554 DESAFIOS PARA A INCLUSÃO DOS HOMENS NOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE CHALLENGES FOR INCLUSION OF WOMEN IN THE SERVICES OF PRIMARY HEALTH CARE Bruno Ramos Albano Graduado em enfermagem pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. [email protected] Marcio Chaves Basílio Graduado em enfermagem pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. [email protected] Jussara Bôtto Neves Enfermeira. Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Especialista em administração pública com aprofundamento em gestão pública e em formação pedagógica em educação na área de saúde. Docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste-MG. [email protected] RESUMO Incluir os homens na atenção primária à saúde é um desafio às políticas públicas, pois estes não reconhecem a importância da promoção da saúde e prevenção de doenças como questões associadas ao homem. Muitas são as suposições e justificativas para a pouca presença masculina nos serviços de atenção primária à saúde. Os objetivos que nortearam esta pesquisa foram: identificar as necessidades de saúde dos homens, a percepção deles sobre o que é saúde, verificar se há mitos que impedem a adesão às intervenções de saúde e as justificativas apresentadas com relação à procura ou não pelos serviços de saúde. Realizou-se uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa, com uma amostra aleatória de 59 homens residentes no município de Coronel. Fabriciano, tendo como instrumento de coleta de dados um roteiro de entrevista. Os resultados demonstraram que cada homem participante conceitua a saúde de uma forma diferente, dos participantes 57, 62 % têm medo de adoecer e seguem a terapêutica prescrita no tratamento até o fim, no entanto procuram pouco os serviços de saúde, limitando a procura à presença de doenças. Os resultados alcançados evidenciam que a entrada dos homens nos serviços é difícil, pois muitas vezes se acham invulneráveis aos agravos ou buscam formas mais rápidas para resolução dos problemas que os afligem. PALAVRAS-CHAVE: Saúde do Homem. Atenção Primária a Saúde. Acesso aos Serviços de Saúde. ABSTRACT It has been a challenge to include men in primary care, because they don´t recognize the prevention and the health care like a question related to men. There are many assumptions and justifications for the low men´s participations in the primary health care services. The goals that guide this research are: Identify the men´s health needs , their perception about health, check if there are myths that don´t let them look for health interventions, and the reasons they think about searching or not the health services. It was made a exploratory reseach with a qualitative aproach, having a random sample of 59 men, the instrument used to collect data was a interview guide with open questions and multiple choices questions. The research showed that each one think about health in a diferent way, 57.62% of participants are afraid of getting sick and follow prescribed therapy in the treatment until the end, however they look for health services rarely, only when they have some desease. The results shows that is not usual a man entering on the services health because many times they Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 555 think they are not vulnerable to the injuries and only look for help when already sick, or look for fast ways to solve the problems that afflict them. KEY WORDS: Men's Health. Primary Health Care. Health Services Accessibility. INTRODUÇÃO No Brasil é bastante disseminada a idéia de que as unidades de atenção primária a saúde (UAPS) são serviços destinados quase que exclusivamente para mulheres, crianças e idosos. Muitas são as suposições e justificativas para a pouca presença masculina nos serviços de atenção primária à saúde (FIGUEIREDO, 2005). Segundo Schraiber et al. (2005), a inclusão dos homens em ações de saúde é desafiadora, por estes não reconhecerem a importância do cuidado e a valorização do corpo no sentido da saúde como questões sociais do homem. De acordo com Figueiredo (2005), nota-se que na atenção primária a demanda dos homens por atendimento é inferior à das mulheres, devido a diferentes variáveis (citadas no parágrafo anterior), uma delas aponta a prevalência masculina na procura de serviços emergenciais, tais como farmácias e pronto-socorro, pois nestes serviços poderiam expor melhor seus problemas e serem atendidos mais rapidamente. Essa busca por esses serviços de saúde se opõe ao preconizado por Brasil (2006) uma vez que a atenção básica é a porta de entrada e o principal contato dos usuários com os serviços de saúde, independente de sexo ou idade. Esse fato é associado à própria socialização dos homens, em que o cuidado não é visto como uma prática masculina, e