1 www.derphilosopher.supralus.com derPhilosopher A FILOSOFIA BRASILEIRA DO NOSSO TEMPO Antonio Sidekum Índice 1. INTRODUÇÃO: O PROBLEMA DA HISTORIZAÇÃO E PERIODIZAÇÃO DA FILOSOFIA NO BRASIL ................................................................................................................ 3 2. CARACTERIZAÇÃO DO INÍCIO DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX................ 5 3. FILOSOFIA E EXPRESSÃO CULTURAL BRASILEIRA ..................................................... 7 4. A CORRENTE DO PENSAR DIALÉTICO: HEGELIANISMO E MARXISMO .............. 11 5. A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E REALIDADE NACIONAL........................................... 11 6. UMA CONTEXTUALIZAÇÃO DA CULTURA FILOSÓFICA ATUAL NO BRASIL ..... 12 7. CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 14 8. BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................... 15 www.derphilosopher.supralus.com 2 www.derphilosopher.supralus.com A FILOSOFIA BRASILEIRA DO NOSSO TEMPO Antonio Sidekum1 “ Apesar de Você Amanhã vai ser outro dia... Amanhã vai ser outro dia.. Hoje você é quem manda, falou tá falado, não tem discussão, não. A minha gente hoje anda falando de lado e olhando p’ro chão, viu Você que inventou esse estado de inventar toda escuridão Você que inventou o pecado, esqueceu-se de inventar o perdão Apesar de você, amanhã há de ser outro dia Eu pergunto a você onde vai se esconder da imensa euforia? Como vai proibir quando o galo insistir em cantar. Água nova brotando e a gente se amando sem parar Quando chegar o momento este meu sofrimento Vou cobrar com juros, juro Todo esse amor reprimido esse grito contido esse samba no escuro Você que inventou a tristeza agora tenha a fineza de desinventar Você vai pagar redobrado cada lágrima rolada desse meu penar. Apesar de você, Amanhã há de ser outro dia Inda pago para ver o jardim florescer qual você não queria Você vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença E eu vou morrer de rir, que esse dia há de vir antes do que você pensa. Você vai ter que ver a manhã renascer e esbanjar poesia. Apesar de você, amanhã há de ser outro dia Como vai-se explicar, vendo o céu clarear de repente impunemente. Como vai abafar nosso coro a cantar Na sua frente Apesar de você Você vai se dar mal etcetera e tal Laraia laraia Laraia larai laraia larai Apesar de você “ ( CHICO BUARQUE) 1 Doutor em filosofia pela Universidade de Bremen, Alemanha. Professor visitante na Universidade de Münster, Alemanha, Universidade de Centro América, de San Salvador, El Salvador e The Catholic University of America, em Washington, com Pós-Doutorado em Ética pela Universidade de Leipzig, Alemanha e pela The Catholic University of America, Washington, USA. Co-fundador do Corredor das Idéias. Professor e pesquisador nas Faculdades de Taquara, RS. Brasil. 3 www.derphilosopher.supralus.com 1. Introdução: O Problema da Historização e Periodização da Filosofia no Brasil Quando se trata de esboçar algumas linhas da história da filosofia é sempre difícil encontrar uma medida justa para se trabalhar o desenvolvimento das correntes predominantes em sua época e dentro de um critério de periodização ou seja na sua contextualização. Distinguindo-se e separando-se os autores de diferentes pertenças à correntes e escolas teremos maior evidência do problema. Nem sempre as correntes coincidem com todo processo universal de determinados tópicos como por exemplo do desenvolvimento da história da arte, da literatura, do pensamento político e do pensamento econômico. Ou mesmo no processo da formação do êthos cultural e do indivíduo e também como um povo na busca do reconhecimento dos direitos de ser ator protagonista da história. Na história da filosofia brasileira atual, a situação não é muito diferente em relação ao nosso passado colonial. O fluxo das idéias encontra rumos distintos e de uma atualidade mais evidenciada em alcançar uma nova autodeterminação no mundo da política, seja pela condição multicultural e multiétnica, isso tudo se coadunando num grande processo cultural, quase como no sentido do chamado “socialismo moreno”, tão aclamado por Darcy Ribeiro. No caso específico do Brasil, por um lado, que é considerado como um país pertencente à periferia do eurocentrismo, é evidente que encontraremos uma dissemelhança e concomitância em todos os movimentos filosóficos mundiais. Isto podese demonstrar pela demora da vinda do Iluminismo, acontecido durante o período colonial; e a da imediata absorção dos ideais do Positivismo na consolidação da República; a da introdução e aceitação da Filosofia Analítica na década de 1970; o mesmo acontece com o Marxismo de Antonio Gramsci muito presente no final do século XX . E por outro lado, apesar de todo debate, que houve na década de 1960 sobre a identidade da cultura brasileira e sobre a identidade nacional, por exemplo, a repercussão da teoria da Dependência ou do Movimento Tropicalista, a filosofia no Brasil não se tem aproximado ou inserido no mesmo debate comum dos pensadores latino-americanos, que levantaram tantas bandeiras no século XX, principalmente sobre a autenticidade do pensar na América Latina, como por exemplo José Mariatequi, Augusto Salazar-Bondy, Leopoldo Zea; ou sobre a identidade cultural e de uma ética emergente como podemos estudar em Arturo Roig e Arturo Ardao, entre outros. Como ponto de partida deste breve esboço é necessário destacar que carecemos de uma historiografia mais abrangente de desenvolvimento da filosofia no Brasil.2 Podemos ainda sublinhar de que