UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO JOÃO ANDERSON DA SILVA JOGOS COOPERATIVOS E INCLUSÃO NO PROJETO INTENSIVO NO CICLO – PIC SÃO PAULO 2010 1 JOÃO ANDERSON DA SILVA JOGOS COOPERATIVOS E INCLUSÃO NO PROJETO INTENSIVO NO CICLO – PIC Dissertação apresentada como exigência para obtenção do título de Mestre em Educação, na Universidade Cidade de São Paulo, sob a orientação da Profa. Dra. Edileine Vieira Machado SÃO PAULO 2010 2 ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________ COMISSÃO JULGADORA 3 DEDICATÓRIA Dedico àqueles que em algum momento sentiram na pele o peso da exclusão, de qualquer natureza. À minha esposa e meu filho, pessoas por quem sigo em frente hoje. À minha família, pessoas fantásticas que sempre me ensinaram a desfrutar do bálsamo que é o ato de incluir, meu pai, minha mãe e minhas irmãs. Àqueles que não poderão ler esta dedicatória por ainda estarem às margens da educação formal. 4 AGRADECIMENTOS Primeiro a DEUS, por me permitir chegar tão longe do ponto onde comecei. À minha orientadora, Dra. Edileine Vieira Machado, por me acompanhar e orientar nesta caminhada. Aos profs dors. Jair Militão da Silva e Marcos Garcia Neira, pelas valiosas contribuições e apontamentos precisos na construção deste trabalho. Agradeço também a Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo pelo apoio financeiro, sem o qual não seria possível a realização da presente pesquisa. 5 Se você quer transformar o mundo, mexa primeiro em seu interior. Dalai Lama 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ___________________________________________________ 11 CAPÍTULO 1_____________________________________________________ 14 1.1 Referencial teórico ____________________________________________ 14 1.1.1 O jogo na Grécia antiga ______________________________________ 14 1.1.2 Jogos cooperativos _________________________________________ 16 1.1.3 Falando em inclusão escolar __________________________________ 18 1.1.4 Projeto Intensivo no Ciclo (PIC) _______________________________ 22 1.1.5 Abordagem pedagógica da educação física escolar______________ 24 1.1.6 Novo público, novas necessidades ____________________________ 25 1.1.7 Legislação _________________________________________________ 28 1.1.8 Direito à permanência________________________________________ 29 CAPÍTULO 2_____________________________________________________ 32 2.1 Objetivos ____________________________________________________ 32 2.1.1 Objetivo geral ______________________________________________ 32 2.1.2 Objetivos específicos ________________________________________ 32 CAPÍTULO 3_____________________________________________________ 33 3.1 Metodologia __________________________________________________ 33 3.1.1 Pesquisa-ação ______________________________________________ 33 3.1.2 Amostra ___________________________________________________ 34 3.1.3 O grupo ___________________________________________________ 35 7 3.1.4 Espaços utilizados __________________________________________ 36 3.1.5 Aplicação dos jogos cooperativos _____________________________ 40 3.1.6 Avaliação do Projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa ___________ 41 CAPÍTULO 4_____________________________________________________ 42 4.1 Resultados e discussão ________________________________________ 42 4.1.1 Reunião com os pais ________________________________________ 42 4.1.2 Quebrando paradigmas ______________________________________ 45 4.1.3 Por que cooperar? – 31/03/2009 _______________________________ 46 4.1.4 Vamos cooperar?– 01/04/2009 _________________________________ 49 4.1.5 Salto triplo – 07/04/2009 ______________________________________ 50 4.1.6 Refletindo– 08/04/2009 _______________________________________ 51 4.1.7 Resgatando – 14/04/2009 _____________________________________ 53 4.1.8 Após o salvamento – 15/04/2009 _______________________________ 54 4.1.9 Levante-me – 22/04/2009 _____________________________________ 55 4.1.10 Relembrando os conflitos – 28/04/2009 ________________________ 56 4.1.11 Futebol cooperativo – 29/04/2009 _____________________________ 57 4.1.12 Contemplando nossa criação – 05/05/2009 _____________________ 58 4.1.13 Compartilhando nossa criação – 06/05/2009 ____________________ 60 4.1.14 Apoie-me – 12/05/2009 ______________________________________ 60 4.1.15 Reflexão – Estamos no caminho certo? 13/05/2009 ______________ 61 4.1.16 Cooperando e evoluindo – 19/05/2009 _________________________ 64 4.1.17 Um dia para relaxar – 20/05/2009 ______________________________ 66 4.1.18 Pingabola - 26/05/09 ________________________________________ 68 4.1.19 Registros - 27/05/2009 ______________________________________ 68 8 4.1.20 Volençol - 02/06/2009 _______________________________________ 69 4.1.21 Reflexão - 03/06/2009 _______________________________________ 70 4.1.22 Reunião de pais – 09/06/2009_________________________________ 70 4.1.23 Futebol cooperativo com as mães ____________________________ 72 4.1.24 Como a professora da sala PIC via seus alunos _________________ 73 4.1.25 Relatório-diagnóstico do desempenho escolar da turma: 4ª série PIC – 2009 - 2º semestre, após o término da pesquisa, na visão do coordenador pedagógico _____________________________________________________ 74 4.1.26 Os professores falam sobre a pesquisa ________________________ 75 CONCLUSÕES___________________________________________________ 76 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________ 79 9 RESUMO Este trabalho analisa a contribuição dos jogos cooperativos para a melhoria do relacionamento entre os alunos da sala do Projeto Intensivo no Ciclo (PIC) e para constituição de espaço inclusivo. Partiu-se da hipótese de que desenvolvendo a capacidade de se relacionar em grupo e se sentido parte dele, os educandos poderiam expressar, sem medo, os seus problemas e dúvidas, o que poderia criar um ambiente propício para o aprendizado. Em 2008 a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo iniciou o Projeto Intensivo no Ciclo- PIC, voltado para alunos considerados com dificuldades de aprendizagem, visando alfabetizá-los e inseri-los nas classes regulares em condições de acompanhar os demais educandos. Ao ministrar aulas de Educação Física em uma das salas desse projeto, pudemos constatar a grande dificuldade de relacionamento entre os alunos, o que tornava o ambiente dentro da sala de aula muito difícil, com constantes práticas agressivas, tanto entre os alunos como dos alunos direcionados à professora. Assim percebemos a possibilidade de utilizar jogos cooperativos com o objetivo de melhorar o relacionamento, ensinar o respeito ao próximo, levar o aluno a se sentir parte de um grupo e criar espaços inclusivos. Como metodologia, foi adotada a Pesquisa-Ação. Os sujeitos da pesquisa foram os alunos da sala PIC da Escola Estadual Sylvio Gueratto, na região de Mauá-SP. Referencial teórico: SILVA (2004;1999); BROTTO (2001); MACHADO (2009; 2008; 2007); MATTOS (2006;1998), entre outros. A aplicação dos jogos cooperativos durante as aulas de Educação Física se mostrou eficaz para uma mudança de postura dos alunos, contribuindo para a diminuição de ações agressivas na turma, para a criação de vínculos entre eles e, consequentemente, para a constituição de espaços inclusivos. Palavras-chave: Políticas públicas de educação; Projeto Intensivo no Ciclo (PIC); jogos cooperativos; relação aluno-aluno/professor-aluno; espaço inclusivo 10 ABSTRACT The aim of this work was to analyze the possible contribution of cooperative games to improvement of relationship among students of “Projeto Intensivo no Ciclo” class (PIC) and to constitution of inclusive space. The hypothesis assumes that developing the ability to relate in group and felt part of it, the students could express their problems and doubts without fear, creating a propitious environment to the learning. In 2008, the Education Department of São Paulo State started the “Projeto Intensivo no Ciclo”, a project to students considered with learning difficulties, aiming alphabetize and insert them on the regular classes with conditions to accompany the other students. When we ministered Physical Education classes to a class of this project, we could perceive the great difficult on relationship among the students, resulting in a hostile environment, with constant aggressive practices both among students and the students directed to the teacher. So, we realize the possibility to use the cooperative games with the goal of improving the relationship, teaching respect for others and making the student to feel part of a team, creating inclusive spaces. As methodology, we adopted the Research-Action. The research subjects were the students of PIC class of “Escola Estadual Sylvio Gueratto”, Mauá-SP. Theoretical framework: SILVA (2004;1999); BROTTO (2001); MACHADO (2009; 2008; 2007); MATTOS (2006;1998), and others. The application of cooperative games during Physical Education classes was effective to a change of attitude of the students, contributing to the decrease of aggressive actions in the class, creating links among them and, thus, forming inclusive spaces. Keywords: Public Politics of Education; “Projeto Intensivo no Ciclo” (PIC); cooperative games; student-student/teacher-student relation; inclusive space. 11 INTRODUÇÃO Este trabalho analisa a contribuição dos jogos cooperativos para a melhoria do relacionamento entre os alunos da sala do Projeto Intensivo no Ciclo (PIC), acreditando que, pelas relações humanas, podemos constituir espaços inclusivos. Busca-se por meio dos jogos cooperativos promover um ambiente mais propício para a aprendizagem, já que as crianças se envolvem frequentemente em discussões e em agressões físicas. Tem-se como hipótese que, desenvolvendo a capacidade de relacionar-se em grupo e sentindo-se parte dele, os educandos podem expressar, sem medo, os seus problemas e dúvidas, criando um ambiente propício para o aprendizado. Em 2008, o Estado de São Paulo, pela Secretaria de Educação, iniciou um projeto intitulado Sala PIC (Projeto Intensivo no Ciclo), no qual o corpo docente relaciona os alunos considerados com dificuldades de aprendizagem, visando alfabetizá-los e inseri-los nas classes regulares em condições de acompanhar os demais educandos. Tendo em vista que a questão do acesso à educação formal está quase que totalmente solucionada, como educador, acredito na necessidade da democratização da educação formal, que possibilite a todos, em especial ao educando, condições de vivenciar as diversas possibilidades dentro da escola, além de expor suas vivências e pontos de vista. Ao ministrar aulas de Educação Física em uma das salas do PIC, pude constatar a grande dificuldade de relacionamento entre os alunos, o que tornava o ambiente dentro da sala de aula muito difícil, com constantes práticas agressivas tanto entre os alunos como dos alunos direcionados à professora. A observação do comportamento dos alunos durante o ano de 2008, as discussões com a coordenadora pedagógica, a professora da sala e a professora de Arte deixaram claro que os problemas de relacionamento do grupo eram tais, que desgastavam as relações, tornando quase insuportável, para todos os envolvidos, conviver sem o mínimo de respeito. 12 Em 2008, no Mestrado em Educação, levantei, juntamente com os professores do curso, as possibilidades de intervenção na sala PIC a fim de amenizar os conflitos e possibilitar melhoria na qualidade das relações do grupo. Após algumas pesquisas bibliográficas e com a valiosa ajuda do prof. Jair Militão, vislumbramos a possibilidade de ação junto aos alunos por intermédio dos professores da turma. Utilizamos a disciplina Educação Física por se tratar de um campo que permite maior contato com os alunos, talvez pela característica informal do espaço utilizado para as atividades, como quadra, pátio, entre outros, sentindo que seria necessária a aplicação de uma pesquisa que conferisse à dinâmica da aula uma movimentação acompanhada da participação de todos. Se traçarmos um paralelo entre a Educação Física e os jogos cooperativos, podemos observar a forma exemplar de atuação do corpo humano, onde cada órgão adapta-se para a realização da ação. Da mesma forma, entendemos os jogos cooperativos como atividades que desenvolvem a capacidade de o aluno relacionarse e transformar o meio competitivo em que vive em um ambiente agradável, inclusivo, onde cada um busca não apenas a sua, mas também a evolução do grupo. Nosso objeto de estudo é a análise das relações entre os alunos de uma sala do Projeto Intensivo no Ciclo (PIC), de uma escola estadual da cidade de Mauá-SP. Vislumbramos os jogos cooperativos como uma ferramenta que pode contribuir para melhorar o relacionamento e a criação de espaços inclusivos. Optamos pelo método Pesquisa-Ação, cujas características, como os jogos cooperativos, possibilitam a participação direta de todos os envolvidos na pesquisa. Os sujeitos da pesquisa são os alunos da sala PIC da Escola Estadual Sylvio Gueratto, na região de Mauá, Estado de São Paulo. Os jogos foram realizados nas aulas de Educação Física, no primeiro semestre de 2009, após reunião com os professores da turma, pais e alunos. Explicitados os procedimentos e objetivos, iniciaram-se as atividades com a observação de todos os participantes para fins de análise. Para aqueles que não enxergam a educação como uma ação que promove a evolução do ser humano em qualquer situação, as próximas páginas mostram a inabalável crença na capacidade de transformação pela relação humana. 13 Este trabalho caminha no sentido de viabilizar o objetivo do PIC, como um apoio à prática educativa pelo desenvolvimento das aulas de Educação Física permeadas pela aplicação de jogos cooperativos. Em hipótese alguma se pretende aqui colocar a disciplina Educação Física na condição de coadjuvante no processo de educação formal, mas, sim, elevar esta disciplina ao patamar que acreditamos lhe é de direito. Na realização da pesquisa, deparamo-nos com a falta de bibliografia sobre a Sala PIC), por se tratar de um projeto novo, que teve início em 2008. Todas as referências tratam de projetos parecidos, porém, com diferenças consideráveis na sua aplicação. 