos serviços de saúde de forma
mais preventiva utilizando os serviços de vacinação. Puericultura, coleta de
preventivo dentre outros. Essa resistência do homem em se cuidar não está
associada apenas às condições sociais ou a época, e sim a uma cultura em que os
homens são educados como seres fortes e resistentes quando comparados ao
gênero feminino.
No que tange à identificação da concepção dos homens sobre o que é saúde,
pôde-se observar que a saúde é conceituada de uma forma diferente pelos
participantes por estes estarem inseridos em realidades desiguais quando
considerados aspectos sociais e culturais.
Desta forma fazem-se necessárias discussões mais amplas de todo o
contexto no qual o homem está inserido, uma vez que o maior desafio das políticas
publicas não é somente incluir o gênero masculino nos serviços de atenção primária
à saúde, mas também sensibilizá-los sobre a importância do cuidado e da
inexistência de invulnerabilidade.
Recomenda-se que, nas situações em que os homens procurem os serviços
de saúde, elas sejam bem aproveitadas de diferentes maneiras para garantir que o
homem crie o hábito de utilizar os serviços existentes de forma rotineira, e que
diferentes meios sejam utilizados para alcançá-los através de ações de educação
para a saúde dentro e fora do dos serviços de saúde.
A pesquisa ficou limitada a ouvir os homens residentes no município
escolhido devido ao fato da política da saúde do homem estar sendo implantada.
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