AS TRÊS DIMENSÕES ESSENCIAIS DA SANTÍSSIMA EUCARISTIA Pe. Fidelis Stockl, ORC1 Resumo Jesus apresenta a Eucaristia como dom da SS.Trindade. A Eucaristia é o ápice da autocomunicação de Deus, a presença viva e real do amor trinitário de Deus. Pondo em destaque o caráter trinitário da Eucaristia, João Paulo II a apresenta como um sacramento com três dimensões: Sacramento da Presença, do Sacrifício e da Comunhão. Com efeito, não obstante a Eucaristia ser um único sacramento, nós o experimentamos em três modos distintos – presença, sacrifício e comunhão. Na Eucaristia Jesus cumpriu a promessa de estar conosco sempre até o fim dos tempos. Por outro lado, quando participamos do Sacrifício Eucarístico, entendemos que o Filho de Deus, como diz S. Paulo, o “me amou e se entregou por mim” (Gal 2,20). Enquanto Comunhão a Eucarística significa uma relação de profunda e recíproca permanência. O mistério eucarístico – sacrifício, presença, comunhão - é, portanto, um dom trinitário e há de ser vivido na sua integridade, quer na celebração, quer no colóquio íntimo com Jesus na adoração eucarística fora da Missa. Palavras-chave: Eucaristia; Sacramento; presença, sacrifício, comunhão. Introdução: A Eucaristia é um mistério inesgotável. No Curso de Teologia dedicam-se muitas aulas à exposição deste mistério. Para apresentar os aspectos essenciais deste mistério escolhemos como guia e mestre o grande Papa, o Beato João Paulo II. O seu rico magistério eucarístico servirá como nossa fonte principal. Durante o seu longo e fecundo pontificado ele guiou a Igreja para uma mais profunda compreensão e vivência do Mistério Eucarístico, convencido de que “só da Eucaristia, - profundamente conhecida, amada e vivida – se pode esperar aquela unidade na verdade e na caridade, querida por Cristo e promovida pelo Concílio Vaticano II.”2 1. A Eucaristia, Dom da SS.Trindade Se lermos com atenção o discurso sobre o Pão da Vida no sexto capítulo do Evangelho segundo S.João, vamos notar que Jesus apresenta a Eucaristia como dom da SS.Trindade. 1 Doutor em Teologia, especializado em Eclesiologia e Mariologia. Professor do Curso de Teologia da Faculdade Católica de Anápolis. 2 Discurso (14 de novembro de 1981), 2: L´Oss. Rom. (ed. port. 22 de novembro de 1981), 47. 1 Primeiro ele declara: “O meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo” (Jo 6, 32-33). Em seguida, ele revela que ele mesmo é “o pão vivo que desceu do céu.” E acrescenta: “E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo” (Jo 6, 51). Por fim, ele fala do Espírito Santo dizendo: “O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida” (Jo 6, 63). Assim, o Evangelho revela a Eucaristia como dom trinitário, dom que vem do Pai, do Filho e do Espírito Santo. De fato, a Eucaristia “está no centro da vida trinitária”3 como mostra o célebre ícone de Rublev. Portanto, para penetrarmos mais profundamente no Mistério Eucarístico, temos que contempla-lo à luz da SS.Trindade. 1.1. A Eucaristia: a Revelação mais profunda do Mistério do Deus-Trindade, do DeusAmor “Deus é amor” (1 Jo 4, 9), esta é a definição que o Novo Testamento dá de Deus. “O mistério da Trindade revela-nos o amor que existe em Deus, o amor que é o próprio Deus e o amor com que Deus ama todos os homens.”4 Este amor que é a vida de Deus se revela na história da salvação. Diz o Beato Papa João Paulo II: O mundo tem início deste Amor. E aqui começa entre Deus e o mundo um processo, que vai longe, além do mistério da criação: “Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Sei Filho Único” (Jo 3, 16). Este processo – entre Deus e o mundo – num certo sentido encontra a sua última palavra na Eucaristia. “O Filho, de fato, dado pelo Pai, depois de amar os Seus que estavam no mundo, levou até ao extremo o Seu amor por eles” (cf. Jo 13, 1).5 Durante a Última Ceia, aquele momento inefável no qual Deus se encontra tão próximo do homem, Cristo revela a última dimensão do infinito amor de Deus no dom total de Si: “Isto é o meu Corpo que será entregue por vós” (Luc 22, 19).6 Deste modo, a Eucaristia é o ápice da autocomunicação de Deus, “a presença viva e real do amor trinitário de Deus.”7 3 Mane nobiscum Domine, 11. Homilia em Plovdiv (Bulgária) (26 de maio de 2002), 7: L´Oss. Rom., (ed. port: 1 de junho de 2002), 10. 5 Homilia (14 de junho de 1987). L´Oss. Rom., (ed. port.: 12 de junho de 1987), 28. 6 Cf. Homilia (2 de junho de 1983), 2: L´Oss. Rom., (ed. port.: 12 de junho de 1983), 24. 7 Homilia (20 de agosto de 2000), 6: L’Oss. Rom. (ed. port.: 26 de agosto de 2000), 35. 4 2 Como a suma e o ápice das obras de Deus, a Eucaristia proclama do modo mais eloqüente “a verdade sobre Deus que é amor, sobre Deus que se doa.”8 Ela nos revela que Deus é amor e que amar significa doar-se, entregar-se, ir ao encontro do outro sem interesse próprio. Porque Deus é amor, ele se doa a Si mesmo. Deus não nos dá algo criado, ainda que precioso, mas a Si próprio. Ele não se dá apenas uma vez, mas vezes sem conta, e se dá a cada um que esteja preparado para recebê-lo na sua totalidade. Pode-se, então, dizer que a Eucaristia é a mais profunda revelação do Mistério Trinitário. De fato, ela nos faz entender e experimentar de maneira profunda “a verdade de um Deus que se doa.”9 Ela nos revela que Deus é ágape, isto é, dom gratuito e total de Si. “A capacidade de amar da maneira infinita, doando-Se sem reservas e sem medida, é própria de Deus.”10 A Eucaristia é a última conseqüência do ser dom de Deus. Por meio da Eucaristia, Deus quis existir como um dom “total” e “absoluto” para cada um de nós. Assim, a Eucaristia é o dom extremo de amor das Três Pessoas Divinas: Dom do Pai: “De tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único” (Jo 3, 16). Dom do Filho: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo 15, 13). Dom do Espírito: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom 5, 5). Por meio da Eucaristia, partilhamos já aqui na terra a vida da Trindade. Com efeito, “mediante o Corpo e o Sangue de Cristo permanece em nós um reflexo mais pleno da Santíssima Trindade, de maneira que a Vida Divina é participada, neste sacramento pelas nossas almas.”11 Quando participamos devotamente do Sacrifício Eucarístico e dignamente recebemos o Corpo e Sangue de Cristo, unimo-nos 8 Mensagem ao Congresso Eucarístico de Sena (5 de junho de 1994), 2: L’Oss. Rom. (ed. port.: 11 de junho de 1994), 24. 9 Ibidem. 10 Audiência geral (10 de março de 1999), 3: L’Oss. Rom. (ed. port.: 13 de março de 1999), 11. 11 Homilia (8 de junho de 1980), 3: L’Oss. Rom. (ed. port.: 15 de junho de 1980), 24. 