14 CAPÍTULO 1 1.1 Referencial teórico 1.1.1 O jogo na Grécia antiga Devido a sua localização, a Grécia fazia parte das rotas comerciais marítimas e com sua região montanhosa o deslocamento pelo seu território se apresentava como um desafio para aqueles que não estivessem fisicamente preparados. Além disso, as constantes batalhas por conquistas territoriais exigiam, cada vez mais, cidadãos fortes e capazes de se lançar nos campos de guerra. A força humana também era desafiada na prática da agricultura com pouco ou nenhum apoio de animais ou máquinas. Platão aponta em sua “Crítica à Ginástica e à Medicina” que o hábito de praticar atividades físicas pode não alcançar os objetivos, sendo necessário integrálas com a música e a filosofia: Quem deixar que os sons da flauta derramem-se constantemente em sua alma começa a abrandar como o ferro duro e começa a se por em condições de ser trabalhado, mas com o tempo se amolecerá e se convertera em papa, até que sua alma fique completamente sem nervos. Quem, pelo contrário, se submeter ao esforço da ginástica e comer abundantemente, sem em nada cultivar a música e a filosofia, sentirá em princípio crescer em si a coragem e o orgulho, graças a sua energia corporal, e ficará cada vez mais violento. Mas, ainda que se suponha que na sua alma abrigue de início algum desejo natural de aprender, à força de não se alimentar com nenhuma ciência nem investigação, acabará por ficar cego e surdo, um tal homem se tornará “misólogo”, inimigo do espírito e das musas, já que não conseguirá persuadir ninguém, nem se deixar persuadir pelas palavras, e o único recurso que disporá para alcançar o que se propuser será a força bruta, exatamente como um bruto qualquer. Foi por isso que Deus deu aos homens a música e a ginástica como a unidade individual da Paidéia, não como educação separada do corpo e do espírito, mas como as forças educadoras da parte corajosa e da parte da natureza humana que aspira à sabedoria. (JAEGER, 2003, p. 799). 15 Atuar nas lavouras e nos campos de guerra não eram as únicas atividades destinadas aos cidadãos, que tinham também a obrigação de representar sua cidade nos grandes Jogos Públicos, onde os campeões eram ovacionados e tratados como heróis (GODOY, 1996). Com caráter totalmente religioso, os jogos tiveram início no reinado de Cronos, o que lhes dava a condição de sagrados com o poder de interromper guerras durante sua realização, período denominado “Trégua Sagrada”, sendo considerada grave a infração a esta regra. Considerando a importância social dos jogos, o atleta vitorioso era motivo de orgulho para sua família e cidade (TOLEDO, 2006). Dominada por um exército mais forte, a civilização grega vê a decadência em todas as áreas de suas atividades. Há um colapso em todos os setores da atividade humana, quer no domínio dos jogos, quer nas manifestações da inteligência e da arte. A profissionalização e a corrupção dos atletas, a venalização dos juízes e a exacerbação do público determinam a decadência dos Jogos Olímpicos finalmente mandados suprimir pelo imperador romano Teodósio, no ano de 394 d.C.” (ACCIOLY, 1956, p. 57). À decadência da civilização grega segue a ascendência dos romanos, povo que também elaborava e realizava seus jogos de maneira peculiar, como concursos de pesca, corridas de sacos e os jogos da vitória de César. Os imperadores deixavam-se dominar tanto pelas competições que chegavam a intervir violentamente. Mesmo os imperadores se deixavam dominar pela paixão durante as corridas de carros, tomando um partido ou um favorito, que deveria vencer em qualquer circunstância. Vitélio, por exemplo, mandou executar os adversários dos azuis e Caracala condenou a morte os aurigas dos verdes. (ACCIOLY, 1956, p. 63). Algum tempo depois da invasão dos bárbaros, no ano 521 da era cristã, os jogos foram abolidos em Roma. 16 Com este pequeno passeio pela história podemos notar como o jogo está presente de forma contundente em nossa sociedade. 1.1.2 Jogos cooperativos Segundo Brotto (2001), os jogos cooperativos datam de milhares de anos, praticados por comunidades tribais, como os Inuits no Alasca, os aborígines na Austrália, os tasaday na África, os índios kanela no Brasil, entre outros. Não eram raros os momentos em que estes povos se reuniam para dançar e celebrar a vida em jogos e rituais. A exploração do homem pelo homem aumenta no cotidiano da humanidade com a busca incessante pela riqueza, onde alguns poucos se apossam do poder (SOLER, 2006). Segundo SOLER (2006) e TEIXEIRA (2001), nos Estados Unidos, na década de 1950, é que os jogos cooperativos começam a ser pesquisados por Ted Lentz, tendo como base suas próprias vivências e experiências. Os exageros na competição da vida moderna, em especial pelo povo ocidental, são apontados por BROTTO (2001) e TEIXEIRA (2001) como os fatores desencadeadores do desenvolvimento da prática dos jogos cooperativos. Um grande nome dentro dos jogos cooperativos é Terry Orlick, considerado como um dos maiores estudiosos do assunto. Sua obra “Winning Throught Cooperation”, traduzida no Brasil como “Vencendo a Competição”, em 1978, figura como uma das maiores e mais importantes fontes de pesquisa sobre o assunto. Segundo BROTTO (2001),os jogos cooperativos podem ser utilizados em uma Visão-Ação (Filosofia-Pedagogia) promovendo a ética da Cooperação e desenvolvendo competências para a melhoria da qualidade de vida. O jogo possibilita observar as possibilidades variadas na realização dos movimentos do corpo e perceber que cada ação faz parte de um grande organismo, trabalhando no sentido de realizar um objetivo maior. O corpo humano pode ser visto como exemplo de que a atividade realizada de forma cooperativa pela ajuda mútua para o bem-estar de cada segmento promove o equilíbrio geral. 17 Aceitar as diferentes possibilidades e perceber o indivíduo como parte integrante do grupo contempla a celebração de ser diferente dentro de uma igualdade desigual em sentimentos e reações, mas semelhante na essência de ser humano. Segundo Brotto (2001), a prática dos jogos cooperativos desenvolve a capacidade de enxergar a realidade da vida refletida no jogo. O autor aponta que as diferentes formas de jogos cooperativos podem ser aplicadas às variadas situações do cotidiano, proporcionando a cada um ver e viver a seu jeito determinada situação. Os jogos cooperativos podem e devem ser estimulados durante as aulas de Educação Física escolar, como aponta ALMEIDA (2009). O jogo cooperativo é uma proposta na qual jogamos juntos, resolvemos nossas dificuldades juntos, descobrimos como estamos no mundo, percebemos o presente e como podemos alcançar vôos para o futuro. Quando jogamos de forma cooperativa começamos a trilhar um caminho alternativo de brincar, de ensinar e de solucionar conflitos para viver em paz (p. 1). Diferentes ações pautadas por diferentes estratégias tendem a enriquecer as aulas. Nesse sentido os jogos cooperativos apresentam-se como uma variação possível nas aulas de Educação Física onde alunos e professores podem apropriarse de novos conhecimentos. Inúmeros estudos comprovam a eficácia dos jogos cooperativos no que tange ao relacionamento humano, entre eles BATISTA e OSBORNE (2010), que afirmam que os jogos cooperativos contribuem para o desenvolvimento sustentável, que concilia desenvolvimento econômico, conservação da natureza e bem-estar da comunidade. Para os autores, a união dos jogos cooperativos com os competitivos contribui para a formação do cidadão, o que contempla os objetivos da escola, neste caso, em especial, a Educação Física. Müller e Natali (2009) comentam: A brincadeira, o lúdico, os jogos cooperativos como meio da ação educativa somente se caracterizam assim quando se concretizam como uma opção do educador pelo respeito à cultura dos seus educandos e principalmente pela imaginação e pelo direito de sonhar (p. 302). 18 O respeito pela pluralidade humana, tratando cada pessoa como singular dentro dos jogos, proporciona o exercício de cidadania onde a importância das variadas manifestações e interpretações da realidade se torna mais evidente. Pocera (2008), desenvolvendo jogos cooperativos com os alunos do colégio agrícola Senador Carlos Gomes de Oliveira aponta: A pesquisa mostrou também que, ao desenvolvermos atividades que despertem o diálogo entre os alunos do CASCGO, aumenta neles a autoestima, o respeito, a integração e a cooperação, motivando todos eles a praticarem atividades esportivas, independentemente da aptidão atlética (p.62). O diálogo promovido na e após a aplicação dos jogos cooperativos pode promover um entendimento mais amplo das atitudes do outro, o que propicia maior aceitação do grupo. Pesquisas sobre o tema e reflexões sobre as ações contribuem para que não se percam pelo caminho os objetivos cooperativos e, principalmente, os objetivos da escola. Tendo em vista experiências anteriores, procuramos promover, no presente trabalho, a aplicação dos jogos cooperativos seguidos de reflexões com o grupo, construção e aplicação das ações de intervenção debates e conclusões. 1.1.3 Falando em inclusão escolar Traumatizada pelos conflitos em escala mundial, a humanidade passou a se preocupar com possíveis recaídas, colocando os direitos humanos na pauta de discussões sobre a educação. A afirmação da democracia, após a Segunda Guerra Mundial, como valor a ser buscado universalmente pelos governos e pelos povos, atingiu a escola, apresentando-se sob a forma de reivindicação do direito ao acesso, por todos os interessados, ao ensino (Silva, 1999. p. 67). 19 Os esforços não resultaram em mudanças imediatas devido à complexidade da questão educacional, porém, a escola passa a ser vista, por muitos estudiosos, como o espaço possível para estabelecer um elo com a comunidade. É no âmbito do espaço escolar que todos os outros níveis de análise e de intervenção devem ser equacionados. Nessa perspectiva o olhar centrado nas organizações escolares não deve servir para excluir, mas antes para contextualizar todas as instâncias e dimensões presentes no acto educativo. (Nóvoa, 1992, p. 20). Levar em conta quem são os envolvidos e o que esperam do ambiente escolar é de extrema importância para a evolução da educação formal. O indivíduo não deixa fora dos muros escolares suas experiências, suas angústias para enquadrar-se em um papel que lhe é imposto. A necessidade de mudança assusta os educadores e provoca um grande questionamento naqueles que atuam na educação formal, trazendo à tona a necessidade de mudanças. Comenta Silva ( 1999): • a garantia de todos ao acesso promoveu um aumento considerável do sistema educacional e implicou contratações, reorganizações, etc. • com a reunificação do conhecimento, a escola deve oferecer um conhecimento interligado onde todas as disciplinas caminhem juntas. • a reorganização dos grandes sistemas deve proporcionar mais agilidade nas respostas às necessidades de cada região. Para Stainback & Stainback (apud Carmo, 2002), a palavra inclusão, do inglês “full inclusion”, indica que todas as crianças devem ser incluídas no ambiente escolar, não bastando a matrícula da criança com necessidades educacionais especiais na escola, sendo necessária a garantia de uma permanência de qualidade. Para Machado (2009), inclusão é ...acolher o outro, respeitando e levando em conta suas singularidades para se fazer uma proposta de situação educativa. É preciso dedicar um tempo ao ponto de partida (aspectos gnosiológicos e antropológicos) tanto do 20 educador quanto do educando. Para isso, é preciso me ver e considerar o educando, ambos como sujeitos dessa ação. E para a concretização dessa situação educativa, faz se necessária a adesão voluntária dos envolvidos e a possibilidade de ir adequando o método escolhido para que se alcancem os objetivos propostos. O valor da convivência e das relações interpessoais são imprescindíveis e mais importantes tanto no processo de inclusão, quanto em qualquer processo de aprendizagem (p. 24). O professor precisa retirar-se do “palco” onde exibia seu total e indiscutível domínio sobre o saber e com os alunos refletir juntos, conscientes de que todos são e devem se sentir parte ativa do processo educacional. Segundo MACHADO (2009), “o exercício da cidadania e a prática da inclusão devem ocorrer em todos os momentos e espaços, para que se torne um ato natural e corriqueiro em nossas vidas.” Em muitos casos as pessoas acreditam saber o que é necessário para o outro e tentam trazê-lo para seu círculo, sem levar em conta a sua história. O efeito da ação é contrário, por afastá-lo da sua realidade humana e tentar incluí-lo em um novo círculo sem significado para sua vida. O círculo de segurança de cada pessoa o circunda e aproxima dela tudo que acredita ser necessário para viver bem. Quando alguém entra nesse círculo, as coisas que estão lá se desarrumam e a inclusão se torna algo incômodo, que muitos encaram como sacrifício ou modismo. A cidadania e a inclusão têm como base o respeito à singularidade dos sujeitos, o combate aos privilégios, as discriminações econômicas, sociais, culturais, sexuais, etc. e participação coletiva e solidária, que não deve ser fruto de uma concessão, um presente (Machado, 2009. p. 38). A escola deve participar ativamente de toda ação inclusiva e procurar melhorar suas capacidades para atender e ensinar a todos, respeitando suas características e buscando caminhos para que as crianças e adolescentes sintam-se contemplados. Diferentes estratégias pedagógicas que lhes possibilitem o acesso à herança cultural, ao conhecimento socialmente construído e à vida 21 produtiva, condições essenciais para a inclusão social e o pleno exercício da cidadania. (CNE/CEB, 2001, p. 357). Como trocar o pneu do carro em movimento, a inclusão escolar tem que ser feita com as crianças e adolescentes já dentro da escola, o que gera um grande conflito entre todos os envolvidos. Se consultarmos o dicionário, verificamos que a palavra incluir significa compreender, abranger, fazer parte, pertencer, processo que pressupõe, necessariamente e, antes de mais nada, uma grande dose de respeito (SARTORETTO, 2007, p. 273). Qualquer ação dentro do ambiente escolar “deve” ter como princípio a inclusão, já que o respeito às diferenças deve ser parte integrante de qualquer iniciativa educacional. Comenta MARTINS (1997: O educador se defronta todo o tempo com a muralha de palavras sem sentido, da conceituação rotuladora que veste a realidade fluida e conflitiva com a camisa de força dos enquadramentos preconcebidos para tentar dar sentido ao que parece dele privado, a realidade dura dos pobres. (p. 7) Ainda segundo Martins (1997), a sociedade promove a exclusão para depois tentar efetivar a inclusão. Para SILVA (2008), é necessário mais que coração, ou seja, para a inclusão, é de extrema importância a organização, o consenso da comunidade escolar sobre o que é realmente importante para o educando, levando em consideração quem é, o que espera e de que precisa. A necessidade de respostas imediatas aos questionamentos pode ser um fator determinante para a melhoria do sistema educacional. No caso da inclusão, não é diferente. MACHADO e CHAMLIAN (2005) apontam a necessidade de criar um espaço propício para a prática da inclusão, sem pressões em busca de resultados imediatos. 