também outros fatores como horários de atendimento das UBS, medo de descobrirem outras doenças e a questão de muitas vezes o atendimento ser feito por pessoas do sexo feminino, o que cria uma barreira a mais na questão do cuidado (COURTENAY, 2005 apud GOMES; NASCIMENTO; ARAUJO, 2007). A compreensão dessas barreiras é importante para a criação de medidas que possam promover o acesso desta população aos serviços de atenção primária com o intuito de garantir a prevenção e a promoção de saúde (BRASIL, 2008). Gomes, Nascimento e Araujo (2007) afirmam que o homem é visto como invulnerável forte e viril, sendo essas características abaladas pela procura dos serviços de saúde o que demonstra sinais de fraqueza, medo e insegurança. Essa pouca demanda masculina na atenção primária contribui para que os homens desenvolvam patologias passíveis de prevenção e tratamento eficiente quando diagnosticadas precocemente, porém com o diagnóstico tardio têm mal prognóstico (COURTENAY, 2005 apud GOMES; NASCIMENTO; ARAUJO, 2007). A população masculina geralmente é acometida por condições severas e crônicas de saúde, tendo índice de mortalidade pelas mesmas causas maior que as mulheres (LAURENTI, 2005 apud GOMES; NASCIMENTO; ARAUJO, 2007), pois a população masculina não se reconhece como alvo do atendimento de programas de saúde, devido às ações preventivas serem dirigidas quase que exclusivamente para mulheres (SCHARAIBER; GOMES; COUTO, 2005). Há um preconceito em relação ao gênero masculino, pois a saúde do homem ao longo dos anos foi pouco discutida e abordada, implicando ao mesmo de não ser assistido e de não se cuidar (BRAZ, 2005). Sendo necessário que os serviços de Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 556 saúde considerem e enfrentem esta situação identificando as necessidades de saúde dos homens e intervindo com ações preventivas e de promoção à saúde (FIGUEIREDO, 2005). De acordo com Gomes, Nascimento e Araujo (2007), Braz (2005) os serviços de saúde têm uma deficiência em absorver a demanda apresentada pelos homens, proporcionada pela organização dos serviços que não estimula o acesso destes homens e, pelo fato das próprias campanhas de saúde pública não se voltarem para este segmento da população. Assim, são necessárias mudanças nas estratégias dos serviços de saúde e no enfoque relacionado ao gênero masculino. De acordo com Brasil (2008), para mudar esta realidade, o Ministério da Saúde apresenta a Política Nacional de Atenção Integral à saúde do Homem objetivando promover ações de saúde voltadas para a população masculina adulta, que compreende 20% da população total do Brasil. Segundo Brasil (2008), as principais causas de internações do gênero masculino com faixa etária entre 25-59 anos em 2007 foram por: doenças do aparelho digestivo; doenças do aparelho circulatório; doenças do aparelho respiratório; tumores; outras causas (Asma, DPOC, Pneumonia, Hipertensão arterial, coronarioapatias, etc) e causas externas (acidentes e violência). Cerca de 80% das internações no Sistema Único de Saúde (SUS) são em conseqüência das causas externas, destacando a faixa etária dos 20 aos 29 anos, sendo os acidentes de transporte os de maior magnitude. Os acidentes coronarianos (40,5%) e hipertensão arterial (18,7%) são as principais doenças do aparelho circulatório que motivaram internações masculinas. De acordo com os percentuais de internações por doenças do aparelho digestivo destacaram-se as doenças ácido-pépticas, doenças do fígado, colelitíase e colecistite. Dentre as causas de morbidade masculina destacaram-se as doenças dos aparelhos respiratório, circulatório e digestivo. Nas doenças respiratórias destacaram-se: a pneumonia, responsável por 43% das internações, seguida por outras causas: 29% por Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) 12%, asma 11% e tuberculose 5% (BRASIL, 2008). Segundo o INCA (2008), entre as patologias exclusivas do homem, o câncer de próstata é o alvo das políticas públicas tendo altas taxas de incidência e mortalidade, o que faz deste câncer, o segundo mais comum entre a população masculina, sendo superado apenas pelo câncer de pele não-melanoma. De acordo com Vieira et al. (2008), um a cada doze homens poderá apresentar o câncer de próstata ao longo da vida. Para Hollander e Diokno (2002) a incidência desta doença aumentou muito pelo fato de existirem novas formas de diagnóstico e também pelo maior número de pessoas informadas sobre a doença. Gomes et al. (2008) recomendam ações que sensibilizem os homens sobre a possibilidade da detecção precoce da neoplasia, além de esclarecer sobre as formas existentes de detecção, incentivando a procura pela atenção primária. De acordo com Vieira et al. (2008), os exames de prevenção do câncer de próstata são disponíveis