3 mais intimamente a Ele, de tal modo que somos conduzidos, por Ele e através d‟Ele, à intimidade da Vida trinitária. Este movimento interno da Eucaristia é resumido na doxologia que conclui a Oração Eucarística: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo, na unidade do Espírito Santo, a vós, ó Pai, toda a honra e toda glória , agora e por toda a eternidade.” Assim, a Eucaristia não somente nos revela o mistério da Trindade, mas nos leva, já aqui na terra, a participar nele. Como disse Jesus: “Se alguém Me ama, guardará a Minha Palavra: Meu Pai o amará e viremos a ele e faremos nele morada” (Jo 14, 23). De fato, a Eucaristia nos é dada de tal modo que, em Cristo, possamos “viver a vida trinitária e com Ele transformar a história até à sua plenitude na Jerusalém celeste.”12 1.2 As três dimensões do Mistério da Eucaristia: Presença, Sacrifício, Comunhão Pondo em destaque o caráter trinitário da Eucaristia, João Paulo II a apresenta como um sacramento com três dimensões: “Ela é ao mesmo tempo Sacramento-Sacrifício, SacramentoComunhão e Sacramento-Presença.”13 Estas três dimensões de presença, sacrifício e comunhão relacionam-se às três grandes obras da Trindade: Encarnação, Redenção e Santificação. O Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo é, ao mesmo tempo: o sacramento da presença permanente de Jesus Cristo, de seu Corpo e Sangue, que ele recebeu da Virgem Maria, e por isto, a continuação do mistério da Encarnação; o sacramento do sacrifício, do Corpo oferecido e do Sangue derramado para nossa salvação, e sendo assim, a continuação do mistério da Redenção; o sacramento da comunhão, o sacramento do Corpo eucarístico de Cristo, que sustém e constrói o Corpo Místico, e assim, o sacramento da Igreja. Estas três dimensões da Eucaristia já estão presentes nas palavras da instituição. Jesus diz: “Recebei e comei” (Comunhão), “Isto é o meu Corpo” (presença) “que será entregue por vós” (sacrifício). O Código de direito canônico, cân. 897, também enfatiza estas três dimensões da Eucaristia ao defini-la como segue: 12 13 Ecclesia de Eucharistia, 60 Redemptor homminnis, 20. 4 “Augustíssimo sacramento é a santíssima Eucaristia, na qual se contém (presença), se oferece (sacrifício) e se recebe (comunhão) o próprio Cristo e pela qual continuamente vive e cresce a Igreja.” A visão trinitária sobre a Eucaristia como o sacramento de presença, sacrifício e comunhão nos oferece, assim, uma síntese maravilhosa de suas várias dimensões, além de ser um antídoto contra um entendimento reducionista do Mistério Eucarístico. Como observa o Beato João Paulo II: “O mistério eucarístico – sacrifício, presença, banquete – não permite reduções nem instrumentalizações.”14 “Às vezes transparece uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa.”15 Por isto “é importante que vivamos e ensinemos a viver o mistério total da Eucaristia: Sacramento do Banquete, do Sacrifício e da Presença permanente de Jesus Cristo Salvador.”16 Não obstante a Eucaristia ser um único sacramento, nós o experimentamos em três modos distintos – presença, sacrifício e comunhão: Quando adoramos Jesus presente no Santo Sacramento, “não podemos duvidar de que Deus está „conosco‟”17. Pois na Eucaristia Jesus cumpriu a promessa de estar conosco sempre até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20). Por outro lado, quando participamos do Sacrifício Eucarístico, entendemos que Deus é, verdadeiramente, “por nós”: “Isto é o meu Corpo que é dado por vós” (Luc 22, 19). Na Cruz, como diz S. Paulo, o Filho de Deus “me amou e se entregou por mim” (Gal 2,20). De fato, a Eucaristia é o dom que Deus faz de si por nós. No entanto, quando recebemos a Comunhão, experimentamos o amor de “Deus em nós”. Este é de fato o ápice do amor que Deus tem por nós. Nota o Beato João Paulo II: “Ao pedido dos discípulos de Emaús para que ficasse „com‟ eles, Jesus responde com um dom muito maior: por meio do sacramento da Eucaristia encontrou um modo de permanecer „dentro‟ deles.”18 A Comunhão Eucarística significa, de fato, uma relação de profunda e recíproca “permanência”: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós” (cf. Jo 15, 4). Eis que a Santa Comunhão, “Deus dentro de nós, é como uma antecipação da união que, no céu, teremos com Deus.”19 14 Ecclesia de Eucharistia, 61 Ibid., 10 16 Homilia (12 de junho de 1993), 3: L´Oss. Rom., (ed. port.: 20 de junho de 1993), 25. 17 Homilia (14 de junho de 2001), 3: L´Oss. Rom., (ed. port.: 16 de junho de 2001), 24. 18 Mane nobiscum Domine, 19. 19 Homilia (15 de maio de 1988), 6: L´Oss. Rom., (ed. port.: 22 de maio de 1988), 21. 15 5 Em resumo, uma vez que a Eucaristia é “a presença viva e real do amor trinitário de Deus,”20 nela nós experimentamos o Amor de Deus de três modos diferentes, mas complementares: como presença (“Deus conosco”): Sacramento da presença de Deus, a Eucaristia é, acima de tudo, um reflexo do amor de Deus Pai que, em Seu Filho, se fez próximo de nós; como sacrifício (“Deus por nós”): renovação sacramental do sacrifício da Cruz, a Eucaristia revela o amor do Filho de Deus que deu Sua vida por nós e continua a oferecer-se por nós; como comunhão (“Deus em nós”): Na comunhão Eucarística, experimentamos o amor do Espírito, por meio do qual Deus vem habitar nossos corações e se torna um conosco: Deus em nós e nós em Deus. Conseqüentemente, “O mistério eucarístico – sacrifício, presença, banquete… há de ser vivido na sua integridade, quer na celebração, quer no colóquio íntimo com Jesus acabado de receber na comunhão, quer no período da adoração eucarística fora da Missa.”21 Estabeleçamos, portanto, uma íntima comunhão com Cristo, participando “no Sacramento que O torna presente, no sacrifício que atualiza o seu dom de amor do Gólgota, no banquete que alimenta e sustenta o Povo de Deus peregrino.”22 2. A Eucaristia: mistério da presença sacramental 2.1. Sacramento do Dom do Pai No discurso sobre o Pão da Vida, Jesus afirma que a Eucaristia é, antes de tudo, o dom do Pai: “Meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu; porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo” (Jo 6, 32-33). Desta forma Jesus sublinha o papel que o Pai tem na Eucaristia. É Ele quem toma a iniciativa. É Ele quem alimenta seus filhos dando-lhes Seu Filho, o verdadeiro pão do céu. Se na Eucaristia, “Cristo Jesus se torna real e substancialmente presente, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade”, não podemos esquecer que a sua presença sacramental é em primeiro lugar o dom do Pai. De fato, a Eucaristia tem origem na superabundância do amor paterno de Deus que, “de tal modo 20 Homilia (20 de agosto de 2000), 6: L´Oss. Rom., (ed. port.: 26 de agosto de 2000), 35. Ecclesia de Eucharistia, 61. 22 Vita Consecrata, 95. 