22 A inclusão das pessoas ocorre em “espaços específicos” que integram uma instituição mais ampla, não de modo imediato e na sua totalidade, mas é mediada pelo “espaço inclusivo”. Para a constituição desse espaço inclusivo, é necessária a criação de ambientes em que as relações humanas constituem-se em “espaços inclusivos” com condições ambientais e humanas propícias. (apud MACHADO, 2008 p. 9). A falta de um foco, já que os objetivos são mudados de acordo com as necessidades do momento, provoca descrença nas ações que visam à mudança. Para SILVA (2008), é necessário estar atento às constantes mudanças no sistema educacional. As mudanças e as iniciativas para dotar a escola de um ambiente físico e cultural propício ao acolhimento e inclusão de todos, para que não findem, quando da saída de seus iniciadores, necessitam institucionalizar-se, ou seja, tornar-se práticas consagradas, incidentes no tempo, no espaço e no orçamento da entidade (p. 24). Levar em consideração as pessoas envolvidas no processo de inclusão e o local onde o processo deverá acontecer é determinante para o sucesso da ação. Variadas ações no sentido de promoção da inclusão são sempre bem-vindas, porém, é preciso atentar para as armadilhas que se apresentam como soluções, mas podem revelar-se como ações excludentes. 1.1.4 Projeto Intensivo no Ciclo (PIC) “Os resultados do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP 2005) apontaram claramente a necessidade de se atuar com mais foco na alfabetização dos alunos das séries iniciais” (Castro, p. 4, 2008). Em 2008, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo iniciou o Projeto Intensivo no Ciclo – PIC, com alunos considerados, pelo professores, com dificuldades de aprendizagem, com o objetivo de alfabetizá-los e reinseri-los nas classes regulares em condições de acompanhar os demais educandos. 23 Quando um estudante não se alfabetiza plenamente no começo de sua escolaridade, fica sem condições de seguir aprendendo os conteúdos das diversas áreas de conhecimento e isso compromete seu avanço ao longo das séries. (Castro, 2008, p. 4). É esperado que, ao final do Ciclo I (1ª a 4ª série), a criança consiga ler e escrever, o que nem sempre ocorre. Como já se encontram em defasagem idade-série e com a auto-estima comprometida, queremos garantir-lhes um atendimento diferenciado: um material feito especialmente para eles, classes com número menor de alunos... (Castro. p. 5, 2008). A proposta caminha no sentido de dar aos alunos um acompanhamento mais próximo por parte do professor, levando em conta sua autoestima e autoconceito, que podem ser afetados, ao se perceberem em uma sala separada dos demais. O Projeto Intensivo no Ciclo uma ação tem como fio condutor a questão da inclusão escolar, o que nos leva a refletir sobre seus princípios. O alicerce do projeto pedagógico que, respeitando as diferenças individuais, se detém na organização de um currículo que possibilite a todos os alunos se desenvolverem de acordo com suas capacidades, ritmos e possibilidades. Esses princípios representam ainda a base das adaptações curriculares e de toda ajuda pedagógica que se pode oferecer àqueles que dela necessitam (Ribeiro, 2003, p. 44, apud Neres, p. 22). Para contemplar as necessidades de todos os educandos, é necessária a adaptação do currículo, não dos educandos, o que pode desencadear traumas que geram maior resistência ao ambiente escolar. Expor estes educandos frente aos outros afeta sua autoestima, já abalada pela incompatibilidade com a proposta escolar. As propostas de inclusão escolar devem contrário. adaptar-se às pessoas, não o NERES (2010) aponta a necessidade de uma proposta igualitária e flexível para todos. 24 Uma visão ampla e detalhada do ambiente possibilita localizar e eliminar ações que promovam a exclusão e facilitem a inclusão. A riqueza pedagógica necessária à escola inclusiva beneficia todos os alunos tanto no aspecto pedagógico quanto no relacional e cívico. Novas práticas pedagógicas passam a ser exploradas, favorecendo a aprendizagem de um maior número de alunos. Inaugura-se uma nova cultura pedagógica ancorada na exploração de novos modos de conhecimento e de uma outra maneira de pensar o humano num registro da diversidade. (Marques, 2007, p. 314). Ações inclusivas não beneficiam apenas as pessoas a que se destinam. A prática de procurar soluções e aplicá-las promove o desenvolvimento de novas formas de abordagem, visando à adesão do educando. Propostas, estratégias e soluções prontas, sem reflexão e conhecimento da realidade, podem ter efeito contrário ao que se espera. Caminhar pelo incerto mundo das reações e relações humanas exige ficar atento, pois o menor deslize ou abordagem equivocada pode comprometer o êxito dos trabalhos. 1.1.5 Abordagem pedagógica da educação física escolar No processo ensino-aprendizagem é preciso construir o conhecimento a partir daquilo que o educando traz da sua vivência e experiências extraescolares. A intenção é a construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo, numa relação que extrapola o simples exercício de ensinar e aprender. A proposta está baseada no resgate dos jogos e das brincadeiras da cultura popular. (MOREIRA, 2005, p. 2). Mais do que explorar o conhecimento da criança, hoje, a Educação Física escolar leva em conta suas experiências, ou seja, a forma como ela viveu os 25 momentos de sua vida e a leitura que faz de cada experiência, abordagem pedagógica definida por GO TANI como Abordagem Construtivista-Interacionista. Para NEIRA (2006), a escola pauta-se em uma cultura elitista e, apesar de, com o decorrer dos anos, passar a receber representantes das mais variadas culturas, ainda age como se atendesse apenas a um grupo específico, o que o autor denomina “alta cultura” ou “cultura de elite”. Apesar da proposta de Neira (2006) para a reestruturação do conteúdo, para todas as disciplinas a partir da 5ª série fundamental, poroposta em 2008, ainda podemos perceber uma resistência, por parte de alguns professores, no que tange à aplicação dessa proposta. Neira (2006) comenta a dificuldade de assimilação do novo: Se a perturbação for sentida de modo mais intenso (se o objeto novo se mostrar inassimilável), o sujeito poderá negar o fator perturbador negligenciando-o ou afastando-o. Em outro sentido, quando a perturbação pode ser vencida com algum esforço por parte do sujeito, ele não mais tentará anular o elemento perturbador, mas buscará modificar o conhecimento disponível, de modo a ajustá-lo à situação de desequilíbrio (p. 109). Após a reestruturação daquilo que é ensinado nas aulas de Educação Física, é necessária a capacitação adequada dos professores a fim de viabilizarem a proposta. 1.1.6 Novo público, novas necessidades Com melhor organização e diretrizes bem definidas, percebe-se considerável diminuição da prática competitiva que creditava ao corpo status e posição de liderança. Aos educadores de nossos dias apresentam-se demandas inexistentes há quatro ou cinco décadas. Com a valorização da democracia como forma de organizar a sociedade na qual a liberdade e a igualdade são buscadas, 26 tendo como critério para avaliar sua efetivação o grau de participação nas decisões fundamentais da vida individual e social, os educandos que chegam à escola, de modo especial, pública, mas, de certo modo, também particular, apresentam uma visão dos docentes e das relações destes com os alunos, baseada na noção de igualdade fundamental entre parceiros, havendo diminuição do poder coercitivo e aumento da necessidade de convencimento. (Silva, 2008, p. 52). Com o aumento e a mudança de seu público, o formato escolar deve adaptar-se para recebê-lo. Com a Educação Física não é diferente. Uma visão mais completa do ser humano se faz necessária, para contemplar todos os direitos e necessidades do educando na sua formação como cidadão. Entende-se a Educação Física Escolar como uma disciplina que introduz e integra o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, capacitando-o para usufruir os jogos, os esportes, as danças, as lutas e as ginásticas em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida. (CONFEF, 2002, p. 4). A necessidade de adaptação da Educação Física promoveu um salto qualitativo em seus objetivos e estratégias Quase sempre o formato escolar cobra dos educandos uma postura que não condiz com as condições atuais da sociedade, o que transforma o ambiente da escola em um período diário a ser suportado como algo necessário para uma futura colocação no concorrido mundo real. Mudar é tarefa difícil, já que a idéia de competição para sobreviver é compartilhada e aceita por grande parte da sociedade. Assim, a criança deve aprender desde cedo a competir para tornar-se um adulto atuante e competitivo, principalmente no campo profissional. Essas crianças enxergarão outras pessoas sempre como adversárias a serem derrotadas, lutando contra tudo e contra todos, o que perpetua a idéia de a atuação da Educação Física Escolar estar ligada, necessariamente, à competição, em detrimento da cooperação. Para Bertrand (2001), a educação do futuro deverá exigir a formação de valores diferentes da competição, pautados na extinção de todos os tipos de 27 segregação e racismo. A Educação Física escolar, utilizando-se dos Jogos Cooperativos, pode e deve assumir tal desafio (Correia, 2006a). Com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9394/96 e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), podemos vislumbrar novos horizontes para a Educação Física escolar. Em 2002, a Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) implantou o Projeto Correção de Fluxo do Ciclo II, com o objetivo de corrigir a defasagem idade/série causada pelos sistemas de avaliação e reprovação. No caso da disciplina Educação Física, o Projeto é desenvolvido em três fases: Prática: os educandos vivenciam uma determinada atividade (brincadeiras, jogos, etc.); Reflexão: o professor promove uma discussão sobre o assunto por meio de questionamentos (Qual parte do corpo foi mais utilizada? Em que momento vocês sentiram mais dificuldades ou mais facilidades?); Registro: os alunos produzem, pela escrita, desenhos ou recorte e colagem, trabalhos que representam aquilo que foi trabalhado, buscando ressaltar as habilidades necessárias para a realização de cada atividade. Com o sucesso obtido nas salas do Projeto Correção de Fluxo do Ciclo, os trabalhos foram expandidos para as demais séries onde também apresentaram resultados satisfatórios. Em 2002, por meio da Resolução 184/02, a disciplina de Educação Física foi implantada nas séries iniciais do Ensino Fundamental, sendo ministrada pelo professor especialista da área, o que provocou a necessidade de inovações nos trabalhos dos dois níveis. Hoje, a Educação Física escolar promove discussões sobre a área do conhecimento que corresponde à cultura do movimento, trabalhando em prol da formação de um cidadão autônomo, crítico e participativo, capaz de atuar com competência, responsabilidade e dignidade na sociedade em que vive e assim contribuir para a sua constante transformação. A disciplina Educação Física atua como um “manual do corpo humano”, possibilitando aos educandos usarem o corpo para a prática esportiva e reflexão. 28 A Educação Física, se bem direcionada, possibilita melhoria da qualidade de vida por intermédio do trato com o corpo. 1.1.7 Legislação A democratização do acesso à educação é realidade no Brasil, a partir da Constituição de 1998 e da LDB 9394/96, que, no artigo 3º, dispõe: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extra-escolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. O direito ao respeito à autonomia tem garantia legal. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais (Lei nº. 8.069, art. 18, 1990). O sistema educacional deve possibilitar todos os meios e condições para o desenvolvimento integral do educando. É dever do Estado assegurar a criança e ao adolescente: I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que não tiveram acesso na idade própria; 29 II – progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. IV – atendimento em creche e pré escola as crianças de zero a seis anos de idade; V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI – oferta de ensino noturno regular, adequado as condições do adolescente trabalhador; VII – atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência a saúde (Art. 54, Lei nº 8.069, 1990). Visando no pleno desenvolvimento das crianças e adolescentes, cabem também aos pais ou responsáveis legais deveres e direitos no que tange à educação dos menores. “É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais” (Parágrafo único, Cap. IV Lei nº. 8.069, 1990). Amparada pelas leis, a população tomou conta dos espaços públicos, o que iniciou um novo ciclo de discussões. A partir do momento em que tantas pessoas ocupam ambientes que antes eram ocupados por poucos, surgem novas demandas às quais a comunidade educacional deve adaptar-se. 1.1.8 Direito à permanência Após vencer a primeira batalha pelo direito ao acesso ao sistema educacional, surge um novo dilema: a permanência e, com ela, a necessidade de uma nova e revolucionária visão sobre a educação. Não devem mais caber somente a alguns as tomadas de decisões no ambiente escolar, que deve estender-se para além dos muros da escola, aceitando as experiências de cada indivíduo. A lei nº. 8.069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no artigo 53, estabelece: A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: 30 I- igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – direito de ser respeitado por seus educadores; III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instancias escolares superiores; IV – direito de organização e participação em entidades estudantis. As leis indicam a necessidade de uma nova postura dos envolvidos com a educação e uma posição mais amigável por parte da escola com a comunidade. Com a popularização do acesso ao sistema educacional e o inevitável aumento do fluxo de pessoas dentro das escolas, os problemas aumentaram. A dificuldade no trato dos relacionamentos interpessoais vem se tornando insuportável em algumas unidades escolares. Não podemos pensar em voltar no tempo e, muito menos, em restringir o direito ao acesso ao sistema educacional, porém, é de extrema importância pensar em ações que promovam, efetivamente, uma educação de qualidade, pois uma educação carente seria tão prejudicial quanto a falta do acesso. A partir do momento em que adentramos o ambiente escolar, temos a impressão de um local confuso com pessoas infelizes por estarem ali. Ações violentas no cotidiano escolar têm presença constante na imprensa. A diminuição das tensões no relacionamento entre professor e aluno pode colaborar para uma melhoria na qualidade do processo ensino-aprendizagem, principalmente pelo diálogo entre escola e comunidade. O planejamento de ações de política educacional não se concretiza sem que se leve em conta o cotidiano das unidades escolares, com as características culturais de seus participantes, que, para aderirem às propostas, devem ser persuadidos e não meramente comunicados (SILVA, 1996. p. 111). Não é suficiente proporcionar o acesso. A participação nas tomadas de decisões no ambiente no qual o indivíduo está envolvido, mais do que oferecida, deve ser estimulada, pois o processo de inclusão não pode ser considerado completo apenas com a introdução física do indivíduo no prédio escolar, é a sua participação na construção diária daquele espaço que vai definir a qualidade da sua permanência. 31 Muitos educandos têm suas matrículas aceitas por força da legislação e tornam-se um número nas estatísticas educacionais. Frequentam as aulas, são integrados nas salas de aulas, mas não são incluídos e, muitas vezes, tornam-se “invisíveis” aos olhos dos colegas e de muitos educadores, que não atendem suas necessidades e singularidades, contribuindo para o fracasso e a exclusão escolar e social desses cidadãos (MACHADO e MAZZARO, 2008. p. 17). Para os autores, os educandos “invisíveis” são as pessoas com necessidades educacionais especiais e outros que se tornam invisíveis aos olhos daqueles que participam ativamente do processo educacional. Nas diversas ocorrências são relatadas ações violentas contra professores e alunos, muitas vezes, noticiadas pela mídia. Faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia. (FREIRE, 1996, p. 39). A dificuldade para praticar a democracia frente ao diferente, dentro de uma rotina onde o respeito é imprescindível, transforma o ambiente escolar em um espaço de julgamentos e punições que deixa para segundo plano o ato de educar. Nesse contexto, inúmeros projetos procuram caminhos que proporcionem aos educandos condições básicas para desenvolverem suas habilidades e competências no que tange aos conteúdo e, principalmente, para que se desenvolvam como seres integrantes e pensantes de um grupo social. 32 CAPÍTULO 2 2.1 Objetivos 2.1.1 Objetivo geral Investigar se os jogos cooperativos contribuem para a melhoria do relacionamento entre os alunos da sala PIC e constituição de espaços inclusivos. 2.1.2 Objetivos específicos Fortalecer o espírito de grupo dos educandos. Diminuir as agressões físicas e verbais. Criar um ambiente propício para a aprendizagem. Elevar a autoestima dos educandos. Contribuir para a constituição de espaços inclusivos. Apresentar sugestão de prática pedagógica para melhor efetivação do Projeto Intensivo no Ciclo - PIC - em escola de Mauá SP. 33 CAPÍTULO 3 3.1 Metodologia 3.1.1 Pesquisa-ação A Pesquisa-Ação é um método que reúne a coleta e análise dos dados e aplicação das atividades, com o intuito de promover o redirecionamento da ação, no caso, o desenvolvimento educacional das crianças. A participação possibilita aos envolvidos uma relação mais estreita com os fatos, já que fazem parte do cotidiano e da discussão, apropriando-se do problema estudado. Para Thiollent (1988), a Pesquisa Ação é ...um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e na qual os pesquisadores e os participantes representativos de situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. ( p. 14). Segundo o autor, não existe pré-orientação ou valorização da ação nem um pré-determinado grupo social, o que restringiria o uso da Pesquisa Ação. A opção pelo método Pesquisa Ação neste trabalho deve-se à utilização das aulas de Educação Física como momento de aplicação das atividades cooperativas, onde os alunos vivenciam as diversas possibilidades de relações humanas baseadas no respeito ao outro. Aprendemos melhor com a experiência, mas não podemos fazê-lo, se não vivenciamos as conseqüências de muitas de nossas decisões mais importantes nem podermos nos introduzir nas experiências dos que o fazem. (SENGE, 1990, p. 23). 34 O dinamismo de uma aula de Educação Física proporciona a vivência de uma situação em sua plenitude, onde o aluno pode tomar decisões, colocá-las em prática e avaliar seus efeitos nas outras pessoas e em si. Segundo Thiollent (1998), tal metodologia consiste em gerar idéias, hipóteses ou diretrizes para orientar a pesquisa e as interpretações. Para o autor, os problemas levantados devem estar claros desde o início da pesquisa e a atenção deve ser constante a fim de que as discussões teóricas não se tornem desestimulantes aos participantes, afetando sua compreensão e atuação no processo. A teoria deve iluminar o caminho para alcançar os objetivos entendidos como solução para o problema. 3.1.2 Amostra Seguindo o método Pesquisa-Ação, formou-se um grupo de pais ou responsáveis pelos alunos da sala PIC, coordenadora pedagógica, diretora, professora de artes e professor de Educação Física. Todos tomaram ciência do teor da pesquisa, entendendo o problema, o método, as hipóteses e os resultados vislumbrados. O grupo mostrou interesse em conhecer os relatos sobre o comportamento das crianças, quanto ao seu relacionamento com outras pessoas. Ao final da aplicação da pesquisa, o grupo reuniu-se novamente para apontamentos sobre a mudança, ou não, do comportamento das crianças. O foco principal da pesquisa foram 18 alunos, entre 9 e 11 anos de idade, considerados com dificuldades de aprendizagem, da sala do PIC da 4ª série da E.E. Sylvio Gueratto, Mauá/SP, com o intuito de superar sua defasagem de alfabetização. Além de pesquisador, fui professor da disciplina Educação Física, em 2008 e no primeiro semestre de 2009, da turma citada. Os critérios para escolha do grupo foram os registros escolares e observação dos educadores, que apontam constante agressividade entre os alunos. Quando da discussão com os envolvidos, todos foram unânimes em afirmar a necessidade de ações para minimizar os problemas de relacionamentos. 35 A coleta de dados se deu por observações e registros em diário de campo, ao término de cada aula, do que aconteceu durante as atividades, além de minhas percepções do grupo. No diário de campo também registrei falas dos pais, alunos e professores envolvidos com a pesquisa, com apontamentos da coordenadora pedagógica, professora da turma e pais, informações utilizadas para neste trabalho. Algumas conversas ocorreram no portão e corredores da escola, onde pais e demais envolvidos faziam apontamentos sobre o andamento dos trabalhos. Nas reuniões de Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC), os professores, o coordenador pedagógico e a diretora faziam comentários sobre a pesquisa. O diário permaneceu durante todo o tempo em um armário, ao qual apenas eu tinha acesso, com o objetivo de garantir a ética e privacidade dos envolvidos na pesquisa. 3.1.3 O grupo O grupo foi formado por 18 alunos, entre 9 e 11 anos de idade. Em uma classe tradicional, geralmente os alunos se posicionam em colunas de duas carteiras, sentando-se em duplas. O lugar de cada um é marcado por uma placa de cartolina com o seu nome. A sala de aula, a menor da escola, tem por volta de 18m². As aulas acontecem geralmente dentro deste espaço, exceção feita às aulas de Educação Física, que são realizadas na quadra ou em outros ambientes dentro da escola, como pátio, gramado, etc. Uma observação prévia, baseada nas afirmações dos profissionais envolvidos com o grupo, apontou que, de forma geral, os alunos têm baixa autoestima, além de grande dificuldade de relacionamento em diversos momentos, dentro e fora da sala de aula. 36 3.1.4 Espaços utilizados O espaço mais vezes utilizado, como geralmente acontece nas aulas de Educação Física, é a quadra, frequentemente sem cobertura e sem proteções laterais, porém, com bom piso, o que assegura a integridade física das crianças. (Figura 1). FIGURA 1: Quadra Poliesportiva. “O cantinho”, à beira do pátio, denominado jardim pelos próprios alunos, é pequeno, porém, aconchegante, cultivado por funcionários da escola. (Figura 2). 37 FIGURA 2: Jardim ao lado do pátio. No pátio, outro espaço, lugar amplo e arejado, com mesas e cadeiras, utilizado com frequência, durante a pesquisa, realizamos discussões e registros pela escrita e desenhos. (Figura 3). 38 Figura 3: Pátio da escola. Outro espaço, usado algumas vezes pelo grupo para se reunir e refletir sobre nossos encontros, à sombra de belas árvores, está localizado atrás das salas de aulas (Figura 4). 39 Figura 4: Espaço atrás das salas de aula. Procuramos evitar o espaço das salas de aula, pois, os alunos aí passavam grande parte de seu tempo, enquanto estavam na escola (Figura 5). 40 FIGURA 5: Sala de aula utilizada pelos alunos da sala PIC, em 2009, já em fase de desativação. 3.1.5 Aplicação dos jogos cooperativos Os jogos cooperativos foram aplicados aos alunos da sala de PIC nas aulas de Educação Física durante o primeiro semestre do ano letivo de 2009. A aula de Educação Física tem a duração de 50 minutos, duas por semana, desenvolvendo-se em três momentos: - Explicação da atividade - Realização da atividade - Reflexão sobre a atividade A aplicação dos jogos cooperativos não afetou o andamento das aulas de Educação Física, tendo em vista que as capacidades físicas que deviam ser trabalhadas nas aulas puderam ser adequadas e apontadas nessas atividades. 41 3.1.6 Avaliação do Projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID, em 18/03/2009. Os responsáveis pelos alunos envolvidos na pesquisa tomaram ciência de todos os procedimentos e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a participação na pesquisa. 42 CAPÍTULO 4 4.1 Resultados e discussão 4.1.1 Reunião com os pais Iniciamos os trabalhos com um encontro com pais ou responsáveis, alunos, professores, coordenadora e direção da escola, visando explicitar os sentidos e objetivos da pesquisa, as condições e importância de cada um no processo. Neste primeiro momento, creio ser de grande relevância destacar a sentida ausência da maioria dos pais ou responsáveis pelos alunos participantes da pesquisa, sendo que em uma sala de 18 alunos, apenas três responsáveis legais compareceram. Forçado pela situação, após alguns esclarecimentos aos presentes, nova reunião foi marcada. Cabe ressaltar o comprometimento e o empenho da diretora da escola no sentido de viabilizar a pesquisa, enviando, por iniciativa própria, convocação para os pais ou responsáveis com uma nova data para a reunião, para dar início aos trabalhos. No novo encontro, com presença maior dos participantes, pudemos expor o trabalho e discutir os caminhos a serem tomados. A princípio, o mais importante era discutir o problema que levou à necessidade de uma intervenção na sala PIC. Após a explanação do trabalho, seus objetivos, método e esperado impacto dos jogos cooperativos no comportamento dos alunos, a expectativa de uma discussão se viu frustrada devido ao silêncio que teimava em permanecer, vendo-se apenas um enorme ponto de interrogação no olhar dos pais e dos alunos. Os professores e gestores também permaneciam calados. O cidadão precisa ter consciência da necessidade de compartilhar ativamente das discussões da sua comunidade, seja qual for a forma adotada na defesa dos interesses da sociedade. É sabido que o fortalecimento da sociedade civil é e sempre foi resultado da cooperação ou da ação conjunta e criativa entre o cidadão e o Estado. Os principais temas da sociedade civil, como saúde, educação, segurança, cultura e justiça, somente por encontrar conclusões ideais, se tiverem a natural colaboração 43 do cidadão, isoladamente ou como participante de entidades comunitárias. É um processo educativo, estimulante e profícuo, que pode ser considerado o melhor e mais persuasivo instrumento para a formação do espírito democrático. (MACHADO, MAZZARO, 2008 p. 19.). Visando obter adesão maior ao projeto, tornar as relações do grupo mais espontâneas e aumentar a autoconfiança, propus a realização de um jogo cooperativo, antes de continuarmos os trabalhos. O Jogo Utilizando uma corda grande, pedi para que a segurassem em algum ponto, para ficarmos todos ligados naquele momento. Utilizando um aparelho de som com uma música agitada, iniciamos com a comanda: - Alguém pode começar um movimento no ritmo da música e os outros irão segui-lo. Como não podia ser diferente, tive que dar início à atividade e, com uma timidez claramente refletida nos movimentos, todos começaram a me seguir. Iniciei com movimentos de fácil execução, com braços e mãos. Após alguns instantes, apontei para uma das crianças e pedi que desse sequência à atividade e, assim, fomos passando por vários integrantes do grupo, alunos e pais, até que quase todos a tivessem realizado, sem pressão sobre os que não aceitaram fazer o papel de líder. Após essa atividade, passamos à segunda parte, com a comanda: - Quem está segurando a ponta