nas últimas décadas, acompanhamos o transplante quase simultâneo de muitas correntes filosóficas atuais dos centros originários da Europa e dos Estados Unidos: tais como a Ética do Discurso de Jürgen Habermas e de Karl Otto Apel,3 assim como a filosofia analítica, o pensamento político de Rawls ou a corrente francesa contemporânea. É claro que um dos fatores importantes é o intenso intercâmbio acadêmico através de bolsas de estudos, do grande número de doutores adquiridos no exterior, o significativo número de professores visitantes ministrando cursos em quase todas as faculdades de filosofia no Brasil, principalmente nos Programas de Pós - Graduação em 2 Sobre a perspectiva histórica da filosofia contemporânea no Brasil temos uma obra fundamental, que utilizo aqui como orientação do trabalho que estou apresentando, trata-se da obra de Antonio Joaquim SEVERINO, A Filosofia Contemporânea no Brasil. Petrópolis : Vozes 3.ed. 2001 3 Antonio SIDEKUM. A Ética do Discurso e a Filosofia da Libertação. São Leopoldo: UNISINOS, 1994. 4 www.derphilosopher.supralus.com Filosofia4. Além dessas iniciativas temos alguns centros culturais importantes, que facilitam a vinda de pensadores da Europa, refiro-me à Aliança Francesa e ao Goethe Institut que primam em realizar excelentes seminários, nos quais acontecem bons debates com pensadores brasileiros e da Europa. Esse fato nos possibilita apontar para verdadeiros centros de excelência através dos professores de filosofia transplantados da França, da Alemanha ou dos Estados Unidos. O que não deixa de caracterizar o surgimento de determinados conflitos no que diz respeito, às vezes, às atribuições administrativas para o reconhecimento e avaliação de Programas de Pós - Graduação e bem como da postura individual no que diz respeito ao complexo de superioridade ou do grau de dominação e das tendências ainda latentes, entre muitos acadêmicos em copiar,5 ou transplantar simplesmente conteúdos para os Programas de Pós - Graduação, que continuam bem classificados e bem situados por sua seriedade e rigor entre muitos centros de excelência de nossa cultura filosófica. A tudo isso, somam-se as dificuldades financeiras em nosso meio acadêmico, pois, sofremos de uma falta de recursos para financiar os programas de investigação de nossos professores e além disso, é sempre enorme a carência de obras em nossas bibliotecas universitárias. Existe, no entanto, uma boa parte dos pensadores brasileiros ocupados com a situação ética de nossa cultura política, educacional e econômica. Dessa forma, poderemos apresentar uma grande lista de autores filósofos que discutem a nível acadêmico a cultura da política nacional, as variadas formas da cultura da corrupção política, dos problemas econômicos, da exclusão social, da política educacional e da governabilidade do país. Já são inúmeros os veículos de comunicação que trazem o debate filosófico para a realidade acadêmica e para a massa popular através dos meios de comunicação, das inúmeras revistas de filosofia e de cadernos semanais dos principais periódicos do país6. Não poderemos contar na segunda metade do século XX com um fluxo linear através de datas e autores no que se refere ao desenvolvimento e à assimilação de correntes filosóficas no país, mas, com uma constante interação e de apontamentos da temática que estão em enfoques . Tudo isso dá-se em virtude das características da conjuntura nacional, que se transforma pelo ritmo muito acelerado do processo da vida política interna como pelas conquistas na política internacional, concebido como um processo de modernização de todos os setores da sociedade brasileira, o que na atualidade se identifica pelos processos de mundialização e da globalização da economia internacional, sob a forma de transnacionalização, e dos meios de comunicação social que instauram uma nova ordem simbólica. Nesta perspectiva é fundamental apontar para os trabalhos que são publicados na Revista CEBRAP, sob a coordenação de José Arthur Giannotti e os inúmeros trabalhos sobre ética de Manfredo de Araújo Oliveira, da Universidade Federal do Ceará. As instituições econômicas e políticas brasileiras não querem ficar à margem do processo da historia da globalização, basta observar determinadas posturas no campo da política 4 Deveremos acentuar aqui o investimento realizado pelo Ministério da Educação pelos órgãos de fomento do CNPq e CAPES, ao criarem cursos de mestrado com um rigoroso acompanhamento de avaliação e de distribuição de bolsas de estudos para professores e alunos dos programas de pós-graduação. O mesmo acontece em alguns Estados da Federação, onde temos bons investimentos para atualização de professores, v.g. FAPERGS, FAPESP entre outras. 5 Roberto GOMES. Crítica da razão tupiniquim. Porto Alegre: Editora Movimento, 1978. Este texto já aponta para determinados males que muitas vezes aparecem em nossa filosofia. 6 Entre os quais destaca-se o Caderno Mais do Jornal Folha de São Paulo, editado nos domingos. 5 www.derphilosopher.supralus.com econômica e dos grandes investimentos das empresas transnacionais, apesar dos desafios que apresentam para o Estado, como não poderíamos deixar de apontar para a iniciativa de poder-se pensar em alternativas para o mundo contemporâneo, o que está bem demonstrado pelo êxito das duas edições do Fórum Social Mundial em Porto Alegre, nas quais aconteceram várias oficinas de filosofia. 