21 6 amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Como explica o Beato João Paulo II: Vindo o Filho, Deus confirma aquele seu primeiro amor que se revelou na criação: eis Deus, que “amou o mundo”. Porque o amou – o criou. E, ao mesmo tempo, aquele amor expresso na criação, Deus leva-o ao ápice, ao vértice definitivo em Jesus Cristo. De fato, em nenhuma obra realizada por Deus com a sua onipotência, o amor se manifesta de modo tão substancial como naquela em que Deus se doa... o Pai dá o Filho – doa-se a Si mesmo no Filho.23 Por isso, a Encarnação desvela o infinito amor do Pai que, oferecendo seu Filho, doa-se a si mesmo no Filho. E “a Eucaristia é o sacramento deste dom. O Sacramento – isto é, um sinal visível, por meio do qual este dom, este amor do Pai no Filho, não só é significado, expresso, mas é também realizado.”24 Todas as vezes que a Eucaristia é celebrada, realiza-se o “envio salvífico do Filho”, e o Pai dá-se a si mesmo no Filho. A Eucaristia constantemente nos revela o dom do Pai em Cristo, no qual descobrimos, ao mesmo tempo, o dom que é cada pessoa e coisa criada. De fato, tudo que existe é expressão de um dom fundamental. Assim, a Eucaristia nos recorda que tudo o que temos, recebemos primeiro de Deus, o Pai das graças (2 Cor 1, 3), de quem procede “toda dádiva boa e todo dom perfeito” (Tg 1, 17). “Ao celebrar este sacramento, a Igreja dá graças a Deus, nosso Pai, por tudo o que nos tem dado por Jesus, seu Filho.”25 2.2. Sacramento da presença oculta de Cristo “Quando no „Angelus‟ dizemos: „E o Verbo se fez carne e habitou entre nós‟ (cf. Jo 1,14), nós recordamos o mistério central da encarnação, que de modo muito particular, sacramental, continua na Eucaristia. Em todas as celebrações eucarísticas, o Verbo, feito carne, Se torna presente no meio de nós.”26 A encarnação tem, pois, uma notável dimensão eucarística. O Filho de Deus veio a este mundo não apenas para tornar-se homem, mas também para fazer-se Pão, alimento das almas. A ligação entre a Encarnação e a Eucaristia surge de modo especial no quarto Evangelho. “São João quis unir no seu Evangelho a revelação do mistério eucarístico e a evocação da Encarnação.”27 O Prólogo deste Evangelho nos apresenta a Palavra que se fez carne (cf. Jo 1, 14). E no discurso 23 Homilia (14 de junho de 1987), 3: L’Oss. Rom. (ed. port.: 12 de julho de 1987), 28. Homilia (14 de junho de 1987), 3: L’Oss. Rom. (ed. port.: 12 de julho de 1987), 28. 25 Discurso (8 de outubro de 1989), 3: L’Oss. Rom. (ed. port.: 15 de outubro de 1989), 42. 26 Angelus (1 de julho de 1990), 1: L’Oss. Rom. (ed. port.: 8 de julho de 1990), 27. 27 Angelus (13 de junho de 1993), 1: L’Oss. Rom. (ed. port.: 20 de junho de 1993), 25. 24 7 eucarístico Jesus diz: “O pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo” (Jo 6, 51). O uso do termo “carne” para indicar a Encarnação e depois a Eucaristia, é cheio de significado. É um termo semítico que não só se refere ao corpo, mas que também significa a pessoa toda. Quando Jesus disse que entregaria sua carne para a vida do mundo, ele queria expressar o dom que desejava fazer de si mesmo, dando sua carne sob a forma de pão. Foi este o objetivo final de sua vida aqui na terra: fazerse pão a fim de ser alimento e, assim, nos comunicar sua própria vida. Portanto, a presença de Cristo no mistério eucarístico é a continuação do mistério da encarnação. “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”(Mt 28,20). Jesus fez esta promessa aos seus discípulos, paradoxalmente, no momento mesmo em que estava se despedindo. Quando e de que maneira ele cumpriu sua promessa? Tal promessa foi cumprida de modo extraordinário no sacramento da Eucaristia: Sob os sinais sensíveis do pão e do vinho, Jesus torna-se presente num lugar e num tempo determinado, consentindo a cada ser humano, onde quer que ele se encontre e qualquer que seja a época histórica a que pertence, estabelecer um contato pessoal com Ele. Na Eucaristia, a lógica da Encarnação atinge a sua conseqüência extrema. Nela encontra sua coroação aquele caminho para o homem, que impeliu Jesus a despojar-se dos privilégios da divindade, para tomar a condição de servo (cf. Fl 2, 67) e colocar-se ao lado de cada um de nós como nosso irmão; para se tornar enfim Alimento e Bebida da nossa alma em seu caminho espiritual.28 Cristo – o único Senhor ontem, hoje e sempre – quis que sua presença salvífica no mundo e na história estivesse associada ao sacramento da Eucaristia. “„Eu estarei convosco‟ – o que é que mais do que a Eucaristia constitui a confirmação destas palavras? O que é que mais do que a Eucaristia é o Sacramento da Presença? O sinal „visível e eficaz‟ do Emmanuel? Porque „Emmanuel‟ quer dizer, precisamente, „Deus conosco‟(Mt1, 23).”29 Realmente, na Eucaristia, Cristo quis ficar conosco até o fim do mundo (cf. Mt 28, 20) para darnos a possibilidade de encontrá-lo pessoalmente: “No Sacrifício Eucarístico, podemos entrar em contato de modo misterioso, mas real com a sua pessoa,... Esta é uma verdade estupenda: o Verbo, que se fez carne há dois mil anos, está hoje presente na Eucaristia... A Eucaristia é o sacramento da presença de Cristo que Se dá a nós porque nos ama... Ele ama cada um de nós de maneira pessoal e 28 29 Angelus (19 de julho de 1981), 2: L’Oss. Rom. (ed. port.: 26 de julho de 1981), 30. Homilia (14 de junho de 1987), 1: L’Oss. Rom. (ed. port.: 12 de julho de 1987), 28. 8 única.”30 João Paulo II nos lembra desta consoladora verdade da nossa fé, da presença real de Cristo na Eucaristia, quando diz: Que estupendo mistério! Para chegar a Cristo não devemos remontar ao tempo até atingir os dias de Sua vida terrena, não devemos deslocar-nos no espaço até atravessar os confins da Palestina. Basta entrarmos numa igreja, aproximarmo-nos de um tabernáculo: ali O encontramos; podemos falar-Lhe; podemos ouvir as suas inspirações; podemos adorá-lO.31 Por esta razão, devemos “estar diante da Eucaristia com a consciência de que estamos na presença do próprio Cristo”.32 A Eucaristia não é meramente um símbolo, mas a “real” presença de Cristo sob as espécies eucarísticas. O Concílio de Trento “pôs em evidência com expressões precisas e inequívocas (“vere, realiter, substantialiter”) a realidade da presença eucarística de Cristo, sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho: presença que não contradiz, mas integra, sublima e completa as outras modalidades de presença verdadeira de Cristo.”33 A realidade da presença de Cristo é, de fato, o mais importante e estupendo aspecto do mistério eucarístico. “É precisamente sua presença que dá às outras dimensões – de banquete, memorial da Páscoa, antecipação escatológica – um significado que ultrapassa, e muito, o de puro simbolismo. A Eucaristia é mistério de presença, mediante o qual se realiza de modo excelso a promessa que Jesus fez de ficar conosco até o fim do mundo.”34 O Beato João Paulo II explica: A Eucaristia é precisamente Jesus que está no meio de nós, verdadeira e realmente, embora