da corda deve se deslocar pelo espaço e os outros irão segui-lo. Não importa o caminho que será feito, ninguém pode soltar a corda. Quando a música terminou, estávamos totalmente enrolados com a corda e ligados, pois ninguém havia soltado a corda. Nesse momento, demos a terceira comanda: 44 - Todos juntos, vamos nos desenrolar, sem soltar a corda, uns ajudando os outros até voltarmos a posição inicial. Esse momento foi o mais gratificante, todos davam risadas espontâneas, enquanto tentavam se desvencilhar do emaranhado de cordas, braços e pernas. Colhendo os frutos Com a participação de todos, o clima no grupo teve uma mudança considerável. O gelo foi quebrado e todos puderam contemplar o efeito imediato no momento em que voltamos à sala de reunião. Conversas paralelas, risos e exclamações davam o tom do ambiente. Um momento rico foi vivenciado: pessoas que há pouco estavam inseguras e resistentes ao diálogo agora falavam como se estivessem em meio a velhos conhecidos. A participação é de extrema importância não apenas na presente pesquisa, mas na história da humanidade, como aponta MARTINS (1999): Etimologicamente, participar significa tomar uma parte (do latim "partem capere"). No entanto, a melhor noção de participação vem da etimologia grega, que significa ter conjuntamente ou ter com outro (metekó). Daí os dois sentidos básicos da palavra participação: Sentido Material (latino) – dividir um todo material entre aqueles que dele participarão: o todo desaparecerá e cada sujeito participante terá uma parte do objeto participado, guardando uma relação apenas histórica com o antigo todo; Sentido Espiritual (grego) – ter parcialmente o que outro possui integralmente: uma alegria que é plena no sujeito que obteve uma vitória, é participada em menor intensidade naquele que recebe a comunicação da vitória e com ela se alegra, sem que a participação diminua a alegria do sujeito que obteve a vitória, antes a tem aumentado (apud FERRAZ, 2008, p. 37-38). Com o aumento da alegria pela sensação de participação e percepção de estar dentro de um grupo com os mesmos objetivos, medos e dúvidas, reiniciamos as discussões. Após esse primeiro contato, iniciamos novamente as explicações sobre a pesquisa, desta vez, com uma participação mais intensa do grupo. Os pais relataram de forma resumida o comportamento das crianças fora da escola e de forma geral 45 apontaram comportamentos diferentes daqueles vislumbrados no ambiente escolar, onde os atos violentos são constantes. Sua leitura é parecida com a dos professores, quando falam do comportamento das crianças no ambiente escolar. Ao serem questionados sobre a variação de comportamento, apontam a possível sensação de liberdade por estarem distantes de casa e do olhar dos pais. 4.1.2 Quebrando paradigmas No início das atividades, como era esperado, os alunos relutaram muito em realizar os jogos, alegando que a ausência de um vitorioso tirava toda a graça do jogo. A ânsia pela competição estava enraizada em sua formação assim como na formação da grande maioria de nós. Considerada como um valor natural e normal da sociedade humana, a competição tem sido adotada como uma regra em praticamente todos os setores da vida social. Temos competido em lugares, com pessoas e em momentos que não precisaríamos, e muito menos deveríamos. Temos agido assim como se essa fosse a única opção. (BROTTO, 2001, p. 45). Procurei explicar aos alunos que, mais que a competição, aquele momento da aula de Educação Física era de construir um espaço de aprendizagem, onde todos teriam um papel importante e indispensável, seriam parceiros na aprendizagem e a vitória seria daqueles que conseguissem trabalhar coletivamente e jogar juntos. A quebra desse paradigma é um dos passos mais difíceis, pois, em qualquer segmento onde os jogos cooperativos são implantados, o questionamento é sempre o mesmo: “O que tenho que fazer para ganhar”? Após o primeiro encontro com familiares, educadores e educandos, uma empolgação tomou conta dos alunos que todos os dias, ao nos encontrarmos nos corredores da escola, vinham em disparada, sempre com o mesmo questionamento: “Professor, quando vão começar os jogos cooperativos”? Resposta: aguardar o dia das aulas de Educação Física daquela turma. 46 4.1.3 Por que cooperar? – 31/03/2009 O tão esperado dia chegou. Dirigimo-nos para o pátio, pois nesse primeiro dia algumas explicações se faziam necessárias, além de uma discussão sobre aquilo que as crianças esperavam dos jogos com o intuito de sondar seu conhecimento prévio sobre o assunto jogos cooperativos. As pessoas não podem ser meros instrumentos de projetos mesmo que estes sejam os mais belos e bem elaborados teoricamente. Dessa forma, as mudanças nas redes de ensino não podem prescindir da participação de todos os envolvidos. (SILVA, J. M. 2009 p. 26). A participação consciente de todos os envolvidos deve permear cada ação para obter sua autorização na prática educacional. Para tal atividade o pátio parecia o ambiente mais propício, dentro da escola, por ser um local arejado e bastante amplo, diferente da sala de aula, e onde também podíamos contar com o conforto dos bancos. Sentamo-nos em um círculo formado com os bancos arrumados pelos alunos no pátio, o “canto” escolhido por eles, o mais próximo do belo jardim. Falando da criação e utilização de recursos pedagógicos, MACHADO e MAZZARO (2008) comentam: ...para causar o impacto esperado, é importante você planejar o encontro dos educandos com as histórias O ideal é criar um clima de alegria, curiosidade, magia, afetividade e informalidade na sala de aula, no pátio, embaixo de uma árvore ou na biblioteca. ( p. 27). A visualização do espaço escolar por outro prisma que não entre as quatro paredes da sala de aula pode e deve valorizar os diversos ambientes escolares, fazendo com que os frequentadores valorizem o local onde passaram várias horas por dia. 47 Após a pergunta sobre quem sabia alguma coisa sobre jogos cooperativos, pude perceber que as definições não ultrapassavam aquelas da reunião inicial com os pais. Quando o questionamento foi sobre a vivência de cada um nos jogos cooperativos, tudo que se podia ouvir eram os belos cantos dos pássaros que brincavam, pulando de galho em galho nas pequenas arvores que compunham o belo cenário de nosso encontro. Triste por interromper aquele valioso momento de contemplação da natureza, porém, certo da necessidade de saciar a curiosidade daqueles olhinhos inquietos, convidei-os a observarem o comportamento das aves. O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de comparar, na busca da perfilização do objeto ou do achado de sua razão de ser. Um ruído, por exemplo, pode provocar minha curiosidade. Observo o espaço onde parece que se está verificando. Aguço o ouvido. Procuro comparar com outro ruído cuja razão de ser já conheço. Investigo melhor o espaço. Admito hipóteses várias em torno da possível origem do ruído. Elimino algumas até que chego a sua explicação. (FREIRE, 1999, p. 98). Exercitar a curiosidade das crianças e dos professores e utilizar espaços diferentes da sala de aula é uma estratégia ainda pouco explorada dentro de nossas escolas, que pode nos surpreender de forma positiva, proporcionando descobertas a cada instante. Devemos lembrar, neste ponto, o princípio fundamental da teoria de Piaget, que coloca o desenvolvimento normal da inteligência como uma sucessão estritamente invariável de fases (sensório-motora, pré-operatória, operatória concreta e formal), na qual o acesso à fase seguinte necessita da integração da fase precedente, sendo que qualquer perturbação numa fase acarreta perturbação na seguinte (BOSSA. 2000, p. 17). Sem pretensões técnicas ou embasamentos teóricos sobre o comportamento das aves, iniciamos, após alguns poucos minutos de observação, uma reflexão sobre aquilo a que assistíamos. Ao descrever o comportamento dos pássaros, os alunos apontaram, de maneira geral, o que estava acontecendo. Os pássaros pulam de galho em galho e cantam bastante foi a observação predominante no grupo. 48 Questionei se eles achavam que os pássaros estavam felizes e todos de forma unânime afirmaram que sim, pois o comportamento não demonstrava de forma alguma qualquer vestígio de tristeza. Perguntei, então, se eles seriam capazes de definir quem estava vencendo a brincadeira. Nesse momento, novamente o silêncio tomou conta do pátio, só se ouviam as vozes de outras crianças distantes dentro das salas de aula e novamente o cantar dos pássaros. Após alguns segundos de reflexão, um aluno, o mais falante da turma, apontou um dos pássaros e disse: - Aquele é o que está vencendo. Formatado Pedi que nos explicasse como chegou a essa conclusão e ele disse: - Eu acho, não sei por quê. Outros alunos discordaram, alguns apontando outro pássaro. Uma menina questionou se eles realmente estavam disputando ou apenas brincando. Pedi atenção para a pergunta e a grande maioria concordou imediatamente, enquanto apenas alguns continuaram em dúvida. Um deles questionou: - Como você pode saber que eles não estão disputando? Finalmente ouvi aquilo que esperava desde o início do nosso encontro. A menina, a mesma que questionou se os pássaros estavam realmente disputando, justificou: - Eu acho que eles não estão disputando, porque todos parecem estar felizes do mesmo jeito e, se alguém estivesse perdendo, não estaria feliz, mas sim triste ou bravo. A explicação foi de tamanha precisão e contemplava de forma tão ampla aquilo que eu gostaria de passar aos alunos, que me dei por satisfeito. Todos entenderam a explicação da menina e concordaram com ela. Como afirma Machado (2009), o diálogo com os autores possibilita: Formatado 49 ...reflexões e melhor compreensão sobre conhecimentos fundantes da situação educativa, que levam em consideração, necessariamente, o ponto de partida dos educandos (gnosiologia, antropologia), o ponto de chegada (os fins e objetivos educacionais) e o caminho (procedimentos educacionais) ( p. 31). Momentos como esse, mais que dar andamento à pesquisa, possibilitaramme entender realmente o papel do educador e vivenciar a formação do educando paralelamente a minha própria formação. A educação se faz na ação e, ao mesmo tempo, reflete sobre ela. A formação contínua deve ocorrer numa perspectiva reflexiva e de pesquisa, para que os professores possam tecer uma rede de conexões para si, para sua prática, para seus alunos e a sociedade. A capacitação de professores em serviço é indispensável para a introdução de novas alternativas educacionais, o que causa um impacto diferencial sobre a aprendizagem. (MACHADO, 2001, p 26). É importante que o professor tenha a sensibilidade para extrair de cada momento uma aprendizagem, tornando a própria prática pedagógica um instrumento poderoso de formação contínua. 4.1.4 Vamos cooperar?– 01/04/2009 Ainda feliz com o desfecho das discussões da última aula, deparei-me com uma sala novamente afoita por atividades físicas. Após breve explicação sobre o jogo que faríamos na quadra, saímos da sala de aula e fomos para o espaço mais desejado pelos alunos. Para este primeiro dia, uma atividade de fácil compreensão foi proposta: o jogo “O macaco vê, o macaco faz”. Após reunir as crianças em círculo, a criança escolhida para iniciar a brincadeira cria ou relembra algum movimento, explica para os demais como realizá-lo e, a partir daí, todos tentam imitar. Após todos terem conseguido imitar, o grupo aplaude o criador em sinal de respeito pela sua ação. Nesta primeira atividade prática, quase tudo correu bem. Os alunos entenderam o espírito da brincadeira, porém, alguns insistiam em desvalorizar os 50 movimentos criados pelos colegas o que, como já era corriqueiro, transformava o final da aula em momentos de agressões verbais e até físicas. A insistência de alguns alunos em se afastar do grupo ou permanecer indiferentes às manifestações dos outros pode ser entendida, como explica Bossa (2000): A criança ou adolescente muitas vezes prefere acreditar, e fazer os outros acreditarem, que vai mal na escola porque é desinteressada. Aceitar que não entende a matéria, para esses jovens, significa ser ”burro”. Quando nos sentimos “burros”, ferimos o nosso narcisismo. Podemos dizer que o narcisismo é o nosso amor próprio. Um sentimento que nutrimos por nós mesmos e que, na medida certa, é muito importante para a nossa saúde mental (p. 13). Nesse sentido, Bossa, uma atitude seria promover a aceitação das crianças que se mostravam arredias, como parte integrante e importante da turma. Para tanto o jogo elaborado e aplicado na próxima aula deveria proporcionar uma construção coletiva, onde cada um tivesse contribuição decisiva para a obtenção de êxito. O dia não terminou de forma tão agradável quanto o anterior. Ainda havia inúmeras possibilidades, pois, estávamos só começando. 4.1.5 Salto triplo – 07/04/2009 Neste dia, o objetivo era proporcionar momentos em que os alunos pudessem criar algo em conjunto e o jogo “Salto triplo” pareceu uma atividade adequada, já que unia a construção coletiva com a atividade física. Na Educação Física Escolar, a cultura corporal se manifesta pelo jogo, esporte, dança, ginástica e luta como formas de comunicação e expressão entre os alunos. Por seu caráter democrático, produzem benefícios psicológicos, desenvolvendo as potencialidades pessoais. (MATTOS, 2006, p. 87). 51 Para este jogo utilizamos um espaço logo atrás da quadra poliesportiva, por um espaço grande com piso que absorve o impacto dos saltos (gramado). O muro que demarca a delimitação da área da quadra foi utilizado como banco por se tratar de uma estrutura baixa com aproximadamente um metro de altura. O jogo: um aluno por vez, carregando um pequeno bastão de 30 cm improvisado com um pedaço de cabo de vassoura, executa três saltos consecutivos (sem exigência técnica). Ao término dos três saltos, o aluno coloca o bastão no chão, no ponto aonde chegou. O próximo aluno parte daquele ponto, segurando o bastão para a realização de mais três saltos consecutivos. Assim, continuamos, até que todos tivessem executado os saltos. Ao final, marcamos a distância percorrida e desafiamos os alunos a conseguirem aumentá-la. Desta vez, vislumbramos algo diferenciado naquela turma: uns estavam torcendo pelos outros, pois sabiam que o sucesso do outro seria seu próprio sucesso, como reconheceram os alunos, ao término da aula. Quando educadores, alunos e comunidade reconhecerem que eles têm participação nas tomadas de decisões, maior apego às normas práticas, materiais e procedimentos adotados podem ser esperados. Eles se tornam acionistas na operação do sistema. (STAINBACK, 2006 p. 8). A percepção de seu lugar dentro de um mundo tão complexo como o escolar deve acontecer aos poucos e trabalhado diariamente. 