2. Caracterização do início da segunda metade do século XX Todo ato de filosofar estará sempre inserido num contexto histórico que se traduz através forma de uma assimilação cultural da sociedade civil, como um todo, e pela experiência singular realizada pelo indivíduo ao se debater com a formação da consciência histórica, ou no sentido da expressão forte consagrada por Paulo Freire: pelo longo processo da “conscientização”. Como uma breve introdução gostaria de apresentar o desenvolvimento da filosofia brasileira na segunda metade do século XX tendo como pano de fundo os mais significativos movimentos culturais expressos na arte, principalmente pela Música Popular Brasileira nascida na década de 1960. E, em segundo lugar, a partir da discussão do problema da identidade nacional, temática iniciada bem no início da segunda metade do século XX.. A filosofia no Brasil tomou novos rumos a partir da consciência história de sua complexidade cultural na qual mergulhara a sociedade brasileira no inicio da década de 1950. Essa complexidade cultural implica a repercussão da crise internacional na vida política e econômica interna do país. O Brasil naquela circunstancia apelava para uma inserção no processo de modernização, no sentido da doutrina Keynes, e tendo forte participação no desenvolvimento da teoria da dependência em eu se destacam os clássicos autores como por exemplo Celso Furtado e Fernando Henrique Cardoso, bem como alguns dos clássicos da teoria política e econômica para o Brasil, tais como: Florestann Fernandes e Hélio Jaguaribe. Por outro lado, temos uma teoria da cultura brasileira desenvolvida por Darcy Ribeiro, que apresentaremos a seguir. Poderíamos caracterizar a expressão da cultura filosófica no Brasil através de varias formas culturais. Por um lado um amplo surgimento de faculdades, cursos e diciplinas (asignaturas), com programas atualizados que imitam importantes centros de filosofia da tradição alemã e francesa. Durante a ditadura militar ouve um forte incremento dos estudos da filosofia analítica, principalmente da tradição de Heidegger. Antes de abordar-mos as principais correntes filosóficas no Brasil nas últimas décadas, seria importante apontar para uma nuance informal de filosofia subjacente na arte da música popular brasileira, eu foi também uma expressão de resistência ao regime militar debalde sua origem ser uma nova busca da identidade brasileira, referindo-se ao famoso movimento da semana da arte moderna de 1922. Tratando-se do Movimento Tropicalista. Pode-se considerar que nesse movimento procurou-se refletir sobre a realidade histórica e principalmente da condição humana nesse período. 6 www.derphilosopher.supralus.com O Movimento Tropicalista poderá ser descrito como o movimento cultural mais importante do fim da década de sessenta, eu usava o deboche, a irreverência e improvisação revoluciona a música popular brasileira, em que artistas liderados pelos músicos Caetano Veloso(1942) e Gilberto Gil(1942) tentam retomar as lições do manifesto antropofágico de Oswald de Andrade(1890- 1954) através da música popular brasileira (MPB), mistura-las a cultura de massa urbana (consumismo, americanização, rock e televisão). O movimento é lançado com as músicas “ Alegria Alegria” de Caetano Veloso, e “ Domingo no Parque” , de Gilberto Gil acompanhadas por guitarras elétricas no Festival da Record de 1967. Causam polêmicas, já que na época MPB era dominada pela estética da bossa nova. O artista plástico Hélio Oiticica batiza o Movimento Tropicalista através de sua escultura penetrável eu expõe no museu de arte moderna no Rio de Janeiro. Manifesto do movimento, o disco Tropicália ou Panis et Circensis, de 1968 resume todas as suas tendências: a estática brega do tango dramalhão de Vicente Celestino (1894-1968) “Coração Materno”, a presença da cultura urbana internacional marcada pela influência dos Beatles e do rock em “Panis et Circensis” cantada por os Mutantes o refinamento da bossa nova nos vocais de Caetano Veloso e na presença de Nara Leão. As letras são uma visão clara da realidade brasileira. Com isso Gil e Caetano são presos em suas casas. O motivo não foi revelado. Era só mais um capítulo dos festivais de besteiras que assolava o país. Acabariam exilados em Londres. O clima é de agitação política, nas ruas, os estudantes universitários, contrários às influências estrangeiras nas artes brasileiras e protestam contra o regime instalado no país. O Tropicalismo tem vida curta. Na prática, acaba com o AI-5 em dezembro de1968. Em 1997, quando se comemoram os 30 anos do tropicalismo, são lançados dois livros eu contam a história do movimento. Verdade Tropical, de Caetano Veloso, e Tropicália – A história de uma Revolução Musical, do jornalista Cairos Calado. Durante a década do tropicalismo vivia-se no Brasil uma era de obscuridade e opressão política. A censura nos meios de comunicação ao incentivo de protestos velados e camuflados nas manifestações artísticas, tendo a musica popular como o grande destaque desta forma de ação. Apresento como epígrafe desta conferência a letra de uma música de Chico Buarque, poderia-se utilizar como uma referência filosófica ou ao menos como uma crítica ao sistema contextual. Assim outras formas artísticas ocuparam-se em cultivar e sustentar o clima informal de filosofia no Brasil nesse período obscuro da ditadura militar. Um dos artistas mais consagrados pelo contexto e aceitos pelo povo, naquele tempo, era Chico Buarque de Hollanda. Suas músicas são todas de grande beleza e de poesia mas eram principalmente perturbadoras ao regime militar. Assim poderíamos classificar sua arte como um marco de critica e de resistência intelectual ao regime da ditadura. Sua arte falava da imortal