○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Resenha A Ditadura em debate: Estado e Sociedade nos anos do autoritarismo FREIXO, Adriano de; MUNTEAL FILHO, Oswaldo (org.). A ditadura em debate: estado e sociedade nos anos do autoritarismo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. 204 p. Paulo Borges Campos Júnior Economista, Mestre em História (UFG), Professor Universitário e Vicepresidente do Conselho Diretor do Instituto Educacional Piracicabano (IEP)/ Granbery / Instituto Metodista Educacional de Altamira (IMEA). A obra em questão, fruto de um dedicado trabalho de pesquisa de seus autores, aborda de maneira clara e objetiva o estado e a sociedade brasileira que viveram durante os 21 anos de autoritarismo militar que o Brasil passou, de 1964 a 1985. Tristes e importantes lembranças de um tempo onde as liberdades individuais foram deixadas de lado, substituidas pela lógica de um capitalismo perverso em favor de minorias políticas a serviço de interesses transnacionais. Ao leitor caberá a prazerosa tarefa de mergulhar nos sete artigos, os quais formam a citada produção, indo na direção do entendimento do estado e da sociedade brasileira nesse período. O primeiro artigo: Certeza e percepções da Revista de Educação do Cogeime política em 1964, de autoria do professor e historiador Oswaldo Munteal Filho, trata dos ecos políticos vindos de uma agenda trabalhista exposta a partir do comício de João Goulart na Central do Brasil, em 13 de março de 1964, que provoca reações na oposição civil da época, nos quartéis e alcançando o governo norte-americano. Marx Weber, Otto Hintze, Giovanni Arrighi, Rui Mauro Marini e Theotônio dos Santos servem de referencial teórico para que Munteal Filho aprofunde o seu entendimento sobre o golpe de 1964. O historiador e pesquisador da UFRJ, Ricardo Antonio de Souza Mendes, com o título: Antireformismo e a questão social no Brasil: o golpe de 1964, escreve o ○ ○ 125 ○ ○ ○ ○ Ano 14 - n . 27 – dezembro / 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ segundo artigo onde aborda o processo brasileiro de polarização política, em 1961, que culminou no movimento civil-militar de 1964, passando pela atuação do Ipês e Ibad na análise dos problemas sociais do país à época, pela conspiração da UDN contra o governo Vargas e chegando à doutrina de segurança nacional a qual defendia o estabelecimento do bem-estar social por meio da chamada ordem. Os professores Lincoln de Araújo Santos e Livingstone dos Santos Silva escrevem o terceiro artigo denominado: Tecnicismo e política: Estado, planejamento e legislação educacional durante o regime militar. Os autores desse artigo descrevem o projeto de país, defendido e aplicado pelo regime militar, instalado no Brasil pós 1964, reconstruindo o caráter orgânico do Estado brasileiro e toda a sua movimentação estabelecida de acordo com a lógica econômica e política vigente. Eles trazem à tona uma importante e atual discussão sobre a educação do país, numa visão autoritária e referendada pelo MEC, dentro de uma preocupação para a formação de mão-de-obra qualificada, justificada pela teoria do capital humano. O quarto artigo tem o sugestivo título: O regime militar em festa: as comemorações do Sesquicentenário da independência brasileira, que é escrito pelo sociólogo e professor Adjovanes Thadeu Silva de Almeida. O autor em questão aborda as comemorações dos 150 anos de indepen- ○ Revista de Educação do Cogeime O processo brasileiro de polarização política, em 1961, que culminou no movimento civilmilitar de 1964 Esse artigo faz um breve relato do protestantismo no Brasil e trata da pluralidade das posições políticas, por parte desse segmento religioso, durante e depois de 1964 ○ ○ 126 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ dência do Brasil como uma busca, por parte do regime miliar, de estabelecer uma relação entre essa independência e o golpe de 1964, sedimentando assim esse projeto autoritário no país. Os historiadores e professores Adriano Feixo e Luiz Edmundo Tavares são os autores do quinto artigo, com o criativo título: O samba em tempos de ditadura: as tranformações no universo das grandes escolas do Rio de Janeiro nas décadas de 1960 e 1970. Eles mostram, nesse trabalho, as diversas mudanças que as escolas de samba carioca promovem à época da ditadura de 1964, refletindo as alterações na sociedade, na economia e na política do Brasil. O púlpito, a praça e o palanque: os evangélicos e o regime militar brasileiro é o título do sexto trabalho, de autoria do professor e historiador Lyndon de Araújo Santos, onde é abordada uma relação delicada e pouco explorada por outros autores, entre os evangélicos e o regime militar. Esse artigo faz um breve relato do protestantismo no Brasil e trata da pluralidade das posições políticas, por parte desse segmento religioso, durante e depois de 1964. No sétimo e último artigo: Após Geisel: crise do desenvolvimentismo e afirmação do neoliberalismo no Brasil, o sociólogo e professor Alvaro de Oliveira Sena discute a implantação no país de um modelo de desenvolvimento associado e dependente, passando pela crise política de 1964 e ascensão dos militares no poder, Ano 14 - n . 27 – dezembro / 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ pela crise do desenvolvimentismo na era pós-Geisel, aborda o difícil período de 1982, finalizando com o estabelecimento no Brasil, nos anos 90, do chamado modelo neoliberal. Nessa obra os autores percorrem a história brasileira, peneirada pelo tempo, descrevendo Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ diversos modelos teóricos a favor e contra o então regime, numa visão dialética desse processo. Para os estudiosos desse período e mesmo para todos que querem ter uma visão lúcida dos anos de chumbo no Brasil, essa leitura é imprescindível. ○ ○ 127 ○ ○ ○ ○ Ano 14 - n . 27 – dezembro / 2005