se nos manifeste sob as espécies do pão e do vinho. Estes, é verdade, não nos permitem a alegria de Sua visão sensível, mas oferecem-nos a seguranças de Sua presença efetiva e a vantagem da Sua multiplicidade em todos os lugares e em todos os tempos. A Eucaristia é, pois, o ponto privilegiado do encontro do amor de Cristo por nós: “Permanecei no Meu amor” (Jo, 15, 9). É um amor que se torna disponível para cada um de nós, um amor que se converte em alimento e bebida para nossa fome e sede de vida, quando o próprio Jesus nos convida a “beber do fruto da videira” (Mc 14, 25).35 Por isso, “torna-se necessário cultivar, tanto na celebração da Missa como no culto eucarístico fora dela, uma consciência viva da presença real de Cristo, tendo o cuidado de testemunhá-la com o tom da voz, os gestos, os movimentos, o comportamento em seu todo.”36 Diz João Paulo II: 30 Homilia (20 de agosto de 2000), 3;4: L’Oss. Rom. (ed. port.: 26 de agosto de 2000), 35. Discurso (21 de maio de 1983), 2: L’Oss. Rom. (ed. port.: 29 de maio de 1983), s/d. 32 Mane nobiscum Domine, 16. 33 Discurso (30 de abril de 1995), 6: L’Oss. Rom. (ed. port.: 6 de maio de 1995), 18. 34 Mane nobiscum Domine, loc. cit. 35 Homilia (9 de maio de 1986), 2: L’Oss. Rom. (ed. port.: 18 de maio de 1986), 20. 36 Mane nobiscum Domine, 18. 31 9 É minha alegria reafirmar perante... o mundo inteiro o maravilhoso ensinamento da Igreja Católica a respeito da consoladora presença de Cristo no Santíssimo Sacramento: a Sua presença real no sentido mais completo: a presença substancial pela qual Cristo todo e completo, Deus e Homem, está presente (cf. Mysterium fidei, 39). A Eucaristia, na Missa e fora da Missa, é o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo e merece, portanto, a adoração que se tributa a Deus vivo, e a Ele somente (cf. Mysterium fidei, 55). E assim, queridos irmãos e irmãs, qualquer ato de reverência, qualquer genuflexão que fazeis diante do Santíssimo Sacramento, é importante porque é um ato de fé em Cristo, um ato de amor a Cristo. E todo sinal da Cruz e cada gesto de respeito que se faz ao passar diante de uma igreja é, também, um ato de fé. Queira Deus preservar-vos nesta fé, – esta fé santa, católica – esta fé no Santíssimo Sacramento.37 2.3. A adoração eucarística “Mas, quanto a vós, bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem! Ditosos os vossos ouvidos, porque ouvem!” (Mt 13, 16). Assim como os contemporâneos de Jesus podiam vê-lo em sua aparência humana, nós podemos hoje contemplá-lo na Eucaristia, sob as aparências de pão e vinho. “Contemplar o rosto de Cristo e contemplá-lo com Maria”, tal é o programa que o Beato João Paulo II propôs à Igreja na aurora do terceiro milênio, especialmente a contemplação do seu “Rosto Eucarístico”:38 Contemplamos o rosto eucarístico de Cristo como o fizeram os apóstolos e, em seguida, os santos de todos os séculos. Contemplamo-lo, sobretudo, pondo-nos na escola de Maria, „mulher eucarística‟, em toda a sua vida.”39 “Tudo deve ser feito em convergência para o Tabernáculo, nova „tenda da reunião‟ e lugar privilegiado para contemplar „até se chegar a um coração verdadeiramente apaixonado‟ (Novo millenio ineunte, 33), o rosto do Senhor; o rosto doloroso de Cristo crucificado, „no qual se esconde a vida de Deus e se oferece a salvação do mundo‟ (ibid., 28); o rosto glorioso de Cristo em quem a Igreja, „a Esposa, contempla o seu tesouro e a sua alegria‟ (ibidem).40 Fazendo notar que “o número de fiéis que se aproximam da comunhão aumenta, mas em contrapartida diminuiu o número daqueles que dedicam uma parte de seu tempo à adoração”, João Paulo II nos encoraja enfaticamente a adorar Cristo presente na Eucaristia, lembrando-nos de que: 37 Homilia (29 de setembro de 1979), 7: L’Oss. Rom. (ed. port.: 7 de outubro de 1979), 3. Ecclesia de Eucharistia, 6; 7. 39 Homilia (19 de junho de 2003), 2: L’Oss. Rom. (ed. port.: 28 de junho de 2003), 26. 40 Mensagem (1 de junho de 2002), 2: L’Oss. Rom. (ed. port.: 20 de julho de 2002), 29. 38 10 Cristo fica no meio de nós. Não só durante a Missa, mas também depois, sob as espécies repostas no Sacrário. E o culto eucarístico estende-se a todo o dia, sem se limitar à celebração do Sacrifício. É um Deus próximo, um Deus que nos espera, um Deus que quis permanecer conosco. Quando se tem fé nessa presença real, como se torna fácil estar junto d‟Ele, adorando o Amor dos amores! Como se torna fácil compreender as expressões de amor com que ao longo dos séculos os cristãos rodearam a Eucaristia!41 Nós também deveríamos expressar nosso amor para com Jesus presente na Eucaristia. O Beato João Paulo II nos exorta a “encontrar o tempo e o gosto da oração e, sobretudo, da adoração. Deus está escondido na Eucaristia e espera que, no silêncio e na adoração, nós descubramos o segredo de sua presença.”42 Na verdade, “a presença de Jesus no sacrário deve constituir como que um pólo de atração para um número cada vez maior de almas enamoradas dele, capazes de permanecer longamente escutando a sua voz e, de certo modo, sentindo o palpitar do seu coração: „Saboreai e vede como o Senhor é bom! (Sl 34/33, 9).”43 3. A Eucaristia: mistério do sacrifício sacramental 3.1. Sacramento do Sacrifício Recordemos o que Jesus disse aos Apóstolos na Última Ceia. Primeiro, ele pronunciou estas palavras sobre o pão: “Eis o meu corpo que é dado por vós” (Lc 22, 19). Depois, sobre o cálice: “Este é o cálice da Nova Aliança no meu Sangue, que será derramado por vós” (cf. Lc 22, 20). Ao dizer tais palavras, tinha diante de si sua própria morte na Cruz. Precisamente na Cruz é que tais palavras se cumpriram. Aí é que seu Corpo foi dado em sacrifício, e seu Sangue foi derramado para a salvação eterna. Diz o Beato João Paulo II: Isto aconteceu uma só vez no Calvário, na Sexta-feira Santa. Todavia, no Cenáculo, o que devia cumprir-se na Sexta-feira Santa, o Senhor Jesus instituiu como Santíssimo Sacramento da Igreja sob as espécies do pão e do vinho. Enquanto, pois, o sacrifício cruento na cruz, se cumpriu uma vez para sempre, o Sacramento deste Sacrifício, sob as espécies do pão e do vinho, deve cumprir-se na Igreja continuamente, todos os dias, e de geração em geração. O Senhor Jesus disse aos Apóstolos no Cenáculo: “Fazei isto em Minha memória” (Lc 22, 19). “Fazei isto” – quer dizer: repeti e renovai o sacrifício do meu Corpo e Sangue sob as espécies do pão e do vinho.44 41 Homilia (15 de maio de 1988), 5: L’Oss. Rom. (ed. port.: 22 de maio de 1988), 21. Homilia (30 de março de 1996), 7: L’Oss. Rom. (ed. port.: 6 de abril de 1996), 8. 43 Mane nobiscum Domine, 18. 44 Homilia (13 de junho de 1987), 4; ORP (5 de julho de 1987), 6. 