esperança de liberdade de um povo, em contraposição ao pensamento e à ideologia dominante. Assim poderíamos inserir o Movimento Tropicalista como um marco filosófico que se estenderá por várias décadas ancariando outros meios artísticos, como a literatura, o cinema, e artes plásticas como elementos importantes para o desenvolvimento de uma postura crítica que se desenvolvia informalmente pelos caminhos paralelos da academia. A história da filosofia sofre um violento impacto com a implantação da ditadura militar em 1964. Durante esse período ainda repercutiam fortemente os pensadores que 7 www.derphilosopher.supralus.com eram influenciados pelo existencialismo de Jean Paul Sartre, Albert Camus, Simone de Beauvoir e Karl Jaspers. Assim, sem menos intensividade também repercutia o pensamento dos pensadores ligados à corrente dos marxistas, principalmente de Roger Garaudy e Georgy Lukacs e de Louis Althusser. Imediatamente o regime militar fechou os maiores centros de filosofia cassando os direitos políticos dos professores e perseguindo-os e exilando-os. O Brasil sofre um enorme esvaziamento na produção filosófica durante o regime militar. No entanto alguns fatos curiosos e importantes para o balanço da filosofia no Brasil seriam: 1- O surgimento dos Cadernos de Opinião, trazendo atualizados artigos sobre a conjuntura econômica e política do Brasil e da América Latina sendo a maioria dos autores comprometidos com a teoria da dependência; 2- A revista Encontros com a Civilização Brasileira, tendo no elenco dos seus articulistas autores que abordavam ensaios críticos de literatura, música, Igreja, e tema temas filosóficos; 3- A criação e manutenção da revista Paz e Terra que tratava da temática social, da igreja como contestadora do regime militar e da conjuntura do país, tendo a participação de filósofos e sociólogos; 4- A criação do Centro Brasileiro de Planejamento (CEBRAP), São Paulo coordenada pelo professor José Arthur Giannotti, que teve como finalidade a elaboração de monografias sobre o pensamento sociológico buscando momentos da reflexão sobre o social embasado na dialética do materialismo. O Centro Brasileiro de Planejamento (CEBRAP), São Paulo, manteve uma publicação sempre com temas atuais referentes à conjuntura social, econômica e política como fundamento do seu pensamento crítico; 5. Outro fator significativo no balanço da história da filosofia no Brasil foi a organização da coleção Os pensadores que teve sua concepção pelo professor José Américo Motta Pessanha e editado por Victor Civita, que é uma coletânea de textos selecionados dos pensadores desde os présocráticos até os contemporâneos. A partir da década de 1970 iniciam-se vários programas de pós graduação em filosofia a nível de especialização e mestrado. Os doutorados começam a se delinear principalmente na década de 1980 quando o país já respira a anistia política que possibilitou o retorno de importantes filósofos, professores e pesquisadores às universidades, iniciando uma atividade sistemática através de projetos de investigação filosófica. Destacando-se importantes centros como UNICAMP (Campinas SP), USP, UFRJ, UFRGS. Nessas universidades encontramos facilmente centros de excelência de investigação e de ensino da filosofia, tendo como áreas de concentração a filosofia política, a filosofia analítica, ética e temas de filosofia contemporânea. Para uma melhor coordenação e interação dos programas de pós-graduação foi criada a Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia (ANPOF), que reúne de dois em dois anos os professores e pesquisadores em filosofia, divididos por Grupos de Trabalho e por temáticas específicas. A seguir faremos uma breve referência a isso. 3. Filosofia e Expressão Cultural Brasileira A história da filosofia no Brasil precisa ser estudada dentro de determinados pressupostos que envolvem as dimensões de nossa identidade cultural.7 Por um lado 7 . Marilena CHAUÍ, Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: editora Fundação Perseu Abramo, 2001. Este livro trata das profundas nuanças da concepção de Brasil. Como foi construído o mito 8 www.derphilosopher.supralus.com devemos considerar as dimensões culturais a partir do período colonial e do neo colonialismo cultural predominante durante o império e nos primórdios da República. No entanto, a filosofia sempre foi uma cultura transplantada, pelos modelos de dependência estrangeira, principalmente da Europa.. A filosofia nunca demonstrou ser uma matéria importante dentro da formação da cultura brasileira. Um outro fator fundamental no estudo da história da filosofia no Brasil atual é a história da universidade brasileira, que é recente em relação aos demais países de América Latina, pois, ela tem seu nascimento registrado no início das primeiras décadas do século XX, consolidando-se uma verdadeira tradição universitária a partir da década de 1930. Assim, o pensamento filosófico no Brasil terá sua expressão sistemática e sua maior autonomia na segunda metade do século XX. Certamente o grande impulso é dado pelo enfoque da filosofia da educação em busca da interrogação sobre a realidade socio-econômica e política do país, isso como sendo uma meditação filosófica atualizadora e concientizadora. Para responder ao compromisso da filosofia praticada no Brasil é necessário uma sistematização e uma análise dialética dos elementos constitutivos e conflitivos da sociedade brasileira. Nesta perspectiva gostaria de sublinhar a importante contribuição de Darcy Ribeiro8 através de seu clássico tratado Teoria do Brasil, do qual