4.1.6 Refletindo– 08/04/2009 Neste dia, voltamos ao espaço onde havíamos iniciado os trabalhos, sentamo-nos em círculo nos bancos junto às mesas organizadas no pátio para o momento do intervalo. Uma reflexão sobre os jogos levou-nos a “repensar nossos atos”. As ideias, impressões e sentimentos dos alunos fluíram naturalmente 52 - Eu não consegui pular muito. - Mas, se faltasse um pulo, a gente não tinha chegado aonde chegamos. Tal fala mostra a conscientização sobre os objetivos do jogo: reconhecer a importância do outro para a efetivação da atividade. Para SILVA (2008), para se tornar uma escola que realmente atua de forma inclusiva, as práticas devem ser desenvolvidas repetidas vezes a fim de que se institucionalizem. Quando o aluno percebe, por si só, a necessidade da participação do outro, torna-se acolhedor e procura ajudar. Após os alunos falarem sobre as dificuldades de realização das atividades e sobre o prazer em completar cada etapa, iniciamos os registros. Devido à grande dificuldade da maioria dos alunos no que tange à escrita, optamos pelo registro com desenhos. Os que já dominavam a escrita, mesmo de forma simples, optaram por registrar dessa forma. No momento do registro, a participação do professor da sala, denominado “polivalente” na rede estadual de São Paulo, é de grande importância, pois é o momento em que a criança procura expressar péla escrita tudo o que viveu no jogo, tornando-se um espaço rico de criação e aprendizagem. Acredita-se que o jogo proporcione duas grandes vantagens ao ser trabalhado desta maneira: pelo fato de ser um elemento da cultura infantil e pela sua capacidade de trazer questionamentos das mais diversas naturezas às crianças de maneira conectada. Isso implica dizer que a fragmentação dos saberes, uma das principais dificuldades vividas dentro da educação seria, se não eliminada, pelo menos reduzida. (André, 2007. p. 23). É necessário que os educadores se conscientizem quanto à importância da realização de ações em conjunto, que promovem um ambiente único de aprendizagem e rico em relações humanas. 53 4.1.7 Resgatando – 14/04/2009 Neste jogo simulamos um salvamento. O ambiente foi criado com mesas formando um círculo. O aluno a ser resgatado ficava no meio do círculo como se estivesse em um buraco. Passamos uma corda por cima de uma viga de concreto. Após tudo organizado, um aluno se posicionou dentro do “buraco” e começou a gritar por socorro. Os outros alunos, posicionados a alguns metros, ficavam conversando e, quando um deles ouvia o pedido de socorro, corria até o local para iniciar o salvamento. Jogada a corda, o aluno que estava no buraco a segurava e o salvador começava a puxar. Se não aguentasse o peso do aluno a ser resgatado, podia pedir a ajuda a outro colega ou até a mais um e, assim, sucessivamente, até que fosse possível levantar o acidentado até à altura das mesas. Neste dia os alunos ficaram eufóricos, todos queriam ser o resgatado e as discussões foram constantes, como dizia um dos alunos que ajudou a preparar o ambiente do jogo: - Eu primeiro, fui eu que montei tudo. Segundo MOREIRA (2005) é importante construir o conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo, oferecendo a todos as mesmas oportunidades de acesso ao conhecimento. Pensando em como definir quem iniciaria o jogo, uma aluna disse: - Cada um pode escolher quem será o próximo e o professor escolhe o primeiro. Os alunos concordaram prontamente, porém, achei melhor que ela começasse, já que tinha dado a idéia. Todos concordaram e iniciamos as atividades. Segundo BROTTO (2001), as diversas possibilidades do jogo, como as decisões, ações e observações, podem refletir-se na vida fora do jogo, instrumentando o aluno para uma vida em uma sociedade mais saudável. Uma ocorrência chamou a atenção: quando o aluno a ser salvo estava quase atingindo a altura das mesas, um dos salvadores soltou a corda e o resgatado caiu sobre os colchões. Neste momento fizemos um intervalo para conversar. Expliquei 54 sobre os riscos envolvidos e sobre a confiança que o aluno resgatado depositara em seus salvadores e continuamos o jogo, deixando maiores discussões para o próximo dia. 4.1.8 Após o salvamento – 15/04/2009 No dia após a atividade de salvamento, tivemos momentos tensos no grupo, pois o aluno que havia sido solto,nervoso, discutia muito, chegando a tentar agredir seus salvadores. Após alguns minutos de discussões e empurrões, sentamo-nos para refletir sobre o ocorrido, atendendo ao que expõe BLANCO (2007): O indivíduo forma-se, apropriando-se dos resultados da história e objetivando-se no interior desta história, ou seja, sua formação realiza-se por meio da relação entre objetivação e apropriação. Essa relação se efetiva no interior de relações concretas com outros indivíduos, que atuam como mediadores entre ele e o mundo humano, o mundo da atividade humana objetivada (p. 69). O exercício da reflexão, levando a uma maior conscientização, proporcionaria ao aluno a apropriação das discussões e a consciência de fazer parte do grupo. O grupo apresentava altos e baixos no que tange às relações, o que pode ser visto como uma evolução, considerando que, no início das atividades, as relações eram invariavelmente conturbadas e agressivas. Neste momento, a ocorrência abalou as relações do grupo que começavam a se tornar mais amigáveis. Todos tomaram uma posição e os conflitos se multiplicaram, por isso, resolvemos fazer uma pausa nas discussões e registrar a atividade pelo desenho e escrita. 55 4.1.9 Levante-me – 22/04/2009 Pensando nos acontecimentos do último jogo, optei, neste dia, por um jogo que proporcionasse maior aproximação física e reforçasse a necessidade de confiança entre os membros do grupo. As interações criança-criança também devem ser privilegiadas, já que, quando agem conjuntamente na realização de alguma atividade comum, permitem: a auto-regulação do comportamento, a detecção de incongruências e lacunas, o direcionamento consciente da fala para a comunicação mais precisa e explicita, a intencionalidade para encontrar formulações alternativas para uma mesma idéia e agregar exemplos de forma coerente. (BLANCO, 2007, p. 74). O principal objetivo do jogo, neste momento, era provocar a percepção de problemas, esperando que, perante a necessidade de adaptação, o grupo procurasse meios para transpor os obstáculos de forma coletiva e democrática. Com os alunos dispostos em fila, o jogo consistia em um ajudar o outro a levantar-se. O primeiro senta-se no chão e o segundo tenta levantá-lo, puxando-o pelas mãos; se não conseguisse, pedia ajuda ao terceiro ou a quantos precisasse. Após levantar o primeiro aluno, todos que ajudaram sentavam-se e o próximo da fila tentava levantar o grupo que ficava abraçado; sendo necessário, o próximo da fila pode pedir ajuda de outros e assim segue o jogo até que todos façam parte do mesmo grupo. A aplicação desta atividade mostrou outra característica dos alunos: a escolha de quem ficaria próximo de quem, o que quase criou um novo conflito entre os alunos, porém, ao explicar que a atividade seria repetida várias vezes e que a ordem da fila seria alterada em todas as oportunidades, os alunos se acalmaram. Comenta LEONARDE (2005): Devemos, nestes contextos violentos, observar duas dimensões essenciais: a primeira social e a segunda subjetiva. O entendimento da relação entre estas duas dimensões deve, no ambiente escolar, promover a consolidação de uma perspectiva ética e de valorização do outro, do acolhimento e da compreensão do diferente. (p. 3). 56 A frequente variação de atividades proporciona aos participantes conhecerem melhor cada um e desenvolver um respeito maior entre todos os envolvidos, já que todos terão conhecimento dos pensamentos e necessidades de cada um. A atividade deste dia foi realizada de forma tranquila e sem ocorrências. A aproximação maior entre os alunos tornou a atividade divertida e gratificante para todos. 4.1.10 Relembrando os conflitos – 28/04/2009 O encontro deste dia foi realizado em um gramado ao lado de algumas salas de aula, um cenário perfeito para sentar e discutir os motivos pelos quais estávamos ali. No primeiro momento pedi para que os alunos comentassem sobre aquilo que estavam vivenciando e o que achavam de suas atitudes e das atitudes do grupo. É preciso reorganizar a estrutura escolar, rever seus conceitos de transmissão de conhecimentos, refletir sobre sua finalidade e criar espaços para relações comunicacionais abertas, possibilitar aos alunos trazerem suas vivências, realidades e dúvidas e explorar tais informações, transformando-as em meios para a construção do conhecimento. (MACHADO, 2001, p. 15). O primeiro aluno a se pronunciar, por vontade própria, o mesmo que havia soltara o amigo, ao largar a corda na atividade, pediu desculpas ao grupo, afirmando que não faria aquilo novamente. - Desculpa! Eu só estava brincando. Comentou uma aluna: - Você está errado. Não podia ter largado a corda. 57 Promete o aluno: - Eu não vou fazer isso de novo. Percebeu-se que a ocorrência ainda incomodava o aluno, que, por iniciativa própria, tocou no assunto. O grupo deu-se por satisfeito e terminamos as discussões sobre o ocorrido. Em sua grande maioria, o grupo se mostrava feliz com as atividades, porém, dois alunos reclamaram pela ausência do futebol: - Professor, não dá pra gente jogar um pouco de futebol? Sem dúvida, isso era possível e foi o ponto de partida para o próximo encontro. 4.1.11 Futebol cooperativo – 29/04/2009 Atendendo ao pedido dos dois alunos no último encontro e levando em consideração o caráter empolgante do futebol para a grande maioria dos brasileiros, no caso escolar, inclusive as meninas, decidi desenvolver uma atividade que, apesar de fundamentada no competitivo futebol, pudesse proporcionar a cooperação que tanto buscávamos. Sentamo-nos na quadra e perguntei para os alunos como poderíamos transformar o futebol em um jogo cooperativo. Mais do que criar um “novo jogo”, a proposta naquele momento era provocar a criação coletiva com o intuito de reforçar os laços do grupo. Darido (2003), citando Go Tani, aponta como objetivo da Educação Física o reconhecimento e o respeito cultural, além de explorar as múltiplas possibilidades educativas e gradativamente propor tarefas cada vez mais complexas, visando à construção do conhecimento, que somente pode ocorrer de forma coletiva onde cada vivência individual soma-se às vivências de outros integrantes. 58 Depois de muito pensar e discutir, desenvolvemos um jogo criado pelos alunos em que não haveria goleiros e todos pertenceriam à mesma equipe, com os jogadores distribuídos pela quadra. O jogo começou. Cada jogador podia tocar apenas uma vez na bola e chutaria para o gol o último aluno que a recebesse. Paramos várias vezes para discutir as regras e alterá-las, quando o grupo julgava necessário. O encontro deste dia foi especial, pois estávamos criando algo juntos. Ao participar da criação e formulação de uma atividade, além de poder parar a ação, refletir e redirecionar os encaminhamentos, de acordo com as possibilidades e necessidades do grupo, o educando sente-se como parte da comunidade escolar, não mais simples ouvinte, mas atuante no cenário educativo Convidar o aluno a participar diretamente da criação daquilo que vivenciará no ambiente escolar contribui para a diminuição de ações violentas, já que se reconhecerá como parte integrante do espaço e das práticas ali desenvolvidas. Lannone (2004) recomenda ...demonstrar a associação entre jovens e violência, dando relevo ao lado luminoso da juventude, à sua capacidade de criar novas sensibilidades, novos valores, novas atitudes na escola e na comunidade escolar em Educação para o desenvolvimento humano. (p. 117). Antes de cobrar dos alunos o envolvimento consciente e entusiasmado com as atividades escolares, a prática dos educadores deve ser consciente e motivadora. 4.1.12 Contemplando nossa criação – 05/05/2009 Para refletir sobre o que aconteceu na última aula, escolhemos o local que a turma elegeu como “nosso espaço”, um dos cantos do pátio, próximo ao jardim onde nos reunimos pela primeira vez. 59 As discussões neste dia giraram em torno da feliz criação do dia anterior. Todos estavam satisfeitos por terem participado da elaboração do jogo, como disser um aluno: - Esse jogo é só nosso, não vamos contar pra ninguém! Outro aluno retrucou: - Não é não, eu vou contar pra todo mundo. - Fofoqueiro! Assim gritaram alguns alunos, protestando contra a ideia. Nesse momento, para não perder o foco das discussões, questionei: - Qual é o objetivo dos jogos cooperativos? Gritaram os alunos: - Ajudar os outros! - Se nós contarmos para outras pessoas sobre nossa criação podemos ajudá-los? Responderam alguns: - Sim. Um menino comentou: - A gente pode ensinar para outra classe. Sentindo a empolgação dos alunos, propus passar nossa experiência para outras pessoas. Decidimos então, convidar os alunos da 4ª série C para participarem da atividade. 60 4.1.13 Compartilhando nossa criação – 06/05/2009 Como havíamos combinado no último encontro, fomos à sala da 4ª série C e os convidamos para ir até a quadra onde realizaríamos o futebol cooperativo. A empolgação dos alunos com a chance de mostrar para os colegas aquilo que haviam criado transformou a aula em uma grande confusão. Em alguns momentos, precisei intervir para que o jogo acontecesse, o que se revelou uma experiência muito gratificante para todos. Há para nós educadores um compromisso pessoal e profissional de favorecer nossos educandos na aquisição e domínio de códigos que lhes permitam conviver em círculos amplos da sociedade e não apenas em “tribos” exclusivas, com linguagens restritas e inúteis para um relacionamento com a totalidade da população (SILVA, 2009, p. 27). Percebemos, nesse encontro, as dificuldades no momento de ultrapassar os limites das “tribos”. A paciência frente ao aparente caos deve ser exercitada, pois o que parece grande bagunça pode representar um momento de reorganização das crianças, em seu primeiro contato com um mundo diferente daquele em que vivem habitualmente. 