42 11 É por isso que o Papa João Paulo II chama a Eucaristia de Sacramento do Sacrifício. De fato, no Cenáculo, Jesus instituiu o Sacramento do Sacrifício, sinal de uma realidade que ainda estava por se desdobrar numa série de acontecimentos. As palavras com que é instituída a Eucaristia não apenas anteciparam o que viria a ser realizado no dia seguinte, elas também sublinham expressamente o fato de que essa realização já próxima possuía o significado e o alcance de um sacrifício.45 Instituindo a Eucaristia, Jesus “não Se limitou a dizer „isto é o meu corpo‟, „isto é o meu sangue‟, mas acrescenta: „entregue por vós‟ (...) „derramado por vós‟ (Lc 22, 19-20). Não se limitou a afirmar que o que lhes dava a comer e a beber era o seu corpo e o seu sangue, mas exprimiu também o seu valor sacrificial, tornando sacramentalmente presente o seu sacrifício, que algumas horas depois realizaria na cruz pela salvação de todos.”46 Deste modo, na Última Ceia, o Senhor pôs nas mãos dos Apóstolos e da Igreja, o verdadeiro sacrifício. Aquilo que no momento de sua instituição, foi uma antecipação real da realidade sacrificial do Calvário, tornou-se “o memorial” que perpetua de uma maneira sacramental esta mesma realidade redentora. Eis porque a primeira Missa na Quinta-feira Santa foi uma verdadeira antecipação do sacrifício da Cruz, enquanto que toda Missa depois da Sexta-feira Santa é uma participação real nele. Sempre que a Igreja celebra a Eucaristia, o memorial da morte e ressurreição do Senhor, este evento central da salvação, torna-se realmente presente, e exerce-se a obra de nossa redenção.47 Diz João Paulo II: A Eucaristia, enquanto renovação sacramental do sacrifício da Cruz, constitui o ponto culminante da obra redentora: ela proclama e atualiza aquele Mistério, que é fonte de vida para todo o homem. Com efeito, todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos a morte do Senhor até que venha (cf. I Cor 11, 26)... Há, portanto, uma ligação intrínseca e essencial entre a Missa e o sacrifício da Cruz. De fato, participar da Santa Missa significa estar no Calvário para participar do sacrifício de Cristo. Em que consiste a diferença entre o sacrifício da Cruz e a Santa Missa? Temos que distinguir entre o evento e o sacramento. A Santa Missa é o “memorial” do que ocorreu no Calvário, o único e irrepetível sacrifício da Cruz. Ao mesmo tempo, ela é também o sacramento que o torna presente em sua profundidade e potência originária.48 A Missa não é pois um outro sacrifício ao lado do sacrifício da Cruz, nem o faz se multiplicar. Ela é, ao contrário, a celebração sacramental do único sacrifício do Calvário. 45 Cf. Carta aos sacerdotes (13 de abril de 1987), 2; ORP (19 de Abril de 1987), 6. Ecclesia de Eucharistia, 12. 47 Cf. Lumen Gentium, 3. 48 Cf. Homilia (28 de março de 1991), 3; ORP (31 de março de 1991), 5. 46 12 Celebrando a Eucaristia, a Igreja vive continuamente do sacrifício redentor. Na Santa Missa, nós não apenas nos lembramos do sacrifício da Cruz, mas entramos em um contato atual com ele. Pois “na sagrada Eucaristia, celebramos a presença sempre nova e ativa do único sacrifício da Cruz, na qual a redenção é um acontecimento eternamente presente.”49 João Paulo II declara: “Este sacrifício (o sacrifício da Cruz) é tão decisivo para a salvação do gênero humano que Jesus Cristo realizou-o e só voltou ao Pai depois de nos ter deixado o meio para dele participarmos como se tivéssemos estado presentes. Assim cada fiel pode tomar parte nela, alimentando-se dos seus frutos inexauríveis.”50 O Beato João Paulo II tem uma viva consciência da misteriosa “contemporaneidade” entre o sacrifício do Calvário e o sacrifício da Missa. Em sua encíclica sobre a Eucaristia, ele nos dá este testemunho pessoal: “Há mais de meio século todos os dias, a começar daquele 2 de Novembro de 1946 quando celebrei a minha Missa Primicial na cripta de S. Leonardo na catedral do Wawel, em Cracóvia, os meus olhos concentram-se sobre a hóstia e sobre o cálice onde o tempo e o espaço de certo modo estão „contraídos‟ e o drama do Gólgota é representado ao vivo, desvendando a sua misteriosa „contemporaneidade‟.51 Numa celebração em Genebra, ele lembrou aos fiéis que a Missa é de fato o memorial vivo do único sacrifício do Calvário: Como todas as celebrações eucarísticas, esta, que tenho a alegria e a graça de presidir no meio de vós, é com efeito a atualização do sacrifício único do Senhor Jesus através do tempo e do espaço: celebração realizada num ponto do globo mas que se repete em benefício de toda a humanidade. Cristãos, ... tomemos juntos consciência dos efeitos extraordinários e misteriosos desta Eucaristia..., da irradiação invisível da oferenda sacramental da vida, morte e ressurreição do Senhor.52 3.2. O Sacramento que nos torna hóstias vivas em Cristo A Eucaristia é, simultaneamente, o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Igreja, pois nele Cristo faz a Igreja participar em seu próprio oferecimento. Isto é concisamente expresso na Liturgia Eucarística: “Olhai, [Senhor], com bondade, o sacrifício que destes à vossa Igreja e concedei aos que vamos participar do mesmo pão e do mesmo cálice que, reunidos pelo Espírito Santo num só corpo, nos tornemos em Cristo um sacrifício vivo para o louvor da vossa glória.” (Prece Eucarística IV). De fato, Cristo quis que este seu sacrifício pudesse ser continuamente oferecido de modo a associar a ele toda a comunidade cristã. Na Santa Missa, recebemos, pois, o santo sacrifício de Cristo como propriamente nosso e a ele unimos nossas vidas em oferta sacrifical. Em conseqüência, “celebrar 49 Meditação (1 de junho de 1980), 4; ; ORP (15 de junho de 1980), 12. Ecclesia de Eucharistia, 11. 51 Ecclesia de Eucharistia, 59. 52 Homilia (15 de junho de 1982), 1; ORP (27 de junho de 1982), 7. 50 13 a Eucaristia significa testemunhar a própria disponibilidade para se sacrificar pelos outros, como Ele fez.”53 Cristo espera de seu povo sacerdotal uma participação ativa em seu sacrifício. Diz João Paulo II: Jesus entrega-se como Pão “partido” e como Sangue “derramado”, para que todos possam “ter vida e vida em abundância” ( cf. Jo 10, 10). Ele se oferece a si mesmo pela salvação de toda a humanidade. Participar no seu banquete sacrifical não comporta somente repetir o gesto por Ele levado a cabo, mas também beber do seu cálice e participar na sua própria imolação. Assim como Cristo se faz “pão partido” e “sangue derramado”, também cada cristão... é chamado a dar a vida pelos irmãos, em união com a do Redentor.54 Como é importante, portanto, que tomando parte na Eucaristia, nós assumamos uma atitude pessoal de oferta. Não é suficiente escutarmos a palavra de Deus, nem rezarmos junto com a comunidade. É necessário que façamos nossa, a oferta de Cristo, oferecendo com Ele e n‟Ele os nossos sofrimentos, dificuldades, provações, e mais ainda, a nós próprios inteiramente, a