apresentamos alguns breves trópicos que consideramos fundamentais e que servem como elementos que norteiam a reflexão filosófica sobre a cultura e alienação. A crítica antropológica de Darcy Ribeiro tem inspirado a formulação de projetos para uma filosofia da realidade nacional, bem como ter inspirado um constante debate sobre a identidade nacional tendo como pano-de-fundo a temática da ética e da cultura. Conforme Darcy Ribeiro, deveremos apontar para o fato de que muitas gerações de brasileiros foram alienadas por uma inautenticidade cultural essencial de sua postura, que os tornava infelizes por serem tal qual eram e vexados pelos ancestrais que tiveram. Nessas circunstâncias, a alienação passou a ser a condição mesma desta classe dominante, inconformada com seu mundo atrasado, que só mediocremente conseguia imitar o estrangeiro, e cega para os valores de sua terra e de sua gente. Essa visão do mundo real e do além túmulo como uma explanação fundada principalmente nas concepções religiosas católico-cristãs, impregnada de elementos tomados de outras matrizes. Aqui deve-se observar a condição imposta pelo processo de colonização e dominação. Era uma cultura ingênua, porque consagradora da ordem social como sagrada e espúria, porque destinada a mistificar a exploração classista e a colonial. Existiu também uma reação para criar-se uma cultura integrada, na media em que houve também uma contracultura popular rebelde. E temos uma constatação histórica quando depois de décadas de rebeliões populares que se seguiram à independência, desaparece aquela elite clerical, para dar lugar primeiro à coorte de bacharéis letrados com mentalidade reacionária e, mais tarde, a novos contestatários elitistas lidos em Rousseau e depois em Comte, Spencer e Lamarck. Desapareceram também os artistas criadores do passado e os novos jamais alcançaríamos antigos níveis artísticos. Darcy Ribeiro critica essa cultura e que é levada a ruir a cultura erudita que, que em certos setores se fizera herdeira do patrimônio fundar do Brasil, desde 1500 aos nossos dias? Que papel essa idéia desempenha em nosso país, como fator de coesão e de coerção social? 8 Darcy RIBEIRO. Teoria do Brasil. Petrópolis: Vozes, 1978. 9 www.derphilosopher.supralus.com europeu, começa a ruir também a cultura vulgar. Embora se possa dizer que a cultura de qualquer civilização do passado ou do presente é também esta busca de autenticidade, a reconstituição dos modos pelos quais ela é buscada e das vicissitudes em que incorremos em busca-la é indispensável para compreender nossa criatividade cultural. É fundamental observarmos as conseqüências da herança cultural e como a mesma ainda se manifesta em nossa cultura. Pois, ao longo da maior parte da nossa história colonial não encontramos no Brasil uma camada erudita que seja a expressão da criatividade cultural de seu povo. Encontramos uma elite transplantada que aqui realiza por mimetismo gestos culturais de um outro contexto. Só nas ultimas décadas, havendo alcançado, por fim, certa magnitude como sociedade nacional e certo grau de autonomia cultural, começamos, os brasileiros, a criar nossa própria visão do mundo e a exercer uma criatividade cultural genuína. Aqui deve-se inserir a crítica muito ampla que começa com a discussão de nossa identidade nacional. Havendo uma forte influência da crítica literária de Antonio Cândido e bem como uma reação ao metodologia dos enfoques dados por Gilberto Freyre. Para Darcy Ribeiro não há dúvidas de que. cada uma das formações sociais que se configuram no Brasil era coetânea com respeito as formações cêntricas. Com efeito, tanto a formação colonial escravista como a neocolonial capitalista dependente eram contrapartes de formações globais cujo componente dominante estava nas metrópoles portuguesas e depois nos centros capitalistas industriais. Porém, o Brasil recebe já certos influxos da Revolução Industrial como uma evolução da sociedade, sempre que se processa pela via de atualização histórica, traz consigo certos efeitos de atraso e arcaísmo que de algum modo distanciam componentes cêntricos dos periféricos através da presença de várias defasagens sociais e culturais. Principalmente no campo tecnológico e na limitação do pensamento social. É assim que se observa no desenvolvimento brasileiro uma série de defasagens culturais na forma de vicissitudes provenientes do próprio processo de atualização histórica através do qual a sociedade nacional se constituiu, integrando-se na economia mundial, primeiro como uma formação colonial e, depois neocolonial. Pois, o Brasil surge na fase colonial como uma feitoria onde se implantavam técnicas produtivas avançadas, visando ao aumento da produção exportável, mas só nestes limites, onde certos avanços tecnológicos já incorporados à agricultura e ao pastoreio em Portugal (como a introdução de novas técnicas no cultivo dos campos e a de tratamento dos animais domésticos) foram abandonados no Brasil para dar lugar a técnicas mais adaptadas às condições ecológicas ou por serem desnecessários, uma vez que o provimento da subsistência se fazia com base nas técnicas herdadas dos indígenas. No segundo passo corresponde à nova atualização histórica que conduziria o Brasil à condição de área neocolonial de exploração das potências industriais, a cultura nacional experimentou inovações substanciais, tanto no plano tecnológico como no institucional e no ideológico. Mas, em Darcy Ribeiro observa-se que certos aspectos da defasagem cultural do Brasil têm, no entanto, outras raízes porque provêm do próprio atraso cultural