4.1.14 Apoie-me – 12/05/2009 Iniciamos o encontro com o jogo Apoie-me, uma atividade que estimula o contato físico e a cooperação. O jogo foi desenvolvido da seguinte forma: os alunos, de costas, formaram duas fileiras, deram-se as mãos e, ao sinal do professor, tentaram levantar-se, uma fila apoiando-se nas costas da outra. A atividade foi realizada de forma perfeita e os alunos perceberam sua importância. 61 Notou-se um entrosamento que antes não existia entre os alunos. Discussões sobre a atividade aconteceram durante toda a ação, porém, pautadas no respeito, sem brigas ou qualquer outra atitude agressiva, pois, como afirma Machado (2001), “a aprendizagem cooperativa é uma relação social circular, multiplicadora de interação, de ajuda entre as pessoas do grupo” (p. 8). Os alunos sentiram-se participantes do processo e, mais que isso, tiveram a consciência de sua participação, o que aumenta sua autoestima e confiança de que suas propostas e idéias serão consideradas e respeitadas pelo grupo. 4.1.15 Reflexão – Estamos no caminho certo? 13/05/2009 Com o passar dos encontros foi possível perceber que o grupo estava vivendo uma mudança positiva. Os encontros em que apenas alguns falavam deram lugar a momentos de debates calorosos em que todos queriam dar sua opinião. Neste dia coloquei em pauta a questão: Vocês acham que estamos no caminho certo? Após uma avalanche de comentários e alguns pedidos de organização, conseguimos ouvir alguns alunos. Uma menina: - Eu acho que a gente está melhorando. O comentário provocou algumas brincadeiras. Um dos alunos, o mais falante, disse: - Eu já sou bom, não preciso melhorar. O grupo ficou eufórico, risadas se misturavam com exclamações. Uma alunas disse: - Você era o pior aqui. 62 Outro falou: - Eu acho que a gente está melhor, sim. A gente não briga muito mais. Só às vezes. Outro completou: - A gente só briga nas outras aulas. O comentário chamou minha atenção. Perguntei aos alunos o porquê desse comportamento. Vieram as respostas: - Professor, a gente coopera na Educação Física, fora daqui é cada um por si. Um meninos disse: - Eu acho que nós temos que cooperar em qualquer lugar. Outro retrucou: - Eu não acho. A gente ajuda só quem é nosso amigo de verdade. Era evidente que os alunos criaram um vínculo com a aula de Educação Física e com aquele espaço. As atitudes e reflexões desenvolvidas naquele ambiente não estavam sendo levadas para outros. Como adverte Silva (1998), é preciso repensar as relações, aceitar a si mesmo e os outros como pessoas que têm seu valor e dignidade no meio em que vivem. Comenta MACHADO (2008): O artigo 7º da declaração Mundial sobre Educação para Todos (UNICEF, 1991) destaca a importância da participação e união de profissionais de educação, famílias, comunidades locais e órgãos governamentais que “contribuem significativamente para o planejamento, a implementação, a administração e a avaliação dos programas de educação básica. (p. 16). 63 A lei garante o acesso de todos à educação formal, porém, sem o esforço de todos os envolvidos as políticas não ultrapassam o proclamado. É necessário que os profissionais de educação mudem de atitude, repensem sua prática, sua maneira de ensinar, ver o mundo, o ser humano, pensem seus valores, enxerguem o outro como um ser de relações, capaz de aprender, mudar e transformar. (MACHADO, 2008, p. 17). Em alguns momentos, dentro da escola, a preocupação dos educadores é manter a ordem, o que promove a falsa impressão de um ambiente em que estão todos quietos e por isso aprendendo. É preciso quebrar o paradigma de que as crianças só aprendem, quando estão em silêncio. O barulho e a aparente desorganização quando realizam alguma atividade são inerentes às crianças e adolescentes, comportamento que também se percebe em pessoas de mais idade. Transformar todos os ambientes escolares em espaços de criação permeados pela cooperação, mais que um dever, é garantia do direito de todos se manifestarem de acordo com suas crenças e experiências, expressando física e verbalmente a bagagem que trazem consigo e que faz parte de sua formação como seres integrantes da sociedade. Ao perguntar se haviam gostado do futebol cooperativo com a outra turma, todos se expressaram positivamente. - Eu achei a aula mais legal! - A gente devia chamar outras salas pra fazer também. As falas expressam a intenção do grupo em expandir para toda a escola aquele ambiente, que se tornava agradável. Mesmo o menino que havia falado sobre as brigas fora das aulas de Educação Física mostrava-se disposto a cooperar. Não foi possível repetir a experiência com outras salas, porém, a questão estava colocada. 64 4.1.16 Cooperando e evoluindo – 19/05/2009 Percebendo a evolução dos alunos nos jogos cooperativos, partimos para outra atividade: a brincadeira que há várias gerações vem sendo praticada por crianças de todas as idades: Batata Quente, de fácil execução e que se enquadra em nossos objetivos, como descreve Deacove (2002): os alunos formam duas rodas, uma em pé e outra no centro da primeira com os alunos sentado em frente dos que estão em pé. Um aluno é escolhido para tirar a música que define quem ficará com a “batata na mão”. Neste momento, a criança que está com a “batata” deve jogá-la para outra que também esteja sentada e que tenha um parceiro em pé. Se a “batata” for agarrada, a criança que está atrás daquela que segurou a “batata” pode sentar-se no círculo central; se a “batata” cair no chão, o jogador deve levantar-se. O jogo é considerado finalizado e vencido, quando todos conseguirem entrar no círculo central. Se todos estiverem no círculo maior, em pé, o jogo é considerado perdido. Partimos para o jogo, no gramado, já usado algumas vezes. Antes, era necessário definir o que usaríamos como “batata”. Convidei os alunos para uma atividade rápida que ajudaria todo mundo: saímos pela escola recolhendo os papéis que encontrávamos pelo chão, com os quais poderíamos confeccionar a bola ou “batata” para o jogo. Após alguns poucos minutos, tínhamos material suficiente para confeccionar uma bolinha de papel para cada aluno. Foi o que fizemos. Terminada a atividade, pedi para que guardassem as bolinhas de papel para uma brincadeira posterior, fomos ao gramado e iniciamos o jogo. Ao invés de colocar uma música no aparelho de som, optei por pegar o violão e tocar uma música que ia interrompendo aleatoriamente. Por alguns instantes os alunos ficaram mais interessados no violão do que no jogo. Paramos a atividade e conversamos sobre a necessidade de nos concentrarmos naquilo que estávamos fazendo. Com a promessa de ensiná-los um pouco do instrumento, em um outro dia, reiniciamos o jogo. Posicionei-me em uma cadeira, de costas para o grupo, e iniciei a música. 65 A atividade foi realizada de forma tranquila, com a participação de todos. A única ocorrência, motivo de reclamações de todo o grupo foi esta: um aluno lançava a bola longe do alcance do amigo com o intuito claro de provocar o erro. Uma aluna comentou: - Professor, é sempre ele... tira ele do jogo. Provoquei o grupo: -O que vocês acham que devemos fazer, quando alguém não está agindo da forma como o grupo espera? Um silêncio, que não acontecia com frequência no grupo, tomou conta do ambiente por alguns segundos até que foi quebrado pelo aluno que estava sendo alvo das acusações: - Professor, eu vou me comportar. Respondi ao aluno: - Eu acredito que você poderia conversar com o grupo. Não acho que você deva se preocupar com seu comportamento, antes precisamos saber como você se sente dentro da turma, se algo o está incomodando. O aluno refletiu por alguns instantes e disse: - Eu fico irritado com eles, porque são muito lerdos. O comentário provocou algumas exclamações no grupo. Uma menina falou: - Por que você não muda de escola, então? O aluno respondeu: - Muda você... 66 E xingou a colega. Percebi neste momento que estávamos indo para um caminho que não era o desejado. Pedi calma para todos e tentei explicar que é natural discordar dentro de um grupo, porém, o importante é respeitar o ponto de vista de cada um e debatê-lo, sem ofensas, até chegar a um ponto comum que seja bom para todo o grupo. Sabemos que o sentido das aprendizagens é único e particular na vida de cada um e que inúmeros são os fatores afetivo-emocionais que podem impedir o investimento energético necessário às aquisições escolares. (BOSSA, 2000, p. 18). Um dos pontos mais difíceis, em especial no ambiente escolar, é procurar recriar-se a cada dia, pautando as ações na ampla variedade humana e sua capacidade de enxergar com olhares diversos o mesmo acontecido. 4.1.17 Um dia para relaxar – 20/05/2009 As diversas possibilidades dentro de uma aula de Educação Física, no caso, no Ensino Fundamental, são animadoras por abrirem um leque de ações para abordar o mesmo assunto de inúmeras formas. Depois do ocorrido no dia anterior, acreditei ser a hora de dar uma parada. O meu objetivo era convidar os alunos para um piquenique, para o que seria necessário saber se estavam dispostos. Antes de ir para a sala de aula, busquei na escola uma tabela nutricional com informações sobre diversos grupos de alimentos. Organizei 17 sacolinhas, colocando em algumas apenas alimentos de alto valor nutritivo e nas outras, alimentos de baixo valor nutritivo. Ao chegar à sala de aula a curiosidade das crianças era tanta que quase descobriram o conteúdo das sacolas, antes mesmo que eu pudesse lhes falar. 67 Quando perguntei se topariam fazer um piquenique, a aceitação foi unânime. Sem perda de tempo, saímos da sala e os alunos apontaram o gramado como o local ideal para nosso lanche. Cada um recebeu sua sacolinha e começou a verificar o conteúdo. Pedi que não começassem nada antes que todos estivessem acomodados e pudéssemos conversar um pouco. Então, iniciei a comanda: - Cada um pode tirar o que tem na sacolinha e colocar a sua frente. Neste momento, todos tiveram contato pela primeira vez com o que havia na sacola do outro e surgiram diversas exclamações no sentido de trocar aquilo que não agradava. Foi, então, que expliquei o que fazer antes de comermos: - Esta é uma pirâmide que nos mostra quais grupos de alimentos devemos comer e de que forma podemos combiná-los. Vocês podem trocar os alimentos até conseguirem montar uma sacola ideal com suas necessidades alimentares. Foi um momento muito interessante em que os alunos descobriam coisas novas sobre os alimentos. Após muitas discussões, trocas e organizações, os alunos se deram por satisfeitos e pudemos iniciar a parte mais esperada com a comanda: - Agora podemos comer. Se alguém quiser trocar algum alimento, pode fazer. Fiquem à vontade! A troca realizada nesta atividade, por mais despretensiosa que pareça, é mais um exercício de prática cooperativa onde os educandos relacionam-se, expressam seu ponto de vista ou vontades, ouvem e respeitam as manifestações dos outros. Como explica MACHADO (2008), o professor deve repensar suas atitudes e passar a ver o aluno como uma pessoa capaz de relacionar-se com o outro e trocar experiências e interpretações de suas vivências. 68 4.1.18 Pingabola - 26/05/09 A esta altura partimos para o jogo Pingabola: com os alunos formando dois grupos, os jogadores fazem rodízio entre as equipes. Fomos à quadra e, por sorteio, formamos duas equipes. No jogo, uma equipe lança a bola para cima e a bate para o outro lado. A equipe adversária pode deixar a bola quicar no chão uma vez e deve rebatê-la para o outro lado. A atividade correu normalmente apesar de algumas discussões que podemos considerar normais em qualquer atividade esportiva. Ao final, os alunos saíram conversando, cada um contando seus feitos. A atividade deste dia possibilitou observar as crianças desenvolvendo uma atividade cooperativa, porém, em lados opostos, em algum momento do jogo, o que me deixou apreensivo. Logo depois, veio a satisfação ao perceber que era um jogo entre amigos, acontecendo de forma saudável. De acordo com MACHADO (2009), as relações interpessoais são importantes em qualquer ambiente, para que se torne inclusivo e, no momento de aprendizagem, para que ocorra troca de experiências com respeito mútuo. 4.1.19 Registros - 27/05/2009 Como de costume, fizemos os registros das atividades do dia anterior, debatendo os acontecimentos e as ações de cada um. Um menino comentou as relações do grupo: -Eu acho que a gente está bem melhor. Outro completou: - Está bem melhor assim, antes era ruim, todo mundo ficava xingando. 69 Parece que os alunos estavam percebendo melhor o que era cooperação e como agir ou reagir dentro do grupo. A capacidade de discernimento liga-se, por sua vez, à reflexão e ao conhecimento, que se constituem em pressupostos, portanto, do exercício da cidadania. O direito à cultura, à informação, ao debate público pode ser considerado como pré requisito para a tomada de decisões que dizem respeito diretamente ao bem-estar da coletividade, como é o caso, por exemplo, da escolha daqueles que, pelo voto, serão investidos do poder de governar ou de legislar (CARMO, 1999, p. 21). A valorização das ideias e propostas dos alunos deve ser uma prática diária do professor a fim de aprenderem a debater, questionar, conhecer e aceitar as opiniões alheias. 4.1.20 Volençol - 02/06/2009 Para esta atividade pedi que os alunos trouxessem, de casa, lençóis ou cobertores. A execução da atividade é simples. Formamos várias equipes, cada uma com três ou quatro participantes. Cada equipe segura um cobertor ou lençol e procura mantê-lo aberto na altura da cintura com uma bola no meio. Fazendo um movimento em conjunto, a equipe tenta lançar a bola para o outro time. O objetivo é fazer com que a bola dê uma volta em torno da quadra sem cair. Se a bola cair, volta à primeira equipe e reinicia-se o percurso. O jogo foi gratificante, todos participaram e se empenharam ao máximo para que cumprir o objetivo. Muitos alunos, com explicações e orientações, procuraram ajudar as equipes a realizarem a atividade. Ao relacionar-se com o outro de forma respeitosa e construtiva, a criança exercita sua capacidade de agir em sociedade, o que mostra a importância dos jogos cooperativos para o bem-estar da comunidade, como apontam Batista e Osborne (2010). 