gratuitamente na rede pública de saúde, mas a demanda é baixa, devido ás barreiras construídas no imaginário masculino que os impedem a realizar tais exames. O enfermeiro como profissional que atua na educação para a saúde, pode desenvolver um papel importante nesse contexto através de ações educativas de Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 557 promoção da saúde e prevenção de doenças, esclarecendo dúvidas e incentivando a população masculina a se cuidar, assim como é desenvolvido com crianças, mulheres e idosos através de programas e outras atividades. Esta pesquisa é fruto da curiosidade em aprofundar o conhecimento que foi visto pela primeira vez numa disciplina da graduação. Justifica-se pelo alto índice de morbi-mortalidade do sexo masculino por causas evitáveis. Apesar de existirem muitas discussões na área da saúde acerca da masculinidade ainda verifica-se uma lacuna acerca da procura dos homens pelo serviço de saúde com a finalidade de promoção da saúde para melhoria da qualidade de vida. A partir desta perspectiva procurou-se gerar a possibilidade de uma reflexão para a melhoria na organização dos serviços de saúde para possibilitar maior acessibilidade a população masculina de Coronel Fabriciano. Os objetivos que norteiam este estudo foram: identificar as necessidades de saúde dos homens, percepção deles sobre o que é saúde, verificar se há mitos que impedem a adesão às intervenções de saúde e as justificativas apresentadas com relação à procura ou não pelos serviços de saúde. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa desenvolvido no período de janeiro a abril de 2010, no município de Coronel Fabriciano/MG, localizado no Vale do Aço, região leste do estado de Minas Gerais. Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009) para o ano de 2009 o município apresentou uma população residente de 102.042 habitantes, dos quais 51.059 são do sexo masculino. A pesquisa teve uma amostra composta por 59 homens selecionados de forma aleatória entre os moradores do município de Coronel Fabriciano – Minas Gerais, sendo que eles foram abordados nas ruas próximas às Unidades de Atenção Primária a Saúde (UAPS) dos bairros: Caladinho de Cima, São Domingos e Santa Cruz. Estas unidades foram escolhidas por possuírem equipes da Estratégia da Saúde da Família (ESF). Como critérios de inclusão foram estabelecidos: ser do sexo masculino, ter idade igual ou superior a 20 anos e ser residente no município de Coronel Fabriciano. Para cada participante foi explicado o objetivo da pesquisa e aqueles que aceitaram participar foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, que depois de lido foi assinado, em duas vias, sendo que uma ficou com o participante da pesquisa e a outra com os pesquisadores. Para a realização da coleta de dados, foi utilizado um roteiro de entrevista contendo 17 perguntas, abertas e fechadas. As entrevistas forneceram dados que foram tratados, analisados e apresentados sob a forma de tabelas para facilitar a interpretação e destacados os relatos que davam ênfase a temática abordada. Foram transcritos corrigindo erros de grafia e concordância verbal. Na discussão dos resultados, foram utilizadas literaturas referentes à temática. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 558 A pesquisa foi desenvolvida de acordo com a Resolução n˚. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que descreve os padrões éticos e morais de pesquisa envolvendo seres humanos, garantindo os direitos do sujeito de pesquisa e deveres da comunidade científica (BRASIL, 1996). RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando a necessidade de conhecer quais os desafios de incluir a população masculina nos serviços de atenção primária à saúde foram apresentados os resultados e a discussão do estudo realizado, centrado nos depoimentos colhidos e complementado com a literatura que trata do assunto. Com a análise dos relatos das entrevistadas realizadas, foi possível identificar respostas em comum entre os participantes, referentes à identificação das necessidades de saúde dos homens, a percepção deles sobre o que é saúde, a presença de mitos que impedem a adesão às intervenções de saúde e as justificativas apresentadas com relação à procura ou não pelos serviços de saúde. Nas tabelas a seguir observa-se a caracterização da amostra pesquisada. A TAB. 1 demonstra que 42% da amostra têm idade entre 20 e 30 anos, o que corrobora com o IBGE (2009) que aponta que a maior parte da população masculina do município de Coronel Fabriciano situa-se na faixa etária encontrada na pesquisa. Considerando apenas a idade adulta, estes homens são os mais vulneráveis a morte por causas externas, entre elas os homicídios e acidentes de trânsito (BRASIL, 2008). TABELA 1 Idade / Estado Civil / Uso de Preservativo Variáveis Freqüência (N) Percentual (%) Idade 20 - 30 31 - 40 41 - 50 51 - 60 61 - 70 71 - 80 25 10 7 13 1 3 42,37 16,94 11,87 22,04 1,70 5,08 Estado Civil Solteiro Casado / União Estável Outros (viúvo, separado) 21 35 3 35,59 59,32 5,09 Uso de Preservativo Sim Não Total 26 33 59 44,06 55,94 100 Em relação ao estado civil destacam-se os casados e solteiros, 59,32% e 35,59% respectivamente. Quanto ao uso de preservativos, 55,94% dos participantes Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 559 afirmaram não usar preservativo nas relações sexuais e destes, 75,75% justificaram o não uso ao fato de serem casados. Ainda existe a percepção de que doenças como a AIDS se limitam a determinados grupos e sendo assim medidas de prevenção acabam sendo abolidas devido ao fato destes homens considerarem estar fora destes grupos. Isto também contribui para a pouca discussão sobre este tema entre casais casados ou com união estável (BRASIL, 2008). Os homens na adolescência e jovens adultos são mais vulneráveis ao risco e de infecção pelo HIV/AIDS, por acreditarem numa invulnerabilidade e não adotarem pratica preventivas como o não uso de preservativos, sendo necessárias ações efetivas voltadas para o reconhecimento desta população sobre a vulnerabilidade a esses agravos (BRASIL, 2008). A TAB. 2 mostra que 35,59% dos participantes da pesquisa não concluíram o ensino fundamental e apenas 5,09% concluíram algum curso superior. TABELA 2 Escolaridade / Renda Mensal / Plano de Saúde Variáveis Freqüência (N) Percentual (%) Escolaridade Ensinofundamental incompleto Ensino fundamental completo Ensino médio completo Ensino médio incompleto Ensino superior incompleto Ensino superior completo 21 5 2 18 10 3 35,59 8,48 3,39 30,50 16,95 5,09 Renda Mensal Menos de 01 Salário Mínimo De 01 a 03 Salários Mínimos Mais de 04 Salários Mínimos 6 44 9 10,16 74,58 15,26 Plano de Saúde Possui 19 Não Possui 40 Total 59 * Fonte: Dados obtidos em entrevista com os participantes do estudo. 32,2 67,8 100 No estudo realizado por Romeu Gomes (2007) sobre a pouca procura dos homens pelos serviços de saúde apontou-se que os homens que têm curso superior têm uma maior capacidade de problematização do tema, tendo idéias corretas, entretanto não colocando em prática este conhecimento. Entre os participantes 67,8% não possuíam plano de saúde, o que não difere dos percentuais nacionais que apontam que em 2002 apenas 18,59% da população possui planos de saúde (PINTO; SORANS, 2004). Como pode ser visualizado na TAB. 3 dos participantes da pesquisa 20,33% são tabagistas e 28,31% se declaram etilistas. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 560 TABELA 3 Problemas de Saúde / Tabagismo / Etilismo Variáveis Freqüência (N) Percentual (%) Problemas de Saúde Possui Não Possui 20 39 33,89 66,11 Tabagista Sim Não 12 47 20,33 79,67 Etilista Sim 17 Não 42 Total 59 * Fonte: Dados obtidos em entrevista com os participantes do estudo. 28,81 71,19 100 Os homens consomem bebidas alcoólicas e tabaco em maior freqüência em relação às mulheres o que denota maior agravo à saúde como doenças cardiovasculares, pulmonares, câncer, dentre outras (BRASIL, 2008). No grupo de homens pesquisados prevaleceram as doenças do aparelho circulatório destacando-se a Hipertensão Arterial. Segundo Brasil, 2008 as patologias e os agravos da população masculina adulta estão concentrados nas áreas de cardiologia, urologia, gastroenterologia, saúde mental e pneumologia sendo as doenças do aparelho circulatório e digestivo juntamente com as causas externas as principais causas de morbidade. De acordo com os relatos obtidos nas entrevistas observa-se que cada participante da pesquisa conceitua a saúde de uma forma diferente, o que vai de acordo com Scliar (2007) que diz que o conceito de saúde não é o mesmo para todas as pessoas sendo influenciado por fatores como condição social, época, lugar e cultura. Desta forma, cita-se alguns relatos que reafirmam isto: P. 21: Saúde é quando não sentimos nada. P. 32: Estado de bem estar físico, mental e social e não simplesmente estar livre de doença. P. 03: Estar em plena atividade física, fazer tudo o que eu preciso. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1946), o conceito de saúde não se resume apenas na ausência de enfermidades, sendo uma associação entre bem-estar físico, mental e social que constitui um dos direitos fundamentais do ser humano. Quando questionados sobre o medo de adoecer, 57,62% dos participantes admitiram esse sentimento apresentando como justificativa as conseqüências do adoecimento como dependência de terceiros e ausência nas atividades laborativas que podem interferir no sustento da família. Os demais, que correspondem a 42,38% dos entrevistados relataram não temer a doença, pois acreditam ser um processo natural que todos estão submetidos em algum momento de sua vida. A seguir alguns dos relatos apresentados: Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 561 P. 01: Sim, tenho filhos, tenho medo de ficar de cama e deixar meus filhos passando necessidade. P. 52: Não, porque todos nós passamos por um momento de adoecimento, é um processo natural da vida. P. 13: Sim. Porque posso precisar de alguém e eu não gosto de depender de ninguém. O medo de adoecer é comum, independente do gênero, esse medo influencia na adesão aos serviços de saúde uma vez que as pessoas têm medo de receber um diagnóstico de doença e terem que fazer tratamento (GOMES; NASCIMENTO; ARAUJO, 2007). Quando questionado o participante sobre em quais circunstancias ele procura os serviços de saúde, destacaram-se os relatos: P. 11: Só quando estou passando muito mal. Quando preciso mesmo. P. 22: Venho trazer minha mulher e filha e pegar remédio de hipertensão. P. 03: Quando o agente de saúde marca a consulta... isso é muito bom. Nem preciso procurar. Constata-se que a procura pelos serviços de saúde pelos homens é devido à presença de alguma doença, a busca de medicamentos e como acompanhante dos filhos ou esposas, ignorando as consultas de caráter preventivo. Segundo Gomes, Nascimento e Araújo (2007), essa busca ocorre quando estes sentem dores insuportáveis ou quando se vêem incapazes de exercerem as atividades labor ativas sendo relevante também a procura para exames adicionais exigidos pelas empresas, Em geral, os homens procuram menos os serviços de saúde quando comparados às mulheres e crianças, uma vez que a prevenção de doenças está mais associada ao sexo feminino. A baixa demanda dos homens nos serviços de saúde está ligada ao fato dos mesmos se sentirem invulneráveis aos agravos, à ocupação do tempo com o trabalho e também o medo de descobrirem alguma doença, entre outros motivos (COURTENAY, 2005 apud GOMES; NASCIMENTO; ARAUJO, 2007). Abaixo relatos que justificam essa afirmação: P. 41: Só vou quando me acidento mesmo. Quando estou gripado... essas coisas. P. 25: Raramente. Sou uma pessoa saudável graças a Deus. P. 39: Demoro muito tempo. Só quando estou passando mal mesmo. Outros fatores que influenciam a baixa demanda e são utilizados como justificativa são o horário de funcionamento das UAPS e o horário de trabalho. Quando procuram preferem a atenção secundária que a primária, ficando as ações restritas à recuperação e não à prevenção e promoção de saúde (BRASIL, 2008). CONCLUSÃO Esta pesquisa destacou a baixa procura pelos serviços de atenção primária à saúde pelo gênero masculino, devido a falta de sinais e sintomas característicos de alguma doença. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 562 A demanda dos homens nos serviços limita-se a ações de cunho curativo a partir de alguma doença já instalada como diabetes e hipertensão. Diferentemente de crianças, mulheres e idosos que comparecem aos serviços de saúde de forma mais preventiva utilizando os serviços de vacinação. Puericultura, coleta de preventivo dentre outros. Essa resistência do homem em se cuidar não está associada apenas às condições sociais ou a época, e sim a uma cultura em que os homens são educados como seres fortes e resistentes quando comparados ao gênero feminino. No que tange à identificação da concepção dos homens sobre o que é saúde, pôde-se observar que a saúde é conceituada de uma forma diferente pelos participantes por estes estarem inseridos em realidades desiguais quando considerados aspectos sociais e culturais. Desta forma fazem-se necessárias discussões mais amplas de todo o contexto no qual o homem está inserido, uma vez que o maior desafio das políticas publicas não é somente incluir o gênero masculino nos serviços de atenção primária à saúde, mas também sensibilizá-los sobre a importância do cuidado e da inexistência de invulnerabilidade. Recomenda-se que, nas situações em que os homens procurem os serviços de saúde, elas sejam bem aproveitadas de diferentes maneiras para garantir que o homem crie o hábito de utilizar os serviços existentes de forma rotineira, e que diferentes meios sejam utilizados para alcançá-los através de ações de educação para a saúde dentro e fora do dos serviços de saúde. A pesquisa ficou limitada a ouvir os homens residentes no município escolhido devido ao fato da política da saúde do homem estar sendo implantada. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996. Dispõe sobre as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 16 outubro de 1996. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. 2006. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/volume_4_completo.pdf>. Acesso em: 14 abr. 2009. BRASIL. 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