da metrópole colonizadora. Essa situação se incorpora fortemente em nossa mentalidade social, principalmente no relacionamento do cidadão com o estado. Aqui, dá-se um espaço 10 www.derphilosopher.supralus.com fabuloso onde filosofia política contemporânea se ocupa amplamente na tentativa para uma dação de sentido e da compreensão do processo ideológico brasileiro. É ainda fundamental para a elaboração da cultura filosófica, considerando nossa formação histórica, seguir a observação de Darcy Ribeiro de que o Brasil como colônia submetida ao mais estrito monopólio, cresceu isolado do mundo, apenas convivendo com aquele Portugal pobre e retrógrado. Essa situação não permitiu a criação de um sistema popular de ensino no Brasil e, menos ainda, de escolas superiores, ao mesmo tempo em que a Espanha mantinha cerca de duas dezenas de universidades em suas colônias. Assim, o Brasil emerge para a independência sem nenhuma universidade, com sua população analfabeta e iletradas também suas classes dominantes. E isso foi uma das mais terríveis heranças que tivemos até o século XX.. No primeiro impulso de deculturação, os contingentes africanos e indígenas foram desenraizados de suas tradições e aculturados na protocélula étnica brasileira, como um passo de sua incorporação à força de trabalho. Esta deterioração de um patrimônio cultural já de si parco ou paupérrimo, cuja expressão se torna inviável nas cidades, faz esta massa descer mais alguns degraus na condição de tabula rasa cultural que caracteriza os Povos - Novos. Darcy Ribeiro quer apontar para a situação das desigualdades sociais e de exclusão social já através desse fracasso do saber acadêmico em prover soluções adequadas para os problemas populares demonstra a incapacidade do sistema para criar formas de participação na riqueza, no poder e na cultura. As atividades filosóficas numa perspectiva objetiva como o conjunto de formas de expressão cultural e analise acadêmica, já possui um significativo desenvolvimento no Brasil nas últimas décadas. A filosofia não está restrita aos ambientes da escolástica ou ao positivismo eclético. A filosofia expandiu-se em todas as instituições de ensino, públicas e privadas, nos vários graus, em cursos específicos ou integrando sob forma de disciplinas filosóficas os currículos do ensino superior sob a forma de filosofia da ciência, metodologia científica, lógica, hermenêutica, filosofia da arte, antropologia filosófica, etc. Existem muitas instituições associativas e científicas que se dedicam ao cultivo e a promoção da filosofia. Sendo uma das grandes ênfases o trabalho acadêmico sério e com acribia que trata como o filosofar se pode expressar na realidade brasileira. Pois, segundo Antonio Joaquim Severino: É que não basta reconhecer a presença da filosofia como mero fato cultural. É preciso indagar-se até que ponto a emergência desse fato é resultante de um amadurecimento do filosofar entre nós ou um simples fenômeno artificial, sem raízes profunda em solo firme. Seria ela a expressão da conquista de autonomia pelo pensamento brasileiro, ou, ao contrário, um agravamento de sua dependência cultural? A questão é relevante e precisa ser preliminarmente discutida porque a questão histórica da prática da filosofia no Brasil sempre apontou no sentido desta dependência, revelando, na condição de seu evento concreto, que o filosofar não era elemento imprescindível e vital para o desenvolvimento da cultura de nossa sociedade. Assim, neste primeiro momento, estará em pauta a discussão da significação da filosofia como trabalho reflexivo-interpretativo da inteligência nacional. Aqui podemos destacar a corrente do culturalismo que tem uma forte tradição no Brasil, sendo que a maioria oriundos do mundo jurídico. Vamos encontrar esta vertente constituindo-se em Tobias Barreto passando por Miguel Reale e vai manifestando-se em pensadores de enorme contribuição para a história da filosofia contemporânea, tais autores 11 www.derphilosopher.supralus.com como: Renato Cirell Czerna, Luiz Luisi, Silvio Macedo, Antonio Machado Paupério, Nelson Nogueira Saldanha, Irineu Strenger, Lourival Villanova, Gláucio Veiga, Tércio Sampaio Ferraz, Luís Washington Vita. Além desses clássicos, Severino inclui nessa corrente do culturalismo , como importantes filósofos Antonio Paim, Roque Spencer Maciel de Barros, Vamerih Chacon, Antonio Luiz Machado Neto e incluo também nesta lista Ricardo Velez Rodriguez 4. A Corrente do pensar dialético: Hegelianismo e Marxismo Os filósofos brasileiros de inspiração marxista desenvolveram um enorme trabalho de análise da realidade socio-econômica e do problema da identidade nacional. Podemos destacar Caio Prado Júnior que buscou romper com a tradição comteana introduzindo uma análise a partir do socialismo científico de Karl Marx. Outros pensadores representam esta vertente, eu possui como preocupação fundamental a implantação da sociedade racional em bases marxistas, podemos citar como representantes Leônidas de Resende, Hermes Lima, João Cruz Costa, Álvaro Vieira Pinto e Roland Corbisier. Ainda dentro da tradição marxista deve-se destacar Leandro Konder que se inspira no marxismo de Lukacs. Konder é certamente um dos principais estudiosos do marxismo no Brasil. Começou sua longa produção intelectual sobre o tema com o estudo “Marxismo e Alienação” , em 1965 e nunca mais abandonou as idéias do autor de “O Capital“. Konder como intelectual ocupa-se no seu livro “A Revanche da Dialética” , do papel crítico das ciências sociais. Dentro do pensamento dialético, Antonio Joaquim Severino