fim de elevar estes nossos dons até o Pai, junto com a que Cristo faz de si mesmo.55 João Paulo II diz: “A Igreja tem necessidade de homens e mulheres que façam de sua vida, como ele, um dom sem reservas ao Senhor; que não se deixem seduzir pelo fascínio das atrações inconstantes do mundo; saibam imolar-se a si mesmos, unindo o seu sacrifício ao de Jesus, para que „tenham a vida e a tenham em abundância‟ (Jo 10, 10).”56 4. A Eucaristia: mistério da comunhão sacramental “A Eucaristia é o sacramento do sacrifício e da comunhão. Nós todos que participamos dela como Sacrifício, recebemo-la como Comunhão”57, observa o Beato João Paulo II. Portanto, “o sacrifício eucarístico está particularmente orientado para a união íntima dos fiéis com Cristo através da comunhão”.58 Pode-se dizer, assim, com São Maximiliano Kolbe, que “o ápice da Missa não é a consagração, mas a comunhão eucarística.”59 A comunhão, por sua vez, é o dom específico do Espírito Santo. A ação própria e específica do Espírito Santo no seio da Trindade é a comunhão. Santo Agostinho chama a Terceira Pessoa da SS. 53 Homilia(20 de agosto de 2000), 5; ORP (26 de agosto de 2000), 4. Mensagem (2 de fevereiro de 2005), 2; ORP (5 de fevereiro de 2005), 12. 55 Cf. Audiência (1 de junho de 1983), 2; ORP (5 de junho de 1983), 12. 56 Homilia (21 de junho de 1992), 6; ORP( 12 de julho de 1992), 5. 57 Homilia (14 de junho de 1987), 4; ORP (12 de julho de 1987), 6. 58 Ibid. 59 Apud Centro Cultural Papa João Paulo II, No Altar do Mundo, Washington, 2003, p. 168 ( a tradução portuguesa é nossa). 54 14 Trindade de “o supremo Amor que une ambas as Pessoas.”60 O Espírito Santo é também o amor que une o homem a Deus. Este dom da comunhão é concedido à Igreja, antes de tudo, na Eucaristia, o sacramento da comunhão. De fato, “a comunhão do corpo de Cristo eucarístico significa e produz, isto é, edifica a íntima comunhão de todos os fiéis no Corpo de Cristo que é a Igreja (1 Cor 10, 16).”61 4.1. Sacramento de íntima comunhão com Cristo A Eucaristia enquanto sacramento de comunhão há duas dimensões complementares: uma dimensão pessoal e uma dimensão comunitária. Entrando em profunda comunhão pessoal com Jesus Cristo pela comunhão eucarística, o fiel pode, em Cristo, entrar em profunda comunhão com todos os membros da Igreja, Corpo de Cristo. Vejamos primeiro a dimensão pessoal da comunhão eucarística: A Comunhão eucarística é fundamentalmente um mistério profundamente interior e pessoal, é o encontro mais íntimo e pessoal com Jesus como nosso Senhor e Deus. De fato, Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu a Eucaristia na intimidade da Última ceia como dom pessoal de si aos seus amigos. “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”(Jo 6, 56). “Podemos dizer,” comenta o Beato João Paulo II, “não só que cada um de nós recebe Cristo, mas também que Cristo recebe cada um de nós. Ele intensifica a sua amizade conosco: “Chamei-vos amigos” (Jo 15, 14). Mais ainda, nós vivemos por Ele: “O que Me come viverá por Mim” (Jo 6, 57). Na comunhão eucarística, realiza-se de modo sublime a inabitação mútua de Cristo e do discípulo: “Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós” (Jo 15, 4)."62 Se estabelece uma relação de mútua interiorização. “Cristo faz-Se próximo de nós e torna-se mais íntimo de nós do que nós próprios.”63 Portanto, a comunhão eucarística é fonte de santidade. Dentre todos os meio que Deus nos deu para crescermos em santidade, o mais efetivo é a Comunhão Eucarística. Observa São Maximiliano Kolbe que “uma única santa comunhão seria suficiente para tornar-me santo.”64 Uma vez que o grau de nossa santidade depende do grau de nossa união com Deus, a Eucaristia é, mais do que os outros 60 S. Agostinho, De Trinitate, 7, 3, 6. Ibid. 62 Ecclesia de Eucharistia, 22 63 Carta (28 de maio de 1996), 3: L´Oss. Rom., (ed. port.: 15 de junho de 1996), 24. 64 Cf. Escritos de Maximiliano Kolbe – Herói de Oswiecim e Beato da Igreja, Florença, Cittá di vita, 1975-1978, Vol. II, 968, p.647. 61 15 sacramentos, o sacramento da santidade que se desenvolve e cresce no homem.65 Pois a Eucaristia é o sacramento da mais íntima união com Deus. No entanto, tal união com Cristo, almejada pela comunhão sacramental, não é apenas um dom, é também uma tarefa. É através da adoração silenciosa e da contemplação que podemos entrar numa união profunda e duradoura com Cristo. Deste modo, a união com Deus estará sempre presente em nossas almas e transformará nosso ser inteiro. Eis como João Paulo II descreve os frutos espirituais da Santa Comunhão: “Jesus veio aos vossos corações. Ele está em vós, o Seu amor enche-vos e faz com que vos torneis cada vez mais semelhantes a Ele, sempre mais santos.”66 E ainda nos lembra que A participação quotidiana na Eucaristia, alimento de vida eterna, é capaz de transformar a existência dos crentes. Alimentados por este pão de salvação, eles podem crescer como Igreja que “dá a vida”, porque o Senhor os tornará capazes de realizar prodígios que Ele cumpriu e renova constantemente no seu povo com o poder do Espírito Santo. Caríssimos, a Eucaristia infunda em vós a coragem e a alegria de serdes santos... O mundo precisa, primeiro e antes de tudo, de pessoas santas.67 4.2. Sacramento que edifica a Igreja A dimensão pessoal da comunhão eucarística está intimamente ligada à sua dimensão comunitária. Diz São Paulo: “O pão que partimos não é a comunhão no corpo de Cristo?” (I Cor 10, 16). Realmente, quando recebemos o Corpo e Sangue de Cristo, não apenas nós é que recebemos Cristo, mas Cristo, também, recebe cada um de nós. Ele recebe cada um de nós para nos assimilar a si. Todos nós “nos alimentamos” da mesma pessoa, Cristo. E assim Cristo nos atrai a Si, fazendo-nos sair de nós mesmos para nos tornarmos uma só coisa com Ele e então, por meio desta comunhão, nos une a todos. Desta forma, “a Eucaristia, como sacramento do Corpo e do Sangue pessoal de Cristo, forma a Igreja que é o corpo social de Cristo, na unidade de todos os membros da comunidade eclesial.” 68 O Papa João Paulo II explica: Este grande sacramento, que nos permite participar da vida de Cristo nos une também uns aos outros, a todos os outros membros da Igreja e a todos os batizados de todos os tempos e de todas as nações. Embora nós, que pertencemos à Igreja, nos encontremos dispersos pelo mundo, embora falemos línguas diferentes, tenhamos um diverso patrimônio cultural e sejamos cidadãos de diferentes nações, “uma vez que há um só pão, embora sejamos muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão” (I Cor 10, 17).69 65 Cf. Audiência (23 de junho de 1993), 4; ORP (27 de junho de 1993), 16. Discurso (7 de junho de 1997), 1; ORP (14 de junho de 1997), 17. 67 Mensagem (10 de junho de 2004), 2-3; ORP (3 de julho de 2004), 9. 