70 A capacidade de intervir e aceitar intervenções, com respeito e sem agressões, deve ser trabalhada pelo professor. Quanto aos sujeitos desta pesquisa, a cada atividade, percebia-se que evoluíam nesse aspecto. 4.1.21 Reflexão - 03/06/2009 Discutimos o comportamento dos alunos que passaram suas experiências positivas aos colegas de outra equipe, para obter êxito na realização da atividade. Os alunos estavam satisfeitos com a realização da atividade e com o comportamento de seus amigos. Para BOSSA (2000), interferem na aplicação de energias nas atividades escolares fatores afetivos, emocionais e outros. Quanto mais tranquilo e agradável for o relacionamentos entre os integrantes do grupo, mais fácil será a convivência e mais proveitosa a aplicação nos estudos. 4.1.22 Reunião de pais – 09/06/2009 Para o encerramento das atividades, organizei um café para os pais, alunos, professores, funcionários e gestores. Para que o café não parecesse um prêmio aos que “resistissem” à reunião, providenciei para que fosse oferecido antes das discussões. Na sala de reunião, com as cadeiras dispostas em círculo, iniciei a conversa: - Alguém pode apontar se percebeu alguma mudança no comportamento das crianças fora do ambiente escolar? Algumas mães se manifestaram reforçando aquilo que já haviam falado na primeira reunião: em casa o comportamento de seus filhos era de uma criança tranquila e participativa, porém, todas afirmaram que as crianças comentavam, 71 muitas vezes, em casa, sobre o ocorrido nas aulas de Educação Física e a forma agradável como realizaram as atividades. - Agora é jogo cooperativo pra cá, Educação Física pra lá! As mães afirmaram que os alunos passaram a ter respeito muito maior pelas aulas de Educação Física, porém, seu comportamento em outros ambientes escolares permanecia o mesmo, repleto de inúmeras reclamações das professoras, inspetora e coordenadora. Em conversas com a professora da sala, esta aponta e registra em seu Relatório uma evolução nos relacionamentos da turma. Expliquei que a variação de comportamento também foi notada e discutida pelo grupo. Perguntei para as mães se a convivência familiar era baseada na cooperação: - As tarefas em casa são divididas de acordo com as possibilidades de cada um? As decisões são tomadas em conjunto com as crianças? Esses questionamentos levaram as mães a refletirem sobre suas ações. Algumas afirmaram que seus filhos se expressam livremente em casa: - Lá em casa o meu filho pode falar à vontade. Outra mãe comenta: O meu fala até demais, ele se mete muito na vida dos adultos. Parece que as crianças não eram convidadas a opinarem nas decisões da família e suas idéias e propostas não eram levadas a sério. Após alguns apontamentos e promessas de mudar o olhar sobre a participação das crianças nas decisões da família, convidei os presentes para uma atividade em conjunto na quadra. 72 4.1.23 Futebol cooperativo com as mães Para encerrar nossas atividades, realizamos o futebol cooperativo com as mães. Coube aos alunos ensinar as suas mães as regras da atividade. O futebol cooperativo desenrolou-se de forma tranquila, os alunos demonstraram interesse em explicar cada passo do jogo e as mães se mostraram entusiasmadas com a oportunidade de vivenciar com as crianças este momento de descontração. O ponto mais gratificante ficou por conta do círculo que formamos. Ao final do jogo, uma mãe sugeriu que fizéssemos uma oração em agradecimento pelo momento. Lembrei a todos que se tratava de um momento de agradecimento e alegria, sem vínculo com qualquer religião ou crença. Todas participaram de forma espontânea, algumas não escondendo sua emoção, como a mãe que iniciou a atividade: - Que todos nós que estamos aqui tenhamos luz nas nossas decisões, que estas crianças entendam a luz divina da vida e que todo mundo aprenda a compartilhar e pensar no próximo. Neste momento, vivenciamos um ambiente familiar: todos em pé, mãos dadas, cabeça baixa, inclusive as crianças, uns segurando as mãos dos outros, um aperto cordial e caloroso, como de verdadeiros amigos. Ao término dos agradecimentos e da oração, um clima de paz e tranquilidade perpassava o ambiente. Com o intuito de não interromper momento tão agradável e importante, iniciei os cumprimentos com um aperto de mãos e um abraço, o que foi seguido e imitado por todos. Este último encontro evidenciou a necessidade da participação mais ativa da família na escola, o que pode proporcionar momentos ímpares de aprendizagem e troca de experiências. Com o término da pesquisa, retirei-me da escola para atuar como professor coordenador em outra unidade escolar, porém, a coordenadora pedagógica 73 continuou suas observações sobre as relações dos alunos e de todos os envolvidos na pesquisa, como relata a seguir. 4.1.24 Como a professora da sala PIC via seus alunos Os alunos matriculados na sala PIC são crianças que, mesmo frequentando as séries iniciais, não conseguiram se alfabetizar. Na sala em que lecionei havia 18 alunos, todos com baixa autoestima, extremamente preconceituosos consigo mesmos e agressivos. São crianças mal assistidas, com problemas familiares gravíssimos, que transferiram para a escola toda a violência sofrida em casa. Dentro da sala, por várias vezes, presenciei atos de agressão física e verbal entre os alunos, e qualquer pequena confusão que normalmente é resolvida por meio de conversa era motivo de brigas e discussões, onde os alunos utilizavam palavreado de baixo calão e não respeitavam o ambiente escolar. Vivenciei também alunos apossando-se de objetos alheios, chegando ao ponto de um deles roubar o meu telefone celular, que eu deixava sobre a mesa para ver as horas. Quanto ao aprendizado, percebia pouco ou nenhum interesse por parte dos alunos, que muitas vezes dispersavam-se e não se concentravam para realizar as atividades. Senti muita falta de acompanhamento familiar destes alunos, pois algumas crianças passavam a noite fora de casa e chegavam à escola cansados, exalando bebida alcoólica, fumaça etc. Outras necessitavam de acompanhamento médico e psicológico e, por mais que eu encaminhasse esses casos aos órgãos competentes, nunca obtive uma devolutiva dos pais ou responsáveis. Cresci muito lecionando para estes alunos. Foi cansativo e ao mesmo tempo gratificante. Aprendi que aprendizagem anda de mãos dadas com afetividade e é preciso ser bem mais do que apenas professora.” 74 4.1.25 Relatório-diagnóstico do desempenho escolar da turma: 4ª série PIC – 2009 - 2º semestre, após o término da pesquisa, na visão do coordenador pedagógico Itens observados: Hábitos e atitudes; Socialização e relação eu/outro; Participação durante as atividades; Trabalho em grupo, divisão de tarefas; Respeito a limites e regras; Capacidade de seguir rotina; Parecer da Turma É uma turma que se mostrou bem agitada no início do ano por sua dificuldade em ouvir o que era proposto pelo professor e também pela individualidade de cada um, necessitando a retomada de regras diariamente, para que fosse construída uma relação de respeito entre todos. Alguns alunos encontravam dificuldades nos relacionamentos interpessoais e em acompanhar a rotina diária da turma, demonstrando enfoque em si mesmos todo o tempo. Esse egocentrismo dificultou a partilha de materiais e espaços e mesmo a comunicação com os companheiros. Com as práticas cooperativas nas aulas de Educação Física os alunos tornaram-se, em sua maioria, nas atividades propostas pelo professor, bem autônomos e gradativamente solidários com os colegas. Já conseguem compreender que é preciso parar e escutar tanto o professor como os outros colegas. Também já estão adaptados à rotina diária, mas entendem quando acontece algum imprevisto. 75 4.1.26 Os professores falam sobre a pesquisa Na maioria dos momentos, percebi resistência muito grande por parte do grupo de professores e gestores em se manifestar. Mais de uma vez, ao perguntar aos profissionais sobre sua visão a respeito da pesquisa, ouvi: - Você não vai colocar meu nome aí, né? Mesmo após explicar ao professor que suas falas e identidade estariam protegidas e ninguém teria acesso ao conteúdo do diário, as informações eram raras e breves, como esta: - Eu acho que não muda o comportamento, tem que ser trabalhado em casa. Outros professores afirmaram: - Eu acho interessante, sim, novas formas de abordagens, só devem somar. - Eu acredito que com essa melhoria nos relacionamentos do grupo todos nós vamos ganhar. Os professores participaram de todo o processo, em alguns momentos de forma mais ativa, em outros, apenas observando. O medo do novo aponta a necessidade de uma nova visão do professor no que tange às ações a serem pensadas e desenvolvidas no ambiente escolar. 76 CONCLUSÕES Este trabalho teve como objetivo investigar se os jogos cooperativos contribuem para a melhoria do relacionamento entre os educandos da sala do PIC e para a constituição de espaços inclusivos. Esperávamos que os jogos cooperativos pudessem fortalecer o espírito de grupo, diminuir as agressões físicas e verbais; criar um ambiente propício para a aprendizagem, elevar a autoestima dos educandos e contribuir para a constituição de espaços inclusivos. Ao iniciarmos os trabalhos, tínhamos como hipótese que poderíamos modificar espaços de conflitos constantes em espaços onde todos se respeitassem, aceitando a pluralidade e, mais do que isso, percebendo a necessidade da convivência em grupo e a importância da participação de cada um para a construção de momentos agradáveis de aprendizagem. Sempre com o intuito de promover a inclusão, este trabalho levantou questões, como as ações típicas da disciplina Educação Física dentro do ambiente escolar. Apoiados em vários estudiosos, como DAOLIO (1996). LOVISOLO (2001) e MATTOS (2006), percebemos que a Educação Física, apesar de grandes evoluções, ainda procura acomodar-se no campo escolar e extinguir antigos hábitos para tornar-se uma aula mais agradável, que contribua para a evolução educacional do grupo. Procuramos averiguar também se a aplicação jogos cooperativos para um grupo de educandos da sala do Projeto Intensivo no Ciclo (PIC) poderia auxiliar na construção de um espaço inclusivo, concluindo que, no espaço da disciplina Educação Física, colaboraram para o desenvolvimento do respeito dos alunos entre si A aplicação dos jogos cooperativos durante as aulas de Educação Física se mostrou eficaz para uma mudança de postura dos alunos, contribuindo para a diminuição de ações agressivas na turma, para a criação de vínculos entre eles, constituição de espaços inclusivos. Durante a aplicação dos jogos, ficou clara a necessidade de um olhar diferenciado sobre cada educando, olhar que, na escola em que foi desenvolvida a pesquisa, ainda não contempla as necessidades individuais. 77 Quanto às políticas que procuram mover a inclusão, não se nega a boa intenção, porém, ações que não contemplam a equidade, mas sim a igualdade, podem causar reações desastrosas na sociedade, neste caso, na comunidade escolar. A princípio, parece claro que, mesmo nos dias em que vivemos, quando os discursos primam pela igualdade, talvez inconscientemente, valorizamos e repetimos ações exclusivas. Uma constatação relevante foi a grande mudança no comportamento das crianças, quando os pais estiveram presentes na escola. Nesses momentos, todos pudemos vislumbrar uma postura de alegria e, principalmente, respeito pelos colegas na realização das atividades. O material coletado e as observações durante os trabalhos apontam um distanciamento considerável entre professores e pais, o que se refletiu nas reuniões, momento em que os professores se posicionaram de um lado da sala e os pais do outro. Em seus discursos não foi difícil perceber que alguns professores enxergam os pais como adversários a serem mantidos longe do ambiente escolar. Por outro lado, alguns pais viam o convite para ir até à escola como um castigo a ser suportado, como uma obrigação legal. As constatações a respeito das relações entre pais e professores tiveram como base a observação, além de conversas com os envolvidos que pediram para que o conteúdo não fosse publicado no trabalho. A pesquisa aponta a clara necessidade do envolvimento da família com o ambiente escolar, aspecto que deve ser mais bem trabalhado pela escola, visando a um acolhimento dos familiares, ao contrário das maçantes e cansativas reuniões de pais, com o objetivo de mostrar como seus filhos não foram bem educados. A pesquisa aponta, também, a necessidade de um olhar mais profundo sobre as relações de todos os envolvidos no processo educacional, para que o ambiente escolar se torne uma extensão de sua casa, o que trará mais segurança para a criança. Acreditamos que os jogos cooperativos podem ter maior eficácia com grupos maiores, que envolvam toda a comunidade escolar, para a aprendizagem e exercícios nas mais variadas situações vivenciadas pela criança. 78 Para a efetivação de uma educação realmente de qualidade, é preciso confiar aos envolvidos diretamente com o processo, ou seja, a comunidade escolar, as rédeas da escola. Uma escola de qualidade deve ser construída pelos que a cercam e por aqueles que vivem seu interior. Quando aberto um espaço, dentro da escola, onde todos podem se manifestar livremente e respeitam o outro, as relações melhoram e fazem fluir momentos inclusivos, ricos de aprendizagem que refletem a mais pura sabedoria manifestada pelas relações humanas. Transformar os ambientes escolares em espaços de criação permeados pela cooperação é a garantia do direito de todos se manifestarem de acordo com suas crenças e experiências, expressando física e verbalmente a bagagem que trazem consigo e que fazem parte de sua formação como seres integrantes da sociedade. 79 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, M. T. P. O jogo Cooperativo na resolução de conflitos nas aulas de Educação Física. IV Jornadas sobre Transdisciplinariedad y Ecoformación en la práctica. Buscando la innovación y creatividad docente. Universidade de Barcelona – UB – Espanha, 2009. ANDRE, M. H. O Jogo no Ambiente Escolar. 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