em seu livro A filosofia contemporânea no Brasil identifica duas grandes vertentes: uma de cunho afirmativo, herdada do Hegelianismo e do marxismo, enfatizando o poder transformador da história pela práxis humana, tem como representante teórico o filósofo José Arthur Giannotti como também a linhagem de Caio Prado Júnior, Leôncio Basbaum, Leandro Konder. Denis Rosenfield. Uma outra corrente mais recente sustenta sua leitura nos clássicos da Escola de Frankfurt, são representantes os autores como Sérgio Paulo Rouanet, Barbara Freitag e Olgária Matos, Rodrigo Duarte. Ao lado da tradição marxista formou-se recentemente um novo grupo de estudos da dialética na tradição hegeliana e associado à tradição da hermenêutica tendo como representante principal Carlos Cirne Lima. 5. A Filosofia da Educação e Realidade Nacional Dentro das principais características da atividade filosófica no Brasil merece um destaque especial a filosofia da educação que abrange num sentido profundo dos problemas da consciência nacional bem como da elaboração de um projeto nacional que visa a libertação do povo brasileiro da alienação e da exclusão social. Desde Paulo Freire e Ernani Fiori despertou-se para uma nova consciência da realidade nacional através do método do processo de conscientização desenvolvido por Paulo Freire. 12 www.derphilosopher.supralus.com Ainda, conforme Antonio Joaquim Severino, na obra anteriormente destacada, podemos sublinhar a discussão político educacional dos diferentes discursos filosóficos. O filosofar brasileiro foi então enfocado sob uma preocupação bem determinada: tratou-se de se saber se a abordagem própria de uma perspectiva educacional, permeia a reflexão filosófica no país. Ou dizendo de outra forma, até que ponto as preocupações de natureza político-educacional estão presentes nos projetos e discursos filosóficos de nossos pensadores, e até que ponto essas preocupações marcam a orientação de seus pensamentos. A questão foi ver até que ponto essa reflexão filosófica, consumada na expressão cultural da filosofia brasileira, vem contribuindo para a discussão e para a compreensão da educação a partir dos subsídios que estaria fornecendo para constituição da própria identidade da sociedade nacional9 e, até que ponto ela adquiriria autenticidade e legitimidade, só possíveis se se fizesse uma reflexão sobre as mediações da existência histórica de nossa sociedade. Ao analisar a perspectiva socio-econômica do Brasil a preocupação torna-se interrogante ao discurso filosófico em virtude da própria natureza da filosofia em geral eu implica na necessidade de se dar como temas essenciais as mediações históricas e sociais do quefazer filosófico. A reflexão filosófica atual no Brasil vem ensaiando experiências de autonomia sem desligar-se da grande tradição e das correntes filosóficas do Ocidente. Esta vinculação é demonstrada pelo trabalho meticuloso e metódico feito sobre os clássicos, caracterizandose no aspecto da cuidadosa exegese dos textos clássicos. 6. Uma Contextualização da cultura filosófica atual no Brasil Segundo Severino, a prática atual da filosofia no Brasil poderá ser observada nos registros da produção teórico literária, está intimamente ligada à tradição ocidental. Interessaria aqui um estudo do acompanhamento mais aprofundado dessa realização da filosofia nos mais variados aspectos, como por exemplo, da agregação de filósofos a determinados movimentos e correntes filosóficas ocidentais que caracterizaram principalmente a segunda metade do século XX, os quais poderiam ser descritos, segundo os nossos historiadores da filosofia nos seguintes grupos: Podemos inserir alguns pensadores com uma resistência à tradição metafísica clássica com a perspectiva de compreender a realidade. Nesse grupo podemos destacar os pensadores com expressões teóricas neo-tomistas.10 Outro grupo de significativa expressão seriam os filósofos analíticos que buscam a compreensão da realidade além do positivismo. Numa terceira vertente teríamos os autores de natureza epistemológica que se ocupam em discutir a própria especificidade do conhecimento científico, não só em seus aspectos 9 Ver os artigos de Henrique C. de Lima Vaz. Consciência e Realidade Nacional. Em Revista Encontros com a Civilização Brasileira, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978 p. 68 –81. E o artigo de Roland Corbisier. Filosofia no Brasil. Na mesma Revista p.52-67. 10 Ver o clássico estudo de Fernando Arruda CAMPOS. Tomismo no Brasil. São Paulo: Paulus, 1998. 13 www.derphilosopher.supralus.com formais mas também em suas condições objetivas. Nesta vertente, situa-se Leônidas Hegenberg, que foi também o escolhido como representante significativo da tendência neopositivista, Miltom Vargas, Oswaldo Porchat, Luís Alberto Peluso, Michel Ghins, Zeliko Loparic, para só citar alguns. A vertente transpositivista, assim denominada por Severino, que reconhece a autonomia e a relevância da ciência sem, no entanto, isolá-la das outras atividades humanas. Para o autor dessa denominação a filosofia da ciência não pode ater-se apenas às condições lógico-formais do conhecimento, ela implica condições axiológicas em virtude da sua inserção histórico-social da própria ciência. Está inserida na linha do racionalismo científico de Gaston Bachelard, Thomas Kuhn e Jean Piaget. Destacaremos alguns pensadores brasileiros que inserem suas atividades filosóficas nesta dimensão: Hilton Japiassu, Constança Marcondes César, Marly Bulcão Brito, Elyana Barbosa John Pessoa Mendonça, Luis Carlos Bombassaro. Uma outra importante vertente