68 Audiência (21 de novembro de 1991), 7; ORP (24 de novembro de 1991), 12. 69 Homilia (16 de fevereiro de 1981), 5; ORP (22 de fevereiro de 1981), 5. 66 16 Comungar com Cristo significa, essencialmente, também comungarmos uns com os outros. “Nossa união com Ele, que é dom e graça para cada um de nós, faz com que nele sejamos também associados à unidade do seu Corpo que é a Igreja.”70 Portanto, a comunhão produzida pela Eucaristia é, ao mesmo tempo, vertical e horizontal, como nos lembra o Concílio: “Participando realmente do Corpo do Senhor na fração do pão eucarístico, somos elevados à comunhão com Ele (relação pessoal) e entre nós (relação comunitária).”71 A comunhão vertical que nos torna um com nosso Senhor e Deus “gera ao mesmo tempo uma comunhão-koinonia que podemos definir „horizontal‟, ou seja, eclesial, fraterna, capaz de unir num vínculo de amor todos os participantes da mesma mesa.”72 O Beato João Paulo II declara: Na terra não há nada de mais eficaz do que a Eucaristia para levar os cristãos a serem e a sentirem-se todos um só; não há momento algum em que se encontrem e fundam uns nos outros tão intimamente como quando comungam Jesus Eucaristia, que a todos abraça e interliga em Si mesmo. Assim se realiza na terra o que já sucede no Céu: Cristo une a Si, e uns aos outros, todos os que vivem n‟Ele. Basta comungá-lO como se deve para vos encontrardes verdadeiramente juntos.73 4.3. Sacramento que nos torna instrumentos de comunhão Quando recebemos Cristo na Comunhão eucarística, somos unidos a ele. Cristo, por sua vez, nos une a todos os demais que O recebem. Tornando-nos um com eles, precisamos aprender a nos abrir em direção a eles e nos envolver em suas existências. Esta é a prova da autenticidade de nosso amor a Cristo. Se estamos unidos a Cristo, estamos também unidos ao próximo. Esta unidade não é só limitada ao momento da Comunhão sacramental, embora aí tenha início. O Beato João Paulo II nos recorda: A autenticidade de nossa união com Jesus sacramentado deve traduzir-se no nosso verdadeiro amor a todos os homens, começando por aqueles que estão mais próximo. Deverá ser notado no modo de tratar a própria família, companheiros e vizinhos, no empenho por viver em paz com todos; na prontidão para se reconciliar e perdoar quando seja necessário.74 Além disso, quanto mais descobrirmos o infinito amor de Jesus na Eucaristia, que a nós se doa, tanto mais aprenderemos a ser dom também para os outros e descobriremos Jesus nos irmãos e irmãs. Assim, a Eucaristia, recebida com amor e adorada com fervor, tornar-se-á escola de amor, capacitando- 70 Dominicae Cenae, 4. Lumen Gentium, 7 72 Audiência (8 de novembro de 2000), 4; ORP (11 de novembro de 2000), 12. 73 Discurso (22 de outubro de 2002), 8; ORP (30 de outubro de 2002), 7. 74 Homilia (31 de outubro de 1982), 3; ORP (7 de novembro de 1982), 7. 71 17 nos de realizar o mandamento de Cristo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15, 12). João Paulo II explicou numa mensagem aos jovens: Jesus fala-nos na linguagem maravilhosa do dom de si e do amor até ao sacrifício da própria vida. É um tema fácil? Não, vós bem o sabeis! O esquecimento de si não é fácil; ele distrai do amor possessivo e narcisista para abrir o homem à alegria do amor que se entrega. Esta escola eucarística de liberdade e de caridade ensina a ultrapassar as emoções superficiais, para se arraigar naquilo que é verdadeiro e bom; liberta do egoísmo pessoal, dispondo para a abertura aos outros; e ensina a passar de um amor afetivo a um amor efetivo, porque amar não é apenas um sentimento, mas um ato de vontade, que consiste em preferir de maneira constante o bem do próximo ao bem pessoal: “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15, 13).75 Conlusão: A Eucaristia, programa de vida e força para a missão A SS. Eucaristia é o maior dom que Deus confiou à sua Igreja e a cada um de nós. Quanto maior for o dom, tanto maior deve ser a resposta que corresponde à grandeza deste dom. Por ser o dom incomensurável do amor de Deus, o dom da Eucaristia requer de nós também um sério compromisso que deve tornar-se um “programa de vida.”76 Tudo o que temos de fazer da nossa parte é corresponder a este amor infinito de Deus com o nosso amor, e acolher este Dom dando, em troca, o dom de nós próprios. Para que isto realmente aconteça, devemos primeiro crescer na consciência da grandeza deste Dom aprofundando continuamente a nossa fé na Eucaristia. João Paulo II nos encoraja: Deixai que Jesus, presente no Sacramento, fale ao vosso coração. Ele é a verdadeira resposta da vida que buscais. Ele permanece aqui conosco: é o Deus conosco. ProcuraiO sem vos cansardes, recebei-O incondicionalmente e amai-O sem tréguas: hoje, amanhã e sempre!77 “Com efeito, o que pode existir de mais unificante e atraente do que o Mistério eucarístico acreditado, amado e celebrado? Eucaristia significa amor que se doa: é a expressão máxima do amor de Cristo por nós, e ao mesmo tempo, do nosso amor por Cristo.”78 Seguindo o exemplo do Beato João Paulo II, deveríamos fazer da Santa Missa o centro de nossa vida, e o momento culminante de cada dia 75 Mensagem (22 de fevereiro de 2004), 5; ORP (6 de março de 2004), 12. Homilia (19 de agosto de 1979), 3; ORP (26 de agosto de 1979), 3. 77 Discurso (27 de setembro de 1997), 3; ORP (4 de outubro de 1997), 5. 78 Discurso (15 de março de 1997), 3; ORP (29 de março de 1997), 4. 76 18 de nossa vida. Deveríamos, outrossim, reservar tempo para a adoração eucarística fora da Missa, para adorar o amor dos amores, e achar força e consolação em Jesus verdadeiramente presente na Eucaristia. É precisamente pela participação freqüente na Missa, e reservando tempo para uma adoração silenciosa, que contribuímos muito para o crescimento e fortalecimento da Igreja. Pois é na celebração da Eucaristia e “no colóquio íntimo com Jesus acabado de receber na comunhão”, ou seja, “no período da adoração eucarística fora da Missa” que “a Igreja fica solidamente edificada.”79 Nosso amor pela Eucaristia, entretanto, não deveria limitar-se à celebração da Santa Missa. De fato, tudo em nossa vida deveria ser uma expressão da Eucaristia. As suas três dimensões essenciais ajudam-nos a entender melhor o “sentido eucarístico” da nossa existência. Pois “do mistério eucarístico, que é sacramento-sacrifício, sacramento-comunhão, sacramento-presença, deriva a missão do cristão.”80 Maria, a mulher eucarística, ajudar-nos-á para que possamos viver cada vez mais o mistério eucarístico nas suas três dimensões fundamentais: Presença: Jesus permanece no meio de nós pela Eucaristia. Sua presença oculta fica, porém, muitas vezes ignorada. Como Pão da Vida, Ele quer nos assimilar cada vez mais a si mesmo a fim de viver em nós e, através de nós, continuar a sua