que abarca grande número de pensadores que forma do neo-humanista que tem em Cláudio de Lima Vaz seu mais expressivo representante. Lima Vaz (falecido no dia 24 de maio de 2002), considera e atribui como papel filosófico fundamental a tarefa antropológica. Isso transparece em todos os seus tratados, mormente, nas contribuições mais recentes. Transita por toda tradição filosófica dialogando com as modernas ciências humanas e desenvolve uma nova visão da existência humana no seu contexto histórico real. Sendo sua grande ênfase fundado na antropologia filosófica e direitos humanos. Para o autor de dois vastos volumes de Antropologia Filosófica11 é impossível pensar a problemática dos direitos humanos sem se referir à filosofia do homem que dá razão desses direitos na sociedade política em que eles são reconhecidos, se não efetivamente respeitados. Lima Vaz acentua que essa espécie de antropologia política fundamental assume formas diferentes no curso da história, já relativamente longa, das sociedades políticas do Ocidente. Desde a chamada “cosmonomia” do Direito arcaico na Grécia até o conflito dos humanismos ou mesmo à crítica anti-humanista que refletem a crise das sociedades políticas do Ocidente, estamos diante de uma sucessão de concepções do homem cuja função histórica-ideológica, explicitada freqüentemente na intenção dos pensadores que as propuseram, define-se justamente pela tarefa teórica, ora de crítica ora de justificação, da prática política; ou seja, do tipo de relação entre o poder e o direito admitido na sociedade.12 Um outro grupo importante está associado ao existencialismo, personalismo, marxismo a teilhardismo tais como José Luiz Maranhão, Irapuã Teixeira, Paulo Freire, José Luiz Arcanjo, Aluísio Ruedell, Alino Lorenzon. E recentemente temos um bom número de pesquisadores que giram entorno da reflexão ética a partir da filosofia dialógica de Martin Buber e de Emmanuel Levinas tais como Luiz Carlos Susin, Pergentino Pivatto, Ricardo Timm de Souza e Antonio Sidekum 11 Henrique C. de LIMA VAZ. Antropologia Filosófica. 2 vol., São Paulo: Loyola, 1992. Henrique C. de LIMA VAZ. Antropologia e Direitos Humanos. Em Revista Encontros com a Civilização Brasileira. Rio de Janeiro :Civilização Brasileira v.1 p. 34 12 14 www.derphilosopher.supralus.com Severino, destaca ainda com muita ênfase o grupo de pensadores ligados à fenomenologia. Segundo ele, a fenomenologia inspira igualmente um número significativo de pensadores, desdobrando-se em várias correntes. Uma corrente seria a de inspiração em Merleau-Ponty representados por Creusa Capaldo, Newton Aquile von Zuben, Salma Tannus Muchail, Telma Tonselli, José Ozana de Castro; sendo que uma outra corrente expressa sob a influência da fenomenologia existencial heideggeriana , representada por Gerd Bornheim, Ernildo Stein, Dulce Maria Critelli e Emanuel Carneiro Leão. Teremos um outro grupo de filósofos, que Severino denomina de sob a orientação de arqueogenealogia, apresentando como autor fundamental Rubem Alves. Nesse grupo estão concentrados os pensadores com contribuições epistemológicas da arqueologia de Foucault e nas referencias axiológicas de Nietzsche. Finalmente, gostaria de apontar para um outro grupo que criou o IFIL, Instituto de Filosofia da Libertação ocupando-se com os estudos da filosofia na América Latina, tendo outros grupos que giram em torno da temática. latino americana: mitologia indígena, cultura afro - latino americana, ética e cidadania, filosofia intercultural, multiculturalismo. Este grupo tem uma organização por uma rede pelo Brasil inteiro, utilizando-se da internet13. 7. Conclusão A história da filosofia no Brasil registra na segunda metade do século XX uma extraordinária criatividade e autonomia. Insere uma maneira metodológica própria quando se ocupa em discutir a temática da identidade cultural e nacional. Alcança uma forma de produção acadêmica que lhe dá um lugar na participação a nível internacional, através do intercâmbios de pesquisadores e professores financiados pelos órgãos de fomento e pela sua intensa participação14 em debates sobre temas relevantes, que atingem a política, economia e a filosofia da educação. E como grande projeto ainda por realizar, a filosofia no Brasil precisará retomar sua regionalidade e seu espaço sócio - cultural próprio para alcançar a universalidade. Esta universalidade será conseguida se o pensar partir de sua particularidade e de sua circunstância que está impregnada de universalidade e de interculturalidade. A filosofia no Brasil ocupará seu espaço digno quando for capaz de desenvolver mais essa perspectiva de dialogar com os filósofos de outras tradições, realizando um verdadeiro intercâmbio da reflexão e produção criteriosa, principalmente, quando estiver inserida nessa nova tradição que se expressa pela filosofia intercultural. 13 http://www.ifil.org que possui um enorme acervo bibliográfico e promove seminários sobre a filosofia na América Latina. 14 como por exemplo do Corredor das Idéias. www.corredordelasideas.org 15 www.derphilosopher.supralus.com 8. Bibliografia AZEVEDO, Fernando. A Cultura Brasileira. São Paulo: Melhoramentos/Edusp, 1971. ARANTES, Paulo e outros. A filosofia e seu ensino. Petrópolis/São Paulo, Vozes/EDUC, 1995 BORNHEIM, Gerd. Et alii. Cultura brasileira: tradição/contradição. Zahar/FUNARTE, 1987. BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo : Companhia das Letras, 1992 CAMPOS, Fernando Arruda. Tomismo no Brasil. São Paulo: Paulus, 1998. CANDIDO, Antonio. 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