presença aqui na terra. Eis o grande desafio de nossa vida: testemunhar Jesus no mundo e partilhar Jesus com os outros, como o fez Maria. Sacrifício: Na Eucaristia, Cristo deixou-nos seu sacrifício redentor a fim de que todos os homens pudessem ter parte nele. É necessário então que tornemos nosso, o sacrifício de Cristo, oferecendo com Ele e n´Ele nossos sofrimentos e tribulações e, mais que tudo, a nós mesmos. Desta forma, podemos eficazmente cooperar na salvação de nossos irmãos e irmãs. O sacrifício eucarístico é, portanto, um contínuo convite para “completar na nossa carne o que falta às tribulações de Cristo, por seu corpo que é a Igreja” (cf. Col 1, 24). Maria, por sua vez, foi a primeira a viver esta dimensão sacrifical da Eucaristia. Comunhão: A Eucaristia nos é dada como comunhão. Ela edifica a Igreja como uma comunidade, unindo-nos a Cristo e uns aos outros n‟Ele. Por isso, temos que aprender a nos abrirmos em direção aos nossos irmãos e irmãs e a nos envolvermos em suas existências. A nossa união de amor com Cristo na Sagrada Comunhão deveria traduzir-se num genuíno amor a todas as pessoas, a começar com aquelas que nos são mais próximas. Maria, a mãe do amor e da unidade, nos ajude a sermos cada vez mais instrumentos de unidade no meio dos irmãos. 79 80 Ecclesia de Eucharistia, 61. Homilia (1 de maio de 1992), 5; ORP (10 de maio de 1992), 6. 19 Seguindo o exemplo de Maria, a mulher eucarística, devemos empenhar-nos para assimilar, gradualmente, as íntimas disposições que a Eucaristia estimula: o reconhecimento pelos benefícios recebidos do Alto, pois a Eucaristia é ação de graças; a atitude oblativa que nos impele a unir à oferta eucarística de Cristo, a própria oferta pessoal; a caridade alimentada por um sacramento que é sinal de unidade e de partilha; o desejo de contemplar e adorar a Cristo realmente presente sob as espécies eucarísticas. Abstract Jesus presents the Eucharist as the gift of the Holy Trinity. The Eucharist is the summit of God's selfcommunication, the real and living presence of the Trinitarian love of God. Highlighting the Trinitarian character of the Eucharist, Pope John Paul II presents it as a sacrament with three dimensions: the Sacrament of Presence, of Sacrifice and of Communion. Notwithstanding the Eucharist is one sacrament, we experience it in three different ways - presence, sacrifice and communion. In the Eucharist, Jesus kept His promise to be with us always until the end of time. On the other hand, when we partake of the Eucharistic sacrifice, we understand that the Son of God, as St. Paul puts it, “loved me and gave himself for me” (Gal 2,20). With regard to the third dimension of Communion the Eucharistic means a relationship of deep mutual abiding. The mystery of the Eucharist – presence, sacrifice, communion is therefore a trinitarian gift and is to be experienced in its entirety, whether in the celebration or in intimate conversation with Jesus in Eucharistic adoration outside Mass. Keywords: Eucharist, Sacrament; presence, sacrifice, communion REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONCÍLIO VATICANO II, Constituição dogmática Lumen Gentium. JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia ______. Carta Encíclica Redemptor homminnis ______. Carta apostólica Mane nobiscum Domine ______. Discurso (14 de novembro de 1981), 2: L´Oss. Rom. (ed. port. 22 de nov de 1981), 47 ______. Homilia (2 de jun de 1983), 2: L´Oss. Rom., (ed. port.: 12 de jun de 1983), 24. ______. Homilia (20 de ago de 2000), 6: L’Oss. Rom. (ed. port.: 26 de ago de 2000), 35. ______. Mensagem (5 de jun de 1994), 2: L’Oss. Rom. (ed. port.: 11 de jun de 1994), 24. ______. Audiência geral (10 de mar de 1999), 3: L’Oss. Rom. (ed. port.: 13 de mar de 1999), 11. ______. Homilia (8 de jun de 1980), 3: L’Oss. Rom. (ed. port.: 15 de jun de 1980), 24. ______. Homilia (12 de jun de 1993), 3: L´Oss. Rom., (ed. port.: 20 de jun de 1993), 25. ______. Homilia (14 de jun de 2001), 3: L´Oss. Rom., (ed. port.: 16 de jun de 2001), 24. ______. Homilia (14 de jun de 1987), 3: L’Oss. Rom. (ed. port.: 12 de jul de 1987), 28. ______. Discurso (8 de out de 1989), 3: L’Oss. Rom. (ed. port.: 15 de out de 1989), 42. ______. Angelus (1 de jul de 1990), 1: L’Oss. Rom. (ed. port.: 8 de jul de 1990), 27. ______. Angelus (13 de jun de 1993), 1: L’Oss. Rom. (ed. port.: 20 de jun de 1993), 25. 20 ______. Angelus (19 de jul de 1981), 2: L’Oss. Rom. (ed. port.: 26 de jul de 1981), 30. ______. Homilia (14 de jun de 1987), 1: L’Oss. Rom. (ed. port.: 12 de jul de 1987), 28. ______. Homilia (20 de ago de 2000), 3;4: L’Oss. Rom. (ed. port.: 26 de ago de 2000), 35. ______. Discurso (21 de maio de 1983), 2: L’Oss. Rom. (ed. port.: 29 de maio de 1983), s/d. ______. Discurso (30 de abr de 1995), 6: L’Oss. Rom. (ed. port.: 6 de maio de 1995), 18. ______. Homilia (9 de maio de 1986), 2: L’Oss. Rom. (ed. port.: 18 de maio de 1986), 20. ______. Homilia (29 de set de 1979), 7: L’Oss. Rom. (ed. port.: 7 de out de 1979), 3. ______. Homilia (19 de jun de 2003), 2: L’Oss. Rom. (ed. port.: 28 de jun de 2003), 26. ______. Mensagem (1 de jun de 2002), 2: L’Oss. Rom. (ed. port.: 20 de jul de 2002), 29. ______. Carta aos sacerdotes (13 de abr de 1987), 2; ORP (19 de Abl de 1987), 6. ______. Homilia (28 de mar de 1991), 3; ORP (31 de mar de 1991), 5. ______. Meditação (1 de jun de 1980), 4; ; ORP (15 de jun de 1980), 12. ______. Homilia (15 de jun de 1982), 1; ORP (27 de jun de 1982), 7. ______. Homilia(20 de ago de 2000), 5; ORP (26 de ago de 2000), 4. ______. Mensagem (2 de fev de 2005), 2; ORP (5 de fev de 2005), 12. ______. Audiência (1 de jun de 1983), 2; ORP (5 de jun de 1983), 12. ______. Homilia (21 de jun de 1992), 6; ORP( 12 de jul de 1992), 5. ______. Homilia (14 de jun de 1987), 4; ORP (12 de jul de 1987), 6. ______. Carta (28 de maio de 1996), 3: ORP (ed. port.: 15 de jun de 1996), 24. ______. Audiência (23 de jun de 1993), 4; ORP (27 de jun de 1993), 16. ______. Discurso (7 de jun de 1997), 1; ORP (14 de jun de 1997), 17. ______. Mensagem (10 de jun de 2004), 2-3; ORP (3 de jul de 2004), 9. ______. Audiência (21 de nov de 1991), 7; ORP (24 de nov de 1991), 12. ______. Homilia (16 de fev de 1981), 5; ORP (22 de fev de 1981), 5. ______. Audiência (8 de nov de 2000), 4; ORP (11 de nov de 2000), 12. ______. Discurso (22 de out de 2002), 8; ORP (30 de out de 2002), 7. ______. Homilia (31 de out de 1982), 3; ORP (7 de nov de 1982), 7 ______. Mensagem (22 de fev de 2004), 5; ORP (6 de ma de 2004), 12. ______. Homilia (19 de ago de 1979), 3; ORP (26 de ago de 1979), 3. ______. Discurso (27 de set de 1997), 3; ORP (4 de out de 1997), 5. ______. Discurso (15 de mar de 1997), 3; ORP (29 de mar de 1997), 4. ______. Homilia (1 de maio de 1992), 5; ORP (10 de maio de 1992), 6. 21